Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
MEDICINA DA FAMÍLIA Beatriz Machado - Internato DIABETES MELLITUS CASO 1 - DMG Sra. Dulce, 36 anos, negra, secundigesta, IG 22 semanas e 04 dias (calculada por USG obstétrico), DPP: 15/09/22; DUM 07/12/21, gestação planejada. Previamente hígida, natural de Rio Doce – MG, confeiteira. No momento acompanhada do seu parceiro. Sr.Pataxó, 36 anos,– e também da sua filha, Mel, de 10 anos, portadora de DM1 diagnosticada há 03 anos. QP/HMA: dona Dulce nega novas queixas no momento. Relata cessação das náuseas e vômitos que tiveram melhora progressiva ao longo dos últimos dois meses. Hoje traz resultados de exames laboratoriais solicitados na sua primeira consulta de pré-natal. IS: Nega perda ponderal, poliúria, polidipsia, polifagia, febre, náuseas, vômitos, dispneia, dor torácica, abdominal ou pélvica, disúria, hematúria, sangramentos ou corrimentos. Relata diurese e dejeções presentes e sem alterações. Nega intercorrência desde a última consulta. AO: G2P1(C)Ao: último parto há 10 anos. Relata que obstetra optou pela cesárea, pois o ¨bebê estava grande¨. Dados do nascimento do primeiro filho constam peso ao nascer: 4.190g, estatura: 48 cm; PC: 35cm; APGAR 8/9. Sra. Dulce nega intercorrências na gestação e parto anteriores, porém refere pré-natal insuficiente e de início tardio (fez duas consultas, a primeira com IG: 30 semanas) e não chegou a retornar para apresentar os exames laboratoriais feitos naquele pré-natal. Informa ganho ponderal de cerca de 18kg na gestação da primogênita e relata que sua filha nasceu com cardiopatia (CIV). AM: nega alergias. Informa ser portadora de SOP. Nega HAS, DM e outras comorbidades. Relata passado de cesariana, sem outras cirurgias prévias. Refere internamento apenas no parto anterior. Nega hemotransfusões, passado de IST`s. Nega medicamentos em uso contínuo. Informa ter interrompido o ácido fólico 05mg/dia a partir da 12º semana da atual gravidez. HV: nega tabagismo, etilismo, uso de drogas ilícitas. Refere dieta hiperlipídica e hipercalórica. Informa sedentarismo. Ciclo sono-vigília preservado. AF: Relata história familiar de HAS e DM (pai e mãe). Nega histórico de câncer e outras patologias. HPS: Sra. Dulce informa que está preocupada com a atual gravidez. Isto porque a sua primeira filha tem diabetes insulino-dependente, diagnosticada aos 7 anos. Os seus genitores são portadores de DM, sendo que seu pai teve o pé direito amputado por conta da doença. Além disso, notou que exames laboratoriais do pré-natal de seu parceiro tem ¨açucar¨ alterado e, atualmente, o marido queixa-se frequentemente de parestesias e dores em pés, o que a faz lembrar da doença do seu pai antes da amputação referida. Ao exame: • Paciente em BEG, acianótica, afebril, anictérica, eupneica, facies atípica, mucosas normocrômicas. • SSVV: FC 88bpm, SPO2 99%, FR 16 ipm, PA: 118X76mmHg, T 36ºC, peso 80 kg, altura 1,60m, IMC: 31,2 kg/m². • Pele: manchas hipercrômicas em face posterior de pescoço e regiões axilares, de textura grossa e aveludada. • AR: MVBD, sem RA. • ACV: RCR, BRNF em 2T, sem sopros. • Abdome: globoso por PA, com presenta de útero gravídico, AU: 22cm; situação longitudinal, dorso a direita, cefálico, BCF 140bpm, MF presentes. • Extremidades: perfundidas e sem edemas. Exames complementares: Laboratório: • Exames 1º trimestre: tipo sanguíneo: O+; HB 12; HT 37%; Leuco 9.860; plaq 220.000; glicemia 91; VDRL NR; anti HIV 1 e 2 NR, AGHBS NR; anti- HBS reagente; CMV IgM NR IgG reagente; rubéola IgM NR IgG reagente; toxoplasmose IgM NR IgG reagente; EAS normal; urocultura negativa. • Triagem pré-natal: eletroforese de HB: HBAA; CMV IgM NR; rubéola IgM NR; anti treponema P MEDICINA DA FAMÍLIA Beatriz Machado - Internato NR; anti-HIV 1 e 2 NR; toxoplasmose IgM NR; HTLV 1 e 2 NR. • Imagem: USG obstétrico: feto único, situação longitudinal, dorso a esquerda, cefálico, movimentos fetais presentes, BCF 156 bpm, sem evidências de alterações anatômicas à ecografia, crescimento fetal adequado, placenta anterior, homogênea, grau de Grannum. IG: 10 semanas e 0 dias +/-1 semana. DISCUSSÃO – V OU F? • (V) Dona Dulce tem ao menos 04 fatores de risco para Diabetes Mellitus Gestacional. Explicação: idade >36, obesa, HF de DM, antecedente de macrossomia, malformação fetal congênita. • (V) IMC >25kg/m², SOP, HAS crônica, H.F de DM e histórias de abortamentos de repetição são fatores de risco para DMG. • (F) A suplementação com ácido fólico usada no PN de Dona Dulce deveria ser de 400mcg/dia. Explicação: A administração preventiva de ácido fólico no período pré-gestacional, para a prevenção de anormalidades congênitas do tubo neural, especialmente nas mulheres com antecedentes desse tipo de malformações (5mg, VO/dia, durante 60 a 90 dias antes da concepção). • (F) Uma segunda glicemia de jejum deve ser solicitada para confirmar DMG para dona Dulce (Obs. Glicemia de jejum dos exames do 1º trimestre = 91). • (V) Para gestantes, glicemia de jejum = 130 e HBA1C > 6,5% não confirmam DMG. • (V) Dona Dulce tem indicação de realizar TOTG75g na atual gestação, entre 24-28 semanas. Explicação: Quando se tem um primeiro exame de glicemia jejum com valor normal, a recomendação é que se realize o TOTG entre 24 e 28 semanas. • (V) Dona Dulce deveria ter realizado o TOTG75g no início do PN (IG 30 semanas) da sua 1º filha. • (F) TOTG 75g com resultado >= 200mg/dl após 2h, realizado na 24º semana gestacional, confirma DMG. Explicação: é recomendado que o diagnóstico de DMG seja estabelecido entre a 24º e 28º semana de idade gestacional, através do TOTG com 75g, quando pelo menos 1 dos valores de glicemia a seguir esteja presente: jejum >=92 e <126mg/dL; 1 hora >= 180mg/dL; 2 horas >=153 e <200mg/dL. No rastreamento do DMG, após a 24º semana, quando o valor da glicemia de 2h no TOTG com 75g estiver >= 200mg/dL, deve ser considerado a presença de DM diagnosticado na gestação (overt diabetes) e não diabetes mellitus gestacional (DMG). • (F) Caso o TOTG75g confirme DMG, deve se iniciar PNAR compartilhado, insulinoterapia e monitorar o controle glicêmico da paciente. • (F) Segundo o MS, gestantes com DM prévio em monoterapia com metformina devem manter o MEDICINA DA FAMÍLIA Beatriz Machado - Internato tratamento por ser o hipoglicemiante de escolha na gravidez. • (V) No DMG, pacientes em terapia não farmacológica tem recomendação de realizar monitoramento glicêmico de 04 pontos (jejum, 01 hora após o café, almoço e jantar). • (F) É recomendado o início da terapia farmacológica na mulher com DMG quando cinco ou mais medidas de glicemia avaliadas após 30 dias de terapia não farmacológica estiverem acima da meta. • (V) Em pacientes com DM prévio, no planejamento gestacional, deve ser considerado engravidar com HBA1C ideal de 6,0%. • (F) É recomendado que toda paciente com DMG realize reclassificação do status glicêmico após 6 a 8 semanas do parto com uso do exame padrão ouro: a dosagem de HBA1C. Explicação: a reclassificação deve ser feita, idealmente, seis semanas após o parto para todas a mulheres que tiveram DMG, utilizando-se os critérios padronizados para a população de não gestantes. A realização do TOTG com 75g de glicose seis semanas após o parto é considerado o padrão-ouro para o diagnóstico de diabetes após a gestação. • (V) O uso de ¨AAS¨ em baixa dose iniciado antes da 20º semana da gestação e mantido até o parto, está devidamente indicado para gestantes com DM1 ou DM2 pré-gestacional.Explicação: é recomendado indicar o ácido acetilsalicílico (AAS) em doses de 75 a 100mg/dia para gestantes com DM1 ou DM2 pré-gestacional. O uso deve ser iniciado entre 12 e 28 semanas de gestação, preferencialmente antes da 18º semana de gestação, devendo ser mantido até o parto. METAS GLICÊMICAS PARA A GESTANTE CASO 2- DM2 Sr. Assú Kah Pataxó, 36 anos, indígena, natural de Porto Seguro-Ba, guia turístico, previamente hígido, vem para realizar consulta de pré-natal do parceiro. Traz resultados de exames laboratoriais e queixa-se de parestesias e dores nos pés de início há cerca de 04 meses. Nega lesões cutâneas, poliúria, polidipsia, polifagia e perda ponderal. Relata dieta hipercalórica e hiperlípidica. Acha que a esposa está exagerando, já que não há histórico de diabetes na sua família. Ao exame: paciente em BEG, acianótico, afebril, anictérico, facies atípica. SVVV: FC 72bpm, SPO2 98%, FR 15ipm; PA: 135X88mmHg; T 36,5ºC, peso 94 kg, altura 1,75m, IMC 30,7kg/m², C.abd 106 cm. Monofilamento • 10g: 5/10 em pé direito e 6/10 em pé esquerdo. • Exame físico sem outras alterações segmentares. • Exames complementares: laboratório: HB 15; HT 44%; leuco 9.900; plaq 310 mil; glicemia 250; HBA1C 8,2%; CT 250; HDL 33; LDL 194; Triglicerídes 202; Cr 0,9; Ur 38; TGO 35; TGP 32; GGT 25; TSH 2,0; EAS glicosúria ++; urocultura negativa; anti-HIV NR; anti-HTLV 1 e 2 NR; AGHBS NR; anti-HBS reagente; anti-HCV NR: CMV IgM NR IgG reagente; rubéola IgM NR IgG reagente; toxoplasmose IgM NR, IgG reagente. • (F) Para confirmar o diagnóstico de DM no Sr. Assú Kah é necessário repetir HBA1C e glicemia de jejum. • (V) Na presença de sintomas inequívocos de hiperglicemia, é recomendado que o diagnóstico seja realizado por meio de glicemia ao acaso >= 200mg/dl. • (F) O rastreamento para DM não estava bem indicado para o Sr.Assú Kah, de 36 anos, mas é recomedado para todos acima de 45 anos. Explicação: O rastreamento é recomendado para todos os indíviduos com 45 anos ou mais, mesmo sem fatores de risco, e para indivíduos com sobrepeso/obesidade que tenham pelo menos um fator de risco adicinal para DM2. • (V) No pré-DM, em idade <60 anos, obesidade grau II, mulheres com passado de DMG, o uso de MEDICINA DA FAMÍLIA Beatriz Machado - Internato metformina deve ser considerada na prevenção do DM2. Explicação: O uso da metformina, associado a medidas de estilo de vida, deve ser considerado na prevenção do DM2 em adultos com pré-DM nas seguintes situações: idade menos que 60 anos, obesos com IMC acima de 35kg/m², mulheres com história de DMG, na presença de síndrome metabólica, com hipertensão ou quando a glicemia de jejum for maior que 110mg/dL. • (V) A meta almejada para o Sr.Assú kah é HBA1C <7%, no entanto, para um idoso com síndrome de fragilidade, a meta de HBA1C <8,5% deve ser considerada. Explicaçao: Em idosos com DM, com objetivo de evitar hipoglicemia, uma meta de HBA1C <8,5% deve ser considerada, quando houver síndrome de fragilidade, presença de comorbidades que limitem a expectativa de vida e limitação cognitiva. • (F) Considerando a HBA1C (8,2%) do Sr. Assú Kah, recomenda-se a monoterapia com metformina. • (V) Em indivíduos com HBA1C >9,0%, assintomáticos e sem outras comorbidades, deve se considerar dupla terapia com metformina e insulina. • (F) A vitamina B12 deve ser dosada ao se introduzir metformina, visto que o medicamento pode causar a sua deficiência. • (V) É recomendado realizar o teste do monofilamento ao diagnóstico de DM2 do Sr.Assú kah, mas não está indicado realizar o mesmo teste para Mel, portadora de DM1 diagnosticada há 03 anos. • (V) Como tratamento de primeira linha para a neuropatia diabética dolorosa, é recomendado o uso de monoterapia e antidepressivos tricíclicos. CASO 3 – DM1 Mel, 10 anos, filha de dona Dulce e sr Assú Kah, é portadora de DM1 há 03 anos. Atualmente acompanhada em centro de referência, encontra-se assintomática, mas devido a próxima consulta estar distante, os pais solicitam tirar dúvidas. A menor faz uso de insulina basal e prandial, com HBA1C mais recente: 7,3%. • (V) A HBA1C (7,3%) de Mel, pode ser tolerada caso a menor tenha apresentado hipoglicemias assintomáticas. • (V) D. Dulce deve aguardar Mel completar 11 anos caso tenha sido considerado rastreio para retinopatia diabética. • (V) Sr. Assú Kah está certo ao afirmar que o DM 1 de Mel é bem controlado, ao apresentar registro de controle glicêmico da filha com HGT´s em jejum (entre 80-130) e após 2h das refeições (menores que 180).
Compartilhar