Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TRATO DIGESTIVO 62 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S A SAÚDE DO TRATO DIGESTIVO Constipação, indigestão, aerofagia, flatulência e outros, não são assuntos comumente discutidos e ainda menos agradáveis para quem sofre desses problemas. Até pouco tempo atrás, a saúde digestiva não era uma fonte de preocupação para as pessoas. Contudo, a realização de diversos estudos que comprovam que a função digestiva é uma condição prévia para uma boa saúde global, especialmente interligada ao sistema imune, mudou esta visão. Ba tu qu e D re am st im e TRATO DIGESTIVO 63 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL - SII A síndrome do intestino irritável é um distúrbio intestinal funcional comum caracterizado por desconforto abdominal recorrente e função intestinal anormal. O desconforto freqüentemente se inicia após a alimentação e desaparece após a evacuação. Os sintomas podem incluir cólicas, náuseas, distensão abdominal, gases, constipação, diarréia e uma sensação de eva- cuação incompleta. Pode estar associado a graus variados de depressão ou ansiedade. Estudos demonstram que cerca de 20% das pessoas apresentam a síndrome em algum momento de sua vida, predominando entre as mulheres, principalmente jovens. Já foi conhecida como indigestão, diarréia nervosa, colite espástica, colite nervosa e neurose intestinal. Não existem anormalida- des estruturais como infecção ou úlceras, por isso é chamada de funcional, e não evolui para qualquer tipo de doença orgânica ao longo da vida. DOENÇA DO REFLUXO GÁSTRO- ESOFÁGICO DRGE Ocasionalmente pode-se sentir, geralmente depois de uma refeição abundante ou com muita gordura, o refluxo do ácido do estômago para o esôfago, o que nos dá uma sensação de queimadura, de ardor, de azedo, que pode ir do estômago até à garganta. Esse refluxo esporádico, ocasional, do conteúdo do estômago (ácido clorídrico, pepsina, bílis etc.) é considerado normal, mas pode tornar-se incomodativo, anormal, transformar-se numa doença e necessitar de tratamento. A DRGE é a afecção mais freqüente do esôfago e uma das doenças mais freqüentes do aparelho digestivo, embora só tenha sido melhor conhecida nos últimos anos. O sintoma mais freqüente é a sensação de queimadura por detrás do externo (a palavra pirose que os médicos utilizam, para traduzir essa sensação, deriva do grego pyrosis que significa ação de queimar). A regurgitação do conteúdo do estômago para o esôfago é quase sempre uma sensação evidente, que acompanha a sensação de queimadura. A DRGE pode causar outros sintomas além da sensação de queimadura e da regurgitação, como dor no epigastro ou no tórax. Com alguma freqüência a DRGE manifesta-se com sintomas da orofa- ringe ou sintomas respiratórios: ardor, sensação desagradável na garganta, rouquidão, tosse, asma. Em alguns casos, se houver aperto do esôfago, pode haver dificuldade na passagem dos alimentos para o estômago (disfagia) ou essa passagem ser dolorosa (odinofagia). Introdução De acordo com informações levantadas pela National Digestive Diseases Information Clearinghouse - NDDIC, os distúrbios do trato digestivo, incluindo a síndrome do intestino irritável (em inglês, Irritable Bowel Syndroma, IBS) e úlceras, afetam entre 60 e 70 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Por isto, o mercado de remédios para o trato digestivo tem crescido de forma acelerada. Estilos de vida estressan- tes e hábitos alimentares pobres têm contribuído para o desenvolvimento de problemas digestivos, desde a indigestão ocasional até doença digestiva grave. O sistema digestivo pode ser considerado como sendo a porta de entrada do organismo e pro- blemas com o seu funcionamento podem repercutir por todo o corpo. Uma diminuição do ácido gástrico, por exemplo, pode promover o desenvolvimento de um ambiente favorável para a proliferação de patógenos oportunistas, como He- licobater pylori (causa de algumas úlceras gástricas e duodenais) ou Clostridium difficile (responsável por diarréias agudas); inversamente, uma superabundância de ácido gástrico pode conduzir a doença de refluxo gastro-esofágico - DRGE (Gastro Esophageal Reflux Disease - GERD). O trânsito intestinal lento tam- bém se tornou uma fonte de real desconforto para grande parte da população, com conseqüências físi- cas e fisiológicas que não podem ser subestimadas. Um resultado comum de um trânsito intestinal lento é a constipação. Só nos Estados Unidos estima-se que a constipação é motivo de dois milhões de visitas ao médico, por ano. Ademais, muitas pessoas recorrem a automedicação, sem passar por consulta médica, como comprovam os US$ 725 milhões gas- tos pelos americanos, anualmente, em laxativos. Enfim, a digestão incompleta dos alimentos pode não somente causar esses distúrbios menores como, tam- bém, levar a doenças mais graves. Se grandes moléculas de alimento não digeridas completamente atravessam a parede intestinal, elas podem gerar uma resposta do sistema imune que pode eventualmente levar a uma desordem na auto-imunização. A digestão inadequada também pode impedir que importantes nutrientes sejam absorvidos pelo organismo. Além disso, existem especulações de que a digestão incompleta de proteí- nas pode causar o desenvolvimento de alguns tipos de cânceres. O sistema digestivo A digestão é o conjunto das trans- formações, mecânicas e químicas, que os alimentos orgânicos sofrem ao longo do sistema digestivo, para se converterem em compostos menores hidrossolúveis e absorvíveis. O processo digestivo é realizado por enzimas e os principais nutrientes TRATO DIGESTIVO 64 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S obtidos são os ácidos graxos, amino- ácidos, glicose, frutose e glicerol. O sistema digestivo é constituído pelo tubo digestório e pelas glân- dulas anexas (salivares, fígado e pâncreas). Já o aparelho digestório é formado por boca, faringe, esôfago, estômago e intestino. Na boca, há a presença da língua e dos dentes, que têm a função de triturar os alimen- tos para facilitar a sua posterior digestão. A digestão química por ação de enzimas (ptialina) tem início na boca. Os alimentos impulsionados pela língua seguem para a faringe e em seguida para o esôfago, que têm paredes musculares cujas contrações resultam nos movimentos peristálti- cos, os quais permitem aos alimentos movimentar-se em direção ao estômago. A passagem dos alimentos do esôfago para o estômago ocorre através da válvula cárdia, que tem a função de impedir o refluxo do alimento para o esôfago durante as contrações estomacais. Os alimentos no estômago sofrem a ação do suco gástrico (composto por muco, enzima pepsina e ácido clorídrico), forman- do-se o bolo alimentar ou quimo. Do estômago, o alimento segue para o intestino, passando pela válvula pilo- ro que, como a cárdia, impede o seu fluxo. Os alimentos sofrem ação do suco pancreático, do suco entérico e da bile, no intestino. A ação da bile e dos sucos ocorre no duodeno (intestino delgado), onde se completa a digestão. Os nutrientes produzidos são absorvidos pela parede intesti- nal. Os restos vão para o intestino grosso; no final dele chegam, sob forma de fezes, ao meio externo, através do ânus. A digestão dos carboidratos tem início na boca quando o alimento so- fre a ação da α-amilase. O pâncreas, responsável pela excreção de várias substâncias importantes para a diges- tão, que são lançadas no duodeno através do canal de Wirsung, sinte- tiza enzimas que facilitam a digestão luminal. A α-amila- se pancreática atua sobre as molé-culas de malto- se, maltotriose e dextrinas. As dissacarídases e trissacarídases são responsáveis pela digestão dos dis- sacarídeos. A sucrase e lactase são encontradas em maior concentração no jejuno, enquanto a maltase é mais abundante no íleo. No estômago, o ácido clorídrico desnatura proteínas na intenção de expor as ligações peptídicas à poste- rior ação das enzimas, como pepsina e lipase. A digestão das proteínas necessita da presença de diferentes enzimas pancreáticas lançadas na forma de pró-enzimas e ativadas no lúmen intestinal. Entre elas, destacam- se as peptidases, incluindo a tripsina, quimotripsina e carbopeptidases A e B. O produto restante da digestão enzimática das proteínas divide-se em aminoácidos (40%) e oligopeptídeos (60%). A digestão lipídica é mais compli- cada pela natureza hidrofóbica das moléculas de triglicérides de cadeia longa (TCL). Para que ocorra a interação com enzimas intralumi- nais, os lípides são primeiramente submetidos ao processo de emul- sificação iniciado pela atividade trituradora do antro gástrico. No duodeno, substâncias como a lipase e a colipase, ligam-se à superfície das partículas emulsi- ficadas e hidrolisam as ligações éster de triglicérides. Este processo exige a ação detergente de ácidos biliares conjugados produzidos no fígado. Os ácidos graxos produzi- dos são incorporados em micelas, podendo se mover por meio do quimo até a superfície mucosa para que ocorra absorção. Os triglicérides de cadeia média (TCM) são menos hidrofóbicos e apresentam maior superfície para a hidrólise intraluminal. São mais rapidamente hidrolisados e melhor absorvidos. Os ácidos graxos de seis a 10 carbonos resultantes da hidrólise apresentam grande solubili- dade em água, não necessitando da presença da bile. A presença de enzi- mas pancreáticas não é essencial, já que aproximadamente 30% do TCM é absorvido de forma intacta. A absorção dos nutrientes, ou seja, carboidratos, proteínas e gordu- ras, ocorre através da passagem do alimento pelo intestino delgado. Os carboidratos são absorvidos como monossacarídeos em sítios adjacen- tes à borda em escova. A galactose e a glicose são absorvidas por trans- porte ativo, e frutose é absorvida por meio de difusão facilitada, processo este não dependente de energia. A glicose é transportada por uma proteína carreadora de membrana contra o gradiente de concentração. As proteínas são absorvidas como pequenos peptídeos (jejuno e íleo) e aminoácidos (primariamente no íleo), sendo mais efetivo o transporte para os dipeptídeos. No enterócito, os peptídeos são novamente hidroli- sados a aminoácidos livres. Existem mecanismos carreadores específicos para grupos de aminoácidos que Et i S w in fo rd D re am st im e TRATO DIGESTIVO 65 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S dividem características químicas semelhantes. A gordura é absorvida predo- minantemente no duodeno e jejuno proximal por meio de eficiente mecanismo de difusão passiva. A proteína carreadora de ácidos graxos encontrada nos vilos auxilia o transporte destes para o retículo endoplasmático do enterócito para a re-esterificação. O transporte de triglicérides de cadeia longa (TCL) ocorre por meio dos vasos linfáti- cos, enquanto o dos triglicérides de cadeia média (TCM) são transpor- tados diretamente pela veia cava. Esta característica dos TCM assume importância à medida que o fluxo linfático estiver comprometido. Os probióticos e o trato digestivo Há muito tempo os probióticos são reconhecidos na Europa e no Japão como essenciais à boa saúde; nos Estados Unidos, tiveram seus benefícios reconhecidos apenas há alguns anos. As cepas específicas de probióti- cos podem ajudar a manter um equilí- brio saudável de bactérias essenciais no trato digestivo, onde está situado aproximadamente 70% do sistema imune. As pesquisas mostram que determinados probióticos ajudam a otimizar o funcionamento do sistema imune do organismo e fortalecem suas defesas. Uma população saudável de bactérias normais no intestino ajuda a reduzir infecções e riscos de doen- ças através de múltiplos mecanismos. Primeiro, porque ocupando todo o es- paço disponível, os organismos nor- mais da flora diminuem a habilidade dos organismos prejudiciais de se lo- comoverem e colonizarem. Segundo, porque segregam substâncias, como o ácido acético e o ácido láctico, que inibem o crescimento de organismos indesejáveis. A flora intestinal ajuda na simples digestão e na assimilação de nutrientes e, como indicam as pesquisas, assiste na sintetização de várias vitaminas, principalmente a vitamina K, biotina, B12 e outras vitaminas do complexo B. A tendência atual é de suprir o organismo em probióticos através de alimentos, bebidas e suplementos. Uma das fontes mais comumente utili- zadas são os iogurtes, cujo consumo tem crescido de forma extraordinária. Para muitos consumidores ainda existe uma grande dúvida: é melhor suprir o organismo em probióticos através de suplementos ou através de alimentos e bebidas? Qual é a quantidade ideal a ser absorvida diariamente? Alguns defendem o uso de suplemento, alegando que é a única maneira do consumidor saber exatamente a quantidade absorvida, porém, existem algumas evidências que os probióticos supridos por fon- tes alimentícias são mais eficientes, porque os outros componentes dos alimentos ajudam na neutralização do ácido estomacal, permitindo aos probióticos continuarem vivos após a passagem pelo estômago. Recentes pesquisas clínicas suge- rem que para proporcionar benefí- cios ao trato digestivo, é necessário um consumo mínimo diário de um bilhão de unidades formadoras de colônias (UFC) de probióticos. Embo- ra a presença de prebióticos (fonte de alimento dos probióticos) seja variada, a maioria dos especialistas clínicos sugere que um indivíduo consuma dois gramas de prebióticos por dia para obter benefícios no trato digestivo. É importante entender também que diferentes cepas de probióticos têm efeitos diferentes em certos tipos de distúrbios. Por exemplo, estudos mostram que a Bifidobacterium lactis é muito efetiva contra SII (Síndrome do Intestino Irritável) e que a Lactoba- cillus rhamnosus é útil no tratamento de diarréia em crianças. Infelizmente, existem no mercado muitas fontes de probióticos de bai- xa qualidade. Não é porque uma embalagem declara que o produto contém probióticos, que o mesmo traz necessariamente algum benefício para a saúde. A palavra probiótico em si não tem nenhum significado, a menos que o produto contenha a cepa adequada, na quantidade adequada (potência), nas condições adequadas (viabilidade) e na formu- lação adequada. Entre os benefícios à saúde conferidos pelos probióticos estão o controle da microbiota intestinal; estabilização da microbiota intestinal após o uso de antibióticos; promoção da resistência gastrintestinal à coloni- zação por patógenos; diminuição da população de patógenos através da produção de ácidos acético e lático, de bacteriocinas e de outros compos- tos antimicrobianos; promoção da digestão da lactose em indivíduos intolerantes à lactose; estimulação do sistema imune; alívio da constipação; aumento da absorção de minerais e produção de vitaminas. Embora ainda não comprovados, outros efeitos atribuídos a essas culturas são a diminuição do risco de câncer de cólon e de doença cardiovascular. As fibras alimentares As fibras alimentares constituem- se em remanescentes de partes co- mestíveis de plantas e carboidratos análogos que são resistentes a diges- tão e absorção no intestino delgado, com fermentaçãono intestino grosso (American Association of Cereal Chemists, 1999). Essas fibras podem ser divididas em fibras alimentares insolúveis (FAI) ou fibras alimentares solúveis (FAS). As fibras solúveis têm a proprie- dade de reduzir o índice glicêmico dos alimentos e possuem efeito hipo- colesterolêmico. Esse efeito se deve à capacidade de aumentar a excreção de ácidos biliares e à produção de ácidos graxos de cadeia curta que podem inibir a síntese de colesterol no fígado. São alimentos fonte de fi- bras solúveis: cereais (aveia, cevada, milho, centeio), frutas, leguminosas (feijões, ervilha), hortaliças (cenoura, entre outras). As fibras insolúveis diminuem o TRATO DIGESTIVO 66 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S tempo de trânsito intestinal, aumen- tam o bolo fecal e tornam as fezes mais macias, diminuindo a constipa- ção, tendo assim, efeito positivo so- bre alguns males como hemorróidas, varizes e diverticulite. Estão presentes principalmente nos cereais (farelo de trigo, alguns cereais matinais, pães integrais), frutas e hortaliças. Alguns componentes dessas fi- bras são denominados prebióticos, chegando intactos ao intestino gros- so, sem ter sofrido nenhum tipo de degradação ou absorção, e lá são metabolizados seletivamente por um número limitado de bactérias deno- minadas benéficas. Estas são assim chamadas, pois alteram a microbiota do cólon, gerando uma microbiota bacteriana saudável, capaz de in- duzir efeitos fisiológicos importantes para a saúde. Melhora as funções do intestino grosso por meio de redução de tempo de trânsito, aumento do peso e freqüência das fezes. Pesquisas realizadas nos últimos 25 anos demonstraram que os efeitos das fibras, sobre o trato gastrintesti- nal, têm importantes conseqüências metabólicas que podem resultar em redução do risco de doenças, como câncer, diabetes mellitus (tipo 2) e doenças cardiovasculares. De fato, a fibra alimentar atua na redução dos níveis de colesterol plasmático e das lipoproteínas de baixa densidade (LDL – colesterol), sendo que somente as fibras com alta viscosidade apre- sentam essa característica. Reduzem a velocidade de esva- ziamento gástrico pelo aumento do nível de um hormônio chamado co- lecistoquinina (CCK), auxiliam numa menor absorção da glicose e das gorduras, pois essa absorção é feita de modo mais lento, sendo associado a um melhor controle glicêmico, em pacientes diabéticos. Os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), produzidos pela fermenta- ção da fibra alimentar no intestino, estão associados à manutenção da mucosa do intestino, sendo um fator de proteção contra o câncer de cólon. Auxiliam também o tratamento da obesidade por aumentar a mas- tigação e o tempo de ingestão dos alimentos, além de retardar o esva- ziamento gástrico, fazendo que a saciedade ocorra mais rapidamente e perdure por períodos mais prolon- gados. Em prol de tais benefícios, as indústrias alimentícias têm cada vez mais demonstrado maior interesse em oferecer ao consumidor opções enriquecidas com fibras, tornando fácil o acesso a produtos integrais, tais como: pães, biscoitos, bolos, arroz e massas em geral. Tais pro- dutos objetivam facilitar o alcance da recomendação diária de ingestão de fibra que é de 20-30g/dia (OMS, 2003). Veja os componentes da fibra dietética na Tabela 1. A conscientização da importância das fibras na dieta nunca foi tão alta quanto hoje e os consumidores pro- curam avidamente fibras em todos os alimentos consumidos. A inulina é a mais versátil fonte de fibra, não ape- nas porque provê benefícios à saúde, mas também por apresentar muito boa aplicabilidade na formulação de produtos, deixando-os completamen- te inalterados com relação ao gosto e a textura. Estudos demonstram os efeitos positivos da inulina na regulação di- gestiva, absorção mineral (crescente absorção de cálcio), doenças agu- das, como distúrbios do estômago, diarréia e vomito, bem como doenças gastrintestinais crônicas, como cân- cer de cólon. Novos estudos sobre a doença de Crohn, SII e a contribui- ção da inulina para a saúde global e bem-estar continuam apresentando resultados positivos. Um ingrediente que está tam- bém chamando bastante atenção neste contexto é o amido resistente. Amido resistente é definido como a soma do amido e seus produtos de degradação que não são absorvidos no intestino delgado de indivíduos sadios. Por ser resistente às enzimas digestivas e não ser absorvido no intestino, o amido resistente tem baixo valor calórico e se caracteriza por efeitos fisiológicos semelhantes TABELA 1 - PRINCIPAIS COMPONENTES DA FIBRA DIETÉTICA Classificação Química Componente Substâncias não-glicídicas Proteínas Cutina Cera Silício Suberina Lignina Quitina Polissacarídios não-amido Celulose Hemiceluloses Substâncias pécticas Gomas Mucilagens Polissacarídeos de origem vegetal Polissacarídeos de origem bacteriana Amido Amido resistente TRATO DIGESTIVO 67 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S TRATO DIGESTIVO 68 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S OS EFEITOS DOS AGCC NO INTESTINO HUMANO Os efeitos dos AGCC são variados. O acetato, principal produto da quebra da pectina, é utilizado por muitos tecidos para a recuperação de energia de carboidratos não digeridos e não absorvidos no intestino delgado. O butira- to, cuja maior produção advém da fermentação do amido, ocasiona efeitos diversos sobre o cólon: estímulo ao trofismo da mucosa, fornecimento de 70% da energia utilizada pelos colonócitos, regulação da diferenciação e do crescimento celulares. O propionato está envolvido no metabolismo hepático de lipídeos e de glicose. O butirato é consumido quase completamente pela mucosa colônica, enquanto o acetato e propionato entram na circulação portal, estendendo os efeitos da fibra alimentar além do trato intestinal. Os AGCC são produzidos no cólon numa razão de aproximadamente 60% de acetato, 25% de propionato e 15% de butirato. No entanto, as concentrações podem variar de acordo com a porção do intestino onde ocorre a fermentação da fibra e com o tipo de fibras. Os AGCC modulam a síntese de colesterol com o acetato funcionando como estimulador e o propionato como inibidor. Também melhoram a absorção colônica de cálcio. Os AGCC são absorvidos para o interior da célula colônica por um me- canismo no qual sódio e cloro são carregados para o interior do colonócito e bicarbonato é excretado. Na diarréia, podem haver perdas fecais consideráveis de água, sódio e potássio devido à aceleração exagerada do trânsito intestinal, que dificulta a absorção dos eletrólitos. Portanto, a prevenção da diarréia é importante para a manutenção da saúde e da boa hidratação. ao das fibras alimentares, sendo freqüentemente considerado como tal. Existem basicamente três tipos de amido resistente: Tipo I - Amido fisicamente preso dentro da matriz do alimento. É resistente simplesmente porque as enzimas amilolíticas não têm aces- so. Este tipo de amido é afetado amplamente pela mastigação e pelo processamento dos alimentos, como a trituração e a moagem; Tipo II - Amido granular nativo. Sua resistência é dada por sua com- pactação e estrutura parcialmente cristalina, que pode ser alterada pela gelatinização; Tipo III - Resistência adquirida com a retrogradação, principalmente da amilose. Existem também indicações de resistência em amilopectina retro- gradada e em complexos amilose- lipídios. O amido resistente do Tipo III pode ser formado através de processamen- to, por métodos que utilizam teor de umidade alta,cozimento e/ou auto- clavagem, podendo ser usado como ingrediente para reduzir o teor caló- rico, reduzir o índice glicêmico e/ou aumentar o teor de fibras alimentares de alimentos processados. Não há, até o momento, um con- senso em relação à inclusão ou não do amido resistente na definição de fibras alimentares. Porém, existem al- gumas implicações técnicas quanto a isso, pois o método enzimático- gravimétrico atualmente aceito para determinar fibras alimentares não detecta a maior parte do amido resistente presente nos alimentos. Os amidos resistentes naturais produzem mais butirato, um ácido graxo de cadeia curta (AGCC) do que qualquer outra fibra. Os AGCC apresentam múltiplas funções que promovem a saúde no intestino gros- so. Uma delas é promover a redução do pH, o que auxilia na redução das bactérias ruins. O produto Natural Hi-maize 5-in1- Fiber, da Natio- nal Starch Food Innovation, é um exemplo típico de amido resistente natural; essa fibra insolúvel possui mais de 120 estudos nutricionais atestando sua ação benéfica na promoção da saúde intestinal/co- lônica. O aumento de produção de butirato, via fermentação, é um dos fatores mais importantes pelo fato do butirato ser a fonte de energia preferida pelas células saudáveis do cólon. Diversos estudos mostram o im- pacto do butirato no intestino grosso para potencial tratamento de colite, SII e vários distúrbios intestinais. Mas nem todas as fibras são iguais. Outras, como as fibras so- lúveis que são fermentadas, podem apresentar alguns problemas de tolerância, limitando seu consumo conforme a sensibilidade de cada pessoa. As enzimas essenciais ao trato digestivo Uma enzima é uma proteína que catalisa ou acelera uma rea- ção biológica. Portanto, pode ser definida como um biocatalisador, cuja natureza protéica determina a presença de certas propriedades, tais como especificidade de substra- to, dependência da temperatura e dependência do pH. Pelo fato de serem proteínas com estrutura terciária ou quaternária, as enzima são dotadas de dobramen- tos tridimensionais em suas cadeias polipeptídicas, o que lhes confere uma forma característica e exclusiva. Assim, diferentes enzimas têm dife- rentes formas e, portanto, diferentes papéis biológicos. Uma importante função das enzi- mas tem lugar no sistema digestivo. Enzimas como as amilases e proteases quebram grandes moléculas, como o amido e proteínas, respectivamente, em moléculas de menores dimensões, de maneira a que estas possam ser absorvidas no intestino. O amido não é absorvível no intestino, mas as enzimas hidrolisam as cadeias de amido em moléculas menores, tais como a maltose e a glucose, podendo desta maneira ser absorvi- das. Diferentes enzimas atuam sobre TRATO DIGESTIVO 69 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S LACTOSE: UMA pEDRA pARA A SAÚDE DO SISTEMA DIGESTIVO Cerca de 40% da população brasileira possui intolerância a lactose, em algum nível. Essa intolerância, que afeta diretamente o sistema digestivo, pode se manifes- tar de diversas formas: náusea, dores abdominais, diarréia, gases e desconforto. Muitas vezes, o problema não é resolvido por falta de conhecimento, já que a solução é simples. Alguns fabricantes do segmento lácteo começam a enxergar essa oportunidade de mercado e desenvolvem produtos com baixo teor ou sem lactose em suas linhas. No entanto, ainda são poucos produtos e, normalmente restrito ao leite, enquanto uma extensa linha de derivados, como iogurtes, creme de leite e leite condensado, e de produtos com leite adicionado, como biscoitos, pães e bolos, ficam de fora. Uma grande oportunidade para o mercado brasileiro é o oferecimento da lactase para ser ingerida via oral. Altamente vendida nos mercados europeu e americano, a lactase pode ser comercializada como um suplemento, em forma de comprimido, sachê ou cápsula. Trata-se de uma forma muito simples para que as pessoas intolerantes a lactose possam consumir os derivados lácteos e aproveitar seus benefícios sem ter os efeitos indesejados da intolerância. A Prozyn possui uma tecnologia exclusiva para a produção de lactases especí- ficas para o trato intestinal, disponível em diversas atividades enzimáticas. A base do processo consiste em produzir uma enzima que possibilita a decomposição do açúcar do leite em carboidratos mais simples, para melhor absorção no siste- ma digestivo. Empresas de suplementos, indústrias farmacêuticas e farmácias de manipulação devem ficar atentas para as inúmeras possibilidades de crescimento desse mercado. diferentes tipos de alimentos. Assim, as enzimas digestivas, tais como a amilase, protease e lipase, reduzem os alimentos em componentes meno- res que são mais facilmente absorvi- dos no trato digestivo. As enzimas papaína, bromelina e lactase podem melhorar o processo de digestão, servindo como catalisadoras deste processo. A lactase é uma enzima intestinal responsável pela digestão da lactose (açúcar do leite), faci- litando o processo de quebra da lactose em açúcares mais simples e mais facilmente absorvíveis. A bromelina é uma enzima proteolítica encontrada no abacaxi. Além de facilitar a digestão da proteína, tem propriedades antiinflamatórias, aju- dando no processo de recuperação e cicatrização de músculos e tecidos lesionados. A papaína é uma enzi- ma encontrada no látex do mamão papaia, sendo capaz de hidrolisar diferentes tipos de proteínas de ori- gem vegetal ou animal, diminuindo o tempo e facilitando a digestão. Nos últimos anos, nos Estados Uni- dos, houve um aumento no consumo de combinações de enzimas - de origem vegetal, fúngica e/ou animal -, decor- rente de uma procura crescente pelos consumidores, os quais estão cada vez mais conscientes das opções e dos benefícios oferecidos pelos produtos funcionais. Como já mencionado acima, no sistema digestivo, as enzimas digerem as proteínas, gorduras e carboidratos em seus componentes mais simples (gorduras essenciais, açúcares e aminoácidos). As enzimas também ajudam na extração de vitaminas e minerais. A deficiência de produ- ção de enzimas digestivas conduz, freqüentemente, a reclamações digestivas comuns. Com relação à saúde do trato digestivo, as enzi- mas proporcionam uma digestão mais eficiente, evitando indigestão, azia, refluxo ácido, gases, inchaço e fadiga depois de comer. As enzimas absorvidas na forma de suplemento podem ser de fontes animais ou vegetais, porém as enzimas à base de plantas provêm maior suporte para uma aproxima- ção puramente digestiva. Contudo, se o pâncreas está inflamado, lento ou doente, devem ser combinadas enzimas animais com enzimas ve- getais, como parte de uma dieta regular. As enzimas de fonte animal fortalecerão o pâncreas, enquanto as enzimas à base de plantas, literalmente, quebrarão o alimento consumido. Nos últimos cinco anos, as fórmulas que combinam enzimas pelo menos dobraram de potência. A potência ou eficiência real das enzimas é um ponto fundamental. Todas as enzimas produzidas la- boratorialmente têm seu potencial medido através de ensaios para determinar o seu potencial digestivo, em determinado pH e temperatura, com relação a um substrato específi- co. Ao contrário da maioria dos su- plementos dietéticos, estas enzimas não são medidas através de peso em miligramas, e sim em termos de “unidades ativas”; torna-se difícil, para os fabricantes transmitir esse fator de potência de forma compre- ensível para os consumidores! Tradicionalmente, os produtos à base de enzimas comercializados para a saúde digestiva eram for- TRATO DIGESTIVO 70 FU N C IO N A IS & N U TR A C ÊU TI C O S muladospara manutenção geral ou para distúrbios específicos, como intolerância à lactose. Hoje, o mercado está definitivamente mais consciente e informado e já existem produtos dirigidos a regi- mes dietéticos específicos, como as dietas de alta proteína ou nutrição esportiva. O poder dos chás e suas ervas A vida vegetal tem sido sustento e remédio para todas as espécies animais, em todos os tempos. A busca e o uso de plantas com propriedades terapêuticas é uma prática milenar, atestada em vários tratados de fitoterapia das grandes civilizações há muito desaparecidas. O grande número de espécies medi- cinais hoje conhecidas é reflexo do grau de antiguidade dos conheci- mentos fitoterápicos e resultado de incontáveis erros e acertos. O chá não deve ser tomado apenas para tratar doenças, mas também como preventivo, fortalecen- do o organismo, aliviando o sistema digestivo e as demais funções. O chá digestivo favorece as secreções salivares e gástricas e o peristaltismo do tubo digestivo. Entre os chás com propriedades digestivas reconhecidas pode-se mencionar o boldo, camomila, capim-limão, carqueja, erva-doce, hortelã, sene, etc. O boldo (Peumus boldus). Em- pregado em casos de desconforto digestivo e do fígado, o seu princí- pio ativo é a boldina, um alcalóide, principal responsável pelas suas propriedades hepatoprotetoras e coleréticas. O boldo traz benefícios principalmente para o fígado. Aju- da-o a trabalhar melhor e é ótimo para quem tem hepatite ou proble- mas freqüentes ligados ao fígado, como dor de cabeça, suores frios e mal-estar. O boldo, tomado antes das refeições, ajuda na digestão e nas funções do aparelho digestivo. É ótimo para quem tem intestino preso, cálculos biliares e gastrite. Estimulante da digestäo e secreção biliar, atua nos distúrbios intestinais e hepáticos. Auxilia na cura de res- saca. O chá combate a prisão de ventre, gases intestinais e transtorno do fígado, atua na degradação de gorduras, é indicado em intoxicações alcoólicas. A camomila (Matricaria chamo- milla). Alivia gases intestinais, de- sintoxica o fígado, auxilia no trata- mento de reumatismo e da excitação nervosa, alivia enxaqueca, dores de dente, insônia, enjôos e é tônico para pele. Usado para cólicas em lactentes, regula os intestinos. É an- tiinflamatório e calmante, utilizado em crises histéricas, depressivas e febres intermitentes. Externamente utilizado para queimaduras do sol e irritação nos olhos. Os egípcios a usavam no tratamento da malária e, devido a sua ação antiinflamatória, é indicada para má digestão, cólica uterina, sedativa (infusão das flores ou chá da flor de camomila); para queimaduras de sol (ajuda a refres- car a pele e evita o vermelhidão da pele), conjuntivite e olhos cansados (compressas com infusão do prepa- rado das flores). Para criança ajuda a combater vermes. Como chá, usado diáriamente, diminui as dores musculares, tensão menstrual, stress e insônia, diarréia, inflamações das vias urinárias; misturado ao chá de hortelã com mel combate gripes e resfriados; banho com sachê de camomila é sedativo e restaurador de forças e especial para hemor- róidas. Na forma de infusão é útil para o fígado, antialérgico, dores de reumatismos, nevralgias; ajuda a purificar o organismo e aliviar a irritação causada pela poluição. Age como sudorífico O capim-limão (Cymbopogon citratus). Indutor do sono, alivia dores de cabeça e gases intestinais. Indicado para digestão, cólicas menstruais e intestinais, distúrbios re- nais, conjuntivites, tosse, espasmos, febres, diarréias, reumatismos, histe- rias, afecções do estômago, nervos e palpitações do coração. É sedati- vo, analgésico, calmante, diurético, hipotensor, depurativo, expectorante e antiálgico. Os compostos químicos a que se devem estas propriedades são o citral, geraniol, metileugenol, mirceno, citronelal, ácido acético e ácido caprioco. Tais componentes, e mais especificamente o citral, dão-lhe um aroma semelhante à lúcia-lima, bela-luísa ou limonete (Aloysia triphylla). O carqueja (Baccharis triptera ). Indicado para má digestão, cansa- ço físico, vermes intestinais, prisão de ventre, gastrite, azia, anemia, fígado, rins, diabetes, inflama- ções urinárias, próstata, colesterol, gota, gastrite, afecções do baço e angina. Auxilia no processo de desintoxicação e emagrecimento. É revigorante das funções genitais, diurético, antiasmática, antibiótica e depurativa. A erva doce (Pimpinella anisum). Calmante dos nervos, elimina mau hálito, toxinas da pele, gases intes- tinais, cólicas intestinais infantis. Estimula o apetite, digestão, secre- ção biliar, restaura fluxo menstrual e aumenta o leite das lactantes. Bom contra azia, também utilizado na culinária como aromatizante. A hortelã (Mentha piperita). In- dicada para o tratamento da febre, vermes, espasmos, gases intesti- nais, sistema nervoso, inflamações uterinas, resfriado, faringite, tosse, afecções da garganta, coceiras, sarampo, inchaços, dor de cabeça, rinite, conjuntivite, cólicas, diarréia, problemas estomacais, intestinais e respiratórios. O chá é lactante, estimulante digestivo, anti-séptico, descongestionante nasal, perspiran- te, anestésico e analgésico. O sene (Cassia angustifolia). Laxante, depurativo, vermífugo e elimina manchas brancas do corpo. Indicado para o mau funcionamento intestinal, alivia os problemas de hemorróidas e fissuras anais por facilitar as evacuações. Não é re- comendado para crianças e durante a gravidez.
Compartilhar