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Democracia, Fake News, Desinformação, Redes Sociais, Comunicação, Realidade Social Partilhada e Memória Histórica

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2º ensaio 
(Mariana Esteves, nº 46360) 
 
Atualmente, os riscos que advêm das novas tecnologias de informação e comunicação, 
estão a fazer desaparecer a fronteira que separa a verdade da mentira, abrindo portas a uma nova 
era, a era da pós-verdade. A pós-verdade ganha espaço quando as crenças passam a sobrepor-se 
aos factos, como o facto de ser comprovado, já há cerca de 500 anos, que o planeta Terra tem um 
formato esférico, no entanto, existe um grupo minoritário de pessoas que continua, convictamente, 
a acreditar que a Terra é plana. No entanto, a pós-verdade não é de todo o problema que marca a 
vida das sociedades pós-modernas. Com o constante progresso da globalização, das tecnologias de 
informação e de comunicação, as sociedades contemporâneas são bombardeadas com um excesso 
de informação, nem sempre verdadeira e que para além de degenerar o raciocínio lógico e a 
capacidade de pensamento crítico dos indivíduos, é a maior e mais constante ameaça às 
democracias. Este excesso de informação ao qual estamos incessantemente expostos, gera nas 
democracias um efeito de infodemia, um excesso de informação que, por nem sempre ser 
verdadeiro, resulta em desinformação. Como consequência da desinformação, assistimos a uma 
falta de confiança nos meios de comunicação e nas instituições, uma dissociação da capacidade 
individual de tomar decisões devidamente bem informado e a um enfraquecimento da liberdade de 
expressão, uma vez que uma notícia contaminada condiciona a liberdade individual de pensar, 
levando a uma mera reprodução da notícia. Atualmente, é mais importante a sensação de verdade 
que a notícia provoca, do que a veracidade do seu conteúdo. 
Consequente ao fenómeno de infodemia, as democracias transformam-se em mediocracias 
- palcos de espetáculo e entretenimento contruídos pelos meios de comunicação digitais, que 
determinam os conteúdos que transmitem e minam a racionalidade, o discernimento humano e a 
democracia - e em mediocracias – realidades caracterizadas por fake news e teorias conspiratórias, 
com o intuito de aglomerar grandes grupos de pessoas. Os media obstaculizam a distinção entre o 
que é real e o que não é, assim como o que é verdade ou mentira. A televisão e a rádio, por exemplo, 
utilizam uma linguagem vaga e fragmentada, contruída para provocar reações viscerais, como 
podemos observar nas campanhas eleitorais, também como estratégia de alguns partidos políticos. 
A informação é uma arma e quando essa informação tem a capacidade de interferir nas escolhas 
dos cidadãos e nos debates políticos, a democracia depara-se com um perigo colossal. 
As fake news “são falsidades intencionais disseminadas por oposição aos factos 
jornalísticos” (RTP Ensina, 2020) através de meios que funcionam paralelamente com os meios de 
comunicação tradicionais, como as redes sociais digitais. Na verdade, as fake news são muito mais 
eficazes na disseminação de informação do que os conteúdos verdadeiros e verificados. Os Estados 
que vivem a favor dos valores democráticos contemplam na sua Constituição a defesa da liberdade 
de expressão e de informação. No entanto, essas liberdades trazem riscos. Para minimizar estes 
riscos, a União Europeia decidiu, em 2018, criar um “código de conduta” para determinadas 
plataformas, como os anúncios, onde estas se comprometem a combater a desinformação através 
da criação de sistemas de mensagens privadas, monotorização permanente por um grupo de 
funcionários especializados para aplicar e melhorar o código, demonetização da informação errada 
e dos anúncios publicitários, aumentar a transparência e a cobertura de verificação de factos nos 
países europeus. De acordo com este Código de Conduta da União Europeia, 83% das pessoas 
afirma acreditar que a desinformação é uma clara ameaça para a democracia, 63% dos jovens 
deparam-se semanalmente com notícias falsas e 51% dos europeus afirmam ter sido expostos a 
informações erradas. A desinformação, nas suas repercussões mais extremas, compromete a 
segurança vital dos cidadãos e é uma ferramenta de fomento ao ódio. 
A informação chega-nos diariamente de forma incessante e extremamente acessível, 
obrigando-nos a lê-la repetidamente e questionar-nos acerca da sua veracidade, realizando uma 
espécie de triagem, uma vez que, mesmo as nossas fontes mais fidedignas de informação, como os 
jornais nacionais, por vezes negligenciam a autenticidade da informação, tornando-nos alvo de uma 
formatação irracional para a vida social e democrática. Esta forma de transmissão de informação 
cujo objetivo é provocar um efeito de falsa perceção da realidade, é um instrumento de 
disseminação de medos, descrenças, dúvidas, ódios e decadência das sociedades democráticas. 
Para nos fazer acreditar no conteúdo das fake news, por vezes são até adicionados vídeos e imagens 
manipulados ou descontextualizados. As redes sociais, como o Facebook, o Instagram, o Twitter e 
a Google, são nos dias de hoje, o meio mais eficiente de disseminação das fake news e por isso, 
devem adotar a responsabilidade de fazer esta triagem entre o que é verdadeiro e o que é falso. 
Segundo o jornalista João Pedro Leitão, a “preguiça cognitiva” abre caminho à formação de crenças 
incontestadas por um raciocínio crítico – “uma mentira quando repetida muitas vezes, acaba por 
ser assumida como uma verdade”. “A pandemia das fake News pode ser letal quando usada como 
revólver na difusão de toxinas que causam dependência a um pensamento, ideologia confeccionada 
pelos frustrados e rejeitados da sociedade. (…) Ainda não existe uma vacina capaz de blindar em 
plenitude todo este flagelo gerado pelas fake news, porém cada um de nós tem um dever capital 
neste combate. Pequenos gestos primários como pensar antes de agir, podem dar lugar a uma 
redução progressiva desta problemática assustadora e facilmente divisível.” (Leitão, João Pedro, 
Diário de Notícias). 
O aparecimento da internet teve efetivamente um papel crucial na transmissão de 
informação, incluindo as fake news. Muitas pessoas partilham notícias falsas por meio da internet, 
sem saberem que de facto são falsas, contruindo uma sociedade em rede, de partilhas consecutivas 
de fake news. Os indivíduos têm papéis ativos e independentes, tanto como emissores como 
recetores. A emergência das sociedades em rede levou a uma democratização da informação, isto 
é, o excesso de informação dificulta a identificação de fontes credíveis e leva até à exaustão. As 
plataformas digitais monetizam a desinformação através de publicidade e click bytes – títulos e 
imagens chamativos que na verdade não correspondem ao conteúdo. O fluxo de dados gerados, nas 
redes sociais por exemplo, é importante para o mercado publicitário, parque permite traçar um 
perfil digital do usuário bastante aprofundado, ao que se dá o nome de micro target. Através deste 
perfil, somos constantemente bombardeados com informações e produtos semelhantes aos que 
consultamos. Em conjunto com a nossa própria bolha digital – só acessamos às informações que 
queremos e que gostamos -, estes dois fatores minam a nossa capacidade intelectual de raciocínio 
e espírito crítico. 
Todas estas transformações nos processos comunicacionais, seja num prisma positivo ou 
negativo, contribuem para a construção de uma realidade social partilhada, objetiva – ideias 
coletivamente partilhadas como factos, como a Terra ser redonda, excluindo os grupos minoritários 
– ou cultural – crenças, que podem divergir dependendo da cultura, como as noivas vestirem-se de 
branco no dia do casamento. Desta forma, informações, convicções e crenças previamente 
adquiridas originam um fenómeno de “valores de verdade” – valores comuns e concebidos 
coletivamente – e moldam a forma como recebemos, interpretamos e aceitamos as novas 
informações que nos chegam, sejam de cariz social, político, étnico ou cultural. 
Em torno do fenómeno das fake news, surge uma enigmática discussãoacerca da liberdade 
de expressão. A liberdade de expressão é a liberdade de pensarmos e exprimirmos os nossos 
pensamentos livremente, sem sequelas, é uma das mais importantes conquistas do século XX e a 
principal característica da democracia. Com a liberdade de expressão é-nos permitido expressar 
qualquer pensamento, seja este bom ou mau, correto ou incorreto, intencional ou não, por isso, é-
nos também permitido criar e divulgar notícias falsas, mesmo constituindo uma ameaça à 
democracia. Aqui, observamos um paradoxo desde logo, pois se a liberdade de expressão é o rosto 
da democracia, mas essa liberdade é também a sua maior ameaça, como lidamos com este paradoxo 
entre liberdade de expressão e fake news como arma contra a democracia? Será legítimo 
condicionar um direito democrático para proteger a democracia? Ao condicionarmos a liberdade 
de expressão, não estaremos a ir contra os próprios princípios democráticos? Será legítimo punir 
determinada opinião ou pensamento, porque vai contra a democracia e os nossos valores pessoais? 
Deveremos condicionar a liberdade de expressão com limites morais ou limites legais? Sendo os 
limites legais antidemocráticos, até que ponto não serão nos limites morais também? Se nós, 
enquanto indivíduos temos o direito e a liberdade de nos expressar e discordar da opinião de outro, 
esse outro, não terá o mesmo direito que nós? 
 
Bibliografia 
 
(2020), “Porque é que as fake news ameaçam, em especial a democracia?”, em RTP Ensina, 
consultado a 09/06/2022, em https://ensina.rtp.pt/artigo/porque-e-que-as-fake-news-ameacam-em-
especial-as-democracias/ 
Apontamentos das aulas teóricas e de discussão. 
Guarezi, Beatriz (2020), “Sobre as realidades que vivemos”, em Medium, consultado a 
09/06/2022, em https://medium.com/bits-to-brands/sobre-as-realidades-que-vivemos-
40e157faebe4 
Han, Byung-Chul, Infocracia: La digitalización y la crisis de la democracia, pp. 10-42, 
Taurus, traduzido por Joaquín Chamorro Mielke. 
Leitão, João Pedro (2021), “Como é que a Desinformação afeta as nossas vidas?”, em Diário 
de Notícias, consultado em 09/06/2022, em https://www.dn.pt/opiniao/opiniao-
dn/convidados/como-e-que-a-desinformacao-afeta-as-nossas-vidas-13246385.html 
Reforçar o Código de Conduta da EU sobre Desinformação, Plano de Ação para a 
Democracia Europeia, Comissão Europeia, consultado a 09/06/2022, em 
https://ec.europa.eu/info/strategy/priorities-2019-2024/new-push-european-democracy/european-
democracy-action-plan/strengthening-eu-code-practice-disinformation_pt

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