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2018 Química Orgânica i Profª. Clarice Fedosse Zornio Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª. Clarice Fedosse Zornio Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Z88q Zornio, Clarisse Fedosse Química Orgânica I. / Clarice Fedosse Zornio – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 224 p.; il. ISBN 978-85-515-0192-4 1.Química orgânica – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 547 Impresso por: III apresentaçãO Prezado estudante, seja bem-vindo ao mundo da química orgânica, uma área do conhecimento (bastante extensa, por sinal) integrante da grande área da ciência que é a química. O grande objetivo desse livro é fazer você compreender os conceitos que fundamentam a química orgânica e, mais ainda, entender o porquê de os químicos dedicarem a ela toda uma importância. O estudo da química já é por si só fundamental para entendermos as leis da natureza e a química orgânica serve justamente para aprofundarmos esse conhecimento, tendo como foco os compostos de carbono, o que torna, essencialmente, a química orgânica interessante é que, por meio dela, podemos buscar entender mais e mais a própria vida. Isso porque a vida, como conhecemos na Terra, é baseada em compostos de carbono (ou seja, é fundamentada pela química orgânica). Na Unidade 1, iniciaremos nossos estudos da química orgânica buscando compreender a base, ou seja, estudaremos a estrutura atômica, para depois estudarmos as ligações químicas entre os átomos, para assim, definirmos como os compostos interagem entre si e, para em seguida, começarmos a estudar os compostos orgânicos propriamente ditos (na verdade, estudaremos grupos de compostos orgânicos, classificados como grupos funcionais orgânicos). Esses passos são importantes para não tornar o aprendizado confuso, por isso, muitas vezes durante o texto, busco resgatar os conceitos já discutidos para que você possa acompanhar da melhor forma possível o que está sendo estudado. Na Unidade 2, começaremos a estudar a química dos hidrocarbonetos (precisamente os alcanos e alcenos). Veremos, além das regras de nomenclatura desses compostos, as principais propriedades relacionadas aos compostos que fazem parte desses grupos funcionais. Nessa unidade também serão introduzidas as ideias fundamentais em que se baseiam as reações químicas das moléculas orgânicas (ou, mais simplesmente, as reações orgânicas). Entender isso será importante para, posteriormente, entendermos as propriedades químicas (ou a reatividade química) de cada grupo funcional. Na Unidade 3, estudaremos mais um grupo pertencente aos hidrocarbonetos, os alcinos, buscando entender sua estrutura química e alguns fatores relacionados as suas reatividades. Nessa unidade, também, estudaremos a estereoquímica dos compostos orgânicos, ou seja, estudaremos como os compostos orgânicos estão arranjados tridimensionais e quais as consequências desses arranjos. Por fim, estudaremos os compostos aromáticos, que possuem certas especificidades no modo como as ligações químicas estão estruturadas. Antes de prosseguirmos, é importante pontuar que você não deve tratar a química orgânica como uma subárea fragmentada da química como um todo. Na verdade, a subdivisão da química em química orgânica, química inorgânica, química analítica, físico-química e bioquímica tem um caráter estritamente didático, que guia nossa compreensão como um todo. Por isso, o que você aprendeu nas disciplinas anteriores deve sempre ser resgatado e IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA o conhecimento que você adquirir aqui, com esse livro, tem que ser levado adiante. Muitas vezes, tendemos a deixar para lá algo que estudamos em uma disciplina, principalmente se foi algo em que tivemos certa dificuldade. Mas asseguro a você, vamos lapidando nosso conhecimento com o tempo e, por isso, revisitar um conceito antes não muito bem compreendido, pode ser uma experiência muito importante, fazendo com que você olhe aquele conceito com outros olhos, entendendo-o melhor e, assim, consolidando seu conhecimento. Na verdade, mesmo formados, seremos sempre estudantes, pois a busca pelo conhecimento não para. Tenha também em mente que estudar a química é também compreender o que caracteriza a humanidade como um agente racional e transformador, que sempre buscou, desde os seus primórdios, tentar explicar os fenômenos da natureza, não apenas para compreendê-los, mas para modificar as condições de vida no planeta Terra. Claro que essas ações de transformação, muitas vezes, geram problemas, mas precisamos também reconhecer que só chegamos até aqui hoje graças à curiosidade, que pode ser vista como uma característica intrínseca de qualquer ser humano. Dito isso, convido você a adentramos no mundo da química orgânica! Profª. Clarice Fedosse Zornio V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. 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UNI VI VII UNIDADE 1 - FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA ...................................................1 TÓPICO 1 - FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I .....................................................3 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3 2 BREVE HISTÓRICO ..........................................................................................................................4 3 A QUÍMICA ORGÂNICA E A TABELA PERIÓDICA ...............................................................6 4 O CARBONO .......................................................................................................................................8 5 ESTRUTURA ATÔMICA ..................................................................................................................9 5.1 ORBITAIS ATÔMICOS ..................................................................................................................10 5.2 CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA DO ESTADO FUNDAMENTAL ....................................15 LEITURACOMPLEMENTAR .............................................................................................................18 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................20 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................21 TÓPICO 2 - FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA II ....................................................23 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................23 2 LIGAÇÃO QUÍMICA ........................................................................................................................23 3 LIGAÇÕES COVALENTES I: TEORIAS DE LIGAÇÃO QUÍMICA .......................................26 3.1 TEORIAS DE LIGAÇÃO QUÍMICA ...........................................................................................28 3.2 TEORIA DE LIGAÇÃO DE VALÊNCIA ....................................................................................29 3.2.1 Orbitais Híbridos Sp3............................................................................................................31 3.2.2 Orbitais Híbridos Sp2............................................................................................................35 3.2.3 Orbitais Híbridos Sp .............................................................................................................37 3.3 TEORIA DOS ORBITAIS MOLECULARES ...............................................................................39 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................41 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................44 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................45 TÓPICO 3 - FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA III ..................................................47 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................47 2 LIGAÇÕES COVALENTES II: ELETRONEGATIVIDADE E MOMENTO DE DIPOLO ..............................................................................................................47 2.1 ELETRONEGATIVIDADE ...........................................................................................................48 2.2 MOMENTO DE DIPOLO .............................................................................................................51 3 INTERAÇÕES INTERMOLECULARES ........................................................................................55 4 REPRESENTAÇÃO DAS MOLÉCULAS ORGÂNICAS ............................................................57 5 CLASSIFICAÇÃO DAS CADEIAS CARBÔNICAS ....................................................................61 6 INTRODUÇÃO AOS GRUPOS FUNCIONAIS ORGÂNICOS ................................................65 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................72 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................73 UNIDADE 2 - GRUPOS FUNCIONAIS I: ALCANOS E ALCENOS ..........................................75 TÓPICO 1 - HIDROCARBONETOS I: ALCANOS E CICLOALCANOS ..................................77 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................77 sumáriO VIII 2 ALCANOS ............................................................................................................................................77 2.1 NOMENCLATURA DOS ALCANOS .........................................................................................78 2.1.1 Substituintes Alquila ...........................................................................................................78 2.1.2 Regras de nomenclatura para os alcanos ..........................................................................79 2.2 ESTEREOQUÍMICA DOS ALCANOS ........................................................................................88 2.3 ISOMERIA DOS ALCANOS ........................................................................................................88 2.4 CONFORMAÇÕES DOS ALCANOS .........................................................................................89 2.5 PROPRIEDADES DOS ALCANOS .............................................................................................93 3 CICLOALCANOS ...............................................................................................................................96 3.1 REGRAS DE NOMENCLATURA PARA OS CICLOALCANOS ...........................................96 3.2 ESTEREOQUÍMICA DOS CICLOALCANOS ...........................................................................98 3.2.1 Isomeria dos cicloalcanos ....................................................................................................98 3.2.2 Tensão no anel .......................................................................................................................99 3.2.3 Conformações dos cicloalcanos ..........................................................................................101 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................105 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................106 TÓPICO 2 - INTRODUÇÃO ÀS REAÇÕES ORGÂNICAS .........................................................107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107 2 REAÇÕES ORGÂNICAS ..................................................................................................................107 2.1 TIPOS DE REAÇÕES ORGÂNICAS ...........................................................................................107 3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS MECANISMOS DE REAÇÃO QUÍMICA ..........................115 3.1 REAÇÕES POLARES ....................................................................................................................117 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................122 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................124 TÓPICO 3 - HIDROCARBONETOS II: ALCENOS ........................................................................127 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................127 2 ALCENOS .............................................................................................................................................127 2.1 NOMENCLATURA DOS ALCENOS .........................................................................................128 3 ESTEREOQUÍMICA DOS ALCENOS............................................................................................133 3.1 ISOMERIA CIS-TRANS NOS ALCENOS ..................................................................................133 3.1.1 Nomenclatura E, Z ................................................................................................................135 4 PROPRIEDADES DOS ALCENOS .................................................................................................138 4.1 REATIVIDADE DOS ALCENOS.................................................................................................141 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................146 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................148 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................149 UNIDADE 3 - GRUPOS FUNCIONAIS II: ALCINOS, ESTEREOQUÍMICA E COMPOSTOS AROMÁTICOS ............................................................................151 TÓPICO 1 - HIDROCARBONETOS III: ALCINOS .......................................................................153 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................153 2 ALCINOS ..............................................................................................................................................153 3 NOMENCLATURA DOS ALCINOS ..............................................................................................154 3 PROPRIEDADES DOS ALCINOS ..................................................................................................159 4.1 REATIVIDADE DOS ALCINOS ..................................................................................................161 4.1.1 Estabilidade do carbocátion ................................................................................................166 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................170 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................172 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................173 IX TÓPICO 2 - ESTEREOQUÍMICA .......................................................................................................175 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................175 2 ISOMERIA ...........................................................................................................................................175 3 QUIRALIDADE E O CARBONO ASSIMÉTRICO ......................................................................178 4 ENANTIÔMEROS ..............................................................................................................................182 4.1 REPRESENTAÇÃO DOS ENANTIÔMEROS ............................................................................184 4.2 NOMENCLATURA R,S ................................................................................................................188 4.3 PROPRIEDADES DOS ENANTIÔMEROS ................................................................................191 5 DIASTEREOISÔMEROS ................................................................................................................195 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................197 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................202 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................203 TÓPICO 3 - BENZENO E AROMATICIDADE ................................................................................205 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................205 2 A ESTRUTURA DO BENZENO.......................................................................................................206 3 CONTRIBUINTES E HÍBRIDOS DE RESSONÂNCIA ..............................................................210 4 NOMENCLATURA DOS COMPOSTOS AROMÁTICOS ........................................................212 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................217 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................219 X 1 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir dos estudos desta unidade, você será capaz de: • compreender um pouco sobre o desenvolvimento histórico da química e da química orgânica; • aprender os fundamentos que regem a química orgânica como área da química; • compreender o papel central do átomo de carbono na química orgânica; • compreender o papel central da ligação covalente na química orgânica; • familiarizar-se com alguns do modelos de representação de moléculas; • identificar as diferentes cadeias carbônicas; • compreender o conceito de grupos funcionais orgânicos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I TÓPICO 2 – FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA II TÓPICO 3 – FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA III 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I 1 INTRODUÇÃO A primeira parte deste livro tem como objetivo maior discutir e apresentar os fundamentos que levaram à definição da química orgânica como parte integrante da grande área da química. No entanto, devemos ter em mente que as subdivisões da química em química orgânica, química inorgânica, química analítica, físico-química e bioquímica têm um caráter mais didático. Desse modo, os conceitos estudados em cada uma dessas áreas não são excludentes, mas sim complementares para o entendimento da química como ciência. Essa unidade é dedicada aos conceitos que fundamentam o estudo da química orgânica, pois é essencial que você compreenda primeiro a estrutura atômica e o que faz do átomo de carbono tão especial para, assim, estudar os diversos grupos funcionais orgânicos e suas especificidades. Dessa forma, no primeiro tópico, começaremos nossos estudos com um pequeno histórico que mostra a relação do homem com o mundo que o cerca, focando, obviamente, na sua interação com os compostos extraídos da natureza e na sua gana por compreender suas funções, propriedades, métodos de obtenção e etc., que acabou culminando no desenvolvimento da química orgânica (e também da química como área da ciência). Veremos que existem milhões de compostos orgânicos já conhecidos e tentaremos compreender o porquê de existirem tantos compostos assim, mesmo eles sendo formados, principalmente, pela combinação entre dez elementos químicos. Aqui, será estudado o que faz do átomo de carbono tão especial e essencial para a vida na Terra. Estudaremos a estrutura atômica, com o intuito de compreendermos, principalmente, o modo como os elétrons estão distribuídos nos átomos. Entender isso é de suma importância, pois, como veremos nos tópicos seguintes, os elétrons são os responsáveis pela formação de ligações químicas e, consequentemente, da obtenção dos diferentes compostos orgânicos. Com isso em mente, vamos ao que interessa! UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 4 2 BREVE HISTÓRICO A história da química orgânica começa com a história da própria química. Ao traçarmos uma linha temporal, podemos dizer que no momento em que o Homo erectus dominou o fogo, a humanidade começou a dominar a química. Isso porque, além da produção dofogo ser uma reação química por si só, o ato de cozinhar alimentos envolve a transformação de compostos orgânicos. O domínio do fogo data do período mais antigo da Pré-história (aparecimento dos primeiros hominídeos até 4000 a.C.), o paleolítico, e por isso o mais antigo da história da humanidade. Por esse motivo, podemos ser um pouco pretenciosos e dizer que a história da química começa com a história da própria humanidade. Todavia, apenas com o advento da linguagem escrita é que foi possível entender a relação entre o homem e a química de uma forma mais contundente. Papiros egípcios da Idade Antiga (4000 a.C. até 476 d.C.) descrevem o uso e a produção de diversas fórmulas medicinais obtidas a partir de ervas. Os mesmos antigos egípcios, assim como os romanos, os fenícios e outras civilizações da época já conheciam técnicas de obtenção e de utilização de corantes, como o índigo, a alizarina e o púrpura. Vestígios de vinho foram encontrados em tumbas de faraós e mesmo na Bíblia há descrições do processo de fermentação da uva para a obtenção do vinho (e, consequentemente, do álcool etílico) e sua posterior oxidação para preparar o vinagre. Os povos da antiguidade também já estavam familiarizados com o processo de fabricação do sabão a partir da banha de origem animal e das cinzas da madeira. A Idade Média (476 até 1473) foi um período histórico marcado pelo trabalho dos alquimistas, que foi muito importante para consolidar, posteriormente, as bases tanto da química moderna, quanto da medicina, da física e da matemática, por exemplo. Apesar do caráter místico da alquimia, que se apoiava em conceitos religiosos, espirituais e metafóricos, a tentativa de produzir a chamada Pedra Filosofal (que permitiria a transmutação de qualquer metal em ouro e a obtenção do Elixir da Longa Vida) contribuiu para o desenvolvimento do conhecimento acerca dos metais e de alguns processos químicos (e suas aparelhagens), como a destilação e a filtração. O trabalho dos alquimistas foi especialmente importante para a química orgânica porque diversos novos compostos foram descobertos e isolados, principalmente de plantas, como o ópio e a estricnina. Durante a Idade Moderna (1473 até 1789) a química se desenvolveu a passos largos. O interesse prático nos novos compostos descobertos, utilizados, muitas vezes, para fins medicinais, levou à criação, junto ao ensino de medicina, das primeiras cátedras universitárias de química durante o século XVII. Também, durante a Idade Moderna, surgiu uma maior preocupação em obter esses novos compostos nas suas formas mais puras, culminando em novas metodologias de extração e purificação, além do maior interesse em conhecer suas propriedades e TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I 5 composições. Assim, em meados dos anos 1770, Carl Wilhelm Scheele (químico e farmacêutico sueco, 1742 – 1786) conseguiu extrair e isolar com maior grau de pureza ácidos orgânicos já conhecidos pelos alquimistas da Idade Média, como o ácido tartárico, obtido da uva, o ácido cítrico, do limão, e o ácido lático, do leite. Antoine Laurent Lavoisier (químico francês, 1743 – 1794) foi capaz de determinar que a composição de tais ácidos, assim como de muitos outros compostos extraídos de fontes naturais, era de, principalmente, carbono e hidrogênio – Lavoisier criou uma metodologia para a determinação da composição de materiais baseada em testes de combustão: compostos orgânicos eram queimados em presença de ar ou oxigênio e seus produtos, basicamente, água e gás carbônico, eram mesurados –. De fato, Lavoisier contribui imensamente para o desenvolvimento da química moderna, sendo comumente chamado de o pai da química, enquanto que o século XVIII é conhecido como o século da química. Até então, a obtenção de todo e qualquer composto orgânico era realizada apenas através da extração de fontes naturais (tanto vegetal, quanto animal). Assim, no início da Idade Contemporânea (1779 até os dias atuais), Jöns Jacob Berzelius (químico e médico sueco, 1779 – 1848) cunhou o termo “química orgânica” para se referir a tais compostos. Nessa época, devido à dificuldade em sintetizar esses mesmos compostos em laboratório, disseminou-se a teoria da força vital (ou vitalismo), que defendia que os compostos orgânicos poderiam ser produzidos apenas por organismos vivos devido a uma energia vital inerente à própria vida. No entanto, a ideia do vitalismo começou a ser derrubada em 1828, quando Friedrich Wöhler (químico alemão, 1800 – 1882) sintetizou a ureia (composto produzido durante o metabolismo proteico e eliminado pela urina e suor) a partir de um sal inorgânico. O trabalho de Marcellin Berthelot (químico e político francês 1827 – 1907) também foi muito importante nesse sentido. Tanto que em 1860 Berthelot compilou seus estudos e publicou o livro Chimie organique fondée sur la synthèse (Química Orgânica Baseada na Síntese, em tradução livre) no qual descrevia a síntese de inúmeros compostos orgânicos, como hidrocarbonetos, gorduras e açúcares – é importante ressaltar que foi Berthelot que usou pela primeira vez o termo “síntese” com o intuito de se referir a toda uma metodologia utilizada para preparar um composto a partir de seus reagentes. Assim, devido à necessidade de uma nova definição, Friedrich August Kekulé (químico alemão, 1829 – 1896) propôs o conceito utilizado até hoje: a química orgânica é a parte da química que estuda os compostos que contém carbono. É fato que de 1860 até os dias atuais houveram avanços científicos no que concerne a química orgânica – como maior compreensão do átomo do carbono, a elaboração de teorias sobre a ligação atômica, desenvolvimento de metodologias para síntese de diversos compostos orgânicos, síntese de compostos orgânicos não encontrados na natureza, surgimento e aperfeiçoamentos de técnicas de caracterização, entre outros –, assim muitos desses avanços serão tratados nos subtópicos seguintes deste livro de estudos. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 6 3 A QUÍMICA ORGÂNICA E A TABELA PERIÓDICA Como vimos, a definição de Kekulé coloca o carbono como elemento central da química orgânica, enquanto que Lavoisier já havia descoberto a presença do hidrogênio nos compostos orgânicos. Mais tarde, foi possível determinar que muitos desses compostos também continham oxigênio e nitrogênio, e alguns outros também poderiam ser formados por enxofre, fósforo e halogênios (flúor, cloro, bromo e iodo). Na tabela periódica, exposta na Figura 1, estão destacadas as localizações dos átomos mais frequentemente encontrados em compostos orgânicos. No entanto, atente-se ao fato de que existem compostos cuja estrutura contém também outros elementos químicos, porém seu número é limitado em relação aos compostos contendo carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, flúor, fósforo, enxofre, cloro, bromo e iodo. Podemos encontrar elementos químicos metálicos como o cobre, o zinco, o lítio e o paládio em reagentes orgânicos, ao passo que compostos contendo rutênio e ouro, por exemplo, são utilizados como catalisadores. Existem diversas publicações que tratam da história da ciência, da química e da química orgânica que são importantes para que possamos entender melhor os processos que determinaram o mundo que conhecemos hoje. Desse modo, para que você possa se aprofundar nesse tema, recomendamos a leitura dos seguintes textos: Um olhar sobre a história da química no Brasil (OLIVEIRA; CARVALHO, 2002); A história da ciência e o objeto de seu estudo: confrontos entre a ciência periférica, a ciência central e a ciência marginal (FILGUEIRAS, 2001); Vinte e cinco anos de reações, estratégias e metodologias em química orgânica (CORREIA; COSTA; FERREIRA, 2002); e A química na educação da princesa Isabel (FILGUEIRAS, 2002). DICAS FIGURA 1 – TABELA PERIÓDICA NA QUAL SE DESTACAM OS ELEMENTOS QUÍMICOS QUE MAIS APARECEM NA ESTRUTURA DE COMPOSTOS ORGÂNICOS FONTE: A autora TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICAORGÂNICA I 7 Como exemplos de compostos orgânicos que contenham cada um dos elementos químicos destacados na tabela periódica da Figura 1, podemos citar: 1) o butano, cuja estrutura é formada apenas por carbono e hidrogênio; 2) o etanol, formado por átomos de carbono, hidrogênio e oxigênio; 3) todas as bases nitrogenadas, adenina, timina, citosina e guanina, cujas estruturas contêm carbono, hidrogênio e nitrogênio (as três últimas contêm ainda o oxigênio); 4) a alicina, formada por carbono, hidrogênio, oxigênio e enxofre; 5) o glifosato formado por carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e fósforo; e 6) o diclorodifeniltricloroetano (DDT), que contém em sua estrutura os átomos de carbono, hidrogênio e cloro. Na Figura 2, estão representadas as nomenclaturas (tanto os nomes comuns, quanto os nomes segundo a União Internacional de Química Pura e Aplicada – IUPAC – do inglês International Union of Pure and Applied Chemistry), as estruturas esqueléticas e as fórmulas químicas de todas as moléculas citadas, de forma a irmos nos familiarizando com tais formas de identificação, muito utilizadas na química orgânica. Não se preocupe que vamos entender melhor o que cada um desses termos significa adiante. FIGURA 2 – EXEMPLOS DE COMPOSTOS ORGÂNICOS FONTE: A autora UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 8 Aprenda mais sobre os compostos orgânicos presentes no nosso dia a dia com a leitura dos seguintes textos: A História sob o olhar da química: as especiarias e sua importância na alimentação humana (RODRIGUES; SILVA, 2010); A química dos chás (BRAIBANTE, MARA ELISA FORTES et al., 2014); e A química dos agrotóxicos (BRAIBANTE, ELISA MARA FORTES; ZAPPE, 2012). DICAS 4 O CARBONO Hoje em dia já se conhecem mais de 16 milhões de compostos orgânicos diferentes, com as mais variadas propriedades e desempenhando as mais variadas funções: de sólidos cristalinos a óleos, de compostos biodegradáveis a plásticos resistentes, de compostos do petróleo a corantes, de bactericidas a drogas antitumorais, do simples metano (formado por um átomo de carbono e quatro de hidrogênio) a complexa palitoxina (formada por 129 átomos de carbono, 221 átomos de hidrogênio, 54 átomos de oxigênio e três átomos de nitrogênio), dentre outros. Existem ainda compostos orgânicos (naturais e sintetizados em laboratório) que servem como fontes nutricionais (carboidratos, proteínas e vitaminas), de energia (petróleo, gás natural e etanol), para confecção de vestimentas (algodão, lã, seda e poliéster), para produção de fármacos etc. Dessa forma, considerando o breve histórico e os exemplos de compostos orgânicos descritos nas páginas iniciais deste livro de estudo já é possível perceber a importância da química orgânica tanto para a evolução e manutenção da vida em si quanto para nos proporcionar uma melhor qualidade/expectativa de vida. De fato, como explicitado por Stephen Hawking – físico e cosmólogo britânico, 1942–2018 (1996, s.p.) “o que nós geralmente entendemos como ‘vida’ é baseado em cadeias formadas por carbono, contendo alguns (poucos) outros átomos”, ou seja, a vida na Terra é baseada no carbono. Agora você deve estar se perguntando: o que torna o átomo de carbono tão especial? A resposta vem exatamente da posição ocupada pelo carbono na tabela periódica (lembre-se de que o número atômico do carbono é seis, o que significa que seu núcleo é formado por seis prótons e sua eletrosfera por seis elétrons): • por pertencer ao grupo 14 (ou 4A), a configuração eletrônica da camada de valência do carbono é 2s22p2, ou seja, apresenta quatro elétrons de valência; • por ocupar a posição intermediária do período dois da tabela periódica, o carbono apresenta a tendência de compartilhar elétrons, podendo formar ligações covalentes tanto com os átomos mais eletronegativos quanto com os mais eletropositivos. Tais características permitem que o carbono possa formar quatro ligações covalentes, sejam elas com outros átomos de carbono (formando as cadeias de TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I 9 carbono), sejam com outros átomos (como o mais eletropositivo, hidrogênio, e os mais eletronegativos, nitrogênio, oxigênio e flúor). Até aqui pudemos ter contato com a ideia geral que explica o papel central do átomo de carbono na química orgânica, mas para entendermos melhor os fundamentos dessa área da química precisamos rever alguns conceitos estudados na química geral, como a estrutura do átomo, as teorias que explicam as ligações covalentes e a geometria molecular, porém com um enfoque no átomo do carbono e nas estruturas moleculares dos compostos orgânicos. 5 ESTRUTURA ATÔMICA O estudo detalhado da estrutura dos átomos é considerado como um domínio da física, enquanto que a química se baseia mais precisamente no comportamento e nas propriedades de três partículas fundamentais: prótons, nêutrons e elétrons. Dessa forma, retomando o que foi estudado na química geral, o modelo nuclear do átomo considera que o átomo consiste em um núcleo denso, o qual é rodeado pelos elétrons (formando uma nuvem eletrônica ao redor do núcleo). O núcleo possui carga positiva, uma vez que é formado por prótons (partículas subatômicas de carga positiva) e por nêutrons (partículas subatômicas eletricamente neutras), enquanto que os elétrons possuem carga negativa. Também é importante lembrar que as massas dos prótons e dos nêutrons são 1836 vezes maiores que a massa dos elétrons, o que significa que a massa do átomo está concentrada quase que totalmente no núcleo. Por sua vez, os elétrons ocupam a maioria do volume do átomo, devido à nuvem eletrônica ao redor do núcleo. A Figura 3 mostra a representação esquemática do modelo nuclear do átomo, no qual o centro é ocupado por um núcleo denso (positivamente carregado) rodeado por elétrons (negativamente carregados) – atente-se para o fato dessa figura ser apenas uma representação do modelo do átomo, o volume ocupado pelos elétrons é na realidade muito maior em relação ao volume ocupado pelo núcleo. FIGURA 3 – REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DO MODELO NUCLEAR DO ÁTOMO FONTE: A autora UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 10 5.1 ORBITAIS ATÔMICOS Precisamos tomar certo cuidado relativo a essa representação esquemática, já que uma análise apressada do modelo nuclear do átomo mostrado na Figura 3 pode nos induzir ao erro se imaginarmos que os elétrons orbitam o núcleo como os planetas orbitam o sol, por exemplo, em uma trajetória bem definida e periódica (lembre-se do modelo de átomo de Bohr). Isso porque o movimento dos elétrons não pode ser descrito pelas leis da mecânica clássica, uma vez que, como demonstrado em 1924 por Louis de Broglie (físico francês, 1892–1987), o elétron, por possuir dimensões subatômicas, apresenta características tanto ondulatórias quanto corpusculares (um conceito conhecido como dualidade onda-partícula). Dessa forma, o comportamento do elétron deve ser analisado sob o domínio da mecânica quântica, obedecendo o princípio da incerteza formulado por Werner Heinseberg (físico alemão, 1901-1976), que afirma que as propriedades de uma partícula atômica não podem ser determinadas simultaneamente. O princípio da incerteza vem de uma demonstração matemática, mas em termos práticos, podemos dizer que não é possível determinar a posição da partícula ao mesmo tempo em que se determina a evolução temporal dessa partícula (ou o momento dessa partícula). Isso porque o próprio ato de mesurar uma propriedade de uma partícula de dimensões atômicas acaba por perturbar o sistema. Assim, com base na mecânica quântica, Erwin Schrödinger (físico austríaco, 1887–1961) postulou que o comportamento dos elétrons em um átomo poderia ser descrito por funções de onda, cujas resoluções acabam por descrever um volume no espaço tridimensional (eixos cartesianos xyz). A partir desse volume, denominado de orbital atômico, é possível determinar as possíveis posições ocupadas por um determinado elétron (auma dada energia) durante seu movimento ao redor do núcleo de um átomo. Assim, um orbital atômico é definido para um elétron com uma determinada energia e expressa a região de maior probabilidade de se encontrar tal elétron em sua trajetória ao redor do núcleo. Você pode pensar em um orbital atômico como sendo a sobreposição de todas as posições ocupadas pelo elétron durante seu percurso. Essa ideia é representada na Figura 4, imagine que possamos tirar fotografias de um elétron orbitando o núcleo de um átomo, assim, se tirarmos milhares dessas fotografias e depois montarmos uma imagem sobreposta de todas essas imagens, teremos uma representação de todos os pontos em que o elétron ocupou durante sua órbita em torno do núcleo, o que representaria a ideia do orbital atômico. TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I 11 FIGURA 4 – ESQUEMA MOSTRANDO A IDEIA DE QUE O ORBITAL ATÔMICO SERIA A SOBREPOSIÇÃO DE TODAS AS POSIÇÕES OCUPADAS PELO ELÉTRON DURANTE SUA TRAJETÓRIA AO REDOR DO NÚCLEO Até aqui pudemos entender um pouco sobre o modo com que os elétrons, em um átomo, movimentam-se ao redor do núcleo ao definirmos o conceito de orbital atômico. Como os elétrons ocupam esses orbitais atômicos? Quais são as suas formas? Primeiramente, de acordo com os princípios da mecânica quântica, para que as funções de onda do elétron possam ser resolvidas, é preciso que cada um dos elétrons em um átomo tenha uma identidade única e bem definida. Basicamente, essa identidade é caracterizada por quatro números quânticos. O estudo dos números quânticos foge um pouco ao escopo do foco de nosso estudo, por isso, vamos nos concentrar nas definições que possibilitam que possamos entender um pouco sobre o modo que os elétrons ocupam os orbitais atômicas e também as formas que esses orbitais assumem. Assim: • O número quântico principal (n) define o nível (ou camada) de energia ocupado por um elétron. Vai de n = 1 (para o primeiro nível, de menor energia e mais próximo do núcleo), para n = 2 (para o segundo nível), n = 3 (para o terceiro nível) e assim por diante. O número quântico principal (n) define a energia do orbital e governa seu tamanho (assim, quanto maior n, mais longe do núcleo, e maior e mais energético o orbital). FONTE: A autora • O número quântico azimutal ou número quântico do momento angular (l) define o momento angular do orbital do elétron (pense em algo como a velocidade com a qual o elétron circula o núcleo). O número quântico do momento angular indica a subcamada (da camada de energia definida pelo número quântico principal) ocupada pelo elétron. Existem n valores diferentes para l para cada valor de n. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 12 Por exemplo: Por convenção, decidiu-se chamar os orbitais l = 0 de orbitais s, l = 1 de orbitais p, l = 2 de orbitais d e l = 3 de orbitais f. O número quântico azimutal (l) indica a subcamada ocupada pelo elétron e define a forma do orbital atômico (ou seja, os orbitais s, p, d e f possuem formas bem distintas). O número quântico magnético (ml) determina a orientação do momento angular do orbital no espaço (em termos práticos, é como se indicasse a orientação cartesiana xyz dos diferentes orbitais s, p, d e f). • O número quântico magnético (ml) indica a orientação do movimento orbital do elétron em torno de um eixo específico no espaço tridimensional xyz, definindo os orbitais presentes em cada um dos orbitais s, p, d e f (essa frase pode parecer estranha, mas na prática significa que os orbitais s, p, d e f, definidos por l, são na verdade um grande grupo de orbitais, que são agora definidos um a um devido ao ml). A quantidade de orbitais definidas por ml é encontrada fazendo-se a distribuição unitária de -l até -l, ou seja: Se 0 (orbital s) 0ll m= → = ; o que significa que o orbital s é composto por apenas um orbital; Se 1 (orbital p) tem os valores 1, 0 e 1ll m= → - + ; portanto, o orbital p é formado por três orbitais; Se 2 (orbital d) tem os valores 2, 1, 0, 1 e 2ll m= → - - + + ; assim, o orbital d é formado por cinco orbitais; Se 3 (orbital f) tem os valores 3, 2, 1, 0, 1 , 2 e 3ll m= → - - - + + + ; assim, o orbital f é formado por sete orbitais. • O número atômico magnético de spin (ml) indica o sentido da rotação do elétron. Devido ao princípio de exclusão de Pauli, no máximo dois elétrons podem ocupar um mesmo orbital e, para que não haja repulsão entre eles, é preciso que esses elétrons tenham spins opostos, assim, por convenção, ml pode assumir o valor de 1 2s m = - ou 1 2s m = + . TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I 13 O número atômico magnético de spin (ms) indica o sentido da rotação do elétron no orbital. A Figura 5 apresenta um resumo do papel dos números quânticos para a obtenção dos orbitais na resolução das funções de onda, assim como a hierarquia das camadas, subcamadas e orbitais das subcamadas. Há dois pontos principais a serem notados aqui: 1) a energia dos orbitais aumenta à medida em que n e l aumentam, isso porque a distância do elétron até o núcleo aumenta, tornando o nível mais energético; por outro lado, os valores de ml não influenciam na energia do orbital, assim os orbitais definidos por ml para um mesmo n e l possuem a mesma energia, sendo chamados de orbitais degenerados; 2) os nomes dos orbitais são definidos a partir da combinação de n, l e ml, assim, o orbital s da primeira camada (n = 1, l = 1 e ml = 0) é denominado orbital 1s, enquanto que o da segunda camada (n = 2, l = 0 e ml = 0) é denominado orbital 2s; os orbitais p, d e f também seguem a mesma regra, porém eles são também definidos de acordo com o eixo em que se encontram, como os três orbitais p, px, py e pz. FIGURA 5 – ARRANJO E DIREÇÃO DO AUMENTO DE ENERGIA DAS CAMADAS SUBCAMADAS E ORBITAIS ATÔMICOS DE ACORDO COM OS NÚMEROS QUÂNTICOS FONTE: Adaptado de Atkins e Jones (2012) Até o momento, pudemos ter uma noção do modo como os elétrons ocupam os orbitais, as energias desses orbitais, a nomenclatura dos orbitais, mas, visualmente, como são esses orbitais? Como visto, existem quatro tipos de orbitais (s, p, d e f) e cada um deles possui uma forma específica. Para o estudo da química orgânica, vamos focar apenas nos orbitais s e p (que são os orbitais ocupados do átomo do carbono), cujas formas são mostradas na Figura 6. Lembre- se de que os orbitais indicam a probabilidade de localização do elétron em uma dada energia, o que gera como resultado todos os pontos em que o elétron pode ocupar, obtendo-se uma nuvem obscura (como esquematizado na Figura 4), sem uma fronteira nítida. No entanto, para a representação esquemática dos orbitais é necessário delimitar uma fronteira, chamada de superfície-limite, que representa UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 14 em 90 a 95% o espaço ocupado pelo elétron. Assim, os orbitais s apresentam uma superfície-limite esférica e os três orbitais p têm a forma de halteres, sendo que cada um deles se orienta sobre um dos eixos cartesianos xyz (px, py e pz). Para os orbitais p também é importante notar que há duas regiões distintas com diferentes sinais de função de onda (positivo ou negativo), representado por cores diferentes (cinza claro e cinza escuro). Na Figura 6 também estão representados os orbitais s para as primeiras camadas de energia, ou seja, orbitais 1s, 2s e 3s. Assim, podemos visualizar que as superfícies-limite apresentam diâmetro progressivamente maior (ou seja, à medida em que o orbital sobe de nível e, consequentemente, de energia, ele aumenta de tamanho). O mesmo princípio vale para os orbitais p, d e f, o que significa, por exemplo, que os orbitais 3p são maiores que os orbitais 2p, por exemplo. FIGURA 6 – REPRESENTAÇÃO DA SUPERFÍCIE-LIMITE (QUE DEFINE AS FORMAS) DOS ORBITAIS ATÔMICO S E P FONTE: A autora. Observe a figura anterior, note que existem três orbitais p, cada um orientado sobre um dos eixos cartesianos (p x , py e p z ). A figura acima à direita mostra as diferenças nos tamanhos dos orbitais 1s, 2s e 3s. NOTA TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I 15 Estudar o conceito de orbitais atômicos é importante porque assim conseguimos entender melhor como os diferentes elétrons se comportam e interagem com o núcleo em um dado átomo, também nos ajuda a compreender que cada elétron de um átomo possui uma identidade própria, caracterizada, principalmente, por sua energia e seu spin. Para a química orgânica, essas informações são especificamente importantes no que se refere à reatividade e às ligações químicas entre os diferentes átomos. Recomendamos as leituras dos seguintes textos para ajudar no entendimento do conceito dos orbitais atômicos: Modelos teóricos para a compreensão da estrutura da matéria (ALMEIDA; SANTOS, 2001); A representação pictórica de entidades quânticas da química (PESSOA JÚNIOR, 2007); Química quântica. Parte I: o átomo de hidrogênio (PEIXOTO, 1978); e A informática no ensino: IV. Os orbitais atômicos hidrogenóides (DEGRÈVE, 1991). DICAS 5.2 CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA DO ESTADO FUNDAMENTAL No subtópico anterior, vimos que os elétrons ocupam determinados orbitais em um átomo. Porém, como podemos prever a ordem que os elétrons ocupam esses orbitais? Temos que sempre ter em mente que na natureza as configurações que envolvem menor energia são as mais estáveis. Pode-se inferir, portanto, que os elétrons se arranjam de modo que a energia total do átomo seja a mínima possível: para isso, os elétrons ocupam, primeiramente, os orbitais atômicos menos energéticos. A descrição das posições ocupadas pelos elétrons nos orbitais atômicos de menor energia é chamada de configuração eletrônica do estado fundamental, que pode ser determinada utilizando três princípios: • Princípio aufbau ou de edificação: os orbitais de menor energia são preenchidos primeiramente, cuja sequência energética é: 1s < 2s < 2p < 3s < 3p < 4s < 3d < 4p < 5s < 4d < 5p < 6s < 4f < 5d < 6p < 7s < 5f < 6d < 7p (diagrama de Pauling). (Nota: “aufbau” significa “construção/edificação”, em alemão). • Princípio da exclusão de Pauli: no máximo dois elétrons podem ocupar um mesmo orbital, sendo que esses elétrons têm spin opostos. O modo convencional de representar os elétrons com spins opostos é representar um elétron com um spin em uma direção por uma seta apontada para cima (↑) e o outro na direção contrária por uma seta apontada para baixo (↓). • Regra de Hund: quando há orbitais degenerados (orbitais com a mesma energia, o caso dos três orbitais p ou dos cinco orbitais d de uma mesma camada de energia, por exemplo), os elétrons ocupam os orbitais diferentes antes de se emparelharem (ou seja, quando elétrons de spin opostos ocupam um mesmo orbital), a regra de Hund minimiza a repulsão entre os elétrons, o que diminui a energia total do átomo. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 16 EXEMPLO – Qual a configuração eletrônica no estado fundamental para os átomos de hidrogênio e de carbono? RESPOSTA O primeiro passo é determinar o número de elétrons do átomo: • pela tabela periódica, determinamos que o número atômico do átomo de hidrogênio é 1 (Z=1), ou seja, o átomo de hidrogênio contém apenas um próton em seu núcleo; em um átomo de carga neutra (caso do hidrogênio neutro), o número de elétrons é igual ao número de prótons desse átomo, assim, podemos determinar que o hidrogênio contém apenas um elétron; • do mesmo modo determinamos que número atômico do átomo de carbono é 6 (Z=6), o que nos leva a definir que o carbono contêm seis elétrons. Agora podemos aplicar o princípio aufbau, o princípio de exclusão de Pauli e a regra de Hund para determinar a configuração eletrônica do estado fundamental para os átomos de hidrogênio e de carbono. Para fixar: • Princípios aufbau: determina que os elétrons ocupam, primeiramente, o orbital disponível de menor energia. O diagrama a seguir mostra os orbitais de menor energia e as suas energias relativas, que vamos usar como base para determinar a configuração no estado fundamental para os átomos de hidrogênio e carbono: • Princípio de exclusão de Pauli: determina que no máximo dois elétrons podem ocupar um orbital atômico, sendo que esses elétrons possuem spin opostos. • Regra de Hund: quando há orbitais degenerados, os elétrons ocupam os orbitais diferentes antes de se emparelharem. Vamos agora fazer a atribuição dos elétrons: TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I 17 • Vimos que o átomo de hidrogênio possui apenas um elétron, que, pelo princípio aufbau, vai ocupar o orbital menos energético, ou seja, 1s. Assim: • O átomo de carbono possui seis elétrons, assim vemos que dois desses elétrons (com spins opostos) vão ocupar o orbital 1s e mais dois outros (também com spins opostos) o orbital 2s (isso porque esses orbitais são os menos energéticos e apenas dois elétrons podem ocupar cada um dos orbitais). Os dois elétrons restantes se acomodam de forma a cada um ocupar um orbital 2p (que são degenerados), pois de acordo com a regra de Hund, o arranjo mais estável é aquele com o número máximo de elétrons desemparelhados. Assim: A tabela a seguir descreve as posições ocupadas pelos elétrons, os átomos de número atômico entre 1 e 8, seguindo os princípios listados acima, para determinar a configuração eletrônica do estado fundamental para cada um desses elementos. TABELA 1 – CONFIGURAÇÃO ELETRÔNICA NO ESTADO FUNDAMENTAL PARA OS ÁTOMOS DE NÚMERO ATÔMICO ENTRE 1 E 8 Elemento químico Número atômico Orbital Configuração eletrônica fundamental1s 2s 2px 2py 2pz Hidrogênio (H) 1 ↓ 1s1 Hélio (He) 2 ↑↓ 1s2 Lítio (Li) 3 ↑↓ ↑ 1s22s1 Berílio (Be) 4 ↑↓ ↑↓ 1s22s2 Boro (B) 5 ↑↓ ↑↓ ↑ 1s22s22px1 Carbono (C) 6 ↑↓ ↑↓ ↑ ↑ 1s22s22px12py1 Nitrogênio (N) 7 ↑↓ ↑↓ ↑ ↑ ↑ 1s22s22px12py12pz1 Oxigênio (O) 8 ↑↓ ↑↓ ↑↓ ↑ ↑ 1s22s22px22py12pz1 FONTE: A autora UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 18 A QUÍMICA ORGÂNICA E A INDÚSTRIA O que é a química orgânica? A química orgânica é o estudo da estrutura, das propriedades, da composição, das reações e da preparação de compostos contendo carbono, que incluem não apenas hidrocarbonetos, mas também compostos contendo outros elementos químicos, principalmente o hidrogênio (a maioria dos compostos contém pelo menos uma ligação carbono-hidrogênio), o nitrogênio, o oxigênio, os halogêneos, o fósforo, o silício e o enxofre. No início, esse ramo da química era limitado aos compostos produzidos por organismos vivos, mas, posteriormente, passou a englobar as substâncias preparadas pelo homem. A faixa de aplicação de compostos orgânicos é enorme e inclui (mas não se limita a esses) os plásticos, produtos farmacêuticos, petroquímicos, alimentícios, explosivos, tintas e cosméticos. Onde a química orgânica é utilizada? Os compostos orgânicos estão ao nosso redor. Eles são centrais para o crescimento econômico de diversos países, principalmente nas indústrias de borracha, de plásticos, de combustíveis, farmacêutica, de cosméticos, de detergentes, de revestimentos, de corantes e de agroquímicos, só para citar algumas. Os próprios fundamentos da bioquímica, da biotecnologia e da medicina são construídos sobre os compostos orgânicos e seu papel nos processos da vida. Além disso, muitos dos materiais de alta tecnologia são ao menos parcialmente feitos de compostos orgânicos. A química orgânica é uma ciência altamente criativa, que permite aos químicos explorarem as propriedades dos compostos existentes, além de criarem novas moléculas. Muito do tempo dos químicos orgânicos é dedicado aos processos de sínteses de novos compostos e ao desenvolvimento de melhores maneiras de sintetizar compostos previamente conhecidos. Quais indústrias contratam químicos orgânicos? Os químicos na academia, geralmente, estão envolvidos em pesquisas de cunho mais fundamental, enquanto que os químicos industriais trabalham, principalmente, no desenvolvimento de novos produtos. Osquímicos orgânicos são geralmente empregados em áreas da biotecnologia industrial e nas indústrias química, de bens de consumo, petrolífera e farmacêutica. • Biotecnologia industrial: a biotecnologia é uma área que envolve a biologia aplicada, focando, basicamente, na manipulação de organismos vivos e de bioprocessos para criar ou modificar produtos para um determinado uso. O cultivo de plantas é amplamente considerado como o primeiro exemplo do uso da biotecnologia, sendo também o precursor da engenharia genética moderna e das tecnologias de cultura de células e de tecidos. Praticamente todos os produtos biotecnológicos são resultado da química orgânica. LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA I 19 A biotecnologia é usada nas áreas ambiental, de cuidado da saúde, de produção agrícola, e para a produção de plásticos biodegradáveis, de óleos vegetais e biocombustíveis, por exemplo. • Indústria química: A indústria química é crucial para a economia da maioria dos países, trabalhando para converter matérias-primas como o petróleo, o gás natural, os metais e os minerais, e até mesmo o ar e água, em mais de 70.000 produtos diferentes. Os produtos obtidos pela indústria química são usados para fazer uma ampla variedade de bens de consumo, bem como milhares de produtos que são insumos para as indústrias agrícola, de manufatura, de construção civil e de serviços. Mais de três quartos da produção mundial da indústria química vêm do processamento de plásticos e polímeros em geral, mas pode-se citar também a ampla produção de materiais têxteis, de papel e celulose, de metais e do refino do petróleo. É interessante citar que a própria indústria química consome cerca de um quarto de sua própria produção. • Indústria de bens de consumo: as indústrias de bens de consumo produzem produtos a serem utilizados no dia a dia, como sabões, detergentes, xampus, produtos de limpeza, cosméticos e artigos de plástico. • Indústria petrolífera: a indústria petrolífera inclui os processos de exploração, de extração, de refino, de transporte e de comercialização de produtos petrolíferos. Os principais produtos, em volume, da indústria petrolífera, são o óleo combustível e a gasolina, mas o petróleo também é amplamente utilizado como matéria-prima para a produção de fármacos, de solventes, de fertilizantes, de pesticidas e de plásticos. • Indústria farmacêutica: a indústria farmacêutica é responsável por desenvolver, produzir e comercializar medicamentos para uso humano ou animal. Todos os produtos farmacêuticos estão sujeitos a um grande número de leis e regulamentações (específicas de cada país) que se referem, principalmente, às patentes, aos testes de segurança, eficácia e toxicológico de cada fármaco e às estratégias de venda desses produtos. FONTE: THE ACS DIVISION OF ORGANIC CHEMISTRY. Technical disciplines: organic chemistry. Disponível em: <https://www.acs.org/content/acs/en/careers/college-to-career/areas-of- chemistry/organic-chemistry.html>. Acesso em: 21 mar. 2018. Para se aprofundar mais no assunto, recomendamos a leitura dos textos: A importância da síntese de fármacos (MENEGATTI; FRAGA; BARREIRO, 2001); Indústria química: evolução recente, problemas e oportunidades (GALEMBECK et al., 2007); e Carboidratos como fonte de compostos para a indústria de química fina (FERREIRA; SILVA; FERREIRA, 2013). DICAS 20 Neste tópico, você aprendeu que: • Química orgânica é a parte da química dedicada ao estudo dos compostos formados por carbono; vimos que além do átomo de carbono, outros elementos, como hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, flúor, fósforo, enxofre, cloro, bromo e iodo também são frequentemente encontrados em moléculas orgânicas. • O papel central do carbono é explicado devido à capacidade do átomo de carbono em formar quatro ligações covalentes, seja com outros átomos de carbono (formando as cadeias de carbono), seja com átomos de elementos químicos diferentes (como o mais eletropositivo hidrogênio, e os mais eletronegativo nitrogênio, oxigênio e o flúor). • O modelo atômico em voga consiste em um núcleo de carga positiva (formado por prótons e nêutrons) rodeado por elétrons de carga negativa. • O comportamento dos elétrons em um átomo é descrito pela mecânica quântica, sendo os orbitais atômicos definidos como a região de maior probabilidade de se encontrar tal elétron em sua trajetória ao redor do núcleo. • Os orbitais atômicos possuem energia e formas diferentes, os orbitais s apresentam uma superfície-limite esférica e os três orbitais p têm a forma de halteres, sendo que cada um deles se orienta sobre um dos eixos cartesianos xyz (px, py e pz). • A configuração eletrônica do estado fundamental descreve as posições ocupadas pelos elétrons de um átomo nos orbitais atômicos de menor energia, sendo determinada seguindo-se três princípios: o princípio aufbau, o princípio da exclusão de Pauli e a regra de Hund. RESUMO DO TÓPICO 1 21 1 Sobre as razões que definem porque existe um número tão elevado de compostos orgânicos, julgue as seguintes asserções em verdadeiro ou falso: a) ( ) O carbono reage vigorosamente com quase todos os elementos químicos. b) ( ) O átomo de carbono tem uma valência variável. c) ( ) Os átomos de carbono podem unir-se formando cadeias. d) ( ) O átomo de carbono pode se ligar tanto a elementos químicos mais eletronegativos, quanto a menos eletronegativos. 2 Sabendo que a composição química dos seres vivos é feita por compostos inorgânicos e orgânicos, classifique as substâncias a seguir em Orgânicas ou Inorgânicas: a) Água (H2O). b) Ureia (CH4NO2). c) Vitamina A (C20H30O). d) Carbonato de cálcio (CaCO3). 3 Sobre os orbitais atômicos, julgue as afirmativas a seguir em Verdadeira ou Falsa: a) ( ) Os orbitais atômicos possuem as formas e energias diferentes que dependem dos seus números quânticos. b) ( ) Um orbital atômico expressa a região de maior probabilidade de se encontrar um determinado elétron em sua trajetória ao redor do núcleo. c) ( ) O orbital 3s possui menor energia que o orbital 1s. d) ( ) Os três orbitais p são degenerados porque possuem mesma energia. 4 Escreva a configuração eletrônica do estado fundamental de cada um dos seguintes elementos químicos: a) Flúor: b) Fósforo: c) Bromo: d) Iodo: AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 2 FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA II UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO No Tópico 1, estudamos um pouco da história da química orgânica e as especificidades do átomo de carbono que permitem que uma infinidade de compostos orgânicos exista. Agora, no Tópico 2, dedicaremo-nos ao entendimento de como o átomo de carbono se combina tanto com outros átomos de carbono, quanto com os átomos de outros elementos químicos para formar os mais diferentes compostos orgânicos. Assim, começaremos estudando a razão principal dos átomos se ligarem por meio das ligações químicas e os três diferentes tipos de ligações químicas (ligação iônica, metálica e covalente). A partir daqui, focaremos apenas no estudo das ligações covalentes, pois é por meio delas que são formados os compostos orgânicos (chamados também de moléculas, a partir dos estudos desse tópico você entenderá porque). Estudaremos a tetravalência do carbono e as teorias de ligações químicas (teoria de ligação de valência e teoria do orbital molecular). Focaremos um pouco mais na teoria de ligação de valência, pois ela traz um conceito muito importante: o conceito de hibridização de orbitais atômicos. 2 LIGAÇÃO QUÍMICA À exceção dos gases nobres (grupo 18 da tabela periódica), que são encontrados na natureza como átomos isolados, todos os outros elementos químicos tendem a se combinar entre si, formando ligações químicas. Essa tendência é observada porque a energia resultante da ligação química entre os núcleos e elétrons de dois (ou mais) átomos é menor do que a energia total desses átomos isolados, ou seja, a ligação química entre átomos gera substâncias mais estáveis.A ligação química é governada pela interação dos elétrons dos átomos que participam dessa ligação, por isso, analisar a configuração eletrônica do estado fundamental dos átomos é essencial para entender como esses átomos se ligam. Aqui, os elétrons de valência (elétrons que ocupam os orbitais da camada mais externa) adquirem especial importância, uma vez que são esses elétrons que participam ativamente das ligações químicas. Assim a configuração eletrônica de valência do átomo acaba por determinar o tipo de ligação química que esse átomo pode formar, que são três: ligação iônica, ligação metálica e ligação covalente. UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 24 • Ligação iônica: é caracterizada pela transferência completa de elétrons entre os átomos, um composto iônico é formando por um cátion (íon positivo, ou seja, perdeu elétrons) e um ânion (íon negativo, ganhou elétrons) que se atraem eletrostaticamente devido a suas cargas opostas. • Ligação metálica: ocorre quando um grande número de cátions metálicos é mantido ligado através de um mar de elétrons que fluem livremente pela estrutura metálica (esse mar de elétrons é proveniente dos elétrons de valência dos elementos que formam os cátions metálicos). • Ligação covalente: é caracterizada pelo compartilhamento dos elétrons de valência de dois átomos para formar uma nova substância; essa nova substância não é formada por íons (os átomos não perdem ou ganham elétron), sendo também chamada de molécula. Todas as ligações químicas (iônica, covalente e metálica) são determinadas por forças que possibilitam que os átomos de uma determinada substância se mantenham unidos. Dessa forma, por serem forças que agem no “interior” da substância, elas são chamadas de forças intramoleculares. Aqui foram apresentados os três principais tipos de ligação química, mas, no que concerne à química orgânica, qual é o tipo principal de ligação química a ser considerado? Com o desenvolvimento da química moderna, uma das grandes preocupações dos cientistas era justamente entender como se formavam os compostos orgânicos e como se mantinham unidos. Assim, novos estudos foram sendo desenvolvidos a fim de se compreender melhor a química do átomo de carbono e a forma como os compostos orgânicos se estruturavam. Kekulé e Archibald Scott Couper (químicos escoceses, 1831-1892) puderam definir, em 1848, em trabalhos realizados de forma independente, o caráter tetravalente do carbono, ou seja, em toda e qualquer molécula orgânica cada átomo de carbono é capaz de formar quatro ligações com outros átomos. Mais tarde, em 1874, Jacobus Van’t Hoff (químico holandês, 1852-1911) e Joseph Le Bel (químico francês, 1847-1930) propuseram que as quatro ligações realizadas pelo carbono são estruturadas tridimensionalmente na forma de um tetraedro regular, no qual o carbono ocupa a posição central do tetraedro e os outros átomos da ligação estão posicionados sobre os vértices (veja esquema da figura a seguir). Somente em 1911, Gilbert Newton Lewis (físico-químico americano, 1845-1946) pôde determinar que o carbono não perdia ou ganhava elétrons quando formava um composto orgânico, definindo então que as ligações em compostos orgânicos se davam por compartilhamento de elétrons (ligação covalente). Dessa forma, foi possível determinar que os compostos orgânicos eram precisamente moléculas orgânicas (ou seja, compostos cujos átomos são ligados entre si exclusivamente por ligações covalentes). A figura a seguir mostra a representação da conformação espacial tetraédrica do metano utilizando o modelo de bolas e varetas e a projeção de Haworth. Vale citar que o modelo de bolas e varetas é um modelo tridimensional TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA II 25 que possibilita mostrar a conformação de uma molécula no espaço, mostrando seus ângulos de ligações. Nesse modelo, os átomos são mostrados como esferas, ou bolas – no caso do metano, as esferas brancas indicam os hidrogênios e a cinza o carbono – e as ligações são representadas como varetas ligando essas esferas. A projeção de Haworth é um modelo que indica, no plano do papel, a conformação tridimensional de uma molécula. Para isso, usamos três tipos de linhas para representar as ligações: 1) linhas finas e sólidas para representar as ligações posicionadas no plano do papel; 2) linhas mais espessas e sólidas para indicar as ligações saindo do plano do papel; e 3) linhas espessas e tracejadas para representar as ligações entrando no plano do papel). FIGURA 7 – ESTRUTURA TETRAÉDRICA DO METANO REPRESENTADA PELO MODELO DE BOLAS E VARETAS E PELA PROJEÇÃO DE HAWORTH FONTE: A autora Um estudo mais detalhado dos diferentes tipos de ligações químicas pode ser obtido em livros de química geral. No que se refere à química orgânica, concentraremo-nos nas ligações do tipo covalente, que são as ligações presentes nos compostos (ou moléculas) orgânicos (as). Recomentados a leitura do texto Ligações químicas: ligação iônica, covalente e metálica (DUARTE, 2001). DICAS UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 26 3 LIGAÇÕES COVALENTES I: TEORIAS DE LIGAÇÃO QUÍMICA Até o momento, usamos a designação “compostos orgânicos” para nos referirmos às substâncias estudadas neste livro de estudo, porém, de agora em diante, usaremos o termo “molécula”, de modo a enfatizarmos o papel da ligação covalente na formação desses compostos. NOTA Uma das primeiras formas de teorizar o modo como as ligações químicas acontecem foi proposta por Lewis, que indica que um átomo seria mais estável se sua camada de valência tivesse a mesma configuração eletrônica de valência dos gases nobres, conhecidos por sua grande estabilidade. Desse modo, para formar ligações covalentes, os átomos passam a compartilhar elétrons a fim de “completarem” suas camadas de valência (ou seja, alcançar a configuração de valência do gás nobre). Assim, o número de ligações covalentes que cada átomo pode realizar depende justamente da quantidade de elétrons adicionais necessários para completar sua camada de valência. Por exemplo: • Olhando na tabela periódica, vemos que o gás nobre mais próximo do hidrogênio (número atômico 1) é o hélio (número atômico 2). Portanto, para que o hidrogênio forme ligações covalentes com outros átomos, é preciso que ele compartilhe elétrons de forma a obter a configuração eletrônica de valência do hélio. A configuração eletrônica do hidrogênio é 1s1 e a do hélio 1s2, assim, o hidrogênio precisa de um elétron para alcançar a configuração eletrônica do hélio, o que significa que o hidrogênio pode formar uma ligação covalente com outro átomo. • No caso do carbono, o gás nobre mais próximo é o neônio, assim o carbono precisa alcançar a configuração eletrônica de valência do neônio para formar ligações covalentes. A configuração eletrônica de valência do carbono é 2s22p2 (ou seja, o carbono possui quatro elétrons de valência) e a do neônio é 2s22p6 (o neônio possui oito elétrons de valência), então, o carbono necessita de mais quatro elétrons para alcançar a configuração do neônio. Portanto, o carbono forma quatro ligações covalentes com outros átomos (lembre-se da tetravalência do carbono, proposta por Kekulé e Couper). • Da mesma forma que o carbono, o neônio é o gás nobre mais próximo tanto do nitrogênio, quanto do oxigênio. O nitrogênio tem cinco elétrons de valência (2s22p3) e o oxigênio tem seis (2s22p4), assim o nitrogênio precisa de mais três elétrons, formando três ligações covalentes, enquanto que o oxigênio precisa de dois elétrons, formando duas ligações covalentes. TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA II 27 Analisando os exemplos apresentados anteriomente, podemos perceber que os átomos de um certo elemento químico tendem a alcançar a configuração eletrônica de valência dos gases nobres mais próximos a eles na tabela periódica. Como, à exceção do hélio (cuja camada de valência é composta por apenas dois elétrons), todos os outros gasesnobres possuem oito elétrons na sua camada de valência. Assim, o modelo proposto por Lewis passou a ser chamado de regra do octeto. Um modo bastante prático de representar os elétrons de valência de um átomo é utilizar a estrutura de Lewis (também chamada de estrutura de pontos), no qual cada ponto indica um elétron. Podemos observar na figura a seguir (à esquerda) a representação de Lewis para os elétrons de valência para os átomos de hidrogênio, carbono, nitrogênio e oxigênio. Perceba, na figura, que os átomos de valência podem estar isolados ou em pares (por exemplo, o átomo de carbono apresenta quatro elétrons de valência e todos eles estão isolados, enquanto que o nitrogênio tem cinco elétrons de valência, dos quais três estão isolados e dois estão formando um par), é importante notar isso porque apenas os elétrons isolados que participam da ligação covalente, como também indicado na figura (à direita), mostram as estruturas de Lewis e de Kekulé para as moléculas de metano, metanol e metilamina. Perceba, nas estruturas de Lewis, que com a formação das ligações covalentes das moléculas todos os átomos (o carbono, hidrogênio, o nitrogênio e o oxigênio) completaram sua camada de valência a fim de obedecerem à regra do octeto (agora, com as ligações, cada hidrogênio tem dois elétrons na sua camada de valência e os outros átomos têm oito elétrons). A estrutura de Kekulé mostra as ligações covalentes por traços e os elétrons isolados continuam sendo indicados por pontos. Recapitulando: de acordo com a regra do octeto, uma molécula orgânica estável é formada quando todos os átomos participantes de cada uma das ligações covalentes atingem a configuração eletrônica de valência dos gases nobres (dois elétrons para o hidrogênio e oito elétrons para os demais); a regra do octeto também dita que o número de ligações realizadas por cada átomo depende da quantidade necessária de elétrons que ele precisa ganhar para atingir tal configuração eletrônica. ATENCAO UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 28 FIGURA 8 – À ESQUERDA: ELÉTRONS DE VALÊNCIA DE ALGUNS ÁTOMOS DE ACORDO COM A REPRESENTAÇÃO DE LEWIS. À DIREITA: MOLÉCULAS REPRESENTADAS DE ACORDO COM AS ESTRUTURAS DE LEWIS E DE KEKULÉ FONTE: A autora 3.1 TEORIAS DE LIGAÇÃO QUÍMICA A regra do octeto é útil para explicar porque dois átomos compartilham seus elétrons para formar ligações covalentes, no entanto, não é suficiente para entendermos como esse compartilhamento leva à formação de uma ligação química. A regra do octeto trata os elétrons como partículas, não considerando o caráter de onda desses elétrons (lembre-se da dualidade onda-partícula) e, portanto, não leva em conta o papel dos orbitais atômicos no processo de formação de uma ligação química. Assim, dois modelos teóricos foram desenvolvidos a fim de explicar a formação de ligações covalentes seguindo os preceitos da mecânica quântica: a teoria de ligação de valência e a teoria dos orbitais moleculares. TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA II 29 FONTE: A autora Vale ressaltar que ambos os modelos são aceitos e usados de acordo com as circunstâncias. Isso significa que há casos que podem ser melhor explicados se baseados na teoria de ligação de valência, enquanto outros são melhor descritos pela teoria dos orbitais moleculares. 3.2 TEORIA DE LIGAÇÃO DE VALÊNCIA A teoria de ligação de valência prega que uma ligação covalente se forma pela sobreposição dos orbitais de dois átomos. Essa sobreposição leva à união dos átomos, pois ela permite que os elétrons participantes da ligação ocupem simultaneamente os orbitais de ambos os átomos e sejam atraídos por seus núcleos. Podemos citar, como exemplo, o caso da formação da molécula H2 (gás hidrogênio). Como pode ser visto na figura a seguir, a ligação covalente H –H é resultado da sobreposição frontal dos orbitais 1s dos dois átomos de hidrogênio (cuja configuração eletrônica de valência é 1s1, ou seja, o orbital 1s de cada hidrogênio é ocupado por um elétron). Os orbitais sobrepostos apresentam a forma de um ovo (esfera “alongada”) e a ligação covalente formada devido à sobreposição frontal dos orbitais atômicos é chamada de ligação s. É importante citar que uma ligação s é dita cilindricamente simétrica, pois os elétrons que participam da ligação têm a probabilidade de ocupar esses orbitais sobrepostos de maneira simétrica em torno de uma linha imaginária que conecta os centros dos dois átomos unidos pela ligação simples. O esquema à direita na figura a seguir mostra exatamente isso: tal figura representa a molécula de H2, em que a região cinza representa os orbitais 1s sobrepostos e os pontos pretos o núcleo dos átomos; assim, podemos ver que a sobreposição dos orbitais atômicos gera uma densidade de probabilidade eletrônica (ou seja, a região onde é mais provável encontrar os elétrons da molécula) que é simétrica ao redor do eixo de ligação (determinado pelas posições dos núcleos dos dois átomos do hidrogênio). É indispensável fixar que uma ligação simples sempre é uma ligação s. FIGURA 9 – À ESQUERDA: SOBREPOSIÇÃO DOS ORBITAIS 1S DOS ÁTOMOS DE HIDROGÊNIO PARA A FORMAÇÃO DA LIGAÇÃO COVALENTE DA MOLÉCULA DE H 2 . À DIREITA: SIMETRIA CILÍNDRICA DOS ORBITAIS 1S SOBREPOSTOS DO H 2 UNIDADE 1 | FUNDAMENTOS DA QUÍMICA ORGÂNICA 30 Em uma ligação covalente, cada elétron, antes atraído apenas pelo seu próprio núcleo, passa também a ser atraído pelo núcleo do outro átomo que participa da ligação. Esse processo diminui os efeitos de repulsão, fazendo com que o sistema fique mais estável e libere energia. No entanto, a sobreposição dos orbitais e a formação da ligação covalente ocorre somente quando os dois átomos se encontram a uma determinada distância entre si: se os átomos estiverem muito separados, não será possível que seus orbitais se sobreponham; se estiverem extremamente próximos, haverá repulsão entre os núcleos positivos dos dois átomos. Dessa forma, a distância ideal é definida para que seja possível sobrepor os orbitais atômicos dos átomos e para que a energia do sistema seja mínima (não havendo problemas de repulsão). Essa distância específica ideal é definida como comprimento de ligação e é característica de cada ligação covalente (por exemplo, o comprimento da ligação H–H é de 7,4 x10-11 m, ou 74 picômetros, e a do C–C no etano, C2H4, é 153 picômetros). Na figura a seguir, apresenta-se um esquema que retrata a energia do sistema em função da distância entre os núcleos (distância internuclear) de dois átomos de hidrogênio. Podemos perceber que, na posição 1, os átomos estão muito afastados e a energia total do sistema é a soma das energias de cada um dos átomos. A posição 2 mostra que à medida que os átomos se aproximam e seus orbitais começam a se sobrepor, a energia do sistema começa a diminuir até atingir um valor mínimo, dado pela posição 3, que é justamente a distância ideal entre os núcleos e que dita o comprimento de ligação. Caso a distância internuclear continue a diminuir, a energia do sistema aumentará significativamente, devido aos efeitos de repulsão entre os núcleos (posição 4). FIGURA 10 – ENERGIA DO SISTEMA EM FUNÇÃO DA DISTÂNCIA ENTRE DOIS ÁTOMOS DE HIDROGÊNIO FONTE: A autora TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS DE QUÍMICA ORGÂNICA II 31 FONTE: A autora A formação da ligação covalente para o H2 é um caso mais simples para explicar a sobreposição dos orbitais atômicos e a teoria de ligação de valência, pois há uma sobreposição direta de dois orbitais s. No entanto, para moléculas formadas por mais de dois átomos e por átomos cujos elétrons de valência ocupem outros orbitais (p, d ou f) a situação é um pouco mais complexa. De fato, a simples sobreposição direta de orbitais não explica as ligações covalentes obtidas para as moléculas orgânicas e, para uma melhor interpretação, um novo conceito precisa ser definido, o dos orbitais híbridos. 3.2.1 Orbitais Híbridos Sp3 Conforme já exposto, o carbono apresenta configuração
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