era a culpada por sua raiva, a�nal, ela é que tinha esquecido de comprar o refrigerante. A maioria de nós sente e pensa como Miguel. Quando nosso parceiro acorda de mau humor, �camos para baixo; quando recebemos um elogio, �camos animados; quando somos criticados, �camos desanimados ou chateados; quando estamos num engarrafamento, �camos estressados. Entendemos nossos sentimentos e estados de espírito como algo desencadeado por forças externas, sejam elas pessoas ou acontecimentos. Essa percepção faz com que, equivocadamente, responsabilizemos outras pessoas ou o destino por nossos problemas e por nosso estado de espírito. Achamos que nosso parceiro in�el é o culpado por nosso mal-estar, ou nosso chefe temperamental, ou a menopausa, o clima, o carro quebrado, e por aí vai. Na verdade, somos nós os responsáveis por nosso estado de espírito e, obviamente, por nossas decisões; ambas as coisas têm uma ligação estreita. A�nal de contas, cabe a nós mesmos determinar a postura e a atitude que tomamos diante dos acontecimentos. Assim, em vez de �carmos derrotados por uma traição, podemos nos reerguer do baque dispostos a novas experiências amorosas. O chefe temperamental pode nos ajudar a treinar a empatia. A menopausa pode ser um momento empolgante de mudança. Podemos aceitar o clima com tranquilidade. O carro quebrado pode ser uma oportunidade para nos mexermos mais e/ou adquirirmos um carro melhor. Podemos aceitar todos esses incidentes como um bom exercício de paciência e serenidade. Talvez você ache isso tudo um pouco absurdo e exótico, a�nal, quem é que consegue se manter de bom humor em toda e qualquer circunstância? Honestamente, eu também não creio que isso seja possível. É pouco provável que alguém consiga se manter incólume ao comportamento daqueles à sua volta ou a reveses pessoais, por mais que já tenha re�etido ou meditado. Por outro lado, temos muito mais liberdade e opções para moldar nossos sentimentos, pensamentos, estados de espírito e ações do que presumimos. No entanto, só podemos in�uenciar nosso estado mental se reconhecermos nossa responsabilidade por ele. Muitas vezes não nos damos conta de que delegamos essa responsabilidade. Vejo isso acontecer com alguns clientes que alimentam a falsa esperança de que eu seja capaz de resolver seus problemas. Chegam pontualmente às sessões, na expectativa de que eu faça qualquer coisa que os exima de seu sofrimento. Mas não é assim que funciona. Na psicoterapia, as pessoas não podem ser “tratadas” como na medicina. Se a pessoa esperar se submeter à terapia de maneira passiva – no sentido de que o terapeuta realiza todo o trabalho e o cliente o aceita como um serviço prestado –, não vai apresentar nenhum progresso. Os clientes que assumem pouca responsabilidade por si mesmos podem até chegar a bons entendimentos no decorrer de uma sessão, mas não vão implementá-los. Em contrapartida, outros clientes se dedicam ativamente a seus problemas entre as sessões, observando, re�etindo, exercitando novos comportamentos e assim por diante. Estes progridem rapidamente, enquanto os outros correm sem sair do lugar. E você pode agir exatamente assim com este livro: pode apenas lê-lo e esperar que qualquer coisa melhore ou pode assumir a responsabilidade por seu processo de mudança e trabalhar ativamente com este conteúdo. Eu gostaria de lhe pedir que re�ita sobre as áreas de sua vida em que você delega a responsabilidade aos outros: em que áreas você acha que outra pessoa precisa mudar para que você se sinta melhor? Em que medida você se imagina dependente e determinado por circunstâncias externas, ou à mercê de seu humor e de seu estado de espírito? Provavelmente seu ego adulto tem algumas ideias de como é possível assumir seu quinhão de responsabilidade para melhorar a situação ou seu estado de espírito. O adulto, por exemplo, sabe que seria melhor mudar de emprego ou, se isso não for possível, mudar sua atitude em relação ao trabalho. O adulto sabe que não faz muito sentido esperar que o parceiro mude e que seria muito mais sensato aceitá-lo como é, ou sabe que poderia mudar o próprio comportamento na relação para, de sua parte, melhorar a qualidade do relacionamento. Talvez o adulto também saiba que seria melhor se separar. Ou talvez você não tenha parceiro e espere que um grande amor vá bater à sua porta qualquer dia desses. Mas cuidado: essa seria a esperança da criança-sombra. O adulto interior saberia que precisa se lançar ativamente nessa busca. Na maioria das vezes, o adulto sabe o que deveria fazer. É a criança- sombra que tem medo de mudança e mina a energia do adulto, geralmente por medo de fracassar. Ao assumir a responsabilidade por minhas ações, também tenho que me expor ao risco de fracasso. Mas, para isso, preciso de certa tolerância à frustração, ou seja, preciso ser capaz de suportar sentimentos dolorosos às vezes. Como já ressaltei no início deste livro, é claro que estamos sujeitos a golpes do destino que não são de nossa responsabilidade e que pouco podemos mudar. É o caso de quando um ente querido morre ou quando somos acometidos por uma doença grave. Pessoas que vivem em zonas de guerra e de con�ito exercem uma in�uência muito limitada sobre a própria vida. Nesses casos, obviamente é muito mais difícil encontrar uma atitude interior por meio da qual se possa ter domínio sobre o próprio destino. Porém, mesmo sob as piores circunstâncias, algumas pessoas conseguem chegar a um ajuste interno de maneira a aceitar sua condição e, assim, moldá-la em algum grau, mesmo que tenham que morrer por isso. Como seus problemas provavelmente são menos dramáticos do que esses, tente encontrar uma atitude em que você seja responsável por sua felicidade – cem por cento responsável por ela. Não espere que os outros mudem ou que “alguma coisa” aconteça. Tome uma atitude na vida e mude o que quiser mudar. Os exercícios a seguir vão ajudar você nesse caminho. Exercício: Descubra suas crenças positivas Agora vamos nos ocupar de sua criança-sol. Para este exercício e os próximos, você vai precisar de uma nova folha de papel e canetas ou lápis coloridos. Desenhe mais uma vez uma silhueta de criança numa folha de tamanho A4. Ao contrário do desenho da criança-sombra, este deve ser colorido, bonito e alegre. A criança-sol vai ser o estado que você almeja e, por isso, deve ser visualmente muito cativante. Isso vai lhe dar motivação e empolgação por novas experiências, portanto faça uma criança-sol bem bonita, como se você quisesse vencer uma competição de desenho. Não deixe de desenhar o rosto e os cabelos e decore a folha conforme seu gosto e sua preferência (veja a ilustração na parte interna da capa). Agora vamos descobrir suas crenças positivas, em duas etapas: primeiro vamos ver quais crenças positivas você herdou de seus pais/cuidadores e adotou para si e, depois, vamos transformar em positivas as crenças fundamentais que você descobriu em sua criança- sombra. I. Crenças positivas da infância Se você tem/teve uma boa relação com seus pais e quer mantê-los junto da sua criança-sol, escreva “mãe” e “pai” ou os nomes de seus cuidadores à direita e à esquerda da cabeça de sua criança-sol. Dessa vez, pergunte-se quais qualidades eles têm/tinham e o que fazem/fizeram de correto. Anote. Se não desejar ter seus pais junto da sua criança-sol porque a relação com eles é/foi muito difícil, pule toda esta parte do exercício ou anote as qualidades de seus pais numa folha separada e escreva nesta folha somente as crenças positivas que eles lhe transmitiram e que você adotou para sua criança-sol. Talvez você tenha uma avozinha querida, um vizinho gentil ou um professor compreensivo que tenha sido carinhoso com você na infância. Pode incluir essas pessoas no seu desenho. Quando tiver terminado de anotar as qualidades de seus pais ou de outras figuras centrais, sinta dentro de si quais crenças positivas você adquiriu deles. Para ajudá-lo, aqui vai uma lista com crenças positivas comuns: Crenças positivas Sou amado. Tenho valor. Sou bom o suficiente.