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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
A635b
Antony, Vinicio
Black belt mind: os segredos da Mente Faixa Preta / Vinicio Antony. – Rio de Janeiro, RJ:
Autogra�a, 2020.
ISBN 978-65-5943-142-7 (recurso eletrônico)
1. Desenvolvimento pessoal. 2. Sucesso. I. Título.
CDD 158.1
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
Black belt mind: os segredos da Mente Faixa Preta
A�����, Vinicio
ISBN: 978-65-5943-142-7
1ª edição, julho de 2020.
Editora Autogra�a Edição e Comunicação Ltda.
Rua Mayrink Veiga, 6 – 10° andar, Centro
R�� �� J������, RJ – CEP: 20090-050
www.autogra�a.com.br
“Nossa vida e existência são como uma onda. Você pode ver uma
onda, pode medi-la, pode até mesmo ouvi-la e sentir sua força e
energia. Ela começa sutil e praticamente imperceptível na vastidão do
oceano e à medida que se aproxima da costa, ganha altura, velocidade e
intensidade. Ao aproximar-se da enseada, é possível observá-la em todo
seu esplendor e beleza. A luz que se refrata através dela tem um brilho
único e esplêndido e o vento quente que sopra da costa para o mar lhe
empresta um suave e esbranquiçado véu, que lhe cobre no momento
preciso em que ela atinge o ápice de sua trajetória, para em seguida
despencar de encontro às rochas em uma explosão de pura força, beleza
e energia. Porém, no segundo seguinte, a onda que ali estava, com todo
o seu esplendor, sua força, e sua beleza, desaparece instantaneamente
como se nunca tivesse existido. Contudo, a água, que é o elemento
essencial da onda, continua lá, voltando calmamente para o oceano,
onde sempre esteve.”
APRESENTAÇÃO
Conheço o Mestre Vinicio Antony desde quando eu era garoto. Os primeiros
contatos foram em competições de karatê, cada um na sua categoria.
Alguns anos depois, já adulto, passei à mesma categoria que ele. Assim,
travamos algumas disputas diretas em campeonatos e �zemos parte da
Seleção Brasileira de Karatê em 1996 e 1998, ocasiões nas quais
estreitamos nosso relacionamento e amizade… Porém, a maior
participação do Mestre Vinicio na minha vida se deu quando eu já era
lutador de MMA.
No UFC, por diversos motivos, acabei me afastando do karatê, minha arte de
origem. Investi em outros tipos de luta em pé, como muay thai e boxe.
Acreditei que essas modalidades me bene�ciariam mais como lutador de
MMA. Assim, deixei de treinar o karatê. Tudo o que eu aprendi nesse
período foi bastante positivo e útil. Mas, no �m, acabei perdendo minha
essência e identidade como lutador.
Com isso, minha carreira entrou numa decrescente. Sofri várias derrotas
seguidas. Na mesma época, �quei dois anos afastado do circuito de lutas.
Foram dias bem difíceis.
Quando eu voltei ao octógono, em 2017, eu estava me sentindo melhor,
�sicamente falando. Mas ainda não havia reencontrado meu caminho. Foi
nesse momento que o Mestre Vinicio teve um papel fundamental na
minha carreira.
No retorno ao UFC, sofri uma fulminante derrota, que abalou profundamente
minhas convicções. Pouco tempo depois, Mestre Vinicio me mandou um
e-mail, onde dizia saber o exato motivo pelo qual eu vinha,
sistematicamente, sendo derrotado. Na época, nós não tínhamos mais
contato direto, como antes. Havíamos nos encontrado vez ou outra na
cidade do Rio de Janeiro, casualmente. Mesmo assim, ele se mostrou
muito amigável e disposto em me ajudar. Só eu sei o quanto as suas
palavras e direcionamento me �zeram bem naqueles dias.
Depois do e-mail, e uma longa conversa ao telefone, deixei minha residência
em Los Angeles e embarquei para o Rio de Janeiro ao encontro do mestre,
onde retomamos o contato. Ele me ajudou a perceber que eu havia me
afastado das minhas raízes, e que isso me enfraquecia, não só como
lutador, mas também como pessoa. Outras pessoas já haviam me dito
isso, de uma forma ou de outra. Mas as palavras do Mestre Vinicio
realmente me �zeram entender qual era o problema. Assim, foi como se
uma “chave” virasse na minha mente.
Não foram só suas palavras que me bene�ciaram. Melhorei muito meu
condicionamento físico e minha técnica com ele, que é expert no assunto.
Além disso, pude contar com seu apoio e treinamento, como “Head
Coach” no meu preparo para cinco lutas, das quais venci quatro. O
empenho, a metodologia, disciplina e, sobretudo, a disposição do mestre
Vinicio em ajudar as pessoas são suas características que mais me
marcaram.
Tenho muito respeito e gratidão por esse mestre e amigo, que investiu em mim
quando mais precisei. E não apenas no sentido técnico. Seus
ensinamentos e seus conselhos, seu empenho e também descontração nos
camps preparatórios pavimentaram o caminho para que eu me encontrasse
onde estou hoje. Se me reencontrei e cresci na arte marcial e na vida é
devido a participação e palavras orientadoras que ele me ofereceu.
E tenho certeza de que você, leitor, poderá aprender com os grandes
ensinamentos desse mestre e crescer bastante com ele, assim como
aconteceu comigo.
Lyoto “�e Dragon” Machida
PREFÁCIO
Tenho certeza que ao segurar esse livro nas mãos pela primeira vez você
acreditou tratar-se de um livro sobre artes marciais. Bom, na verdade sim
e não!
Sim porque como expert em artes marciais é claro que vou me utilizar dessa
minha expertise para trazer a você tudo aquilo que há de mais relevante e
funcional na �loso�a, na técnica e na prática das artes marciais, e acredite
você ou não, socos e chutes são a menor parte desse magní�co universo de
possibilidades. E que pode, tenho certeza, de maneira inusitada, ser
utilizado na sua vida como um todo. Ampliando a sua capacidade de
enfrentar e gerenciar problemas, situações e pessoas, ao mesmo tempo, de
maneira prática, lógica, intuitiva e acima de tudo, e�caz.
E também não! Primeiro porque não tenho nenhuma intenção de transformar
você em algum tipo de Bruce Lee contemporâneo. E em segundo lugar
porque o ponto que defendo aqui é exatamente o fato de que você não
precisa necessariamente praticar artes marciais para ter uma “Mente Faixa
Preta”.
Antes de mais nada, o primeiro conceito que pretendo passar através desse livro
é o fato de que a verdadeira faixa preta não é algo que você “ganha” ou
mesmo que você conquista. Na verdade, “Faixa Preta” é algo que você se
torna! Algo que independe totalmente de quantos adversários você é capaz
de enfrentar, quantas telhas ou tijolos você é capaz de quebrar, ou de
quantos socos ou chutes você é capaz de desferir.
É preciso muito tempo para entender tudo aquilo que é necessário para se ter
uma mente faixa preta. No meu caso, depois de mais de uma década da
minha graduação na faixa preta, em quatro diferentes disciplinas, foi que
pude perceber a distância existente entre “ter” uma faixa preta e “ser” um
faixa preta. Não há diplomas, medalhas, técnicas ou conquistas que sejam
capazes de nos transmitir a verdadeira essência e valores necessários para
nos tornarmos àquilo que um faixa preta deve ser. Somente através do
conhecimento, do entendimento e da prática continuada, de uma
especí�ca conduta, e da determinação em se percorrer um caminho de
escolhas únicas e objetivas, que nos levará a assumirmos uma nova
postura diante da vida e de seus desa�os, é que nos tornaremos pessoas
diferenciadas e aptas a aceitar e vencer a desa�os jamais antes imaginados.
Cada um de nós tem o potencial de se tornar um faixa preta da vida. E o
primeiro passo para isso consiste em assumir o controle de suas atitudes, e
escolher ser quem você deseja ser.
Meu convite é que você escolha tornar-se preciso, e�caz, admirável e “fatal” ao
decidir trilhar o “caminho do guerreiro moderno”, que não é nem um
pouco diferente dos antigos samurais, mas que ao invés de uma espada,
carrega em suas mãos, a atitude, a retidão, o propósito e os valores,
capazes de nos guiar à vitória em qualquer batalha, empreendimento ou
objetivos que decidamos alcançar.
Ser faixa preta é atingir um diferente estado de clareza e compreensão acerca de
si mesmo e domundo que o cerca. Que, na luta propriamente dita,
começa com uma intensa percepção e descoberta do próprio corpo e suas
possibilidades, indo até o entendimento de suas profundas conexões com
a mente e com o espírito, o que nos leva a um nível de consciência e
percepção que transcende em muito o ordinário.
Para ser um faixa preta na vida a jornada começa com a autopercepção de
identidade e avança à medida que, cientes de nosso propósito,
objetivamos nossa busca e não aceitando nunca nada menos do que
aquilo a que nos designamos conquistar, mas sem jamais abrir mão de
uma conduta reta e honesta, preservando a todo o custo valores de ética,
honra e justiça. Construindo passo a passo, “graduação a graduação”, a
nossa capacitação para que com competência e singularidade estejamos
aptos a realizar tudo aquilo a que nos propusermos.
Quando alguém me pergunta quanto tempo uma “pessoa comum” leva para
alcançar a faixa preta, a resposta é sempre a mesma: “Pessoas comuns não
alcançam a faixa preta!”
Se você acredita que tem a coragem necessária para tomar em suas mãos as
“rédeas” de sua vida, e decidir controlar a sua atitude sob qualquer que
sejam às circunstâncias, eu te convido agora a “apertar” �rme em sua
cintura a faixa branca, que simboliza o espírito iniciante, “Shoshin”, e
tornar-se um eterno aprendiz rumo a essa condição transformadora que
irá mudar de�nitivamente sua visão de mundo, sua atitude, e
“envergadura”, (alcance), pro�ssional, familiar e principalmente pessoal!
A MENTE FAIXA PRETA!
Mas a�nal de contas, o que é uma “mente faixa preta”? Pra entendermos esse
conceito, primeiramente vamos entender o que é ser um faixa preta na
prática, e o que é necessário para alcançar essa, que é considerada por
muitas pessoas, uma impressionante façanha.
Todo mundo admira e se impressiona, ainda que discretamente, quando assiste
ou presencia proezas de um faixa preta. Seja na vida ou no cinema, de
qualquer que seja a arte marcial, desde que um tal de “Lee Jun Fan”, mais
conhecido como Bruce Lee, fez a sua primeira aparição nas telas do
cinema, mostrando pela primeira vez os movimentos e a �loso�a da
milenar arte do Kung Fu, (Wushu), milhões de pessoas por todo o
mundo começaram a buscar por mestres, livros ou �lmes que pudessem
ensinar-lhes, ao menos um pouco, aquela maravilhosa arte e torná-los
também faixas pretas.
E até hoje o cinema ainda exerce esse papel de propagação dos movimentos e
da �loso�a das artes marciais. Quem é que nunca sonhou ser como
“Neo”, personagem emblemático vivido pelo ator Keanu Reeves na
trilogia �e Matrix, e aprender em alguns segundos as mais diversas
técnicas de artes marciais que levariam uma vida inteira de treinos para
serem desenvolvidas? Quem nunca imaginou ter os músculos e a coragem
do Van Dame, ser capaz de realizar às proezas do Jack Chan, ter a
velocidade e precisão do Jet Lee? Até mesmo aqueles que não apreciam
esse gênero cinematográ�co, mas que têm �lhos pequenos, puderam se
deleitar com as “pérolas de sabedoria”, dos mestres “Ugoe e Chi Fu”, no
clássico infantil, Kung Fu Panda.
Hoje as artes marciais mistas, ou MMA, como são mais conhecidas, ganham
cada vez mais espaço por todo o mundo através da mídia. Eventos com
arenas lotadas, e transmissão mundial pela televisão, mostram não só a
luta em si, mas também um pouco da vida, do treinamento e do sacrifício
dos lutadores pro�ssionais, assim como a fama e a fortuna construídas por
alguns desses atletas, transformando o fascínio pelas artes marciais
também em possibilidade de riqueza, fama e glamour, levando dessa
maneira novamente milhares e milhares de pessoas às academias, à busca
do sonho por uma “faixa preta.”
Em primeiro lugar, o mais importante é entender que a “faixa preta” não é algo
que você “ganha”, e muito menos algo que você usa e ostenta, e sim algo
em que você se transforma, através de um processo de autoconhecimento,
autorresponsabilidade e de expansão de consciência, que uma vez iniciado
jamais cessa.
A mente faixa preta tem um modus operandi peculiar que a diferencia de todas
as demais. Além de milhares de horas de treinamento e estudo, na
verdade, o que você precisa são diretrizes básicas na formação de seus
valores, ideais e objetivos, sem os quais você se tornará somente mais um
atleta.
Dizem que o faixa preta é um faixa branca (aprendiz) que nunca desistiu. No
meu entendimento, é muito mais do que não desistir. É resistir e persistir,
em seus objetivos e ideais. Sendo capaz de enfrentar todas as adversidades,
e desa�os que fatalmente surgirão entre ele e seu propósito.
Para ser um faixa preta é preciso antes de mais nada comprometer-se a não
falhar! E quando digo “não falhar” digo estar disposto a superar todos os
pequenos fracassos que irão se interpor entre você e seus objetivos, pois o
sucesso nada mais é do que a sucessão de uma in�nidade de pequenos
fracassos, até que eles acabem por indicar o caminho a ser tomado.
Costumo sempre dizer aos meus alunos: “A experiência nem sempre é
capaz de nos mostrar o caminho a seguir, mas ela pode, invariavelmente,
nos dizer por onde não ir!” O que claramente indica que a possibilidade
de acerto aumenta exponencialmente a cada erro cometido.
A dor da derrota dura o exato tempo de se reerguer e recomeçar. A dor de
desistir é para sempre! “A derradeira derrota é o ato de desistir!”
Para ser um faixa preta é preciso acreditar ser capaz de lutar, literalmente, por
aquilo em que você acredita. Lutar por sua evolução e quali�cação e, por
�m, estar apto a superar desa�os, e o mais importante, impor-se frente a
eles.
O faixa preta na prática é uma pessoa que, desde que tenha um treinamento
�dedigno, reunirá uma gama de habilidades técnicas, mentais e
emocionais, forjadas a partir do árduo treinamento e da total entrega
física, e ao mesmo tempo do entendimento e da sedimentação de
conceitos comportamentais, �losó�cos e de atitudes mentais peculiares a
essas práticas, que são extremamente difíceis de serem adquiridas, e mais
ainda de serem postas em prática. Portanto, algo seletivo, e por que não,
até certo ponto, exclusivo.
Engana-se aquele que acredita que para ser um verdadeiro faixa preta basta
apenas alguns anos de prática continuada e muitas repetições mecânicas.
Para uma pessoa receber das mãos de um professor uma tira de tecido
preta talvez isso baste. Mas para o desenvolvimento de uma “mente faixa
preta” cada gesto ou ação executadas devem carregar o profundo desejo do
aprimoramento.
Aquele que se propôs a tarefa de se tornar um Faixa Preta, e conseguiu, teve no
mínimo que perseverar, e muito! No “pacote” estão inseridos persistência,
paciência e uma grande dose de resiliência, já que muitos momentos
poderão ser bem difíceis. E acreditem, eles serão!
Lembro-me de minha escalada rumo à faixa preta nas quatro diferentes
modalidades nas quais decidi que alcançaria essa graduação. Ainda carrego
vívida a memória de cada um dos desa�os requisitados. Dos dias e noites
de entrega e comprometimento, de dor e de superação, que no �nal
seriam vencidos, nessa busca por conhecimento e aprimoramento,
técnico, mental, mas acima de tudo humano. E que se incorporaram de
maneira de�nitiva à minha personalidade e à minha maneira de ver e
encarar a vida. Ao mesmo tempo que me cobravam um alto preço em
dedicação, entrega e sacrifícios pessoais.
A prática das artes marciais são um “pequeno ensaio da vida” e de todas as suas
potenciais circunstâncias. Momentos de dor e de sacrifício, de glória e de
frustração, de doação e de recompensa, que são potencializados pelo
ambiente extremo do combate, e da dura rotina de preparação física,
mental e emocional, a que se submete àquele que almeja essa, que gosto
de chamar de condição, forjam não só os corpos e as mentes, mas
sobretudo o coração e o espírito daqueles que as praticam de maneira
sincera e completa.
Ser faixa preta nada tem a ver com uma tira de tecido negro circundando a sua
cintura. Muitomenos com a capacidade de fazer acrobacias e técnicas
fantásticas. Ser faixa preta é ser íntegro, reto e convicto. É saber atacar, é
saber defender, mas também é saber esperar. E acima de tudo, é saber pelo
o quê, por que e quando lutar.
ENCONTRANDO O PORQUÊ
Em 1998 iniciei um trabalho de resgate das verdadeiras origens do karatê, o
que me levou ao encontro de uma arte de combate magní�ca e completa.
Construída sobre o entendimento de que estruturas unidimensionais de
combate seriam sempre frágeis e vulneráveis quando utilizadas e,
portanto, a totalidade da técnica seria imprescindível, deparei-me com
uma arte que buscava todo o tempo pelo “golpe derradeiro”. Um golpe,
seja ele uma “pancada”, uma projeção, ou uma chave articular que seria,
de maneira de�nitiva, capaz de encerrar o combate. Para que isso
ocorresse, observar e decifrar os movimentos e comportamentos
adversários deveria ser praticamente uma arte à parte. A capacidade de
mapear padrões, de movimentos, e acima de tudo, de comportamentos,
seria um “armamento especial” no arsenal do artista marcial.
Nessa minha busca por um entendimento holístico acerca das artes marciais,
pesquisei, estudei e me graduei em diversas artes marciais. Estudei a
fundo a motricidade, a psique e o comportamento humano, para através
do estabelecimento de padrões tornar aplicáveis técnicas de mapeamento
comportamental, motor e emocional de adversários de fato, ou da luta
silenciosa, travada todos os dias em diversas áreas de nossas vidas e
especialmente no mais ardiloso campo de batalhas, que é nossa própria
mente.
Meu objetivo com esse livro não é transformá-los em experts em artes marciais.
Mas sim mostrar-lhes a massiva funcionalidade da aplicação da estrutura
comportamental e das técnicas empregadas nas artes marciais para as mais
diversas situações, em diversas áreas de nossas vidas.
Depois de 35 anos de prática, estudo e desenvolvimento das artes marciais
como aluno, atleta, professor, mestre e especialmente como treinador de
atletas de alto nível e rendimento, que colocam a prova suas habilidades
em competições brutais, MMA, que se assemelham em muito ao estresse
agudo proporcionado pelas situações de vida e morte, que outrora foram
as responsáveis pelo surgimento e manutenção da grande maioria das
técnicas “marciais” e portanto são pessoas que precisam levar todo os
ensinamentos ao extremo da aplicabilidade para alcançarem o sucesso
desejado. Posso inequivocamente a�rmar que o treinamento mental ao
qual o praticante é submetido, em todas as etapas do processo de
aprendizagem, aquisição de habilidades e experimentação, nas artes
marciais, obviamente, quando são orientadas por um mestre capacitado,
exercem um papel determinante e irrevogável no modo como essa pessoa
conduzirá sua vida, como enfrentará suas di�culdades e como resolverá
seus dilemas.
Sendo ela desde que coloque o que foi aprendido, desenvolvido e treinado, em
prática, indubitavelmente uma pessoa diferenciada. Com atitudes e
comportamentos concisos e assertivos em questões cruciais que
necessitem de capacidade de planejamento, senso crítico, isenção de
julgamento e, acima de tudo, controle emocional!
A mente Faixa Preta é ensinada, desde sempre, a perceber e entender sistemas.
Ela compreende que para um simples soco adquirir o status de “golpe
mortal” há todo um sistema biomecânico funcionando ativamente, onde
inúmeras etapas de um intrincado processo físico e mental são
meticulosamente interconectadas, fazendo assim com que a energia de
todos os músculos, articulações e alavancas projetem-se simultaneamente
naquilo que aparentemente é um gesto simples. O que dá a ela a
capacidade de conceber com maior facilidade processos de construção a
longo prazo de metas e objetivos.
Depois de vivenciar, ao longo dos meus mais de 30 anos como atleta e
professor, os impressionantes efeitos causados pelo processo como um
todo, pude perceber algumas questões relevantes no aspecto do
treinamento mental aplicado para praticantes de artes marciais, que eram
capazes de moldar e desenvolver aquilo que chamo de “mente faixa preta”,
que me levaram a desenvolver uma metodologia aplicável até mesmo a
quem não pratique artes de combate. Com um aproveitamento em larga
escala e uma “taxa de transferência”, capacidade de aplicabilidade e
reprodução de resultados, extremamente satisfatória e proveitosa para
essas pessoas.
Como especialista em diversas modalidades de artes marciais e expert em
estratégias de combate, que levaram à vitória inúmeros campeões, dentre
eles dois ex-campeões do UFC, (Ultimate Fighting Championship), Vitor
Belfort, e Lyoto Machida, tenho o conhecimento necessário para trazer ao
amigo leitor todas as técnicas e estratégias usadas em combates marciais,
sejam eles por medalhas, fama, dinheiro ou pela própria vida, para um
novo contexto agora, que transcende os campos de batalha e os ringues e
cages esportivos, e transporta-se para o nosso dia a dia, onde inúmeras
batalhas são travadas diariamente, especialmente no enfrentamento de
nosso maior inimigo, que muitas vezes somos nós mesmos!
Ao longo das próximas páginas, minha missão será conduzir você em uma
jornada de autoconhecimento e autodomínio, tornando-o um
estrategista, preciso e e�caz na arte de sobrepor-se a obstáculos.
Proporcionando-lhe assim um reposicionamento frente à vida e à maneira
com a qual você enfrenta as diversidades e di�culdades que ela lhe
apresenta.
Através de técnicas milenares de controle da atitude mental durante a
condução de combates individuais, apresentarei ferramentas mentais que
irão conduzi-lo de maneira estratégica e precisa em qualquer tipo de
incursão pessoal, negociação ou relacionamento.
Ataque, defesa, antecipação, interceptação, condução e distração, além de
inúmeras técnicas criadas há milênios e desenvolvidas por eras com o
propósito maior da busca pelo conhecimento interior, capaz de nos tornar
mestres de nós mesmos e da construção de nossos objetivos e resultados.
TEMPOS DE PAZ?
Há quem diga que vivenciamos tempos de paz e que as técnicas marciais
tornaram-se anacrônicas e obsoletas. Não tendo absolutamente nenhuma
funcionalidade a não ser a prática física e coreografada com as �nalidades
de promoção de saúde e bem-estar físico, ou de jogos esportivos ou lutas
pro�ssionais.
No entanto, nunca vivemos tempos de tão acirrada disputa pessoal quanto nos
dias de hoje. Apesar de não ser mais necessário defender nossas vidas de
predadores ferozes, ou inimigos armados, pelo menos na maioria dos
lugares do mundo, e tão pouco lutar, literalmente, por abrigo, comida e
proteção, há uma verdadeira e voraz guerra sendo travada em diversas
áreas de nossa vida.
A luta agora é outra. Ela acontece nas ruas, nas escolas, faculdades e empresas.
Na busca por um melhor posicionamento no mercado de trabalho, ou na
vida pessoal, quando partimos para a conquista do amor, ou quando nos
vemos frente à difícil tarefa de se educar e preparar nossos �lhos para o
mundo.
Ao contrário do que a grande maioria das pessoas acredita, as �loso�as e
técnicas envolvidas no universo das artes marciais vão muito além do
objetivo simplista de se criar métodos de combate e�cazes. As intrincadas
técnicas e sequências de movimentos, assim como as elaboradas estratégias
mentais aplicadas no processo, norteadas por um estreito código de
conduta, são, principalmente, ferramentas através das quais o artista
marcial torna-se capaz de uma compreensão maior acerca de seu corpo, de
sua mente e de suas emoções.
Através da minha experiência, posso a�rmar que conhecer e aplicar conceitos,
�loso�as e técnicas marciais de um modo oportunamente adaptado às
demandas temporais tem o potencial de tornar-se uma ferramenta
determinante na obtenção de melhores resultados pessoais, pro�ssionais e
especialmente, na conquista do sucesso.
ENTENDENDO AS ARTES MARCIAIS
JUTSU – TÉCNICA/ARTE
Você provavelmente já ouviu falar emJutsu, ou “Jitsu” que é a forma mais
popular de se pronunciar esse vocábulo, especialmente no Brasil, graças à
implementação do Gracie Jiu-jitsu. Na verdade as duas formas estão
corretas quando observamos que não há gra�a precisa para a transcrição
de ideogramas ou vocábulos estrangeiros, dessa maneira, vale o que você
escuta.
A grande maioria das pessoas tende a relacionar essa palavra à luta, no entanto,
como iremos observar no decorrer desse livro, cada ideograma encerra em
si uma enorme possibilidade de signi�cados e adaptações conceituais, e
nesse caso a luta é somente um deles.
Nesse especí�co caso, o da luta, o “Jutsu” marca a origem. O conceito
primordial de e�cácia, acuidade, maestria e precisão. Num âmbito geral,
Jutsu, muito mais do que uma palavra, é um conceito que aplica-se a tudo
que concerne à e�cácia plena em um propósito. Seja ele a e�ciência letal
em um combate ou a precisão milimétrica para a forja de uma espada
perfeitamente simétrica e equilibrada.
É a prática repetida, sistemática e sobretudo consciente, à busca da perfeição,
não importando o objeto dessa busca. No entanto esse conceito não é
apenas aplicado para atividades práticas como lutas marciais e habilidades
técnicas.
Jutsu é a constante busca humana pelo autoaperfeiçoamento rumo à maestria.
Jutsu está em tudo, o tempo todo, quando o caminho que delineamos é a
busca por excelência.
Em tempos de guerra, a palavra japonesa, Jutsu, que tem sua tradução literária
como técnica, transcendeu a esse signi�cado simplista, sublimando-o a
um conceito subjetivo de maestria, onde as conotações preponderantes
seriam a habilidade, a destreza e a e�cácia! Ao que Jutsu passou a
entender-se como arte.
Não a arte que surge do abstratismo, de um dom ou talento inato. Mas sim a
arte que nasce do aperfeiçoamento diário, obstinado, atento e objetivado.
A que tem um propósito, a que tem um cerne. A arte que se conjuga às
ações ou à inércia, ao brado mais feroz ou ao silêncio mais profundo. A
arte que é una ao corpo, a mente e ao espírito!
DŌ – CAMINHO/VIA
Outro importante conceito oriental que permeou as artes marciais é o conceito
“Dō”, que você provavelmente já viu, mas talvez nem tenha percebido,
em conhecidas práticas japonesas como o Sa-Dō (cerimônia do chá), Ju-
Dō, Aiki-Dō, Ken-Dō, Karatê-Dō e diversas artes marciais e práticas
orientais que adotaram esse posicionamento comportamental e �losó�co
em suas práticas e no desenvolvimento de suas técnicas.
O que você provavelmente não sabe é que o conceito Dō praticamente
substituiu o Jutsu em diversas dessas práticas, apesar de, na verdade, os
dois conceitos coexistirem na maior parte dos casos. Na língua japonesa,
Dō é a pronúncia para a “palavra” chinesa Tao, da doutrina �losó�ca
chinesa conhecida como taoísmo, que pode ter uma tradução aproximada
por caminho, no sentido de um “modo de viver”, e que é amplamente
abordado na �loso�a das artes marciais, e tem a sua origem em um
clássico literário chinês.
Considerado por muitos como a mais importante obra literária da China, o
Tao Te Ching, escrito entre os anos de 350 e 250 a.C., que tem como
tradução mais frequente, O Livro do Caminho e das Virtudes, e que
argumenta profundamente a respeito de um assunto praticamente
intangível, o Tao, (caminho), que seria aquilo que nas artes marciais
chamamos de Dō, especialmente após o período chamado “Edo”,
referente ao shogunato Tokugawa, último shogunato japonês antes da
reforma Meiji, quando teve início um processo político/social conhecido
como paci�cação, o Tao/Dō incorporou-se às artes marciais como sua
principal base �losó�ca, em detrimento ao Jutsu.
Uma vez que a guerra samurai estava extinta, a e�cácia e a excelência em
combate perdera o objeto. O foco, então, deveria ser o encontro do Dō.
Como vimos, a tradução literária de Tao, ou Dō, seria “Caminho”, no entanto,
como absolutamente tudo que é descrito através de ideogramas, essa
tradução é ao mesmo tempo perfeita e imprecisa. O “Caminho” também
poderia signi�car “encontrar aquilo que não seja o caminho”. Pois a
essência do Tao é exatamente a dualidade que permeia à existência
terrena, o Yin-Yang.
Masculino e feminino, luz e trevas, positivo e negativo, o bem e o mal, en�m,
toda a polaridade existente na natureza e na vida. Tudo tem seu Yin-Yang,
o “Caminho”, é onde nenhuma força prevalece. Onde tudo está
silenciosamente equilibrado.
Nas artes marciais a conotação mais apropriada seria a capacidade de manter-se
em equilíbrio, físico, mental e emocional. Força demais diminui a
precisão. De menos enfraquece o golpe. Planejamento demasiado nos
torna morosos, nenhum, descuidados. Muito medo incapacita, medo
algum nos torna imprudentes. A ine�ciência das ações é a justa medida
pela qual nos encontramos afastados do “centro”. Quando nossa “força de
empate” ou nosso ponto de equilíbrio, “nosso Tao”, é encontrado, a “ação
sem esforço” nos acomete. Quando o “golpe” acontece, você está lá, e
simplesmente faz o que deve ser feito. Sem preferências, sem escolhas.
Apenas liberto e perceptivo, sem se envolver com os extremos, deixando
sua energia centrada e presente.
Como �loso�a de vida, o Dō propõe a harmonização da nossa “energia vital”
com o universo e a natureza, numa busca contínua pelo equilíbrio das
ações, sentimentos e emoções. Sempre penderemos a um extremo, na
mesma medida que fomos empurrados para o outro. Enquanto oscilamos
em direção aos extremos, nossa energia vital é desperdiçada indo de um
lado para o outro.
Como tudo tem seu Yin-Yang, tudo tem também um ponto de equilíbrio. E
esse é o maior poder do Tao. Quando paramos de nos empurrar em
direção aos extremos, ou resistir a eles, a energia que encontramos no
ponto de equilíbrio tornar-se ilimitada. Toda essa energia gasta na tarefa
de criar resistência torna-se livre e disponível.
O motivo de não existir o movimento perpétuo é a incapacidade de nos
movermos inde�nidamente em direção aos extremos. Porém, um pêndulo
pode permanecer inde�nidamente no centro. O que não signi�ca a
ausência de energia, mas sim a capacidade inde�nida que encontra-se no
Dō.
INTRODUÇÃO
Agora que adquirimos alguma familiaridade com esses dois importantes
conceitos da cultura oriental, especialmente aplicados às artes marciais,
vou falar brevemente sobre o surgimento e a importância das técnicas de
combate e ainda sobre o peculiar aspecto comportamental que as
envolviam. Dessa maneira, tenho certeza, vai �car mais fácil o seu
entendimento daquilo que aqui proponho.
UMA BREVE HISTÓRIA DAS ARTES MARCIAIS
Não há como precisar a origem, ou a data do surgimento, das artes de
combate. O que se sabe é que desde que o homem passou a ver o próximo
como uma possível ameaça, ou rival, em inúmeros aspectos, diversas
técnicas de defesa e ataque começaram a ser desenvolvidas por todo o
mundo em suas diferentes culturas. Grécia, Roma, Egito, Mesopotâmia,
Índia, China e Japão, por todos os lugares do mundo, e em diferentes eras
a luta surgiu e se estabeleceu.
Com o passar dos tempos, assim como a própria espécie ia se desenvolvendo, as
técnicas de combate, individuais ou em grupo, também iam ganhando
em requinte e aplicabilidade. Indo mais além, algumas culturas,
especialmente as orientais, conseguiram fundir as técnicas de combate de
tal modo à cultura que elas passaram a ser extensões de seus hábitos e
�loso�a de vida.
Durante milênios as artes marciais foram um importante pilar de inúmeras
culturas orientais. Forjando homens de atitude e coragem, capazes de
tomarem importantes decisões e de criarem estratégias e�cazes e ousadas,
que por diversas vezes garantiram supremacia e hegemonia política, social
e militar.
Norteados por conceitos de hierarquia, disciplina, e um forte espírito de
entrega pessoal, mas acima de tudo um código de ética e de honra, esses
homens transformaram-se em líderes e formaram diversos outros líderes,
em várias áreas de atuação. Carregando sempre em seus gestos, hábitose
atitudes o genuíno “espírito da marcialidade”, Bushido, que é algo
desconhecido e portanto ausente no mundo contemporâneo.
Mais adiante irei expor e minuciar o Bushido, que é um código de ética, honra
e de atitudes, que norteiam o caminho do “guerreiro”. Por ora vamos
seguir entendendo a posição e a funcionalidade das artes marciais no
mundo.
SE QUERES A PAZ…
A despeito do que a maioria das pessoas acredita, as artes marciais não se
tratam apenas de técnicas de luta. Elas con�guram-se um completo
sistema comportamental e �losó�co, onde os elementos envolvidos
deveriam, de maneira interconectadas, ser o veículo a um propósito
objetivado. Então, sob esse contexto, o treinamento das artes marciais
deveria ter um objetivo que fosse além do de sobrepujar outro ser
humano.
Esses elementos seriam, além de obviamente técnicas de luta, diretrizes
comportamentais, conceituais, cognitivas e emocionais, que teriam como
objetivo pretendido a formação de um ser humano melhor. Portanto é
acertado dizer que Karatê, Kung Fu e Jiu-Jitsu não são, simplesmente,
técnicas de lutas. Mas sim completos sistemas comportamentais �losó�cos
com objetivos de�nidos, onde estão inseridas técnicas de lutas, que
funcionam como veículo ou ferramenta, no desenvolvimento, e
aprimoramento das diversas nuances do comportamento e da psique
humana. Arraigando de�nitivamente, a percepção do sucesso através da
inegociável entrega pessoal. Como é o caso da �loso�a contida no
signi�cado da expressão chinesa Kung Fu, trabalho duro, que aponta para
o fato de tudo ser possível através do trabalho obstinado e objetivado.
A comprovação do argumento de as artes marciais não serem simplesmente
técnicas de combate é o fato de haverem dezenas de milhares de estilos de
cada uma dessas, que gosto de chamar de “estruturas conceituais
�losó�cas”, ou artes marciais, como queiram, onde as especi�cidades
técnicas podem apresentar-se de maneira absolutamente divergentes, mas
sob um mesmo posicionamento �losó�co.
Como é o caso do Jiu-Jitsu que ao �nal da era Tokugawa (último Shogunato
Japonês) continha mais de 1.200 estilos, com uma grande diversidade em
sua estrutura técnica, no entanto apoiada sobre uma mesma estrutura
conceitual �losó�ca: “Ceder Para Vencer”.
São centenas de exemplos, como no caso dos estilos de Kung Fu “San Chou”,
(kickboxing), e “Swai Jaw” (grappling). A mesma estrutura �losó�ca com
técnicas totalmente diferentes. O que, em última análise, signi�ca que o
Kung Fu (ou qualquer arte marcial) não depende dos movimentos
praticados e sim da �loso�a comportamental em que o praticante se apoia
para ser considerado Kung Fu.
“Toda a resistência externa, que invariavelmente fortalecerá a oposição, nasce na
resistência interna que a precede.”
A lenda que ilustra o surgimento do Jiu-Jutsu, de maneira sutil, como a técnica
deve ser, evidencia como um posicionamento comportamental ganhou
forma e movimento, trazendo para o campo físico o entendimento e
percepção da natureza humana. Era mais ou menos assim…
… O mestre em sua peregrinação à busca de entendimento acerca de sua
técnica e relacionamentos vê-se aprisionado em um velho casebre em
meio a uma forte nevasca que durou semanas, castigando toda a região do
vale onde ele se encontrava. Com todas as possibilidades de saída fechadas
pelo mal tempo, tudo que restava ao mestre era a resignação da espera.
Durante todo o tempo em que se encontrava involuntariamente aprisionado,
tudo o que o mestre podia fazer era observar uma frondosa cerejeira que
restava à frente do casebre, na sua luta para suportar o lancinante inverno
que a castigava impiedosamente dia e noite. Durante as horas
intermináveis que o mestre passou a observar, entregue a um profundo
estado meditativo, tal movimento, ele pôde perceber algo que mudaria
de�nitivamente todo seu comportamento frente à vida e que
reestruturaria totalmente a sua técnica.
À medida que a forte nevasca se abatia sobre a cerejeira, os galhos fortes e
rígidos se rompiam em um forte estalo ao oferecerem resistência ao peso
extremo da grande quantidade de neve acumulada sobre eles. Ao passo
que os galhos menores e �exíveis simplesmente cediam ao peso imposto
pela neve acumulada, deixando-a cair gentilmente até alcançarem o solo,
sobrevivendo assim incólumes a todo o inverno.
Nesse momento o mestre vislumbrou aquilo que passaria a nortear não só a sua
técnica, mas também suas relações interpessoais, criando assim todo uma
“estrutura comportamental �losó�ca” baseada no conceito de “ceder para
vencer”. Que, em contexto mais amplo, signi�ca aceitação plena do ser.
Sem julgamentos e sem escolhas, sem tendências ou preferências,
simplesmente aceitando de bom grado aquilo que a situação tem a
oferecer como “matéria” de aprendizagem e evolução.
No entendimento de que, toda a resistência externa, que invariavelmente
fortalecerá a oposição, nasce na resistência interna que a precede. Ao
assumirmos esse posicionamento nos tornamos espectadores das emoções
e situações que nos acometem. Livres da inútil resistência, e ilusão de
controle, passamos a testemunhar e aprender com nossas experiências,
sem nos apegarmos às emoções e circunstâncias. Entendendo o eventual
adversário à sua frente como uma mera construção mental de seu próprio
posicionamento e crenças.
Surgia assim o que seria o “start” para a criação de diversas outras técnicas, ou
“estilos”, de formas corporais de combate, para uma mesma �loso�a
comportamental, todas sob o nome de Jiu-Jitsu. Entendendo-se como
estilo a terceira etapa inerente a todo o processo pedagógico cognitivo que
é a experimentação, que no decorrer do entendimento técnico,
eventualmente, acaba por acometer o estudante que se torna mestre.
Então podemos concluir que, partindo de um mesmo pilar �losó�co, diversas
estruturas técnicas foram desenvolvidas acompanhando as peculiaridades
de seus idealizadores, como capacidade intelectual, cognitiva e motora,
além das habilidades especí�cas e predileções. Assim como as demandas
sociopolíticas, econômicas, territoriais e temporais.
“Ao “ceder com gentileza” nos abstemos do julgamento, ao aceitarmos, de maneira
gentil e sem resistência, interna ou externa, a natureza daquilo que é.”
O que procuro elucidar ao amigo leitor é o fato de que na concepção da arte, o
conceito básico do fundamento técnico surgia de um entendimento
profundo de uma conduta �losó�ca, que seria aplicada também para a
vida como um todo, de maneira a transformar a habilidade em enfrentar
seus oponentes, como sendo a habilidade de conduzir também a própria
vida e conduta.
No exemplo especí�co do Jiu-Jitsu, ao estudarmos a etiologia dos ideogramas
que compõem as palavras Jiu-Jitsu, que acabou por adotar a expressão
“arte suave” como signi�cado principal, mas, que ao buscarmos
desdobramentos anteriores para esses mesmos ideogramas, encontraremos
a expressão “ceder com gentileza”, �ca clara a conexão do
desenvolvimento da técnica apoiada em um posicionamento �losó�co,
mais especi�camente um antigo conceito indiano, berço das milenares
técnicas de meditação e também das artes marciais, conhecido como
“percepção sem escolha”.
Portanto, de “escolhermos” sempre baseados em nossa limitada experiência se
algo é bom ou mau, belo ou feio, relevante ou indiferente.
Dessa mesma forma a técnica se desenvolveu, aceitando cada gesto ou golpe
adversário, como uma oportunidade (Kyo) de desenvolvimento próprio.
Tudo que é aprendido e praticado com o objetivo de desenvolvimento técnico
é também utilizado para o desenvolvimento pessoal, e vice-versa. Corpo,
mente e espírito devem caminhar e evoluir igualitariamente.
SHIN-GI-TAI
Nesse processo de “fusão” �loso�a/arte – técnica/�loso�a, um entendimento
acerca da necessidade de equilíbrio entre ações, pensamentos e
sentimentos deu origem à forma ternária de desenvolvimento e
treinamento conhecida como: Shin-Gi-Tai.
Nossa vida é cercada por diversas trindades. No tempo temos segundos,minutos e horas, ou dias, meses e anos. Em maior escala temos décadas,
séculos e milênios. Nossa psique foi dividida em três: Ego, Super Ego e
Id. O átomo, elemento primordial da existência material é dividido em
três: Elétrons – Prótons – Nêutrons. Nossa mente é dividida em
Inconsciente – Subconsciente – Consciente. A in�nidade de trindades é
algo surpreendente que abrange da religiosidade à �loso�a.
As artes marciais preconizam o seu desenvolvimento em três áreas essenciais
para a correta evolução dos objetivos propostos. Ao que se entende como
essencial o desenvolvimento do “espírito”, da técnica e do corpo. Uma
tríade conhecida como Shin, Gi e Tai.
Procurar encontrar de�nições para conceitos marciais orientais, através de
palavras ocidentais, é uma tarefa um tanto quanto frustrante. Mais ainda,
tentar entender e traduzir, corretamente, não só o idioma, mas toda uma
cultura de diferentes hábitos e experiências, que se expressa de maneira
ideográ�ca, ou seja, através de símbolos grá�cos que representam na
maioria das vezes conceitos abstratos, é uma tarefa extremamente difícil,
talvez até intangível, especialmente para quem jamais experienciou tal
cultura e realidade.
Estando, por mais de 30 anos, mergulhado em tudo que diz respeito ao
desenvolvimento das artes marciais e a propagação de seus conceitos e
�loso�a, consigo perceber o verdadeiro abismo existente entre a exatidão
de palavras ocidentais e conceitos �losó�cos desenvolvidos no Oriente.
Conceitos estes baseados em uma cultura que precede a própria escrita e a
necessidade de palavras. Uma cultura onde os sentimentos e as ações tem
uma maneira peculiar de se apresentar e portanto de serem expressados.
Através dessa minha vivência e experiência é que ouso apresentar o que seria,
de maneira aproximada, uma leitura contemporânea para o conceito da
integralidade, conhecido como Shin-Gi-Tai
Shin – Espírito/Coração – (Mente Emocional)
Gi – Técnica (Cognição – Mente Racional)
Tai – Corpo (Habilidades, Condições e Competências físicas)
AS TRÊS PARTES DO TODO
“É � ������������ ��� �� � ���� � ���� ��� ��, �� ������� �����
� �������.”
É fato que nosso cérebro possui dois hemisférios que interagem entre si, mas
com algumas funções absolutamente distintas. Algumas pesquisas
apontam o lado esquerdo como sendo o lado “racional” e o lado direito
como sendo o lado “emocional”. Nessa tese, o lado direito seria onde se
formam nossas crenças e sentimentos. É de onde vem a nossa paixão, a
intuição e a criatividade. É por onde o inconsciente e o inexplicável se
expressam, através da arte, do talento e da vontade. É onde reside nossa
inteligência emocional e nossa capacidade de realização!
O que seria apropriadamente relacionado à “Shin Kokoro” (Mente –
Emocional). Ou em uma abordagem mais esotérica, aquilo a que
subjetivamente chamamos de “espírito”!
Shin é o que nos move, ou que impede que nos movam! É o que nos direciona,
ainda que aos olhos dos outros, a direção pareça estar errada. É também
onde se constroem os objetivos originais, que dão signi�cado e propósito
às nossas vidas.
É o que nos fortalece quando já não há mais forças. É o que nos inspira, nos
emociona e nos encoraja. É o inexplicável que dá a tudo o mais que há,
um sentido único e genuíno. É o que mostra a nós mesmos quem somos e
do que somos feitos. É aquilo que persiste quando todo o resto se esvai. É
aquilo que nos impede de termos um limite! É o que nos acompanha até
o último e derradeiro instante.
Já o lado esquerdo é aquele responsável pela memória (conhecimento), lógica,
sistematização e coerência. É o que observa, avalia, contemporiza,
racionaliza e planeja. O que podemos relacionar a todo conhecimento
adquirido, portanto “Gi” (Técnica) seria propriamente relacionada à nossa
mente racional.
Gi é tudo aquilo que pensamos, planejamos, aprendemos e ensinamos. É a
nossa mente consciente, ativa e trabalhando no desenvolvimento técnico e
estratégico. Traçando metas e objetivos. De�nindo nosso rumo e
delimitando aquilo que acreditamos ser nossos limites. É aquilo que
sabemos, ou achamos que sabemos. Portanto, algo volátil e passivo de
mudança, adaptação e crescimento.
Tai é tudo que se refere ao nosso corpo físico, com foco e atenção especiais à
saúde e à higiene, bem como a habilidades inatas, ou adquiridas, como a
força, �exibilidade e endurance. Equilíbrio, destreza, agilidade e
velocidade. Tudo aquilo que nos possibilite avançar ao máximo no
caminho do aperfeiçoamento técnico e que intrinsecamente no
aprimorará holisticamente, pois irrevogavelmente os três pontos estão
interligados.
1. CONHECIMENTO, A ARMA SUPREMA!
LUTAR É PRECISO
Durante milênios nosso cérebro foi preparado e adaptado para a sobrevivência,
transformando-se em uma perfeita “máquina” no que diz respeito à
identi�cação, prevenção e reação às ameaças. No entanto, no mundo
moderno, as ameaças já não são as mesmas que tínhamos que enfrentar na
antiguidade. Mas no tocante às nossas reações corporais e expressões
faciais, que são um verdadeiro “relatório” de intenções e sentimentos,
pouca coisa mudou, e ser capaz de identi�car essas reações corporais, que
expressam precisamente nossas emoções, é ter acesso, literalmente, a
informações privilegiadas.
Ao longo da nossa incursão à busca por uma mente faixa preta, iremos, através
do entendimento do comportamento humano, do nosso cérebro e de suas
funções e reações, entender o processo da dinâmica corporal que se
estabelece em diversas situações, e como decifrá-las, na antecipação ou
administração de eventos, futuros ou em andamento, municiando nossa
mente com informações e conhecimentos que se tornarão a base de nossa
linha de ação.
Todo o processo evolutivo do homem como espécie se dá através do acúmulo e
sobreposição de conhecimento, sem o qual estaríamos sempre partindo do
“zero”, para tudo aquilo que tivéssemos que entender e desenvolver.
Porém, com as demandas da vida moderna, acabamos por nunca “ter
tempo” para aumentarmos nosso espectro de conhecimento, e com as
facilidades dessa mesma modernidade nos habituamos a simplesmente
aceitar os confortos por ela proporcionados, sem realmente sabermos ou
sequer nos interessarmos por como algo surgiu ou funciona.
Não signi�ca que realmente tenhamos que saber minuciosamente como
funciona um motor à combustão, ou como são criptografados os códigos
do sistema operacional dos nossos computadores, mas especialmente
quando se trata da nossa área de especialização ou interesse é fundamental
que saibamos toda a possível informação, direta ou indiretamente a ela
relacionada.
Se você está com esse livro em mãos, obviamente você tem interesse em
entender como nossa mente funciona e o que é capaz de transformá-la em
“faixa preta”! Minha proposta é que iniciemos esse novo aprendizado
através de uma base de informações e conhecimento, que irá nos dar o
suporte inicial para entendermos como o homem se desenvolveu ao longo
de sua evolução como espécie e assim sedimentarmos esse conhecimento e
transformá-lo em sabedoria. Algo que será permanente, e inerente às
nossas ações e reações, assim como à nossa cadeia lógica de raciocínio, a
partir da qual seremos capazes de entendimentos e discernimentos
próprios, como uma nova característica adquirida e desenvolvida através
do conhecimento e da prática.
POR QUE SABER?
Toda a informação que recebemos não tem função alguma se não for
transformada em conhecimento. Só existem duas maneiras de
adquirirmos conhecimento: pelo modo acadêmico ou pelo modo
experiencial.
Tudo aquilo que lemos, estudamos e pesquisamos, através de material
fornecido pelo estudo ou experiência de outras pessoas, que nos
precederam numa mesma intenção e é somado às nossas experiências de
vida, em diversas situações do cotidiano, transforma-se em conhecimento.
Porém, ao tornarmos aplicável, de maneira efetiva e proveitosa esse
conhecimento, ele se transformará em sabedoria, e poderá então de
maneiralegítima e irrevogável ser transmitido e perpetuado. Caso o
contrário, todo esse conhecimento adquirido e vivenciado será mera
informação, vaga e vã. Portanto, iniciemos agora nossa jornada em busca
da “chave”, capaz de abrir as mais inusitadas “portas” para uma vida de
realizações e objetivos, chamada conhecimento!
VER PARA CRER!
Você sabia que o olho humano só é capaz de enxergar (interpretar) frequências
eletromagnéticas que vão do �nal da escala ultravioleta que é invisível ao
olho humano até o início do infravermelho, o que representa menos de
5% das frequências existentes? Ou seja, na teoria, 95% do mundo que
está à nossa volta é invisível para nós e, portanto, já que não o vemos, ele
efetivamente não existe! Correto?
Você já ouviu falar a respeito do campo eletromagnético que emana do nosso
coração? Pois é, um poderoso campo eletromagnético com um raio de
quase 3m de diâmetro e que é capaz de interagir com outros campos, de
outros corações. Cada campo tem uma frequência vibracional única e
quando encontra frequências similares tende a se aproximar.
Desenvolvendo a�nidades e empatia.
Tudo o que existe é produto de uma mesma matéria-prima. Elementos
químicos combinados em diferentes quantidades e organizados em
diferentes estruturas, que determinam a forma e a densidade das coisas e
dos seres. Orgânicos ou inorgânicos, tudo é formado de átomos.
Tudo isso dito assim não passa de informação inútil e infundada, porém ao
buscarmos a profundidade sobre cada aspecto exposto, e o real e
objetivado conhecimento a respeito de qualquer que seja a informação,
ela instantaneamente passa a ter funcionalidade prática e, eventualmente,
irá apresentar-se como algo aplicável, tornando-se informação substancial
e proveitosa para nosso desenvolvimento e crescimento pessoal. Portanto,
acerque-se de conhecimento real, tangível e fundamentado.
Quanto mais raso é o nosso conhecimento, mais super�cial é a nossa
percepção, mais equivocados serão nossos julgamentos e menor a nossa
assertividade de análise. O que interfere de maneira decisiva em nossa
capacidade de planejamento e de ação!
Um maior coe�ciente de conhecimento fundamentado é capaz de nos
proporcionar observações mais precisas e próximas aos fatos. Um domínio
pleno e conciso das ações necessárias no desenvolvimento e realização de
projetos e na obtenção de resultados!
Através de uma capacitação rica em conhecimento, assumimos uma condição
privilegiada de entendimento e discernimento que nos dá, além de
segurança e con�ança no enfrentamento de situações que requererão um
maior grau de compreensão, uma capacidade dedutiva, conclusiva e até
mesmo intuitiva acima da média, exatamente pela “bagagem” extra que
carrega aquele que detém um maior conhecimento.
A maior riqueza que possuímos é o conhecimento que acumulamos durante a
vida! Então, antes de começarmos a entender o modo “faixa preta” de agir,
que tal ampliarmos um pouco nosso espectro de conhecimento e dessa
maneira modi�car nosso entendimento e capacidade dedutiva sobre vários
temas?
O HOMEM: MÁQUINA DE GUERRA!
“U� ������� ������������, � �������� ���������� ������ ���� �
����������, � � ����� ��������…”
Em algum momento no passado distante nossos ancestrais ergueram-se. A
partir desse momento, passaram a olhar não mais para o chão e para as
proximidades, mas sim para as estrelas e para o in�nito! Juntamente à
recém-adquirida habilidade de andar sobre duas pernas e a capacidade de
vislumbrar todo um novo mundo à sua frente, surgiu também o
imensurável e incontrolável desejo de conquistá-lo.
Desde então, uma contínua e crescente corrida se instaurou pela supremacia
humana sobre as demais espécies do planeta. Mas como então, sendo o
homem um animal consideravelmente fraco, ele fora capaz de dominar
todo o planeta, sobrepondo-se a animais in�nitamente mais poderosos,
rápidos e fortes do que ele próprio? E já que sua espécie era tão hábil no
quesito conquista, de que maneira ele era capaz de sobrepujar seu próprio
semelhante?
Durante centenas de milhares de anos, através de inúmeras habilidades
particulares, a raça humana foi exponencialmente se desenvolvendo por
todo o planeta e tornando-se senhora absoluta de todos os continentes,
desbravando os mais inóspitos territórios e dizimando toda e qualquer
espécie que oferecesse qualquer risco ou lucro. Inclusive a sua própria!
Muitos foram os elementos que contribuíram para essa escalada do homem
rumo ao domínio do planeta. No entanto, um cérebro privilegiado, a
peculiar capacidade humana para a cooperação e a visão paralela foram os
principais fatores de desenvolvimento da nossa civilização.
A pouco menos de 70 mil anos, éramos apenas mais uma espécie tentando
desesperadamente sobreviver em meio às savanas africanas. Entregues a
toda sorte de predadores e intempéries da natureza, como a escassez de
alimentos ou tragédias naturais e ataques de grupos rivais. Talvez, por um
capricho da criação, apesar de termos uma estrutura física extremamente
frágil, quando comparada até mesmo a animais de médio porte como
cachorros, javalis ou mesmo nossos parentes primatas, os chimpanzés, a
natureza tenha nos dotado com uma poderosa arma de ataque, a visão
paralela.
ESTABELECENDO PADRÕES
A maioria dos animais possui olhos postados às laterais de sua cabeça, o que
aumenta consideravelmente a sua visão periférica, fazendo com que
percebam mais facilmente todo o ambiente à sua volta e a eventual
aproximação de seus predadores naturais, mesmo que essa aproximação
seja feita pelas costas.
Apesar da extrema funcionalidade no aspecto defensivo e evasivo, fazendo
desses animais exímios “escapadores” essa condição os perpetuou como
presas. Eternas vítimas em um universo onde o mais forte sempre vence
(será?)!
A visão paralela, presente nos mais e�cientes predadores naturais, como os
lobos, ursos e felinos, possibilitava ao homem, a partir de um ponto
inicial, determinar o que estava à frente, atrás, à direita e à esquerda, além
da percepção tridimensional, altura, largura e profundidade.
A partir dessa característica visual, e dotado de um cérebro único dentre todas
as espécies, o homem passou a desenvolver a capacidade de observar e
identi�car padrões, o que mudaria de�nitivamente os rumos de sua
evolução e de seu posicionamento no ecossistema e principalmente do seu
lugar na cadeia alimentar!
Ele aprendeu a identi�car o movimento celeste e a partir desse movimento
quanti�car dias, semanas, meses e anos. Dividir os anos de acordo com as
condições climáticas e através delas decifrar o movimento das manadas.
Criando assim as primeiras estratégias de caça ao, ainda por identi�cação
de padrões, entender como aguardar, espreitar, perseguir e encurralar suas
presas (capacidade de observação)!
Sem dúvidas essa aliança entre nossa acuidade visual e o estabelecimento de
padrões foi o primeiro passo no desenvolvimento estratégico humano.
Contudo, uma outra característica peculiar à nossa espécie poria
de�nitivamente o homem como senhor supremo do planeta Terra.
COOPERAÇÃO, A MOLA DO DESENVOLVIMENTO
Dentre todas as espécies animais, o homem (homo sapiens), é a espécie que
possui a maior capacidade cooperativa entre seus semelhantes, sendo
capaz de formar imensos grupos de indivíduos, cada qual com suas
atribuições de�nidas e organizadas de modo a suprirem todas as
necessidades demandadas por esse grupo. Isso acontece de maneira mais
e�ciente e coesa quando existem interesses em comum. Interesses que
podem variar de crenças religiosas, �losó�cas e ideológicas a conceitos de
etnia ou lucros �nanceiros. Tudo o que somos como civilização hoje é
simplesmente o resultado do acúmulo de milênios de cooperatividade
entre os homens.
No passado, um caçador/coletor tinha a necessidade de conhecer precisamente
uma in�nidade de áreas da sua vida, de seu habitat, das mudanças
climáticas, fabricação de armas, confecção de roupas, caça, pesca, en�m,
muito conhecimento experiencialpara tornar possível sua subsistência.
Mas a partir de um determinado momento, as funções foram setorizadas
e passamos a contar com especialistas em cada uma das áreas necessárias
como plantio, confecção de roupas e de armas, defesa do território e todas
as demandas geradas por grandes grupos.
Através dos milênios, progredimos e prosperamos através da cooperação
mútua. Formamos aldeias, povoados, vilarejos onde trocávamos todo tipo
de serviços e produtos existentes. Mas em um determinado momento essa
cooperação local já não comportava a demanda por progresso, forçando o
surgimento de cidades, estados e países que ampliaram exponencialmente
essa capacidade de cooperação, retirando dela a característica de vizinhos
ajudando vizinhos.
Apesar do entendimento da necessidade da cooperação para a evolução e
desenvolvimento, durante muito tempo o homem considerou que essa
cooperação não necessariamente deveria ser consensual. Com efeito,
impérios foram formados através da força e de exércitos que marchavam
inde�nidamente à procura de terras, riquezas, poder e escravos. Que
através de sua “cooperação” proveriam mais riquezas, desenvolvimento e
mais poder.
Quanto maiores os Estados se tornavam maior também a di�culdade de se
manter as pessoas cooperativas. As crenças místicas ou religiosas foram
um dos mais persuasivos métodos desenvolvidos para angariar seguidores,
ou melhor, cooperadores para trabalhar, �nanciar, matar ou até mesmo
morrer em nome de deuses ou de um Deus que, para provê-los de uma
“vida eterna” feliz precisaria da total servidão da sua vida terrena. Essa
motivação “divina” alimentou milênios de “guerras santas” que
transformaram cada vez mais o homem em uma arma letal de guerra.
Outro importante combustível para a máquina humana de guerra foi o
patriotismo. A percepção desenvolvida de separação entre os seres
humanos e a ilusão de superioridade étnica desenvolvidas por algumas
culturas protagonizaram diversos tipos de con�itos e guerras de âmbito
mundial, responsáveis por avanços impressionantes na tecnologia bélica e
no desenvolvimento estratégico, mas ao mesmo tempo in�igindo à raça
humana o �agelo da guerra.
Muitos foram os fatores motivadores de inúmeras guerras entre os humanos,
no entanto, nenhum deles foi tão e�caz em forjar, manipular e direcionar
o homem para o con�ito quanto o dinheiro. Principalmente no último
século, por trás de toda a cena política, religiosa ou nacionalista, estava o
mais escuso dos motivos. A ganância desmedida e inescrupulosa da sede
humana por poder e dinheiro!
A COOPERAÇÃO EM TEMPOS DE PAZ
Hoje, quase tudo o que temos e necessitamos para nosso dia a dia é o produto
direto da cooperatividade alheia. Comemos o pão, mas para que ele
chegue à nossa mesa existe toda uma rede cooperativa entre pessoas que
vai da seleção e plantio do trigo à colheita, embalagem, fabricação e
transporte. Pessoas que garantem através da sua “cooperação” a nossa
alimentação, segurança, vestimenta, moradia, transporte etc.…
O que se dependesse totalmente de nós mesmos nos tomaria a possibilidade de
sermos especialistas em algo além da nossa própria subsistência e então
podermos, com essa nossa expertise, cooperar com outros que dela
necessitem, formando essa imensa cadeia de conhecimento e cooperação
que nos torna praticamente um único organismo vivo! Portanto, a
especialização de outros permite a nossa própria especialização em algo.
Ao tirarmos de nossos ombros o peso da responsabilidade total pela
autossubsistência, tornamo-nos “livres” para nos desenvolvermos
individualmente e, através da nossa capacidade criativa, entender e
delinear o conhecimento de maneira a, e a partir dele, criar novos
aspectos da realidade de até então.
A partir dessa sobreposição de conhecimentos e especializações é que nos
tornamos capazes de darmos saltos quânticos em relação à nossa
capacidade criativa, inventiva e realizadora. Hoje, por mais que se fale o
contrário, vivemos tempos de paz. O ápice de nossa criatividade inventiva
para a destruição, silenciosamente, despertou a consciência da potencial
capacidade humana para caminhar para o extermínio, afastando-nos, cada
vez mais, da hipótese de uma terceira guerra mundial.
Os avanços da ciência, tecnologia, e medicina possibilitam um mundo com
cada vez menos fome e desigualdade. A propagação da informação através
da internet tem despertado cada vez mais pessoas ao redor do planeta,
para a necessidade de entendimento mútuo. Nossa estrutura social
cooperativa criou um sistema onde raramente precisamos lutar por
comida, abrigo ou pela nossa sobrevivência. Entretanto, a latente sede de
conquista, herdada de nossos ancestrais, permanece viva em nossos
instintos mais primitivos, mantendo acesa a chama voraz da máquina
humana de guerra.
INIMIGO ÍNTIMO
“A ������ � � ���� ������ �������� ���� � ����.”
Essa busca incessante por poder fez com que cada vez mais o homem tivesse
que enfrentar seu maior inimigo, o próprio homem.
Durante toda a história humana, impérios, nações, exércitos e homens se
enfrentaram em batalhas, que para serem vencidas não poderiam contar
exclusivamente com o poderio bélico e numérico, ou simplesmente com a
força bruta. Inúmeras guerras, batalhas, disputas e duelos foram vencidos
pela estratégia, planejamento, inteligência emocional e por uma
extraordinária habilidade de conduzir adversários para verdadeiras
armadilhas da mente. Trazendo à tona sentimentos e emoções que
causariam reações previstas e calculadas, e que fatalmente poriam,
inevitavelmente, tudo a perder.
Assim como todo tipo de conhecimento, a sabedoria marcial também
implementou-se através das eras, ganhando em requinte e funcionalidade,
à medida que grandes mestres, baseados em seus predecessores, e
aprendendo com seus erros e com suas vitórias, somaram a elas suas
próprias experiências e habilidades em batalhas. Cada povo, obedecendo
suas caraterísticas culturais, �losó�cas e até mesmo regionais e políticas
desenvolveu aspectos peculiares nas artes de combate, sendo ele travado
entre impérios, feudos ou por indivíduos.
No Oriente, especialmente na China e no arquipélago japonês, desenvolveu-se,
a partir de culturas extremamente ritualística e metódica, técnicas de
combate armado ou a mão livre, baseadas na percepção comportamental
de seus adversários. Observar, identi�car e mapear padrões de
comportamento mentais, gestos físicos e falhas técnicas era a base de um
complexo e meticuloso sistema estratégico, obcecado em derrotar seus
oponentes, não somente por uma técnica dominante, mas também por
uma capacidade estratégica e intelectual superior. Sob essa ótica, “a espada
e a pena deviam caminhar lado a lado”, o que signi�ca que um guerreiro
samurai deveria se dedicar, igualitariamente ao treino e aos estudos, tanto
das técnicas quanto da arte e da �loso�a que as cercam, assim como de
todas as ciências complementares a elas.
Lutas de espada ou corpo a corpo, baseadas em sistema de alavancas, força
vetorial e energia cinética eram travadas como verdadeiras partidas de
xadrez, onde a antecipação de um movimento adversário ou a capacidade
de se prever um movimento a seguir poderia ser, literalmente, fatal! No
entanto, para esses povos, lutar não era considerado algo banal.
Lutar era algo tão intrínseco a essas culturas que elas se desenvolveram como
completas estruturas �losó�cas conceituais, onde rígidos códigos de ética
e de honra permeavam de maneira subjacente todo o desenvolvimento de
tais técnicas. Durante milênios a cultura e a técnica marcial se
desenvolveram atravessando as eras como um instrumento de guerra, de
conquista e de ascensão social. Famílias criavam seus próprios �lhos para
que se tornassem guerreiros poderosos. Exímios artistas marciais, capazes
de dominar as técnicas do arco, da espada, das lutas corporais, mas
principalmente para que fossem mestres em dominar a própria mente,
controlando pensamentos, emoções e ações.
Versadosem ciências e letras, mestres da estratégia e planejamento. Suas vidas
eram baseadas na �loso�a da “pena e da espada.” Seus serviços eram
“vendidos” a senhores feudais, shoguns, reis e imperadores, para que estes,
através de suas técnicas letais, contratadas a preço de ouro, obtivessem
controle e poder. Suas condutas eram pautadas, pelo “Bushido”, um
código ético, não escrito, que delineava o caminho do guerreiro.
O INEXORÁVEL TEMPO
Fato é que todos esses conceitos são voláteis e suscetíveis a adaptações culturais
e às demandas temporais. No entanto, estabeleceram-se como uma
subcultura, que se propagou até os dias de hoje.
Do surgimento dessa complexa estrutura técnica e comportamental chamada
“Bujutsu” – (A Arte do Guerreiro) até seu desaparecimento o�cial, que se
deu através do processo político/social japonês conhecido como
Paci�cação, séculos se passaram onde essas artes foram cada vez mais
aprimoradas e implementadas. Porém, um novo Japão, em constante
mutação, decretou que tais técnicas não seriam mais necessárias frente ao
anacronismo ao qual elas haviam mergulhado, devido ao poderio bélico
instaurado no mundo moderno.
Para sobreviver às demandas político/sociais desse momento especí�co da
história, um extenso e rico acervo marcial de milênios fora transformado,
primeiramente em uma extensão do Taoísmo/Zen-budismo, (doutrina
mística e �losó�ca formulada em VI antes de Cristo, por Lao Tsé que
enfatizava a integração do ser humano à realidade cósmica primordial, por
meio de uma existência natural, (espontânea e serena.), recebendo um
complemento nominativo em substituição à palavra Jutsu (Arte/técnica),
que seria o ideograma referente a Do (Caminho/via), pronuncia japonesa
ao vocábulo chinês Tao.
Juntamente a essa mudança nominativa, esse acervo marcial sofreu uma severa
mudança estrutural em seu corpo técnico. As técnicas agora não deveriam
mais ser instrumentos da extinta guerra Samurai e sim exercícios para
uma vida saudável e ferramentas ativas na prática do taoísmo/zen-
budismo.
Após a essas mudanças, essas mesmas técnicas foram novamente transformadas,
agora em jogos de disputa onde regras subjetivas e a capacidade atlética de
seus praticantes eram evidenciadas em detrimento à capacidade estratégica
dos praticantes. As disputas agora eram por pontos e não mais pela
própria vida, o que atenuava ou até mesmo extinguia a necessidade e a
possibilidade de uma avaliação psicológica mais profunda entre
adversários.
Visto que o estresse agudo gerado em uma luta pela sobrevivência faz com que
emoções profundas sejam expostas, potencializando ações equivocadas em
função desse desequilíbrio emocional, ora revelado. O estudo e o
desenvolvimento de técnicas de leitura emocional, comportamental e
corporal em combates �cou restrito a uma reduzida gama de mestres que
insistiam em perpetuar a arte marcial em detrimento do desporto.
Com uma popularidade muito menor do que a das lutas esportivas, as artes de
combate sobreviveram quase que na clandestinidade durante décadas.
Tendo seus ensinamentos pouco efeito e propagação na sociedade durante
um longo período. Foram décadas de uma subutilização dessas técnicas
que haviam se deteriorado nas mãos de “mestres” que tornaram-se, em sua
maioria, técnicos esportivos, sem entender ou sequer conhecer a
funcionalidade e aplicação de tais técnicas.
A cerca de 25 anos surgiu para o mundo o vale tudo, atual MMA. Juízos de
valor à parte, o MMA tornou-se a mola motriz do resgate da
“marcialidade” para as técnicas de combate, expondo inicialmente a
fragilidade de sistemas unidimensionais de combate. Tendo, nesse
período, o Jiu-Jitsu, desenvolvido no Brasil pela família Gracie, única arte
marcial a preservar a nomenclatura e �loso�a comportamental da pré-
paci�cação consolidado uma larga supremacia sobre as demais artes, que
desprovidas da completude original das técnicas, tornavam-se presas fáceis
contra a técnica de um Jiu-Jitsu completo e imaculado.
Pouco a pouco as técnicas foram sendo reincorporadas e reestruturadas em seus
sistemas originais fazendo com que lutadores de todo o mundo se
tornassem cada vez mais completos e competitivos. Com todos os
lutadores tendo acesso ao mesmo conteúdo técnico, muitos investiram na
preparação física como elemento diferenciador nessa tão acirrada disputa.
Tornando-se a cada dia atletas melhores e mais bem preparados e, em muitos
casos valendo-se dessa privilegiada condição para sobreporem-se aos
demais, era à força sobrepujando a técnica. Aproximando-se cada vez mais
do conceito da integralidade proposto pela tríade Shin-Gi-Tai. No
entanto, faltava a essa repaginação das artes marciais um elo fundamental
para atingirem a completude de outrora.
Sendo o MMA um esporte de combate que decorre na iminência de seu
término pela “via rápida” (Nocaute ou �nalização), que muitas vezes
ocorrem de maneiras brutais, podendo gerar lesões físicas e danos
cerebrais a seus participantes, muitas vezes de caráter permanente e
irreversível, a situação de estresse agudo ao qual esses atletas são
submetidos é bastante similar a que era imposta em combates ancestrais
de artes marciais, onde as lutas eram travadas na iminência da própria
morte.
Frente a todo essa nova ,(antiga), realidade recém-incorporada às artes marciais,
tornava-se cada vez mais necessária a volta da estratégia a esse cenário. A
tríade estava completa! Frente a essa nova demanda temporal, ora
apresentada, o desenvolvimento e o aprimoramento de habilidades como
a inteligência emocional, o aguçamento das percepções sensoriais e
motriz, agora seria a quintessência do combate. Aquilo que,
de�nitivamente, elevaria as artes de combate, novamente, a um patamar
mais elevado em termos técnicos e estratégicos.
Certamente muitos irão discordar desse posicionamento, alegando que esses
tipos de combate não exibem nada além de violência gratuita e
despropositada. E que a verdadeira arte marcial é aquela praticada sob um
conjunto de regras e normas de conduta, onde os movimentos são
contidos e as técnicas especí�cas. No entanto, o que essas pessoas
desconhecem é o fato de que tudo aquilo que elas conhecem, e muitas
vezes até praticam como sendo artes marciais, é na verdade uma
adaptação temporal das técnicas para que elas se tornassem desportos, o
que dista em muito da realidade de um combate verosímil de artes
marciais.
Eu tenho que concordar que a grande maioria dos lutadores de MMA não
passa de “brutamontes” alucinados, que tem como maior objetivo “ganhar
dinheiro pra sair na porrada”! Porém quando chegamos à elite do esporte,
o que encontramos são, muitas vezes, pessoas com excelente nível social e
cultural, profundamente comprometidos com a técnica, com a �loso�a e
com a ciência por trás da arte. Pessoas que dedicam a vida e a arriscam
com frequência, por amor, ao desa�o e à arte.
Nessa esfera de atletas, com altíssimo nível de exigência, temos como seus
equivalentes os mestres e “coaches” que, assim como eu, dedicam o seu
tempo e direcionam o seu trabalho ao entendimento do “músculo” mais
importante do lutador: o cérebro!
2. O CÉREBRO FAIXA PRETA
Como vimos, durante milênios evoluímos nossas capacidades e habilidades
naturais para a sobrevivência, para a guerra, e mais, para a conquista da
supremacia plena. Não só em relação a outras espécies, mas especial, e
principalmente, dentre nossos semelhantes.
Durante todo esse período de evolução fomos nos tornando exímios
decifradores de gestos, expressões, padrões comportamentais, humores e
até mesmo intenções. Aprendemos a identi�car qualquer possível ameaça
através de um simples olhar ou franzir de testa. Interpretamos desejos e
interesses através de gestos corporais ou de tom de voz.
Aos poucos nosso cérebro foi, cada vez mais, se preparando para identi�car e
reagir às ameaças, não só físicas como também às intencionais. Porém, em
uma estrutura social cooperativa, lutar por comida, abrigo e pela própriavida, passou a ser algo cada vez mais raro, e passamos a lutar e nos
“defender” de coisas triviais como quando alguém nos encara ou bloqueia
nosso caminho. A mancha na camisa que nos faz querer matar o
funcionário responsável por aquele “absurdo” e a pior de todas as
“ameaças” quando fecham o caminho ou ultrapassam nossos “castelos”
sobre rodas! Nessa hora todos os nossos instintos, ligados à “reação de
alarme”, que é uma reação típica à necessidade de lutar ou fugir quando se
trata da defesa da própria vida do território ou do alimento entram em
ação exatamente igual a quando tínhamos que enfrentar um tigre em
alguma savana remota. Nossas pupilas se dilatam, os pulmões se
expandem, nosso coração parece agora pulsar em nossas gargantas, e
nossas mãos trêmulas mal conseguem segurar o volante. Mas a�nal de
contas, quem esse “animal” pensa que é para bloquear a minha passagem?
Mas por que isso acontece? Que estranho fenômeno faz com que voltemos a
nos comportar como homens da caverna? Uma primitiva parte do nosso
cérebro chamada “amídala cortical”, presente em inúmeras espécies desde
os répteis, até os mamíferos, é a responsável por reações defensivas, que se
antecipam ao raciocínio. Numa linha direta do registro da ameaça, ou
daquilo que entendemos como sendo uma, com nosso sistema de alarme
hormonal, que nos prepara para a luta ou fuga. A percepção do “perigo”
pode acontecer pela via sensorial (visão, olfato, audição e tato) ou ainda
pela via “intuitiva”, ao perceberem-se mudanças em um determinado
padrão de comportamento, movimentação ou rotina. No passado esse
sistema foi extremamente importante para a preservação de nossa espécie,
já que na maioria dos casos, parar pra pensar poderia custar-lhes a vida.
Entretanto, num mundo “civilizado”, muitas vezes uma reação instintiva
pode ser a rota de�nitiva para o con�ito e potencialmente para o fracasso.
A mente faixa preta é treinada ao extremo, para saber como conduzir, retardar,
ou até mesmo bloquear algumas reações instintivas. Sendo capaz muitas
vezes de criar o “espaço” necessário para uma ação mais precisa e assertiva,
o que pode signi�car a diferença entre vitória e derrota.
Através de um objetivado treinamento, ela se torna capaz de adquirir o perfeito
distanciamento emocional, necessário para a tomada de decisões cruciais
em situações limítrofes, que são capazes de desestabilizar a grande maioria
das pessoas. Acostumada a lidar com ameaças físicas constantemente, e
ciente de suas capacidades físicas e mentais, para a dissolução desse tipo
de situação, ela se torna capaz de diferenciar com mais exatidão uma real
ameaça, de um simples “vascolejar de asas” de um pavão. Agindo com
muito mais tranquilidade e ponderação, o que lhe fornece uma leitura
muito mais �dedigna dos fatos, conseguindo assim, muitas vezes, evitar o
con�ito e eventuais consequências indesejadas.
REAGINDO ÀS REAÇÕES
A mente faixa preta é treinada para reagir às reações. Sendo assim, capaz de
discernir e decidir, em um tempo in�nitamente menor, algo em torno de
milésimos de segundo, o que em tratando-se de situações extremas é
praticamente uma eternidade, a melhor, mais adequada e também mais
proporcional reação.
Ela é uma atenta espectadora da ação que se desenrola à sua frente, tendo plena
consciência, e uma ampla e imparcial visão de tudo que acontece,
simultaneamente, em seu campo de abrangência. Tendo ainda, total e
imediato acesso a um privilegiado acervo, mental, motor e sobretudo
emocional, que lhe permite encontrar, na maioria das vezes, a mais
adequada “reação”.
Tanto na luta quanto na vida, o controle das reações corporais instintivas são
um delimitador da nossa acuidade mental, que é um extremo
potencializador de resultados.
CRIAR E DELIMITAR “ESPAÇO”!
Existe uma regra elementar para a execução das técnicas das artes marciais que
diz que, para que aquele que ataca seja bem-sucedido, ele deve extinguir
todos os “espaços” do adversário. Eliminando assim as possíveis rotas de
fuga, ou a liberdade para movimentos evasivos e de contra-ataques.
Diretamente proporcional à essa regra é a de que para aquele que deseja
defender-se é imperativo “criar-se” o maior espaço possível, no objetivo de
aumentar o ângulo de visada, assim como de descon�gurar a distância
adversária para o ataque e proporcionar-se assim uma “área de manobra”
para técnicas de evasão ou para o contra-ataque adequado. A habilidade
de tomar e conceder “espaço”, tanto físico quanto mental, é uma das
principais características de um verdadeiro faixa preta.
O espaço físico é tomado furtivamente através de técnicas de deslocamento e
de controle de distância, onde na maioria das vezes o que se é capaz de
perceber nunca é o que de fato é. Mudanças sutis no posicionamento
corporal, da base, e muitas vezes, imperceptíveis mudanças no centro de
gravidade, induzem o adversário a entender equivocadamente a distância
em que ele se encontra. Da mesma maneira, o correto “jogo” de
expressões corporais, e faciais, posicionamento de guarda e mudanças no
�uxo energético, como simular tensão ou relaxamento excessivo, são
capazes de burlar a “distância mental” e atrair, inadvertidamente,
adversários para uma distância (física),”fatal”, onde eles se tornam presas
fáceis e indefesas. Essa habilidade de manipular o “espaço” também é uma
das principais armas da “mente faixa preta” em diferentes situações.
CEDER PARA VENCER
Certa ocasião, o grande estadista Nelson Mandela, interpelado por um de seus
�lhos a respeito de sua impressionante, e altamente assertiva capacidade
de liderança, disse: “Tudo o que faço é sempre ser o último a falar!”
Percebam como Mandela, dono de uma das mais brilhantes “mentes faixa
preta” existentes, simplesmente concedia “espaço” para que todos à sua
volta falassem, e dessa maneira expusessem, juntamente com suas
demandas políticas, seus egos, desejos e fraquezas. E, sendo sempre o
último a falar, sempre tinha “espaço” su�ciente para por em prática a
perfeita estratégia, fosse ela de defesa, ataque ou contra-ataque.
SENTIDO CINESTÉSICO – ENTENDENDO SEU LUGAR NO ESPAÇO
“Uma subjacente percepção de si mesmo, como pessoa e como indivíduo é
paralelamente desenvolvida.”
Durante os longos anos de treinamento, estudo e desenvolvimento, percorridos
por aquele que atingiu a faixa preta, um conhecimento e um
entendimento minuciosos acerca do próprio corpo é um dos fatores
preponderantes no alcance e domínio, não só da técnica em si, mas de
tudo o que diz respeito ao entendimento daquilo que deve ser elaborado
durante o processo de aquisição de habilidades.
O estudante inicialmente deve aprender a se “conectar” com o solo, e por mais
incrível que isso possa parecer, sem esse pequeno detalhe todo o processo
�ca comprometido. Ele deve, através de um profundo entendimento de
seu posicionamento corporal, aprender a “negociar com a gravidade”,
encontrando aquilo a que chamo de “ponto de empate”, que é o
momento em que o estudante se torna capaz de perceber exatamente o
quanto a gravidade o puxa para o solo e o quanto ele deve resistir.
A partir de então, torna-se possível desenvolver uma ampla percepção, de
inúmeras cadeias musculares que “sinergicamente” trabalharão para
proporcionar um total controle postural e posicional. Uma vez entendido
isso, o próximo passo é treinar a capacidade de realizar os inúmeros
movimentos corporais que compõe a técnica de maneira sincronizada e
simultânea. Mais adiante, ele ainda deverá desenvolver a capacidade de
iniciar os movimentos de maneira uniforme e sem movimentos
intermediários, o que signi�ca absolutamente nada além do necessário. E
por �m, deve implementar mecanismos corporais de aceleração e
frenagem, instantâneos, que propiciem a aplicação das técnicas de
maneira extremamente potente, e�caz e, sobretudo, imprevisíveis. Por
intermédio desse processo ele aprende, desde sempre, a reconhecer e
pensar sistemas.
Por mais incrível que isso tudo pareça,

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