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Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 Carcinoma Epidermóide Introdução - Carcinoma epidermoide, carcinoma de células escamosas ou carcinoma espinocelular é a neoplasia maligna mais comum em cavidade bucal, representando cerca de 95% dos casos – tumores de glândulas salivares, sarcomas e linfomas abrangem os 5% restante – derivado do epitélio de revestimento da mucosa bucal – alterações genéticas nesse epitélio; - Do mesmo modo que em vários outros carcinomas, o risco de câncer intraoral aumenta com o aumento da idade – tendo sido observado um maior número de casos em indivíduos a partir dos 40 anos – especialmente para os homens. Embora atualmente tenha se observado um aumento no número de casos em jovens; - A boca é dividida em regiões: lábios e sua mucosa, mucosa jugal, área retromolar, gengivas ou rebordo alveolar – se não há dentes – língua – parte oral ou parte móvel – e palato duro OBS.: Os tumores localizados no palato mole são classificados como de orofaringe. - A localização do tumor também é um fator importante para o prognóstico, tumores no lábio apresentam melhor prognóstico do que os localizados em assoalho de boca e língua. Aproximadamente 70% dos casos de câncer de boca ocorrem em regiões da boca de fácil visualização – borda lateral de língua, assoalho e lábio inferior – entretanto, em geral, o diagnóstico é realizado de forma tardia, fato que afeta consideravelmente o prognóstico. Os principais fatores responsáveis pelo atraso no diagnóstico são a falta de informação dos pacientes e a falta de capacitação de profissionais da saúde, especialmente dentistas e médicos. Fatores de Risco - A causa do CEC é multifatorial. Nenhum agente ou fator etiológico único tem sido claramente definido ou aceito, porém tanto fatores extrínsecos quanto intrínsecos podem estar atuando, e, provavelmente, mais do que um único fator é necessário para produzir tal malignidade; → Fatores Intrínsecos - Incluem estados sistêmicos ou generalizados, tais como desnutrição geral ou anemia por deficiência de ferro; !!! Deficiência de Ferro - A deficiência de ferro, especialmente a grave e crônica forma conhecida como síndrome de Plummer-Vinson ou Paterson-Kelly, está associada a um elevado risco para o carcinoma de células escamosas do esôfago, orofaringe e da região posterior da boca; !!! Deficiência de Vitamina A - A deficiência de vitamina A produz uma ceratinizacao excessiva da pele e das membranas mucosas e os pesquisadores tem sugerido que a vitamina pode exercer um papel protetor ou preventivo no pré-câncer e no câncer oral; → Fatores Extrínsecos - Os principais fatores de risco associados são, tabaco, etilismo, radiação solar – câncer de lábio – e infecções por HPV – ainda não há uma evidência muito bem estabelecida; OBS.: Agentes mutagênicos são mais capazes de induzir câncer em pacientes com história familiar de câncer. !!! Tabaco - 90% dos indivíduos que desenvolvem CEC consumem tabaco. O tabaco nas suas diversas formas – cigarro industrial, fumo de rolo e outros – tem muitas substâncias tóxicas, e várias delas são cancerígenas; OBS.: A redução do risco de desenvolvimento do câncer bucal em um nível próximo aos que nunca fumaram, só é percebida após dez anos de interrupção do hábito de fumar. - Contudo, a maioria dos carcinógenos químicos não é capaz de produzir um efeito biológico isoladamente, eles requerem ativação por enzimas do hospedeiro – carcinógenos oriundos do tabaco são convertidos em metabólitos reativos de DNA pela enzima citocromo P450, estes metabólitos se ligam ao DNA de células-alvos causando mutações. Portanto, percebe-se que a suscetibilidade genética relacionada ao câncer de boca está na eficiência de metabolizar carcinógenos; !!! Álcool - O consumo de 0,5 L a 1 L de vinho por dia proporciona um risco trinta e quatro vezes maior para o desenvolvimento de CEC; OBS.: As bebidas destiladas têm uma concentração de álcool muito maior, portanto, seu potencial carcinogênico também é maior. - Quando se associa o álcool – além de ser carcinogênico por si só, ele potencializa o efeito dos agentes carcinogênicos do tabaco – ao tabaco o risco é ainda maior – 100x maior; - O mecanismo pelo qual o álcool causa o câncer de boca está relacionado com o metabolismo do etanol. O acetaldeído, principal metabólito do álcool, está relacionado com mutações em ponto, aberrações cromossômicas e ligação às proteínas de reparo. Características Clínicas e Radiográficas - Os indivíduos portadores do carcinoma de células escamosas oral são, na maioria das vezes, homens idosos que notaram uma alteração em um sítio de câncer oral por 4 a 8 meses antes de buscar a ajuda profissional – 8 a 24 meses entre os grupos socioeconômicos mais baixos; - Existe dor mínima durante a fase inicial do crescimento o que explica a demora na procura dos cuidados profissionais; - O carcinoma de células escamosas oral tem uma apresentação clínica variada, incluindo as seguintes: - Exofítica: Formação de aumento de volume; vegetante, papilar, verruciforme; - Endofítica: Invasiva, escavada, ulcerada; - Leucoplásica: Mancha branca; - Eritroplásica: Mancha vermelha; - Eritroleucoplásica: Uma combinação de áreas vermelha e branca; - Os exemplos leucoplásicos e eritroplásicos são provavelmente casos em fases iniciais, que ainda não produziram um aumento de volume ou ulceração; - Essas alterações da superfície mucosa tipicamente são destruídas pelo carcinoma exofítico ou endofítico em desenvolvimento, porém vários casos são diagnosticados antes da sua completa destruição e exibem lesões pré-cancerosas residuais envolvendo a mucosa adjacente; - Uma lesão exofítica tipicamente apresenta superfície irregular, vegetante, papilar ou verruciforme de coloração variável – da coloração normal ao vermelho ou branco – dependendo da quantidade de ceratina e vascularização. A superfície é frequentemente ulcerada e o tumor mostra-se duro a palpação; - O padrão de crescimento endofítico tem uma área central deprimida, de formato irregular, ulcerada, com uma borda “em rolete” de mucosa normal, vermelha ou branca. A borda em rolete resulta da invasão do tumor para o interior do tecido e para as laterais abaixo do epitélio adjacente; - A destruição do osso subjacente, quando presente, pode ser dolorosa ou completamente indolor e aparecerá nas radiografias como uma radiolucidez “em roído de traça” com margens mal definidas ou bordas irregulares. Carcinoma Epidermóide de Língua - Comum em pacientes a partir da 5° a 6° década de vida, sendo o local de acometimento mais frequente a borda lateral de língua, no seu terço mais posterior – o que dificulta a percepção da sua presença; - A invasão linfática com disseminação para os linfonodos cervicais – gerando aumento de volume no pescoço, na cadeia ganglionar, visível clinicamente – é comum no momento do diagnóstico, principalmente em diagnósticos obtidos nos estágios mais avançados da doença; - Clinicamente, apresenta-se com aspecto ulcerado, acinzentadas – áreas de necrose tecidual – e avermelhadas. Ademais, a lesão pode sangrar com facilidade se mordida ou tocada; OBS.: A língua é o sítio de acometimento em pacientes jovens e é o sítio de acometimento do único caso de carcinoma de células escamosas congênito relatado. - O prognóstico nesse tipo de câncer depende muito de quando foi obtido o diagnóstico, lesões que são diagnosticadas precocemente, o prognóstico tende a ser melhor. Além disso, o tamanho do tumor também irá influenciar no prognóstico, pois quanto maior o tumor, maior a probabilidade de ele já ter gerado metástases – que pioram o prognóstico; OBS.: O diagnóstico precoce favorece em cerca de 70% de casos que sobrevivem aos cinco primeiros anos da doença, saindo para menos de 30% nos casos mais avançados. - Linfonodos Envolvidos:Terço médio jugular, digástricos, submandibulares. Carcinoma Epidermóide de Assoalho de Boca - O assoalho de boca acomete mais frequentemente os homens. Ocorre uma década mais cedo em mulheres do que em homens, porém, ainda é geralmente uma doença de adultos idosos. É a segunda localização mais frequente para o carcinoma epidermóide na boca, representando até 20% dos casos; - Dentre todos os carcinomas intraorais, as lesões de assoalho de boca são as mais propensas a se originar de uma leucoplasia ou eritroplasia preexistente. Geralmente começa como uma lesão nodular pequena assintomática ou ulcerativa que pode ser negligenciada; - A área mais comum de envolvimento é a linha média, próximo ao freio lingual, a região anterior é mais acometida que a posterior; - Clinicamente apresenta-se como uma lesão de crescimento vegetante, proliferativa, ulcerada, com sintomatologia dolorosa, halitose – devido a necrose dos tecidos – podendo aparecer como uma mancha branca ou vermelha. Em lesões mais avançadas é comum o crescimento endofítico. Um sintoma muito comum é a dificuldade de mobilidade da língua – a lesão, ao se desenvolver, deixa a região rígida; - A probabilidade de metástase regional precoce é alta, pois o assoalho de boca se localiza próximo aos gânglios linfáticos e é uma região extremamente vascularizada; - Linfonodos Envolvidos: Submandibulares e cadeia cervical. Carcinoma Epidermóide de Lábio - O carcinoma do vermelhão do lábio é tipicamente encontrado em pessoas de pele clara ou com uma exposição prolongada a radiação UV proveniente da luz solar ou com uma história de dano agudo solar – queimadura solar – em uma fase precoce da vida – 70% dos individuos afetados possuem ocupações que envolvem atividades ao ar livre; - Quase 90% das lesões estão localizadas no lábio inferior, na área de vermelhão do lábio, principalmente, tendo-se menos casos nas comissuras labiais. Talvez esse seja o carcinoma epidermóide de boca com maior diferença quando se compara homens e mulheres, tendo- se um número de cinco homens afetados a cada mulher afetada; - Essa lesão esta geralmente associada a casos de queilose actínica e leucoplasia, pode surgir no local que o paciente segura um cigarro, charuto ou cachimbo. O carcinoma epidermóide de lábio típico é uma ulceração endurecida, indolor, crostosa e exsudativa que apresenta geralmente menos de 1 cm no seu maior diâmetro quando descoberta; - O tumor é caracterizado por uma taxa de crescimento lenta e a maioria dos pacientes percebe a presença de uma lesão de 12 a 16 meses antes que um diagnostico formal tenha sido feito – o prognóstico nessas lesões geralmente é melhor, pois ele costuma ser diagnosticado mais rápido, quando comparado aos outros tipos de carcinoma epidermoide de boca; - A metástase é um evento tardio ao diagnostico, menos de 2% dos pacientes apresentam linfonodos envolvidos, quando são, geralmente é nas regiões submentoniana e submandibular; - A invasão perineural pode ser o resultado da extensão do tumor para o interior da mandíbula através do forame mentoniano. Embora esse tumor seja tipicamente diagnosticado e tratado em um estágio precoce, em um paciente negligente pode ocasionar destruição considerável do tecido normal. Carcinoma Epidermóide de Gengiva - Os carcinomas da gengiva e dos alvéolos geralmente são indolores e surgem mais frequentemente na mucosa ceratinizada, na região posterior da mandíbula; - Esse tumor possui uma especial propensão a simular lesões inflamatórias benignas e lesões reacionais, tais como o granuloma piogênico e a hiperplasia fibrosa; - Os tumores da crista alveolar maxilar podem se estender em direção ao palato duro. Se o tumor estiver localizado nas adjacências de um dente, então ele pode simular uma doença periodontal ou um granuloma piogênico; - Quando o câncer se desenvolve em uma área edêntula, ele pode dar origem a um aumento de volume que “envolverá firmemente” a borda de uma dentadura e à primeira vista lembrara uma hiperplasia fibrosa inflamatória, também conhecida como epúlide fissurada; - Essa lesão pode não se tornar evidente até após a extração dentária, quando se prolifera para fora do alvéolo para mimetizar o tecido de granulação hiperplásico da epúlide granulomatosa; - Geralmente destrói a estrutura óssea subjacente, causando uma mobilidade dentária. Clinicamente, apresenta-se como uma lesão ulcerada, com crescimento proliferativo e de aspecto amolecido; - Dentre todos os carcinomas intraorais, esse e o menos associado ao tabaco e o que possui a maior predileção pelo gênero feminino; - Linfonodos Envolvidos: Submandibulares, jugulares e submentonianos. Carcinoma Epidermóide de Palato Duro - O palato duro compreende o “teto da boca” e constitui-se basicamente pelos ossos palatinos e osso maxilar aderidos à mucosa. As lesões nessa área apresentam crescimento proliferativo, áreas de ulceração, avermelhadas ou pálidas; - Quando o paciente apresenta dor ou até mesmo dificuldade de abrir a boca geralmente a lesão é em palato; - Linfonodos Envolvidos: Jugulares. Características Histopatológicas - É muito importante a gradação histológica – avaliação morfológica da diferenciação celular de cada tumor – do carcinoma epidermóide, pois é ela que vai definir o tratamento e o prognóstico da doença; !!! Bem Diferenciado: As células malignas que formam o tumor têm alto grau de especialização, sendo semelhantes ao epitélio original; !!! Mediamente Diferenciado: No tumor há células totalmente indiferenciadas e células bem diferenciadas, semelhantes ao epitélio original; !!! Indiferenciado, Pobremente Indiferenciado ou Anaplásico: As células malignas tem pouca ou nenhuma semelhança morfológica e funcional com o epitélio original; - A gradação histológica é baseada em critérios morfológicos, como anaplasia celular e alterações nucleares – número de nucléolos, relação núcleo/citoplasma, presença de células gigantes em meio as células neoplásicas, picnose nuclear, número de mitoses normais e aberrantes; - As alterações são analisadas de acordo com a qualidade e a quantidade, por exemplo, a produção de queratina → se as células ainda produzem queratina, elas estão mais próximas do que seria uma célula normal; Existência de junções celulares → se existem as junções, elas estão mais próximas do que seria uma célula normal; → Bem Diferenciado - O carcinoma epidermóide bem diferenciado simula bem o epitélio queratinizado normal, apresentando sempre porções estratificadas, produtoras de grande quantidade de queratina – apenas no local errado – formando pérolas ou ninhos de queratina; - Além disso, é possível observar ninhos ou cordões de células epiteliais poligonais, que invadem o tecido conjuntivo subjacente, unidas entre si por pontes intercelulares; → Mediamente Diferenciado - As células malignas apresentam características semelhantes e características bem diferentes das células do epitélio original. Trata-se, portanto, de um estágio intermediário; → Indiferenciado - No carcinoma epidermóide indiferenciado, pobremente diferenciado ou anaplásico, as células tumorais podem até “lembrar um epitélio”, as características morfológicas, em alguns casos, mas perde funções básicas, como a produção de queratina, portanto, não é possível observar pérolas de queratina. A queratina identificada apenas através da técnica imuno-histoquímica – usando a citoqueratina como marcador; - As células são bem aberrantes – bem mais que nos outros tipos – há figuras de mitose atípicas e em grande quantidade. Tratamento - O tratamento do câncer de boca requer uma avaliação multidisciplinar que envolve o cirurgião de cabeça e pescoço, o cirurgião plástico, o radioterapeuta, o oncologista clínico, o patologista e as equipes de suporte compostas por Cirurgião- Dentista, nutricionista, fonoaudiólogoe psiquiatra/ psicólogo; - Após a avaliação clínica e microscópica, um planejamento individualizado deve ser proposto para o paciente; - A localização do tumor pode influenciar o plano de tratamento e o estadiamento clínico da doença guia o tratamento dos carcinomas de células escamosas intraorais, que consiste na excisão cirúrgica ampla – radical – radioterapia ou na combinação de cirurgia e radioterapia. A quimioterapia tipicamente é administrada em conjunto com a radiação, como quimioterapia de indução seguida por uma quimiorradioterapia concomitante ou como terapia paliativa.
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