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Mercadores de sentido

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*
“Mercadores de sentido”
Capítulo III: 
Subcultura e contracultura Punk
No mercado de bens simbólicos operam dois processos: segmentação e homogeneização dos consumidores para incluir todos no circuito do consumo ou, pelo menos, no circuito dos que desejam consumir;
Países periféricos: massificação dos desejos e posse de mercadorias;
Punks lutam contra isso, formulam identidades sem raízes com o lugar e com o espaço de fluxo dos MC, dos quais extraem símbolos, ídolos e inspirações;
*
Argumento: Punks se contrapõem ao pensamento hegemônico da sociedade, disseminado pela mídia e pelas empresas transnacionais;
No BR: Punks se revoltaram, desde 1970 contra ordem burguesa, militarismo, machismo... Hoje, atuam em conjunto com homossexuais, negros, feministas, sem-teto e estudantes;
Âmbito local: punks produzem “cena underground” – valorização de bens pouco sofisticados, o despojamento e comportamento desesperançado;
*
Objetivo: 
Entender continuidades e rupturas que punks estabelecem com sistema social que disciplina modo de vida juvenil: instituição família, escola e mídia. 
Entender contracultura hoje e formas de cooptação dos jovens pela cultura hegemônica para desvendar hibridismo do metal e punk, e apropriação do punk internacional e nacional pelos jovens. 
Entender consentimento e reação juvenil à lógica hegemônica, escolhendo jovens que produzem cultura punk protestando contra cultura hegemônica e outros que representam o hibridismo do punk com hegemônico.
Comparar constituição de punks simbólicos (21 a 27 anos) com punks de consumo (17, 17 e 19 anos) para entender submissão e resistência dos jovens, com foco na relação de classe e identidade. 
Investigar como atores situados em posições distintas (em função de diferenças ocupacionais, de renda, educação, etc) se aliam a estilos, normas e valores expressando desejo de ascensão ou adesão ao pensamento burguês. 
Testar noção de classe, para entender em que condições subalternos aspiram à condição das classes médias, e médias identificam-se com camadas altas ou baixas. 
*
Metodologia: 
estudo aborda apropriações do punk por jovens de SM, desde 1980 até hoje.
9 jovens entrevistados, divididos em punk simbólicos e de consumo.
Simbólicos: modo de pensar e de ser coerente com filosofia punk – apreço pela individualidade, combatem ao conformismo, sexismo, classismo e racismo. Atuam na organização da cena underground e produzem música punk.
Consumo: músicos que admiram trabalho de bandas punks internacionais, mas valores e visões de mundo estão mais próximos do pensamento hegemônico. Assimilam parte do mundo underground e produção musical sob influência do pop e do metal.
Evitou usar certas denominações: alternativos ou independentes, underground, contraculturais ou subculturais) 
Fala de punk simbólicos e punks de consumo, de acordo com dependência da mídia hegemônica para constituir identidades
*
Subcultura: alternativa restrita a esfera do lazer - Punks, pois seu espaço cultural é caracterizado por sociabilidade alternativa, autofinanciamento e domínio dos processos culturais que realizam;
Contracultura: forma global de vida - Hippies;
Alguns resultados:
Protagonismo da classe média, que aderem à crítica ao capitalismo e à cultura da mídia;
Jovens que estudam têm ponto de vista mais positivo sobre sociedade, possíveis mudanças e sua atuação na sociedade;
Resistência simbólica abrange jovens de classe média, média baixa e baixa, não vindo só dos jovens subalternos. Assim, luta contra dominação deve resultar da aliança entre as classes 
*
A história do punk
	Surgimento: 
Nova York – 1960 e Inglaterra – 1970;
Legs McNeil batizou o estilo de música com palavra punk – sujeira, imoralidade e desrespeito à ordem;
Jovens punks tinham comportamento rudimentar: atitudes violentas, uso de drogas, licenciosidade sexual, apropriação de objetos considerados lixo para a sociedade e uso destes para criticar a moda
Condenavam qualquer tipo de preconceito (racial, sexual ou de classe); ideário de pacifismo, anarquismo, anticomunismo e preservação ambiental;
*
Movimento se articulou e surgem divisões:
Straight Edge: 1980, alternativa contrária à exaltação das drogas e ao sexo promíscuo, favorável ao vegetarianismo, se transformou no reduto de jovens reacionários, conformistas e machistas; 
*
Skinheads: 1960, formaram com punks um grupo com origem nas classes operárias, mas assumiram ideologia nacionalista, xenófoba, racista e de extrema direita, tornando-se inimigos dos punks;
*
Anarco-punks: facção mais politizada do estilo, jovens intelectualizados, organizados, politicamente ativos e vinculados ao movimento anarquista;
*
Paralelo a essas vertentes, foi construída representação negativa do movimento punk quando ele passou a ser divulgado pela indústria cultural; 
Complexidade de posturas passou a ser sinônimo de vandalismo, bebedeiras, drogas e violência.
*
Brasil:
Final de 1970: discos, revistas especializadas e jornais;
Maioria da população eram jovens e grande espaço para expansão da cultura da mídia: mercado consumidor significativo;
Impressa mostrava movimento na Europa (sério, movimento crítico e organizado) e apontava nascimento local (curtição ligada à indústria da moda): mídia desacreditava na inserção do punk na cultura brasileira, mas ele conquistou seu espaço e sua ideologia foi marcante;
Primeiros grupos punk: SP e RJ – 1978 – veículo de comunicação que integrava simpatizantes foi a correspondência trocada por correio – FANZINES
Consolidação do movimento em 1980 coincidiu com criatividade das bandas que não recebiam atenção e criaram espaço próprio de divulgação. 
*
Bandas mais conhecidas no BR – nas letras denunciavam situação de marginalidade dos pobres das periferias urbanas dos grandes centros:
Garotos podres
*
Ratos de porão
*
Cólera
*
Inocentes
*
Plebe rude
*
Olho seco
*
Replicantes
*
Restos de nada 
Condutores de cadáveres
*
RS:
Bandas: De Falla, Cascavelletes, Garotos de Rua, Tequila Baby
Letras que causavam protestos dos ouvintes de rádio
Na TV, visibilidade das bandas em programas de auditório: Faustão, Chacrinha e Bolinha.
*
POA:
1980: recriação das tendências do visual dos rockeiros norte-americanos e ingleses, produção de gêneros musicais heterogêneos, vitalidade do circuito artístico (casas de espetáculo, bares, garagens e estúdios improvisados);
Irreverência espontânea: estilo de vida que incluía a experiência com drogas pois com elas os artistas faziam coisas subversivas, sem compromisso político-social;
Não tinham preocupação política no sentido de contestar sociedade e consumo de drogas, depredação de prédios, carros e vitrines; faziam uma provocação sem sentido em suas músicas
SM:
Punks diferentes do resto do RS: quando praticavam vandalismo o faziam em nome da revolta contra instituições dominantes;
Músicas servem para dar vazão a mensagens de protesto social
*
O punk em Santa Maria: experiência e valores
1985 – jovens santa-marienses obtiveram primeiras informações sobre estilo punk através de reportagem no Fantástico;
Limitações do comércio e mercado cultural de SM, faz com que jovens procurem POA como ponto de referência intermediário para contato com sede do movimento em SP;
Em SM: diversidade de posturas ideológicas ou ausência delas
Resistência e união ao estilo hegemônico se dava de acordo com maior ou menor contato com representações e produtos midiáticos;
Centro da cidade é local para visibilidade dos “verdadeiros” (conscientes) e os “for fun” (seguem tendência da mídia hegemônica), e periferia é local de moradia da maioria dos jovens punks. 
*
Modelo almejado de punk:
Transgride todas as regras do sistema;
Mantém visual radical;
Produz seus próprios utensílios;
Não trabalha;
Abandonou a família;
Vive de forma nômade ou na periferia;
É política e ideologicamente esclarecido;
Só freqüenta círculos underground;
Só ouve e toca música punk.
Punks mais velhos: usam visual nos shows e festas no underground, conhecem ideologia e criticamsistema capitalista;
Punks mais novos: privilegiam aparência para serem notados e distinguir-se de demais estilos.
*
Ser punk autêntico:
Não medir conseqüências do que faz;
Transgredir instituições sociais (família)
Viver na rua;
Ter problemas com a polícia;
Ter visão crítica; 
Gosto pela música;
Modo de vestir independente da moda.
Metodologia: História do punk contada por 10 pessoas
8 homens (17 a 40 anos) e 2 mulheres (16 e 19 anos) – 1 dos homens não foi analisado posteriormente
4 de classe média média, 5 de média baixa e 1 de baixa;
Objetivo: observar modos de apropriação do punk no período de 1985 a 2003, classificando os 9 jovens em punks simbólicos e punks de consumo. 
*
Resultados:
Moradia:
Maioria dos jovens de classe média média moram zonas centrais de SM;
Jovens de classe média baixa moram casa própria em bairros periféricos;
Jovem de classe baixa perambula pela cidade e é acolhido casa de amigos
Estudo:
4 abandonaram o estudo
2 cursam EM
1 se prepara para vestibular
2 são universitários;
	
	Necessidade de trabalhar para ajudar no sustento da família, discordância com rigidez escolar e conteúdo estudado ou desinteresse provocado pela falta de perspectiva de inserção no mercado geram abandono da escola.
	Punks têm dificuldades de conviver com colegas que não aceitam seu estilo, por serem humildes ou pelo visual: ocorre zombaria ou desprezo; jovens ficam isolados das atividades realizadas e em momentos de sociabilidade. 
*
Lazer e Socialização:
Tempo de lazer é vivido na rua ou na casa de amigos;
Espaço da casa é para estudar, fazer tarefas domésticas ou para interagir com suportes midiáticos;
Encontro com pais na hora do almoço e com parentes em ocasiões festivas 
Relação com irmãos é conflituosa e sem proximidade afetiva;
Não há diálogo sobre sexualidade;
Companhias do círculo punk não são permitidas em casa; 
Estudo e Trabalho:
Todos concordam que é preciso estudar e trabalhar, mas predomina crítica ao sistema escolar e à organização injusta do trabalho na sociedade;
Religião:
Maioria dos punks provém de famílias de religião cristã (católica) e freqüentam igrejas na infância. 
Simbólicos consideram religião como forma de alienação e demais se mantêm afastados de rituais religiosos, mantendo certos valores que aprenderam na família ou em escolas católicas. 
*
Etnia:
2 se definem mestiços;
6 se auto-intitulam brancos;
Só 1 conhece a história de sua família;
Jovens não mantêm posturas racistas, mas não deixam de produzir associações positivas (a ética do trabalho) a respeito dos imigrantes italianos e alemães;
Classe:
Comparando 4 jovens de classe média (3 não trabalham e estudam e 1 trabalha e abandonou escola) com jovens de classe média baixa (3 trabalham e não estudam e 1 não trabalha e estuda): quem freqüenta escola tem perspectiva mais otimista em relação ao futuro, mesmo sendo simbólico;
Profissão:
Trabalho ou desemprego é motivo de desesperança para os mais humildes;
Jovens do movimento punk possuem empregos braçais como mecânico, pintores, pedreiros, feirantes, entregadores ou outros empregos de baixa remuneração;
*
Família se assusta com decisão do filho em seguir movimento punk: reclamam das companhias e da vergonha da aparência dos filhos;
Pais consideram música (bandas) como atividade paralela às demais (sérias);
Constituição familiar pode ser causa para inserção do jovem de classe média baixa e baixa no estilo punk: conservadorismo moral, imposição de preceitos religiosos, ausência do pai e dificuldades financeiras;
Jovens de classe média média já consideram família como lugar de união, de ajuda e segurança; aderem ao punk pois reclamam apatia política de sua classe, insatisfação ao desperdício material, alienação, valorização do dinheiro e aparência e competição que caracteriza a sociedade de consumo;
Independente de ser simbólico ou de consumo, as classes rejeitam estas características da sociedade e o estilo é uma forma de se contrapor ao visual arrumado e coerente; 
*
Os punks simbólicos:
Menos integrados à escola, à família e ao trabalho;
Desacreditam nas instituições, nas políticas governamentais, na possibilidade de mudança
Criticam sociedade de consumo pela expressão visual e produção musical
Sua marca identitária é ser reconhecido como morador da periferia e pobretão
São mais sensíveis às temáticas da pobreza, marginalidade, violência, preconceito, massificação e alienação; 
Punk é anticonsumo, antimoda, contracultura;
*
Poder de agir e sentir pode ser de desencanto, de desacato e/ou de destruição;
Maioria são jovens desencantados com a competição e falta de solidariedade que caracteriza a sociedade de consumo, seguem trabalhando depois de largar a escola, convivem harmoniosamente com família e participam da cena underground, organizando shows, editando fanzines e mantendo visual discreto após radicalizarem com roupas pretas e rasgadas, cabelo moicano ou colorido, coturnos, acessórios com correntes, tatuagens, piercings, etc;
Só 1 dos entrevistados se inscreve na contracultura punk, opondo-se à cultura dominante;
Expressam crítica à sociedade; retratam no estilo a busca desesperada para dar outro sentido à experiência mundana permeada pela competição
*
Os punks de consumo:
Fazem concessões para serem aceitos;
Compartilham idéias e valores da família, da escola e/ou mídia
Acreditam que no capitalismo há chance de “conseguir o que se quer na vida”;
Seu modo de contestar na sociedade é adotar o “faça você mesmo”, que se contrapõe à massificação da moda
Escrevem letras românticas ou expressam preocupações existenciais;
Punk é rebeldia adequada à representação midiática do punk inconseqüente e irreverente
Causam desconforto na sociedade: motivo de ironia, deboches e agressões verbais;
Manifestam descontentamento com ordem social, traduzido no vestuário, acessórios e produção musical (lançamentos do pop rock);
1 dos entrevistas: deseja disfarçar sua origem popular e diferenciar-se das colegas patricinhas;
Outros 2, se identificam com o punk para marcar distanciamento em relação aos “consumistas” da própria classe. 
*
Meninos são discretos;
Meninas: moda do negro, piercings, joaninhas, cabelos tingidos;
É comum a alternância de estilos e muitos são adeptos de dois ou três estilos diferentes;
Os jovens vêem punk como contestador dos estilos juvenis;
Gosto musical é mais eclético, passando do punk dos Ramones ao pop rock nacional/internacional;
Assumem inconformismo inconseqüente (compatível com ponto de vista da mídia hegemônica acerca do punk);
Não tem contato com mídias alternativas, como o fanzine;
São menos preocupados com o conteúdo que expressam do que com a expressão mesma: mudam os contornos do estilo punk ao sabor da ocasião, misturando-o com outras estéticas que sirva para atender aos seus apelos
Maior proximidade com em relação aos valores dominantes e submissão aos padrões de comportamento socialmente aceitos 
*
Em relação aos MCM:
Consumo: acreditam que mídia oferece representação satisfatória do estilo punk;
Simbólicos: afirmam o contrário, pois recebem informações de outras fontes (oriundas do circuito underground)
Punks de consumo se distinguem dos simbólicos pois:
a) Produção do estilo é inspirada nos meios massivos e segmentados em detrimento da mídia alternativa, onde raízes anárquicas, valores e filosofia punk são enfatizadas;
b) Maior integração entre integrantes e instituição família e escola;
c) Ênfase na aparência é mais importante do que atitude pessoal ou performance da banda.
Os de consumo admiram os simbólicos, tidos como “punks autênticos”
*
Produção do estilo
Entre punks de consumo:
Gênero musical produzido predominantemente é o pop rock, mas fazem cover de bandas internacionais famosas;
Entre punks simbólicos:
Preferem hardcore norte-americano ou o punk inglês ou de bandas paulitas;
Metaleiros, punks, darks e góticos são vistos como rebeldes e contrários à massificação da sociedade de consumo;
Apresentações das bandas ocorrem em casas noturnas com pouco infra-estrutura e instalações improvisadas;lugares rústicos, com pouco iluminação e ventilação; ingressos de graça ou custo baixo;
*
Vestuário dos punks em SM:
roupas pretas e rasgadas, 
piercings, pulseiras de rebites e cabelos coloridos;
Peças organizadas de modo que fuja dos padrões;
Adornos são costurados ou desenhados sobre as roupas;
Frases escritas no bonés, calças e camisetas;
Punks de consumo: misturam roupas e acessórios característicos de outros grupos 
Tatuagens são elemento de distinção, expressam inconformidade, coragem e irmandade com ídolos da música;
Punks de SM corporificam estilo punk
Têm intenção de chocar as pessoas, demarcando diferenças e falta de sintonia com a sociedade 
	
*
Ponto de encontro:
Calçadão de SM: ouvem e fazem música, compõem, lêem fanzines, bebem, conversam, gritam ou ficam sentados;
Loja Exclusive: especializada em discos e CDs
Se encontram nas esquinas das ruas, ao entardecer, num campinho de futebol ou parque ou então em lanchonetes
Maioria mora afastada da cidade e reclama do bairro, pela falta de opções de lazer, falta de identificação com modo de vida e de pensar dos moradores;
Participam de eventos de rock, para se apresentar ou apreciar
Punks de consumo freqüentam shoppings e boates e não vêem os MCM como inimigos;
Durante décadas de 80 e 90, fanzines mostravam visão série e engajada do estilo punk em contraposição às informações provenientes da grande mídia, interferindo na formação ideológica dos punks de SM;|
*
			MCM:
Canais de TV: Globo, MTV e TVE-RS
Jornais impressos locais: A razão e Diário de SM;
Simbólicos apreciam fanzines e programa Radar (TVE) que dá visibilidade para bandas sem sucesso comercial; na TV, apreciam programas musicais e noticiosos (assistidos com família); detestam programas de auditório e cômicos;
Não apreciam teatros, museus e exposições de arte;
Vão ao cinema uma vez por mês ou a cada dois meses
Avaliam positivamente o realismo do cinema brasileiro no que tange às questões sociais e negativamente o nacionalismo dos filmes norte-americanos.
*
Construção da identidade
Visão dominante dos punks têm duas caras: rebelde incluído e marginal
Simbólicos: constroem identidade privilegiando face marginal, manifestam ID através da expressão musical;
Consumo: constroem identidade privilegiando face integrada, manifestam ID através da aparência;
Quanto ao uso de drogas, não há posição uniforme entre os punks;
Não cuidam da estética do corpo e da saúde;
Sonham com mundo igualitário e solidário, mas sabem que isso é utopia e não acreditam que possam interferir nesse processo;
Entre os 9, 3 freqüentaram CTG na infância e caracterizam positivamente o gaúcho; 
Tipos populares reconhecidos como brasileiros (Jeca Tatu) remetem à crendice religiosa e à ingenuidade, diferente do contexto rural do RS, representado de forma positiva. 
*
Consideram BR rural diferente do RS rural – caráter oportunista da identidade, contrapõem coletivo regional ao coletivo nacional;
Expressão negativa do BR:
Brasileiros são considerados ingênuos, acomodados e alienados para questões políticas;
Carnaval associado à vulgaridade na esfera moral, e à alienação na esfera política;
Axé e forró: apelo à sensualidade;
Pagode romântico: símbolo do mau gosto produzido pela mídia;
Sertanejo: aborda temas que não interessam;
Samba de raiz:expressão autêntica da cultura dos morros cariocas
Mídia massiva é lida por olhos sem esperança no futuro enquanto mídia alternativa reforça a perspectiva crítica;
Estilo punk é resposta aos problemas relacionados à experiência de classe
*
Consumo:
Ressaltam pobreza como decorrente da injustiça social, 
Tem perspectivas de adquirir competências no ES e ascender socialmente;
Relação de amizade pode ser fator decisivo para que jovem residente na periferia tenha vergonha de sua situação;
Associação entre pobres e ricos é suavizada;
Pensa condição de classe de forma ambígua: desprezam o burguês e admiram os que ascenderam na escala social
Simbólicos:
Ressaltam aspectos negativos entre pobre e ricos;
Classe média como pessoas que querem ascender;
Quem não estuda e odeia seu trabalho concebe a sociedade capitalista como sem saída, sem perspectiva de mudança;
Pensa condição de classe de forma crítica, rejeitando apatia e conformismo da própria classe e percebendo capitalismo como sistema que estrutura a sociedade em classes;
*
Autora considerou: Estilo juvenil como resposta aos problemas vividos pela classe;
Neste estudo: 
Estilo responde às inquietações juvenis decorrentes da apatia política, do conservadorismo moral ou empobrecimento da cultura familiar;
Mas resposta de uns se situa mais próxima da ideologia dominante (punks de consumo – submissão ao poder hegemônico)
Enquanto a resposta de outros combate essa ideologia (punks simbólicos – resistência ao poder hegemônico) 
*
Capítulo IV
“Samurais” e “marginais”:
localização e deslocalização das indentidades juvenis
Objetivo: 
discutir configuração das identidades juvenis na contemporaneidade determinada pela classe e etnia, no contexto de interação entre cultura regional e global;
Compreender sentido diferenciado que se atribui aos produtos, aos signos e aos ídolos midiáticos por jovens que são de classe subalterna, mas possuem diferenças entre si;
Mostrar que diferença de classe e organização da família são fatores decisivos na escolha dos estilos (hegemônico – tradicionalista; hip-hop – anternativo), mesmo que tenham acesso igual aos produtos midiáticos;
*
	Tradicionalista: samurai pela semelhança do vestuário;
	Hip-hopper: marginal pelo vestuário simples e gasto pelo uso e pelo tempo;
 Filiação dos jovens de classes subalternas a dois estilos culturais diferentes: hip-hop (internacional-popular) e tradicionalismo (cultura regional sul-riograndense);
*
Observa que posição de classe:
Incide diferentemente na organização da família, gerando gostos e pactos de leitura distintos em relação aos bens da indústria cultural;
Combinada com a diferença racial, direciona os jovens para vínculos identitários distintos;
Maioria dos hip-hoppers podem ser chamados de pobres e afetados pelo desemprego ou trabalho temporário;
Tradicionalistas são chamados de humildes, pois pais tem estabilidade no emprego ou modesto negócio próprio;
*
Jovens pobres: denunciam nos raps as suas condições; isso é modo de resistência pois gera identidade e mobilização entre todos brasileiros que vivem a mesma situação;
Estes jovens, independente de raça, se identificam com o hip-hop, sendo essa uma forma positiva de lidar com seu ressentimento e se inserir na divisão objetiva do mundo operada pela sistema de classes e pela posse de objetos;
Tal identificação ocorre quando:
Os meios materiais para inserção na cultura regional são insuficientes;
A família não oferece suporte moral para os filhos. 
Ingressam no hip-hop para reivindicar um modo de ser notado que tenha respaldo institucional, já que e difícil para um jovem subproletário apresentar-se como gaúcho;
*
Jovens pobres e negros: noção de etnicidade ajuda a explicar porque se identificam com hip-hop: forma de reivindicar direitos e expressar dificuldades (fome, violência familiar e drogas)
Termo “raça”: reproduz desigualdades, por isso fala-se em etnicidade.
Hip-hop oferece sonho de inclusão no capitalismo, arma para combater a exclusão, recuperação da auto-estima pelo aplauso, o reconhecimento nas apresentações, a aprovação da família e professores na mudança de comportamento gerada pela cultura;
As letras do hip-hop sobre pobreza, injustiça e criminalidade, e as imagens dos morenos cantando traduzem sua condição de vida e sentimentos;
Ocorre deslocalização: assimilam repertórios culturais procedentes da esfera nacional e transnacional, já que o local não preenche certas demandas materiais e o regional apazigua demandas simbólicas
*
Juventude: 
categoria social, pois se trata da construção histórica e cultural que estabelece limites e funções a uma categoria de idade, que varia em diferentes tipos de sociedade;
Considerar apenas critério etário, acaba deixando de ladooutros aspectos: situação histórica, classe, etnia, gênero, estética, modo de se sentir...
Hoje, MCM servem para definir modo de ser juvenil, no plano individual e social, pela incorporação desses aparatos ao cotidiano dos jovens ou pela afinidade com sua linguagem ágil e veloz;
Pode ser pensada dentro das sociedades locais, regionais ou nacionais e como fenômeno global;
Existem substratos juvenis desterritorializados: heavy metal, punk e hip-hop;
*
Cultura mundial, cultura regional
Cultura mundial: entrelaçamento entre culturas locais e/ou regionais e desenvolvimento de culturas sem apoio de território específico;
Cultura regional: tradicionalismo – hegemônica:
Expressa problemas e características da comunidade local
Elite + subalternos em torno do mito do gaúcho (símbolo da identidade regional) – virilidade, bravura, lealdade e honra;
Surge nas primeiras décadas do séc. XX e culmina com surgimento de CTGs em 1980;
Maior movimento de cultura popular do mundo, com mais de 2 milhões de participantes;
Movimento urbano que procura recuperar valores rurais;
*
Movimento hip-hop:
Inicia vinculado à cultura afro-brasileira e aos problemas enfrentados pelos jovens pobres e negros das periferias;
Passa a ser emblemático para jovens brancos pobres;
Há disputa para manter primazia da cultura negra e urbana;
No RS e em Caçapava do Sul, surge em 1980;
Em Caçapava: 
O hip-hop caracteriza-se pelo uso de calças largas, boné, escutar rap, pela dança break e pela forma de falar, com gírias peculiares
Não possuíam extensão e organização de movimento social;
*
Exame da relação classe + identidade regional para compreender porque jovens subalternos aderem ou não à cultura gaúcha
Metodologia:
8 jovens (14 a 19 anos)
4 adeptos da cultura gaúcha
4 adeptos da cultura hip-hop
*
Neste estudo, os jovens tradicionalistas:
defendem valores propagados pelo CTG;
fazem parte da invernada artística da entidade;
usam vestuário típico em ocasiões variadas;
escutam música gaúcha;
incorporam expressões regionais;
participam ou assistem a desfiles e rodeios;
têm contato semanal com meio rural através do lazer ou trabalho na casa dos pais ou parentes;
*
Tradicionalistas:
Classe média baixa
Escolaridade: 1ºEM, 8 série e EF completo
1 trabalha e 3 estudam
Nº de residentes na casa: 2 a 5 pessoas
Pais têm ocupação no comércio, serviço público federal, indústria de mineração e construção civil;
Mães: 2 são donas de casa, 1 costureira e 1 empregada
Todos são brancos e possuem relação com o campo
Influência para entrar no CTG vem da família;
3 moram em bairros periféricos e 1 no centro da cidade
Todos fazem parte da invernada e preferem música gaúcha
*
Hip-hoppers:
3 classe baixa e 1 média baixa;
Escolaridade: entre 7 EF até EF completo;
1 está empregado e 3 desempregados
3 negros e 1 branco
Nº de residentes na casa: 4 a 10 pessoas
Pais têm ocupação como assalariado rural temporário, caminhoneiro ou pequeno estabelecimento comercial;
Mães: 3 donas de casa e 1 recebe pensão por invalidez
Famílias desestruturadas: desemprego, doença ou abandono do pai;
Influência para ingressarem no hip-hop: amigos 
Todos moram na periferia de Caçapava;
Música preferida é o rap; 1 manifestou gosto por música gaúcha
Todos são b.boys e 1 deles também é MC
*
Gaúchos estabelecidos
Tradicionalistas
Família: mediadora na inclusão dos jovens à cultura gaúcha
3 afirmam que ID gaúcha determina o que são 
No CTG estão entre iguais, é o lugar onde preferem estar;
CTG como um espaço e uma união de amigos que constroem e reconstroem imaginários e valores, dando sentido ao fluxo do rádio e da TV e ao que foi assimilado na escola, no trabalho e na família;
*
Todos estão vinculados fisicamente ao meio rural
Não se manifestam sobre estilo hip-hop e enfatizam diferenças deles com jovens de mesma classe e adeptos do rock;
Identificam consumidores de rock pelo uso de roupas pretas, rasgadas e pelos cabelos compridos, por ouvirem “gritaria”, por maus hábitos de higiene, má educação no tratamento com adultos;
Leitura da representação do gaúcho na mídia é moldada pelo CTG: criticam conjuntos de Tchê music (não representam cultura regional) e estereótipo do gaúcho (grosso)
Aparece na mídia e representa figura do gaúcho: João Paulo Paixão Côrtes, Luiz Marenco e Nico Fagundes;
*
CTG propicia leitura da mídia impressa: boletins informativos do MTG e livros sobre danças e história do RS;
Rádio é pouco utilizado, apenas para ouvir música gaúcha
TV: MC mais difundido – Jornal Nacional, Globo Esporte e Casa das Sete Mulheres;
Ratinho é figura símbolo do brasileiro na TV pois desafia poderosos
Fora da TV, brasileiro visto como quem deixa tudo para última hora, que gosta de samba/carnaval e futebol;
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Gaúchos sem porvir
Hip-hoppers;
Interesse inicial motivados por amigos, familiares ou colegas;
Grupos de dança se consolidaram graças ao apoio das escolas;
7 grupos de dança em Caçapava;
Modo de se vestir ainda é problema para procurar emprego, assim roupa é usada quando é vantagem assumir ID hip-hop;
Para eles, gestos, gírias, vestuário, cor da pele são sinais de pertencimento à tribo dos rappers e breakers brasileiros
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Família não fornece modelo de ID ou de autoridade, que eles buscam nos ídolos nacionais e regionais de rap;
Consumo de CDs, DVDs e clipes da MTV na escola são vias de acesso ao hip-hop;
Impresso: reclamam que revistas especializadas são muito caras
Programas de TV: Cidade dos Homens e Jornal Nacional
Canais de TV: SBT e Band
Videoclipes mostram realidade da periferia e dos pobres, com músicas que apelam contra violência e drogas
Rapper mais cultuados pelos seguidores do hip-hop (MV Bill) lembrado apenas uma vez nas entrevistas
Rádio usada apenas para escutar música (rap e pagode)
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No BR: preocupação dos rappers é dizer quem são, de onde vêm e o que pensam
Letras servem de referência na constituição simbólica de um modelo de vida, evidenciando como é a realidade e dando lições de vida aos seguidores do hip-hop;
Mostram realidade da periferia: fome, violência e consumo de drogas;
Danças break é modo de integração social;
Afirmam que não há semelhanças entre eles e tradicionalistas e roqueiros
Diferença visível: vestuário;
Definem tradicionalista como sendo mimado e “filho de papai”;
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Hip-hoppers formam rede de solidariedade
Famílias passam por conflitos
Jovens excluídos, sem instituições de coesão e socializadoras fortes, sem figuras adultas de identificação, buscam no grupo satisfazer suas necessidades
Personagens da TV que representam os brasileiros: Faustão, Ratinho e Xuxa;
Símbolos do BR: futebol, carnaval e hip-hop;
TV: assume dimensão social muito forte: voz que gera inclusão do jovem sempre adiada.
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A luta pelas classificações
Tradicionalistas e hip-hoppers:
Repetem símbolos da brasilidade: carnaval e futebol
Tradicionalistas: aversão pelo carnaval, reproduzindo discurso do MTG 
Hip-hoppers: valorizam carnaval, mas não é suficiente para representar a realidade deles como brasileiros;
Mesmo referente na definição do gaúcho: homem do campo ou aquele que reproduz aspectos da vida rural na cidade
Tradicionalistas: se identificam com gaúcho pois mantêm contato com atividades rurais e participam de rodeios. São descendentes de proprietários rurais;
Hip-hoppers: têm contato com hábitos gaúchos, mas único ponto de encontro entre eles é a linguagem. Ser gaúcho é mais caro que ser hip-hopper.
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Mediação de classe social com a da família atua de modo diferente:
Tradicionalistas: família satisfaz necessidades básicas e fornece suporte afetivo e moral: se adaptam às regras do CTG
Hip-hoppers: falta de expectativas de inserção social e cultura encontra no discurso dos rappers nacionais a saída para sensibilidades
Ordem hegemônica (cultura regional – tradicionalismo) interfere de forma diferente:
Tradicionalistas: o regional fornece esquema de classificação que permite sua inclusão na ordem hegemônica;
Hip-hoppers: ordem hegemônica, que inclui negros apenas no plano simbólico, nega-lhes reconhecimento que necessitam;*
O que significa afirmar o local para tradicionalistas e hip-hoppers?
Tradicionalistas: incluir-se na ordem regional que apazigua distinções de classe;
 Hip-hoppers: definir-se como jovem de periferia; 
ID dos Hip-hoppers se organiza ao redor da mídia: Mídia confere o prestígio que socialmente hip-hoppers não encontram;
 
ID dos Tradicionalistas se organiza em torno dos símbolos histórico-territoriais e dos de memória-pátria: sociedade local e mídia regional se unem para celebrar a ordem simbólica em torno da tradição gaúcha.

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