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LIBERDADE - A IDEIA QUE ESTÁ MUDANDO O NOSSO MUNDO

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Prefácio 
 
Não há como negar a importância da política nas nossas vidas. Dentre todas as coisas, 
ela é, certamente, um dos temas mais calorosamente debatidos, não porque seja, por 
natureza, um tema de maior interesse que artes ou esportes, química ou cinema, arquitetura ou 
medicina, mas porque trata do uso do poder sobre outras pessoas. 
Quando uma solução é imposta a todas as pessoas, é provável que a maioria delas se 
interesse por ela. Se você não deseja ser forçado a fazer coisas contra sua vontade – pelas 
ordens de um partido, de um político ou de um governo – é provável que você lute contra tal 
imposição. O mesmo se aplica se você desejar forçar os outros a seguirem suas ordens. 
O tema da alimentação também seria debatido ferozmente como a política se todas as 
escolhas fossem feitas de forma coletiva e fôssemos obrigados a comer o mesmo que todas as 
outras pessoas. Imagine as coalisões, manobras, esquemas e debates ferozes entre 
apreciadores da fina cozinha e viciados em fast food, vegetarianos e carnívoros, levantadores 
de peso e vigilantes de peso, se todos nós comêssemos o mesmo, nas mesmas porções. O 
mesmo se aplica a outros temas que despertam a preocupação humana. 
As ideias apresentadas neste livro oferecem uma visão alternativa da política: uma 
política não da força, mas da persuasão; do viver e deixar viver; da rejeição à subjugação e à 
dominação. Os ensaios são, sobretudo, escritos por jovens envolvidos no Students for Liberty, 
um movimento internacional dinâmico e excitante; não contemplam uma restrita perspectiva 
nacional, mas sim a vasta gama da experiência humana, oferecendo uma introdução à filosofia 
vivida pela maioria das pessoas no seu dia a dia. Esta filosofia é conhecida por diferentes 
nomes ao redor do mundo, incluindo liberalismo, liberalismo clássico (para distingui-la do que é 
chamado “liberalismo” nos Estados Unidos) e libertarianismo. É uma abordagem que é, ao 
mesmo tempo, simples e complicada, já que incorpora a ideia de que regras simples podem 
gerar ordens complexas. Essa é uma das lições mais importantes da ciência social 
contemporânea: a ordem pode emergir de forma espontânea. 
Munido de uma nova perspectiva, esse pequeno livro é um convite à reflexão sobre 
problemas importantes, destinado tanto a leigos no assunto, quanto a acadêmicos experientes. 
Espero que ambos os grupos e todos com os quais interajam tirem proveito desses ensaios. 
Eles podem ser lidos de forma aleatória, isto é, o leitor pode recorrer ao livro sem ter que lê-lo 
por inteiro. Pense nesse livro como um saudável e saboroso alimento para a mente. 
 
Tom G. Palmer 
Vilnius, Lituânia 
 
 
 
Tradução: Matheus Pacini 
Revisão: Vinícius Cintra 
 
Capitulo 1 
Por que ser libertário? 
Por Tom G. Palmer 
 
Em um livro intitulado LIBERDADE, faz sentido partir para uma explicação direta sobre o que é 
o libertarianismo e a razão pela qual as pessoas deveriam adotar a liberdade como um 
princípio de ordem social. 
Ao longo da sua vida, é bem possível que você aja como libertário. Você pode 
perguntar o que significa “agir como libertário”. Não é tão complicado. Você não agride os 
outros quando não se comportam da forma como você gostaria. Você não rouba, mente ou 
trapaceia para deles tirar vantagem, tampouco fornece direções incorretas, levando-os a cair 
de uma ponte. Você não é esse tipo de pessoa. 
Você respeita os outros e seus direitos. Você pode, às vezes, sentir vontade de dar 
um soco na cara de uma pessoa por ela ter dito algo realmente ofensivo, mas seu bom senso 
prevalece e i) você vai embora ou ii) responde palavras com palavras. Você é uma pessoa 
civilizada. 
Parabéns! Você internalizou os princípios básicos do libertarianismo. Você vive sua 
vida e exerce sua própria liberdade respeitando a liberdade e o direito dos outros. Você se 
comporta como um libertário. 
Os libertários acreditam no princípio da voluntariedade, e não no princípio da força. E 
é muito provável que você siga esse princípio nas suas relações cotidianas. 
Mas espere! O libertarianismo não é uma filosofia política, um conjunto de ideias 
sobre governo e política? Sim. Então, por que não se preocupa com os atos dos governos ao 
invés de se preocupar com atos dos indivíduos? Ah, aqui está a principal diferença entre o 
libertarianismo e outras filosofias no que tange à política. Os libertários não acreditam que o 
governo seja mágico, mas sim composto por pessoas como eu e você. Não existe uma raça 
especial de pessoas - reis, imperadores, feiticeiros, reis magos, presidentes, legisladores ou 
primeiros-ministros - com inteligência, sabedoria e poderes sobrenaturais. Na maioria das 
vezes, os governantes, mesmo quando democraticamente eleitos, preocupam-se menos com o 
interesse público que o cidadão comum. Não existe evidência de que sejam menos egoístas 
que outras pessoas, ou mais altruístas. E não existe evidência de que estão mais preocupados 
com o certo e o errado que o cidadão comum. Eles são como nós. 
Mas espere! Os líderes políticos efetivamente exercem poderes que as outras 
pessoas não têm. Eles exercem os poderes de prisão, de declaração de guerras, de violência 
contra os cidadãos, de legislação sobre o que elas podem ler, a quem podem prestar culto, 
com quem podem casar, o que podem comer, beber, fumar, no que podem trabalhar, onde 
podem viver, em qual escola podem estudar, se podem viajar, quais tipos de bens e serviços 
podem vender ou comprar e muito mais. Eles certamente exercem poderes indisponíveis ao 
restante da sociedade. 
Precisamente. Eles detêm oficialmente o poder da força – é o que distingue o 
governo das outras instituições. Contudo, eles não têm poder de percepção, intuição ou 
previsão igual ao do restante da população, muito menos padrões de certo e errado acima da 
média. Alguns podem ser mais espertos que a média; outros, talvez, até menos inteligentes, 
mas não existe evidência de que eles sejam realmente superiores ao restante da humanidade 
de tal forma que justificasse uma relação de seres superiores e seres inferiores. 
Por que eles utilizam a força, enquanto o restante de nós utiliza a persuasão 
voluntária nas nossas relações sociais? Os detentores do poder político não são anjos ou 
deuses, então, por que reivindicam o direito a exercer poderes indisponíveis aos outros 
membros da sociedade? Por que deveríamos nos submeter ao uso da força? Se eu não tenho 
autoridade para invadir a sua casa para lhe dizer o que você deveria comer, fumar, a que horas 
ou com quem você deveria dormir, por que deveria um político, ou um burocrata, ou um oficial 
do exército, ou um rei, ou um governador ter essa autoridade? 
Consentimos em ser coagidos? 
 
Mas nós somos o governo, não somos? Pelo menos numa democracia, como alguns 
filósofos talentosos (por exemplo, Jean-Jacques Rousseau) argumentaram, nós consentimos 
com tudo que o governo nos diz para fazer ou não. O governo atende a “vontade geral” das 
pessoas, isto é, põe em prática nossa própria vontade. Assim, quando o governo utiliza a força 
contra nós, está simplesmente nos forçando a ser livres, fazendo-nos seguir nossas próprias 
vontades, e não o que pensamos serem nossas vontades. Como Rousseau argumentou no 
seu influente livro, The Social Contract (tradução oficial, O Contrato Social), “Resulta do 
precedente que a vontade geral é sempre reta e tende sempre para a utilidade pública; mas 
não significa que as deliberações do povo tenham sempre a mesma retitude... Há, muitas 
vezes, grande diferença entre a vontade de todos e a vontade geral "1. 
Na sua teoria, Rousseau combinou força com liberdade: “quem se recusar a 
obedecer à vontade geral a isto será constrangido pelo corpo em conjunto, o que apenas 
significa que será forçado a ser livre”2. Afinal, você não sabe o que você realmente quer até 
que o Estado tenha decidido, então,quando você pensa que você quer fazer algo, mas é 
impedido pela polícia e preso, você está sendo libertado. Você foi iludido a pensar que queria 
desobedecer ao Estado, a polícia estava meramente ajudando você a escolher o que você 
realmente queria, mas era estúpido, ignorante, leviano ou fraco para saber que queria. 
O debate pode estar se tornando excessivamente metafísico, portanto, vamos voltar 
um pouco e pensar no que está sendo dito pelos defensores da regra da maioria. De alguma 
forma, por meio das eleições e outros procedimentos, nós conhecemos a “vontade do povo”, 
mesmo que algumas das pessoas possam não concordar (pelo menos aqueles que votaram no 
perdedor não concordaram com a maioria). Os perdedores (a minoria) serão coagidos a 
respeitar a vontade da maioria, digamos, não consumindo álcool ou maconha, ou pagando 
tributos para o financiamento de coisas que não querem, tais como guerras ou subsídios a 
influentes grupos econômicos. A maioria votou a favor da lei que proíbe X ou exige Y, ou para 
candidatos que prometeram banir X ou exigir Y, e assim nós conhecemos a “vontade do povo”. 
E se alguém ainda beber uma cerveja, fumar um baseado ou mentir sobre sua renda ao Fisco, 
aquela pessoa não está, de alguma forma, seguindo a vontade do povo, com a qual ela 
consentiu. Vamos aprofundar mais a questão. 
Vamos supor que uma lei proibicionista entrou em vigor e você votou a favor dessa lei 
ou do candidato que a propôs. Alguns diriam que você consentiu em respeitar o resultado. E se 
votou contra ela ou em um candidato contrário à proibição? Bem, eles acrescentariam, você 
participou do processo pelo qual a decisão foi tomada, de forma que você consentiu em 
respeitar o resultado. E se você não votou ou não tinha uma opinião? Bem, eles 
acrescentariam, você certamente não pode reclamar agora, posto que você perdeu a sua 
chance de influenciar o resultado por não ter votado! Há muito tempo, Herbert Spencer fez uma 
observação sobre esses argumentos: “curiosamente, parece que você consentiu com qualquer 
ação que o político tomou – dizendo sim, não ou permanecendo neutro. Que terrível doutrina.3” 
Terrível, realmente. Se você sempre “consentir”, independente do que você de fato diz ou faz, 
então o termo “consentir” nada significa, porque o seu significado é, ao mesmo tempo, “não-
consentir” e “consentir”. Quando isso ocorre, uma palavra perde o seu significado. 
O fato é que uma pessoa presa por fumar maconha na sua própria casa não 
consentiu, de nenhuma forma significativa, em ser presa. É por isso que os policiais carregam 
cassetetes e armas – para nos ameaçar com violência. 
Mas talvez aqueles poderes sejam delegados ao governo pelas pessoas, então, se as 
pessoas pudessem escolher não fumar maconha, então poderiam escolher prender-se a si 
mesmas. Mas se você não tem a autoridade para, armado, quebrar a porta e invadir a casa do 
seu vizinho, expulsando-o de casa e o prendendo, como você pode delegar tal poder a um 
terceiro? Assim, voltamos à afirmação mágica de que seus vizinhos que fumam maconha 
autorizaram sua própria prisão, independente da opinião que expressaram, ou de como se 
comportaram. 
 
1 ROUSSEAU, Jean-Jacques. The Social Contract. Trad. Alan Cranston. New York: Penguin Books, 1968). p. 72. 
2 Ibidem, p. 64. 
3 O texto completo dessa passagem memorável de Spencer, publicada no seu ensaio The Right to Ignore the State 
(tradução livre, o Direito de Ignorar o Estado) é: “Talvez será dito que esse consentimento não é específico, mas geral, 
e que se entende que o cidadão concorda com tudo que seu representante possa fazer, já que votou para ele. Mas 
suponha que ele não tenha votado para ele; e, pelo contrário, fez tudo em seu poder para eleger alguém com visões 
opostas – e então? A resposta provavelmente seria que, por tomar parte em uma eleição, ele tacitamente concordou 
em respeitar a decisão da maioria. E se ele não tivesse votado? Ele não poderia legitimamente reclamar de qualquer 
tributo, visto que não protestou contra sua imposição. Então, curiosamente, parece que ele deu seu consentimento a 
qualquer forma de ação – se ele disse sim, se ele disse não, ou se permaneceu neutro! Uma doutrina bastante 
desagradável! Aqui está um cidadão infeliz ao qual é solicitado o pagamento por certa vantagem apresentada; e 
mesmo se expressar sua discordância ou não, diz-se que ele praticamente concorda, já que o número de pessoas que 
concordam é maior que o número de pessoas que discordam. Logo, somos introduzidos ao recente princípio que o 
consentimento de A não é determinado pelo que A diz, mas pelo que B pode vir a dizer! SPENCER, Herbert. Social 
Statics: or, The Conditions essential to Happiness specified, and the First of them Developed. London: John 
Chapman, 1851, cap XIX. Acessado em: http://oll.libertyfund.org/title/273/6325 on 2013-03-23 
 
Mas talvez simplesmente o ato de viver em um país signifique que você consentiu 
com tudo que o governo demanda de você. Afinal de contas, se você for a minha casa, você 
certamente concorda em respeitar minhas regras; todavia, um “país” não é exatamente igual à 
“minha casa”. Eu sou dono de minha casa, porém não do país onde vivo. Ele é composto por 
muitas pessoas que têm suas próprias ideias e seu estilo de vida. E elas não me pertencem. 
Essa é a constatação mais importante de pessoas maduras: as outras pessoas não me 
pertencem. Elas têm as suas próprias vidas. Você, como uma pessoa madura, entende isso e 
suas ações refletem tal fato. Você não invade as casas dos outros para dizer-lhes como viver. 
Você não rouba os bens do seu vizinho quando acha que você tem um uso melhor para eles. 
Você não agride, esmurra ou atira em pessoas que discordem de você, mesmo sobre questões 
de grande importância. Então, se você já age como libertário, talvez você devesse ser um. 
O que significa ser um libertário? 
 
Não significa somente abster-se de infringir os direitos de outras pessoas, isto é, 
respeitar as regras da justiça com respeito às outras pessoas, mas também equipar-se 
mentalmente para compreender o que significam os direitos das pessoas, como os direitos 
estabelecem as fundações para a cooperação social pacífica, e como as sociedades 
voluntárias funcionam. Significa defender não somente a sua própria liberdade, mas a 
liberdade de outras pessoas. Joaquim Nabuco, grande pensador brasileiro, dedicou sua vida à 
abolição da maior violação imaginável da liberdade: a escravidão. Ele relatou o credo libertário 
que guiou sua própria vida nessas palavras: 
 
Eduquem os seus filhos, eduquem-se a si mesmos, no amor da liberdade alheia, único 
meio de não ser a sua própria liberdade uma doação gratuita do destino, e de 
adquirirem a consciência do que ela vale, e coragem para defendê-la4. 
 
Ser um libertário significa preocupar-se com a liberdade de todos. Significa respeitar 
os direitos dos outros, mesmo quando discordamos de suas palavras e ações. Significa evitar o 
uso da força e, em vez disso, alcançar seus objetivos - seja a felicidade pessoal, a melhoria da 
condição da humanidade ou o conhecimento, ou todos eles, ou outra coisa, exclusivamente por 
meio da ação voluntária e pacífica, seja no mundo capitalista do livre mercado, ou na ciência, 
na filantropia, na arte, no amor, na amizade ou em qualquer outro empreendimento humano 
orientado pelas regras da cooperação voluntária. 
Ceticismo com relação ao poder e à autoridade 
 
Ser um libertário significa compreender que os direitos estão seguros somente 
quando o poder é limitado. Direitos requerem o estado de direito. John Locke, filósofo radical 
e ativista inglês, ajudou a lançar as bases para o mundo moderno. Ele argumentou contra os 
defensores do “absolutismo”, que acreditavam que os governantes deveriam possuir poderes 
ilimitados. Aqueles que defendiamo poder absoluto afirmavam que se as pessoas tivessem 
“liberdade”, cada uma faria o que bem entenderia, isto é, qualquer coisa que se sentisse 
inclinada a fazer, por questões de capricho e sem nenhuma preocupação com relação às 
consequências ou os direitos dos outros. 
 Locke respondeu que o objetivo do partido da liberdade era “a liberdade de 
dispor e ordenar, como o indivíduo desejar, sua pessoa, ações, posses e toda sua propriedade, 
dentro do limite estabelecido pelas leis; e, dessa maneira, não estar sujeito à vontade arbitrária 
do outro, seguindo livremente a sua vontade”5. O indivíduo tem o direito a fazer o que quiser 
com o que é seu – seguir livremente sua vontade em vez das ordens do outro, contanto que 
respeite os direitos iguais dos outros a fazê-lo. 
O filósofo Michael Huemer fundamenta o libertarianismo no que ele chama de 
“moralidade do senso comum”, que consiste de três elementos: “um princípio de não agressão” 
que proíbe os indivíduos de atacar, matar, roubar ou enganar a outrem; “o reconhecimento da 
natureza coerciva do governo... a qual é amparada por ameaças credíveis de força física 
direcionada contra aqueles que desobedeceriam ao Estado”; e um ceticismo quanto à 
autoridade política... que o Estado não poderia fazer o que seria errado para qualquer pessoa 
 
4 NABUCO, Joaquim. O abolicionismo. São Paulo: Publifolha, 2000. p. 204. 
5 LOCKE, John. The Second Treatise of Government. In Two Treatises of Government, ed. Peter Laslett (1690; 
Cambridge: Cambridge University Press, 1988). p. 306. 
 
ou organização não governamental fazer”6. Como ele nota, “é a noção de autoridade que forma 
o verdadeiro lócus de disputa entre o libertarianismo e outras filosofias políticas”7. 
 
Liberdade, prosperidade e ordem 
 
Ser um libertário significa entender como a riqueza é criada; não por políticos que dão 
ordens, mas sim por pessoas livres que trabalham em conjunto, inventam, criam, poupam, 
investem, compram e vendem - ações que se baseiam no respeito à propriedade, isto é, os 
direitos dos outros. O termo “propriedade” não se limita somente “as minhas coisas”, como 
alguns usariam o termo atualmente, mas englobam os direitos à “vida, liberdade e 
propriedade”, parafraseando Locke8. Como argumentou James Madison, principal autor da 
Constituição dos Estados Unidos, “Se dizemos que um homem tem direito a sua propriedade, 
igualmente se pode afirmar que ele tem uma propriedade nos seus direitos”9. 
Amor e afeição podem ser suficientes para a cooperação pacífica e eficiente de 
pequenos grupos, contudo, os libertários entendem que não são suficientes para gerar paz e 
cooperação entre grandes grupos de pessoas que não interagem frente-a-frente. Os libertários 
acreditam no estado de direito, isto é, nas regras que são aplicáveis a todas as pessoas, não 
sendo flexibilizadas ou manipuladas em prol das preferências de quem está no poder. As 
regras das sociedades livres não são criadas em benefício dessa ou doutra pessoa ou grupo: 
elas respeitam os direitos de todos os seres humanos, independente de gênero, cor, religião, 
idioma, família ou outra característica acidental. 
As regras de propriedade estão entre as bases mais importantes da cooperação 
voluntária entre desconhecidos. Propriedade não é somente o que você pode tocar com as 
mãos; são as relações complexas de direitos e obrigações pelas quais as pessoas que não se 
conhecem podem guiar suas ações e que lhes permitem viver pacificamente, cooperar em 
firmas e associações, e negociar para o benefício mútuo, porque sabem que a base de 
referência – o que é meu e o que é seu – a partir da qual cada indivíduo pode agir para 
melhorar sua condição. Direitos de propriedade transferíveis, bem definidos e legalmente 
seguros formam a base para a cooperação voluntária, prosperidade generalizada, progresso e 
paz10. 
Richard Epstein, professor de Direito e libertário, utilizou como título de um dos seus 
melhores livros Simple Rules for a Complex World11 (tradução livre, Regras Simples para um 
Mundo Complexo). O título captura de forma brilhante seu tema, que você não necessita de 
regras complexas para gerar formas complexas de ordem. Regras simples são suficientes. Na 
verdade, regras simples, compreensíveis e estáveis tendem a gerar a ordem, enquanto que 
regras complicadas, incompreensíveis e flutuantes tendem a gerar o caos. 
Direitos de propriedade devidamente delimitados e o direito ao comércio em termos 
mutualmente benéficos tornam possível a cooperação em larga escala sem coerção. O livre 
mercado incorpora mais, não menos, ordem e previsão que sociedades sob o planejamento 
central. A ordem espontânea dos mercados é muito mais abstrata, complexa e previdente que 
quaisquer planos quinquenais ou intervenções econômicas já concebidas. Instituições como 
preços, que emergem quando as pessoas comercializam livremente, ajudam a direcionar 
 
6 HUEMER, Michael. The Problem of Political Authority. New York: Palgrave Macmillan, 2013). p. 177. 
7 Ibidem, p. 178. 
8 Ibidem, p. 323. Locke identificou a raiz da propriedade em toda e cada pessoa: “Cada homem é proprietário da sua 
própria pessoa. Sobre esta, ninguém, a não ser ele mesmo, tem qualquer direito”. Ibidem, p.287 
9 MADISON, James. Property. In The Papers of James Madison. Charlottesville: University Press of Virginia. p. 266. A 
declaração completa - disponível online em http://oll.libertyfund.org/title/875/63884 - é a seguinte: “Esse termo na sua 
aplicação particular significa “aquele domínio no qual um indivíduo clama e exerce sua vontade sobre as coisas 
externas do mundo, à exclusão de todos os outros indivíduos”. No seu mais justo e amplo significado, abraça tudo a 
que um indivíduo pode conceder valor e ter um direito; e o qual deixa todos os outros indivíduos com a vantagem. No 
sentido forma, a terra, bem ou dinheiro de um homem é chamado de sua propriedade. No sentido subjacente, um 
homem tem propriedade e livre comunicação de suas opiniões. Ele tem propriedade de valor particular nas suas 
opiniões religiosas, e na profissão ou prática da mesma. Ele tem uma propriedade muito querida na sua segurança e 
liberdade. Ele tem uma propriedade igual no livre uso de suas faculdades e na livre escolha dos objetos nos quais as 
empregarão. Em uma palavra, como é dito que um homem tem direito a sua propriedade, ele pode igualmente ter 
propriedade sobre os seus direitos”. 
10 Os dados coletados por décadas pelos pesquisadores do Fraser Institute no Economic Freedom of the World Report 
e disponibilizados online no www.freetheworld.com mostram claramente que maior liberdade gera melhores resultados 
em todos os lugares, seja na Europa ou Ásia, África ou América Latina. 
11 Richard Epstein, Simple Rules for a Complex World. Cambridge, Mass: Harvard University Press, 1995. 
recursos aos seus usos mais valiosos, sem atribuir poder coercivo a uma burocracia12. O 
“planejamento” imposto de forma coerciva é, na verdade, o oposto de planejamento; é uma 
ruptura do processo contínuo de coordenação de planos, materializado nas instituições sociais 
desenvolvidas livremente. 
A ordem emerge de forma espontânea como produto das interações voluntárias de 
pessoas que estão seguras no pleno gozo dos seus direitos. Isso não se aplica somente à 
ordem econômica, mas também ao idioma, costumes sociais, tradições, ciência e mesmo em 
áreas como a moda e estilo. Usar a força na tentativa de sujeitar uma ou todas essas áreas à 
vontade arbitrária de um governante, ditador, presidente, comitê, legislatura ou burocracia 
significa substituir a ordem pelo caos, liberdade pela força e harmonia pela discórdia. 
Os libertários acreditam e trabalham por um mundo de paz, no qual os direitos de 
cada ser humano são reconhecidos e respeitadosna sua plenitude, um mundo no qual a 
prosperidade amplamente compartilhada é gerada por meio da cooperação voluntária, baseada 
em um sistema legal que protege direitos e facilita trocas mutualmente benéficas. Os libertários 
acreditam e trabalham para a restrição do poder, para a sujeição do (até agora) poder arbitrário 
ao estado de direito, para a limitação e minimização da violência de todos os tipos. Os 
libertários acreditam e lutam pela liberdade de pensamento e de comportamento, desde que 
respeite a igual liberdade dos outros. Os libertários acreditam e trabalham por um mundo no 
qual cada pessoa é livre para buscar sua própria felicidade, sem necessitar da permissão para 
ser, agir e viver. 
Então, por que ser libertário? 
 
Por que ser libertário? Pode parecer um pouco superficial, mas uma resposta 
razoável é, por que não? Assim como o ônus da prova está com quem acusa alguém de um 
crime, não com o acusado, o ônus da prova está com quem nega a outrem a liberdade, não 
com quem exerce a liberdade. Alguém que deseja cantar uma música ou assar um bolo não 
deveria começar pedindo permissão a todas as outras pessoas do mundo para fazê-lo. 
Tampouco teria que refutar todas as possíveis razões contrárias ao cantar e ao assar. Se ela 
deve ser proibida de cantar ou assar, quem procura proibí-la deveria oferecer uma boa razão 
para justificar tal proibição. O ônus da prova está com quem proíbe. É possível que seja um 
ônus que poderia ser cumprido se, por exemplo, a cantoria fosse tão alta que tornaria 
impossível o sono dos outros ou se o cozimento gerasse tantas faíscas, podendo incendiar as 
casas dos vizinhos. Essas seriam boas razões para a proibição da cantoria ou do cozimento. A 
presunção, contudo, é em prol da liberdade, não do exercício do poder para a restrição da 
liberdade. 
Libertário é alguém que acredita na presunção da liberdade. E com essa simples 
presunção, quando realizada na prática, surge um mundo no qual pessoas diferentes podem 
descobrir suas próprias formas de felicidade da maneira que quiserem, na qual as pessoas 
podem comercializam de forma livre em benefício mútuo, e onde divergências são resolvidas 
com palavras e não com cassetetes. Não seria um mundo perfeito, mas pelo qual vale a pena 
lutar. 
 
 
 
12 A ciência econômica surgiu centenas de anos atrás quando as pessoas notaram que países com mercados mais 
livres tendiam a ser mais organizados e prósperos, e que os ministros dos reis não eram necessários para coordenar a 
oferta e a demanda. Como o historiador Joyce Appleby notou, “analistas econômicos tinham descoberto a regularidade 
subjacente do livre mercado. Onde moralistas tinham há muito instado que a necessidade não tem lei, os analistas 
econômicos que analisavam o preço pela demanda tinham descoberto uma legitimidade na necessidade, e assim, 
depararam-se com uma possibilidade e uma realidade. A realidade: as decisões dos indivíduos quanto a sua vida e 
propriedade eram os determinantes do preço no mercado. A possibilidade: o racionalismo econômico dos participantes 
do mercado poderia prover ordem à economia, anteriormente segura pela autoridade”. APPLEBY, Joyce. Economic 
Thought and Ideology in Seventeenth-Century England. Princeton, N.J: Princeton University Press, 1978), p. 187–
88. 
Capítulo 2 
Não Deveria Haver uma Lei 
Por John Stossel 
 
Quando as pessoas detectam um problema, a solução automática é: aprove uma lei. Isso nem 
sempre funciona, porque a força raramente muda as coisas para melhor, e disso que realmente 
tratam aquelas “leis”: somente exercícios de poder. John Stossel iniciou sua carreira no 
jornalismo investigativo como jornalista econômico, trabalhou para a ABC News, foi co-âncora 
do programa 20/20, e agora é diretor de jornalismo na Fox Business News. Seu show 
STOSSEL foi gravado duas vezes na Conferência Internacional do Students for Liberty. 
 
Eu sou libertário, em parte, pela falsa escolha entre o que é oferecido pela esquerda 
(controle governamental da economia) versus o que é oferecido pela direita (controle 
governamental da vida particular). 
Pessoas em ambos os lados se declaram amantes da liberdade. A esquerda pensa 
que o governo pode reduzir a desigualdade de renda. A direita pensa que o governo pode 
tornar os americanos mais virtuosos. Eu acredito que seja melhor se nenhum dos lados tentar 
implementar sua agenda política via governo. 
Permita que ambos argumentem sobre coisas como o uso de drogas e a pobreza, 
mas não permita que alguém seja coagido pelo governo ao menos que roube ou ataque a 
outrem. Além do pequeno orçamento necessário para financiar um governo altamente limitado, 
não permita que alguém tome pela força o dinheiro dos outros. Na dúvida, deixe como está – 
ou deixe que o mercado e outras instituições voluntárias resolvam a situação. 
No entanto, a maioria das pessoas não pensa assim. A maioria das pessoas vê um 
mundo repleto de problemas que podem ser resolvidos por leis. Elas assumem que é somente 
a preguiça, a estupidez ou a indiferença dos políticos que os impedem de resolver nossos 
problemas. Mas o governo é força – e ineficiência. 
É por isso que seria melhor se o governo não tentasse resolver a maioria dos 
problemas da vida. 
As pessoas tendem a acreditar que “o governo pode!”. Quando os problemas surgem, 
elas dizem, “deveria haver uma lei!”. 
Mesmo o colapso da União Soviética, causado pelos terríveis resultados do 
planejamento central, não chocou o mundo a ponto de abandonar a máquina pública inchada. 
A Europa começou a falar de algum tipo de “socialismo de mercado”. Políticos nos Estados 
Unidos sonharam com uma “terceira via” entre o capitalismo e o socialismo - um “capitalismo 
centralizado” – onde políticos frequentemente substituem a mão invisível. 
George W. Bush concorreu à presidência com a promessa de um governo 
“equilibrado”, mas decidiu aprovar a expansão de US$ 50 bilhões de dólares do Medicare e 
estabelecer um programa de educação pública chamado No Child Left Behind (tradução livre, 
Nenhuma Criança Deixada para Trás). Sob Bush, os republicanos dobraram os gastos 
discricionários (o maior aumento desde Lyndon Johnson), expandindo a guerra às drogas e 
contratando 90 mil novos reguladores. 
Os aumentos de regulamentações na era Bush não suavizaram a demanda da mídia 
por mais regulação. 
Logo após veio Barack Obama, com gastos suficientes para falir todos os nossos 
filhos. Tal fato impulsionou o Tea Party e as eleições de 2010. 
O Tea Party me deu esperanças, contudo, fui enganado novamente. Dentro de 
alguns meses, os republicanos da ala fiscalmente conservadora votaram a favor da 
manutenção dos subsídios agrícolas, juraram “proteger” o Medicare, e se encolheram quando o 
futuro vice de Romney, senador Paul Ryan, propôs seu tímido plano de redução do déficit 
público. 
É lamentável que os Estados Unidos, fundado em parte sob princípios libertários, não 
consigam admitir que o governo cresceu demais. Países do Leste Asiático adotaram os 
mercados e prosperaram. A Suécia e a Alemanha liberalizaram seus mercados de trabalho e 
prosperaram do ponto de vista econômico e social. 
Mas nós continuamos a aprovar novas regras. 
Aqui o inimigo é a intuição humana. Em meio às grandes recompensas do mercado, é 
fácil considerar os benefícios do mercado como algo normal. Eu posso viajar a outro país, 
inserir um pedaço de plástico em uma parede, e retirar dinheiro. Eu posso dar o mesmo 
pedaço de plástico a um estranho que nem fala o meu idioma– e poderei alugar um carro por 
uma semana. Quando eu chegar em casa, a Visa ou a MasterCard enviarão um extrato – exato 
até nos centavos. Consideramos tudo isso como algo normal. 
O governo, por outro lado, não consegue nem contar os votos de forma precisa. 
Ainda assim, sempre que há problemas,as pessoas recorrem ao governo. Apesar do 
grande histórico de fracasso dos planejadores centrais, poucos de nós gostam de pensar que o 
governo que está acima de nós, levando o crédito por tudo, poderia ser tão corrupto. 
O grande libertário do século XX, H.L. Mencken, lamentava: “No fundo, um governo 
não é nada mais que um grupo que, na prática e em sua maioria é composta por homens 
inferiores... mesmo assim, esses insignificantes, pela preguiça intelectual dos homens em 
geral... são geralmente obedecidos como uma questão de dever... (e) supostamente detentores 
de um tipo de sabedoria superior à sabedoria comum”. 
Não há nada que o governo possa fazer que não possamos fazer melhor como 
indivíduos livres – e como grupos de indivíduos trabalhando juntos, de forma livre e voluntária. 
Sem o grande governo, nossas possibilidades são ilimitadas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Capítulo 3 
Libertarianismo como centrismo radical 
Por Clark Ruper 
 
Por muitos anos, tem sido comum pensar sobre o espectro contínuo do pensamento político 
como “de esquerda” ou de “de direita”. O libertarianismo se enquadra nesse espectro, da forma 
como é tradicionalmente apresentado? Clark Ruper, vice-presidente do Students for Liberty, 
sugere uma nova abordagem à reflexão sobre a relação entre ideias políticas concorrentes e 
como o libertarianismo oferece um referencial para grande parte da discussão e debate 
contemporâneos. Ruper é graduado em História pela Universidade de Michigan em Ann Arbor. 
O espectro politico esquerda-direita é a introdução padrão ao pensamento político: se 
você acredita em X, você é “de esquerda”, e se você acredita em Y, você é “de direita”. O que 
X e Y representam varia de acordo com quem você fala; sua invocação encoraja as pessoas a 
se posicionarem nesse espectro, por mais que suas opiniões não as posicionam em um local 
específico do mesmo. A proposição torna-se particularmente absurda quando ouvimos que “os 
dois extremos se encontram, tornando o espectro um círculo”, com suas formas rivais de 
coletivismo violento em cada extremo. Então, no seu primeiro contato com o liberalismo 
clássico ou libertarianismo, você pode se perguntar em qual extremo do espectro essa filosofia 
se enquadra. A resposta é clara: em nenhum dos dois. 
Inerente às ideias da liberdade está a rejeição do espectro padrão esquerda-direita. O 
libertarianismo é uma ideologia que questiona e desafia o uso do poder político. Em vez de 
uma escolha entre intervenção governamental nessa ou naquela área, o libertarianismo vê a 
política como um conflito da liberdade contra o poder. Os libertários levam muito a sério a lição 
do historiador Lord Acton: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto tende a corromper 
absolutamente”13. O libertarianismo não se enquadra em extremo algum do espectro, onde há 
defensores de um tipo de poder coercivo ou outro. 
O tradicional espectro esquerda-direita mostra o comunismo em um extremo e o 
fascismo noutro, a proibição ao fumo de um lado e a proibição à maconha do outro, e leis 
regulando a livre expressão em um extremo e... leis regulando a livre expressão noutro. Então, 
qual é coerente e qual é incoerente, o espectro tradicional ou o libertarianismo? Você pode 
decidir por si mesmo. 
De certa forma, se insistíssemos em um espectro linear, poder-se-ia dizer que os 
libertários ocupam o centro radical do discurso político. Os libertários são radicais em sua 
análise – nós vamos ao fundo das questões – e acreditamos nos princípios da liberdade. 
Poderiam nos chamar de centristas no sentido de que, do centro, projetamos nossas ideias 
para fora e influenciamos partidos e ideologias políticas em ambos os lados do espectro. Como 
resultado, as ideais libertárias permeiam tanto a centro-esquerda quanto a centro-direita, 
brindando-lhes suas qualidades mais atraentes. Além disso, uma porcentagem cada vez maior 
de cidadãos em muitos países deveria ser considerada como libertários, em vez de “de direita” 
ou “de esquerda”14. 
O libertarianismo é uma filosofia política centrada na importância da liberdade 
individual. Um libertário pode ser “socialmente conservador” ou “socialmente progressista”, 
urbano ou rural, religioso ou ateu, abstêmio ou bebedor, casado ou solteiro... assim por diante. 
O que une os libertários é uma adesão à presunção da liberdade nas questões humanas que, 
nas palavras de David Boaz, do Cato Institute, “é o exercício de poder, não o exercício da 
liberdade, que requer justificação”15. Os libertários são defensores consistentes do princípio da 
liberdade e são capazes de trabalhar com uma grande variedade de pessoas e grupos em 
questões na quais a liberdade individual, paz e governo limitado estão envolvidos. 
O centrismo radical libertário influenciou bastante o mundo moderno, como observou 
o jornalista Fareed Zakaria: 
 
Diz-se que o liberalismo clássico já saiu de cena. Se assim for, seu epitáfio será o 
mesmo que o de Christopher Wren, gravado no seu monumento na St. Paul’s 
Cathedral: si monumentum requiris, circumspice (tradução livre: se você está 
 
13 DALBERG, John Emerich Edward (Lord Acton). Historical Essays and Studies. Edit. por John Neville Figgis and 
Reginald Vere Laurence. London: Macmillan, 1907. cap. Apêndice. Carta ao Bispo Creighton, disponível em 
http://oll.libertyfund.org/title/2201/203934. 
14 Para o caso dos eleitores norte-americanos, veja BOAZ, David; KIRBY, David; EAKINS, Emily. The Libertarian 
Vote: Swing Voters, Tea Parties, and the Fiscally Conservative, Socially Liberal Center. Washington, DC: Cato 
Institute, 2012. 
15 An Introduction to Libertarian Thought: vídeo disponível em www.libertarianism.org/introduction. 
procurando por um monumento, olhe ao seu redor). Considere o mundo no qual 
vivemos – secular, científico, democrático, da classe média. Goste você ou não, é um 
mundo moldado pelo liberalismo. Nos últimos 200 anos, o liberalismo (com seu 
poderoso aliado, o capitalismo) destruiu uma ordem que tinha dominado a sociedade 
humana por dois milênios – a da autoridade, religião, costumes, feudos e reis. Desde 
seu nascimento na Europa, o liberalismo se espalhou para os Estados Unidos e hoje 
está reconstruindo grande parte da Ásia16. 
 
O libertarianismo (denominação contemporânea do liberalismo clássico de princípios) 
já provocou alterações profundas no mundo moderno. Em grande parte do mundo, muitas 
batalhas já foram travadas e, em muitos lugares, vencidas: separação da Igreja e do Estado, 
limitação do poder por meio de constituições; liberdade de imprensa; destituição do 
mercantilismo e sua substituição pelo livre comércio; a abolição da escravidão; a liberdade 
pessoal e a tolerância legal às minorias - sejam elas religiosas, étnicas, linguísticas ou sexuais; 
proteção dos direitos de propriedade; a derrota do fascismo, das leis de Jim Crow, do apartheid 
e do comunismo. É impossível numerar os muitos intelectuais e ativistas que tornaram essas 
vitórias possíveis, mas eles tornaram o mundo melhor – mais justo, mais pacífico e mais livre. 
Eles também consolidaram a posição libertária naquelas e muitas outras questões de forma a 
estabelecer um discurso político razoável. E, para os jovens de hoje, como no caso das 
gerações passadas, existem muitas batalhas a serem travadas e liberdades a serem 
conquistadas. 
Como os libertários obtiveram tamanha influência enquanto operando, sobretudo, fora 
da estrutura partidária? Às vezes, formamos nossos próprios partidos, como evidenciado pelos 
diversos partidos de cunho liberal clássico na Europa e em outros países. Às vezes, 
trabalhamos dentro de partidos menores, como dentro do partido libertário norte-americano, 
cujo candidato à presidência, o governador Gary Johnson, educoumilhões sobre os danos 
causados pela guerra às drogas e outros programas governamentais. Às vezes, trabalhamos 
dentro das estruturas partidárias, como exemplificado pelas campanhas à presidência do 
republicano Ron Paul em 2008 e 2012. Ele foi capaz de divulgar muitos princípios libertários a 
milhares de jovens por meio de sua campanha política, não somente nos Estados Unidos, mas 
ao redor do mundo. Enquanto nosso ativismo político toma várias formas dependendo do país 
e do contexto, nossas ideias influenciam o espectro político. 
Considere os Estados Unidos da década de 1960, considerada a era de ouro do 
ativismo estudantil radical nos Estados Unidos. Na direita, você tinha o movimento conservador 
Young Americans for Freedom (YAF). A declaração de princípios do YAF, chamada de Sharon 
Statement, por ter sido proclamada na cidade de Sharon, Connecticut, em 1960, clamava “que 
a liberdade é indivisível, e que a liberdade política não pode resistir por muito tempo sem a 
liberdade econômica; que o propósito do governo é proteger aquelas liberdades por meio da 
preservação da ordem interna, a provisão da defesa nacional, e a administração da justiça; que 
quando o governo se aventura além dessas funções legítimas, ele acumula poder, o que tende 
a diminuir a ordem e a liberdade”17 Seu herói, o senador Barry Goldwater, no seu discurso à 
nação, afirmou: “Eu lhes recordaria que o extremismo na defesa da liberdade não é um vício. E 
me permitam relembrar-lhes também que a moderação na busca da justiça não é uma 
virtude”18. 
Ao mesmo tempo, o Students for a Democratic Society (SDS) estava emergindo na 
esquerda, como líderes do movimento antiguerra. No seu Port Huron Statement, que foi 
adotado em 1962, eles afirmaram: “nós consideramos os homens como infinitamente preciosos 
e possuidores de capacidades não satisfeitas de razão, liberdade e amor. O declínio da utopia 
e da esperança é, na verdade, uma das principais características da vida social atual. As 
razões são diversas: os sonhos da antiga esquerda foram contaminados pelo stalinismo e 
nunca recriados... os horrores do século XX, simbolizados nos campos de concentração, 
câmaras de gás e bombas atômicas, destruíram a esperança. Ser idealista é ser considerado 
apocalíptico, iludido”19. 
O ex-presidente da SDS, Carl Ogelsby, lembrou em seu livro de memórias, Ravens in 
the Storm (tradução livre: Corvos na Tempestade), “O libertarianismo é um canal pelo qual um 
 
16 ZAKARIA, Fareed. The 20 Percent Philosophy, Public Interest 129 (Fall 1997), p. 96–101. In Tom G. Palmer, 
“Classical Liberalism and Civil Society,” In Realizing Freedom: Libertarian Theory, History, and Practice. 
Washington, DC: Cato Institute, 2009, p. 221. 
17 Sharon Statement, disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Sharon_Statement. 
18 Discurso de aceitação de Barry Goldwater (1964), disponível em www.washingtonpost.com/wp-
srv/politics/daily/may98/goldwaterspeech.htm. 
19 Port Huron Statement, disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Port_Huron_Statement. 
indivíduo pode dialogar tanto com a direita quanto com a esquerda, o que era exatamente o 
que eu estava tentando fazer... por que se dirigir aos direitistas sobre um tema quando existem 
tantos esquerdistas a quem recorrer? Pois você teria um caso mais forte contra a guerra se 
pudesse mostrar que tanto a direita como a esquerda opõem-se a ela”20. Além disso, “eu tinha 
decidido, desde o princípio, que fazia sentido falar de “centrismo radical’ e ‘moderação 
militante’. Minha opinião é que deveríamos ser radicais na nossa análise, mas centristas na 
aproximação com os conservadores”21. 
Enquanto variavam nas suas áreas de atuação – YAF na liberdade econômica e 
oposição ao socialismo; SDS nos direitos civis e paz – como um todo, eles podem ser 
considerados como pioneiros do ativismo libertário na era moderna. Os líderes desses 
movimentos tornaram-se os professores, jornalistas, acadêmicos, políticos e outras figuras que 
hoje influenciam o discurso político. Eles proclamaram aliança à esquerda ou à direita, mas 
seus melhores argumentos intelectuais e energia advieram de seus impulsos libertários 
subjacentes. 
A guerra às drogas está sendo cada vez mais considerada como um desastre. Think 
tanks libertários como o Cato Institute tem documentado por décadas os custos mortais da 
guerra às drogas e os benefícios da responsabilidade e da liberdade pessoais. Os economistas 
libertários, incluindo Milton Friedman, explicaram os incentivos perversos criados pela 
proibição22. Os filósofos da moralidade argumentaram que uma sociedade composta por 
indivíduos livres e responsáveis eliminaria punições para crimes sem vítimas, retomando o 
exposto em um panfleto de Lysander Spooner, datado de 1875, Vices are not crimes (tradução 
oficial: Vícios não são crimes: uma reivindicação à liberdade moral)23. Como os libertários 
mostraram o caminho apontando os efeitos danosos da proibição – sobre a moralidade, justiça, 
taxas de criminalidade, famílias e ordem social – mais e mais lideres políticos estão falando 
sobre as consequências desastrosas da guerra às drogas sem medo de serem “taxados” de 
“pró-drogas”. Entre eles, estão os presidentes do México, Guatemala, Colômbia e Brasil, 
países que tem sofrido por causa do crime, da violência, e da corrupção trazida pela proibição, 
assim como governadores, ex-secretários de Estado, juízes, chefes de polícia e muitos 
outros24. 
O que torna os libertários únicos é que, enquanto outros podem defender crenças 
particulares pró-liberdade, casualmente ou numa base ad hoc, os libertários as defendem por 
princípio. O libertarianismo não é uma filosofia da direita ou da esquerda. É o centrismo radical, 
o lar daqueles que desejam viver e deixar viver, que valorizam tanto suas próprias liberdades 
quanto às liberdades dos outros, que rejeitam os velhos clichês e as falsas promessas do 
coletivismo, tanto “da esquerda” ou “da direita”. 
Onde, no espectro esquerda-direita, o libertarianismo se encontra? Acima dele. 
 
 
20 Carl Oglesby, Ravens in the Storm: A Personal History of the 1960s Anti-War Movement. New York: Scribner, 
2008), p. 120. 
21 Ibidem, p. 173. 
22 FRIEDMAN, Milton. It’s Time to End the War on Drugs. Disponível em www.hoover.org/publications/hoover-
digest/article/7837; Jeffrey A. Miron and Jeffrey Zwiebel, “The Economic Case Against Drug Prohibition,” Journal of 
Economic Perspectives, Vol. 9, no. 4 (Fall 1995), p. 175-192. 
23 SPOONER, Lysander. Vices Are Not Crimes: A Vindication of Moral Liberty. Disponível em 
http://lysanderspooner.org/node/46. 
24 Um grupo de agentes da lei que estão dispostos a falar sobre os desastres da proibição pode ser encontrado na Law 
Enforcement Against Prohibition, disponível em http://www.leap.cc. 
Capítulo 4 
História e estrutura do pensamento libertário 
Tom G. Palmer 
 
A história pode nos ajudar a mostrar como as ideias emergem e como se relacionam entre si. 
Nesse ensaio, a ideia da liberdade é examinada do ponto de vista histórico e conceitual de 
forma a mostrar como o pensamento libertário apresenta uma interpretação coerente sobre o 
mundo e como os humanos deveriam se relacionar. 
Embora elementos do pensamento libertário possam ser encontrados no decorrer da 
história humana, o libertarianismo como filosofia política apareceu na era moderna. É a filosofia 
moderna da liberdade individual, ao invés da servidão ou subserviência; dos sistemas legais 
baseados no usufruto dos direitos, ao invés do exercício do poder arbitrário; da prosperidade 
mútua por meio do trabalho livre, cooperação voluntária e troca ao invés do trabalho forçado, 
compulsão e exploração dos saqueados pelos seus conquistadores; da tolerância e 
coexistência (mútua) de religiões, estilos de vida, gruposétnicos, e outras formas de existência 
humana, ao invés de conflitos religiosos, tribais ou étnicos. É a filosofia do mundo moderno e 
está rapidamente se espalhando entre os jovens do mundo. 
Para entender o crescente movimento libertário ao redor do mundo, você precisa 
entender as ideias que constituem a filosofia política do libertarianismo. As filosofias políticas 
podem ser entendidas de diversas formas. Você pode entendê-las por meio da história, na sua 
união como resposta a um conjunto de problemas ou questões. As ideias são de certa forma 
como ferramentas – ferramentas mentais que nos ajudam a interagir entre si e com o mundo. 
Para melhor compreensão dessas ferramentas, é importante saber a quais problemas elas são 
apresentadas como soluções. O estudo histórico nos ajuda a entender ideias. Podemos, 
também, entender as relações lógicas, isto é, as formas pelas quais os vários conceitos ou 
ideias – tais como justiça, direitos, leis, liberdade e ordem – interagem e dão sentido umas as 
outras25. Esse pequeno ensaio oferece uma breve introdução a ambas as formas de 
compreensão do libertarianismo. 
 
Libertarianismo do ponto de vista histórico 
 
Do ponto de vista histórico, o libertarianismo é a forma moderna de um movimento 
que foi outrora conhecida como liberalismo. Aquele termo, “liberalismo”, especialmente nos 
Estados Unidos, perdeu parte do seu significado original. Como observou o famoso economista 
Joseph Schumpeter, “como um sublime, mesmo impensado, cumprimento, os inimigos do 
sistema de iniciativa privada acharam prudente se apropriar de sua identificação”26. O termo 
liberalismo ou suas variantes ainda são usados em grande parte do mundo, contudo, hoje é 
normalmente chamado de libertarianismo ou “liberalismo clássico” nos Estados Unidos. Dada a 
confusão de termos nos Estados Unidos, muitas pessoas adotaram o termo libertarianismo, o 
qual compartilha da mesma raiz latina da palavra liberdade, para distinguir suas visões do que 
é normalmente chamado “liberalismo” nos Estados Unidos. Além disso, o termo é às vezes 
usado para distinguir mais profundamente formas consistentes de liberalismo de formas mais 
pragmáticas e flexíveis. (Em outros idiomas, a mesma palavra é usada para traduzir tanto 
liberalismo quando libertarianismo; no húngaro, por exemplo, utiliza-se tanto szabadelvűség e 
liberalizmus para liberalismo / libertarianismo). 
Então, qual é a origem do liberalismo? O liberalismo surgiu na Europa e outras 
regiões do mundo como a defesa de uma nova forma de vida em comunidade, baseada na 
paz, tolerância, trocas voluntárias mutualmente benéficas e cooperação. O liberalismo ofereceu 
uma defesa de tais formas pacíficas de vida contra as doutrinas do Estado absoluto e todo 
poderoso, conhecida como “absolutismo”. No curso dos debates sobre o escopo e a extensão 
do poder, as ideias do liberalismo se tornaram mais incisivas, radicais e mutualmente 
fortalecidas. 
O comércio e as negociações começaram a aumentar na Europa seguindo a Idade 
Média, especialmente devido ao crescimento de “comunas” independentes, ou cidades 
autônomas, frequentemente protegidas de piratas, corsários, e chefes militares por muros 
 
25 Para um tratamento mais aprofundado dessas questões, recomendo: SMITH, George H. The System of Liberty: 
Themes in the History of Classical Liberalism. Cambridge: Cambridge University Press, 2013. 
26 SCHUMPETER, Joseph. History of Economic Analysis. New York: Oxford University Press, 1974. p. 394. 
espessos27. Novas cidades – lugares de produção e comércio – estavam sendo fundadas ao 
redor da Europa. As novas cidades e suas “sociedades civis” eram conhecidas como lugares 
de liberdade pessoal, como expressadas em um antigo slogan alemão Stadtluft macht frei 
(tradução livre, “O ar da cidade o torna livre”)28. 
Como um historiador notou, “sem liberdade, isto é, sem o poder de ir e vir, fazer 
negócios, vender bens – poderes não disfrutados na servidão - o comércio era impossível”29. A 
sociedade civil (de civitas, cidade) refere-se às sociedades que emergiram em tais cidades. 
Mais importante, o termo também passou a denotar a forma pela qual tratamos os outros: o 
comportamento civilizado. Ser civilizado significa ser educado com desconhecidos, ser honesto 
nos negócios, e respeitar os direitos dos outros. Essas novas cidades e associações eram 
caracterizadas por vários tipos de assembleias populares ou representativas que deliberavam 
sobre leis e politicas públicas. Associada à sociedade civil estava a ideia dos “direitos civis”, a 
saber, os direitos necessários para a sociedade civil. 
Com o aumento do comércio, mais riqueza foi acumulada. Reis começaram a criar 
sistemas militares modernos, usados para expandir seu poder sobre a aristocracia feudal - a 
qual igualmente origina seu poder por meio de conquistas violentas - e sobre as cidades, as 
quais eram baseadas na associação voluntária. A “revolução militar” concentrou mais e mais 
poder no que seria chamado posteriormente de “Estado”, normalmente na pessoa e nos 
poderes do rei30. Tais sistemas políticos monárquicos e centralizados substituíram, 
conquistaram e assimilaram a maioria dos outros sistemas políticos que tinham caracterizado a 
Europa, incluindo “cidades-estados” independentes, a Liga Hanseática das cidades mercantes, 
o Sacro Império Romano, dentre outras formas de associação política. Enquanto tais 
“soberanos” cresciam em poder, clamavam estar “acima da lei” e exerciam o poder absoluto 
sobre todas as outras formas de associação humana31. Paulatinamente, os reis declararam que 
tinham o “direito divino” a exercer o poder absoluto. Os poderes seculares e as hierarquias 
religiosas formaram alianças, frequentemente com o poder secular dominando o religioso. Às 
vezes, porém, o contrário ocorria, o que era conhecido como poder teocrático. 
A doutrina do absolutismo defendia que o governante estava acima da lei, o que foi 
uma grande ruptura com a tradição anterior na qual a lei, não o poder pessoal, era suprema. O 
rei Jaime VI e I, como era conhecido (rei Jaime VI da Escócia que se tornou também rei Jaime I 
da Inglaterra em 1603), declarou que “o rei é senhor de toda a terra; dessa forma, ele é mestre 
de todas as pessoas que habitam tal território, tendo poder sobre a vida e a morte de todos os 
eles. Pois, embora um príncipe justo não toma a vida de qualquer um dos seus súditos sem 
uma lei clara, ainda assim, algumas dessas leis que aprova à sociedade, são feitas por ele, ou 
seus predecessores, e então o poder se afasta do seu próprio ser(...) [Eu] tenho por fim 
provado que o rei está acima da lei, tanto por ser o autor e o concessor de sua força”32. 
O absolutismo contava com uma teoria econômica adjacente: o mercantilismo. A ideia 
de que o rei e sua burocracia deveriam ter o controle sobre a indústria, proibir esse 
empreendimento e subsidiar aquele, conceder monopólios a companhias favorecidas (uma 
prática hoje chamada de fisiologismo), “proteger” os proprietários das indústrias locais contra a 
concorrência de bens importados a preços inferiores, e, de modo geral, administrar o comércio 
 
27 Eu trato em detalhes sobre a emergência e o crescimento da sociedade civil no meu ensaio. “Classical Liberalism 
and Civil Society: Definitions, History, and Relations,” in Civil Society and Government, edit. por Nancy L. Rosenblum 
and Robert C. Post (Princeton: Princeton University Press, 2002), p. 48-78. In Tom G. Palmer, Realizing Freedom: 
Libertarian Theory, History, and Practice. Washington, DC: Cato Institute, 2009. 
28 Henri Pirenne nota que “Os burgueses eram um grupo essencialmente formado por homines pacis – homens de 
paz”. Medieval Cities: Their Origins and the Revival of Trade. Princeton: Princeton University Press, 1969, p. 200.29 PIRENNE, Henri. Economic and Social History of Medieval Europe. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1937. 
p. 50. Nos idiomas europeus, dois termos surgiram para descrever essas novas ordens sociais: burgenses e civitas. “A 
expressão burgenses foi primeiramente usada somente se a cidade não era uma civitas, e civitas foi primeiramente 
usado para descrever a sede episcopal (‘Bischofsstadt’). Hans Planitz, Die Deutsche Stadt im Mittelalter: Von der 
Römerzeit bis zu den Zünftkämpfen (Graz, Austria, and Köln, Germany: Böhlau, 1954), p. 100. Burgensis e bürgerlich é 
inserido na língua inglesa pelo francês como bourgeois. Depois os derivados dos termos - bürgerlich/bourgeois e civil— 
passaram a ser usados de forma permutável. (“Burg” persistiu na língua inglesa em nomes como Hillsborough e 
Pittsburgh, e no nome do antigo representante da assembleia nas colônias inglesas, the House of Burgesses.) 
30 DOWNING, Brian M. The Military Revolution and Political Change. Princeton: Princeton University Press, 1992 e 
TILLY, Charles. Coercion, Capital, and European States. Oxford: Blackwell, 1992. 
31 SPRUYT, Hendrik. The Sovereign State and Its Competitors. Princeton: Princeton University Press, 1994. 
32 The Trew Law of Free Monarchies, King James VI e I. Political Writings. Ed. por Johann P. Sommerville. 
Cambridge: Cambridge University Press, 1994. p. 75. 
em benefício dos poderosos que controlam o Estado, com o objetivo de arrecadar dinheiro para 
os cofres públicos33. 
O liberalismo emergiu como uma defesa à liberdade da sociedade civil contra as 
reivindicações de poder absoluto, contra monopólios e privilégios, mercantilismo, 
protecionismo, guerra e dívida pública, e em favor dos direitos civis e do estado de direito. O 
movimento baseou-se em várias fontes: dentre as mais importantes, estavam as ideias dos 
direitos individuais articuladas pelos pensadores escolásticos espanhóis de Salamanca, que 
defendiam tanto a economia de mercado e os direitos dos indígenas conquistados contra seus 
gananciosos conquistadores espanhóis, como também as doutrinas de lei natural e direitos 
naturais articuladas por pensadores alemães e holandeses; todavia, o primeiro movimento que 
pode ser considerado realmente libertário emergiu durante as guerras civis na Inglaterra: os 
Niveladores34. Os Niveladores lutaram ao lado do parlamento na Guerra Civil Inglesa (1642-
1651) em prol de um governo limitado e constitucional, da liberdade religiosa, da liberdade 
comercial, da proteção à propriedade, do direito ao trabalho livre, da igualdade de direitos para 
todos. Eles eram radicais, abolicionistas, defensores dos direitos humanos e da paz. Eles eram 
libertários. 
Aquelas ideias – de direitos individuais, de governo limitado, de liberdade de 
pensamento, religião, expressão, produção e locomoção – abriram mentes, quebraram 
vínculos antigos, geraram riqueza sem precedentes para o cidadão comum, e derrubaram um 
império após o outro. A escravidão foi extinta na Europa, nos Estados Unidos e na América do 
Sul, culminando na abolição da escravidão no Brasil em 13 de maio de 1888. O feudalismo foi 
abolido. Os servos da Europa foram libertados, às vezes de uma só vez, às vezes por etapas: 
Áustria em 1781 e 1848; Dinamarca em 1788; Sérvia em 1804 e 1830; Bavária em 1808; 
Hungria e Croácia em 1848; Rússia em 1861 e 1866; e Bósnia e Herzegovina em 1918. 
O movimento da liberdade não cresceu somente na Europa e em suas colônias, mas 
também se difundiu pelo mundo islâmico, China e em outros lugares, tirando partido das 
tradições locais de liberdade, já que as ideias libertárias não são o produto de uma única 
cultura; toda a cultura e toda a tradição possuem uma narrativa de liberdade, assim como uma 
narrativa de poder. A Europa foi o berço de Voltaire e Adam Smith, mas também, 
posteriormente, de Mussolini, Lênin e Hitler. Marx, cujas doutrinas dominaram a China por 
décadas, não era chinês, mas alemão. Sábios e representantes libertários podem ser 
encontrados em todas as culturas, assim como defensores do poder absoluto. O 
libertarianismo está criando raízes ao redor do mundo, conectando-se às tradições libertárias 
locais, especialmente na África e na Ásia, assim como redescobrindo conexões na Europa, 
América Latina e a América do Norte. 
O movimento libertário contemporâneo baseia-se não somente na experiência dos 
primeiros liberais e seu combate ao absolutismo, mas também na experiência dos horrores de 
uma ameaça ainda mais maligna à liberdade e à civilização: o totalitarismo coletivista. No 
século XIX, a onda do pensamento libertário começou a perder força. Novas ideologias 
políticas, recorrendo às antigas tradições de poder, emergiram para desafiar o liberalismo. 
Imperialismo, racismo, socialismo, nacionalismo, comunismo, fascismo, e suas outras 
combinações, todas repousavam nas premissas fundamentais do coletivismo. O indivíduo não 
era visto como um repositório de direitos; o que importava, asseguravam, eram os direitos e 
interesses da nação, da classe ou da raça, todos expressos por meio do poder estatal. 
Em 1900, o editor libertário do The Nation, E. L. Godkin, escreveu em um editorial 
deprimente, “somente os que restam, homens velhos em grande parte, ainda defendem a 
doutrina liberal, e quando se forem, ela não terá mais defensores”. Mais arrepiante ainda, ele 
previu a terrível opressão coletivista e a guerra que custariam centenas de milhões de vidas no 
 
33 Adam Smith, em seu famoso livro publicado em 1776, Uma Investigação Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza 
das Nações, não tratou apenas das causas, mas também da natureza “da riqueza das nações”. “A riqueza das nações” 
não é a riqueza da elite no poder, ou da corte, ou do ouro no tesouro real. “Assim sendo, enquanto é produzido, ou o 
que é comprado com isso, carrega uma menor ou maior proporção do número dos quais nós consumimos, a nação 
terá um melhor ou pior suprimento de todas as necessidades e conveniências para essa ocasião.” SMITH, Adam. An 
Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. Vol. I, ed. R. H. Campbell e A. S. Skinner. 
Indianapolis: Liberty Fund, 1981. p. 10. Logo, Smith identificou a riqueza das nações, não com a riqueza da corte, mas 
a produção anual da força de trabalho da nação, dividida pelo número de consumidores, um conceito que persiste na 
noção moderna de PIB per capita. Ele descreveu as causas da riqueza das nações em uma palestra: “Pouco mais é 
necessário para carregar um Estado ao maior nível de opulência do mais vil barbarismo, mas paz, impostos baixos, e 
uma administração tolerável da justiça; todo o resto sendo trazido pelo curso natural das coisas. Todos os governos 
que interferem neste curso natural, forçando uma mudança de rumos, ou tentando prender o progresso da sociedade 
em certo ponto, são antinaturais, e para se manterem, obrigatoriamente, recorrem à opressão e à tirania.” 
34 SHARP, Andrew.The English Levellers. Cambridge: Cambridge University Press, 1998. 
século seguinte: “Não ouvimos mais nada sobre direitos naturais, mas sim de raças inferiores, 
cuja função é se submeter ao governo daqueles a quem Deus tornou superiores. Uma vez 
mais, a antiga falácia do direito divino estabeleceu seu poder destruidor, e antes que seja 
repudiada novamente, serão necessários conflitos internacionais em uma escala terrível”35. E 
assim sucedeu. A consequência foi o assassinato em massa em uma escala nunca vista antes, 
sistemas de escravidão em massa, e as guerras mundiais que destruíram a Europa, a Ásia, e 
que tiveram repercussões terríveis na América do Sul, África e no Oriente Médio36. 
O desafio imposto à liberdade, à civilização e à própria vida pelo coletivismo moldou 
drasticamente a resposta libertária, a qual incluiu uma ênfase renovada nos seguintes 
elementos do pensamento libertário, todos os quaistêm sido negados por ideologias 
coletivistas tais como o socialismo, o comunismo, o nacional-socialismo e o fascismo: 
 
 A primazia do indivíduo como a unidade moral fundamental, ao invés do 
coletivo (seja ele o Estado, classe, raça ou nação); 
 Individualismo e o direito de todo o ser humano a buscar sua própria felicidade 
da forma que lhe convier; 
 Os direitos de propriedade e a economia de mercado como meios de decisão e 
coordenação decentralizados e pacíficos que efetivamente utilizam o 
conhecimento de milhões ou bilhões de pessoas; 
 A importância da associação voluntária na sociedade civil, incluindo a família, a 
comunidade religiosa, a associação de bairros, a empresa, o sindicato, as 
sociedades de ajuda mútua, a associação profissional, e tantas outras que 
oferecem significado e substância à vida, ajudando os indivíduos a alcançarem 
suas identidades únicas por meio de afiliações múltiplas, as quais são substituídas 
por novos tentáculos do poder estatal; 
 Ceticismo quanto ao Estado e à concentração de poder no exército e nos 
órgãos executivos do poder estatal. 
 
Muitas pessoas contribuíram para o renascimento do pensamento libertário, 
especialmente no período final da 2ª Guerra Mundial. Em 1943, foram publicados três livros 
nos Estados Unidos que retornaram as ideias libertárias à discussão popular: The Discovery of 
Freedom (tradução livre, A Descoberta da Liberdade), de Rose Wilder Lane, The God of the 
Machine (tradução livre, O Deus da Máquina), de Isabel Paterson e The Fountainhead 
(tradução oficial, A Nascente), de Ayn Rand. Em 1944, na Inglaterra, F. A. Hayek lançou seu 
best-seller que desafiava o planejamento econômico coletivista, The Road of Serfdom 
(tradução oficial, O Caminho da Servidão). Esse livro foi então lançado em outros países onde 
foi recebido com entusiasmo. Hayek também organizou a Mont Pelerin Society, uma sociedade 
internacional de acadêmicos liberais clássicos, a qual teve seu primeiro encontro em 1947 na 
Suíça. Mais livros foram surgindo, assim como sociedades, associações, editoras, think tanks, 
clubes estudantis e partidos políticos37. 
Think tanks para a promoção das ideias clássicas liberais foram fundados. A primeira 
onda ocorreu nos anos 1940 e 1950, com organizações ainda vigorosas como o Institute for 
Public Affairs na Austrália (1943), a Foundation for Economic Education nos Estados Unidos 
(1946), e o Institute of Economic Affairs na Inglaterra (1955). O Cato Institute foi fundado nos 
Estados Unidos em 1977 e o Timbro foi fundado na Suécia em 1978, como parte da segunda 
onda de think tanks libertários que mudaram o panorama das discussões sobre políticas 
públicas. (Desde então, muitos outros surgiram e a maioria é afiliada à Atlas Network, fundada 
por Sir. Antony Fisher, quem também fundou o Institute for Economic Affairs). Intelectuais 
 
35 GODKIN, E. L. The Eclipse of Liberalism. The Nation, August 9, 1900. Reimpresso em David Boaz, ed., The 
Libertarian Reader. New York: The Free Press, 1997. p. 324-326. O diagnóstico de Godkin sobre a causa do declínio 
do liberalismo merece atenção: “Aos princípios e preceitos do liberalismo o progresso material prodigioso de nossa era 
foi amplamente atribuído. Livre da intromissão vexatória dos governos, os homens se voltaram à sua tarefa natural, a 
melhoria de sua própria condição, com os incríveis resultados que nos circundam. Mas agora parece que o conforto 
material cegou os olhos da geração atual às causas que tornaram isto possível. Na política mundial, o liberalismo é 
uma força em declínio, praticamente morta.” 
36 Alguns dos estudos mais importantes feitos recentemente sobre genocídio e escravidão nos regimes comunistas e 
nacional-socialista (nazista) incluem APPLEBAUM, Anne. Gulag: A History. New York: Random House, 2003; 
SNYDER, Timothy. Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin. New York: Basic Books, 2010; e DIKOTTER, 
Frank. Mao’s Great Famine, The History of China’s Most Devastating Catastrophe. New York: Walker & Co., 2010. 
37 Uma boa parte desta história é contada de maneira agradável, pela perspectiva norte-americana em DOHERTY, 
Brian. Radicals for Capitalism: A Freewheeling History of the Modern American Libertarian Movement. New 
York: Public Affairs, 2007. 
eminentes como os filósofos Robert Nozick, H. B. Acton, Anthony Flew, e os economistas 
laureados com o prêmio Nobel – James Buchanan, Milton Friedman, Ronald Coase, George 
Stigler, Robert Mundell, Elinor Ostrom e Vernon Smith, para citar alguns, propuseram 
argumentos libertários e aplicaram ideias libertarias em um grande conjunto de problemas 
sociais, econômicos, legais e políticos. 
Com o crescimento do número de seguidores e defensores das ideias libertárias no 
Oriente Médio, África, América Latina e outros países da ex-União Soviética, o libertarianismo 
está novamente se adaptando a novos problemas, especialmente à necessidade de construir e 
fortalecer as instituições da sociedade civil, fazendo-o com base nas tradições nativas dessas 
sociedades. Entre elas, está o hábito do diálogo pacífico, em lugar da violência; respeito mútuo 
pelas pessoas, independente do gênero, raça, religião, preferência sexual ou idioma; sistemas 
legais independentes para resolução de disputas de forma pacífica; sistemas de direitos de 
propriedade bem definidos, legalmente seguros e facilmente transferíveis, de forma a facilitar 
trocas geradoras de riqueza; liberdade de imprensa e discussão pública; e tradições e 
instituições que supervisionam o exercício do poder. 
Esse foi um breve resumo da história do libertarianismo. Vamos, agora, focar em 
outra forma de entender o libertarianismo. 
 
Libertarianismo do ponto de vista conceitual: o tripé libertário. 
 
Uma cadeira com somente uma perna cairá. Adicione outra, e ficará um pouco mais 
estável, mas ainda cairá. Coloque uma terceira para fazer um tripé e uma reforçará as outras. 
Creio que o mesmo se aplica às ideias. Ideias – sobre direitos, justiça, ordem social, lei – não 
se sustentam por conta própria: elas se complementam. Como as pernas de um tripé, elas se 
sustentam mutuamente. 
O libertarianismo é baseado no ideal fundamental da liberdade; os libertários 
consideram a liberdade como o valor político mais elevado. Isso não significa que a liberdade 
deve ser o valor mais importante da vida; afinal de contas, as pessoas se apaixonam, buscam 
a verdade e a beleza, e têm ideias sobre religião e muitas outras coisas relevantes, e a política 
não é, certamente, a única coisa que importa na vida. Mas para os libertários, o valor primordial 
a ser defendido na política é a liberdade. A vida política trata de assegurar a justiça, a paz e a 
prosperidade geral, e os libertários recorrem a uma longa tradição do pensamento clássico 
liberal, a qual considera que esses princípios e valores se complementam. 
 
O tripé libertário é composto por: 
 
1. Direitos individuais: os indivíduos têm direitos que são anteriores à associação política; 
esses direitos não são concessões do poder, mas podem ser empregados contra ele; 
Nozick, na introdução do seu clássico Anarchy, State and Utopia (tradução oficial, 
Anarquia, Estado e Utopia), diz “Os indivíduos têm direitos, e existem coisas que 
nenhuma pessoa ou grupo podem fazer contra eles (sem violar seus direitos)”38. 
2. Ordem espontânea: é comum às pessoas pensarem que a ordem deve ser produto de 
uma mente ordenadora, no entanto, os tipos mais importantes de ordem na sociedade 
não são resultado de planejamento ou design consciente, mas emergem de interações 
voluntárias e ajustes mútuos dos planos de pessoas livres que agem com base nos 
seus direitos; 
3. Governo constitucionalmente limitado: direitos requerem proteções de instituições 
autorizadas a usar a força em sua defesa, mas essas mesmas instituiçõesfrequentemente representam a maior e mais perigosa ameaça aos direitos: isto é, 
devem ser estritamente limitadas por meio de mecanismos constitucionais, incluindo 
divisões de, e competição entre fontes de poder, sistemas legais independentes do 
poder executivo, e uma insistência amplamente compartilhada da supremacia da lei 
sobre o poder; 
 
Cada um dos pilares acima dá suporte aos outros. Os direitos devem ser claramente 
definidos e protegidos por instituições da lei; quando os direitos são bem definidos e 
legalmente seguros, a ordem emergirá de forma espontânea; quando a ordem e harmonia 
social emergem sem uma direção planejada, é mais provável que as pessoas respeitem os 
 
38 NOZICK, Robert. Anarchy, State, and Utopia. New York: Basic Books, 1974, cap IX 
direitos dos outros; quando as pessoas se acostumam a exercer seus direitos e respeitar os 
direitos dos outros, tem maior probabilidade de apoiar restrições constitucionais às instituições 
legais. 
 
Direitos Individuais 
 
Ideias libertárias sobre direitos foram forjadas em grande parte na luta pela liberdade 
religiosa e pela liberdade dos fracos oprimidos perante os poderosos. O pensador espanhol, 
Francisco de Vitoria, no seu famoso livro de 1539 sobre os índios americanos, defendeu os 
povos indígenas das Américas contra a brutalidade e a opressão impostas pelo Império 
Espanhol. Ele argumentou que os indígenas tinham uma responsabilidade moral por suas 
ações (“dominium”) e concluiu que, 
 
Os bárbaros [o termo usado na época para povos não europeus e não cristãos] 
possuíam, sem sombra de dúvidas, um dominium verdadeiro, tanto público quanto 
privado, como qualquer cristão. Isso quer dizer, não poderiam ser roubados de sua 
propriedade, fossem cidadãos comuns ou príncipes, com fundamento em que não 
eram os verdadeiros donos (ueri domini)39. 
 
Vitoria e seus seguidores argumentaram que os indígenas eram tão merecedores de 
respeito por suas vidas, propriedades, e terras quanto qualquer espanhol. Eles tinham direitos 
e violá-los era uma injustiça que deveria ser combatida. As ideias de responsabilidade moral e 
direitos tiveram um impacto grandioso no pensamento sobre o ser humano; não era o acaso do 
nascimento que importava, mas se o indivíduo era um agente moral, responsável por suas 
escolhas e ações. 
Ao mesmo tempo, os defensores da liberdade religiosa insistiram, e frequentemente 
pagaram com suas vidas por fazê-lo, que como os seres humanos eram seres responsáveis, 
capazes de raciocínio, deliberação e escolha, a consciência deveria ser livre e a religião 
deveria ser uma questão de escolha, não de compulsão. A liberdade de credo era um direito, 
não um privilégio concedido por aqueles que estavam no poder. O teólogo João Calvino tinha 
defendido o assassinato em Genebra do seu crítico, Miguel Servet, por pregar uma 
interpretação diferente do evangelho, sob o fundamento de que os governantes eram 
obrigados a defender a verdadeira fé. O grande defensor da liberdade religiosa do século XVI, 
Sebastian Castellio, respondeu diretamente a Calvino: “Matar um homem não é defender uma 
doutrina, é matar um homem. Quando os genebrinos mataram Servet, eles não defenderam 
uma doutrina, eles mataram um homem”40. Uma doutrina deveria ser defendida com palavras 
para mudar mentes e corações, não com armas de fogo para queimar o corpo de um indivíduo 
do qual discorda. Como o poeta inglês John Milton notou em seu argumento pioneiro em prol 
da liberdade de imprensa, Areopagitica, “Aqui a boa prática para discernir sobre o que a lei é 
para restringir e punir, e em quais coisas a persuasão funcionará”.41 Aqui reside a boa prática 
de discernir no que a lei deve ordenar a ser restringido e punido, e em quais circunstâncias 
onde somente a persuasão deve ser utilizada”. 
Esses pioneiros da liberdade que insistiam no respeito por direitos iguais, 
independente da religião, raça, gênero, ou outras características acidentais das pessoas se 
depararam com um grande desafio nos defensores do regime absolutista ou teocrático. Eles 
responderam que se cada pessoa tivesse o direito de administrar sua própria vida, não haveria 
um plano geral para a sociedade, e então o caos e a desordem seguiriam. É imprescindível 
haver um chefe, os absolutistas e os teocratas diziam, alguém com o poder para prever 
problemas futuros, impondo a ordem às massas desordenadas. De outra maneira, você não 
saberia o que produzir, o que fazer com a produção ou como adorar a Deus, que roupa usar, 
quanto gastar ou poupar. 
 
Ordem espontânea 
 
39 VITORIA, Francisco de. On the American Indians. Political Writings. Ed. Anthony Pagden e Jeremy Lawrance. 
Cambridge: Cambridge University Press, 1991, p. 250-251. 
40 Citado em ZAGORIN, Perez. How the Idea of Religious Toleration Came to the West. Princeton: Princeton 
University Press, 2003. p. 119. 
41 John Milton, “Areopagitica: A Speech of Mr. John Milton for the Liberty of Unlicenc’d Printing, to the Parliament of 
England” [1644]. [1644], in Areopagitica and Other Political Writings of John Milton. Indianapolis: Liberty Fund, 
1999), p. 23. Após, John Locke argumentou em sua famosa carta sobre tolerância: “Uma coisa é persuadir, outra é 
comandar; uma coisa é pressionar com argumentos, outra, com punições.” John Locke, “A Letter on Toleration,” in The 
Sacred Rights of Conscience, ed. Daniel L. Dreisbach and Mark David Hall. Indianapolis: Liberty Fund, 2009. p. 47. 
 
Por si só, o principio moral do respeito pelas pessoas não foi capaz de enfrentar 
aquela afirmação, até que os cientistas sociais começassem a desvendar os segredos das 
ordens complexas. Assim como os entomologistas modernos descobriram que a ordem 
complexa de uma colmeia não é “governada” por uma rainha que exerce poder absoluto e dá 
ordens a outras abelhas - como foi amplamente aceito por milênios – também os primeiros 
cientistas sociais descobriram que sociedades humanas complexas não são “governadas” por 
quaisquer humanos com tais poderes - dizendo aos produtores de leite quando devem 
ordenhar as vacas e quanto cobrar pelo leite (estipulando o valor da moeda) ou dando ordens 
de maneira autoritária para impor a ordem social de modo geral. Em vez disso, como 
aprenderam, se você deseja uma sociedade ordenada e prospera, você deveria confiar na 
máxima “Deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo” como expressada pelo 
intelectual libertário Jacques Claude Marie Vincent de Gournay no século XVIII42. 
Sistemas complexos não podem ser simplesmente comandados. O idioma, a 
economia de mercado, o direito consuetudinário, e muitas outras formas complexas de 
coordenação entre pessoas desconhecidas emergem, não por meio da imposição coerciva de 
um plano oriundo da mente de um grande líder (ou das mentes de um comitê), mas como 
subprodutos da interação das pessoas que seguem regras relativamente simples, assim como 
bandos de pássaros, cardumes de peixes, e enxames de abelhas exibem formas complexas de 
ordem sem uma mente ordenadora. 
Não é uma coisa fácil de entender. Quando observamos um conjunto de coisas 
ordenadas, tendemos a procurar pelo ordenador. Quando vejo uma fileira de cadeiras bem 
organizada, eu automaticamente pergunto: “quem colocou as cadeiras em ordem?” Contudo, a 
maioria das ordens, incluindo a ordem da economia de mercado, é, como argumentou o prêmio 
Nobel em Economia, James Buchanan, definida no processo de sua emergência: “a ‘ordem’ do 
mercado emerge somente do processo de troca voluntária entre os indivíduos participantes. A 
‘ordem’ é, em si, definida como o resultado do processo que a gera, e o que a gera, o resultado 
da alocação-distribuição, não pode existir independentemente do processo de troca. Ausente 
esse processo, não pode existir ‘ordem’43.

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