ouvir um barulho repetido e estridente, a criança manifestava medo e chorava. É bem sabido que o medo do barulho é uma emoção dita incondicionada nos bebês e nas crianças pequenas ETAPA 2 Enquanto a criança se diverte com o rato, Watson bate bruscamente em uma placa de metal com um martelo. Surpreso, Albert reage energicamente e começa a chorar. Watson recomeça a mesma ação repetidas vezes: quando Albert se aproxima do rato branco, ele faz soar o barulho infernal e a criança, apavorada, recomeça a chorar de medo. ETAPA 3 Essa ação é repetida várias vezes até que Albert, ao ver o rato, se põe a chorar e a tremer, e isso sem que Watson tenha feito o barulho. Watson acabava de provar, então, que nós podíamos condicionar uma emoção relacionada ao medo. O pequeno Albert sentia medo cada vez que se via na presença de um rato branco. Depois dessa aprendizagem emocional, Albert começou a apresentar reações surpreendentes. Tinha medo de coelhos brancos, de ursinhos brancos, da barba branca do Papai Noel etc.; em suma, ele tinha medo de todo objeto ou de qualquer animal de pelugem branca. Nomeamos esse fenômeno de “generalização”: consiste em reagir a todo estímulo que apresente características similares a um estímulo condicionado. Esse fenômeno é muito importante, já que ele nos permite compreender a maioria de nossas reações emocionais. Podemos ter esquecido quando e como essa ou aquela situação nos fez reagir emocionalmente. De fato, como vimos no início, distinguimos a memória emocional da memória dos fatos (memória declarativa). É muito freqüente que não nos lembremos de fatos relacionados a uma aprendizagem emocional, apesar de muitos dos traços emocionais persistirem. A memória emocional não retém os detalhes precisos, mas apenas os aspectos gerais da situação. Assim, logo que um indício se apresenta, a reação emocional é subitamente disparada e a emoção emerge. Podemos facilmente imaginar múltiplas situações que se desenrolam nas escolas e nas salas de aula. Por exemplo, um aluno que apresente dificuldades numa determinada matéria, e que é humilhado por seus colegas, além das críticas que recebe do professor. Todos esses elementos amalgamam-se em seu cérebro emocional e criam uma memória emocional que pode se tornar intensa. A escola é um ambiente em que se podem produzir inúmeras associações emotivas entre situações, matérias escolares, professores, em suma, entre variadas situações e estados emocionais que podem ser tanto positivos quanto negativos. De todo modo, podemos entender que as emoções conduzem a comportamentos nem sempre desejados. Por exemplo, um professor que chama de “burro” um aluno que não entende o que ele ensina, pode imprimir marcas no cérebro emocional do aluno, marcas que poderão, posteriormente, conduzir a comportamentos de evitamento, repúdio, retraimento, bloqueio de aprendizagem de uma ou de várias matérias, quando não leva diretamente ao fracasso escolar propriamente dito. Sem dúvida, professores sempre buscam fazer o melhor, como pais buscam o melhor para seus filhos. Mas, apesar das boas intenções, pode ser que adotemos condutas que provocam efeitos exatamente opostos àquele desejado. As emoções de segundo plano A noção de emoção de segundo plano não é utilizada com muita freqüência quando se aborda o conceito de emoção. Com efeito, quando falamos de emoções, fazemos geralmente referência às emoções primárias descritas por Ekman (o medo, a raiva, a tristeza, a aversão, a surpresa e a alegria). Pensamos também nas emoções secundárias e sociais que são o embaraço, a timidez, a inveja, a vergonha, a culpa ou o orgulho. Qual seria, então, a característica da paisagem emocional de segundo plano tantas vezes perceptível? Para usar uma imagem “cinematográfica”, pensemos em uma cena de filme. Percebemos o primeiro plano, que aqui é análogo às emoções primárias e secundárias, explícitas e bem visíveis. É aí que se situa a ação principal, aquilo sobre o que concentramos nosso olhar e que descreve o que se passa entre os personagens. Pode ser, por exemplo, um animado diálogo entre duas pessoas. Mas esse diálogo acontece em algum lugar; na calçada de uma rua movimentada, por exemplo. Em segundo plano, notamos pessoas, carros, uma mulher com seu cachorrinho etc. Enfim, existe uma animação que serve de ambientação à cena principal, sobre a qual nossa atenção está diretamente concentrada. Mas o ambiente em segundo plano é também muito importante. Imaginemos, por exemplo, que os dois protagonistas discutam na chuva, a água escorrendo sobre seus rostos; decidem então parar numa esquina onde outras pessoas reúnem-se agitadas por causa do mau tempo. Esse “clima” vai induzir a um estado particular muito diferente do que se produziria caso o encontro se desse em um parque florido numa bela tarde ensolarada. As emoções de segundo plano correspondem àquilo que sentimos conforme estamos tensos ou, ao contrário, relaxados, preguiçosos ou bem dispostos, desencorajados ou entusiásticos, ansiosos ou serenos etc. A emoção primária principia de modo brusco e espontâneo, com um pico de alta intensidade e um rápido declínio. A emoção secundária pode durar mais tempo, mas as sensações que a acompanham são muito marcadas. As emoções de segundo plano apresentam um caráter ondulatório e duram muito mais no tempo. Imaginemos, por exemplo, que você tenha acabado de receber uma má notícia, que o deixou com bastante raiva, provocada por um aspecto bem preciso da informação recebida. Uma vez passado o pico emocional da cólera, pode ainda persistir um sentimento duradouro de irritabilidade. Isso significa que você é capaz de cuidar de suas ocupações cotidianas, mantendo, porém, em segundo plano, esse sentimento de “raiva difusa” acompanhando-o. Você conseguirá, apesar de tudo, sorrir para seus alunos quando os cumprimenta. Mas, interiormente, você se manterá contrariado o dia inteiro por causa do que aconteceu de manhã e encontrará dificuldade para dormir à noite. Uma observação mais minuciosa, todavia, permitiria localizar alguns aspectos particulares de sua emoção de segundo plano. Veríamos em seu olhar qualquer coisa de ausente ao sorrir, sua expressão traria um certo mal-estar e o tom de sua voz estaria menos fluido. Em suma, as emoções de segundo plano comportam também elementos de expressão não-verbal, mais sutis que aqueles próprios às emoções primárias e secundárias, mas não menos importantes, nem menos reais. Entre outros sinais reveladores das emoções de segundo plano, mencionemos a postura do corpo, o grau de mobilidade dos membros em relação ao tronco, a oscilação entre movimentos mais ou menos convulsivos e outros harmoniosos, a animação do rosto, a luz nos olhos, a inflexão da voz etc. Tudo isso, o professor deve saber ver, deve saber “ler” no corpo de seus alunos, pois essas informações serão muito úteis para avaliar o andamento de suas aulas. Figura 2.1 Esquema representando a intensidade e a evolução no tempo das emoções primárias e secundárias, provocadas diretamente na amígdala, e das emoções de segundo plano, que costumam passar pelo córtex pré- frontal. Assim, podemos constatar que a duração da atividade das emoções de segundo plano é muito mais longa do que no caso das emoções primárias e secundárias. Antonio Damasio,[27] que foi o primeiro a definir adequadamente as emoções de segundo plano, estabeleceu uma nítida distinção entre as emoções primárias e secundárias. A tabela 2.4 resume bem essas distinções. Se não há nenhuma dúvida de que as emoções primárias e espontâneas, como o medo, a raiva ou a tristeza, interferem no processo de aprendizagem, é muito provável que as emoções que provocam mais danos são as de segundo plano. Examinemos com mais detalhes seu impacto sobre o aprendizado. Tabela 2.4 – Distinção entre as emoções primárias, secundárias e de segundo plano EMOÇÕES PRIMÁRIAS Os disparadores geralmente são externos. Por exemplo, a ameaça, o obstáculo ou a perda que provocam o medo, a raiva ou a tristeza são agentes externos a nós. O disparo é imediato