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>-• A.V a ■ 'h - ' « A . P L A N T A DA NOVA POVOACAO DB CA/AL VAS \ i CO Situvxia nu marõem O riental ouilirvit.iJo R io Barbradoí A ía L o n g lT d cS í^ tt cou TiioM cndiauocíu ttw dorcrro. cl/atitude Auitnd de I5!ll%’ Engrianoanoude t78‘À pelo Í U T e I ^ S E N H O R LUlZOALBl QUK RqtE DB ME LLO I^BCACHR» , u u u u u u CIORD C íitrtf Irtcgròdo de Qrdenowento Terrifonol - r V , - - - ■ • ■ . . - - ■. 0 A publicação de New Towns for Colonial Brazil, W da Dra Roberta Marx Delson; em 1979, foi um A fe ito pioneiro. Naquela época poucos * > estudiosos admitiam a idéia de que ^historicamente houvera pma padronização ■ das vilas no Brasif-colônia, , a concepção 0 revolucionária de tím planejamento no nível g macroeconômico nd sécuío XVill era ainda - mais impensável 0 No entanto, hoje as idéias da Dra: Delsori' _ são encaradas como um ponto crítico ™ no âmbito mais amplo do estudo 0 do urbanismo português. Aquilo oue foi A praticado no Brasil naturafmente teve ■, I ■ W a sua correspondência em Portugal ^ | e foi experimentado em menor escala ^ em outras colônias do reino. Mas foi o Brasil, cóm seu território ' - aparentemente infindo e suas massas errantes, gue atraiu os administradores ^portugueses. 2 Eles encaravam a sua colônia como um vasto laboratório espacial no qual eles deveríam criar > um cidadão novo e socialmente aceitável, alojado em composições arquitetônicas _ . perfeitamente alinhadas e homogêneas. Não é absurdo afirmar que suas idéias ainda r hoje têm repercussão. E com imenso prazer que damos a lume, pela primeira vez em português, esta obra de imensurável valor. NOVAS ViLAS PARA O BRASIL-COLÔNIA Planejamento Espadai e Sodal no Século XVIII Um livro das edições ALVA-CIORD O que é o CIORD O Centro Integrado de Ordenamento Territorial - CIORD é resultado de um Convênio assinado entre a Universidade de Brasília - UnB e a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - SAE/PR, em 16.09.95. Está voltado para o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar no campo do Ordenamento Territorial, em colaboração com Faculdades, Institutos, Departamentos e Centros da UnB e de outras Universidades Brasileiras e Estrangeiras, orgãos governamentais, ONG’s e Empresas. O que são as Edições ALVA As Edições ALVA têm por objetivo agilizar a divulgação de conhecimento produzido sobre questões práticas e conceituais de territorialidade e da adequação social à mesma, de geopolítica, das relações cidade/ campo e cidade/região, de arquitetura e urbanismo, bem como de sua história. Roberta Marx Delson Novas Vilas para o Brasil-Colônia Planejamento Espacial e Social no Século XVIII CIORD Centro Integrado de Ordenomento Territorial Edições ALVA © Roberta Marx Delson, 1979. Título do original em inglês: New Towns for Colonial Brazil. Spalial and Social Planning of the 18th Century Dellplain Latin-Ametican Studies 2 Editor: David j. Robinson Departamento de Geografia da Universidade de Syracuse, Estado de Nova York, 1979 Edição para o Brasil: Tradução e Revisão de texto: Fernando de Vasconcelos Pinto Composição gráfica: Frank Svensson Capa: Adriana Tavares de Lyra Miriam Vargas Apoio: CIORD Centro Integrado de Ordenamento Territorial - Universidade de Brasilia Editoração: Editora ALVA Ltda. © SCLN 406 Bloco E Sala 110 70 910-900 Brasília DF Fone: (061) 347 45 33 Fax (061) 347 35 33 Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de Brasília Delson, Roberta Marx Novas vilas para o Brasil-Colônia: planejamento espacial e social no Século XVIII/Roberta Marx Delson; [tradução e revisão, Fernando de Vasconcelos Pinto; composição gráfica, Frank Svensson; capa Adriana Tavares de Lyra, Miriam Vargas]. - Brasília : Ed. ALVA-CIORD, 1997, Cl 979. Traduzido de: New towns for colonial Brazil: spatial and social planning of the 18th Century. ISBN 85-86774-02-2 1.72”17’(81)I. Titula II. Título: Planejamento espacial e social no Séculoxvin ISBN 85-86774-02-2 ^ 1 h 5W 4 À memória do erudito Professor E. Bradford Burns, detentor da comenda da Ordem do Rio Branco e meu mentor e amigo. S u m á r i o Dedicatória I Sumário III Relação das ilustrações IV Abreviaturas V Prefácio à edição brasileira Prefácio à edição em inglês Frase-chave Capítulo I : O mito da cidade brasileira sem planificação ---------- ----- 1 ~ C a p í t u l o II : A formulação de um programa de construção de vilas ^ ----- --------* 9 Capítulo III : Aplicando o modelo: primórdios experimentais no Nordeste-----— 17 Capítulo IV : A expansão da autoridade: novas vilas no Centro e no Oeste r- 27 Capitulo V : Um repertório dos princípios de construção: São Paulo e o Sul 41 —— 5̂ Capítulo VI : O Marquês de Pombal e a política portuguesa de “europeização”^ - --------- 49 Capítulo VII : Planificadores e reformadores- ------- 69 Capítulo VIII : A arborização das cidades brasileiras do fim da era colonial 89 Capítulo IX : O programa de novas vilas numa visão panorâmica____ 95 Bibliografia 107 Apêndice 118 índice onomástico remissivo 120 III R elação das ilustrações Figura L egenda 1 Planta básica de São João de Parnaíba, 1798 2 Croqui de Fortaleza, Ceará, aproximadamente 1730 3 Planta de Sumidouro, em Minas Gerais, 1732 4 Planta básica de Cuiabá, Mato Grosso, 1777 5A Planta básica de Vila Boa, Goiás, 1782 5B Planta de Vila Boa mostrando o realinhamento, aproximadamente 1782 6A Detalhe de Vila Bela, 1773 6B Planta básica de Vila Bela, 1780 7 Planta de Mariana, em Minas Gerais, depois da reconstrução de 1746-1747, sem data 8A Planta básica de Barcellos, no rio Negro, tal como foi redesenhada por Felipe Sturm, 1762 8B O novo projeto para Barcellos, sem data 9 Planta básica de São Miguel, 1765 10 Planta básica de Balsemão, 1768 11 São José de Macapá, no Amapá, 1761, mostrando o desenho da praça dupla 12 São José de Macapá: detalhe da disposição das habitações, 1759 13A Esquema inicial de Nova Mazagão, no Amapá, sem data 13B Nova Mazagão, aproximadamente 1800 14A Detalhe de Lisboa no século XVI 14B O novo projeto de Lisboa depois do terremoto de 1“/H /1 7 5 5 (1755) 15 Planta básica de Vila Viçosa, aproximadamente 1769 16 Planta básica de Portalegre, aproximadamente 1772 17 Planta básica de Prado, aproximadamente 1772 18 Planta básica de Guaratuba, Paraná, final do século XVIII 19 Planta da praça forte de Iguatemy, aproximadamente 1785 20 Planta básica de Albuquerque (atualmente Corumbá), Mato Grosso do Sul, 1784 21A Planta básica e situação de Vila Maria do Paraguay, em Mato Grosso, 1784 21B Ilustração do dia-a-dia em Vila Maria do Paraguay 22 Planta básica de Casalvasco, em Mato Grosso do Sul, 1782 23 Planta básica de Corumbá (antiga Albuquerque), Mato Grosso do Sul, 1786 24 Planta básica da Aldeia Maria para os índios caiapós, Goiás, 1782 25A Detalhe de São José de Mossamedes, Goiás, 1801 25B Planta básica em perspectiva de São José de Mossamedes, 1801 26 Planta básica de Linhares, no Espírito Santo, 1819 27 Localização de aglomerações urbanas planificadas no Brasil-colônia IV i 1 i A breviaturas • ABAPP Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará, Belém • ABN RJ Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro M AHI Arquivo Histórico do Itamaratv, Rio de Janeiro / AHI-IA Catálogo da mapoteca do Arquivo Histórico do Itamaratv, de Isa Adonias, Rio de Janeiro • AHU Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa • AHU-CA Catálogo de documentos do Arquivo Histórico Ultramarino de Castro Almeida AHU-Iria Catálogo do acervo de mapas relativos ao Brasil de Alberto Iria, Lisboa 9 ANRJ Arquivo Nacional, Rio de Janeiro 0 APM Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte BA Biblioteca da Ajuda • BMSP Biblioteca Municipal de São Paulo BNL-AP Biblioteca Nacional, Lisboa, Acervo Pombalino • BNRJ-RC Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Registro de Cartas de Luiz Antônio de Souza • BNRJ-SI Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Seção de Iconografia • CLB Colecção de Leis do Brasil, Rio de Janeiro DH-BNRJDocumentos Históricos, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro • D1HSP Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo, São Paulo A H AH R Hispanic-American Historical Review • IHGB Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro m '\ IHGB-CU Reproduções de documentos do Conselho Ultramarino guardadas pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro 9 MCM Correspondência de Francisco Xavier de Mendonça Furtado contida em A Amazônia na Era Pombalina, de Marcos Carneiro de Mendonça, 3 volumes • MIGE Mapoteca do Instituto de Geografia do Exército, Rio de Janeiro MU-CI Ministério de Ultramar, Lisboa, acervo de reproduções fotográficas de mapas da Casa da Insua W m RIC Revista do Instituto do Ceará RIHGB Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro • RSPH AN Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro SGL Sociedade de Geografia, Lisboa • V it iii I í i Introdução à edição brasileira Transcorreram quase 20 anos desde que es creví Novas Vilas para o Brasil-Colónia. Não pude deixar de sorrir ao constatar que o livro acabara me transformando numa espécie de grands dame de uma nova geração de intelectuais que agora iniciavam o estudo sistemático da urbanização no âmbito mais amplo da totalidade do império português, numa escala nunca antes imaginá vel. Uma parte desse esforço intelectual resultou de estudos promovidos e financiados pela Co missão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses. A CNDP, inteli gentemente, criou uma subdivisão de estudiosos que neste mom ento estão coordenando uma comparação inédita de todos os escritos existen tes sobre a expansão e o desenvolvimento urba no português, em conexão com a meta mais abran gente da comemoração do quinto centenário dos grandes descobrimentos portugueses. Fiquei satisfeita de o organizador desse empreendimen to, o Professor Walter Rossa, da Universidade de Coimbra, erudito arquiteto português, ter ti do conhecimento do meu livro e, depois de mui ta dificuldade em me localizar, ter me incluído nesse novo projeto empolgante. Igualmente gratificante foi a proposta ex tremamente generosa que o Professor Frank Svensson, da Universidade de Brasília, me fez há algum tempo de relançar o meu livro numa edição em língua portuguesa. Naturalmente eu aceitei a sua proposta com muita satisfação. Ao que parecia, ele também conhecia o meu livrinho e, sem eu saber, eu tivera leitores no Brasil, bem como em Portugal. Muito a propósito para con firmar isso, bem recentemente aconteceu algo numa sessão sobre planejamento urbano nos encontros da Brazilian Studies Association, em Washington, DC. Quando me aproximei de um jovem colega brasileiro para felicitá-lo pela sua preleção, ele reconheceu-me imediatamente “Ah” - disse ao ver o meu crachá -, “Novas Vilas...” Evidentemente sinto-me satisfeita e lison- jeada de ser considerada um dos fundadores desse novo campo de estudos que é a história do urbanismo e da planificação portuguesa, que não para de crescer. j^ n o entanto, com toda a devida modéstia, devo confessar que fiquei tomada de emoção por ser subitamente “desco berta”. Quando realizei a minha pesquisa no Brasil e em Portugal, há muitos anos, é claro que eu tinha pouca consciência de que o meu estudo era “pioneiro”1, mesmo reconhecendo que estava desafiando o saber convencional. Certamente eu tive o privilégio de conhecer al guns dos mais eminentes estudiosos da maté ria, como Otávio Ianni, Pedro Pinchas Gei ger, Sérgio Buarque de Holanda, Artur Cézar Ferreira Reis, Nestor Goulart Reis Filho, Jorge Hardoy e Graziano Gasparini, entre outros, e de discutir o meu projeto com eles. Na Universi dade de Colúmbia, estudei com E. Bradford Burns, Lewis Hanke, Charles Wagley, George Collins e, exatamente no seu último ano na faculade, com o legendário Frank Tannenbaum. Quando o livro foi publicado, graças aos bons ofícios de David Robinson (da Universi dade de Syracuse, no estado de Nova York, onde me bacharelei), ainda encontrei algum cepticis- mo, principalmente entre os meus colegas dos Estados Unidos. Como é que eu sabia que Vila Bela fora construída conforme eu descrevera, ou que Cazal Vasco (sic), cuja planta ilustrava a capa original, havia sido ajustada à retilineidade prescrita? Retruquei-lhes que os documentos existentes atestavam que a legislação de planeja mento urbano havia sido realmente obedecida. Além do mais, eu havia palmilhado pessoalmente as ruas de várias comunidades coloniais plani- VII ficadas remanescentes, como Mariana, em Mi nas Gerais, e Viamâo. no Rio Grande do Sul, sem falar em Lisboa, e podia afirmar, de visu, que ainda existiam provas daquilo que fora uma tendência. Ainda assim as dúvidas persistiam. Será que tudo aquilo era apenas uma abordagem fantasiosa? Talvez convencer os outros leve anos. No verão passado eu tive o prazer quase insuportá vel de ouvir uma jovem arquiteta brasileira dizer- me que havia “descoberto” as ruínas de Vila Bela e que as medições que ela efetuara nos restos das edificações estavam exatamente de acordo com as especificações de Rolim de Moura. Além disso, ela havia localizado a “verdadeira” Cazal Vasco (não a nova aglomeração de mesmo no me), e esta também oferecia provas de que as ordens originais de planejamento haviam sido cumpridas. Estou imensamente penhorada a Re nata Malcher de Araújo pelas suas explorações corajosas e por ela ter dissipado qualquer resquí cio de dúvida que eu possa ter tido. Como era esperável, junto com os inevitá veis desgastes do tempo, eu experimentei um ine vitável amadurecimento das minhas idéias. Ain da estou firmemente convicta de que o plano diretor português para o Brasil do século XVIII era tão maravilhoso por seus objetivos quanto eu o havia considerado anos atrás, mesmo que a sensibilidade dos estudiosos modernos rejei te as bases dessa abordagem. Porém igualmente intrigante, eu acho, é uma conclusão a que che- guei paulatinamente. Concentrando-me nova mente nos dados originais e com o auxílio de pesquisas ulteriores, eu consegui compreender como a cultura material se desenvolveu no Bra sil colonial e apreciar as suas relações com o fenômeno mais amplo do colonialismo. Antes de tudo, estou convicta de que os portugueses tinham uma compreensão racional e claramente definida do que eles podiam e do que não po diam realizar. Com isso eu quero dizer que pare ce que eles estavam dispostos a transigir na sua maneira de proceder e mesmo a adaptar às for mas culturais locais, se isso favorecesse a acei tação global das normas portuguesas. Sugeri isso no meu livro quando afirmei que, embora houvesse uma regulamentação das fachadas ex ternas das casas nas novas comunidades cons truídas no sertão, em muitas localidades os ad ministradores permitiam aos habitantes porem em prática suas próprias idéias no tocante ao interior de seus lares. Embora alguns colegas possam considerar isso apenas um “verniz de europeização”, ainda me inclino a encará-lo como uma disposição de aceitar uma cultura “híbrida”. Essa hibridação conduziu a conciliações que atendiam tanto à contribuição local como às exigências da metró pole, e que resultaram em soluções admiráveis e muitas vezes notavelmente adequadas para a localidade em questão. Como as ilustrações da época indicam, era perfeitamente possível cons truir uma casa em estilo europeu nas comunida des interioranas, mesmo utilizando, por exem plo, folhas de palmeira em vez de paredes de pedra e cal. Presentemente também me sinto propensa a dar maior destaque ao papel dos imi grantes das ilhas do Atlântico (na maior parte açorianos), pelo seu trabalho de adaptação e cria ção de uma nova cultura colonial. Em vista dis so, meus estudos afastam-me cada vez mais de concepções de dominação total (ou do fenôme no aposto, a repressão) e conduzem-me àquilo que acho que identifiqueiinstintivamente (e in sinuei neste livro), a saber adaptabilidade e for mas híbridas.2 Tudo isso alcança esse grau de maior clare za quando colocado no âmbito mais amplo dos estudos do colonialismo português em escala global. Parece que a adaptação, a remodelação e a fusão da cultura local com formas puramente européias são reconhecidas universalmente como sinônimos do colonialismo português.3 Desconfio que os portugueses sabiam que nun ca poderíam dominar completamente o Brasil, nem moldar a sua cultura de maneira inteira mente européia, porém a cultura rural que eles procuraram criar (por meio da pequena proprie dade rural e das redes agrícolas regionais) certa mente era um passo naquela direção. Isso real mente ainda tem repercussões no Brasil de ho VIII je, exatamente como eu observei há quase 20 anos. Quero externar o meu agradecimento ao Professor David Robinson, ainda hoje editor da Série Dellplain de Geografia, por sua anuência para a republicação deste estudo. Como sempre, sou reconhecido ao meu esposo, Dr. Erik Del son, invariavelmente paciente pela sua ajuda e incentivo durante todos esses anos, e à sua cole ga Lorraine Mesker, pela sua ajuda no que se referiu às ilustrações. Estou grata igualmente a Wolney Unes, da Universidade de Brasília, pela sua atuação como intermediário no andamento das providências e pela gentileza de expedir mi nhas interm ináveis mensagens pelo correio eletrônico. Sobre a tradução extraordinaria mente perspicaz de Fernando de Vasconcelos Pinto, só posso dizer que mal posso crer que ele conseguiu captar todas as nuances do meu trabalho. Acho que o maior elogio que lhe posso fazer é que o livro está mais bem escrito em por tuguês do que em inglês. Finalmente, quero agradecer ao Professor Frank Svensson por me proporcionar a opor tunidade de atingir um círculo de leitores brasi leiros ainda mais vasto. Só posso esperar que esta edição em português da minha obra conti nue a encorajar estudiosos mais jovens a pros seguirem as pesquisas que empreendí. Roberta M arx Delson Fort Lee, Nova Jersey Junho de 1998 (1) Essa foi a apreciação benevolente de minha obra que Walter Rossa fez na sua monografia apre sentada no IV Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, realizado no Rio de Janeiro em novembro de 1996, intitulada “O urbanismo re gulado è as primeiras cidades coloniais portugue sas”. (2) Ver Nicholas Thomas, Colonialism’s Culture: An thropology, Travel and Govemement. Princeton Uni versity Press, Princeton, Nova Jersey, 1994. Ver também Roberta Marx Delson, “Between Im perial Domination and Resistance: The process of creating material culture in the late colonial Amazon” , em fase de elaboração. (3) Urs Betterli, Cultures in Conflict: Encounters between Euyropean and Non-European Cultures, 1492-1800. Polity Press, Cambridge, Inglaterra, 1989. I Prefácio da edição em inglês Para muitos brasileiros, a criação da nova capital federal, Brasília, significou o início da pla- nificação urbana formal no seu país. Na melhor das hipóteses, quando questionados sobre a exis tência de planos diretores para suas cidades, os brasileiros, na sua maioria, dizem que tais planos não existem, e lembram a miséria das favelas sem previsão e sem estrutura. Essa visão absolu tamente não se restringe ao vulgo; ela também é característica dos mais ilustrados. Assim sendo, quando fui admitida na Uni versidade Columbia como estudante de pós- graduação, como de praxe, logo fui familiarizada com o “fato” de que não houvera planejamento para a cidade do Brasil-colônia como uma pre missa importante da história latino-americana. Em bora eu evidentem ente não tivesse con dições de questionar as conclusões de especia listas no assunto, fiquei a imaginar por que os portugueses da era colonial, ao contrário dos seus contemporâneos espanhóis, não tinham nenhum desejo preconcebido de estabelecer um ordenamento urbano. Eu não compreendia co mo os dois impérios ibéricos, que tinham forma ções, culturais tão acentuadamente semelhantes, poderíam diferir tanto nas suas respecrivas abor dagens da povoação colonial. As implicações de uma suposta diferença como essa são enor mes: se os espanhóis eram zelosos no seu empe nho em introduzir um ordenamento racional nas cidades coloniais das Américas, em comparação com os portugueses, tende-se naturalmente a concluir que estes devem ter sido relaxados e irresponsáveis com relação ao desenvolvimento municipal brasileiro. Decidindo dedicar-me a essa questão na minha pesquisa de doutoram ento, eu cedo percebi que a consabida “falta de planejamento” para as cidades do Brasil colonial na realidade era um mito. Desde os primeiros anos do po voamento português, quando o governador-ge- ral Tomé de Souza chegou para construir a capi tal de Salvador da Bahia com uma planta já traça da no bolso', há indícios da preocupação da Co roa portuguesa com o desenvolvimento de cen tros urbanos primários, preocupação essa que no século XVIII foi sistematizada numa filosofia completa de planejamento urbano. Enquanto eu aprofundava a minha compreensão do tema e acumulava dados, evidenciou-se que o prin cipal problema intelectual na minha investigação não era caracterizar os dois sistemas coloniais ibéricos, nem mesmo refutar o mito de que a ci dade brasileira não era planificada, mas sim ana lisar o surgimento de códigos de urbanização no Brasil setecentista como reflexo do absolu- tismo português na colônia. Quando a minha tese começou a evoluir para um manuscrito da extensão de um livro, eu me concentrei cada vez mais em questões de política e metas administrativas, em vez de limi tar o meu tema a estilos arquitetônicos. Em con- seqüência, a proposição dominante nesta obra é que o programa de construção de cidades do século XVIII não constituía apenas uma prova do conhecimento rigoroso das técnicas arquite- tônicas da época por parte dos administradores coloniais, mas revelava uma mudança de atitude da Coroa para com o Brasil. Examinando os do cumentos e mapas de planejamento urbano ana lisados até agora, eu consegui distinguir um padrão que depõe fortemente em favor da exis tência de um “plano diretor” português abran gente para o povoamento no século XVIII. Minhas investigações conduziram-me a analisar áreas povoadas distantes dos centros urbanos tradicionais, como o Rio de Janeiro e Salvador da Bahia (os quais já foram bem estudados). Mi- XI nha arencão foi atraída para o desenvolvimento de cidades t viias em regiões muito afastadas da faixa litorânea e situadas bem dentro da vastís sima hinterlândia brasileira. O planejamento urbano no Brasil chegou equivaler à política de controle e absolutismo: a configuração urbana caprichosamente regula mentada que orientou a construção interiorana no século XVIII desenvolveu-se como uma re presentação simbólica de “bom governo”, uma indicação de que a sociedade estava funcionando dentro de limites predeterminados e disciplina dos. Essa fórmula imbuiu o pensamento dos administradores coloniais em toda a década de 1780, e na realidade as preferências estilísticas pela simetria barroca predominaram até uma época bem avançada no século seguinte. E difícil agradecer a todas as pessoas que me ajudaram nesse esforço. Sem dúvida o Pro fessor E. Bradford Burns merece uma menção especial, por seu interesse constante pela Histó ria do Brasil. Estou reconhecida aos Professores John Mundy e Herbert Klein, da Universidade Colúmbia, pelo seu encorajamento e apoio aos meus planos durante a fase de dissertação. No decorrer da minha pesquisa, o Professor Nestor Goulart Reis Filho, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, deu- me sugestões valiosas que posteriormente eu pude incluir no contexto deste estudo. O Pro fessor Robert M. Levine, da Universidade Esta dual de Nova York, em Stony Brook, prestou- me valiosa consultoria e apoio intelectualem períodos particularmente árduos. O Professor Jorge E. Hardoy, do Instituto Di Telia, de Bue nos Aires, também me assistiu no decorrer do meu estudo. Durante o período em que a exposição evo luiu para um livro, muitas vezes fui orientada pelos meus colegas do Departamento de Histó ria da Universidade Rutgers de Newark (Califór nia). Agradeço com especial empenho ao Pro fessor Samuel Bailey, do Departamento de His tória da Universidade Rutgers de New Bruns wick (Nova Jersey), pela leitura rigorosa do ma nuscrito original. O entusiasmo do Professor David J. Robinson, editor da série em que esta obra se inclui, pelo meu es-tudo também foi imensamente importante. Enquanto eu realizava a pesquisa para esta monografia, em 1970 e 1971, fui subvencionada por uma bolsa de estudo de língua estrangeira da Defesa Nacional dos Estados Unidos, e tam bém recebi um subsídio da Fundação Calouste Gulbenkian, de Lisboa. A essas duas institui ções, o meu reconhecimento. Além disso, quero registrar a minha gratidão às equipes de funcioná rios dos muitos arquivos cujos acervos eu con sultei, sempre muito solícitas. Em Lisboa, esses arquivos compreendem: o Arquivo Histórico Ul tramarino, a Torre do Tombo, a Biblioteca Na cional de Lisboa, a Biblioteca da Ajuda e a Socie dade Geográfica de Lisboa. No Rio de Janeiro, atenciosamente, abriram suas portas para mim as seguintes bibliotecas e arquivos: Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Pa trimônio Histórico e Artístico Nacional, Mapo- teca do Serviço Geográfico do Exército e Arqui vo Histórico e Mapoteca do Itamaraty. O Sr. Marcos Carneiro de Mendonça, bondosamente, permitiu-me consultar seus arquivos particu lares relativos à Amazônia. Em outras cidades do Brasil, fiquei grata pela ajuda das equipes do Arquivo Público Mineiro, em Belo Horizonte, da Biblioteca Municipal de São Paulo e dos arquivos da Câmara Municipal de Porto Alegre. A viagem suplementar que fiz ao Brasil em 1973, financiada pelo Conselho de Pesquisa da Univer sidade Rutgers, permitiu-me complementar a pesquisa para este livro e assistir ao Seminário sobre a Urbanização Latino-Americana em Belo Horizonte, no âmbito do Programa de Bolsas de Estudo para o Exterior do governo dos EUA. Fico penhorada a essas duas instituições pelo apoio financeiro que me deram. Finalmente, dentre todas as pessoas a quem devo agradecimentos especiais, meu esposo, Eric Delson, é merecedor da minha mais profunda gratidão. Sem a sua boa vontade em me conceder tempo para a minha pesquisa, apesar dos seus próprios compromissos acadêmicos, esta obra XII não teria sido possível. Dedico este livro a ele e a meus pais, pelas suas incontáveis horas de paciência e pela confiança que em mim depo sitaram. Naturalmente a responsabilidade por eventuais erros cabe a mim. A A u t o r a quiteto nomeado pela Corca. Embora não reste nenhuma cópia da planta inicia! da cidade, exa minando-se o mapa mais anúgo existente (cerca de 1620),verifica-se que na construção original foi utilizada uma planta urbana muito seme lhante à de uma cidade renascentista ideal. Veja-se a análise feita por Nestor Goulart Reis Filho na sua obra Contribuição ao Estudo da Ero- lução Urbana do Brasil: 1500-1720 (livraria Pio neira, São Paulo, 1968), pp. 68-69 et passim. (1) Tomé de Souza chegou ao sítio da futura Salva dor em 1549, acompanhado por Luís Dias, ar- XIII ■ "'M UD Em bora na nossa sociedade moderna nós ou çamos falar muito em planejamento urbano, é im por tante compreender que a arte de projetar e constru ir uma cidade a partir do nada não é um avanço científi co m oderno como a engenharia aeronáutica ou a físi ca nuclear. Ao contrário, essa arte é uma das habili dades profissionais mais antigas do mundo civilizado. Richard Currier em City Planning in Ancient Times Capítulo I O mito da cidade brasileira sem planifícação Os historiadores da América Latina há mui to tempo vêm ensinando aos seus alunos que os espanhóis construíram cidades planificadas no Novo Mundo. Tornou-se quase axiomático falar entusiasticamente das ruas admiravelmente traçadas em cruz e das praças centrais em qua drado que caracterizavam as aglomerações urba nas da América espanhola, chamando-se a aten ção do estudante para a legislação de planeja mento bem elaborada que acompanhava a cria ção dessas comunidades. . Entretanto, esses mesmos historiadores tendem a infamar as vilas e cidades construídas pelos portugueses no Brasil. Segundo as opi niões geralmente aceitas, as cidades brasileiras originaram-se de povoações espontâneas não planificadas, em vez de obedecer a normas de planejamento metropolitano. A sapiência con vencional conclui que esse crescimento alea tório só foi contestado no final da década de 1950, quando a criação da nova capital federal, Brasília, anunciou uma nova era de consciên cia urbana no Brasil. Poucos leigos (e mesmo historiadores) se lembram dos esforços de plani- ficação envidados na construção de Goiânia, nos anos 1930, ou da utilização de um plano diretor na construção de Belo Horizonte no final do século XIX. Para os que aceitam o mito de que tradicionalmente não havia nenhuma regulamen tação para a cidade brasileira, a idéia de que hou ve antecedentes de um planejamento urbano abrangente no Brasil datando do século XVIII deve parecer algo como uma anormalidade. É visando a documentar a história desse planeja mento e analisar a sua motivação geopolítica que apresentamos a presente monografia. ■>- Essa não é uma tarefa simples. O estudante sequioso de conhecimento profundo da origem e evolução das vilas e cidades brasileiras verifi caria que a sua investigação estaria terminada antes de começar, já que historiadores, arquite tos e geógrafos, indistintamente, têm tendido a descartar sumariamente o assunto. Típica das afirmações vulgares encontradiças sobre esse tema é esta opinião superficial de um arquiteto bra sileiro: “As cidades [do Brasil] cresceram um tan to desordenadamente em torno de igrejas, que geralmente se localizavam na área mais alta dis ponível. As ruas e travessas... ramificavam-se e serpeavam.”1 Igualmente dogmática é a asserção de que as vilas e cidades brasileiras foram fundadas “segundo uma configuração realmente extrava gante”.2 Entretanto, o mais prejudicial de todos é o conceito aventado por um célebre intelectual brasileiro de que “a cidade que os portugueses construíram no Brasil não é produto de uma reflexão, nem ela contradiz a conformação natu ral do terreno. ... [Ela não tem] nenhum rigor, nenhuma metodologia, nenhuma previsão.”3 As poucas tentativas sérias de resgatar a imagem~hegadva das vilas e cidades primitivas do Brasil têm mostrado uma tendência de racio nalizar a “predominância” da disposição espon tânea da cidade, em vez de contestar essa suposi- ção infundada. Numa extremidade da gama de eruditos envolvidos nessa discussão está o histo riador da arte Robert C. Smith, que sustentava que os centros urbanos do Brasil colonial eram essencialmente recriações das cidades medievais portuguesas, completas com ruas tortuosas e bairros congestionados.4 Todavia, uma analogia como essa lança uma sombra nefasta sobre todo o processo da urbanização do Brasil, pois induz o estudioso a considerar os centros urbanos brasileiros historicamente retrógrados e artisti camente atávicos. 1 O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANIFICAÇÀO Outros, numa posição mais intermediária, afirmam que os primeiros centros urbanos brasi leiros funcionavam bem do ponto de vista admi nistrativo, mas visivelmente careciam de qual quer plano diretor. Um comentarista dessa esco la opinou que . .as vilas maiores dó Brasil colo nial, qualquer que seja o grau em que a sua plan ta física tenha sido ajustada às condições locais e à topografia, representavam, como as vilas da América espanhola, a intromissão de uma ordemmetropolitana já pronta”.5 Finalmente, situado na extremidade oposta dessa gama de sábios, Luís Silveira observou que a característica espontânea das cidades e vilas bra sileiras na realidade era uma bênção disfarçada: A relutância dos planejadores portugueses de além-mar em adotarem um sistema geométrico regular, contrariamente ao que Robert Smith escreveu,... não me parece um arcaísmo, mas resultou de uma longa experiência metódica na criação sistemática de cidades.... Eu diría... que a cidade estruturada portuguesa, com a sua característica medieval, tende para a cidade perfeita, aquela em que cada elemento exerce uma função natural, e é superior às cidades com planta em xadrez..., que muitas vezes denotam uma clara falta de compreensão do conceito da cidade como um organismo vivo, funcional e intelectuamente ativo e, conse- qüentemente, sujeito aos princípios gerais da biologia e da sociologia.6 Entretanto, independentemente de se ade rir a um ou ao outro partido dessa controvérsia, a análise crítica do processo da urbanização ini cial do Brasil ainda permanece largamente into cada pelos versados no período colonial. Em vez disso, os estudos levados a efeito concentra- ram-se no estabelecimento de tipologias heurís ticas dos centros urbanos brasileiros, as quais, embora intrinsecamente úteis, proporcionam uma compreensão limitada da dinâmica do cres cimento urbano. Um dos pioneiros nesse campo foi o geógrafo francês Pierre Deffontaines, que classificou as comunidades consoante uma análi se funcional, ;. e.,: arraiais de mineração, .vilas de estrada de ferro, aldeias indígenas, etc.7 Utili zando um critério diferente, Rubens Borba de Morais diferenciou entre centros urbanos que se desenvolveram espontaneamente (e. g., arrai ais de mineração) e os que deram mostras de intervenção direta (e. g., colônias militares).8 Certamente não se pode questionar a utilidade de divisões hierárquicas desse tipo para enfocar as variações estruturais no sistema urbano do Brasil. Porém essas tipologias são incapazes de fornecer uma análise processual em profundi dade dentro de um arcabouço verdadeiramente histórico. Essa crítica aplica-se também à clas sificação de Marvin Harris e Charles Wagley9, muito citada, bem como à obra que traz o título ambicioso de Como Nasceram as Cidades do Brasil\ uma tipologia altamente conjetural de autoria de um antigo político brasileiro.10 Uma direção intelectual inteiramente dife rente na pesquisa da urbanização do Brasil é a tendência de encarar as cidades e vüas como anti- téticas da corrente principal da cultura brasileira. Os proponentes desse ponto de vista afirmavam que, historicamente, o Brasil tem sido dominado pela classe dos latifundiários, cuja visão era clara mente rural, e não citadina. Fernão de Azevedo, por exemplo, focalizou o relacionamento discor dante contínuo da cidade brasileira com o cam po, em sua análise mais ampla do fenômeno da ci vilização industrial numa sociedade agrária11, en quanto Gilberto Freyre escreveu com extraordi nário entusiasmo sobre o papel do sobrado como difusor do sistema de valores da oligarquia lati fundiária, sempre dentro do contexto urbano.12 Além do grande número de intelectuais que se concentraram na influência supostamente oni presente dos latifundiários, há um grupo bastan te numeroso que mostrou um interesse constan- > outroste pelas i _______________ grupos sociais (e. g., imigrantes europeus ou ga rimpeiros) para o processo de urbanização. Fi nalmente, há uma literatura bastante vasta de dicada à história específica de cidades grandes e pequenas. Esses estudos tradicionais amiúde fornecem excelentes antecedentes históricos, mas não conseguem situar o exemplo individual dentro do contexto mais amplo da proliferação urbana no Brasil.13 2 O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANJFICAÇÂO \9' 0 Independentcmente das obras menciona- das nesta breve resenha literária, existem apenas quatro grandes estudos dedicados ao exame do panorama histórico e arquitetônico global do desenvolvimento urbano brasileiro dos primei ros tempos. Esses quatro exames são imensa mente diferentes na abordagem, em conseqüên- cia das disciplinas muito diferentes que seus autores representam. Vilas e Cidades do Brasil- , Colônial6, por exemplo, é um inventário geográ fico e cronológico de vilas e cidades fundadas no Brasil do século XVI ao século XIX. Cada século é estudado separadamente, e a obra forne ce dados sobre a localização e a data de fundação de cada centro urbano criado oficialmente na quele período. Entretanto, ela concede pouca atenção ao planejamento e à forma das comuni dades resultantes. Em contrapartida, A Formação de Cidades no ® Brasil Colonial1, ensaio escrito por um arquiteto praticante, compreensivelmente, preocupa-se mais com a forma e o traçado urbano. Nesse es tudo, o autor examina diversos documentos im portantes referentes à criação de vilas coloniais e conclui que a aplicação de planos diretores formais na realidade foi um sinal de urba-niz^ção retrógrada. De uma maneira inteiramente errô nea (como mostraremos a seguir), ele afirma que os portugueses, oportunisticamente, simples mente copiaram as plantas das cidades espanho las, quando as duas potências se reuniram pa ra a assinatura do Tratado de Madri, em 1750. Ironicamente, vários dos códigos de construção que o autor apresenta no seu estudo (fora do contexto) foram elaborados no princípio do século XVIII, antecedendo assim o Tratado de Madri de várias décadas! O terceiro estudo é mais precisamente uma interpretação convencional da evolução da cul tura brasileira16, em que os autores reproduzem diversos documentos de planejamento criativos e sugerem vagamente a existência de um código de construção abrangente. Infelizmente eles não vão além dessa tímida observação, deixando o leitor curioso, mas não apreciavelmente escla recido. O último estudo deste quarteto sem dúvida é o mais perceptivo e, claramente, o mais bem pesquisado. Valendo-se de material de arquivo relativo a questões municipais tais como pavi mentação das ruas e alinhamento, o traçado de praças públicas, etc., N estor Goulart Reis Fi lho17, bem fundamentado, defende a existência de uma legislação portuguesa de construção de vilas para o Brasil, aplicada com sucesso variável desde a época da fundação de Salvador da Bahia, em 1549, até.1720. O autor desse estudo é ar quiteto, mas sua obra, Evolução Urbana do Brasil, representa um avanço pioneiro na investigação histórica das comúnidades brasileiras de anta- nho, pois lança mão de dados inovadores e deci sivos para a história urbana que até então haviam sido ignorados pelos outros investigadores. Não obstante, mesmo aceitando a asserção de Reis Filho de que existia um planejamento form al incipiente nos prim eiros séculos da colonização portuguesa, seu estudo ainda deixa sem resposta diversas questões históricas funda mentais. Por exemplo, conjetura-se: até que ponto a política urbana estava estreitamente liga da aos objetivos mais gerais do governo? Além disso: os portugueses redigiram um código de planejamento abrangente, ou os exemplos cita dos representam apenas casos isolados? As vilas e arraiais situados fora do alcance geopolítico dos centros de governo primários, que consti tuem o enfoque principal da obra de Reis Filho, recebiam igual atenção da Coroa portuguesa? O que õ pèííodo posterior a 1720 (ano em que a análise de Reis Filho termina e que na presente pesquisa consideramos crítico para a história do desenvolvimento urbano brasileiro) revela acerca dos problemas e exigências de um processo urbano que estava evoluindo rapidamente nas regiões inte- rioranas do País, longe do litoral povoado? Final mente, o planejamento urbano sistemático era con- ceitualmente excepcional, ou as preferências por tuguesas eram um reflexo dos estilos artísticos em voga na Europa? Por conseguinte, oobjeto principal da minha exposição será um exame tanto dos requisitos admi nistrativos do Brasil do século XVIII corno das 3 O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANIF1CAÇÀO predileções arquitetônicas. A pesquisa sobre imagem “civilizada” e “europeizada” que Portu- esse assunte lançou mais dúvidas sobre a idéÍ2 gai esperava projetar no interior da colônia.' Para romântica de que o interior do Brasil foi pene- o administrador barroco, a regularidade equivalia trado principalmente por aventureiros. Seguin- v a beleza, sofisticação, civilização e progresso (se do os garimpeiros e caçadores de tesouros, a bem que por interpretações estritamente juno- Coroa portuguesa ia estabelecendo a sua auto- ccntricas). Como nos planos atuais de moder- ridade por meio de um sistema de comunidades nização e desenvolvimento, os portugueses espe- criteriosamente planejadas construídas em re- ravam mudar completamente - e conseguiram- giões remotas. Influenciados pela 'descoberta no em parte - os sistemas de valores. Outras de ouro na década de 1690 e diretamente amea- nações européias podem ter se apaixonado pela cados. os administradores metropolitanos busca- imagem pintada por J.-J. Rousseau19 da ingenui- ram ansiosamente os meios de ampliar o seu dade da sociedade primitiva, mas os portugueses controle; um sistema racional de distribuição de estavam decididos a elevar a população autóc- terras, combinado com a construção supervisio- tone acima do seu estado de ignorância sem ne- nada de vilas, constituiu o processo pelo qual o nhuma ordem, não importando o custo nem interior podia ser protegido contra um cresci- quão ditosa a inocência pudesse ter sido. Por mento independente e descontrolado. extensão, exigia-se que todos os colonos, indu- 75- Nessas condições, a partir de 1716, quase sive os europeus, se ajustassem às novas regras todas as novas comunidades construídas no ser- urbanas e de comportamento; o programa era tão foram subordinadas a um protótipo de pia- decididamente obrigatório. A época da “cons- nejamento de vilas, promulgado naquele mesmo cientização”20 e da mobilização das massas que ano para a criação da municipalidade de Mocha, estavam por trás dos planos de desenvolvimento na zona norte do Piauí.18 O conceito geral do do governo estava muito adiante no tempo, traçado desse plano diretor era barroco, com ênfase em ruas retilíneas, praças bem delineadas (amiúde orladas por fileiras de árvores plantadas simetricamente) e numa uniformidade de ele mentos arquitetônicos. O resultado do uso rei terado desse modelo foi um tipo de vila padro nizado que podia ser facilmente adaptado a re giões geográficas brasileiras muito diferentes. A mão-de-obra indígena não especializada (res ponsável pela maior parte das construções inte- rioranas) podia ser empregada eficientemente, porquanto o domínio das técnicas de construção de um único conjunto de edificações básico per mitiría a ereção de um número ilimitado de uni dades habitacionais e administrativas, embora as edificações pudessem ser sobremodo monóto nas. Fisicamente, a construção de arraiais e vilas planificados no interior do Brasil ho século ___ ______ XVIII representava o compromisso de Portugal no final do século XVIII (mais precisamente de com o absolutismo e com o Iluminismo. O xa- 1777 a 1792, quando ela começou a apresentar drez da malha urbana não era apenas um requin- sinais de loucura e seu filho, D. João,depois te artístico, mas sim uma clara representação da D. João VI, assumiu a regência), embora os capí- Embora o ponto mais salientado neste li vro sejam os projetos de povoamento do século XVIII, minha pesquisa começa na década de 1690, quando a descoberta de ouro nas monta nhas de Minas Gerais precipitou uma importante reconsideração do valor da terra, do seu uso e da sua distribuição. Começando com um exame dos motivos e pressupostos subjacentes ao pro grama de construção de vilas dos portugueses, eu passo a apresentar um estudo de casos parti culares das comunidades efetivamente construí das durante esse espaço de tempo, as quais são analisadas em ordem cronológica e por região geográfica (o Nordeste, o Centro-Oeste e o Sul). Nos Capítulos VI e VII são examinadas as refor mas do período pombalino (1750-1777), com destaque para os administradores responsáveis pelo cumprimento das novas diretrizes urbanas. O estudo termina com o reinado de D* 4 O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLAN IFICAÇÃO tuios finais contenham uma descrição sumária da direção que o planejamento urbano no Brasil seguiría posteriormente. A maior parte dos casos de planificaçâo exa- minados na exposição do livro referem-se ao tra çado de comunidades relativamente pequenas, oü seja, povoados, aldeias e vilas. Entretanto, nu ma amostragem de casos mais limitada, será apre ciado o planejamento urbano de grande escala, no nível de cidade. Lamentavelmente, não existe nenhum termo de uso corrente na América para denominar a gama de atividades de planificaçâo para aglomerações variando de 50 a mais de 10 mil habitantes. Empregar o termo “planejamen to urbano” (ou seu eqüivalente “desenho urba no”) para este caso pode ser desorientador, por que, embora geralmente ele seja aceitável, traz a conotação de centro urbano de grande porte, que claramente não se aplica à maioria das comu nidades do Brasil antigo. Uma alternativa seria inventar uma perífrase que abrangesse todos os tipos de planejamento21, como o termo eqüística do arquiteto grego Konstantinos Apostolos Do- xiadis (1913-1975); porém isso podería revelar- se contraproducente, pois tendería a tornar a questão ainda mais confusa, A rubrica “planeja mento urbano”, ou “planejamento de vilas”, é pre ferível a qualquer uma das opções supracitadas, uma vez que define o fenômeno do planejamen to sem discriminar o fator demográfico. Por conseguinte, em todo o resto desta dis sertação, o termo “projeto de vila” será substi tuído por “planejamento urbano”, significando uma abordagem do traçado de elementos arqui tetônicos num centro habitado, sem conside ração do seu tamanho ou função. A única distin ção importante que se deveria fazer seria entre as comunidades que receberam um planejamen- to sistemático subsequente (i. e., depòis de fún- dadas) e as que foram construídas obedecendo desde o início a uma regulamentação. Visto que os critérios empregados para dis tinguir entre vilas e cidades no período colonial eram no mínimo arbitrários, não procurei esta belecer categorias demográficas diferentes para umas e outras; apenas baseei-me no reconheci- cimento oficial da Coroa portuguesa. Em incon-- tát eis .casos, o critério pgr? elevar oticialmente uma aldeia à categoria de vila baseava-se apenas na necessidade de instalar funcionários do go verno numa área ainda não superintendida. En tretanto, em outras coniunturas, a criação legai de uma vila marcava o início de um grande pro- çâo da administração governamental. Num nível mais alto, quando as vilas eram promovidas a cidade, com frequência sofriam uma ampla re modelação urbana com a finalidade de lhes dar uma aparência consentânea com seu novo título. n > Por conseguinte, o verdadeiro significado das cartas régias que conferiam formalmente o título de vila não era o reconhecimento do cres cimento físico do arraial ou aldeia, mas sim a percepção pragmática de que, dentro daquela área específica, era preciso assumir determinadas responsabilidades administrativas. As vilas titu ladas ganhavam o privilégio de uma câmara mu nicipal, cujos membros eram incumbidos de de veres que foram delineados originariamente na Idade Média: As câmaras tinham patrimônio e fonte de ren da próprios e não dependiam do Tesouro Real, ou seja, dos fundos públicos das suas respec tivas capitanias. O patrimônio era constituído de terras que lhes haviam sido concedidas no ato de criação da vila, terras reservadas para o rossio (passeio público), para a construção deprédios públicos e para a criação de parques públicos e de uma gleba comunal. As câmaras eram autorizadas a conceder algumas dessas terras a particulares ou arrendá-las. Ruas, pra ças, vias de acesso, pontes, fontes públicas e outras infra-estruturas também eram considera das partes do seu patrimônio. As rendas da câmara provinham dos aluguéis que ela tinha o direito de receber sobre terras arrendadas e de tributos locais (taxas), autori zados por lei ou por permissão especial do rei. A câmara podia reter dois terços da renda muni cipal, porém um terço dnha de ser entregue aos representantes do Tesouro na capitania.22 Embora fuja aos objetivos deste livro estudar o papel da câmara municipal, os dados apresenta- 5 O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANIFICAÇÃO dos aqui dão a entender que, pelo menos com referência ao século XVIII, a incumbência tra- dicional da câmara de supervisionar a distri buição de terras foi eliminada. Outros privilé gios tradicionais foram reduzidos pelas intro- missões reais nos direitos municipais de distri buição de rendas, no traçado da sede municipal, etc., e, visto que a própria Coroa se encarregava cada vez mais de empatar capital em projetos de construção no interior, a independência rela tiva da câmara como uma unidade auto-admi- nistrada diminuiu proporcionalmente. Só no final do século as câmaras locais fariam valer os seus direitos novamente, reassumindo lenta mente a iniciativa no desenvolvimento da vila, independentemente do governo metropolitano. Então, com toda evidência, qualquer discussão sobre o desenvolvimento urbano traz à baila não apenas a questão da configuração topográfica, mas atinge algumas das questões políticas mo- mentosas do Brasil do século XVIII. As provas documentais utilizadas neste estudo foram colhidas em arquivos municipais, na correspondência oficial (tanto dentro do Bra sil como com a metrópole) e no currículo das academias militares que formavam os enge nheiros responsáveis pela maior parte das novas construções urbanas. Nos casos em que as pro vas documentais eram inadequadas ou obscuras, lancei mão de fontes cartográficas para confir mar as minhas conclusões; as excelentes plantas de cidades disponíveis nas mapotecas tanto de Portugal como do Brasil fornecem provas notá veis da homogeneidade dos projetos de planifi- cação das vilas do Brasil colonial. (1) Henrique Mindlin, Modem Architecture in Brazil (Reinhold Publishing Co., Nova York, 1956), p .l. (2) Richard M. Morse, Formação Histórica de São Paulo: De Comunidade a Metrópole (Difusão Européia do Livro, São Paulo, 1970), p. 10. (3) Sérgio Buarque de Holanda, A s Raivei do Brasil (José Olympio, Rio de Janeiro, 3* edição, 1956), p. 152. Além dessa obra, uma relação parcial dos livros cuios autores aceitam o mito da vila colonial brasileira não planificada com preende: Blake McKelvey, American Urbanisa tion: A Comparative History (Scott, Foresman & Co., Illinois, 1973); Nelson Omegna, A Cidade Colonial (José Olympio, Rio de Janeiro, 1961); Walter D. Harris,Jr., The Growth of Latin-Ameri- :an Cities (University of Ohio Press, Athens, Ohio, 1971); e João Boltshauser, Noções da Evolução Urbana nas Americas (Faculdade de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1968). (4) Robert C. Smith, “Colonial Towns of Spanish and Portuguese America”, in]ouma!of the Society of Architectural Historians, volume XTV, n1 2 3 4, 1956, pi 7. Este autor, em “Baroque Architec ture”, in Portugal and Brazil, H. Livermore, editor (Oxford University Press, Londres, 1953), pp. 349-384, defende a tese de que as cidades brasi leiras têm um caráter medieval. (5) Richard M. Morse, From Community to Metropolis: A Biography of São Paulo, Brazil (University of Flonda Press, Gainesville, 1958), p. XVII. (6) Esta citação está contida numa pequena sinopse em Luís Silveira, Ensaio de Iconografia das Cidades Portuguesas de Ultramar (4 volumes, Lisboa, sem data), volume I, p. 24. (7) Pierre Deffontaines, “The Origin and Growth of the Brazilian Network of Towns”, in Geogra phical Review, vol. XXVIII, julho de 1938, pp. 379-399. (8) Rubens Borba de Morais, “Contribuições para a história do povoamento em São Paulo até fins do século XVffl”, reeditado em Boletim Geográfico, ano III, n° 30, setembro de 1945, pp. 821-829. (9) Charles Wagjey e Marvin Harris, “A Typology of Latin-American Subcultures”, in Dwight B. Heath e Richard N. Adams, editores, Con temporary Cultures and Societies of Latin-America (Nova York, 1956), pp. 42-69. (10) Plínio Salgado, Como nasceram as cidades brasileiras (Edições Ática, Lisboa, 1946). Uma tipologia comparativa que coteja as comunidades urba nas da América espanhola, da portuguesa e da inglesa pode ser encontrada em João Boltshauser, Noções de Evolução Urbana nas Américas, 3 volumes (Universidade de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1968). 6 O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANIFICAÇÃO (11) Fernào de Azevedo, “A cidade e o campo na civilização industrial”, in Obras Completas, vol. XVIII, pp. 213-229. Ver também: Waidemiro Bazzanella, “Industrialização e urbanização no Brasil”, in América Latina, vol. VI, n“ 1, janeiro- março de 1963, pp. 3-26; e Manuel Diegues Júnior, Imigração, Urbanização e Industrialização (Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, série VI, “Sociedade e Educação”, vol. 5, Ministério da Educação e Cultura, Rio de Janeiro, 1964). (12) Gilberto Freyre, The Mansions and the Shanties: The Making of Modem Brazil (Sobrados e Mo cambos: A Formação do Brasil Moderno), edi ção e tradução de Harriet de Onis (Alfred A. Knopf, Nova York, 1966). (13) Na bibliografia constante do final deste livro será encontrada uma relação de muitos desses estudos. Informamos o leitor de que as revistas geográficas do Brasil constituem uma rica fonte de material sobre o desenvolvimento de muitas cidades, grandes e pequenas, menos bem conhecidas. Um exemplo desse tipo de trabalho é Paulistas e Mineiros: Plantadores de Cidades, de Mário Leite (EdArt, São Paulo, 1961). (14) Aroldo Azevedo, “Vilas e cidades do Brasil co lonial”, in Boletim n° 208, Geografia n° 11,1956, pp. 1-96, da Faculdade de FUosofia, Ciência e Letras da Universidade de São Paulo. A obra Evolução da Rede Urbana Brasileira, de Pedro Pinchas Geiger (Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, Rio de Janeiro, 1963), é uma aná lise pioneira do desenvolvimento urbano bra sileiro sob o aspecto da geografia humana. Todavia, o exame do período colonial da Histó ria do Brasil constitui meramente uma parte secundária da obra, que trata principalmente do crescimento urbano mais recente. (15) Paulo F. Santos, “A formação de cidades no Brasil colonial”, V Cotóquio Internacional de estudos - lusc-brasiieiros, Coimbra, 1968. (16) Tito Lívio Ferreira e Manoel Rodrigues Ferrei- • ra, História da Civilização Brasileira: 1500- 1822 (Gráfica Biblio Ltda., São Paulo, 1959). (17) Nestor Goulart Reis Filho, op. cit. A obra A Cidade Colonial, de N. Omegna (José Olympio, Rio de Janeiro, 1961), foi excluída desta análise, porque o seu tema é mais precisamente um exame da estrutura social colonial com matizes francamente românticos. Da mesma maneira, A Evolução da Rede Urbana Brasileira, de Pedro Pinchas Geiger (Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, Ministério da Educação e Cul tura, Rio de Janeiro, 1963), não foi considerada, porque aborda apenas sumariamente a urba nização do período coloniaL (18) Veja-se a análise detalhada no capítulo III. (19) Jean-Jacques Rousseau, Social Contract, 1762. Reeditado por Modern Library, Nova York. (20) Em oposição ao conceito de educação de adul tos por meio da experiência cotidiana, o termo conscientização é empregado aqui com o signifi cado de “a transformação completa da cons ciência das pessoas que as faria compreenderem os parâmetros políticos da sua existência e as possibilidades de mudarem a sua situação pela açãopolítica”. Essa definição foi extraída de The. Homeless Mind: Modernization and Consciousness, de Peter Berger, Brigitte Berger e Hansfried Kell ner (Vintage Books, Nova York, 1974), pt 76. (21) Veja-se o exame das definições de planejamen to urbano na obra de Charles Abrams The Lan guage of Cities: A Glossary of Terms (Avon Books, Nova York, 1972), p. 48. (22) Caio Prado Júnior, The Colonial Background of Mo dern Brazil (versão para o inglês de Suzette Macedo, University of California Press, Berke ley, 1969) 7 Capítulo II A formulação de um programa de construção de vilas ■N N o final do século XVII foi descoberto ou ro no interior acidentado a oeste da província do Rio de Janeiro. Esse acontecimento acarretou a avaliação do potencial da colônia por parte de Portugal e mostrou claramente que o governo precisava agir com presteza pára garantir o con trole imediato do rico território interiorano. Ás~ terras do sertão não podiam mais ficar sem su- pervisâo, c os administradores, cientes disso, lo- go estabeleceram as primeiras medidas de um programa legislativo para redefinir os direitos sobre a terra e, ao mesmo tempo, estender a au toridade real. > - Na formulação desse programa, foram le vadas em conta quatro questões básicas. A pri meira delas dizia respeito ao estabelecimento de uma regulamentação para áreas auríferas, pre- vendo-se a nomeação de funcionários reais. Isso visava a garantir o recebimento pela Coroa de uni quinto das receitas oriundas da mineração, o “quinto” de praxe, e possivelmente evitar ven das ilegais a grupos estrangeiros. A segunda ta refa que se impunha era estabelecer uma iuris- diçâo sobre os aventureiros (bandeirantes1 e boia- deiros) que no decorrer do século XVII baviam sido os primeiros a explorar o agora precioso sertão, na sua maior parte sem nenhuma res- trição da administração real. Em ligação com essa necessidade prioritária de reforma da lei e da ordem, havia a vontade da Coroa de conter a força crescente dos poderosos do sertão, indiví- duos aue se haviam enriquecido ampliando as suas concessões de terras originais como grilei ros, fazendo valer os direitos de posse. Com o avanço do século, as autoridades da Coroa iam não só desafiar esses barões fundiários, mas pro curar desbancá-los mediante a criação de mini fúndios para lavradores. Estes compunham-se principalmente de colonos europeus oriundos das possessões insulares atlânticas superpo- voadas do reino, os quais eram considerados mais confiáveis e também mais propensos à agri cultura do que seus contemporâneos bandei rantes. Por último, os portugueses pretendiam ampliar os seus domínios territoriais à custa dos espanhóis, compreendendo que, com o estabele cimento de colônias lusas nas regiões recém- exploradas do Oeste e do Sul longínquos, seus rivais hispânicos na América ficariam em nítida desvantagem. Embora as reivindicações espa- nholas sobre a região a oeste do rio Tocantins (e a leste dos Andes) tivessem sido aceitas pelo Tratado de Tordesilhas (em 1494, na pequena cidade espanhola de Tordesillas, fixou-se o meri diano situado a 370 léguas a oeste das ilhas Cabo Verde como limite entre as possessões espanho las e as portuguesas), esse patrimônio remoto nunca havia sido suficientemente colonizado pa ra garantir a hegemonia espanhola. A Coroa por tuguesa raciocinou corretamente (muito antes da aceitação internacional do princípio do uti possi de tis [como te apossaste]) que, se os lusita nos “ocupassem efetivamente” as terras recla madas pela Espanha, no final das contas pode ríam assegurar essas regiões para si. (Sfo Portanto, esses quatro objetivos condicio naram a política portuguesa para as regiões inte- rioranas do Brasil durante a maior parte do sécu lo XVIII. Os administradores lisboetas resolve- 9 A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS ram que uma ampliação da autoridade e uma redefinição dos direitos sobre a terra finjdmen,t& tinham de ser incorporadas a um plano de de senvolvimento intensivo para a hinterlàndia bra sileira.. O mecanismo pelo qual o sertão seria subordinado à autoridade real baseava-se na fun- dacão de comunidades supervisionadas pela Coroa, as quais, com o tempo, formariam redes urbanas integradas, localizadas em pontos estra tégicos do interior. Assim, o planejamento e o desenvolvimento desses novos núcleos interiora- nos orientariam o processo de urbanização du rante todo o século.2 A penetração no interior iniciou-se no final do século XVI. Até então os esforços de coloni zação dos portugueses tinham se confinado de modo geral às zonas litorâneas, o que inspirou a Frei Vicente do Salvador a famosa metáfora dos caranguejos agarrados à linha costeira.3 En tre os anos de 1532 e 1536, a Coroa portuguesa dividiu o litoral do Brasil em 15 capitanias (ou donatarias), largas faixas de terras concedidas a 12 homens de alto prestígio no reino. O donatá rio era obrigado a assinar uma escritura formal com a Coroa. De forma quase medieval, ele tor nava-se diretamente responsável pelo cresci mento e desenvolvimento do seu patrimônio e praticamente recebia carta branca no tocante à urbanização. No estágio de capitanias hereditá rias, não havia nenhuma diretriz para o cresci mento das povoações, e aos concessionários re comendava-se apenas que eles podiam: ...estabelecer todas as aldeias que quiserem além das povoações que se situarem ao longo da costa da dita terra e nas margens dos rios navegáveis, mas no interior eles não podem construí-las a menos de seis léguas de distância uma da outra, de maneira que possa haver pelo menos três lé guas de terra de cada aldeia até o limite territorial da outra.4 A sorte estava lançada. Ao longo da costa, os donatários tomavam posse de imensos talhões de terra, ficando até 50 léguas ( ! ) nas mãos de um único homem.5 Cada beneficiário, ou capi- tão-mor, por sua vez, tinha o direito de conceder terras de sesmaria a colonos dentro da sua capi tania, cuja extensão o próprio donatario fixava. A prática da concessão de sesmos (grandes extensões de terras) teve origem na Idade Média, quando os senhores feudais buscavam avida mente voluntários para colonizarem os seus territórios. As novas comunidades assim forma das, o soberano concedia cartas, e um sesmeiro distribuía terra aos recém-chegados.6 Entretanto, o sistema de sesmarias foi mais amplamente utilizado no Brasil (onde grandes áreas de terras devolutas estavam imediatamente disponíveis), e a sua importância para o desen volvimento do País não devia ser subestimado. Conjugada com a influência senhorial do sistema de donatarias, a prática da concessão de sesma rias literalmente institucionalizou o fenômeno dos latifúndios. Mesmo com a decadência da política da capitania particular e a tentativa bem- sucedida da Coroa de recomprar essas terras e estabelecer o controle real, processo que foi concluído no século XVIII, a configuração das concessões de terras das sesmarias persistiu. Acresce que muitas das terras concedidas gratui tamente no interior foram ampliadas pelo usuca pião, ou direito de posse efetiva. Os funcioná rios do governo permaneciam nas cidades lito râneas, longes demais para intervir deçisivamen- te nessa flagrante quebra da autoridade. Na au sência de fortes sanções governamentais, surgi ram poderosas famílias interioranas, que tiravam o seu prestígio e influência da “propriedade” de vastos domínios particulares.7 Nessas condições, o sertão amava como um poderoso ímã para aventureiros e habitantes das populosas comunidades litorâneas sedentos de terras. O célebre historiador brasileiro João Capistrano de Abreu foi o primeiro a assinalar a força de atração das terras do interior na sua obra-prima do final do século XIX Os Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasit. Nessa obra origi nal, o autor salientou que as entradas (expedi ções de exploradores destemidos ao sertão) poderíam ser mapeadasem ciclos cronológicos, começando com os boiadeiros, seguidos pelos caçadores de escravos silvícolas e depois pelos garimpeiros. Em vista disso, o século XVII po- M A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO D E VILAS deria ser estudado como uma série de invasões não planejadas do sertão. De acordo com a cronologia de Capistrano de Abreu, o estudo da história do interior do Brasil começa propriamente no final do século XVI, quando decretos proibindo o pastoreio nas redondezas dos centros urbanos litorâneos for çaram os boiadeiros a migrarem para a caatinga do Nordeste. As primeiras boiadas a penetrar no sertão foram conduzidas ao longo do rio São Francisco, em busca da preciosa água necessária aos animais.9 Embora os boiadeiros não tives sem a intenção preconcebida de colonizar a área, seus complexos pecuários, instalados em terras ocupadas ao longo do rio, logo cresceram e se transformaram em pequenas povoações, com a incorporação de ajudantes da fazenda e de famílias. Por todo o interior da Bahia, para o norte, em direção a Pernambuco, e, por fim, mais ao norte, até o Maranhão, o processo foi o mes mo: as boiadas realizavam a penetração inicial, e atrás delas pequenos grupos de colonos estabe leciam-se. Os currais resultantes desse povoa mento (aldeias de criação de,gado)10 proporcio navam uma renda escassa aos criadores seden tários, que vendiam os seus limitados excedentes aos boiadeiros que passavam. Enquanto àquela altura a produção pecuá ria se ümitava essencialmente ao Nordeste, o ciclo da caça de escravos amerígenas estava con centrado no Sul em geral. O objetivo dos aven tureiros escravistas que, partindo do altiplano ondulado de São Paulo, penetravam no sertão era incursionar pelas missões do Sul, onde os jesuítas haviam agrupado facilmente seus prote gidos índios em prósperas comunidades agríco las. Os caçadores de escravos vendiam então os índios capturados nas cidades costeiras já fundadas, aumentando assim a sua população e contribuindo muito pouco para o povoamento do interior. Em meados do século XVI, a caça de es cravos começou a diminuir em conseqüência de um programa de armamento levado a efeito pe los jesuítas, e um novo grupo de aventureiros surgiu, disposto a explorar o desconhecido. Este último grupo também teve origem em São Paulo, porém o seu intuito era a descoberta de minerais preciosos, e não a obtenção de escravos indíge nas. Os paulistas pareciam particularmente bem adaptados à vida rude e penosa dos garimpeiros: certamente a vida na capital da sua província não os havia habituado aos padrões relativamen te luxuosos do Rio de janeiro ou da Bahia. . Acresce que muitas vezes eles eram produto do caldeamento entre portugueses e índias, e ha viam assimilado a experiência indígena de sobre vivência no interior agreste. Organizados em grupos denominados ban deiras, os paulistas (junto com elementos de ou tras regiões costeiras) penetravam profundamen te na hinterlàndia e não raro eram recompensa dos com o achado de ouro em regiões que hoje fazem parte do estado de Minas Gerais. Em se guida às primeiras descobertas de ouro e pedras preciosas da década de 1690, um número cres cente de bandeirantes mineradores vagueavam pelos planaltos ondulados do interior, tentando repetir os sucessos dos primeiros achados; en quanto isso, iam deixando atrás de si uma trilha de pequenos campos de mineração construídos atabalhoadamente. Não obstante, esses campos precários constituíram os núcleos dos primeiros povoados realmente permanentes da região. Nessas condições, a abertura inicial do sertão brasileiro ocorreu sem qualquer interfe rência da fiscalização reaf Os aventureiros que buscavam fortuna no tráfico de cativos indíge nas, na criação de gado ou no garimpo de ouro prosseguiam tranqüilamente nas suas ativida des, certos de que aquelas regiões remotas esta £A «Vy iA \ f O vam fora do alcance do braço da lei. Impor qual- q(J' »& quer controle ah, no século XVII, era uma tarefa irrealizável pela Coroa, pois simplesmente não existiam vilas nem cidades onde os delinqüen- ' r x-S9* tes pudessem ser julgados e, se preciso fosse, p segregados do convívio social. Na falta de cen tros administrativos apropriados, a atitude da Coroa foi simplesmente ignorar por completo aquela situação. Só quando a atração exercida pelos achados de ouro despertou o interesse da metrópole e quando, concomitantemente, a hin- cy ii A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS oí> terlândia começou a seduzir um grande número de aventureiros é que os portugueses puseram em prática as primeiras providências necessárias para assegurar o controle do interior. A década de 1690 marcou uma virada na História do Brasil: na mesma época em oue cor reu a notícia da descoberta de ouro no sertãor o governo colonial proclamou a intenção de abrir “oficialmente” o interior.. Uma batalha inevitá vel começou a delinear-se: o poder real em guar- da contra a “aristocracia” agrária, essencialmente uma repetição da luta bem conhecida entre a Coroa e os donatários e. coincidentemente, um claro reflexo do tempo muito curto transcor rido desde a Idade Média. Entretanto, na passa gem para o século XVIII, com a prática da ses- maria ainda gravada tão profundamente no inte rior, a luta assumiu aspectos mais parecidos com a situação de nossos dias, pois o interesse públi co, aqui representado pela Coroa, desafiou os detentores da propriedade privada. A preferên- J cia declarada dos portugueses pelos pequenos fazendeiros, e não pelos grandes latifundiários, fazia parte do seu ambicioso programa de rees truturação fundiária iniciado nos anos 1690. A Coroa ia implantar um projeto visionário e tão radical para a época que implicava em nada me nos que “uma reformulação completa da situa- '' ção jurídica do solo colonial”.11 Certamente não foi por mera coincidência que a primeira lei agrária formal foi elahorada na década em que se descobriu ouro em Minas Gerais. A lei de 1695, que limitava as concessões dê- jsesmarias a uma extensão de quatro léguas de comprimento por uma légua de largura, visa- va a atingir não só as zonas de mineração, mas também áreas de terras agricultáveis. Embora essa medida tenha sido interpretada pelos admi nistradores coloniais como um dispositivo para assegurar a ocupação efetiva da terra, seu efeito capital consistia em impedir que se reivindicas sem propriedades extensas em zonas que pudes sem revelar-se de valor pecuniário inestimável para a Coroa. Dois anos depois a Coroa promulgou uma lei ainda mais restritiva, reduzindo as sesmarias para três léguas por uma légua e prescrevendo, além disso, que entre uma concessão e outra se deveria deixar uma área de uma légua quadrada sem ocupação. Dessa maneira, a Coroa reserva- va-se um direito de via de acesso, ou um domínio público potencial, no caso de uma ocupação total da terra. O acesso assim obtido seria de imensu rável importância na eventualidade de um confli to motivado por litígios em torno de estremas de terras (o que não era raro) e, ao mesmo tem po, garantiría o acesso a futuras zonas auríferas ainda não descobertas, acesso esse que podería ser cortado por um conluio dos beneficiários de duas sesmarias contíguas. Á última lei do século XVII foi baixada em 1699.12 Ela fazia referência específica - e isso tem um viso bem moderno - ao “cultivo útil” como critério para manter a posse das terras de concessão, e ameaçava de expropriação quem deixasse de cumprir a prescrição. Conquanto esse corpo de leis provavelmente representasse mais uma veleidade do que uma determinação expressa da Coroa, e na realidade precisasse ser revisto depois, as leis revelam uma completa mudança da postura oficial. A burocracia portu guesa reconhecera que a colonização metódica do sertão só poderia ser levada a efeito se a terra fosse distribuída eqüitatívamentê em pequenas parcelas a um grande númerode indivíduos; a manutenção de grandes propriedades particula res no interior teria o efeito negativo de desenco rajar o futuro povoamento. Inequivocamente, era do interesse dos por tugueses fazer cumprir essas leis tão rigorosa mente quanto possível. Durante as primeiras décadas do século XVIII, houve múltiplos casos de processos do Estado contra grandes proprie tários de terras que se recusavam a permitir que colonos se instalassem nas “suas” terras.13 Igual mente demoradas eram as demandas motivadas por questões de limites entre vilas vizinhas, um transtorno inevitável, em decorrência do qual a terra em litígio não podia ser facilmente adjudi cada para fins de colonização.14 Conjuntamente com seu empenho em re gularizar a distribuição da terra, os portugueses 12 A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS procuraram resolver a questão da propriedade das áreas de mineração reclamadas. Logo em 1700 o governador do Rio de Janeiro elaborou um código de mineração, que estabelecia o pro cedimento para a distribuição das áreas auríferas entre os garimpeiros. A lei determinava que to do aquele que descobrisse ouro tinha o direito de demarcar 60 braças quadradas (uma braça = seis pés = l,8288m; 60 braças = 109,728m) para si, uma superfície igual sendo reservada para a Coroa e seu representante no distrito de minera ção. Outros lotes auríferos eram delimitados e adjudicados de acordo com o número de escra vos que o minerador tinha a seu serviço. Todavia, como o historiador Charles Boxer salientou, mesmo com esse sistema de loteamen- ço claramente definido, os casos de corrupção eram comuns nas regiões de mineração.15 O su borno de funcionários da Coroa para obter lotes suplementares era notório. Mesmo onde a terra já havia sido distribuída de conformidade com as prescrições legais, não havia meio de impedir que os mineiros anexassem as concessões de outros aos seus lotes, ou que eles os vendessem por um bom preço. No caso da outorga de terra agricultável, a área de mineração tinha de ser severamente vigiada para impedir a incorporação de terras em larga escala e trapaças. Mas a terra em si não era o único problema com que a Coroa se via a braços. Igualmente perturbadores eram os indivíduos que enxamea- vam sertão adentro, considerados uma casta par- ticularm ente detestável pelos observadores portugueses. O potencial de conflito aberto sal tava aos olhos, principalmente porque os cana- vieiros do Nordeste, fortemente premidos pelas recentes recessôes provocadas pela concorrência do Caribe1*, abandonavam os seus canaviais aos bandos para tentar a sorte na mineração. Os paulistas eram infensos a esses intrusos (tanto aos plantadores como aos escravos) quase tanto quanto aos reinóis, portugueses que chegavam em grandes contingentes da metrópole com o fito de compartilhar da riqueza da terra. Se se quisesse evitar lutas armadas e fazer valer a lei e a ordem, era preciso tomar providências drás ticas. Assim sendo, o governador do Rio de Janeiro (sob cuia jurisdição a área de mineração estava) em 1682 foi encarregado de controlar as atividades dos vagabundos e desordeiros, seguin do o exemplo das ordens religiosas e agrupando tais elementos à força em povoações adrede cria das. Com efeito, a fraseologia das instruções oficiais reforça a impressão de comunidades cle ricais, pois nelas se faz referência explícita a “re duzir” a população errante, exatamente a mesma terminologia empregada pelos missionários nas suas “reduções” (aldeias).17 Agrupando-se esses andarilhos em povoações facilmente administra das, os infratores potenciais provavelmente se riam desencorajados e, ademais, os resultados positivos que se deveríam colher da administra ção fo n e e da ação da justiça podiam set coadju- vados pela atuação de párocos. Pela sua lógica intrínseca, as instruções devem ter recebido forte apoio dos administradores coloniais, porque três anos depois, em 1696, o novo governador da capitania recebeu diretrizes semelhantes, desta vez instruindo-o a ampliar o programa mediante a construção de tribunais em que juizes itineran tes pudessem dar audiências.18 Evidentemente nem todos os governadores eram conscienciosos no cumprimento das novas diretrizes, ou então eram incapazes de pô-las em prática de modo a concretizar todas as suas po tencialidades. Em consequência disso, em 1709 a Coroa foi obrigada a renovar o edito para “re duzir toda a gente que anda nas minas e povoa- çoens”.19 Por todo o século XVIII, ordens se melhantes para reunir os “espalhados” foram re cebidas pelas autoridades regionais. O princí pio era o mesmo, não importando a região onde a legislação determinasse a criação de comuni dades, se na bacia amazônica, no Sul ou no Cen- tro-Oeste da colônia. Como observou um famo so historiador, os portugueses estavam “convic tos, com justa razão, de que a construção de tais municipalidades era o melhor meio de civilizar e promover o povoamento do agreste sertão”.20 A lógica da política da construção de vilas subsidiada pelo governo também era patente no trato do problema de manter o controle sobre o 1 3 A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS escoamento do ouro que estava sendo extraído. Era conveniente que povoações e viias locali zadas em zonas produtoras de minerais precio sos sediassem casas de fundição e instalações reais de cunhagem de moedas, enquanto funcio nários residentes realizariam uma escrituração metódica das contas da mmeracàq restringindo assim as possibilidades do tráfico de contta- bando. Aiém disso, se alguma fraude fosse come tida, os portugueses disporiam de autoridades judiciárias no próprio local, capazes de exercer a justiça. I— j> Por essa mesma lógica pecuniária, também era evidente para os representantes da Coroa que as novas povoações iam facilitar o recebimento de impostos dos habitantes agora agrupados, que indubitavelmente haviam escapado a esses inconvenientes enquanto não houvera nenhum controle no sertão Ademais, o próprio ato da criação de uma vila geraria renda suplementar para os cofres reais, porquanto a taxa devida pelo recebimento de um título de vila ia diretamente para o Tesouro Real. Assim, admira pouco que muitos acampamentos de mineração improvisa dos tenham sido oficialmente convertidos em vilas; essas novas “vilas” eram “necessárias para aumentar as rendas do Tesouro Real”.21 Como já foi assinalado, uma última razão para a decisão portuguesa de assumir o patrocí nio de um programa de urbanização nas regiões interioranas derivava do desejo luso-brasüeiro de ampliar os domínios territoriais em detrimen to dos espanhóis. A pedra angular desse progra ma foi assentada em 1680, quando os portugue ses fundaram a colônia de Sacramento na mar gem oriental (esquerda) do rio da Prata, no seu estuário, exatamente do lado oposto da cidade espanhola de Buenos Aires. Os espanhóis revi daram imediatamente, criando o núcleo urbano de Montevidéu a jusante de Sacramento (e tam bém na margem oriental), e uma luta pelo con trole foi desencadeada. Os portugueses perce beram que, se quisessem sustentar a sua-reivin- dicação da extremidade sul, era indispensável criar uma sólida linha de comunicação entre Sa cramento e a povoação mais próxima sob o do- minio da Coroa (em São Paulo). Como ficou comprovado no interior do -Noroeste e na zona de mineração, a solução mais eficaz para manter a autoridade era fundar uma série de comuni dades com habitantes permanentes, uma verda deira fortificaçào humana responsável pela segu rança da região. Muitas das povoações de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul devem a sua origem a esse esforço. Nos anos 1740 e nas dé cadas ulteriores, a Coroa procuraria incremen tar a população adotando um programa de imi gração oficial para a região, pelo qual colonos dos Açores superpovoados e de outras posses sões portuguesas seriam reassentados no Sul. Se o territóriosulino era de interesse funda mental para os portugueses, o Extremo Oeste o era mais ainda, pois a descoberta de ouro nas suas zonas interioranas subitamente conferiu a essa região uma importância estratégica imensa. Consciente disso, a Coroa seguiría no encalço dos acampamentos de bandeirantes em Mato Grosso e Goiás, tomando as providências legais necessárias para a criação de vilas e arraiais por tugueses. No meado do século XVIII, a cons-^ trução de uma cidade-capital no rio Guaporé e a fortificação de comunidades indígenas22 ao longo do sistema fluvial assegurariam a supre macia lusitana na região, um fato que foi reco nhecido internacionalmente no Tratado de Madri, em 1750. Portanto, em resposta a quatro estímulos interligados - a distribuição de terras; a desco berta de ouro; a necessidade de implantar a lei e a..ordem no sertão; e a ameaça pendente dos interesses espanhóis os portugueses resolve- ram-se a cobrir a hinterlândia com um sistema de cidades, vilas e povoações organizadas. Seus projetos racionais para levar a efeito essa emprei tada -que incluíram o emprego de planos direto res - e seu êxito final constituem um dos aspec- tos mais notáveis da História do Brasil do século XVIII e serão estudados extensamênte nos capí tulos subseqüentes. Todavia, é da máxima im- pottáncia ressaltar aqui que os portugueses, profeticamente, reconheceram a necessidade de urbanizar a hinterlândia brasileira e de realizar 1 4 A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS uma reforma fundiária, isso há mais de 250 anos! Ironicamente, ainda hoje se discute o mesmo vação do uso efetivo do solo nas grandes pro- priedades. O que os portugueses empreende- riam e conseguiríam realizar num grau surpreen dente durante o úirimo século completo de ad ministração colonial era nada menos que um repto frontal a todo o status quo colonial. (1) Na introdução de The Bandeirantes: The Historical Bole of the Brazilian Pathfinders, de Richard M. Morse, editor (Alfred A. Knopf, Nova York, 1965), este reconstitui a origem da palavra ban deira. Originariamente, o termo era empregado para designar uma unidade militar portuguesa de 36 homens; porém ele também tem a cono tação de “causa” defendida por um grupo orga nizado, pois é em torno da bandeira que o gru po se reúne. No contexto brasileiro, os homens que se incorporavam às expedições ao interior eram conhecidos pela denominação de bandei rantes, derivado de bandeira. (2) Noutro texto, eu resumi essas asserções e co mentei o êxito português em atingir esses obje tivos. Ver “Colonization and Modernization in the Eighteenth-Century Brazil”, de Roberta Marx Delson, in Social Fabric and Spatial Structure in Colonial Latin America, de David J. Robinson, editor (University Micro-films International, Ann Arbor, Michigan, 1979), pp. 281-313. (3) Frei Vicente do Salvador, História do Brasil: 1500-1627, editada por Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia (São Paulo, 1931), p. 19. (4) Documento real de outorga da capitania de Per nambuco a Duarte Coelho Pereira, in A Docu mentary History of Brazil, de E. Bradford Burns, editor (Alfred A. Knopf, Nova York, 1966), p. 38. Charles R. Boxer, em The Golden Age of Bra zil: 1695-1750 (University of California Press, Berkeley, 1969), à página 357, afirma que uma légua é igual a 3.755 1/15 passos geométricos. Segundo o The Random Home Dictionary of the English Language (edição de texto integral, Random House, Nova York, 1967), um passo geométrico é igual a cinco pés. Assim sendo, uma légua seria igual a pouco mais de 3,4 mi lhas, ou 5,472km, uma milha terrestre medindo 1.609,35m. Para os fins desta exposição, uma légua será considerada igual a 3,5 milhas (5.632,725m). (5) E. Bradford Burns, A History cf Brazil (Co lumbia University Press, Nova York, 1970), p. 24 et passim. (6) Para conhecer as práticas de sesmarias no Por tugal medieval, ver: Portugal, de J. B. Trend (Er nest Benn Ltd., Londres, 1957), p. 69; “The Donatory Captaincy in Perspective: Portuguese Backgrounds to the Setdement of Brazil”, de Harold B. Johnson, Jr., in HAHR, vol. LII, n“ 2, maiode 1972, p. 211; e “A Portuguese Estate of the Late Fourteenth Century”, de Harold B. Johnson, in Luso-Brasflian Review, vol. X, n° ' 2, inverno de 1973, p. 158. (7) Caio Prado Júnior, The Colonial Background of Modern Brazil (versão de Suzette Macedo, University of California Press, Berkeley, 1967), p. 220. (8) João Capistrano de Abreu, Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil (Sociedade Capistrano de Abreu, Rio de Janeiro, 21 edição, 1960); ver sobretudo as páginas 59-164. Myriam Ellis, em “The Bandeiras in the Geographical Expansion of Brazil”, in The Bandeirantes, de Richard M. Morse, editor, às páginas 48-63, também disseca esse fenômeno cíclico. (9) Segundo Caio Prado Júnior, op. cit., p. 216, era proibido criar gado em torno desses centros num raio de dez léguas marítimas. Essa disposi ção tinha por finalidade suprimir a competição pela área periurbana, necessária para a produ ção de gêneros alimentícios para os habitantes da cidade. (10) Por exemplo, Pastos Bons, no Maranhão, e Cur rais Novos, no Rio Grande do Norte. Em “Em briões de cidades brasileiras”, in Boletim Pau lista de Geografia n° 25 (março de 1967), à página 53, Aroldo Azevedo dá uma relação mais ampla de cidades-currais. (11) Ruy Cirne Lima, Terras Devolutas: História, Doutrina, Legfslação (Livraria do Globo, Porto Alegre, 1935), p. 37. (12) Todas essas determinações legais são analisadas por Charles R. Boxer na sua obra The Golden Age of Brasil: 1695-1750, já citada. 1 5 A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS (131 Por exemplo, em 1715 foi instaurado um pro cesso do Estado contra o detentor de uma ses- maria na proximidade da vila de Conceição, motivado pelo fato de ele não permitir assen tamentos de colonos na sua propriedade (AHU, Códice 241, fls. 321 v. e 322). (14) Ver, por exemplo, o processo movido pela Coroa referente a litígios jurisdicionais susci tados pela criação de uma vila na região mineira de Serra Fria-Barra do Rio das Velhas, datado de 12 de janeiro de 1720 (AHU, Códice 241, fls. 321v. e 322). (15) Charles R. Boxer, op. cit., p. 52. (16) Ver o artigo “The Brazilian Sugar Cycle of the XVIIth Century and the Rise o f the West Indian Competition”, de Matthew Edel, in Ca ribbean Studies, vol. 9, n“ 1, abril de 1969, pp. 26-33. (17) Carta do rei Dom João V, o Magnânimo, ao governador do Rio de Janeiro, de 27 de dezembro de 1693 (ANRJ, Códice 952, vol. VI, n° 253). (IS) Correspondência expedida de Iisboa por Dom João V ao governador Artur de Sá e Meneses, datada de 6 de novembro de 1696 (ANRJ, Códice 952, vol. XVIII, p. 101). (19) Parecer do Conselho Ultramarino sobre o estado das minas, de 17 de julho de 1709 (AHU, Códice 232, fl. 259). (20) Charles Boxer, op. cit., p. 47. Para conhecer mais detalhes sobre a anarquia reinante nas minas brasileiras, ver João Pandiá Calógeras, A s Minas do brasil e Sua Legislação (Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1904). (21) Esse fato é assinalado na Carta Régia de 21 de abril de 1738 que dava permissão para fundar uma aldeia perto de Cuiabá. O texto reza: “ ... e vos concede-se a faculdade para poderdes fazer huma aldeya de que ahi se necessitava pello Rendimento da Fazenda Real”. AHU, Goiás, Papéis Avulsos. (22) Ver os Capítulos IV e VI, mais adiante. £ o t - v>4 Co N> Pt~« -roò / 16 Capítulo III Aplicando o modelo: primórdios experimentais no Nordeste Empenhada no desenvolvimento da hinter- lândia por meio de uma série de comunidades planificadas e supervisionadas, a Coroa concen trou os seus primeiros esforços no Nordeste do Brasil, onde, no final do século XVII, as dificul dades criadas por sesmeiros excessivamente po derosos haviam se tornado cruciais. Por sua veZj o abrimento de diversas linhas de comunicação através da região aumentou a preocupação das autoridades nasduas unidades administrativas do Brasil, o estado do Maranhão e o estado do Brasil, que abrangiam cada um uma Jgarte do Nordeste. A comunicação entre a cidade lito rânea de São Luís, no Maranhão, e Salvador, ca pital do estado doBrasü^era inçadadle dificulda- des. Os ventos predominantes tornavam uma viagem marítima contornando o cabo São Roque muito arriscada, enquanto a alternativa de acom- panhar a linha da costa resultava numa viagem demorada e árdua. A solução lógica do proble- ma era abrir caminho através do sertão do Piaui, pois assim a distância seria encurtada, tornando a viagem muito mais direta. Contudo, era preci so lutar contra os poderosos do sertão; para que a segurança da estrada pudesse ser assegurada, cumpria pacificar esses barões agrários. Assim sendo, o Piauí estava fadado a ser uma das pri meiras regiões onde os administradores portu gueses e os temíveis senhores do sertão entra riam em desavença. O sertão piauiense já havia sido escassamente povoado por aventureiros baianos, agora dispersos em povoados fragmen tários ao longo das margens dos rios.1 Esses in trépidos andarilhos haviam aberto as primeiras trilhas através do interior. Partindo de São Luís, eies avançaram ao longo da costa até o rio Par- naíba; dali, voltaram-se para o interior, subindo o grande rio, e finalmente se espalharam em di versos pontos ao longo dele, atravessando o território do Piam pelos afluentes. A trilha ter minava em Juazeiro, uma povoação da capitania da Bahia, e dali o acesso à capital era relativamen te fácil.2 A Coroa imaginava que esses duros desbravadores, que haviam corajosamente aber to uma trilha através da caatinga bravia, seriam o material humano ideal para formar o núcleo de uma comunidade patrocinada pelo governo; além disso, essa aglomeração assegurava a aceita ção da autoridade real. Com esse fito em mente, a Coroa encarre gou D. Francisco Lima, bispo de Pernambuco, de criar a primeira paróquia do Piam.1 Pouco depois de o bispo receber essa incumbência, em 1697, houve uma reunião em que representantes de vários grupos estabelecidos ao longo do rio Parnaíba deliberaram sobre a localização da igreja matriz. O local escolhido na reunião para a nova congregação de Nossa Senhora da Victo ria era uma área aproximadamente eqüidistante de todos os assentamentos e facilmente acessível pelos meios de comunicação existentes.4 A Co roa esperava que a nova igreja atraísse futuros colonos e, com base nessa suposição, previa-se um futuro pacífico para o Piauí. Hoje, decorridos 300 anos, pode parecer que, ou os portugueses eram excessivamente otimistas quanto à tranqüilidade do Piam, ou eles estavam decididos a fazer pouco caso da ameaça dos poderosos sesmeiros, que já haviam demar cado vastas áreas na região como feudos pes- 17 A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e soais. Caso esses indivíduos continuassem pra ticando a apropriação indébita de terras, os co lonos da nova comunidade teriam pouca possi bilidade de adquirir glebas por iniciativa própria. Embora as leis gerais relativas às sesmarias da década de 1690 fossem plenamente aplicáveis à região do Piauí, a ameaça dos poderosos do ser tão ali era tão esmagadora que a Coroa foi força da a emitir uma série de disposições especiais para tratar do problema. Assim, em 1699 o rei declarou que os sesmeiros que possuíssem terras no Piauí e não as cultivassem, nem pessoalmente nem por intermédio de outrem, corriam o risco de perdê-las para quem quer que os denunciasse às autoridades.5 Essa disposição real (talvez vi sando expressamente a isto) precipitou uma re volta nò sertão. A despeito da contenda que se seguiu, o governo continuou a pressionar no sentido de uma demarcação efetiva da terra, na esperança de que a diminuição legal da exten são das sesmarias finalmente obrigasse os pode rosos a entregarem áreas consideráveis. Duas disposições complementares decreta das pela Coroa nesse estágio inicial atiçaram ain da mais a ira dos grandes proprietários. A pri meira delas, uma lei promulgada em 1699, que impunha a presença de um juiz, um capitão-mor e outros funcionários do governo em cada uma das paróquias recém-criadas‘, foi acertadamente interpretada pelos poderosos como um desafio ao seu poder irrestrito no sertão. Da mesma maneira, a decisão de anexar o Piauí ao vizinho estado do Maranhão7, também decretada na mesma época, foi encarada pelos barões da terra como uma tentativa de aumentar o controle do governo. A animosidade dos sesmeiros perma neceu contida por 13 anos, até que as medidas imprudentes do ouvidor (juiz adjunto da admi nistração central) do Maranhão precipitou uma crise. Em 1714 o ouvidor, sem autorização, de clarou que de então em diante todas as terras do Piauí eram consideradas devolutas, ou seja, legalmente sem dono.8 Para apaziguar o tumul to desencadeado no sertão por essa decisão ofi cial, a Coroa foi obrigada a retroagir, determi nando em 1715 que as velhas sesmarias, outor gadas no tempo em que o Piauí era administrado pela Bahia e Pernambuco, ainda eram iegais, em bora o território agora estivesse sob a jurisdição do Maranhão.’ Com isso, os sesmeiros foram pacificados, e a Coroa, no essencial, perdeu o primeiro emba te. Por infelicidade, os índios do Piam escolhe ram exatamente esses anos tumultuados para rebelar-se contra os portugueses. Em 1712 e 1713 os tapuias do norte revoltaram-se ao longo da fronteira do Maranhão com o Piauí, ameaçan do a segurança de toda a estrada Maranhão- Piauí-Bahia. Liderados pelo ex-convertido pe los jesuítas Mando Ladino, os índios, durante quase quatro anos, atacaram as fazendas dos co lonos da região. Quando a revolta foi finalmente debelada em 1716“ , a paciência da metrópole estava quase esgotada. O único recurso da Co roa foi estabelecer imediatamente a autoridade real mediante a criação de vilas no sertão do Piam e a sua provisão com muitos funcionários portugueses confiáveis.11 No mesmo ano em que se conseguiu esta belecer um pouco de paz, em 1716, chegaram ao Piam ordens para a criação de duas novas vi las. Uma delas se localizaria na paróquia de N os sa Senhora da Victoria, já existente, enquanto a outra reuniría colonos da área do rio Longá (afluente do Parnaíba), precisamente na sua con fluência com o rio Piracuruca.12 As leis de plane jamento recebidas pelas autoridades locais em 1716 forneceríam as instruções metodológicas para a fundação das duas novas vilas. Primeiramente a Coroa ordenou que se reunissem todos os moradores das redondezas para decidirem conjuntamente sobre a localiza ção mais apropriada para a praça central da nova comunidade, no meio da qual seria erigido o clássico pelourinho, símbolo da autoridade por tuguesa. A segunda providência era indicar uma área para uma igreja que, depois de terminada, pudesse abrigar todos os futuros paroquianos atraídos pela comunidade. Além disso, deve ríam ser escolhidos locais para a câmara, a cadeia e outras edificações públicas. Em seguida, as instruções insistiam em que os lotes destinados 1 8 A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e a residências nos âmbitos das vilas fossem de marcados em linha reta, ou '‘a régua”, garantin do assim uma disposição ordenada e em alinha mento das moradias.13 Finalmente, dever-se-ia procurar exigir que todas as casas tivessem o mesmo estilo de fachada, obtendo-se assim uma impressão de uniformidade e uma vista de con junto harmoniosa.14 Com referência a essas duas cidades piaui enses, duas indagações imediatamente vêm à mente: primeira, as ordens foram cumpridas tais quais exaradas na legislação de 1716?; e segunda, qual a razão do empenho tão grande da Coroa de conferir a essas novas comunidades uma apa rência harmoniosa, quando o Piauí em si estava tão afastado dos núcleos de “civilização” maispróximos? A resposta para a primeira pergunta parece ser afirmativa: consoante a pesquisa do historiador da arquitetura Paulo Barreto, as or dens de 1716 foram ignoradas unicamente no tocante à determinação de as igrejas serem sufi cientemente espaçosas para acomodarem as co munidades em crescimento. Barreto afirma que em 1733 a igreja de Victoria (topônimo mudado depois para Mocha) ainda estava em obras, ao passo que o templo de Piracuruca só'foi termina do dez anos depois.15 Uma prova mais convin cente é o relato de João da Maia da Gama, que esteve em Mocha em 1728 e descreveu a vila. Naquela época a cidade evidentemente tinha um número considerável de habitantes; haviam sido construídas cerca de 90 casas dentro da vila, e mais algumas dúzias estavam distribuídas pelos distritos exteriores, perfazendo perto de 120 moradias. Além disso, João da Gama observou que os habitantes estavam ocupados na cons trução de uma “vistosa” cadeia pública de pedra e cascalho e cumprindo a exigência de edificar uma casa da câmara.16 Infelizmente, o relato de Gama não faz nenhuma referência à disposição das casas, embora provavelmente ela também tenha obedecido ao modelo prescrito pela Coroa. Não é fácil responder à segunda pergunta, mas é evidente que, pelo menos no caso de Mo cha, os portugueses estavam decididos a super visionar inteiramente o desenvolvimento da co munidade, inclusive o seu traçado físico. Visto que uma situação de crise havia se manifestado ao longo da via fluvial tão rapidamente depois da promulgação das leis de sesmarias, e que a necessidade de congregar os poderosos e subju gar os índios rebeldes era tão aflitivamente pre mente, a criação de uma nova vila, provida de funcionários reais, era ditada pela necessidade, bem como pela possibilidade de escolha. Se tal comunidade fosse construída solidamente, de conformidade com os princípios barrocos em voga de uniformidade e retilineidade, teria mais possibilidade de suportar um ataque violento de elementos dissidentes. Ademais, um emprego largo de dinheiro e competência como esse con tinuaria a receber a atenção do governo. Por uma equação simples, uma cidade permanente necessariamente atrairía colonos permanentes. Conquanto a ordem de 1716 não prescrevesse uma extensão definida para a praça central nem a largura específica das ruas (como algumas das legislações ulteriores prescreveríam), o objetivo era criar uma comunidade de aparência ordenada que logo à primeira vista desse a impressão de que havia uma autoridade estabelecida. Se a continuidade pode ser considerada um índice de êxito em planejamento urbano, a expe riência de Mocha satisfez todas as expectativas. Em 1761 a vila foi elevada à categoria de cidade (e teve seu nome mudado para Oeiras), a única t do Piauí na época. Além disso, a meta impor tante de criar uma estrada tranqüila e segura para a comunicação entre o Maranhão e a Bahia havia sido atingida. Pouco depois da construção da cidade nos anos 1720, os colonos tiveram toda liberdade de retornar à região (principalmente ao longo da fronteira com o Maranhão) para re construir as fazendas de gado destruídas durante a revolta dos tapuias. Finalmente, a nova vila p favoreceu a formação de outros centros urbanos ( j s , na região, o que se traduziu numa proliferação de comunidades, algumas das quais alcançaram um porte considerável. Esses novos centros - como Parnaíba (Figura 1), fundada em 1761 - obedecem ao modelo traçado em 1716, apesar 1 9 A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e —J--------—.---- —f* 1 .. # .... j aÍJ 1.- feggj . 7 Jh Fig. 1 - Planta básica de São João de Pamaíba, 1798 de posteriormente ter sido elaborada uma legis lação especial para a sua criação." A contrapartida negativa da criação de Mo cha foi que ela não possibilitou uma solução efe tiva do problema de controlar os sesmeiros, que continuaram a apoquentar as autoridades até o meio do século.” Contudo, a Coroa havia mos trado que uma vila construída numa das áreas mais remotas da colônia podia prosperar se fosse corretamente administrada. As autoridades de vem ter gostado imensamente dos resultados da experiência de Mocha, que foi a primeira vez que as novas leis de planificaçâo em plena escala foram postas em prática. A partir de 1716, a Coroa repetidamente assumiu os encargos de experiências urbanas no interior, num esforço contínuo de impor ordem onde o caos havia pre dominado. Mocha havia sido uma primeira ten tativa de implantar a política de controle esbo çada na década de 1690. Contudo, a “pacificação” do Piauí não ha- via absolutamente garantido a segurança no Nordeste. Em seguida, a Coroa voltou a sua aten ção para o sul, para a regulamentação de centros urbanos no Ceará. Como no Piauí, o problema de importância capital para os portugueses ali era a segurança, pois duas importantes estradas atravessavam o território do Ceará. Á primeira estrada ladeava a costa, estendendo-se do norte de Pernambuco até pelo menos Fortaleza, no Ceará, enquanto a outra estrada fazia uma cone xão por terra entre Fortaleza e a Bahia." 20 A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e £ Não havia muitos colonos na região do Ceará. A maior concentração localizava-se à beira-mar, no ponto em que hoje fica a capital do estado, Fortaleza. No século XVII, os portugueses ha viam construído um forte - daí o nome da me trópole - , porém a expansão urbana não havia sido promovida. Foi visando a aumentar o nú mero de colonos na região e a assegurar o domí nio das duas estradas de penetração que os por tugueses resolveram, em 1699, fundar a vila do Ceará e conceder-lhe o título real. A vila deveria situar-se no local da velha fortificação. A instalação da nova vila, que deveria ter sido uma questão pacífica, gerou uma controvér sia que só cessou na década de 1720. Pela lógica, J r o sítio da nova vila deveria ter sido a antiga po- ' r ' voação à sombra do forte, porém o conselho municipal decidiu que a cidade ficaria melhor locaüzada a pouca distância dali, em Iguape. A Coroa imediatamente se opôs, fazendo saber aos moradores da povoação que ela considerava o forte como o local mais adequado para a instala ção da sede do governo municipal. De nada ç- adiantaram as discussões ásperas entre os cea renses e o governo local. Os portugueses não se demoveram, apesar do argumento da popula ção de que a zona de Iguape oferecia um clima mais saudável, terras férteis em abundância, água boa, fartura de peixe e um porto mais acessível que Fortaleza. N o 'final das contas, a Coroa indeferiu as objeções locais, e uma vila oficial foi criada em 1706 no local do antigo forte.*20 Nem assim a oposição dos habitantes ao local determinado por Lisboa foi aplacada, e em 1 1713 os obstinados cearenses foram recompen sados com a decisão da Coroa de relocalizar a comunidade em Aquiraz, uma zona adjacente ao porto de Iguape. A despeito das suas propa ladas virtudes, infelizmente Aquiraz revelou-se uma vitória infausta. Tão logo os colonos se mudaram para a nova localização, os índios da região começaram a hostilizar a nascente comu nidade. O capitão-mor expressou as suas obje- ções ao novo lugar, mas a Coroa obstinou-se, e logo foram construídas uma casa da câmara, uma cadeia e uma igreja na comunidade, a essa altura completamente desmoralizada. Ademais, para certificar-se de que ninguém permanecesse em Fortaleza, deu-se um prazo de quatro meses aos comerciantes para transferirem suas merca dorias para Aquiraz. Nessas circunstâncias, a polêmica sobre a escolha da localização adequada continuou nos anos 1720, uma parte considerável da população optando agora pelo retorno ao sítio de Fortaleza. Para resolver o problema, a Coroa deu permis são às autoridades locais para instalarem uma vila alternativa no sítioda velha fortificação, em bora mantendo a capital oficial em Aquiraz.21 Com a implantação de Fortaleza a 13 de abril de 1726, a capitania do Ceará ficou na situação absurda de ter duas vilas fundadas oficialmente em áreas praticamente vizinhas, enquanto o resto da região não podia reivindicar nem mes mo uma única comunidade oficial. A proximi dade entre Fortaleza e Aquiraz não só era pouco prática do ponto de vista econômico (pois dupli cava as expensas oficiais) como criava rivalidades ( * ) Fico muito agradecida ao tradutor pela informação seguinte: O forte junto ao qual a vila de Fortaleza foi fundada, em 13/4/1726, foi construído pelos invasores holandeses, e não pelos portugue ses. É certo que, a cerca de uma légua dali, na barra do rio Ceará, Martim Soares Moreno havia erigi do o Forte de São Sebastião em janeiro de 1612. Porém em 6/4/1644, quando a expedição holande sa de 298 homens comandada por Matthias Beck aportou na enseada do Mucuripe, na atual Fortale za, desse forte português só restavam ruínas. O comandante Beck mandou transportar as suas telhas e velhas peças de artilharia, que encontrou semi-soterradas nas dunas, para o outeiro Marajaitiba, perto do riacho Marajaik (o córrego Pajeú, que atravessa o centro de Fortaleza). Nesse local foi construído o Forte Schoonenborch, de forma pentagonal. A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que deu nome à capital do Ceará, só foi edificada em 1816, no mesmo local do forte holandês. As muralhas desse terceiro forte subsistem até hoje. Confira-se em Pequena História do Ceará, de Raimun do Girão. 21 JL- A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e entre os dois núcleos demográficos incipientes. Diante de outra situação potencialmente explo siva como a do Piauí na década anterior, a Coroa sub-repticiamente subvencionou Fortaleza, fi nanciando a construção da futura urbe com fun dos do erário real. O mapa mais antigo existente da vila (cerca de 1730) ilustra até que ponto o governo real subsidiou a nova comunidade (Figura 2). As primeiras moradas são representadas como sim ples casas cobertas de palha; as edificações pos teriores, de tetos de telhas, são comparativa mente luxuosas.22 Numa carta de prestação de contas23 datada de 23 de abril de 1731, o capitão- mor Manuel Francês, encarregado das opera ções, explica que deixou a nova vila aumentada de “26 casas com cobertura de telhas, todas ha bitadas, e que aiudcu a construir a Câmara com 5 mil réis”. Embora não exista nenhuma prova documental que confirme a apiicação de uma uma legislação de planejamento urbano, um exa me minucioso do croqui revela uma certa pre- meditação no traçado da nova comunidade. Em face da difícil tarefa de integrar as edificações antigas no desenho, é duvidoso que a nova For taleza pudesse ter sido ajustada ao traçado pre ferido de ruas retilíneas. Por outro lado, é perfei- tamente visível que a área central da comunidade foi deixada vaga, servindo assim como praça principal, impressão confirmada pela presença da igreja matriz na sua cabeceira. Ademais, as casas do quarteirão paralelo à praça apresentam todas a mesma disposição de portas e janelas, o que indica uma tentativa de uniformização do Fig. 2 - Croqui de Fortaleza, Ceará, aproximadamente 1730 22 A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e desenho. No meio desse quarteirão está a nova Casa da Câmara, e uma legenda no pé do dese nho salienta que o quartel municipal e a nova rua de casas foram criação do capitão-mor. O fato de não se ter conseguido uma regu lamentação completa dos elementos arquitetô nicos em Fortaleza decorreu do desenvolvimen to a esmo da comunidade nos seus primeiros anos. Inobstante, tanto Aquiraz como Fortaleza ilustram a essência do programa de construção de vilas, porquanto ambas serviram para asse gurar o controle português sobre um elo de co municação imprescindível na colônia. Consi derava-se que as duas vilas tinham uma função estabilizadora sobre uma região remotamente administrada, apesar do paradoxo aparente da rivalidade entre Aquiraz e Fortaleza. Por conseguinte, até os anos 1730, o poder administrativo português no Ceará esteve con centrado nos centros urbanos geminados de Aquiraz e Fortaleza.24 Esses centros garantiam o controle sobre o destino final da estrada Ba- hia-Ceará. Contudo, pelos anos 1730, parece que os portugueses compreenderam que era pre ciso aumentar a segurança ao longo dos trechos interioranos dessa artéria de intenso tráfego. Mais uma vez a Coroa resolveu obviar potenciais empecilhos, estabelecendo uma nova comunida de no sertão, a partir da qual os funcionários do governo poderíam manter o tráfego regional sob vigilância. O sítio escolhido em 1736 para a no va vila ficava num ponto intermediário da estra da Fortaleza-Salvador. Partindo de Fortaleza em direção ao sul, a estrada acompanhava a costa até o rio Jaguaribe e dali inflectia para o interior. O viajor acompanhava então o rio Jaguaribe até a foz do rio Salgado, seu afluente. Dali o trajeto se guia através do sertão até o rio São Francisco, no interior da Bahia.25 A confluência do rio Salgado com o rio Jaguaribe, em Icó, afigurava-se uma exce lente escolha para um baluarte administrativo. Essa nova povoação objetivava aumentar a autoridade na zona e contentar os habitantes, que tinham sofrido grandes incômodos, porque a sede de comarca mais próxima, Aquiraz, ficava a 80 léguas de distância.26 Conforme ocorrera no Piauí, a criação da nova vila foi acompanhada de uma legislação de pianificação vinda de Lisboa, prescrevendo as ruas retas e o traçado retilíneo usuais. Entretanto, em Icó as autorida des estavam mais interessadas na configuração geral do que na uniformidade dos elementos arquitetônicos. Assim, cada habitante foi ins truído a decorar a fachada do seu imóvel como bem quisesse, sem a preocupação de manter um estilo homogêneo. Uma área de cinco léguas nas cercanias imediatas da povoação deveria ser dividida entre os habitantes, outorgando-se a cada família no máximo uma légua quadrada de terra.27 A fim de impedir o monopólio da terra, as ordens para a criação de Icó estipulavam ex plicitamente que os lotes não eram concedidos vitaliciamente, mas apenas por um determinado período. Isso evitava que o beneficiário se sen tisse com direitos perpétuos sobre a terra.28 Na década de 1740, as autoridades portu guesas resolveram acrescentar mais uma vila às únicas três existentes no Ceará, Aquiraz, Forta leza e Icó. Essa nova povoação localizar-se-ia à margem do rio Jaguaribe, não longe do mar, con solidando assim, ainda mais, a autoridade sobre a estrada Bahia-Fortaleza. Essa região especí fica havia sido colonizada nas primeiras décadas do século anterior por pescadores, que deram ao seu povoado o nome de São José.29 Entretan to, o crescimento da comunidade não se devia à atividade pesqueira em si, mas sim ao movimen to das boiadas que passavam pela circunvizi- nhança, cujos boiadeiros eram ávidos pelos pro dutos de São José. Além disso, na proximidade de São José do Porto dos Barcos foi montada uma instalação de preparo de carne seca por sal ga e insolação (“oficina” ou charqueada) antes de 1740, e essa indústria é que era responsável petA prõsperidideTd a comunidade,34 Naturalmente a Coroa estava sequiosa de participar das vantagens comerciais em São José; logo em 1739 houve uma troca de correspon dência com os funcionários locais propondo a criação oficial de uma vila no sítio da povoação existente.31 Todavia, as ordens efetivas para a criação da vila de Santa Cruz do Aracaty não 2 3 A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e foram escritas e recebidas pelo ouvidor-geral, fosé de Faria, senão em 1747.32 Quando as pian- tas finalmente chegaram, os fundadores da nova vilaforam instruídos a escolher um lugar que estivesse topograficamente acima do nível das enxurradas do rio jaguaribe, mas que, concomi tantemente, fosse acessível aos barcos que che gassem ao rio com fins comerciais. As recomen dações para o traçado da cidade obedeciam às diretrizes de retilineidade, agora de praxe, porém também levavam em conta as dificuldades espe cíficas do local de Aracaty. Por exemplo, as or dens de 1747 recomendavam que as novas casas da vila fossem construídas com uma aparência uniforme; entretanto, no caso de a nova villa ser localizada junto à po- voação que já existe,... quando um morador de uma casa [antiga] tiver de reconstruí-la por moti vo de ruína, deve-se avisá-lo de que a casa deve rá ser reconstruída de forma a dar-lhe um con torno e aparência equivalente aos das novas casas. As novas ordens recomendavam o modelo ideal, mas, ao que parece, as autoridades podiam acei tar uma solução conciliatória. Essa sensibilidade à necessidade de flexibi lizar os padrões de urbanização foi da mesma forma evidente na advertência dirigida a José de Faria para construir a praça da vila suficiente mente ampla, de modo a “não padecer do defeito de ficar exígua quando a villa tiver o desenvolvi mento que se espera”. Além disso, os consulto res em Lisboa recomendavam que o curral e o matadouro fossem construídos em terreno pú blico, a uma distância tal da cidade que o mau- cheiro não incomodasse os habitantes. Essa no va filosofia urbana era um evidente refinamento em relação à mentalidade que havia aceitado as moradias superlotadas das famílias dos nego ciantes anexas às suas lojas da cidade medieval portuguesa tradicional, onde as famílias e os co merciantes conviviam intimamente com mias mas fétidos e doenças. Ou em relação ao caso de Salvador naquela mesma época, onde os depósitos de lixo diários, situados embaixo dos grandes edifícios da cidade, ameaçavam a pró pria vida dos seus habitantes.33 Outras características da planta básica de Aiacaty eram semelhantes às determinações das leis de plamtícãçao para as comunidades analisa das anteriormente, reservando-se localizações destacadas na praça para os prédios importantes. bem como um terreno de extensão considerável para uso coletivo da comunidade. As indicações mostram que as obras da vila começaram imediatamente, pois no início de 1748 carnaubeiras existentes no local já ser viam de marcos temporários na praça recém- demarcada.34 O relatório de um engenheiro mili tar que visitou a vila em 1799 confirma a obe diência dos seus fundadores ao decreto de 1747. Ele observou que ela tinha uma certa distinção e polidez, a par com “uma arquitetura das casas agradável e regular”.35 A fórmula de Aracaty logrou tanto êxito que as autoridades recomendavam-na como modelo para a construção de outras cidades. Por exemplo, quando o Conselho Ultramarino ins truiu o governador Gomes Freire de Andrade a criar oficialmente uma vila na localidade de Rio Grande, no extremo Sul do Brasil, recomendou a utilização do modelo de Aracaty. A carta rece bida pelo governador em 1747 declarava que ...a fim de o dito Ouvidor ordenar melhor as ruas dessa cidade, sua praça, e a Igreja, a Casa da Camara e a Cadeia, estou determinando a instrução inclusa..., que foi remetida ao Ou vidor do Ceará para criar a nova villa na locali dade de Aracaty.36 Como se pode ver, no decurso de 30 anos os portugueses haviam desenvolvido um modelo padronizado para o traçado de novas vilas no interior. Essencialmente um aperfeiçoamento das ordens de 1716 para a criação de Mocha (mais tarde Oeiras), no Piauí, a fórmula de Ara caty revelava claramente um conhecimento das injunções do local, a conveniência de flexibi lidade ao fazer cumprir as exigências de unifor midade e um desejo de padrões sanitários eleva dos. Para a mentalidade portuguesa, uma cidade bem construída com certeza deveria gerar habi tantes satisfeitos. Foi assim que Aracati se tor nou o protótipo para o desenvolvimento urbano 2 4 A p l i c a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e sancionado pela Coroa; os administradores dese josos de implantar ordem nos rincões incuitos que eles governavam iam aderir ao plano por todo o resto do século XVIII. (1) Ernâni Silva Bruno, Nordeste, vol. II: História do Brasil: Geral e Regional (Cultrix Ltda., São Paulo, 1967), p. 83. A bandeira de Domingos Jorge Velho penetrou na região em 1662-1663. Um contingente de baianos alcançou-a por volta de 1674. Ver também a exposição do ca so do Piauí constante em Capítulos de História Colonial: 1500-1800, de Capistrano de Abreu, revisto e anotado por José Honório Rodrigues (5a edição, Sociedade Capistrano de Abreu, Rio de Janeiro, 1969), p. 160. (2) Essa análise das vias fluviais é baseada em Caio Prado Júnior, op. cit., p. 282. (3) Consulta do Conselho Ultramarino sobre a carta do bispo de Pernambuco, datada de 20 de novembro de 1697, tal como citada em Er nesto Ennes, A s Guerras nos Palmares (Com panhia Editora Nacional, São Paulo, 1938), pp. 360-361. (4) Isso é evidente no “Termo de eleição q.e. fizerão os moradores do certão do Piauhi: do lugar para se fazer a Igreja de Nossa Senhora da Victoria”, tal como citado em Ennes, op. cit., p. 364. (5) Carta Régia de 20 de janeiro de 1699, tal como citada em Carlos Eugênio Porto, Roteiro do Piauí (Ministério da Educação e Cultura, Rio de Ja neiro, 1955), p. 66. (6) Carta Régia de 20 de janeiro de 1699 (trechos posteriores), tal como citada em Capistrano de Abreu, Capítulos..., p. 166. (7) Carta Régia de 3 de março de 1701, tal como citada em Porto, op. cit., p. 67. (8) A ação do ouvidor Antônio José da Fonseca Lemos é examinada em Porto , op. cit., pp. 66 et seq. (9) Ibidem. (10) Essa revolta dos índios foi tratada em Boxer, op. cit., p. 236. (11) Essa foi a recomendação do Conselho Ultra marino em 13 de março de 1717 (Lisboa). IHGB-CU, vol. X, Maranhão e Grão-Pará, 1678-1803. (12) Silva Bruno, op. cit., p. 84, observa o rápido crescimento da população nessa área de 1720 a 1724. Paulo T. Barreto, em “O Piauí e sua arquitetura” (RSPHAN na 2, 1938, pp. 187- 223), indica que tanto o povoado de Piracuruca como o de Victoria seriam submetidos à legis lação de 1716. (13) A ênfase na uniformidade é um aspecto característico da nova construção de vilas no Brasil setecentista. (14) A Carta Régia de 1716 está reproduzida na íntegra em Barreto, op. cit. (15) Barreto, op. cit., p. 221. Enquanto a povoação de Mocha foi criada por volta de 1716, a de Piracuruca não foi concretizada senão muitos anos depois, conforme um consenso baseado em Reis Filho, op. cit., Silva Bruno, op. cit., e Aroldo Azevedo, Vilas e Cidades do Brasil Colo nial. Esse fato pode ter sido responsável pela aparente demora na construção de um templo em Piracuruca. (16) “Diário da viagem de regresso para o Reino, de João da Maia da Gama, e de inspecção das barras dos rios de Maranhão e das capitanias do Norte, en 1728”, tal como citado em F. A. Oliveira Martins, Um Herói Esquecido: João da Gama, vol. II (Agência Geral das Colônias, Lisboa, 1944), pp. 22-23. (17) Carta Régia ao Governador José Pereira Caldas, 1761, tal como citada em Barreto, op. cit., pp. 189-190. A planta de Parnaíba intitula-se “Mapa exacto da villa de S. João da Parnaíba”, 1798. Ela faz parte da mapoteca do Arquivo Histó rico Ultramarino, em Lisboa. Todos os mapas do AHU referentes ao Brasil foram catalogados e numerados por Alberto Iria em “Inventário Geral da Cartografia Brasileira Existente no Arquivo Histórico Ultramarino (Elementos para a Publicação da Brasila Monumenta Car- tographica)”, IV Colóquio Internacional de Estudos Ljtso-Brasileiros, reeditado em Studia n“ 17, abril de 1966. Esse mapa tem o número de referên cia AHU-Iria n“ 68. (18) Ver explanação em Porto, op. cit., pp. 68-73. (19) Caio Prado Júnior, op. cit., p. 183. (20) Doisestudos históricos dos primórdios de For taleza podem ser encontrados em: Raimundo Girão, Pequena História do Ceará (Editora Insti tuto do Ceará, Fortaleza, 2a edição, 1962), pp. 138-149; e Tristão de Alencar Araripe, História 2 5 A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e da Província do Ceará: Desd‘ os Tempos Primitivos até ISSO, voi. I (Editora Instituto do Ceara, Fortaleza, 2* edição anotada, 1958), pp. 150- 153. (21) Ibidem, p. 152. (22) Mapa da “Villa Nova da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunpsão da Capitania do Ciara Grande, que S. Mag.de que Deos guarde foy cervido mandar criar”, aproximadamente 1730, AHU-Iria, n» 69. (23) Carta do Capitão-Mor Manuel Francês ao Rei, de 6 de julho de 1730. Essa carta está inclusa numa coleção de cartas relativas a Fortaleza; recebeu o número 15 no catálogo de Anêmona Xavier de Basto Ferrer, intitulado Segunda Relação de Documentos Existentes no Arquivo Histó rico Ultramarino, Respeitantes a Fortaleças, Igre/as e Outros Monumentos Antigos, Civis, Religiosos e Militares, Construídos pelos Portugueses no Brasil (Lisboa, 1960). Daqui por diante, essa fonte será citada como Basto Ferrer. (24) Ver “Carta de D. João em resposta a outra do Governador do Maranhão-Pará em que este lembrava a conveniência de se colonizarem certos pontos extremos da Amazônia com ca sais Açonanos”, de 18 de março de 1750. h Cortesão, op cit., pp. 475-476. (25) Caio Prado Júnior, op. cit., p. 283. (26) Ver a ordem real de 20 de outubro de 1736 na R1C, vol. IX (1895), p. 356. (27) Ibidem, p. 357. (28) Ibidem, p. 358. (29) Emáni Silva Bruno, Nordeste, voL D, op. cit., p. 60. (30) Raimundo Girão, op. cit., pp. 121-122. (31) Carta de 1739 na R1C, vol. IX (1895), p. 360. (32) A exposição que se segue é baseada na Carta Régia recebida por José de Faria, ouvidor-geral, datada de 17 de julho de 1747, ANRJ, Códice 952, vol. 34, fls. 19-20. (33) A. J. R. Russell-Wood, op. cit. (34) Isso é constatado no “Auto da Criação da villa de Aracaty”, de 10 de fevereiro de 1748, RIC, vol IX (1895), pp. 395-397. (35) Carta do Chefe de Esquadra Bernardo Manuel de Vasconcelos, tal como citada em Raimundo Girão, op. cit., p. 152. (36) Carta Régia a Gomes Freire de Andrade de 17 de julho de 1747. ANRJ, Códice, vol. 34, fl. 17. 2 6 \ Capítulo IV A expansão da autoridade: novas vilas no Centro e no Oeste Sem dúvida, o maior desafio enfrentado pelos portugueses foi implantar os novos pa drões urbanos nas regiões de mineração do Cen tro e na fronteira do extremo Oeste do País. Ali, os bandeirantes e outros mineradores tinham to mado a iniciativa na formação de comunidades, juncando os distritos de mineração de acampa mentos construídos atabalhoadamente. O histo riador da arquitetura Sylvio de Vasconcellos, que estudou a fundo as origens dos centros urbanos de Minas Gerais, descreve esses primeiros aglo merados de barracos como “de configuração li near, com elementos dispersos, sem nenhum centro de polarização definido”.1 Em geral as ruas desses vilarejos eram simplesmente as estra das que passavam pela região, e não pistas espe cialmente construídas. As suas casas normal mente eram do tipo improvisado, muitas vezes não passando de barracos levantados para ocu pação provisória. Tais “casas”, como Cassiano Ricardo observou com humor, “estavam com prometidas com o movimento”; a única coisa que as cabanas não faziam era caminharem junto com seus moradores.2 O arraial de Sumidouro, fundado pelo che fe de bandeira Fernão Dias Pais Leme, é um'oti- mo exemplo dos acampamentos de minejradores dispersos em Minas Gerais. Ocupado originaria- mente em 1675, Sumidouro futuramente desem penharia o papel de ponto de arrancada para a exploração ulterior dos planaltos colinosos aurí- feros. Todavia, um mapa do arraial de 17323 mos tra claramente que Pais Leme não construiu o seu campo com vistas a permanecer (Figura 3). Conquanto esse mapa represente visivelmente um estágio mais avançado do desenvolvimento da povoação, ele realmente demonstra que as Unhas gerais do crescimento de Sumidouro re sultaram da sua fundação fortuita. Por exem plo, o terreno em que o acampamento se situava é mostrado no mapa como ondulado e cheio de arbustos, e, conseqüentemente, as edificações parecem dispostas em níveis diferentes; obser vam-se vários lotes cultivados locahzados em áreas mais elevadas que o resto da comunidade. A povoação compõe-se de umas poucas edifica ções de dimensões variadas enfileiradas ao longo da única “rua” do arraial, sem nenhuma preocu pação perceptível de alinhamento ou disposição sistemática. Apenas a praça da igreja mostra alguma unidade arquitetural, e assim mesmo porque esse prédio importante é o único a ocu par um espaço amplo e não definido por alguma outra circunstância. Contudo, seria errôneo concluir, como ge ralmente se crê, que se permitiu que todas as povoações interioranas dessa região se desen volvessem desordenadamente como Sumidouro. Quando a descoberta de ouro no interior abriu os olhos dos portugueses para a riqueza poten cial do sertão, houve uma tentativa quase ime diata de controlar o crescimento urbano. Pode rosos chefes de bandeiras eram persuadidos a servir de exemplo para seus homens mediante a promessa de nomeação para o posto de alcaide- mor (prefeito) da comunidade onde eles resol vessem estabelecer-se. Além desse apelo à vai dade, a Coroa também esperava fixar os antigos desbravadores erradios pela garantia de que os bandeirantes que estabelecessem residência nas 2 7 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS N O C E N TR O E NO O e STE povoações seriam dispensados de pagar foros (impostos)4 Essa mesma legislação que oferecia vanta gens inéditas aos bandeirantes também continha algumas diretrizes para a criação de futuras al deias na região. Os fundadores dessas comunida des deveríam procurar “sítios saudáveis, próxi mos de rios e de fontes de água boa, com terre no propício e a pouca distância das minas de ouro.5 A localização das futuras povoações já não podia ser deixada à discrição dos colonos; a Coroa era favorável à escolha judiciosa de luga res que apresentassem claras potencialidades de evoluírem para comunidades permanentes. Ade mais, Lisboa estipulava que esses novos centros deveríam localizar-se perto de achados de ouro recentes, porque a proximidade das escavações significava que se podería exercer uma fiscaliza ção rigorosa sobre o ouro extraído. Estranhamente, nessa ordem inicia! não se fez nenhuma referência a um traçado urbano, o que dá a entender que a preocupação primordial nessa região era literalmente fixar os errantes, e não criar comunidades ordenadas. Poucos mine- radores se davam ao trabalho de pedir permissão oficial para fundar novos arraiais. Em todo caso, seguir os trâmites burocráticos muitas vezes re- velava-se um procedimento demorado e compli cado. Um caso que ilustra bem isso foi o requeri mento de Garcia Ruiz Paes para fundar uma po- voação à margem do rio Paraíba do Sul, em retri buição aos seus serviços por ter aberto a estrada entre o Rio de Janeiro e os Campos Gerais. A per missão foi concedida a título precário em 17116, porém quatro anos depois o Conselho Ultrama rino ainda não se havia decidido a permitir , a Paes dar início às obras.7 Indiscutivelmente, es sas delongas administrativas tinham um efeito Fig. 3 - Planta básica de Sumidouro, em Minas Gerais, 1732 28 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS N O C E N T R O E NO OESTE \ s & cv t- f t \ 3 negativo, desencorajando outros a buscarem o a- val da Coroa para iniciarem novas comunidades. Em face disso, compreende-se facilmente por que, apesar das intenções em contrário da Coroa, a maioria das comunidades que foram oficialmente reconhecidas e tituladas como vilas na segunda década do século XVIII deveram a sua origem, não ao patrocínio oficial de arraiais, massim ao crescimento natural de acampamen tos de mineração não planificados que já haviam proliferado na região. Conquanto oito dos pri mitivos acampamentos de bandeirantes fossem promovidos à categoria de vila entre os anos de 1711 e 1718, nenhum deles teve o privilégio de ser fundado por iniciativa do governo.8 Todas^ essas novas vilãs, sém" exceção,“óbedeciam lisJ características gerais dos arraiais de Minas Ge rais supradescritos: agrupamentos lineares de casas dispersas. Mesmo assiríT, ãVHãçãcrde oito novas vilas era parte integrante do programa do i o d e levar administradores oficiais às áreas de mineração. Exigia-se que cada nova 1 vilã silijvênciona s s í , por intermédio da tesoura ria da câmara municipal, a construção de uma cadeia segura e do prédio da intendência munici pal.’ Posteriormente, as vilas assim constituídas sediariam casas de fundição, escritórios de conta bilidade e residências aificiais-.de coletores de impostos^do-atoverao/ Desse modo, as noVas atilas funcionavam como pontos de irradiação) dos serviços de supervisão governamentais. J . _ Apesar do surgimento da planificaçâo esta- ! tal no Nordeste, o crescimento dessas comunida- : des foi deixado seíncontro le nessa fase. A res ponsabilidade pelosmêlhoramentosurbanos em Minas Gerais era exclusivamente da alçada dos governos locais, e alguns deles conheciam perfei- j tamente as novas normas urbanas. Assim foi que, nem 1714, aproveitando a oportunidade da des truição de Ouro Rjwes-gor um incêndio, a câma ra local determinou que, ho futuro, as casas das ruas que dessem na praça principal seriam medi das e alinhadas, ifim de criar.üma vista de conjun to mais regular ha .partô-éentral da vila.10 Dois anos antes, a câmara tinha decretado que todos os que quisessem construir dentro do perímetro da vila tinham de obter uma permissão prévia do governo municipal, de modo que as novas cruas pudessem serjconstruídas em alinhamento reto.11 Entretanto, como obsetvõuA historiador mineiro Svlvio de Vasconcellos, a câmara estava travando uma batalha árdua, pois a topografia acidentada e cheia de morros de Ouro Preto impossibilitava o traçado de ruas retas, tornando assim o planejamento global extremamente difícil.12 Enquanto a região sul-central de Minas Ge rais começou assim a assumir um caráter quase urbano, a geração seguinte de exploradores ban deirantes penetrou para o oeste, em direção a Goiás e Mato Grosso, na busca contínua de ri quezas minerais. Embora em 168215 já houvesse indícios de ricos filões de minerais na zona do rio Vermelho, o verdadeiro estímulo para o po voamento dessa vasta região só veio na segunda década do século XVIII, quando finalmente a expedição de Pascoal Moreira Cabral descobriu ouro na proximidade do ribeirão do Coxipo. Entre 1716 e 1719, os descobridores dessa nova zona aurífera erigiram uma capela e iniciaram uma modesta povoação que constituiu o núcleo do que uma década depois viria a ser a vila de Cuiabá.14 A maioria das trilhas que serpeavam pela aldeia seguiam em direção ao rio Cuiabá, junto ao qual a povoação cresceu; a configuração da comunidade apenas acompanhava as irregu laridades da topografia. As casas espalhavam- se a touxe-mouxe, e mesmo a igreja paroquial não passava de uma simples cabana com um teto de palha precário.15 Apesar de tudo isso, em 1727 essa aglome ração miserável de simples casas foi agraciada, na devida forma, com o título de vila portugue sa, sob a auspiciosa denominação de Bom Jesus de Cuiabá (Figura 4).16 O princípio que norteou aquilo que à primeira visttTpareck uma medida prematura e incorreta baseava-se numa circuns tância decisiva: Cuiabá efa a única/aglomeração urbana de toda a região QçsmyNessas condi ções, os portugueses enfrentavam um dilema complicado: ou a diminuta agjomeração de Cuia bá deveria ser reconhecida como centro admims- " J r . / A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO CEN TR O E NO O E S T E ... " 1 Fig. 4 - Planta básica de Cuiabá, Mato Grosso, 1777 tivo, ou então seria preciso construir uma nova vila. Como a Coroa estava desejosa de controlar o fluxo de ouro dessa zona recém-aberta, e como o custo da constituição e aparelhamento de uma equipe para construir uma nova comunidade nessa região remota teria sido exorbitante, os portugueses viram-se obrigados a aceitar a urbanização nas condições dos bandeirantes, finalmente elevando devidamente o povoado à condição de vila. Porém havia sido atingido um ponto críti- co, porquanto a criação da vila de Cuiabá de monstrava o compromisso sério da Coroa com o desenvolvimento planejado do Oeste. A partir de 1727, exigiu-se que os administradores to massem todas aspfOVÍdêflcias posüíveis para reter a escassa população", mesmo èm zonas não produtoras de ouro, ao passo que Lisboa, além disso, ordenou que se estabelecessem re gistros de censos, a fim de obter dados sobre as zonas em que existissem vazios demográ ficos.18 As futuras povoações teriam de se sub meter às exigências dé planejamento, agora acei tas naturalmente no Nordeste. Em nenhum 3 0 . . - i o , f . V A e x p a n s Ao d a a u t o r i d a d e : n o v a s v il a s n o C e n t r o e n o O e s t e outro caso essa m ud íH ^ de atitude foi mais evidente do que no processo de criação da loca lidade real destinada a ser a capitai da capitania de Goiás. Até os anos 1730, Goiás ainda não havia sitjo explorado sistematicamente. O interesse pela região só foi despertado quando o bandei rante Bartolomeu Bueno da Silva, o “Anhan- güera” (diabo velho, em tupi) regressou a São Paulo em 1725, espalhando histórias de achados fabulosos de ouro na região situada entre Minas Gerais e Mato Grosso.19 Pelo ano de 1736 havia sido aberta uma trilha por terra entre Cuiabá e Goiás, a qual finalmente se ligava ao Rio de Ja neiro, e os portugueses receavam que ela se transformasse numa importante estrada do con trabando.20 Diante de mais uma situação poten cialmente incontrolável, as autoridades, incon- tinenti, ordenaram o governador de São Paulo, o Conde de Sarzedas (sob cuja jurisdição estava o território recém-aberto), a seguir imediatamen te para o interior de Goiás.21 O superintendente da região resumiu o ponto de vista oficial ao proclamar que unicamente por meio da fundação de vilas e do estabelecimento nelas da administração governamental, esses homens que perambulam sem destino através desses campos auriferos podem ser controlados, sendo inconveniente deixá-los vaguearem sem vigilância, por causa das desordens que podem cometer.22 Movido por essas convicções, em 1736 Sar zedas partiu para as minas do rio Vermelho (afluente do Araguaia), munido de cópias da le- legislação de planejamento urbano que o orien tariam na criação eficiente de uma nova vila. Cópias das ordens para a formação da vila de Goiás haviam sido enviadas antecipadamente tanto a Sarzedas como ao superintendente.23 Provavelmente o governador teria agido com toda presteza, se a sua viagem não tivesse sido interrompida pela sua morte inopinada em Meia Ponte, em fevereiro de 1737.24 A administração interina que se seguiu ao falecimento de Sarzedas fez poucos progressos no sentido de criar a vila de Goiás. Só quando Dom Luís de Mascarenhas assumiu o governo é que as ordens foram finaimente cumpridas. Che gando ao território problemático em julho de 173925, Mascarenhas decidiu estabelecer a nova capital no arraial de Santa Ana, embora o de Meia Ponte, próximo, tivesse pleiteado a sede da vila26, e em dezembro de 1739 a recém-organizada Câmara de Vila Boa de Goiás pôde declarar ofi cialmente que a vila havia sido inaugurada.27 Como o seu antecessor falecido, Mascare nhas sem dúvida levou consigo uma cópia da legislação de planejamento urbano. As ordens de 1736 requeriam a criação de uma comunidade segundo o modelo retilíneo prescrito. Elas diferiam das ordens para a fundação de Icó, do mesmo ano, apenas no destaqueà uniformidade das fachadas das edificações e na prescrição de que, nüm raio de seis léguas da vila, os habitantes só podiam receber meia légua quadrada de ter ra.28 Essas duas diferenças são compreensíveis em face da função específica de cada uma das duas comunidades. Vila Bela destinava-se a ser uma capital regional e, por isso, devia ter uma aparência consentânea com o seu papel. Icó, por sua vez, era apenas uma estação de parada na estrada comercial cearense. Assim sendo, por um lado, não era imperativo que essa vila se su jeitasse estritamente ao ideal de simetria pre dominante; por outro lado, certamente era possí vel atribuir mais terra aos colonos icoenses, me nos numerosos, que aos da nova vila goiana, considerando-se ainda que a região de Goiás era particularmente mais lucrativa. Pela documentação existente, percebe-se que Mascarenhas seguiu as ordens referentes à construção dos prédios públicos necessários, mas foi negligente em exigir o cumprimento do padrão reticular no traçado das ruas.29 Dessa forma, compreende-se por que muito depois, na década de 1770, foram expedidas ordens recomendando que fosse estabelecido um plano diretor para Vila Boa a fim de futuramente evitar “a mesma irregularidade... com que os fundado res da Capital haviam construído os prédios, es tragados pela falta de alinhamento”.30 Uma plan ta da cidade em 1783 indica que, enquanto o 3 1 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N TR O E NO O E S T E Fig. 5 A - Planta básica de Vila Boa, Goiás, 17S2 núcleo central apresentava uma falta de ordem, os lotes de edificações recém-delineados se guiam estritamente um padrão de malha ortogo- nal (Figuras 5A e 5B).31 As leis de planificação urbana foram postas em prájica com maior fidelidade na construção l Bela da Santíssima Trindade, na capitania 'de MátO-Grosso. A história dessa região está inti mamente ligada à luta de Portugal pata prote^ ger a fronteira despovoadp-contra as intrusõesxs- paflhotas. Acresce quer qiAiulo se comprovou Êjúê a área a oeste e ao nlprte le Cuiabá encerrava preciosas jazidas de ouroArCoroa decidiu defen der os seus interesses, ordenando nos anos 1740 a construção de uma vila nas suas imediações pa ra cumprir duas funções: desencorajar os espa nhóis e evitar as atividades ilícitas de bandeiran tes mineradores. Essa nova vila seria a sede lógi ca da capital da nova capitania de Mato Grosso, cuja criação foi recomendada pelo Conselho Ultra marino em 1748. Depois de construída, a nova vila podería imediatamente acomodar o quadro habitual de funcionários e militares da Coroa: O capitão-geral residiría a maior parte do ano na nova vila a ser construída em Mato Grosso para “tornar a colônia de Mato Grosso tão po- 3 2 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N TR O E NO Ü E STE derosa que seja respeitada pelos seus vizinhos [os espanhóis] e que sirva de baluarte de todo o interior do Brasil”. Não só a presença de um oficial de alta patente e de tropas reais contri buiría para a defesa como a nova capitania- geral simbolizaria a ocupação permanente pela Coroa do extremo Oeste, proporcionando uma base firme para a aplicação do uti possidetis.32 A criação de uma vila em Mato Grosso foi proposta no começo dos anos 1740, pouco de pois da fundação de Vila Boa em Goiás. Em mar ço de 1741,0 Conselho Ultramarino respondeu à informação prestada pelo ouvidor da Comarca de Cuiabá autorizando a criação de uma comuni dade para ocupar a terra compreendida entre o Lerritório dominado pelos espanhóis e os limites exteriores da vila de Cuíàbá. Tal vila, consoante esse documento, podia ser construída “emitin- do-se uma ordem semelhante à de Vila Boa de Goiás” (sic).33 Cinco anos depois, em 1746, uma versão quase idêntica do código de planejamento áe Vila Boa foi enviada ao governador de São Paulo (sob cuja jurisdição o território de M ato Grosso estava), instruindo-o sobre os procedi mentos para projetar uma nova vila. A qu m m - bém a ênfase recaía na ordem e na simetria: as ruas deveríam ser desenhadas com uma largura umfõnríe e em Unhas retas; as cãsãs tmhâfti de ser construídas coriTuma fachada únífôrme. e todos os esforços dêvênâm ser envidados pqpi ‘‘p iescxvity tíe r tím ^ ^ iI i tcT ri^sic). Em vir tude, antesdFtudõTdãToMhzãçao remota dessa futura capital administrativa, as ordens prescre viam ainda que os fundadores exigissem que to dos os funcionários da comunidade fossem casa- Aos e residisae^d^nTO deTahiG Thfuito era criar uma população permanente; como um incentivo a mais ao povoamento, os novos habitantes fica vam isentos de todos os impostos por 12 anos a Fig. 5 B - Planta de Vila Boa mostrando o realinhamento, aproximadamente 1782 — 3 3 — A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO CEN TR O E N O O E S T E Fig. 6 A - Detalhe de Vila Bela, 177i contar da fundação da vila. Além disso, exigia- se dos mineradores o pagamento de apenas um <3eHmcTdo ouro que extraíssem, em vez do quin- tcr habitualmente reservado à Coroa.34 Em 1750 as engrenagens tinham sido pos tas em movimento, e o capitão-geral da capitania recém-criada, Antônio Rohm de Moura, foi des pachado para executar as ordens reais. As co municações ulteriores entre Lisboa e Rohm re forçaram as instruções da ordem de 1746: o go vernador deveria escolher um sítio saudável, providenciando que as ruas da nova vila fossem largas e retas, e tomar quaisquer outras provi dências que julgasse necessárias para que “a dita vila fosse construída desde o início com boa orientação”.35 A localização da nova vila seria próxima do rio Guaporé e de preferência perto do povoado de Santana ou do de São Francisco Xavier, os quais já contavam um pequeno nú mero de habitantes. Sobre esta última comuni dade, Rohm observaria que ela tinha sido construída “sem nenhuma ordem nem forma ção de ruas”36, um comentário que logo o iden tifica como propugnador da ordem e organiza ção que constituíam á essência do novo urba nismo. A opção por um local próximo do rio Guaporé foi ditada por razões geopolíticas. Não só esse sítio era uma atalaia para vigiar as atividades das missões espanholas como, o que talvez fossemais importante, o rio Guaporé era a conexão imprescindível no quadro de um sistema integrado de comunicações projetado quefinalmente estabelecería uma hgação entre A EXPANSÃO D.A AU TORIDADE: NOVAS VILAS N O C E N T R O E N O O E S T E Fig. 6 B - Planta básica de Vila Bela, 1780 Belém do Pará e o extremo Oeste. Em 1750 a importância dessa rota havia sido reconhecida: O alto custo do transporte nas estradas do Sul elevou os preços acima das possibilidades dos colonos, impediu um fluxo constante de importações abundantes e baratas, reduziu a compra de escravos e a acumulação de capital e, em consequência disso, contribuiu para o declínio da produção de ouro. Porém se o Pará abastecesse Mato Grosso,... o Oeste recebería um número maior de escravos mais baratos, maiores quantidades de bens manufaturados e gêneros alimentícios, a produção de ouro rece bería um novo alento, Belém regurgitaria de ouro do Oeste, o tesouro real do Pará final mente sanaria o seu déficit crônico, e o Amazo nas podería sair da sua pobreza secular.37 A criação de uma nova comunidade que pudesse servir de ponto de observação governamental dessa rota era claramente impositiva. Mas,_ apesar de Ju do, o p y y tg jjo na nova vüa e r^ ^ u i^ lBtri^, mesmo com todas as vanta g e s comerciais émTjõgo.” TTTòcaTfihalmênte escõlEidõ pêlo capitão-geral oferecia o atrativo da proximidade do rio, mas com frequência era assolado por doenças, afugentando possíveis colonos. Nem a insistência de Rohm de Moura em que as casas fossem construídas com preste za, nem as vantagens do programa de isenção de impostos conseguiram atrair um grande nú mero de voluntários para essa fortaleza do inte rior. Três anos depois da sua fundação oficial em 1752, Vüa Bela tinha apenascerca de 500 habitantes.38 Sem se intimidar com esses reveses, Rohm de Moura persistiu na sua obra, criando uma cidade tão fiel quanto possível ao modelo recomendado no código de 1746. As provas documentais relativas à constru ção dessa vila são tão ricas que o andamento 3 5 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N T R O E NO O E S T E das obras pode ser acompanhado praticamente dia a dia. Grande parte desse material está con tido nos Anais de Vila Bela3’, mas a correspon dência de Rolim de Moura, bem como um mate rial cartográfico de excelente qualidade, está igualmente disponível. Consoante os Anais, a edificação da cidade começou pouco depois da sua criação oficial em 1752. Primeiramente a praça principal foi demarcada em terreno eleva do, premunindo-se as inundações pelas cheias do rio. Esse largo central era um quadrado com 408 palmos de lado, contorneado por ruas de 60 palmos de largura (1 palmo = 22cm). O lado sul era ocupado pelo quartel de uma companhia de dragões; a fachada oeste, pela casa da câmara; a parte leste, pela igreja paroquial; e todo o lado flexo do gosto pessoal de Moura. Conforme um documento cartográfico posterior (Figura 6A)44, ela ocupava pelo menos dois quarteirões inteiros do traçado de Vila Bela. Os aposentos davam para a praça central; atrás da residência foi deixa do uma área para um pomar racionalmente plan tado, que possivelmente foi o primeiro do seu gênero no Brasil, pois os primeiros pomares pro priamente ditos das cidades costérias tradicionais só surgiram no finai do século.45 Os visitantes a Vila Bela devem ter se sen tido surpresos com o porte do empreendimento naquele rincão remoto da colônia. Vila Bela foi um exemplo notável de como a política urbana portuguesa podia transformar o interior: certa mente “a planta básica de Vila Bela traduziu o norte foi reservado para a residência do gover- 4^desejo dá metrópole de implantarõrdem e auto- 1 40 IT________________' j :__ J- 4-1 At ~ ________r ________________ 1________ 40 ' r i : ; _nador.40 Uma vez que o código de 1746 não espe cificava as medidas para a cidade do rio Guapo- ré, é provável que as dimensões utilizadas te nham sido estabelecidas pelo próprio capitão- geral. O que lhe interessava era que a nova vila oferecesse uma representação gráfica e visual de ordem e tivesse uma escala suficientemente grande para merecer atenção. Entretanto, o bom senso induziu o capitão- I geral Moura a desobedecer à ordem de 1746 com J ‘ difi- 2.referência à uniformidade das fachadas das edifi- Jidade na selva remota”.45 A sua criação foi o produto da evolução de um código de planeja mento urbano cada vez mais complexo, e repre sentou a perseverança de um administrador competente com visão suficiente para ver o seu intento concretizado. A nova vila mato-gros sense constituiu um triunfo para os portugueses, que se propunham a instaurar a ordem e o pro gresso, especialmente em relação a Cuiabá, mais antiga e não planificada. A última das comunidades do Centro e do cações. Como o capitão-geral explicou, era im-, Çj Oeste patrocinadas oficialmente nas décadas de portante que nenhum prédio ultrapassasse o ali- <$. 1730 e 1740 foi Mariana, ou Ribeirão do Carmo, nhamento da rua. Porém, quanto à simetria dasA^ Mariana foi um dos primeiros arraiais surgidos fachadas, Moura achou que isso constituiría um gravame a mais para os pobres, que, assim, se riam obrigados a construir frontispícios tão sun tuosos quanto os das casas dos ricos; ora, isso ini biría a migração voluntária de muitos colonos para a nova comunidade.41 Porém, para ele pró prio, uma moradia luxuosa era imprescindível, e tanto a residência do governador como os alo jamentos dos soldados foram construídos con forme os desenhos trazidos do Rio de Janeiro. A residência foi custeada pelo próprio Moura42, pois os fundos reais, no dizer do historiador mato- grosense Virgílio Correa Filho, estavam sofrendo de “anemia incurável”43; portanto, o estilo monu mental da residência provavelmente foi um re na zona aurífera de Minas Gerais. Situava-se cerca de 12 milhas (19,312km) a nordeste de Vila Rica e seguiu o mesmo tipo de desenvolvi mento aleatório desta. A comunidade era sulca da de trilhas, e as casas, na sua maior parte, eram construídas sem nenhuma noção corrente de ordem. O próprio local escolhido para o primi tivo acampamento de mineração foi infeliz: em 1742 o rio ao longo do qual Carmo havia sido construída transbordou, inundando e arruinan do a maior parte das edificações da então vila. Contudo, a destruição da povoação redun dou em proveito da Coroa, e os administradores prontamente aproveitaram a catástrofe para re querer a reconstrução da comunidade num terre- 36 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS N O CE N TR O t NO OESTE no próximo, mas mais elevado. As autoridades da Câmara de Mariana argumentaram que se de veria dar prioridade à reconstrução das casas destruídas na enchente47, porém Lisboa pres sionou no sentido da criação de uma vila inteira mente nova. Surgia a oportunidade não só para corrigir os equívocos urbanísticos das vilas mineiras como para - e isto era o mais importan te - construir uma bela sede para a recém-criada diocese de Minas Gerais. Mariana seria elevada à categoria de cidade (para grande consternação da sua rival vizinha, Vila Rica) e recebería uma aparência condizente com a sua nova função. Ordenou-se proceder à construção da nova cidade “com toda a brevidade”, enquanto os fundadores da cidade foram exortados a apoiar uma planta básica previamente traçada, que pre via o crescimento futuro da cidade45. Por sorte dos marianenses, José Fernandes Pinto Aipoim (1695-1765), coordenador da Aula de Fortifica ção e Artilharia no Rio (uma espécie de esco la de engenharia informal; ver o Capítulo V), Fig. 7 - Planta de Mariana, em Minas Gerais, depois da reconstrução de 1746-1747, sem data 3 7 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N TR O E NO O E ST E estava trabalhando num projeto em Vila Pdca49 e póde ser despachado para Mariana a fim de supervisionar a construção da cidade. O local escolhido para a nova urbe situava-se do outro lado do rio, em oposição direta ao núcleo origi nal. Nessa área seria construída a cadeia, a casa da câmara, novas habitações e, alfim, o palácio diocesano. As autoridades de Mariana receberam instruções sobre o modelo da nova cidade em 1746. Seguindo a mesma política urbana adotada em outras localidades do interior, os administra dores portugueses ordenaram a construção de uma aglomeração urbana retilínea, não impor tando os prejuízos que pudessem resultar para as edificações mais antigas da área. Dever-se-ia envidar todos os esforços para manter as ruas lar gas e ladeadas por casas de desenho semelhante. Os pomares foram relegados para os fundos das casas, fazendo-se com que o lado da rua for masse uma fachada contínua sólida e uniforme.5® Hoje em dia, todos os que visitam a cidade po dem observar que seus fundadores cumpriram essas ordens: com apenas leves diferenças, as casas coloniais de dois pavimentos (sobrados) contíguas mais parecem um único prédio enor me que casas distintas. Houve alguns somenos embaraços ao programa de construção: em 1748 um mineiro reivindicou direitos sobre o novo local escolhido para a cidade51, inutilmente; e muitos anos depois da urbanização, em 1795, os edis da Câmara local ordenaram a demolição de uma casa que impedia “a regularidade e o embelezamento da praça” .52 Não obstante, a imagem geral dessa cidade setecentista (Figura 7)53 evidencia uniformidade e a obediência ao princípio de ordem e regularidade. Como ficou demonstrado acima, em mea dos do século XVIII os portugueses haviam criado, com êxito, várias novas comunidades no Centro-Oeste em conformidade com os ideais de ordem estabelecidos. J2£t5a ajuda de enge nheiros militares, que cdmpartüfetvam do entu siasmo do governo pelá re^Uátldaae'ç;preeisão,os portugueses conseguiram projetar uma ima gem de solidez e autoridade-em regiões que até então permaneceram fora da supervisão real. As novas vilas não tinham apenas um significado simbólico: em conjunto, elas deveríam ser enca radas como prova tangível do controle crescente da Coroa sobre a hinterlândia. Nenhuma dessas comunidades era singular; cada uma delas era uma parte de uma sucessão lógica no desenvol vimento progressivo de um código de constru ção de vilas padronizado. Nos 30 anos que se seguiríam, esse código seria racionalizado, aper feiçoado e finalmente apregoado como o meca nismo correto para “civilizar” o Brasil, demons trando irrefragavelmente a impaciência da Coroa com o desenvolvimento aleatório. (1) Sylvio de Vasconcellos, Arquitetura no Brasil, Pintura Mineira e Outros Temas (Edições Escola de Arquitetura da Universidade de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1959), p. 4. (2) Cassiano Ricardo, Marcbapara o Oeste: A Influên- eia da Bandeira na Fomafão Social e Política do Brasil (José Olympio, Rio de janeiro, 4* edição, 1970), vol II, p 505. (3) “Planta da Aldeia de Sumidouro”, 1732. AHU- Iria, na 277. (4) “Parecer do Conselho Ultramarino sobre... as minas...”, Lisboa, 17 de julho de 1709. AHU, Códice 232, fl. 259. (5) Ibidem. Charles Boxer, op. cit., p. 147, declara que já em 1693 a Coroa tentou transferir a res ponsabilidade da construção de vilas para as autoridades do governo brasileiro (ver o capí tulo final, mais adiante). Estas, principalmen- te os governadores-gerais, foram instruídas a incentivar “a criação de novas comunidades no interior, contanto que os habitantes locais arcassem com as despesas de construção da câmara, da cadeia e dos prédios municipais”. Embora eu não tenha conseguido encontrar essa legislação, penso que ela quadra muito exatamente aos objetivos do governo nos anosl690. Não obstante, é significativo que mais tarde, no século XVIII, o governo real assumiu os ônus da criação de novas comu nidades, com todos os prédios públicos, a fim de assegurar a ocupação definitiva em regiões remotas. 3 8 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N T R O E N O O E S T E (6) Correspondência do Rei ao Governador da Capitania do Rio de janeiro, de Lisboa, 14 de agosto de 1711. AHÜ, Códice 235. (7) Carta ao Governador do Rio de Janeiro, de Lisboa, 16 de agosto de 1715. AHU, Códice 235. (8) A lista a seguir é baseada num. cotejo de relações de vilas estabelecidas por Reis Filho, op. cit., Mário Leite, op. cit., e Aroldo Azevedo, Vilas e Cidades. 1711, Sabará; 1711, Nossa Se nhora do Carmo, também chamada Ribeirão do Carmo, mais tarde Cidade de Mariana; 1711, Vila Rica, mais tarde Ouro Preto; 1712, São João dei Rei; 1714, Vila do Príncipe, Serra do Frio; 1714, Vila Nova da Rainha do Caeté; 1715, Vila Nova do Infante, Pitangui; e 1718, São José dei Rei, depois Tiradentes. (9) Correspondência do Rei ao Governador dè Minas Gerais, Lisboa, 3 de janeiro de 1721. AHU, Códice 226, fls. 68-69. Essa deter minação reedita a legislação de 1693, citada em Charles Boxer op cit., p. 147. (10) “Atas da Câmara de Vila Ricn”,ABN RJ (1927), p. 319. Essa ordem é citada também em Sylvio de Vasconcellos, Vila Rica: Formação e Desenvo lvimento - Residências (Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1956), pp. 103-105. (11) “Para que desta forma se vao endireitando as ruas.. tal como citado em Sylvio de Vascon cellos, op. cit., p. 133. (12) Sylvio de Vasconcellos, op. cit., p. 137. (13) A expedição de Bartolomeu Bueno da Silva chegou à zona do rio Vermelho por volta de 1682 e fez uma descoberta preliminar de ouro. Cf. a análise em Ernâni Silva Bruno, Grande Oeste, vol. VI, op. cit., p. 22. (14) Ibidem, pp. 28-29. (15) Virgílio Correa Filho, História de Mato Grosso (Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro, 1969) , p. 207. (16) Essa planta de Cuiabá encontra-se numa cole ção de reproduções fotográficas de mapas da Casa da Insua conservada no Agrupamento de Cartografia Antiga do Ministério de Ultramar, MU-CI, n“ 27,1777. Como prova de que essa região não fora mapeada, David M. Davidson, Rivers and Empire: The Madeira Route and the Incorporation of the Brazilian Far West, 1737-1808 (University Microfilms, Ann Arbor, Michigan, 1970) , p. 30, relata que em 1737 os espanhóis ainda estavam em grande dificuldade até mesmo para localizar Cuiabá num mapa. (17) Ver a resposta da Câmara de Cuiabá à Coroa, datada de 4 de setembro de 1738, explicando as dificuldades de reter a população onde não existia ouro. AHU, Mato Grosso, Caixa 2. (18) AHU, Códice 241, fl. 101. (19) Para obter informações sobre Bartolomeu Bueno da Silva, ver Charles Boxer, op. cit., pp. 267-268, e Caio Prado Júnior, op. cit., p. 289. O presente texto não tem relação direta com as lutas entre os paulistas e os emboabas (portu gueses e brasileiros procedentes de outras re giões que também estavam à cata de ouro e pedras preciosas); todavia, a desordem resultan te das constantes contendas em São Paulo de fato apressou os programas do governo para o interior. Ver David M. Davidson, “How the Brazilian West Was Won: Freelance and State on the Mato Grosso Frontier, 1737-1752”, in Dauril Alden (editor), Colonial Roots of Modem Brazil (University of California Press, Berkeley, 1973), pp. 61-106. (20) Ernâni Silva Bruno, op. cit., p. 40. (21) Carta Régia ao Conde de Sarzedas, de 11 de fevereiro de 1736. AHU, Códice 236, fls. 163, 163v e 164. Uma cópia dessa ordem encontra- se no AHU, Goiás, Caixa 2. (22) Esse excerto é citado no Parecer do Conselho Ultramarino de 25 de janeiro de 1736. AHU, Códice 239, fl. 66. (23) As ordens recebidas pelo superintendente da Sylva são idênticas às da Carta Régia enviada ao Conde de Sarzedas. (24) Sarzedas morreu ali, segundo a narrativa de José de Barbosa e Sá, “Memória sobre o descobrimento, governo e população e cousas mais notáveis da Capitania de Goyas”. BNRJ, n2 12-2-13. Essa “Memória” foi reeditada na RIHGB, vol. XII (1849). (25) Ibidem, fl. 14. (26) Essa questão é mencionada na Provisão de 31 de abnl de 1739, contida no Documento n2 1, BNRJ, na 13-4-10: “Descripção da Capitania de Goyás e tudo o que neÜa he notável te o anno de 1783, começa pella Villa Boa”. (27) Relatório da Câmara de Villa Boa de 19 de dezembro de 1739. AHI, Goiás, Caixa 1. (28) Ver o estudo do.caso de Icó no Capítulo III. (29) BNRJ, n“ 12-2-13. Barbosa refere que a igreja, 3 9 A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO CE N TR O E NO O E S T E a casa da câmara, a cadeia e outros prédios públicos foram construídos naquele tempo. (30) Instruções para reaiinhar Vila Boa emitidas pelo governador Luís da Cunha Menezes. BNRJ, n° 13-4-10, Documento n2 4. Essa ordem é apreciada mais detalhadamente mais adiante. (31) “Planta de Viia Boa, Capital da Capitania Gerai de Goyás, levantada no ano de 1 7 6 2 . . AHU- Iria, n“ 85. A plana da Figura 5B faz parte do MU-CI e recebeu o n2 31. D aa de cerca de 1782. (32) David M. Davidson, op. cit, p. 55. (33) Resposta da consulta ao Conselho Ultramarino de l2 de março de 1741. AHU, Códice 259, pp. 83-85. (34) A planta completa estava incorporada à Provisão Régia de 5 de agosto de 1746, “pela qual foram concedidos diversos privilégios, e prerogativas...” (35) ANRJ, Caixa 748, Recomendações da Coroa a Rolim de Moura, de 19 de janeiro de 1749. Esse documento também é ciado em Correa Filho, op. cit., pp. 319-320. (36) Tal como ciado em Correa Filho, op. cit., p 322. (37) David M. Davidson, op. cit., p. 63. (38) Alfredo-Maria Adriano d’Escragnolle, Viscon de de Taunay, A Cidade de Matto-Grosso (Antiga Villa Bella): 0 Rio Guaporé e a Sua Mais Ulustre Victima (Typographia Universal de Laeminert, Rio de Janeiro, 1891), p. 55. Em vez de obrigar casais europeus a se fixarem na nova localidade, que ele pessoalmente preferia, Rolim de Moura recomendou que a população inicial fosse constituída de voluntários da própria área,que já esavam afeitos às perspectivas de doença e isolamento a que estariam sujeitos na nova comunidade. Ver relatório de Moura à Coroa, de l2 de outubro de 1754. AHU, Códice 239. (39) “Annal de Villa Bela des o primeiro desco brimento deste certão do Matto Grosso, no anno 1734”. Daado de 1754 e encontrado na BNL-AP, 629, fls.29-39v. (40) Relatório do andamento das obras de Rolim de Moua à Coroa, de l2 de outubro de 1754, citado em AHU, Códice 239, fl. 188. (41) Ibidem. (42) Essa particularidade é mencionada na carta de Moura à Coroa de 29 de junho de 1756, Vila Bela, AHI, Lata 266, Maço 7, Pasa 10. (43) Virgílio Correa Filho, op. cit., p. 330. (44) Figura 6A - Novo Projecto para a continuação do plano primitivo..., 1773, MU-CI, n2 14. Figura 6B - Plano da Villa Bella..., 1780, MIGE, ns 1177. (45) Ver o Capítulo IX. (46) David M) Davidson, op. cit, p. 99. Esse autor cita (noa de rodapé n2 68, p. 283) uma carta do governador de Mato Grosso, Luís de Albu querque, a M. Melo e Castro, Vila Bela, 29 de dezembro de 1779, a qual indica que estava sendo dada uma atenção ininterrupra ao desen volvimento de Vila Bela. Nessa cara, o gover nador escreveu que a vila havia sido ampliada e compreendia cinco ruas principais e cinco ruas transversais. Para conhecer outra descrição de Vila Bela e sua fundação, ver Henrique de Campos Ferreira Lima, “Vila Bela da Santíssima Trindade de Mato Grosso: o seu fundador e a sua fundação”, Congresso do Mundo Português, vol. X (1940), pp. 291-301. (47) APM, Atas da Câmara de Mariana, 17 de outubro de 1744. Livro 15 (1739-1746). (48) Recomendação do Conselho Ultramarino às autoridades da Câmara de Mariana, Lisboa, 25 de setembro de 1745. AHU, Códice 241, fls. 296v-297. (49) APM, Códice 81 (Ordens Régias 1743-1744), Cara 9. Ver também a exposição dos currículos de engenharia no Capítulo V. (50) Instruções do Conselho Ultramarino às autori dades da Câmara de Mariana, Lisboa, 2 de maio de 1746. AHU, Códice 241, fls. 301-301v. (51) Esse pleito, devidamente registrado pela Câmara de Mariana e comunicado a Lisboa, é mencionado numa carta do Conselho Ultramarino a Gomes Freire de Andrade datada de Lisboa, 22 de julho de 1748. AHU, Códice 241, fl. 325. (52) Aas da Câmara de Mariana, 13 de julho de 1795. (53) Plana da cidade de Mariana, sem data, século XVIII. MIGE, n2 1093. 4 0 Capítulo V Um repertório dos princípios de construção: São Paulo e o Sul Uma das melhores indicações da reação en tusiástica que a nova política urbana suscitou entre os administradores portugueses foi a sua rápida propagação por todas as regiões da colônia. N o Suj, os primeiros passos em direção à aplicação de planos diretores urbanos foram ÃA-dados com atlnèrici3 á programji's de renovação vÇ.'de centros urbanos já existentesJ-Nos anosT730 e até* meados~3cT século |a política portuguesa foi redirecionada pTrá" a'Tormaçãq de__novaâ comunidadeTTaErirdepreservaras zonas sulinas das incursões espánKõIãs. F57~rièssh~Tón]untura que a Coroa financiou um extenso programa de imigração ériropea . contrauiido engenheiros recém -formadospara projetar e administrar as colônias subsidiadas, ) Embora uma apreciação detalhada do planejamento dos centros urbanos maiores fuja um pouco ao tema em pauta, na quela mesma époaqfbram desenvolvido^ certos conceitos básicos nesse tocante. Nas cidades mais antigas, os portugueses estavam interessados principalmente em estabe- -f - lecer a credibilidade docónceito de domínio puUli- co e a aceitação da soberania da C orõasobre zo nas atéentãodespovoadas. A situaçãoérapartí culafmente precária no Rio de Janeiro, onde a destruição ocasionada pelo sjque da cidade pelos franceses em )E7Í)Lhavia obrigàdo muitos habi tantes a procóraièfn notes domicílios. Ademais, a questão da disponibilidade de áreas tornou-se crítica depois de 1713, quando o engenheiro João Massé começou a executar a sua missão de construir um novo sistema de fortificações em torno da metrópole. A construção de uma mu ralha de contenção no único lado da cidade con tíguo a terra plana ainda não habitada isolou a área principal onde o excesso de população se havia estabelecido. Para piorar a situação, em 1725 a Coroa proibiu a construção de mais casas na beira-mar.1 Com o acesso às duas áreas de expansão tradicionalmente utilizadas negado, os cidadãos apelaram para a Câmara Municipal, que então apresentou o caso à Coroa.2 Lisboa apro veitou a oportunidade para reforçar as prer rogativas reais em questões de terras, determi nando que a orla marítima não podia receber mais habitantes, pois “o mar e a praia eram de todos”3, porém revogando a proibição de cons truir nas planícies adjacentes à cidade.4 Uma situação semelhante havia surgido em São Paulo. Com a partida de tantos paulistas em demanda dos campos auríferos, o centro da urbe (ambiciosamente promovida à categoria de cidade em 1711), “havia perdido a noção de espí rito coletivo e [havia sofrido] um abandono qua se completo da vida municipal”.5 Nessas cir cunstâncias, não é nada surpreendente que du rante esse período o rossio, um grande terreno municipal reservado para o uso da comunidade e parte do patrimônio da cidade (e, por extensão, da Coroa), tenha sido parcelado e concedido a particulares. Essa prática estava tão profúnda- mente arraigada que até mesmo o capitão-mor da cidade, Pedro Taques de Almeida, tinha tira do partido dela e mostrou-se indignado quando os seus direitos a essa terra foram contestados. Em relação tanto a São Paulo como ao Rio de Janeiro, o interesse imediato da Coroa tinha 41 U m r e p e r t ó r i o d o s p r in c íp i o s d e c o n s t r u ç ã o : SA o P a u l o e o S u l sido demonstrar aue a sua autoridade em deci sões sobre terras tinha maior peso que quaisquer costumes locais. Em alguns doscentros urbanos menos importantes do Sul, as primeiras décadas do século também foram marcadas por progra mas orientados para a redefinição dos direitos sobre a terra e seu uso. Em tais centros, como em projetos semelhantes para o interior, a rea valiação do desenvolvimento urbarlb potencial foi confiada às autoridades da Coroa, e não às câmaras locais incapazes. O levantamento ad ministrado em Curitiba e Paranaguá, ambas per tencentes à Comarca de Paranaguá, ilustra a ma neira como o governo real achava que podia in tervir no desenvolvimento até então aleatório dessas antigas comunidades. Na década de 1720, Raphael Pires Pardi- nho, ouvidor-geral da Capitania de São Paulo, viajou para o sul, até essas “penúltimas aglo merações urbanas do Estado”, com a finalidade de “introduzir melhoramentos e reformar essas vilas como se elas fossem recriadas do começo”.7 No conjunto de ordens de remodelação emitido posteriormente para a cidade de Paranagua, pro- curõtTsê-fazer exatamente isso; dai cnTóiante as ruas seriam traçadas a cordel, e as casas não seriam máls construídas no mato, mas concen- trar-se-iam na própria cidade, pegadas mesmo umas às outras. O raciocínio subjacente a essa diretriz era que as casas dispersas pelo mato esta riam mais sujeitas a ataques (supostamente por índios) e também prejudicariam a homogeneida de da configuração da cidade.8 Como última providência, Pardinho man dou demolir a proliferação urbana em frente da Igreja Matriz a fim de criar um bulevar espaçoso que ia ter à igreja. Essa avenida para procissões deveria medir pelo menos 40 palmos (8,8m) de lar gura, para que a própria igreja se tornasse “mais decente e mais visível”9, um belo toque de monu- mentalismo barroco no interior brasileiro. Quan to a Curitiba, Pardinho, de forma semelhante,,' estatuiu que quem quisesse construir casas ria • cidade deveria primeiramente solicitar o consen timento da Câmara, que então designaria um ter reno para construção previamente alinhado.10 Se administradores sem nenhuma instrução em arquitetura (como Pardinho) podiam aplicar o novo estilo urbanocom tanto entusiasmo, era evidente que um engenheiro qualificado egresso de uma academia podería supervisionar ã urba nização com muito maior eficiência. Esses enge nheiros militares, com sua formação superior e seus pendores pela matemática, encaixar-se-iam bem nos planos de Portugal para o Sul do Brasil. Aiém disso, a precisão e organização da menta lidade militar combinavam bem com o modelo de ordem que a Coroa estava procurando proje tar no sertão. No decurso dos anos 1730, a ciência da en genharia tinha se tornado quase uma paixão na Europa; o engenheiro militar mais famoso da época, Azevedo Fortes, foi contratado pela famí lia real portuguesa para instruir ninguém menos que o príncipe Dom Antônio nos rudimentos da sua profissão. Uma nova “classe social” , no dizer do historiador Jaime Cortesão, havia surgi do.” Essa nova incorporação na escala social acarretava conseqüências extraordinárias: dan tes, a construção e o projeto eram feitos ao sabor das contingências e da espontaneidade; agora havia uma elite com preparo científico capaz de abrir caminho para um desenvolvimento mais metódico da colônia. As origens da engenharia militar no Brasil remontam ao século XVI. Por exemplo, quando o primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Souza, desembarcou na baía de Todos os Santos em 1549 com uma comitiva de colonos, funcio nários e jesuítas chefiados por Manuel da Nóbre- ga, veio acompanhado por um arquiteto desta cado pela corte. Porém o fato é que, até o come ço do século XVIII, as oportunidades de brasi leiros natos se instruírem nessa ciência eram I extremamente limitadas. Os candidatos qua lificados eram mandados a Portugal, onde aprendiam os fundamentos da arte da fortifi cação.12 Esse ensino compreendia uma instru ção elementar em projeto e construção militar. Os instrutores portugueses utilizavam textos ^clássicos que iniciavam o estudante na prática romana da castrametação, a metodologia da pla- 4 2 Um r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç ã o : S ã o P a u l o e o S u l nificação de acampamentos militares. Em mea dos do século XVII, um novo manual de castra- metaçâo, escrito por um engenheiro português, foi adotado nas escolas de engenharia. Essa obra dava um destaque especial à retilineidade, sime tria e senso de proporção como pontos princi pais da construção militar.13 Na década de 1690, pela primeira vez, esse tipo de instrução tornou-se acessível no Brasil.14 Um decreto real de 1705 exprimiu a vontade de que os engenheiros militares residentes no Brasil ensinassem a pessoas interessadas a arte da forti ficação.15 Foi assim que, no início do século XVIII, a instrução em arquitetura militar foi possível no Brasil, embora sem regularidade. Na Bahia, uma aula de engenharia militar funcionou descontinuamente durante todo o século, mas no Rio de Janeiro um programa de instrução formal não foi iniciado senão em 1735. Durante um certo período, a Aula de Forti ficação e Artilharia do Rio de Janeiro logrou um grande êxito, principalmente enquanto foi dirigi da pelo brilhante José Fernandes Pinto Alpoim (cuja atuação na reconstrução de Mariana foi vista no capítulo anterior). Os alunos de Alpoim recebiam lições de geometria, trigonometria, de medição de alturas e distâncias e de levanta mento topográfico.16 Além disso, esses futuros engenheiros militares aprendiam a calcular ângulos de tiro de artilharia e o uso do cordel (o popular cabinho.dos pedreiros, utilizado para traçar retas).17 Também existem provas que de monstram o interesse da Coroa em que os estu dantes brasileiros fossem instruídos nas técnicas européias mais modernas. Em 1767, por exem plo, a Coroa aconselhou o corpo docente da Aula do Rio a iniciar a instrução na metodologia de Bernard Forest de Belidor, um especialista mili tar francês que escreveu sobre as técnicas da arquitetura militar.18 A paixão pelo desenho francês era particularmente visível na atenção dada aos projetos de fortificação do marechal francês Sébastien le Prestre de Vauban.19 Seus modelos ainda eram ativamente empregados no Brasil setecentista, embora tivessem sido formu lados na França um século antes. Como se vê, nos anos 1~30 os diplomados das Aulas de engenharia militar brasileiras esta vam bem providos de conhecimentos, utilizáveis não apenas na construção de fortificações, mas igualmente preciosos para o planejamento de comunidades que constituíam postos avançados da Coroa nas regiões extremas do Brasil. Como esses engenheiros estavam entre as poucas pes- jsoas no Brasil que tinham um conhecimento profundo de matemática, muitas vezes eles eram . , ' consultados em "projetos relativos à criação dè 7 ^ novas comunidades. "Ü seu conhecimento de planificaçâo espacial e topografia, aliado à sua experiênciáem agriménsúra, dâvãThês uma van tagem incontestável sobre construtores de cida des empíricos. Assim seridcçera lógico que as suas habilidades fossem empregadas não apenas em arquitetura militar, mas na construção civil também. Um dos mais famosos diplomados da Aula de Fortificação em Portugal talvez tenha sido José da Silva Pais, que, além de projetista tecnica mente perfeito, era também um administrador talentoso. Seria ele que a Coroa finalmente en carregaria de iniciar um programa de povoa mento da região dos pampas sulinos. O Sul do Brasil começou a motivar a preo cupação da Coroa depois da fundação do núcleo de Colônia do Sacramento em 1680 (defronte a Buenos Aires, dominada pelos espanhóis, na mar gem oposta do rio da Prata). Embora as escara muças entre as forças portuguesas e as espanho las na Banda Oriental tivessem cessado depois da assinatura de um tratado de paz em 1715, ne nhum esforço sério tinha sido feito para decidir a qual das duas potências, Portugal ou Espanha, a região platina cabia por direito. A posição portuguesa era frágil; entre São Paulo e Colônia do Sacramento, a única barreira que os portu gueses possuíam contra uma eventual agressão espanhola era Laguna, uma comunidade insigni ficante. Para reforçar a sua posição, a Coroa incentivou a criação de outra comunidade na en trada da vastíssima lagoa dos Patos. Essa povoa ção não só resguardaria o interior de uma possí vel penetração dos espanhóis pelo litoral como 4 3 t o <*.»’ U m r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç ã o : S à o P a u l o e o S u l /T podería funciqnar como ponto de partida para o desenvolt^fitento da lucrativa atividade da criação de gado.2; A data exata da fundação de Rio Grande (na ponta sul da lagoa dos Patos, no seu sangra- douro, hoje um dos maiores portos do Brasil) é incerta, mas a maioria dos historiadores concor dam no ano de 1737, ou seja, uns dois anos de pois de um novo ataque espanhol à região.21 Em resposta a esse ataque, os portugueses apres saram-se em enviar uma expedição militar à en trada da lagoa para assegurar um ponto de apoio mínim o na área. C onquanto alguns aven tureiros de Laguna já tivessem demarcado terras para si na proximidade da lagoa, não era fácil atrair um grande número de colonos para uma área praticamente indefesa.22 A Coroa transferiu a responsabilidade pela nova povoação para José da Silva Pais, que imediatamente se pôs a trabalhar, instalando grupos de soldados na área e erigindo três obras de defesa para proteger a nova localidade.23 Pouco depois ele mandou seu representante, João de Távora, a Santos a fim de recrutar famí lias de índios e operários para substituírem os soldados nas obras de construção, e também para aumentarem a população do povoado.24 Além disso, diversas famílias que haviam aban donado Colônia do Sacramento foram ter a Rio Grande.25 Reconhecendo que esse contingen te certamente não erlTsúficíente para a forma ção de uma nova comunidade. Pais fez uma reco mendação notavelmente perspicaz ao gover nador de São Paulo, sugerindo que novos co lonos fossematraídos para a nova localidade por um programa de-petesização subsidiada. N o quadro dessçpgtígrama, a .cada novo vo luntário se promgteriam provisões suficien tes para ele atravessar o período difícil de adap tação, ou até a comunidade se tornar auto-sus tentável. O governador colaborou com Pais, e cada unidade familiar recebeu depois quanti dades de feijão e lentilhas suficientes para sus- tentá-la até a primeira colheita e 10 a 12 bovi nos e terra de pastio para iniciar a criação de gado.24 O plano de Pais obteve um sucesso retum bante. Em junho de 1738 ele pôde comunicar ao governador Gomes Freire de Andrade que, a cada visita que fazia a Rio Grande, achava-a “mais populosa, e maior, e mais próspera” .27 Menos de uma década depois, os portugueses adotaram o programa de Pais de colonização subsidiada para um projeto de colonização com imigrantes açorianos com assistência total, embora em 1676 a Coroa já houvesse tentado instituir uma política de financiamento real do transporte de colonos dos Açores e outras ilhas do Atlântico para o Novo Mundo.2* O Conselho Ultramarino considerava esses imigrantes - cujas condições de subsistência nas suas ilhas de origem eram dificultosas, por causa do excesso de população” - como colonos exce lentes para o Sul do BrasiL Achava-se que os imigrantes ilhéus eram um tipo de colono mais ^■estável que o bandeirante. O conceito que se y tinha do imigrante do arquipélago dos Açores e üida ilha da Madeira era que ele era por natureza ">um agricultor, satisfeito em permanecer na terra; s diversamente do seu contemporâneo bandeiran- te, o açoriano, com toda probabilidade, não se Kl deixaria seduzir pelas perspectivas de enriqueci- mento rápido na mineração no Oeste. 5 j No decorrer dos anos 1740, a Coroa estava firm^mèntêTésõIvlda'adbmentãrlim programa delr^gràçãiTTrraciça párTa região Sul do BrasiL Si Os colonos açorianos que deveríam ser reloca- lizados na zona do estuário do rio da Prata não cij só iam assegurar um tipo de ocupação mais se- dentária como iam desem penhar um papel importante no equilíbrio geopolítico da região platina. O ministro Alexandre de Gusmão (que era brasileiro), de tanto insistir, acabou conven cendo a Coroa de que o único fator eficaz de contenção do poder espanhol no Sul seria a criação de um grande número de vilas. O estabe lecimento da povoação de Pais na lagoa dos Pa tos constituía apenas o primeiro passo para asse gurar a área; toda a faixa de terra entre Rio Gran de e Santa Catarina tinha de ser povoada com colonos permanentes para contrabalançar a in fluência espanhola. Assim sendo, o brilhante 4 4 U m r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç .ã o : S ã o P a u l o e o S u l plano de Gusmão não só “ampliaria o Bírísil e complementaria a sua economia com gado) do interior sulino”, mas também, concomiiante- mente, “fecharia e defendería essa entrada [para o Brasil] com uma muralha humana”.30 De um só golpe, seriam eliminados os problemas das intromissões espanholas, do povoamento e da distribuição de terras devolutas, assegurando- se uma população permanente e estabelecendo- se a autoridade real. Em suma, a ocupação efe tiva seria a chave para a dominação e o controle legal. Quando Gusmão se reuniu com diploma tas espanhóis em 1750, estava em condições de argumentar em favor da reivindicação por Por tugal da região do estuário do rio da Prata com base no utipossidetis e na ocupação efetiva reali zada por aqueles mesmos colonos açorianos. Gusmão aferrou-se ardorosamente ao pla no de Pais de dez anos atrás como base do pro grama de imigração de açorianos. Cada colono recebería o mínimo necessário para um lar, mais animais e mantimentos, a fim de que o período de adaptação ao novo domicílio pudesse ser su portado mais facilmente. Além disso, as Instru ções (Regimento) de 1747, que definiam o pro grama para cada nova comunidade criada pa ra famílias açorianas, insistiam num traçado or denado das ruas e elementos arquitetônicos. As instruções sobre o projeto das cidades eram de talhadas com maior precisão nessa legislação do que em qualquer lei de planificação de vilas anterior promulgada para a hinterlândia brasi leira. O Regimento de 1747 era um modelo de uniformidade e ordem. O planificador urbano era instruído a traçar ruas de não menos de 30 pés (1 pé = 30,48cm; 30 pés = 9,144m) de largura e a demarcar uma praça quadrada de 500 pal mos (ltOm) de lado (aproximadamente o com primento de um campo de futebol americano). Isso era desenhar em grande escala; evidente mente o objetivo era usar ao máximo o espaço disponível e obter uma perspectiva grandiosa. Em coerência com essa política, a instrução refe rente às casas dizia que elas deveríam ser cons truídas “em boa ordem, deixando-se entre elas e atrás delas um espaço demarcado suficiente pa ra o plantio de pomares-hortas”. Antes da che gada dos imigrantes, era preciso construir duas ou três dessas casas para servirem de abrigos temporários até o resto da cidade ser edificado. Em bora a disponibilidade de terreno certamente não fosse problema no Sul subpo- voado, a sensatez desse arranjo é questionável, porque o largo espaçamento das edificações com certeza conferia um aspecto espalhado à comu nidade. É-se tentado a supor que a motivação disso tenha sido a aversão dos portugueses pelo apinhamento, considerando-se que já eram ne cessárias remodelações urbanas dispendiosas em centros urbanos tradicionais (como o Rio de Ja neiro). Porém o Regimento de 1747 não faz ne nhuma menção a esse fato. Por conseguinte, não só o plano de Pais foi reutilizado e ampliado como o próprio Pais, agora na qualidade de governador de Santa Catarina, mi nomeado encarregado das novas comunidades. Foi-lhe d ad aT incumbência de supervisionar o levantamento topográfico das áreas, a instalação dõs colonos e o cumprimento das promessas aos imigrantes, que compreen diam a distribuição de peixe tresco aos volun- tários uma vez por semana e a doação de duas vãcãiTe uma õvelha a cada casal.31 Contudo, apesar do seu dom de organização e da sua disciplina militar, Pais teve grande dificuldade em assentar as primeiras famílias. Dos cerca de 4 mil casais prometidos, só 950 haviam chega do até março de 1749. No decurso dos três anos seguintes, continuaram chegando famílias-Jo Sul, mas em número muito inferior às expectati vas iniciais.32 Um fator de desencoraiamento era a viagem penõsípara o Brasil, durante a qual os homens e as mulheres eram rigorosamêntè separados e vigiados para evitar qualquer con duta indecente.33 Porém o mais decepcionante para os novos imigrantes talvez tenham sido as novas localidades, que, apesar dasJãóas intenções ém contrário, estavam mal preparadas para rece ber os recém-chegados. Não obstante, no decurso de 1753 várias comunidades povoadas por açorianos haviam 4 5 U m r e p e r t ó r i o d o s p r in c íp i o s d e c o n s t r u ç ã o : S ã o P a u l o e o S u l sido estabelecidas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.34 Apesar de a ordem e o projeto terem sido sacrificados em proveito do assenta mento rápido dos colonos, algumas das novas vilas conseguiram ajustar-se ao que o historia- dor-sociólogo Thales de Azevedo denominou “novas normas urbanas”.35 A nova política dos casais visivelmente foi produto da mentalidade do rei Dom João V; ela representava uma abor dagem lógica e organizada da colonização do Brasil, que havia evoluíçk^sgb a direção desse monarca. Cqmq protgtípo paravi povoamento de vilas, o Regimentcffde l 747 complementava o modelo dê Arácàtydp mesmo alo, fornecendo Orientação sobre asdimensoes^las novas comu nidades. No Sul, a Coroa estava tãòdecidida a povoar a região que os administradores estavam dispostos a ampliar financeiramente o programa de construção de vilas até à colonização subsi diada e com toda assistência. Dessarte, o plane jamentode vilas tinha evoluído para a instalação de colonos patrocinada, e daí foi apenas um pe queno passo para o planejamento regional abran gente que seria aplicado amplamente na segunda metade do século, com o incentivo do Marquês de Pombal. (1) Recomendação do Conselho Ultramarino ao governador do Rio de Janeiro, de Lisboa, 5 de maio de 1725. AHU, Códice 227, fls. 89-89v. (2) Uma carta ao governador do Rio de Janeiro datada de 10 de dezembro de 1726 (AHU, Códice 227, fls. 273v-274) menciona a queixa da Câmara. Em 5 de abril de 1729, a Coroa confirmou a sua decisão (AHU, Códice 228, fl. 46), e no ano seguinte, em 25 de junho de 1730 (AHU, Códice 228, fl. 141v), respondeu negativamente a mais um requerimento da Câmara. Além de limitar fisicamente o cresci mento da cidade, a nova muralha também cor taria os suprimentos de água. Sobre esse aspec to do problema, ver Gilberto Ferraz, “João Massé e sua planta do Rio de Janeiro”, Jornal do Brasil.\ 1 de setembro de 1958. (3) Correspondência de Alexandre Metalho de Souza, Frei Varges e outros (conselheiros) ao governador do Rio de Janeiro, de 10 de janeiro de 1732 (AHU, Códice 228, fl. 198v). (4) Numa carta do Conselho Ultramarino ao governador do Rio de Janeiro, datada de Lis boa, 4 de janeiro de 1732, a Coroa resol veu acatar a opinião da Câmara local e dos en genheiros consultores (AHU, Códice 228, fl. 197). (5) Ernesto Ennes, “Pedro Taques de Almeida e as terras do Conselho ou rossio da vila de São Paulo Congresso Luso-Brasileiro de História (Lisboa, 1940), p. 195. (6) Ibidem, pp. 202-203. (7) “Treslado dos capítulos de correição desta Vila de Nossa Senhora de Paranaguá este anno de 1721”, contido em Moysés Marcondes, “Do cumentos para a história do Paraná: l 1 Série”, in Boletim do Arquivo Municipal de Curityba\ à página 140, essa publicação reproduz a carta de Pardinho explicando os objetivos da sua visi ta Estou grata ao historiador Sérgio Buarque de Holanda pela sugestão de consultar essa fonte. (8) Moysés Marcondes, op. cit., artigo 84 do “Treslado”. (9) “. ..que ao menos terá [a rua] quarenta palmos de largo, por ficar assim mais decente, a vista à mesma igreja...”. Moysés Marcondes, op. cit., artigo 85 do “Treslado”. (10) “Treslado dos provimentos de correição que nesta villa fes, a deixou para bom Regimen da Republica e bem comum d’ella, p D.zor Ra phael Pires Pardinho, 1721”. A documentação completa da correição de Pardinho consta do artigo “Provimentos de correições, 1721-1812” in Boletim do Arquivo Municipal de Curityba, vol. VID (1924), p. 16 (artigo 37). (11) Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri (Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 1951), vol I, parte I, pp. 320-321. (12) Para esta exposição sobre a engenharia militar portuguesa de antanho, recorrí às seguintes fontes: Robert C. Smith, “Jesuit Buildings in Brazil”, in A rt Bulletin, vol. XXX, n2 3 (se tembro de 1948), especialmente o apêndice intitulado “Portuguese Military Engineering in Brazil”; general Aurélio de Lyra Tavares, A Engenharia Militar Portuguesa na Construção do Brasil (Secção de Publicações do Estado-Maior 4 6 U m r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç ã o : S ã o P a u l o e o S u l do Exército, Rio de Janeiro, 1965); Sousa Viterbo, Expedições Científico-Miltiares Enviadas ao Brasil, vol. II (Edições Panorama, Lisboa, 1964); Adaílton Sampaio Pirassununga, O Ensino M ilitar no Brasil: Período Colonial (Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1958); e C. Ayres de Magalhães Sepúlveda, História Orgânica e Política do Exército Português, vol. V (Imprensa Nacional, Lisboa, 1910). (13) Luís Serrão Pimentel, Tratado de Castrametação ou Alojamento dos Exércitos (1650?), vol. I, BNL- MSS n2 1648. Uma explanação dos princípios de castrametação romana pode ser encontrado em Lewis Mumford, The City in History: Its Ori gins, Its Transformations and Its Prospect (Harcourt, Brace and World, Nova York, 1961), p. 207. (14) Adaílton Sampaio Pirassununga, op. cit., p. 4. (15) Robert C. Smith, “Jesuit Buildings in Brazil”, in op. cit. Em 1700, Antônio Rodrigues Ribeiro foi promovido a sargento-mor engenheiro da cidade e finalmente nomeado professor da sua especialidade na Aula. (16) Essas matérias foram tratadas por Alpoim no seu Exame de Bombeiros, como mencionado em Pirassununga, op. cit., p. 18. (17) José Fernandes Pinto Alpoim, Exame de Arti lheiros que Comprehende Arithmética, Geometria e Artilharia (Lisboa, 1744). ANRJ, Secção de His tória. (18) Belidor algumas vezes era chamado Ballidoro na correspondência oficial. Cf. Pirassununga, op. cit., pp. 21-22. Uma das obras que Belidor deixou foi Sumário de um Curso da Arquitetura Militar, Civil e Hidráulica (cerca de 1720). (19) O fascínio pelo mal. Vauban é perceptível nas fortalezas construídas em Mato Grosso (Prín cipe da Beira) e Pará (São José de Macapá). (20) Carta do Conselho Ultramarino de 1732 em resposta à sugestão do governador de São Paulo, Rodrigo Cézar de Menezes, de 28 de junho de 1726, para encontrar colonos para Rio Grande de São Pedro. Lisboa, AHU, Rio Grande de São Pedro, Papéis Avulsos. (21) Ver o estudo dessa questão em Dauril Alden, Royal Government in Colonial Brazil: with Special Reference to the Administration of the Marquis of Eavradio, Viceroy, 1769-1779 (University of California Press, Berkeley, 1968), pp. 77-78. (22) Alden conta que as primeiras sesmarias nessa região foram outorgadas em 1733. Ibidem, p.79. (23) Informação obnda em Paxanhos Antunes, “Origens dos primeiros núcleos urbanos no Rio Grande do Sul, tn Anais do Segundo Congresso de História e Geografia Rio-Grandense, vol. n (1937), p. 362. Os três fortes foram São Miguel, San tana e Jesus, Maria, José. (24) General Borges Fones, “O Brigadeiro José da Silva Paes e a fundação do Rio Grande”, in Re vista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, ano XIII, IO trimestre (1933), p 79. (25) Ibidem, p. 83. (26) Ibidem. A carta em que Pais recomendava o programa estava datada de 12 de abril de 1737. (27) Ibidem, p. 107. (28) Uma das primeiras áreas cogitadas para a colo nização açoriana foi o Maranhão. Ver “Ordens e disposições para o transporte de duzentos casais dos Açores para o estado do Maranhão”, in Jaime Cortesão, Antecedentes do Tratado, parte III, vol. II, “Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri”, p. 399. Essa ordem está datada de 23 de junho de 1676. (29) Depois de meados do século XVIII, os colonos açorianos seriam complementados com imi grantes dos domínios portugueses do Norte da África. Da mesma forma, colonos de algu mas regiões de Portugal (principalmente de Trás-os-Montes) eram incentivados a se trans ferirem para o Brasil. (30) N o entanto, Pais já havia sugerido essa providência dez anos antes. Cf. Dauril Alden, op. cit., pp. 81-82, e Jaime Cortesão, op. cit., parte I, tomo II, p. 248. (31) O plano de Gusmão está contido na “Provisão Régia, dirigida a Alexandre de Gusmão... pela qual o Monarca ordenou o transporte e estabe lecimento dos colonos das Ilhas dos Açores para a Ilha de Santa Catarina e continente do Rio Grande de São Pedro”, de 9 de agosto de 1747. /«Jaime Cortesão, op. cit., parte III, VII, pp. 452-457. (32) Arthur Ferreira Filho, História Geral do Rio Grande do Sul: 1503-1964 (Editora Globo, Rio de Janeiro, 31 edição, 1965), p. 33. (33) As condições para o transporte dos casais estão especificadas com precisão no Regimento de 1747; as mulheres deviam ser mantidas isoladas durante a viagem, e seus alojamentos eram inacessíveis até mesmo aos esposos. (34) Segundo Ernâni Silva Bruno, op. cit., vol. V, pp. 4 7 Um r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç ã o : São Paulo e o Sul 74-75, foram fundadas várias povoações em Santa Catarma, entre elas Conceição do Es treito, Lombas e São José do Ibiquarí. Em seu requerimento de promoção, José Carlos Rama-lho, capitão-engenheiro, relata a sua atuação no projeto de uma nova comunidade em San ta Catarina, em 1755. Esse documento está cata logado em Eduardo de Castro e Almeida, Inven tário dos Documentos de Ultramar de Lisboa (Rio de Janeiro), 1913-1936), Secção Rio de Janeiro, n° 18.825. Daqui em diante, esse catálogo será atado simpíesmente como AHU-CA (Catálo go de Documento do Arquivo Histórico Ultra marino de Castro Almeida), mais a secção (Ba hia ou Rio de Janeiro) e o registro no catálogo. No seu artigo “Açorianos e madeirenses em Sana Catarina”, in RIHGB, vol. CCXIX (1953), p. 144, Lucas F. Boiteux faz referência ao levan tamento topográfico dessa comunidade. (35) Thales de Azevedo, Gaúchos: A Fisionomia Social do Rio Grande do Sul (Aguiar e Souza Ltda., Salvador 2a edição, 1958), p. 58. • (JOIVU r & je à u e A T D S t D J O ts S '/ - A.SS OMXÒ 3>OU_J>0tSs® X ,CU35_ TJOXOL) MfS 0 0 M/A<2®0 © € qrjujpM, " -A AtCfrV & VOUftL. v JlCCT1 fa U L < í< C ^L rJ j ' f ^ < A CCAi TVLIÍOJJaOúÍC» OJdlutíMJõVd- (X. dJ M c f c U . 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O marquês foi influenciado fortem ente pelas filosofias intelectualistas da época e assumiu as suas responsabilidades administrativas com a- quele zelo reformista tão característico dos de fensores setecentistas do Iluminismo. Em Portugal, Pombal “procurou denoda- damente sacudir a nação da sua letargia e incor porá-la ao curso das tendências da Europa do seu tempo”.1 Para tanto, ele não só instituiu um programa de reorganização econômica, orienta do para aumentar a margem de lucro do gover no, como também procurou fazer com que os mecanismos administrativos operassem com maior eficiência mediante a centralização das funções governamentais. Os opositores aos seus planos claramente traçados não foram tolerados por muito tempo; os jesuítas, seus inimigos mais declarados, logo foram envolvidos numa conspi ração para assassinar o rei, o que resultou na sua completa expulsão do reino em 1759. Quanto ao Brasil, a visão de Pombal era igualmente clara: a autoridade real deveria ser ampliada pelo aumento do número de vilas no interior e pela sua integração num programa que procurasse aproveitar ao máximo as potenciali dades dos territórios até então inexplorados. Para realizar isso, ele propunha a inclusão das populações indígenas no programa de constru ção de vilas, decidido como estava a transformar esses súditos da Coroa até então ignorados - e menosprezados - em membros importantes da sociedade brasileira. Naturalmente a supressão da proteção dos jesuítas às sociedades indígenas em 1759 ajudou o programa pombalino, porém na realidade os seus objetivos já estavam cla ramente traçados desde o início da década. A meta geográfica imediata do plano de colonização indígena de Pombal era o Amazo nas, que começara a adquirir uma importância econômica em conseqüência do abrimento da ligação fluvial Pará-Madeira-Guaporé entre Belém e Vila Bela, em Mato Grosso. Nessa re gião, Pombal foi auxiliado e favorecido pela pre sença do seu cunhado, Francisco Xavier de Men donça Furtado, que administrou a capitania do Pará na qualidade de governador por toda a década de 1750. Este, nas suas próprias palavras, procurou fazer cumprir as ordens terminantes de civilizar os índios, possibilitando-lhes adquirir um conhecimento do valor do dinheiro... e acostumando-os com os europeus, não só ensinando-lhes português como incentivando casamentos entre índios e portugueses.2 A tarefa revelou-se difícil devido a que os colo nos portugueses do Amazonas eram uma gen talha inculta; principalmente nas regiões supe riores do rio, tanto os missionários como os habitantes laicos tendiam a ser “um bando de 4 9 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ’ grosseiros, despudorados e gananciosos, de pouco valor como divulgadores da civilização européia”.3 Assim sendo, num esforço consciente para introduzir um novo elemento social no Amazo nas, Pombal ordenou que se imprimisse um no vo impulso ao programa de colonização com açorianos dos anos 1740 e que ele fosse incorpo rado ao seu plano de modernização dos índios. Os imigrantes recém-chegados seriam reassenta- dos em povoações do Amazonas, onde poderíam servir de exemplos do comportamento digno eu ropeu para os índios circunstantes. As próprias comunidades, edificadas em conformidade com o código de construção estabelecido no começo do século, seriam modelos de pensamento orde nado e racional: as praças regulares e bem traça das, as ruas retas, as fachadas uniformes (idéias que aliás seriam utilizadas na reconstrução de Lisboa depois do terremoto de 1755) provavel mente fariam com que os índios aspirassem ao “modo de vida” europeu. O programa de construção de novas vilas no Amazonas foi iniciado quase imediatamen te depois da ascensão do marquês ao poder. A despeito das probabilidades desfavoráveis, o governador Mendonça Furtado foi instado a iniciar um levantamento do Pará, logo em 1751, para avaliar as condições das comunidades exis tentes e determinar onde se poderíam estabele cer novos centros urbanos.4 Foram escolhidas duas áreas para povoamento imediato: a zona a leste da cidade de Belém, onde se concentraria a colonização com imigrantes das ilhas do Atlân tico, conforme se decidiu, e as principais vias fluviais da bacia amazônica, compreendendo os rios Madeira, Tapajós e Negro. Em 1753 Men donça Furtado pôde comunicar que havia esco lhido a povoação já existente de Souza de Caeté para a localização de uma primeira vila oficial, que recebería o novo nome de Bragança, em ho menagem à família real. O sítio tinha as vanta gens da proximidade do Atlântico, embora um pouco afastado da beira-mar, e de ficar perto de um braço do rio Guamá, afluente do Tocan tins. Prevendo um grande sucesso comercial para a comunidade, resultante da pesca e da agricultura, cujos produtos poderíam ser manda dos para Belém, Mendonça Furtado pleiteou junto à Coroa a vinda de colonos brancos (ca sais) para povoarem a nova vila. Uma aldeia de índios (“gente da tetra”) existente nas cercanias, explicou ele, estaria disponível como mão-de- obra suplementar para os agricultores, e também poderia ajudar no transporte das mercadorias para Belém em suas canoas. Uma escola onde as crianças índias pudessem aprender a língua portuguesa concorrería para facilitar a adaptação mútua desses dois grupos díspares.5 Na mesma carta, o governador preconizou a criação de duas outras redes de comunidades euio-indígenas, desta vez mais para o interior, nos rios Xingu e Tapajós. Um ano depois, Men donça Furtado comunicou-se novamente com Lisboa, elogiando o projeto inicial de Bragança e salientando que ele havia tomado “todas as providências que [ele] considerava necessárias para o crescimento... da aglomeração” .6 Seu entusiasmo originou outras propostas urbanas, inclusive a criação da cidade de Borba, no local da antiga comunidade indígena de Trocano.Essa nova vüa, localizada perto da confluência do rio Madeira com o Amazonas (no atual estado do Amazonas), destinava-se a servir de posto admi nistrativo avançado na via fluvial comercial Gua- poré-Madeira. Apesar de a atração de colonos para essa área remota ter se mostrado difícil, fazendo com que o bispo do Pará recomendasse à Coroa custear as despesas do seu assenta mento7, a localidade foi fundada com êxito em 1756*. Aqui, as regras de alinhamento urbano foram seguidas fielmente’, o que levou um visi tante nos anos 1770 a comentar que a comuni dade era “uma grande praça de quatro lados com casas em quatro ruas”.1* Dez anos depois, o famoso escritor sobre a região amazônica Ale xandre Ferreira de Rodrigues afirmou, na sua Viagem Filosófica, que Borba era uma das poucas comunidades amazônicas que mereciam o título de vila.11 Tal como no Nordeste meio século antes, as dificuldades de conseguir colonos para as 50 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ” regiões longínquas da Amazônia eram agravadas pela necessidade de mantet o controle numa zona muito distante da capital administrativa, Belém. As conseqüências negativas dessa situa ção precária para a soberania portuguesa nessa região foram percebidas por Mendonça Furta do durante a sua visita à zona do rio Negro em 1754. Posteriorm ente, ele sugeriu a Lisboa transformar essa região do alto Amazonas numa nova capitania, cuja base de operações seria uma nova vila a construir; essa comunidade não só substituiría Belém do Pará, dispondo de funcio nários administrativos e de um tribunal na pró pria sede, como poderia também hospedar as comitivas estrangeiras cuja chegada ao território estava prevista para efetivarem os acordos de fronteiras já acertados entre os espanhóis e os portugueses no Tratado de Madri, em 1750. Em 3 de março de 1755, o governo da metrópole, concordando com a idéia de Mendonça Furtado, autorizou a criação de uma nova capitania e da vila de São José do Rio Negro.12 A exemplo de outras ordens que até então haviam servido de base para a fundação de novas capitais e vilas administrativas, a Carta Régia de 1755 que ordenava a criação da vila de Rio Negro preceituava um traçado urbano ordenado. A praça principal deveria ser demarcada em primeiro lugar, prevendo-se localizações para a igreja, a casa da câmara, a cadeia e outros prédios públicos. As casas deveríam ser “construídas com o mesmo feitio externo, mas, quanto ao interior, cada [morador] poderia fazer o que lhe conviesse”. Dever-se-ia ter o cuidado de manter essa uniformidade na construção, bem como na largura das ruas, a fim de que a vila apresentasse sempre a mesma “beleza”. Os terrenos para ca sas e pomares-hortas poderíam ser concedidos com generosidade aos colonos, contanto que eles obedecessem às novas disposições.13 A instrução inicial dos portugueses era situar a nova cidade na embocadura do rio Ne gro, porém Mendonça Furtado resolveu loca lizar o novo centro a montante, na aldeia de Ma- riuá (também citada como Mariva), a uma longa distância da confluência do rio Negro com o Amazonas. Nesse local, a nova vila constituiría um ponto de observação a partir do qual as co munidades indígenas circunvizinhas noderiam ser mantidas sob controle. Além disso, cõnío o bispo do Pará observou na sua carta em que aprovava a mudança de localização decidida por Mendonça Furtado, o novo sítio cumpriría a função de atalaia para vigiar as atividades dos espanhóis e holandeses nessa parte da Amazô nia, ao mesmo tempo em que serviría de entre posto para uma série de ervas medicinais colhi das nas imediações, as quais eram o principal produto de exportação da região.14 Malgrado essas metas ambiciosas, ainda em 1759 pouco progresso havia sido feito no sen tido de transformar a aldeia de Mariuá na nova vila de São José (ou, como ela era mais comu- mente chamada, Barcellos). O sucessor de Men donça Furtado, Manuel Bernardo de Melo e Cas tro, naquele ano instou junto ao Marquês de Pombal para que se reconhecesse a urgência de converter a aldeia numa vila antes da chegada das comitivas de fronteiras, a fim de comprovar a solidez da posição portuguesa. Em virtude de a reivindicação portuguesa da região ter se baseado no princípio da ocupação efetiva, era impensável que a colônia que recebería os nego ciadores tivesse um aspecto desleixado. Era necessário salvar as aparências, dando a impres são de que, mesmo na selva longínqua, prospera va um baluarte da cultura portuguesa. Nesse contexto, Melo e Castro salientou que faltavam urgentemente gêneros alimentícios “do tipo produzido nas fazendas européias”, principal mente trigo e azeite, e que as provisões de vinho, vinagre, carne e sal também eram escassas. Ade mais, naquele momento, em 1759, as edificações levantadas por ordem de Mendonça Furtado es tavam “completamente deterioradas”.15 Por sorte o contingente português da comi tiva de fronteiras já havia chegado a Barcellos. Os préstimos de Felipe Strum, um dos melhores engenheiros e cartógrafos mandados pelos por tugueses ao Brasil, foram prontamente empre gados no programa de remapeamento de Bar cellos. Uma planta datada de 1762 (Figura 8A)16 51 O M a r q u ê s d e P o m b a i . e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ” Fig. 8 A - Planta básica it Barcellos, no Rio Negro, tal como foi rtitstnbaia por Felipe Strum, 1762 mostra a extensão das modificações urbanas que se seguiram ao novo desenho de Strum. Em obediência às ordens de 1755, a cidade concen trava-se em torno de uma nova praça espaçosa, na frente da qual havia um terreno reservado para uma igreja paroquial de boas proporções. Ao que parece, a praça da comunidade primitiva foi abandonada na periferia da cidade, porque mudaram a orientação da malha urbana para longe desse centro, dando-lhe uma direção norte-sul. O centro da cidade aparece situado a pouca distância da margem do rio, onde são previstos embarcadouros para canoas. Na nova praça está assinalada uma sala de conferências para os delegados plenipotenciários; no entanto, a três quarteirões dali ficava um “curral de tarta rugas”, o que indica que a cidade passou tempos difíceis sanando as suas características provin ciais. Durante os anos seguintes, apesar dessa planta desenhada cuidadosamente, os registros mostram numerosos exemplos da necessidade de reconstruir as estruturas públicas. Um dos grandes problemas era que as edificações muitas vezes eram de madeira, um material de pouco valor prático na selva amazônica úmida, onde 52 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ' Fig. 8 B - 0 novo projeto para Barcellos, sem data tudo apodrecia.17 Por exemplo, em 1768 os ar mazéns, o quartel e a residência do governador tiveram de ser reconstruídos (Figura 8B).“ Sem se mostrarem intimidados por esses reveses na renovação de vilas nas regiões remo tas, os portugueses, sob a direção de Pombal, continuaram a pressionar os administradores do Brasil para “civilizarem” as localidades mais an tigas. As recomendações sobre a maneira de rea lizar isso compreendiam instruções relativas à ordem em que aos novos prédios seriam cons truídos; antes de tudo, seria erigida a igreja; de pois viría a residência do representante do gover no.” Naquela época, o uso de um traçado urba no regular tinha se tornado tão comum que um administrador local escreveu em 1757 informan do que havia utilizado “o modelo de costume”, a fim de que o local que ele estava demarcando tivesse “as características de uma vila bem fun dada”.20 A expulsão dos jesuítas em 1759 ensejou às autoridades portuguesas oportunidades ainda maiores de assunção do controle das comunida des indígenas. Quase imediatamente as denomi nações dessas antigas aldeias foram substituídas por nomesde cidades portuguesas21; achava-se que isso dava uma impressão de “civilização”. Foram nomeados superintendentes laicos para administrar as comunidades, os quais eram ins truídos a supervisionar as novas edificações para abrigar trabalhadores índios. As casas deveríam ser construídas com “uniformidade e retilineida- de”, e as terras agricultáveis da localidade tinham de ser divididas em proporções iguais aos habi tantes.22 O movimento de reforma urbana tinha um atrativo evidente; centros urbanos tão díspares como a cidade de Belém e aldeias indígenas em Mato Grosso foram submetidos a programas de remodelação rigorosos. Para Belém, Mendonça Furtado recomendou encarecidamente que os impostos locais fossem utilizados por um perío do de dez anos para reformar a cidade, que, na sua opinião, salvo pela sua grande população, pouco diferia das aldeias do sertão.23 Não sur preende que as suas propostas tenham acabado 53 O M a r q u ê s d e P oiMb a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ’ fomentando a pavimentação de ruas na cidade24 e a edificação de muitos prédios públicos, inclu sive do Palácio dos Governadores, projetado pe lo engenheiro italiano Antônio José Landi (Bolo nha, 1708 - Belém, 1790).25 Na hinterlândia, nem mesmo a humilde vila de Cuiabá pôde escapar ao espirito reformista. Com a sua configuração inicial sem racionalida de26, a comunidade havia crescido sem que ne nhum esforço fosse feito para conter a ocupação da área de pastagem comum (rossio e logradou ro). Na década de 1750, atendendo a um reque rimento da Câmara Municipal de Cuiabá, o Con selho Ultramarino, em Lisboa, determinou que essa terra pública fosse devolvida para cultivo. Exigiu-se então que os proprietários das casas encravadas na área pública reconstruíssem as suas residências num terreno destinado especifi camente a esse fim. Essa área seria previamente alinhada e subdividida em lotes, em ruas traçadas em linha reta. Dessa maneira, a autoridade e a ordem finalmente deixariam a sua marca na mais mal traçada de todas as povoações. Além disso, a devolução das terras públicas para uso da Câ mara assegurar-lhe-ia uma renda fixa, tornando desnecessária a coleta de impostos específicos a cada vez que fosse executada uma meihoria pú blica.27 Em outras áreas de Mato Grosso e particu larmente ao longo do rio Madeira, os portugue ses procuraram consolidar os ganhos territoriais, reunindo as populações existentes em diversas novas aglomerações de projeto regulamentado. O caso da aldeia de São Miguel ilustra bem esse processo. Já tinha existido uma aldeia indígena naquele trecho do rio Madeira (a cerca de quatro léguas do Forte de Conceição), porém durante os anos 1760 ela tinha se mostrado inadequada. Havia chegado um contingente de índios há pouco repatriados das missões espanholas pelos portugueses, e a velha aldeia não tinha condições de alojá-los decentemente. Nessas circunstân 1 1 I L — 1 — r j j , i1; * ■ 1 !* : p • ] □ H 1 •mm L Fig. 9 - Planta básica de São Miguel, 1765 5 4 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ' Fig. 10 - Planta básica de Balsemão, 1768 cias, o capitão-geral João Pedro da Câmara, resolveu transferir a aldeia para longe dali. O novo complexo seria projetado com “o forma lismo [/. e. retiüneidade] que convinha para a habitação e o conforto dos seus moradores.28 O esboço (Figura 9) que acompanhava a carta de Câmara dá uma idéia do grau de “aquartela mento” a que os trabalhadores índios seriam sub metidos: longas alas de unidades residenciais em arranjo simétrico aparecem como alojamentos para os índios. Esses alojamentos estão dispos tos de um lado e do outro de uma grande praça, em cuja frente estão as casas do administrador da comunidade e do vigário residente, e, por trás, um armazém para as frutas colhidas. O quarto lado da praça, defrontando o rio, é deixado aber to. Em 1768 foi oficialmente inaugurada mais uma comunidade indígena ao longo da via fluvial do Madeira, denominada Balsemão. Nela, as habitações dos trabalhadores eram constituídas por unidades de alojamento individuais pegadas, com paredes divisórias comuns, numa disposi ção semelhante à de São Miguel. Entretanto, diferentemente desta, as casas em Balsemão (Figura 10) formam a orla de grandes quarteirões (cuja área interna é dividida em pomares-hortas), proporcionando assim uma aparência decidida mente menos militar à comunidade. A confor- 5 5 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç ã o ” mação das ruas é a malha ortogonai habitual, que vai ter a uma praça pública quadrada espaço sa. Os quatro cantos dessa praça são entalhados em ângulo reto, o que confere a essa composição um elemento de desenho incomum. O lado nor te da praça é ocupado pela igreja, ladeada por unidades residenciais; oposta a ela, no lado sul, está a casa da câmara. Os centros dos lados les te e oeste são armazéns; os espaços restantes são preenchidos por casas para índios.® De acor do com os documentos anexos51, Luís Pinto de Souza Courinho, capitão-geral na época da cons trução, teve pouca dificuldade em reunir os ín dios pasmas na sua nova comunidade. Por outro lado, os 400 soldados que se juntaram a ele nesse local devem ter representado um incentivo fortíssimo. Essa povoação foi tão bem-sucedida que Coutinho achou que bastavam apenas três administradores portugueses para tomar conta dos índios: um superintendente da comunidade, um vigário e uma pessoa não identificada cuja função era velar pelo bem-estar da população indígena, que totalizava cerca de 150 pessoas (56 homens, 46 mulheres, 27 meninos e 17 meni nas). Entre os índios estavam inscritos dois “príncipes da nação”, embora não fosse fre- qüente os planificadores do século XVIII atenta rem para esse tipo de dado sociológico. Durante toda a década de 1760, os adminis tradores, desejosos de instituir o programa de urbanização e europeização do Marquês de Pombal, concentraram-se em corrigir o que eles julgavam ser erros cometidos nos núcleos urba nos mais antigos. O ouvidor do Pará, Ramos Mourão, partiu nos primeiros meses de 1762 pa ra visitar pessoalmente as comunidades da re gião do rio Tocantins e da ilha de Marajó. Nas localidades onde não encontrou nenhum concei to de ordem, ele instituiu o novo regime urbano; nas povoações onde tinha reinado uma com preensão nebulosa do que constituía a “corte sia”, ele substituiu-a por uma noção já bem defi nida e bem aceita de “civilidade” européia. Com relação a uma certa comunidade, ele mandou os habitantes repararem suas casas no prazo de dois anos e murarem seus pomares.52 E não ape nas isso: o dono de cada pomar seria obrigado a plantar “duas laranjeiras, um limoeiro, uma pi- menteira, duas goiabeiras, dois cajueiros, dois mamoeiros e dois coqueiros”. Não era permi tido a ninguém construir casas sem consenti mento prévio dos funcionários da câmara, que, por sua vez, providenciariam que as ruas fossem “retas, largas e espaçosas e que as casas fossem construídas com uma mesma forma e um mes mo tipo de fachada, isso sendo conveniente para a beleza da vila”. Por fim, construir-se-ia uma fornalha num local próximo para fornecer telhas para os tetos das casas, e nos anos vindouros, todo mês de outubro, os funcionários da câmara deveríam vistoriar as casas e pomares para certi ficar-se de que as ordens haviam sido cumpri das.55 Em algumas localidades, a responsabilidade pelo alinhamento urbano foi confiada aos habi tantes mais qualificados. Isso sucedeu, por exemplo, na criação da vila de Monte-Mor-o- Novo, no Ceará, onde Custódio Francisco Aze vedo, residente no local e habilidoso no uso da prancheta, foi encarregado de traçar a planta da nova vila. Aqui também o risco da comunidade obedeceu ao formato usual: uma grande praçacentral alinhada, rodeada por casas uniformes, uma igreja, a casa da câmara e um açougue.54 Como orientação para o traçado do resto da vila, a Coroa recomendou que se usasse o código pro mulgado em 1755 para a criação da vila de São José do Rio Negro (Barcellos).55 Outras provas indicam que no tempo da criação de Monte-Mor, em 1764, eram comuns as recomendações ofi ciais para seguir as plantas de São José, conforme demonstra esta prescrição: ...determinados pela Lei de 6 de junho de 1755, serão praticadas, sempre que possível, as nor mas e o alinhamento ordenados para o estabele cimento da vila dé São Miguel do Rio Negro.54 Ao que parece, em Monte-Mor não houve difi culdade em aplicar as diretrizes urbanas precei- tuadas; foi feito o levantamento topográfico da área, a terra foi distribuída e demarcada com vistas a garantir que as construções futuras se guissem a mesma orientação de alinhamento.57 5 6 O Marquês d e Pombal e a p o l ít Tc a p o r t u g u e s a d e “europeização' , D .UÍb ° U‘ra,S com un>dades, tam bém no 1 ° rte do Brasl1’ S t r a i n a confiança depositada pelos portugueses nas técnicas de arquitetura e urbamsmo durante a era pombalina. Tanto São Jose de Macapa como Nova Mazagão, no terri tório do Amapá, foram desenhadas e demar cadas por equipes de especialistas qualificados em engennana. Junto com as comunidades vizi nhas, elas eram parte de um sistema econômico regional e ficaram sob a jurisdição da Companhia Geral do Grao Pará e Maranhão, uma empresa monopohsnca criada pelo Marquês de Pombal em 1755 para explorar os recursos do extremo Morte da imensa colônia. A construção de São José foi a primeira providencia desse plano. Em 1751 os portugue ses haviam reconhecido a necessidade de estabe lecer um presidio militar e uma comunidade no local da antiga guarnição defensiva de Santo em 1688 í MaCaPa , E s s a Unificação, fundada em 1688 para defender o Amapá de eventuais incursões francesas vindas da Guiana limítrofe afigurava-se inadequada pelos padrões de mea dos do século XVIII. Em face disso, a Coroa resolveu reforçar as defesas na zona, assentando uma populaçao bastante numerosa na área circutqacente e remodelando as obras de defesa Fn? i ocapitao-mor João Batista de Oliveira foi mandado ao local para iniciar a formação de uma comunidade agrícola.54 Até dezembro do mesmo ano foram enviadas para a nova povoa- çao quatro expedições de colonos (muitos dos quais provinham dos Açores e da ilha da Madei ra), perfazendo talvez 300 pessoas; todavia passaram-se vanos anos até que a comunidade pudesse ser considerada viável.5’ Relatórios do Fig. 11-São José de Macapá, no Amapá, 1761, mostrando o desenho da praça dupã, 5 7 o M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç ã o ” andamento dos trabalhos datando de 1757 refe rem que as obras da nova vila ainda estavam em curso; um ano depois a comunidade foi promo vida a vila, apesar de inacabada.40 Uma carta de João da Cruz Pinheiro, o ou vidor que chefiava a equipe de demarcação, dá uma descrição do procedimento pelo qual a vila foi traçada. No seu relato, Pinheiro queixou-se de que havia levado dois dias de trabalho inin terrupto, “do amanhecer ao anoitecer”, para pla nejar uma comunidade com alicerces suficientes para ser permanente. Nessa povoação, como em outras localizadas perto de cursos ou coleções de água, os aterros para ruas e subdivisões paramoradias tinham de ser planejados de modo a preservá-la com segurança das inundações pe rigosas. O mapa incluso à carta de Pinheiro mostra que ele conseguiu entremear a malha ur bana na multiplicidade de pequenas lagoas alaga- diças.41 Os voluntários açorianos para a nova vila foram postos sob o comando do sargento-mor Thomaz Rodrigues da Costa, o oficial mais gra duado do presídio. Homem “bastante inteligen te criterioso e cristão”42, da Costa foi judiciosa- mente escolhido por Mendonça Furtado e rece beu plena liberdade para desenvolver a comuni dade como melhor lhe parecesse (Figura l l ) .43 Sendo engenheiro, da Costa apreciava sobre maneira a ordem e o regulamento. Cada colono recebeu instrumentos, gado e sementes para plantar, e a cada um foi adjudicada uma^unidade de moradia e exploração padronizada.44 Na rea lidade, isso foi uma repetição do plano de colo nização com açorianos de 1747, porém o docu mento cartográfico do caso de Macapá é tão mi- 5 8 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ’ nudente que é possível visualizar exatamente como o plano foi executado. A planta, de 1“59 (Figura 12), tem uma escala que permite calcular a dimensão de cada unidade residencial. De acordo com essa planta, cada casa tem uma fa chada de mais ou menos 33 pés (10m ou 5.5 bra ças) e um comprim ento de cerca de 18 pés (5,5m). O espaço interno é dividido em três pequenos compartimentos com um vestíbulo estreito. Como na maioria das comunidades construídas tendo em vista minimizar os custos, as casas de Macapá são pegadas umas às outras, com paredes comuns. Seu exterior é uniforme, como mostra o desenho do rodapé da planta; cada unidade tem três janelas simples sem ornato e uma porta com um dintel singelo. Atrás de cada casa há um lote comprido destinado ao cul tivo de um pomar e horta e à manutenção dos animais domesticados e de galináceos. A dis posição das ruas é em malha ortogonal, inter rompida por duas grandes praças. A única fun ção de uma dessas praças parece ser conter o pelourinho de praxe em toda municipalidade, en quanto a outra tem um caráter administrativo, compreendendo a igreja, a casa da câmara e o açougue.45 Próximo à praça administrativa fica o posto médico da vila, a “casa do cirurgião”. A composição de Macapá tem sido tachada de monótona e estéril pelos observadores da atualidade.46 Aos olhos do homem moderno, ela pode parecer assim; contudo, o atributo de uniformidade de Macapá constitui uma prova admirável da capacidade crescente dos adminis tradores coloniais de supervisionarem o desen volvimento de um centro urbano no Brasil. Acresce que, para a sua época, São José de Maca pá representava o exemplo ideal do bom gosto em urbanismo; simetria e harmonia de perspec tiva eram sinônimos de beleza para a mentali dade setecentista. Até mesmo a fortaleza cons truída em Macapá na década seguinte ilustra a preferência pela ordem e pela precisão geomé- rica do barroco.47 Seus quatro bastiões eqüi- distantes, baseados nos modelos franceses de fortificação, continuaram a impressionar os que visitavam a comunidade. Mesmo décadas de pois, em 181A Aires de Casal comentou que Macapá tinha “um forte magnífico”, bem como “boas ruas”.45 Mazagão, a outra comunidade da região do Amapá, também mereceu considerável reflexão por parte da Coroa antes da sua fundação. En quanto São José de Macapá prosperava, os por tugueses sentiam a necessidade de mais colo nos na região. A pequena distância de Macapá existia a pequena aldeia indígena de Santana, e, no final dos anos 1760, o capitão-geral do Pará, Fernando da Costa Athayde Teive, refletiu que a sua população podia ser transferida, para bene fício de toda a zona.49 Para tanto, Domingos Sam- bucetti50, engenheiro italiano comissionado pelo exército português, foi destacado para um novo local à margem do rio Mutucá, com o encargo de começar o levantamento preliminar para o estabelecimento da nova comunidade indígena. Àquela altura, os portugueses estavam encontrando dificuldades em outros domínios do seu vasto império ultramarino. Seu último reduto no Norte da África, Mazagão, estava em decadência, e eles enfrentavam o difícil problema de reassentar os colonos dessa guarnição. A op ção lógica para o reassentamento dos mazaga- nenses era o Brasil, que não só podia receber mais povoadores que Portugal ou suas ilhas do Atlântico como, de acordo com a mentalidadepombalina, beneficiar-se-ia com a introdução de elementos culturais europeus. Tirando partido dessa excelente oportunidade de povoamento, Athayde Teive, em consulta com Mendonça Fur tado - agora Secretário do Ministério de Ultra mar - , procurou demonstrar que podia instalar facilmente o contingente deslocado de Mazagão na mesma colônia que estava sendo construída para os antigos moradores da aldeia indígena de Santana.51 Com os índios como trabalhadores braçais e os colonos europeus como fazendeiros, o capitão-geral anteviu um êxito infalível para a nova vila. Pouco depois de Sambucetti concluir o levantamento da área do rio Mutucá, Ignacio da Costa de Moraes Sarmento foi nomeado coman dante da primeira expedição. Sarmento, homem 5 9 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç ã o ” Fig. 13 A - Esquema inicial de Nova Maçagão, no Amapá, sem data de “muita honra e alto prestígio”52, iniciou suas tarefas separando uma área que definia os limites da comunidade. Dentro dessa área, logo come çou o trabalho de demarcar uma malha urbana de ruas e praças alinhadas e de construir aloja mentos suficientes para os colonos esperados.53 Os índios de Santana forneceram a força de tra balho para essa tarefa, coadjuvados por outros, recrutados nas aldeias indígenas de Melgaço e Óbidos.54 É claro que Sarmento trazia consigo o modelo português de vila costumeiro, que pre- ceituava um povoamento regulamentado. Não obstante Sambucetti ter advertido o governador de que o terreno acidentado podería obrigar a alguns desvios da geometria habitual da planta básica portuguesa55, parece que Sarmento, obsti nadamente, manteve-se fiel ao princípio da reti- lineidade e projetou a cidade envidando todos os esforços possíveis para manter a boa ordem. Para tal, o solo foi nivelado em 1770, e as ruas foram traçadas com quarteirões de mesmas di mensões e eqüidistantes (Figuras 13A e 13B).56 No final das contas, todos esses trabalhos, inclu sive a construção dos lares, foram custeados pelo Tesouro Real.57 Os dados estatísticos existentes acerca de Nova Mazagão são abundantes pelos padrões da época. Em 1772 registrou-se que a localidade tinha 459 habitantes, sendo 383 cidadãos livres e 76 escravos. De acordo com um relatório, a força de trabalho necessária para construir a nova vila compunha-se de 122 índios. No final 60 Fig. 13 B - Nova Mazagão, aproximadamente 1800 de 1772, esse grupo já havia construído 134 uni- padas, tanto pela população livre como pela es- dades habitacionais, 117 das quais estavam ocu- crava.59 61 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç ã o ’ Fig. 14 A - Detalhe de Lisboa no século X V I A nova vila satisfez as expectativas de Athayde Teive. Com o incentivo de um ano de sustento às custas do governo, os mazaganenses estabeleceram-se rápida e definitivamente.60 Ao que parece, o seu orgulho por esse feito fê-los sentir-se superiores à média dos habitantes do Pará.61 Porém a sua pretensa superioridade não os impediu de comerciarem com seus vizinhos de Macapá. Essas duas comunidades, juntamen te com outra povoação em Vistosa, formavam uma zona do arroz, cuja produção era embarca da para Belém; essa zona constituía uma impor tante fonte desse produto para a capital.62 Até 1778 esse sistema regional esteve sob a jurisdição da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão e, como tal, era submetido a freqüentes fiscaliza ções administrativas. Em 1775 o novo governa dor do Pará, João Pereira Caldas, vistoriou cada uma das três vilas e exarou um relatório sobre o seu progresso. Para a vila de Mazagão, ele reco mendou a construção de uma olaria destinada à produção de telhas, “para o enobrecimento das casas e para evitar, assim, maiores riscos de incêndio”. Uma instalação semelhante foi pro posta para Macapá, que Pereira Caldas achou consideravelmente aumentada e “lusificada” em relação ao que ele observara na sua visita ante rior, em 1773.63 Ali, no longínquo território do Amapá, estavam funcionando postos avançados viáveis da cultura e da autoridade portuguesa. A julgar pelo grande número de vilas e ar raiais construídos durante o período de 1750 a 1777 (os 27 anos da era pombalina), o procedi mento pombalino da planificação de cidades não 6 2 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a df. “ e u r o p e i z a ç ã o ’ pode ser considerado senão um sucesso.64 Tra balhando com um paradigma de vila iá estabe lecido, Pombal aprimorou o processo e firmou o conceito de que a boa ordem urbana era uma marca do comportamento europeu (portanto, “civilizado”). Pouco importou se os habitantes dessas comunidades planificadas continuaram fiéis à sua dieta tradicional de mandioca, ou se eles mantiveram as suas maneiras grosseiras, co mo afirmou um historiador65; pelo menos na sua aparência exterior, as comunidades planificadas deram mostras de um estilo de vida europeu. Num certo sentido, o Brasil, com seu vasto sertão, serviu de campo de prova para os dese nhos urbanos mais recentes saídos das pranche tas em Portugal. Embora os portugueses vies sem fazendo experiências de planejamento urba no inovadoras desde a Idade Média, a oportu nidade de construção em massa de novas cidades era restrita num país que havia sido povoado desde a Antigüidade. A vida urbana no Portugal setecentista decorria com razoávei estabilidade, até a manhã do dia Ia de novembro de 1755, quan do um terremoto atingiu Lisboa. Imediatamente se determinou uma reconstrução completa da área do centro da cidade. Já que muitos dos con ceitos urbanos aplicados naquele projeto foram os mesmos que vinham sendo empregados no Brasil, vale a pena examinar sua utilização no país-metrópole. O sismo de 1755 destruiu uma grande parte do velho núcleo comercial do centro de Lisboa, o que requereu uma reconstrução urbana de proporções inauditas.66 Muitos engenheiros com formação em arquitetura civil apresentaram di versos projetos para reedificar a área; alguns de les propuseram reconstruir as ruas seguindo o mesmo traçado medieval (Figura 14A), ou con servando pelo menos algumas das antigas vias de circulação. Finalmente se adotou o único pro- Fig. 14 B - Novo projeto de Lisboa depois do terremoto de 1‘/11/1755 6 3 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç Ao ’ jeto tjue apresentava uma abordagem inteira mente nova; ele propunha “uma ‘rede’ muito complexa, composta de oito ruas de orientação norte-sul e nove dispostas do leste para o oes te”.67 Essas ruas seriam o meio de ligação entre duas importantes praças. O risco foi de autoria de Eugênio dos San tos, diplomado pela Aula de Fortificação por tuguesa, e Carlos Mardel, engenheiro militar húngaro. A natureza racional do projeto para o bairro baixo de Lisboa empolgou o Marquês de Pombal, que o apoiou entusiasticamente. Co mo observou José Augusto França, o esquema era perfeitamente concorde com a política do marquês, servindo de representação gráfica da sua atitude ordenada em relação ao governo (Figura 14B).6* Na planta de Santos e Mardel, três ruas ser viríam de artérias principais de tráfego inten so e, ao mesmo tempo, seriam o eixo de direcio namento do trânsito de uma praça para a outra. Essas artérias tinham 60 palmos (13,2m) de lar gura, enquanto as ruas menos importantes ti nham apenas 40 palmos (8,8m). Os prédios des sas vias tinham uma altura e uma fachada regula mentada, de modo que, num comprimento de 400 metros, não seria admitida “a mínima varia ção, a menor fantasia”. Além disso, para aumen tar a composição homogênea do bairro, cada rua deveria ter a sua própria especialidade comercial. Embora a Idade média tivesse sido fértil em pre cedentes dessa especialização de ruas, os novos regulamentos, aliados às novas prescriçõesde construção, levaram muitos críticos a se queixa rem da opressiva monotonia da planta. Em que pesasse essa objeção, a planta para a “Baixa” foi executada; o descumprimento do novo código resultava na recusa da permissão de construir no novo bairro.69 . A praça principal da metrópole, o Terreiro do Paço, foi igualmente submetida aos novos padrões urbanos. Outrora uma praça pitoresca de formato irregular, ela era voltada para o mar, e nela ficava o palácio real. No novo projeto para a “Baixa”, a praça foi transformada no novo centro judiciário e de serviços públicos da nova L'sboa. Reprovou-se-ihe o caráter comercial, pois nela ficavam a aifándega, os serviços públi cos, o tribunal e o centro financeiro. Sua nova fachada reproduzia a ética empresarial da “orga nização”: três lados da praça foram ocupados com “prédios idênticos, com arcadas do térreo ao primeiro andar e pilastras duplas”70, enquan to o quarto lado permaneceu aberto para o mar e para o império português longínquo. Do lado oposto ao paredão do mar, foi construído mais tarde um arco do triunfo que abria a perspectiva desse lado para a malha de tuas comerciais situa da atrás dele. O espírito das reformas da “Baixa” propa- gou-se por outros bairros de Lisboa71 e até por outras cidades portuguesas (com especialidade o Porto). Embora a maior parte dos observa dores europeus o ignorassem, os conceitos de desenho utilizados na reforma urbana da metró pole eram exatamente os mesmos que vinham sendo postos em prática no Brasil havia já meio século. Por exemplo, o projeto de Lisboa revela a mesma preocupação com o alinhamento e a uniformidade das ordens de 1716 para a criação de Mocha, no Piauí. O projeto da “Baixa” pode ter sido realmente, como França escreveu, “um pensamento urbano dinâmico ímpar na Europa setecentista”72; porém os conceitos revelados na construção da capital do reino no final dos anos 1750 haviam sido aperfeiçoados pelos adminis tradores e engenheiros portugueses no Brasil no decurso das décadas que antecederam o sismo. As experiências portuguesas de planificaçâo urbana no Brasil e a reconstrução posterior de centros urbanos em Portugal demonstram clara mente que o governo real havia compreendido que a planificaçâo urbana podia servir a fins administrativos práticos e, ao mesmo tempo, ser esteticamente agradável. Como em outras partes da Europa, para os portugueses, a “planificaçâo urbana tornou-se um instrumento da política estatal”71 A administração de Dom João V foi a primeira a compreender que um programa de construção de vilas encerrava uma potencia lidade de ampliação da autoridade; Pombal inter pretou essa fórmula como a condição indispen- 6 4 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç Ao ’ sável do bom governo, acrescentando-lhe o seu reconhecimento da dimensão sócio-cuitural do programa. O modeío d t vila utilizado no Brasil em meados do século XVIII era apreciado não só pelo seu traçado ordenado e esteticamente agradável, mas também porque ele simbolizava um nível de “europeização” e sofisticação ao qual Pombal achava que o interior do Brasil devia aspirar. Sob a direção do marquês, a colô nia foi totalmente impregnada de aplicações, tanto teóricas como práticas, da filosofia muni cipal “iluminizada” do século XVIII. (1) Donald E. Worcester, Brazil: From Colony to World Power (Charles Scribner’s Sons, Nova York, 1973), p. 47. (2) Como já foi assinalado em Kenneth R. Max well, Conflicts and Conspiracies: Brazil and Portugal, 1750-1808 (Cambridge University Press, Londres, 1973), p. 15, as outras reformas do Marquês de Pombal no Brasil abrangiam a orga nização de companhias comerciais para asse gurar o monopólio português de valiosos arti gos de exportação, a transferência da capital da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro e a reativação da cobrança do quinto real, a quota da coroa sobre a renda gerada no Brasil. (3) David Sweet, “The ‘Conquest’ of Northeastern Brazil: Sketches for a People’s History of Ex pansion”, ensaio apresentado na Convenção da Associação Americana de História, Nova Or leans (Louisiana), dezembro de 1972, pp. 21-22. (4) Recomendações do Rei a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de 30 de maio de 1751. AHI, Livro 343/2, nQ 29. (5) Carta de Mendonça Furtado à Coroa, de 11 de outubro de 1753. AHU, Pará, Caixa 16. (6) Carta de Mendonça Furtado, de 13 de setembro de 1754. Registro de Cartas, BNL-CP, n2 159. (7) Carta do Bispo do Pará a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, Pará, 31 de janeiro de 1756. Esse documento está reproduzido em MCM, vol. III, p. 905. (8) Como está assinalado em “Resumo histórico de algumas fortalezas e povoações”, AHI, Lata 256, Maço 2, Pasta 7. (9) Cópia da carta de S. Mag.de a Mendonça Fur tado, de 3 de março de 1755. Essa carta instruía o governador a alinhar as ruas de Borba. BNRI 1-31, 28,41, n2 6. (10) Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, “Diário da viagem que em vizita e correição das povoa- çoens da Capitania de S. José do Rio Negro fez o ouvidor e intendente geral da mesma, no anno 1774-1775”. BMSP, MSS C, 52. (11) Como citado em Ernâni Silva Bruno, Amavônia vol. I, op. cit., p. 83. (12) Carta Régia, de Lisboa, 3 de março de 1775, endereçada a Francisco Xavier de Mendonça Furtado. BNRJ1-31, 28, 41, n2 4. (13) Ibidem. (14) Carta do bispo do Pará a Mendonça Furtado, do Pará, 13 de maio de 1775. AHI, Livro 430/ 4/2, n2 35. (15) Carta de Manuel Bernardo de Mello e Castro a Sebastião José de Carvalho, Pará, 2 de no vembro de 1759. ABAPP, vol. VIII (19131 pp. 99-106. (16) Figura 8A - Villa de Barcellos, 1762, MIGE, n2 1005; Figura 8B - Planta da nova villa de Barcellos, aproximadamente 1770.BNRI-SI n2 24-3-1. J ’ (17) Isso está dito na “Memória sobre o Governo do Rio Negro”, 1762. AHI, Livro 340/4/4, n2 42. (18) Correspondência de Fernando da Costa Athay- de Teive a Mendonça Furtado, Pará, 2 de julho de 1768. AHI, Lata 195, Maço 4, Pasta 4. (19) Carta do Capelão Antônio Machado a Men donça Furtado (?), Missão de N. S. da Piedade, 6 de abril de 1756. BNL-CP, 622, fls. 166-167. (20) Carta de José Marq.e da Fon.a Castelho a Mendonça Furtado, de 20 de dezembro de 1757. BNL-CP, 624, fls. 188-188v. Castelho declara ter utilizado “a ordinária planta p.a q. ficace... e se construhir com as qualidades q deve ter hua bem fundada Va.”. (21) Essas mudanças de nomes deram-se entre 1757 e 1760. Uma representação do Tribunal da Mesa de Consciência datada de 13 de janeiro de 1760 ordenou que as denominações de várias missões jesuíticas cujo controle o Estado havia assumido fossem mudadas. AHU-CA, Bahia, 4791. 6 5 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç Ao ” (22) Dois estudos recentes acerca da atitude portuguesa para com as missões podem ser encontrados em Daniel Sweet, op. cit., e Colin M. MacLachlan, “The Indian Labor Structure in the Portuguese Amazon, 1700-1800”, in Dauril Alden (editor), Colonial Roots of Modem Brasfil (University of California Press, Berkeley, 1973), pp. 199-230. (23) Carta de Mendonça Furtado à Coroa, Pará, 21 de fevereiro de 1759.M&4PP, voL VDI (1913), p 52 (24) Antônio Rocha Penteado, Belém: Estudo de Geografia Uéana, 2 vols. (Universidade Fedetal do Pará, Belém, 1968), p. 109. (25) O engenheiro italiano Antônio José Landi veio para o Brasil para acompanhar a comitiva de demarcação de fronteiras. Gal. Aurélio de Lyra Tavares, op. cit, p. 110. (26) Ver capítulo IV. (27) Parecer do Conselho Ultramarino, de 25 de setembro de 1758. AHU, Códice 239. (28) Carta de José Pedro da Câmara a Mendonça Furtado, de 17 de dezembro de 1765. Esse documento está apenso à planta 71 do Catálogo AHU-Iria. (29) Projecto de novo apuzento p.a os índios da Aldeya de S. Miguel, 1765. AHU-Iria, n° 71. (30) Planta de uma povoação na cachoeira Girão do tio Madeira delineada pelocapitão-geral de Mato Grosso Luís Pinto de Sousa Coutinho, 1768. In AHI-IA, n“ 75. (31) Carta de Luís Pinto de Sousa Coutinho a Mendonça Furtado, Fortaleza da Conceição, 30 de novembro de 1768. AHI, Lata 275, Maço 5, pasta 9. (32) Isso foi registrado por Artur César Ferreira Reis em “Aspectos da Amazônia na sexta década do século XVIII”, in RSPHAN, vol. VIII (1944), p. 68. (33) Posturas e Taxas da Villa de Conde. Como citado ibidem, p. 70. (34) Termo da Demarcação e Assignação do Terreno da real villa de Monte-Mór o Novo da América, in RIC, vol. V (1888), p. 265. (35) A recomendação foi emitida em 1° de abril de 1767. RIC, vol VII (1890), p. 106. Parece que essa idéia havia impregnado o pensamento de muitos administradores portugueses. Por exem plo, em 1763 o governador do Pará (Melo e Castro) emitiu um informe no sentido de que no faturo todas as comunidades recebessem nomes, “como é de costume em povoações dviiizadas”. Todas as casas seriam construídas com uniformidade e retidão”, e os funcioná rios da câmara seriam encarregados de subdivi dir a área da vila, que depois seria adjudicada em partes iguais aos habitantes. Pará, 23 de janeiro de 1763, como citado in Ferreira Reis, op. cit., p.69. (36) Ver “Termo pelo qual se assignou o districto d’esta villa e o Patrimônio d elia e para Rocio pasto commum dos gados dos seus morado res”. RIC, vol. VIII (1891), p. 269. (37) Ibidem. Monte-Mor o Novo atualmente tem o nome de Baturité; fica no Ceará, perto do rio Maranguape. (38) “Instrução que levou o Capitão-Mor João Batista Oliveira quando foi estabelecer a nova vila de S. José de Macapá”, Pará, 18 de dezem bro de 1751. MCM, vol. I, p. 115. (39) A carta de Mendonça Furtado a Alexandre Metelo de Souza Menezes, do Pará, 20 de dezembro de 1751, menciona essas expedições. MCM, vol. I, p. 22. (40) Carta de Mendonça Furtado à Coroa, Pará, 10 de abril de 1757. BNL-CP, 162, fl. 19v. (41) Correspondência de João da Cruz Diniz Pinheiro a Mendonça Furtado, de 2 de abril de 1755. BNL-CP 624, fls. 64-65. (42) Essa é a opinião de Manuel Bernardo de Melo e Castro, expressa numa carta a Tomé Joaquim da Costa, datada do Pará, 30 de janeiro de 1760. ABAPP, vol. VIII (1913), p. 126. (43) Figura 11 - Planta da Villa de S. Jozé do Macapá, 1761. AHU-Iria, n“ 24; Figura 12 - Planta Ichnographica das cazas... de S. José de Macapá para os novos povoadores, 1759. MIGE, n° 1015. (44) A esse respeito, ver Artur César Ferreira Reis, “Guia histórico dos municípios do Pará”, RSPHAN, vol. XI (1947), p. 286. (45) Esse modelo de praça dupla foi visto pela primeira vez na Salvador quinhentista; foi empregado reiteradamente no século XVHI. (46) Por exemplo, Santos, op. cit, p. 62. (47) Ptaça de S. José de Macapá, 1771, MIGE, nQ 1227. (48) Manuel Aires de Casal, Geografia Brasílica ou Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brasil (1817) (Edições Cultura, São Paulo, 1943), vol. II. P- 52 66 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç Ao ’ (49) Isso está concorde com a exposição contida em “Município de Mazagão”, AKÀPP, vol. IX (1916), p p . 398-399. (50) Sambucetti, de origem genovesa, trabalhou como engenheiro na comissão portuguesa de fronteiras da Capitania do Rio Negro. Ver Lyra Tavares, op. cit, p. 126. (51) “Município de Mazagão”, op. cit, pp. 403-404. (52) Ibidem, op. cit., pp. 398-399. Mendonça Furtado emitiu essa opinião a respeito de Sarmento. (53) Ver Artur César Ferreira Reis, Território do Amapá: Perfil Histórico (Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1949), p. 65. (54) “Município de Mazagão”, op. cit., p. 399. Colin M. MacLachlan, op. cit, p. 218, registra que, em 1774, 19 aldeias indígenas forneceram tra balhadores para fins de construção em Vila Nova de Mazagão. (55) Ver a carta de Sambucetti ao governador Athay- de Teive, de 13 de março de 1770, como cita da em “Município de Mazagão”, op. cit., p. 405. (56) Figura 13A - Levantamento inicial da Vila Nova de Mazagão, sem data. MU-CI, n° 24; Figura 13B - Planta da Villa Nova de Mazagão, aproximadamente 1800. MIGE, n“ 1017. (57) Ferreira Reis, op. cit., p. 66. Isso também consta no “Município de Mazagão”, op. cit., p. 403. Ver também “Relação das famílias que vão esta- belecer-se na praça de Mazagão, por ordem de Sua Magestade”. IHGB, Lata 354, Doc. 16. (58) Essa informação demográfica está contida na carta de Gama Lobo de Almada (encarregado da comunidade), de 15 de dezembro de 1772, como citada em “Município de Mazagão”, op. cit., p. 413. (59) “Município de Mazagão”, op. cit., p. 412. (60) O programa de manutenção por um ano segue o modelo traçado para as comunidades açoria- nas em 1747. Ver “Município de Mazagão”, op. cit., p. 412, n“ 45. (61) Ferreira Reis, “Guia histórico dos municípios do Pará”, op. cit., p. 289. (62) Em seu relatório citado em “Município de Mazagão”, op. cit, p. 419 (sem data), Gama Lobo observa que em 1778 Macapá exportou 16.136 alqueires de arroz, Mazagão exportou 3.317 Ví, e Vila Vistoza, 2.230 (o alqueire era uma medida de capacidade variável de uma região para outra; o alqueire de Lisboa eqüivalia a 13,8 litros). Uma análise dos princípios dire tores econômicos durante a era pombalina pode ser encontrada em Kenneth R. Maxwell, “Pombai and the Nationalization of the Luso- Brazilian Economy”, in HAHR, vol. XLIII, n° 4 (novembro de 1968), pp. 608-663. (63) Relatório de João Pereira Caidas a Martinho de Mello e Castro, Pará, 5 de novembro de 1775. IHGB-CU. Arc 1.1.3, pp. 352v-355. (64) Eu diria que foram construídas pelo menos 35 vilas e arraiais. (65) Ver David Sweet, op. cit. et passim. (66) Um relato sucinto do acontecimento e suas conseqüências pode ser encontrado em Luís Soriano, História do Reinado de El-Rei D. José (Typographia Universal, Lisboa, 1867), vol. II, pp. 92-93. (67) Ver José Augusto França, Lisboa Pombalina e o Iluminismo (Livros Horizonte, Lisboa, 1965), p. 74. Salvo outras remissões, esta explanação é baseada no excelente estudo de França. (68) Figura 14A - Planta de Lisboa no século XVI, tirada de G. Braun, Civitas Orbis Terrarunr, Figura 14B - Planta elaborada pelos arquitetos Eugê nio Carvalho e Carlos Mardel superposta a um mapa de 1660 para a reconstrução do Rossio. Reproduzida com autorização da editora de E. A. Gutkind, Urban Development in Southern Europe: Spain and Portugal, voL III: International History of a City Development (The Free Press, Nova York, 1967), pp. 62 e 67. (69) Consulta do Rei, Lisboa, 16 de setembro de 1756. Reproduzida em Antônio Delgado da Silva, Supplemento à Collecçâo de Legis/a-ção Portuguesa (Typographia Luis Correa da Cunha, Lisboa), vol. 1750-1762, nota 413. (70) Robert C. Smith, The A rt of Portugal: 1500-1800 (The Meredith Press, Nova York, 1968), p. 105. (71) Por exemplo, pelo bairro do Rato. A Resolução do Rei datada de 4 de agosto de 1767 exigia o reaknhamento e a regulamentação de toda cons trução fatura em tomo das ddades já existentes (sem especificar se isso também se aplicava às colônias de Ultramar). Delgado da Silva, op. cit, vol. 1763-1790, p. 158. Depois dessa época, os portugueses empenharam-se na construção de novas cidades em larga escala também na sua pátria. De acordo com Luís C Moncada, Um iluminista Português do Século X V III (Saraiva e Companhia, São Paulo, 1941), p. 103, o sábio por tuguês Verney propôs no final dos anos 1760 6 7 O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç à o ’ que o governo criasse novas cidades em estra- (J2) Augusto França, op. at., p. 83. das principais de tráfego intenso ‘para acelerar (73) E. A. Gutkind, op. at., pp. 31-32. o comércio”. 68 Capítulo VII Planificadores e reformadores Nas últimas décadas do século XVIII, em bora o Amazonas fosse o objetivo principal das reformas pombalinas, a faixa litorânea, o Sul e o Oeste do Brasil foram igualmentereavalia dos.1 Nessas regiões, o êxito ou o fracasso das novas povoações muitas vezes dependiam da personalidade e da energia dos governadores que as administravam. Nas décadas de 1770 e 1780, a tendência das autoridades dessas regiões era criarem redes de comunidades semelhantes ao eixo Macapá-Mazagâo, que fora formado no N orte. Algumas dessas novas redes estavam orientadas para aglomerações urbanas tradicio nais, que elas abasteciam com um fluxo contínuo de produtos agrícolas. Outras redes foram esta belecidas em zonas escassamente povoadas, pro- porcionando-lhes o desenvolvimento de uma au- tarcia. Desse modo, mais uma dimensão de pla nejamento regional foi acrescentada aos obje tivos já explícitos do programa de construção de vilas. O êxito desse “plano diretor” e a sofisti cação da metodologia empregada podem sur preender os planificadores da atualidade, que parecem julgar qúe uma abordagem abrangente do desenvolvimento é apanágio exclusivo do nosso século.2 Esse planejamento no nível macroeconô mico foi mais perceptível na comarca de Porto Seguro (na zona sudeste da capitania da Bahia) que em qualquer outro lugar. Ali, foi planejado e construído todo um sistema de sete centros urbanos. Neste caso, os abundantes dados docu mentais e cartográficos existentes proporcionam não só uma intelecção excepcional do processo de planejamento de vilas como também uma compreensão da mentalidade do planificador. Nos primeiros anos da década de 1760, a comarca de Porto Seguro estava sob a direção do ouvidor Tomás Canceiro de Abreu, que esta va interessado principalmente na criação dasvilas indígenas de Verde e Trancoso. Ele deixou plantas para a formação das novas vilas que asse guravam um espaçamento regular entre as futu ras casas. Além disso, procurou criar uma ordem moral para os novos habitantes, exigindo que de então em diante os índios deveríam viver em casas com: ... ao menos 6 quartos, um que lhe servisse de sallinha, outro para os paes dormirem, outro para os filhos, o 4o para as filhas,o 5o para a cozinha e o 6o para terem os seus effeitos.3 No seu zelo pela europeização dos índios, Abreu só foi superado pelo seu sucessor, José Xavier Machado Monteiro, que chegou a Porto Seguro por volta de 1768. Enquanto aquele admitiu ter tido dificuldades em estabelecer as suas novas comunidades-modelo, Monteiro con seguiu fundar vilas viáveis e que funcionavam bem. A chave do seu sucesso foi a criação de comunidades com dois componentes raciais; nesse projeto, colonos portugueses e índios de veríam viver juntos, exatamente no mesmo tipo de moradia. Os europeus forneceríam padrões de comportamento, enquanto os índios, no seu entender, teriam o privilégio de observar e aprender, imitando-os. Pelo que foi dito ante riormente, já se sabe que esse esquema não foi concebido por Monteiro; na realidade ele tinha sido a filosofia subjacente à política de Pombal para o Amazonas de. localizar aldeias indígenas junto a vilas européias. No entanto, o ouvidor de Porto Seguro infundiu no programa um fer- 6 9 P l a n if ic a d o r e s e r e f o r m a d o r e s Fig. 15 - Planta básica de Vila Viçosa, aproximadamente 1769 vor quase evangélico, impondo à população branca a obrigação moral de elevar os índios aos seus padrões culturais. No seu relatório anual, ele escreveu: “Com referência aos índios, estou procurando civilizá-los.”4 Para tanto, Monteiro proibiu as mulheres índias de usarem blusas que mostrassem os seios. Vedou aos homens e mu lheres dançarem o sensual batuque, quer em pú blico, quer às ocultas.5 As crianças de mais de três anos não podiam dormir no quarto dos pais, e os meninos e meninas de sete anos para cima foram proibidos de tomar banho juntos.6 O desenho das vilas de Porto Seguro patro cinadas por Monteiro são mais uma confirma ção da sua predileção pela hiper-regulamentação. Para cada uma das três vilas criadas pelo ouvidor -Vila Viçosa, 1768; Portalegre, 1769; e Prado, 1772 -, a disposição das edificações foi planejada detalhadamente, desenhada e depois executada no local escolhido. Inobstante Monteiro ter de clarado com modéstia que, à falta de um arqui teto, as plantas foram traçadas pela sua “mão inábil”7, os documentos cartográficos existentes revelam que ele tinha um conhecimento muito profundo dos princípios de planejamento urba no do século XVIII, pois, conforme ele admitiu depois, os seus projetos seguiam “as normas ha bituais”.8 Todas as três vilas de Monteiro (Figuras 15,16 e 17) compunham-se de quadras de área uniforme, cuja orla era formada de casas rigoro samente alinhadas de frente para ruas de largura idêntica.9 Os fundos das habitações dispunham de pomares-hortas, criados por parcelamento do espaço interno de cada quadra. Esse adminis trador utilizou nas suas três vilas o modelo de duas praças, um desenho visto com frequência em cidades litorâneas do Brasil.10 70 P l a n if ic a d o r e s e r e f o r m a d o r e s Monteiro estava firmemente convicto de que a disposição ordenada resultante amansaria os índios que estavam aos seus cuidados, que ele considerava “os mais repulsivos e detestáveis do Brasil” .11 Ele baseava essa pressuposição nu ma compreensão pessimista e verdadeiramente hobbesiana da natureza humana. O ouvidor achava que, se todos os habitantes tivessem exa tamente as mesmas comodidades, inclusive casas análogas, com o mesmo número de janelas e por tas e quintais de área padronizada, todas as cau sas de inveja e dissenção seriam eliminadas.12 Entretanto, diversamente dos sonhos pretensa mente socialistas das comunidades dos missioná rios, Monteiro amenizava suas idéias comunitá rias com uma ênfase na unidade familial como o único elemento social de grande importância. Enquanto os padres de mentalidade socialista utópica (especialmente os jesuítas) freqüente- mente haviam agrupado os seus protegidos em barracões comunitários, Monteiro insistia em que as unidades habitacionais familiais eram in dispensáveis para inspirar respeito pelo “modo de vida europeu”. Ao redor de cada comunidade, Monteiro mandou desmatar um anel “da largura de dois MS* - .**»•<*)** ■nr s § §hVi:. ‘.viíí i• - v.vv-:;*. »1v..V̂v-'.v 1 mkfê i4■ -•• vt«is»iw* *w» m d m m f s m m m:ia■1 Fig. 16 - Planta básica de Portalegre, aproximadamente 1772 71 P l a n if ic a d o r e s e r e f o r m a d o r e s Fig. 17 - Plantaa básica de Prado, aproximadamente 1772 tiros”. Essa disposição protegeria os colonos dos ataques de índios hostis (que poderíam ca- muflar-se no mato) e, além disso, “proporciona ria arejamento, aumentaria a área de pastagem e afastaria as onças, cobras e mosquitos”.15 As comunidades dedicavam-se à agricultura, pro duzindo principalmente algodão e cereais. Essa produção, junto com garoupas pescadas, era em barcada no cais construído em cada vila e man dado para Salvador, onde contribuía significa- tivamente para o abastecimento daquela cida de e da zona açucareira circunvizinha do Recôn cavo. Ao mesmo tempo, as vilas de Porto Segu ro funcionavam como pontos de parada acessí veis e centros de fornecimento para baianos em demanda das riquezas minerais de Minas Ge rais. Como se vê, a rede de vilas de Porto Seguro constituía uma zona economicamente integrada que, por sua vez, servia uma importante cidade colonial. Ela apresentava uma lógica de ponto central básico que seria copiada em outras zonas da colônia com graus de sucesso variados. Pa tentemente, a experiência das vilas de Monteiro foi bem fundamentada; em 1803, um visitante expressou aprovação a essas pequenas comuni dades e elogiou os seus traçados ordenados. Embora Portalegre tivesse sofrido uma perda de população devido a uma inundação pelo rio pró ximo, Vila Viçosa e Prado ainda existiam e eviden temente mantinham a sua forma urbana origi nal.14 O entusiasmo de Monteiro por um estilo de vida europeu foi emulado por um contem- 72 P l a n if ic a d or e s e r e f o r m a d o r e s poráneo seu no Sul do Brasil, Luís Antônio de Souza. Pouco depois de assumir o governo de São Paulo, Souza anunciou suas intenções de reformar comunidades antigas, reunindo pes soas errabundas e estabelecendo novos núcleos urbanos por todo o Sul do Brasil.15 O resultado seria tornar a capitania de São Paulo econômica e defensivamente mais forte, embora, como ob servou Dauril Alden, Souza também estivesse interessado em notabilizar-se.16 Apesar de suas ambições irritarem vários de seus colegas gover nadores de capitanias e de o seu atrevimento ter lhe valido ser considerado um petulante pelo vice-rei, o Marquês de Lavradio, A ntônio de Souza prosseguiu vigorosamente com os seus planos de construção de vilas e obteve um êxito razoável. O programa de construção de novas vilas no Sul foi dividido em três etapas: primeiramen te seria criado um sistema de vilas na estrada cos teira e das montanhas do Sul; em segundo lugar, antigas comunidades indígenas seriam transfor madas em unidades urbanas viáveis; e, final mente, uma rede de fortificações seria construída e associada às populações residentes nas proxi midades. A primeira fase foi iniciada pouco de pois de Souza assumir o seu cargo e foi objeto de uma extensa correspondência entre o gover nador e o Marquês de Pombal. Em 25 de de zembro de 1766, Antônio de Souza escreveu ao ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, o Marquês de Pombal, comunicando que havia mandado construir seis novas comunidades em áreas vantajosas “pela localização estratégica, conforto e fertilidade dos solos”. A primeira de las seria localizada na faixa arenosa onde o rio Piracicaba confluía com o Tietê, dez léguas a oeste da última aglomeração fundada na zona. A segunda vila, Botucatu, seria edificada na es trada de Cuiabá, na esperança de restituir a pros peridade que as terras outrora cultivadas haviam tido antes da expulsão dos jesuítas. Uma terceira comunidade, Faxina, seria fundada na estrada que ia de São Paulo a Curitiba, mais a oeste de Sorocaba, já existente; propunha-se uma quarta, Lages, na estrada que partia de Curitiba para o sul, em direção a Viamào, em Rio Grande de São Pedro. As últimas duas vilas desse sexteto seriam comunidades pesqueiras, uma na angra de Gua- ratuba, abaixo de Paranaguá, e a outra entre Iguape e Cananéia.” Não vem ao caso descrever os muitos pro blemas com que o próprio governador se viu a braços. Independentemente deles, é possível examinar o seu programa de construção de vilas a fim de obter uma intelecção do processo urba no. A espinha dorsal do plano de Souza era o agrupamento de todos os recursos humanos das áreas assinaladas para o desenvolvimento urba no; ordenou-se que todo mundo vivesse em “po voações civis”, por definição uma localidade de mais de 50 lares (casas).1* Ao mesmo tempo, o governador de São Paulo determinou que as no vas vilas criadas sob os seus auspícios não seriam apenas pontos de reunião de moradores, mas ostentariam toda a sofisticação urbana e ordem do seu tempo. Essa predileção pelo desenvolvi m ento urbano regulamentado é patente na correspondência de Souza com o juiz de fora de Santos, em que este foi instruído a providen ciar que de então em diante toda construção na quela comunidade portuária obedecesse às nor mas urbanas preceituadas. O pensamento do governador é claro e revelador: Uma das coisas de que os países mais adianta dos costumam cuidar atualmente é da simetria e harmonia das edificações que estão surgindo em cidades grandes e pequenas, de modo que, da sua aparência (disposição), resulte não só o conforto público, mas também o prazer, com os quais as aglomerações se tornam mais atraentes e apropriadas, sabendo-se da boa ordem com que essas edificações são dispostas, da discipli na [polícia] e cultura de seus habitantes.” Para com as novas vilas que patrocinou, Souza foi igualmente exigente no cumprimento dos alinhamentos urbanos prescritos. Com referência a isso, é particularmente interessan te observar que, no caso de Mathias Leme, anti go fazendeiro que vivia no campo com seus dois filhos, o governador determinou não só que ele se mudasse para uma “povoação civil”, mas para 73 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s Fig. IS - Planta básica de Guaratuba, Paraná, final do século XVIII uma que já estivesse arruada (demarcada).20 Consoante o governador, só depois que um nú mero suficiente de casas tivesse sido demarcado ao longo de ruas alinhadas é que se poderia con ceder oficialmente o título de vila a uma povoa ção.21 Em concordância com isso, quando surgiu a questão de optar entre Mogi-Guaçu e Mogi- Mirim para elevar à categoria de vila, Souza escreveu às autoridades daquela povoação suge rindo sutilmente que, se elas transferissem os seus habitantes para um local plano próximo e depois construíssem casas em ruas demarcadas, então Mogi-Guaçu recebería o pelourinho e todos os privilégios competentes, em vez de Mogi-Mirim, que na realidade estava em melho res condições.22 Atrair povoadores para as suas novas co munidades, apesar da sua aparência ordenada, não foi tarefa fácil para o governador. Como estí mulo para induzir colonos para o arraial de Guara tuba, Souza mandou afixar cartazes na vila de Para naguá, que ficava perto, anunciando que o governo daria terra e instrumentos agrícolas aos voluntários. Além disso, os novos habitantes seriam dispensados do recrutamento para o exército por um período de dez anos, e não seriam obrigados a prestar qual quer outro serviço.25 Evidentemente o programa foi bem-suce dido, pois em 1768 Souza pôde comunicar ao seu superior que a comunidade tinha sido funda da com “água boa e com exposição ao sol do la do norte”.24 Além disso, 70 casas já haviam sido 7 4 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s alinhadas nas ruas da comunidade fFigura 18).25 Dois anos depois a povoação foi constituída em vila, e as autoridades locais foram instruídas a adaptar uma casa da câmara e uma cadeia na sua conformação física. A outra comunidade litorânea, Subaúna, fundada entre Iguape e Cananéia, também foi construída “com modernidade”, de acordo com um relatório de 1775, embora esse documento mencione que suas edificações, em estado deplo rável, estivessem em reparos.26 A criação da comunidade de Lages apresentou empeços muito maiores. Em 1766 Luís Antônio de Souza nomeou o capitâo-mor Antônio Correa Pinto superintendente da construção daquele nú cleo.27 Prometeu-lhe uma grande residência na nova comunidade e pôs um pedreiro-canteiro e um car pinteiro a seu serviço, tudo às expensas do gover nador. Este até doou uma estátua de Nossa Senho ra pintada a óleo, tirada da sua coleção particular, para a futura igreja.28 Mesmo assim, malgrado o evidente entu siasmo do governador, os trabalhos na nova vila demoraram a começar, em parte devido à relu tância de Correa Pinto em se mudar para o novo local29, mas também em decorrência dos litígios jurisdicionais provocados pelos governos de Santa Catarina e São Pedro.50 Dois anos depois, em 1768, o governador viu-se obrigado a man dar todos os moradores das circunjacências de Lages a se mudarem para a nova comunidade, caso contrário seriam expulsos da zona.51 Em bora a comunidade finalmente tenha sido funda da, há uma certa incerteza entre os historiadores quanto a se o capitão-mor Correa Pinto cumpriu ou não as leis de planejamento urbano.52 Um relato do século XIX afirma que a área foi arrua da de acordo com as instruções do governador Souza55; no entanto, Victor Peluso, especialista em geografia urbana da atualidade, sustenta que a malha urbana quadrangular só foi implantada em Lages no meado do século XIX.54 Outros ainda afirmam que a vila foi deslocada do seu local primitivo, abrindo-se caminho, assim, para a instauração da desordem urbana.55 O caso de Lages pode ser considerado uma decepção para o governadorde São Paulo. Mes mo assim ele não desanimou de continuar apli cando suas idéias urbanas em larga escala. Seus planos para antigas aldeias indígenas constituem excelentes exemplos da plena amplitude da sua ambição. Por exemplo, para o extremo oeste do atual estado do Paraná, ele concebeu um sistema de povoações que, segundo ele, poderíam ga rantir o controle português no território. O nú cleo desse piano era a serra de Apucarana, uma zona triangular emoldurada pelos rios Parana- panema e Tibagi. Em resposta a uma carta do seu superior proibindo os paulistas de procu rarem riquezas minerais nessa área montanho sa, Souza defendeu suas razões para implantar urgentemente postos avançados nessa zona remota. Em segredo absoluto, ele estabelecería arraiais de índios e erradios a intervalos de dez léguas. Tomando como modelo o grande número de vilas e aldeias criadas no Pará (e enaltecendo a contragosto o êxito de Mendonça Furtado), o governador de São Paulo propunha-se a criar arraiais agrícolas nos matagais, tão ricos e se dutores atrairíam não apenas os habitantes das redondezas, mas até os índios das missões je- suíticas espanholas próximas. Ele vaticinava que estes nos virão procurar quando se derem conta de que entre nós eles são homens como todo mun do e são tratados como tais, ao passo que os es panhóis os tratam como animais, privando suas mulheres e filhos da liberdade e espoliando-os de seus bens, sem deixá-los possuir nada.54 Poucos anos depois, Souza criou coragem e escreveu diretamente a Mendonça Furtado, agora ministro das Colônias em Lisboa, pedindo ao antigo urbanizador do Pará orientações sobre a organização de comunidades indígenas. Na mesma carta, o governador, aproveitando sagaz mente a oportunidade, informou o ministro de que os recursos disponíveis em São Paulo para a criação dessas vilas eram minguados. Tocando num ponto sensível do modo de pensar do anti go administrador, Souza insinuou que talvez os portugueses tivessem sido negligentes nas suas responsabilidades de criar novas vilas e exortou- os a povoarem o Brasil “na mesma medida em 7 5 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s que os espanhóis haviam feito na América his pânica”. O apelo do governador provavelmente foi bem acolhido, pois no ano seguinte ele ordenou a criação da aldeia indígena de Carapicuíba.35 Além disso, nessa mesma época o governador começou a executar a sua proposta de povoações fortificadas no rio Iguatemy. Em virtude de essa zona ficar a um alcance de tiro surpreendente mente curto das terras dominadas pela Espanha, era forçoso que essas comunidades fossem forti ficadas, bem como auto-sustentáveis. Pequenos agrupamentos de sete ou oito famílias seriam dispostos nas adjacências do forte a distâncias especificadas; esses agrupamentos constituiríam uma linha de defesa avançada da povoação prin cipal. Mesmo sofrendo oposição ao seu plano39, Souza conseguiu ver o seu projeto executado. As plantas de Iguatemy mostram uma praça for te que não difere das guarnições renascentistas do século XVI que os portugueses construiram na índia. Uma muralha inclinada com redentes (projeções triangulares) circunda um conjunto uniforme de quadras internas; a praça rpincipal não está exatamente no centro (Figura 19).4(1 Durante toda a sua carreira, que durou até 1775, Antônio de Souza lutou para cobrir o seu território com comunidades primorosas e bem ordenadas. Perto do fim do seu mandato, ele exortou os administradores que nomeara a ter minarem as cidades planejadas nas primeiras fa ses do seu programa41 e a iniciarem a cosntrução de outras mais, em conformidade com os cânones em voga do bom desenho urgano.42 O go vernador atribuiu uma função a cada grupo dê comunidades assim criadas. As vilas situadas mais a oeste eram necessárias como trampolins Flg. 19 - Planta da praça forte de Iguatemy, aproximadamente 1785 7 6 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s para as terras espanholas e também para fornecer suprimentos e servir de ponto de descanso para mineradores esperançosos. Entre Cuiabá e Soroca ba, Souza esperava incentivar o cresci mento da produção pecuária e o fabri co de artigos de couro. Em relação ao sul e às vilas mais antigas dentro do seu âmbito de influência, o governador fomentou a agricultura intensiva basea da no cultivo de arroz, algodão e trigo.43 Como planificador de vilas, An tônio de Souza pertence àquela clas se especial de administradores que não apenas patrocinaram povoações como procuraram dotar tais projetos de um princípio diretor de base mais ampla. Junto com Mendonça Furtado, Luís An tônio de Souza coloca-se entre os pri meiros a aderirem ao axioma setecen- tista de que o bom governo era favore cido pelo crescimento urbano super visionado. N o Oeste do Brasil, Luís de Albu querque Melo Pereira e Cáceres, gover nador de Mato Grosso e um dos ex poentes da planificação de vilas, não era menos entusiasta pela criação de novas comunidades que seus confrades de Porto Seguro e São Paulo. O seu programa para transformar a capitania numa região viável e auto-sustentada do império português estava estreita mente ligado às ambições já sistemati zadas do governo relativas à via fluvial comercial Guaporé-Madeira-Belém. Como David M. Davidson mostrou no seu excelente estudo do sistema comer cial do Madeira, Fig. 20 - Planta básica de Albuquerque (atualmente Corumbá), Mato Grosso do Sul, 1784 os portugueses pretendiam pôr em prática uma espécie de projeto de desenvolvimento regional à maneira do Século XVIII que... implicava em graus mais detalhados de planejamento estatal para uma utilização racional de recursos escassos.44 Segundo Davidson45, enquanto o volume do comércio no rio Madeira não satisfez às ex pectativas durante as décadas de 1750 e 1760, a Coroa continuou a patrocinar a criação de feito- P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s Fig. 21A - Planta básica e situação de Vila Maria do Paraguay, cm Mato Grosso, 1784 rias (entrepostos comerciais) ao longo do rio. Duas dessas comunidades, São Miguel e Balse- mão, apresentadas inicialmente como modelares da nova organização urbana, haviam sido cons truídas na década de 1760.44 Nos anos 1770, quan do Luís de Albuquerque assumiu o seu posto, Pombal já havia traçado um programa abran gente para o rio que visava a revitalizar a via comercial. A fim de consolidar o comércio e evitar a má administração reinante, ele reco mendou que Mato Grosso restringisse o comér cio com o Rio de Janeiro, Salvador e outros por tos costeiros, privilegiando a comunicação com Belém do Pará. Porém muito mais notável foi a Fig. 21 B - Ilustração do àa-a-dia em Vila Maria do Paraguay 7 8 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s sua sugestão de que o comércio tomaria maior impulso se se utilizasse essa via fluvial para o tráfico de contrabando, sancionado pelo Estado, com as províncias espanholas de Quito, do Peru e do Orenoco.47 Esse plano secreto estava em operação quando Luís de Albuquerque foi nomeado go vernador. Sua função dentro do plano do co mércio pelo rio Madeira era fiscalizar o tráfe- godo rio e criar comunidades que pudessem fun cionar como entrepostos das mercadorias que chegavam das missões espanholas próximas. O progresso dessas novas povoações foi rápido, em boa parte devido ao zelo incansável do go vernador. Embora se houvesse predito que logo os espanhóis forneceríam aos portugueses rique zas preciosas (principalmente prata contraban deada das minas do Peru), na prática o comércio revelou-se medíocre. Como Davidson explica, as missões forneciam quase que somente gado em pé,... que, embora normalmente em falta em Mato Grosso,... era um sucedâneo decep cionante das riquezas da América espanhola.48 Se hoje, decorridos mais de 200 anos, essa observação é de uma clareza meridiana, tal possi bilidade certamente não fora levada emconta nos cálculos do governador, que se apressava em construir as suas comunidades na suposição de um futuro próspero garantido. Dois dos cen tros de comércio projetados foram fundados na região do Pantanal ao sul de Cuiabá, numa zona escassamente colonizada até aquela época. Albu querque, um arraial que representava o posto mais avançado do domínio português, foi cons truído para abrigar tanto índios como soldados. Seu aspecto geral, de disciplina e rígida organiza ção militar (Figura 20)49, estava em conformi dade com a sua função estratégica. A segunda povoação, Vila Maria do Paraguay, localizada a sudoeste de Cuiabá, no rio Paraguai, era forma da por casais indígenas, embora o governador esperasse posteriormente trazer famílias açoria- nas.50 Consoante as metas fixadas no termo de fundação, a nova vila atuaria como um ímã para os colonos dispersos nas circunjacências ime diatas; na realidade, vários habitantes da comu nidade eram índios da província espanhola de Chiquitos atraídos pelos portugueses.'1 Como Albuquerque, que recebeu o sobre nome do governador, Vila Maria era um modelo de regularidade e padronização (Figura 21)52. Supondo que o traçado seria seguido fielmente, Albuquerque enviou um carpinteiro ao local jun to com os engenheiros militares de costume. Uma estampa da vila, desenhada algum tempo depois da sua fundação, fornece um instantâneo notável da afanosa atividade cotidiana nas novas povoações. Nesse escorço (Figura 21B), vê-se uma longa praça ladeada por duas alas opostas de casas iguais. No primeiro plano, alguns índios estão lavando roupa no rio, enquanto uma canoa conduzindo portuguêses desliza diante deles a impressão imediata é de uma prosperidade bucó lica, um ideal que Albuquerque evidentemente imaginava estar reservado a todos os seus proje tos urbanos. Em 1783, cinco anos depois da fundação de Vila Maria e Albuquerque, o gover nador criou a comunidade de Casalvasco, num local oito léguas ao sul de Vila Bela. O sítio era uma estância predileta do governador, que passava uma temporada ali todo ano com seu círculo de amigos e sua família.53 Porém, do ponto de vista geopolítico, o mais importante era que Casalvasco ficava numa zona recente mente arrancada dos espanhóis pela comitiva de fronteiras responsável pela demarcação dos limites do Tratado de 1777.54 Albuquerque esta va ansioso por ocupar esse território, principal mente depois que os espanhóis relocalizaram a sua Missão de Santa Ana inquietantemente perto das terras reclamadas pelos portugueses.55 A co munidade de Casalvasco, “uma pequena povoa ção vulgar” dedicada principalmente à criação de gado, desempenharia assim um papel duplo, desencorajando as ambições espanholas obser vadas.56 A planta de Casalvasco, como convinha à estação de férias do governador, era de um estilo quase monumental; as edificações foram dis postas metodicamente em várias unidades bem definidas, mas articuladas. A primeira delas, a Praça da Victoria, quadrada e com um lado aber- 7 9 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s Fig. 22 - Planta básica dl Casalvasco, Mato Grosso do Sul, 1782 to, era contornada em três lados por uma fileira singular de árvores; nela estavam habitações para índios que dantes foram súditos da Espanha, o quartel para os soldados, os alojamentos dos ofi ciais, a residência do governador e o hospital. A segunda praça, também aberta de um lado, era igualmente orlada de árvores, mas era de nature za residencial. Atrás dessas praças ficava um largo passeio público ajardinado ladeado por duas alas de habitações com as frentes voltadas para ele; nos fundos de cada moradia havia um quintal para pomar nitidamente demarcado (Fi gura 22) ,57 Longe de ser apenas “uma pequena povoa ção vulgar” , Casalvasco revelou-se a única das três novas vilas que participou ativamente do tráfico de contrabando com os espanhóis.5* Vila Maria e Albuquerque, que se esperava desem penhassem um papel importante no comércio, foram superadas por Vila Bela e a fortificação próxima de Príncipe da Beira.59 Em contra-parti- da, as outras comunidades, em conjunto, funcio naram bem como um sistema de abastecimento e comércio independente do tráfico de contra bando. É bem possível que o governador real mente tenha previsto a possibilidade de fracasso da via fluvial do Madeira e tenha planejado essa rede regional de vilas nas zonas sulinas da sua capitania como uma precaução contra o desastre econômico. Acresce que, em virtude de todas as mercadorias, por lei, terem de vir do Pará, numa demorada e dispendiosa viagem, era sen 80 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s sato tornar a região de Mato Grosso tão auto- suficiente quanto possível. A rede foi calculada m eticulosam ente: A lbuquerque p roduziría gêneros alimentícios e madeira para constru ção; Casalvasco fornecería gado e sal, bem co mo salitre (nitrato de potássio ou sódio) para o fabrico de pólvora para o Forte de Príncipe da Beira. Vila Bela, dedicada ao comércio com as províncias espanholas, absorvería a produção de Casalvasco, enquanto Vila Maria e A lbu querque serviríam o crescente mercado de Cuia bá.60 Em 1786 um engenheiro em visita a Albu querque observou que essa povoação já havia produzido safras extraordinárias de milho e feijão e tinha estabelecido uma indústria cam- pestre de tecelagem de algodão, cuja produ ção era barganhada em Cuiabá por artigos de luxo.61 A sabedoria ao programa do governador Albuquerque é patente ainda hoje: enquanto Vila Bela (o centro de permuta de contrabando) teve a sua importância ofuscada, finalmente caindo em decadência em meados do século XIX, os centros de abastecimento de Albuquerque (hoje Corumbá, em Mato Grosso do Sul, Figura 23)62 e Vila Maria (a atual Cáceres, em Mato Grosso) são cidades importantes. Não só dotando as novas aglomerações de instalações excelentes, projetadas com vistas a perdurar, como também assegurando uma função econômica diferente a cada uma delas, Luís de Albuquerque revelou- se um dos melhores planificadores regionais do período colonial. Um último administrador esclarecido desse período é digno de menção: Luís da Cunha Me nezes, governador de Goiás de 1778 a 1783. Fig. 23 - Planta básica de Corumbá (antiga Albuquerque), em Mato Grosso do Sul, 1786 81 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s Fig. 24 - Planta básica ia Alicia Maria para os índios caiapós, Goiás, 1782 Como seus coirmãos supracomentados, Mene zes considerava a disposição urbana ordenada como um instrumento eficaz para manter con- ' trole sobre os seus governados. Isso é evidente na comunidade regulamentada que ele planejou para os índios caiapós, recentemente pacifica dos (Figura 24)“ , e em São José de Mossamedes (Figuras 25A e 25B)64, uma povoação indígena a oeste de Vila Boa. Em Mossamedes, a monoto nia costumeira das comunidades construídas pelo governo foi atenuada pelo detalhe decora tivo de cornijas festonadas nos prédios dos lados norte e sul da praça principal. Além disso, o lado sul foi ornamentado com uma arcada de dois estágios rebuscada que lembrava a entrada da praça do Comércio, em Lisboa. Outro ornato original eram as torres localizadas nos cantos da praça. Consoante a legenda da Figura 25A, “a perfeição tanto do exterior como do interior” devia ser imputada ao governador Menezes. Entretanto, os melhores esforços do governador no campo da planificação urbana concentraram- se em Vila Boa, a capital da província. Apesar de essa vila ter sido uma das primeiras comuni dades subordinadas ao código urbano, era dolo rosamente claro para o governador, quando ele assumiu o governo em 1778, que as ordens ini ciais não haviam sido obedecidas. Seu antecessor no governo de Goiás, José de Almeida de Vas concelos, tinha tentado reformar um pouco a vila durante o seu mandato (1772-1778), mas havia se contentado com pequenos melhoramen tos napavimentação das ruas e com o reparo da ponte.65 Cunha Menezes atacou o problema 8 2 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s Í M i Í “Í “Í ) J y , í l M - M I - t Fig. 25 A - Detalhe de São José de Mossamedes, Goiás, 1801 Fig. 25 B - Planta básica em perspectiva de São José de Mossamedes, 1801 8 3 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s com seu extraordinário entusiasmo e sua predile ção pela perspectiva ordenada. Numa declara ção clássica dos objetivos da planificaçâo de vilas portuguesas, o governador explicou ao ouvidor da comarca de Vila Boa as razões por que a co munidade precisava ser realtnhada. Relacio nando a regularidade da configuração das ruas com a regularidade do comportamento, Luís da Cunha Menezes expôs a teoria de que a boa ad ministração começava com a construção de vilas correta. Se uma perspectiva agradável pudesse ser conseguida por meio do alinhamento das ruas e da uniformização das fachadas, então se podia esperar que os habitantes da localidade seguissem o exemplo mostrassem uma conduta civil decente. Assim sendo, o governador propu nha que daí por diante todos os prédios a cons truir e reconstruir em Vila Boa se ajustassem a um plano diretor, para que a capital provincial pudesse compartilhar “do sistema praticado em todas as nações mais civilizadas da Europa”.* A intenção do plano diretor de Menezes é enunciada claramente no parágrafo inicial da sua legislação de planejamento: Desejando evitar doravante a mesma irregula ridade com que os fundadores desta capital construíram os prédios, que estão estragados pelo desalinhamento,... eu determino que a partir de agora a nova forma apresentada nos parágrafos a seguir seja cumprida sem infrações, do que resultarão benefícios, não só para a po voação em si como para os seus habitantes.” A primeira prescrição da lista de reformas urba nas do governador foi a exigência de que não se podería mais construir fora do perímetro urba no, visto que muitas das ruas já existentes eram pouco povoadas. Além disso, todas as novas habitações não só tinham de ser localizadas em ruas alinhadas como deveríam obedecer às nor mas relativas à uniformidade das fachadas, a fim de manter “uma perspectiva agradável e a civili zação”. Para a praça da vila onde o alto custo impedia a reconstrução das casas dentro das “novas proporções”, o governador recomendou que todos os prédios fossem pintados numa mesma cor, obtendo-se assim uma aparência de regularidade. O arruador da vila (fiscal demar- cador) foi encarregado da execução do projeto; ele seria orientado por um plano diretor68 que continha desenhos de ruas recém-mapeadas e de fachadas possíveis para os prédios da praça principal. A regularidade dos novos elementos urbanos representava um contraste total com o núcleo aleatório da vila, resultante da cons trução apressada dos anos 1730. Como seus contemporâneos José Xavier Machado Monteiro, Antônio de Souza e Luís de Albuquerque, Luís da Cunha Menezes estava convicto da necessidade de regulamentar o de senvolvimento urbano. Trabalhando em regiões geograficamente longínquas e economicamente atrasadas da colônia, esses administradores con seguiram criar redes urbanas “modernas” e eco nomicamente eficientes. Os índios e os erra- bundos afetados por esses planos regionais fo ram submetidos a um meio europeu até então desconhecido nas zonas provincianas. O obje tivo final desses administradores era aquele atributo impalpável de “civilização”; e uma co munidade urbana estritamente controlada era o primeiro passo para introduzir aquele atributo no Brasil. Porém, racionalizações altruísticas à parte, era claro que a Coroa é que tinha a ga nhar, como a maior beneficiária das mudanças introduzidas no interior; ordem e regularidade no nível local assegurava o controle absoluto sobre toda a colônia. (1) Uma grande parte do material deste capítulo foi publicada em “Planners and Reformers: Urban Architects of Late Eighteenth Centu ry Brazil”, de Roberta Marx Delson, in Eigbteentb-Century Studies, vol. 10, na 1 (outono de 1976), pp. 40-51. (2) Ver também minha comparação dos planos de colonização pós-1964 com as colônias sub sidiadas do século XVIII. R. M. Delson, “Co lonization and Modernization”, op. cit., pp. 281- 313. 8 4 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s (3) Tomás Canceiro de Abreu, “Relação sobre as villas e rios da Capitania de Pôrto Seguro”, in ABNRJ, vol. XXXII (1914), p. 38. (4) Relatório do Ouvidor de Porto Seguro, José Xavier Machado Monteiro, Porto Seguro, abril de 1773. AHU-CA, Bahia, 8581. (5) “Leis municipais e provinciais para o bom go verno da nova Vila Viçosa”, de 24 de fevereiro de 1769. AHU-CA, 7974, apenso ao 7972. (6) Essa determinação seguiu os padrões gerais de comportamento estabelecidos pelos portugue ses para as comunidades indígenas. Ela é men cionada nas “Instrucções para o governo dos índios da Capitania de Pôrto Seguro” enviadas a Machado Monteiro, documento datado de 27 de julho de 1777. AHU-CA, Bahia, 9494, anexo ao 9492. (7) Carta de Machado Monteiro ao Rei, de Porto Seguro, 24 de fevereiro de 1769. AHU-CA, Bahia, 7972. (8) Ibidem, “. . . o devido formulário”. (9) Figura 15 - Planta básica de Vila Viçosa, apro ximadamente 1769. AHU-Iria, na 179; Figura 16 - Planta da nova vila de Portalegre, apro ximadamente 1772, AHU-Iria, na 180; Figura 17 — Planta da nova vila de Prado, aproximadamente 1772, AHU-Iria, n° 181. (10) Ver a explanação sobre Macapá. (11) Carta de Machado Monteiro ao Rei, de Porto Seguro, 10 de maio de 1770. AHU-CA, Bahia, 8215. (12) Por este modo . . . todos os moradores (ficão) huns sem inveja dos outros.” In “Provimentos e instrucções do Ouvidor... Machado Montei ro, relativos a fundação da Villa Viçosa”, Porto Seguro, 1768, AHU-CA, Bahia, 7975. (13) “Relação individual d o . . . Ouvidor da Capita nia de Porto Seguro... desde o dia 3 de maio de 1767 athé o fim de Julho de 1777”, AHU- CA, Bahia, 9147. (14) De acordo com o “Mappa e descripção da Cos ta, Rios e seus terrenos, de toda a Capitania de Porto Seguro... feito e examinado pelo Capi- tão-mor João da Silva Santos... Principiado em abril de 1803”. AHU-CA, Bahia, 27.113, apen so ao 27.008. (15) Carta de Dom Luiz Antônio de Souza ao Con de de Oeiras (um dos dois títulos nobiliárquicos do Marquês de Pombal), de São Paulo, 23 de dezembro de 1766. (16) Dauril Alden, Rmai Government in Colonial tíraril p. 460. (17) Carta de Souza ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 24 de dezembro de 1766, DIHSP, vol. XXIII, pp. 40-43. (18) “Ordem para que os moradores se ajuntem em Povoações civis de cincoenta vizinhos para ci ma”. Souza faz referência a essa ordem na sua correspondência com o Conde de Oeiras de 23 de dezembro de 1766. DIHSP, vol XXEU, p 8. (19) “Portaria que levou o D.or Juiz de Fora quan do foi para Santos”, de São Paulo, 15 de se tembro de 1766. BNRJ-RC, Lista 1, fls. 67-68v. (20) Mathias Leme tinha o prazo de 15 dias para se mudar para “qualquer lugar arruado”. São Paulo, 19 de setembro de 1768, BNRJ-RC, Lista 1, fl. 164. (21) Em 1769 Souza resolveu que o arraial de Fa xina, situado entre Curitiba e Sorocaba, tinha “bastante numero de moradores, e suficien tes cazas arruadas para se lhe poder dar o nome de Villa”, BNRJ-RC, Lista 1, fl. 164. São Paulo, 29 de junho de 1769. (22) “Ordem p.a Se Suspender a Capela de S. Ant.o de Mogiguasu...”. São Paulo, 15 de novembro de 1769. BNRJ-RC, Lista 1, fls. 178v-179. (23) Correspondência do Ouvidor de Parnagoa [sic\ a Luís Antônio de Souza, de Santos, 2 de fevereiro de 1766. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 24. Essa isenção incluía tanto os ajudantes como os ordenanças. (24) Correspondência de L. A. de Souza ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 9 de fevereiro de 1768, DIHSP, vol. XXTTT, p. 418. (25) Planta de Guaratuba in “Cartas Corogra- phicas e Hidrographicas de toda a Costa e Portos da Capitania deSão Paulo... levan tadas pelo Coronel João da Costa Ferreira” (1790?). SGL, MS, na 57. (26) “Officio de José Custódio de Sá e Faria ao Capitão-General Martim Lopes Lobo de Sal danha”, de São Paulo, 22 de fevereiro de 1776. AHI, Lata 267, Maço 6, Pasta 17. (27) Correspondência de Luís Antônio de Souza ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 24 de de zembro de 1766, DIHSP, vol. XXIII, p. 38. (28) Correspondência de Luís Antônio de Souza ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 24 de de zembro de 1766. DIHSP, vol. XXIII, p. 38. 8 5 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s (29) Esse tato foi assinalado por L. A. de Souza em sua carta ao Conde de Oeiras de São Pau lo, 27 de março de 1767. DIHSP, vol. XXIII, p. 150. (30) Os termos (limites legais) de Curitiba, em Santa Catarina, e Viamão, em Rio Grande de São Pedro, não haviam sido fixados defini tivamente. Assim sendo, quando Luís Antô nio de Souza autorizou o capitão-mcr Antô nio Correa Pinto a localizar uma nova comu nidade entre esses dois núcleos urbanos já existentes, automaticamente lançou o seu agente num litígio jurisdicional inconcluso. Ver Américo Brasilense Antunes de Moura, “Governo do Morgado de Mateus no vice- reinado do conde da Cunha: São Paulo res taurado”, in Revista do Arquivo Municipal (São Paulo), vol. U I (1938), pp. 9-155. (31) “Ordem para que todos os moradores do Certão das Lagens fação Cazas na Villa que se manda formar naquela paragem”, de São Paulo, 6 de agosto de 1768. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 131v. (32) Os conceitos de planejamento de L. A. de Souza para Lages estão especificados na sua “Portr.a para formatura da nova Villa do Certão das Lagens”, de Ia de agosto de 1768. BNRJ-RC, Lista 1, fl.131. Consoante esse documento, o governador de São Paulo ordenou que “esta [Lages] seja formada em quadras de sessenta, ou oitenta varas [metros] cada hua, e dahy para cima, e que as ruas sejão de sessenta palmos de largura, mandan do formar as primeiras cazas nos ângulos das quadras, de modo que fiquem os quintaes p.a dentro a intestar huns com os outros”. Esse desenho, em que os cantos das quadras seriam chanfrados, pode parecer muito com a planta de Balsemão (cf. Figura 10). (33) Manuel Joaquim Almeida Coelho, Memória Histórica da Província de Santa Catharina (Typographia Desterrense, Desterro, 1865), pp. 178-179. Um esquema do século XVIII da comunidade encontrado no “Diário da rotina da expedição exploradora chefia da pelo Brigadeiro José Custódio de Sá Fa ria, 1774-1776” (AHI, Lata 288, Maço 6, Documento 1) confirma o emprego de uma disposição em malha ortogonal no traça do inicial. O governo atualmente proíbe a reprodução desse mapa em virtude da cate goria em que o documento foi classificado (34) Victor Peluso Júnior, “Tradição e plano urba no: cidades portuguesas e alemãs no estado de Santa Catarina”, ir. Boletim Geográfico, ano XIV n“ 133 (1956), pp. 3.35, 352 et passim. (35) DIHSP, vol. XXIII, p. 42, n2 1. Essa parece ser a explicação mais plausível. (36) Correspondência do governador L. A. de Souza ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 17 de se tembro de 1765. AHI, Lata 267, Maço 6, Pasta 12. A sua descrição mordaz da vida dos índios entre os jesuítas não é diferente da de Robert Southey, que publicou um relato do Brasil no começo do século seguinte. Ver o subtítulo “The Guarani Mission: The Despotic Welfare State” (A missão guarani: o despótico Estado do bem-estar social) da sua History of Brafil (2 vols., Londres, 1817), reeditado em Magnus Mõmer (editor), The Expulsion of the Jesuitsfrom Latin America (Alfred A. Knopf, Nova York, 1965), pp. 55-62. (37) Correspondência de L. A. de Souza a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, de São Paulo, 4 de julho de 1767. BNRJ-RC, Lista 2, fl.7. (38) “Ordem p.a ser Director José Fry da Aldea de Carapicuiba”, São Paulo, 12 de julho de 1769. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 165v. De acordo com essa ordem, os índios deveriam ser reunidos e receber casas em ruas alinhadas a fim de poder viver com a “civilidade apropriada”. (39) Uma análise dessa oposição pode ser encon trada em Dauril Alden, Rojai Government in Colonial Brafil, pp. 462-465. (40) Figura 10 - “Demonstração da Praça de N. S.ra dos Praseres”, BNRJ-SI, Arq. 23-10-6 (o forte é mencionado ora como Praseres, ora como Iguatemy, por causa do rio junto ao qual se situava). (41) Ver “Portr.a p.a o Sargento-mor. . . completar a erecção da nova V.a da Faxina no termo de seis mezes”, São Paulo, 16 de maio de 1772. BNRJ-RC, Lista 1, fls. 312-313. (42) Por exemplo, as ordens para usar de regulari dade no desenho das edificações são repetidas na “Ordem p.a o Satgto... erigir hua Povoação... chamada Caraguatatuba”, São Paulo, 27 de setembro de 1770. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 205. (43) Uma análise dos planos econômicos de L. A. de Souza para as zonas a desenvolver pode ser 86 P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s encontrada em Ernâni Silva Bruno, Viagem ao País dos Paulistas 0osé Olympic, Rio de Janeiro, 1966), pp. 83-104 et passim. (44) David M. Davidson, op. cit., p. 145. (45) Ibidem, pp. 140-227. (46) Ver o Capítulo VIII, seguinte. (47) David M. Davidson, op. cit., pp. 191-192. (48) Ibidem, p. 198. (49) Figura 20A - “Perfil da Povoação de Albu querque”, 1784, MU-CI n2 15; Figura 20B - “Plano da direcção e forma con que se acha estabelecida a Povoação de Albuquerque”, sem data, MU-CI, n2 16. (50) “Termo de Fundação de Vila Maria do Para guay”, de 5 de junho de 1779, IHGB, Lata 61, Doc. 11. (51) Carta de Luís de Albuquerque Melo Pereira e Cáceres a Martinho de Mello e Castro, apen- sa ao ‘Termo de Fundação”, IHGB, Lata 61, Doc 11. Ver também J. C. Freitas Barros, Um Quadro e uma Figura: O Mato Grosso e Luís de Albu querque (Lisboa, 1951). Segundo esse relato, o nú mero de índios reassentados em Vila Maria foi de 78. Além deles, outros colonos foram atraí dos para a nova comunidade, e àquela altura a população total era de 239 habitantes (ver p. 13). Outra sinopse da fundação de Vila Maria pode ser achada em “Vila Maria do Paraguay e providencias para o seu engrandecimento”, in RIHGB, vol. XXVIII, n21 (1865),pp. 110-117. (52) Figura 21A - “Planta de Villa Maria do Paraguay”, 1784, MU-CI, n2 68A; Figura 21B - Villa Maria, sem data, MU-CI, n2 45. (53) Virgílio Correa Filho, “Luiz de Albuquerque: fronteiro insigne”, in Anais do Terceiro Congresso de História Nacional (Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1942), p. 196. (54) Isso está registrado nos ofícios do governador Luís de Albuquerque a Martinho de Mello e Castro (1772-1800). AHI, Lata 266, Maço 1, Pasta 12. (55) Virgílio Correa Filho, As Raias de Mato Grosso (São Paulo, 1925), vol. IV, p. 99. (56) Correspondência de Luís de Albuquerque a Martinho de Mello e Castro (1772-1800) de 26 de novembro de 1763. AHI, Lata 266, Maço 1, Pasta 12, D oc D. (57) “Planta da nova povoação de Cazalvasco . . . , erigida no anno i?82”, MU-CI, n2 Al. (58) vide M. Davidson, op. cit., assinalou diversas transações ocorridas em Casalvasco já em 1784. Ver o seu Apêndice 4, Quadro K, p. 462. (59) Q Forte de Príncipe da Beira também foi construído sob a orientação de Albuquerque. Para obter dados sobre as barganhas feitas no forte e em Vila Bela, ver ibidem. (60) O documento em que esse plano regional está exarado não tem assinatura nem data, mas parece ser da lavra do governador Luís de Albuquerque. Está contido em “Documentos com diversas anotações sobre a região, 1772- 1805”, AHI, Lata 266, Maço 2, Pasta 4. (61) “Diário da diligencia da Comissão chefiada pe-lo Engenheiro Ricardo Franco, 1785- 1786”. Essa observação foi feita em junho de 1786. AHI, Lata 266, Maço 1, Pasta 21. (62) “Planta da Villa de Corumbá. . . . Outubro de 1876”, MIGE n2 1175. (63) Figura 24 - “Plano projeto de hu [um] novo estabelecimento de índios da Naçao Cayapo margem do Rio Fartura e denominado Aldeya Maria... . 1782”. AHU-Iria, n2 84. (64) Figura 25A -“Perspectiva da Igreja e Quartéis da Aldeia de S. Jozé de Mossamedes. 1801”; Figura 25B - “Aldeia de S. Jozé de Mossa medes”, aproximadamente 1801. Ambos os mapas pertencem ao acervo da Biblioteca Municipal de São Paulo, MS D3. (65) Ernâni Silva Bruno, Grande Oeste, vol. VI, História do Brasil, pp. 66-67. O Capítulo IV contém uma análise da evolução de Vila Boa. (66) Carta do governador Luís da Cunha Menezes ao Ouvidor Antônio José Cabral de Almeyda contendo instruções sobre o realinhamento da vila, datada de Vila Boa, 28 de dezembro de 1778. BNRJ, IV-13-14-10, Documento 17. (67) Roteiro para o realinhamento de Vila Boa, sem assinatura nem data. Esse documento prova velmente foi escrito em 1778 por Cunha Menezes. Faz parte do acervo da BNRJ, IV- 14-4-10, Documento 16. (68) Ver as Figuras 5A e 5B, no Capítulo IV. 8 7 Capítulo III A arborização das cidades brasileiras no fim da era colonial No final da dominação pombalina em 1777, com a adaptação bem-sucedida do modelo de planificaçâo de vilas padronizado a regiões geo graficamente diferentes, os portugueses estavam aptos a para voltar siia atenção para os aspectos paisagísticos do desenvolvimento urbano. Des- curados no início do século, na pressa de ordenar as ruas e regulamentar as fachadas dos prédios, os jardins e a arborização agora começavam a ser incorporados às composições urbanas. Como nos primeiros exemplos de planejamento já exa minados, esse novo cuidado urbano refletia as preferências européias da época pela arboriza ção extensiva: No século XVII, caracterisricamente, a maior parte dos hortos de recreio situavam-se fora das cidades. Ainda não se empregavam árvores no planejamento de ruas ou praças. Só no sécu lo XVIII ocorreu uma mudança. As novas idéias foram aplicadas até mesmo nas chamadas vilas coloniais, como as povoações militares fundadas por Maria Theresa,... e em Carouge, distrito de Genebra, desenhado por Laurent Giardive em 1784. As cidades eram circunda das por aléias duplas de árvores, e não mais por muralhas, e em alguns lugares as aléias pe netravam até o centro.1 No Brasil, os primeiros projetos paisagísti cos foram desenhados para postos avançados remotos e comunidades indígenas. Como já foi visto, Casalvasco tinha praças orladas por alas de árvores rigorosamente alinhadas, enquanto na comunidade indígena de Aldeia Maria, em Goiás, a praça principal era ornamentada por uma cercadura de árvores alinhadas e plantadas a intervalos regulares. Nesses exemplos, a arbo rização realçava a natureza ordenada da compo sição urbana; árvores dispostas ordenadamente davam a impressão de uniformidade. Conco mitantemente, o toque da arborização também tinha uma função ecológica, de acordo com as convicções fisiocráticas dos intelectuais brasi leiros do final do século XVIII, segundo as quais a verdadeira fonte da riqueza de um país era a terra cuidadosamente tratàda.2 Assim sendo, a câmara de Sabará determinou que todos os que possuíssem terras atravessadas por cursos de água eram obrigados a plantar árvores de raízes profundas (como cedros e pinheiros) nas suas margens a fim de impedir a erosão do solo. Pela mesma razão, a câmara exigiu que no futuro as beiras das estradas fossem plantadas com fileiras de árvores, que proporcionariam conforto e “prazer” aos viajantes, bem como frutas para as pessoas com fome que se encontrassem nas proximidades dessa vila mineira.3 Nessa mesma época, as cidades costeiras tradicionais também estavam experimentando uma revivescência do verde. Em vez dos primei ros jardins de recreio aristocráticos plantados em Vila Bela pata o desfrute exclusivo do gover nador (ver Figura 6), os administradores portu gueses agora procuraram oferecer espaço de recreação mais para o público em geral. Esses parques não só constituiríam centros de recreio para os habitantes da cidade como serviríam de cenários para jardins botânicos, onde se pudesse 8 9 A ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL levar a efeito a experimentação agronômica. O Horto Botânico de Belém, organizado em 17814, foi criado para esse fim, assim como os jardins botânicos de Salvador e do Rio de Janeiro.5 Porém foi no Rio de Janeiro que o jardim público, projetado exclusivamente como passeio, alcançou o mais alto requinte. Uma lenda popu lar carioca muito conhecida afirma que o vice- rei Luís de Vasconcelos (1779-1790), ao passar, ouviu uma mocinha comentar que nos seus devaneios ela havia imaginado a área pantanosa da orla da cidade transformada num jardim mag nífico.6 Talvez motivado por essa inspiração oportuna ou, o que é mais provável, pela com preensão mais racional de que o paul infestado de mosquitos representava uma ameaça séria à saúde, o vice-rei ordenou a criação de um jardim de recreio no local do pântano. O arquiteto Va- lentim Fonseca e Silva, que estudara em Lisboa e voltara para o Brasil com uma inclinação pelo desenho europeu, foi quem traçou a configura ção excessivamente formal que o jardim teria; ele parecia-se com uma perfeita miniatura dos jardins do Palácio de Versailles (perto de Paris), com as mesmas alamedas longas e canteiros si métricos.7 Esse desenho de inspiração francesa do Passeio Público durou até o meado do século XIX, quando foi substituído pelo estilo em voga do “jardim inglês” de forma livre.8 Entretanto, nas cidades mais antigas, o es pírito reformista foi além das mudanças consa gradas no paisagismo. Por exemplo, em Salva dor, cidadãos de mentalidade progressista defen diam a necessidade de uma zona portuária mais limpa. Como observara o bem informado escri tor José da Silva Lisboa, a Cidade Baixa era den samente povoada, e as ruas estreitas e escuras tornavam-na ainda mais desagradável.9 Os atra- cadouros deteriorados da orla da Cidade Baixa contribuíam para o quadro geral de desmazelo. Para remediar essa situação lamentável, a câmara resolveu, com o apoio dos comerciantes do local, reconstruir a zona portuária, com um sistema de cais, rampas de estaleiros e novos prédios comerciais cuidadosamente regulamentados. Essa benfeitoria pública deveria ser custeada por taxações, por volume, sobre as mercadorias que transitassem pelo porto.10 Em seguida a essa proposta inicial, foram desenhadas plantas que mostravam a localização de um paredão de con tenção em todo o contorno da Cidade Baixa. A finalidade explicita desse paredão era estabe lecer uma barreira protetora, para evitar a queda de entulho no bairro da Cidade Baixa.11 Entre tanto, o verdadeiro móvel dessa providência era o desejo oculto de conter o crescimento da Baixa e, assim, evitar a contaminação gradativa da Ci dade Alta, mais elitista, pela expansão da favela da Cidade Baixa. Outra preocupação das autoridades da ci dade era a aparência geral das ruas da cidade. Embora Salvador não fosse mais a capital do Brasil12, ainda era uma metrópole importante, com um potencial de crescimento notável. Reco nhecendo esse fato, os próceres da cidade resol veram que daí em diante as construções em Salvador teriam de se ajustar às noções de ordem e regularidade (a essa altura corriqueiras no inte rior) para emprestar à cidade um aspecto de sofisticação. Nessas condições, em 1785 a câ mara elaborou um novo código de construção para a cidade, em conformidade com as reco mendações dos fiscais da prefeitura. O histo riador Robert C. Smith qualificou essas normas precisas de construção como “da maior impor tância para a história da arquitetura colonial no Brasil”.15 O novo código continha regulamen tações (já em largo uso no sertão) sobre as altu ras dos prédios, as proporções aceitáveis para janelas e portas, bem como limitações insólitas sobre o uso de sacadas em pisos no nível das ruas. Daí em diante prestar-se-ia atenção ao ali nhamento da rua, e o descumprimento dos no vos regulamentos seria punido com a prisão e multas severas.14 O Rio de Janeiro não ficou muito atrásde Salvador na adoção de códigos de construção. Acresce que a Aula de Fortificação, recém-refor- mada, estava produzindo um fluxo constante de diplomados, amplamente capacitados a em preender a tarefa. Em 1792 o Conde de Resende determinou que todos os alunos da academia 9 0 A ARBORIZAÇAO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL militar deveriam estudar arquitetura civil no sexto ano do curso; eles estudariam carpintaria e cantaria e a arte da ornamentação, bem como os métodos de construção preferidos. Já que se esperava que eles contribuíssem com o seu co nhecimento em importantes projetos de obras públicas, esses futuros engenheiros seriam ins truídos na arte da construção de pontes e canais, assim como em construção e pavimentação de estradas.15 Assim, esses técnicos bem preparados poderíam ser convocados em qualquer situação que requeresse os seus conhecimentos, como a construção de casas na cidade vizinha de Niterói, em terras pantanosas recuperadas.16 Até a provinciana São Paulo foi contagiada pelo espírito da reforma urbana. Tomando as diretrizes do governador Luís Antônio de Souza como roteiro, os administradores da cidade ago ra trabalhavam para corrigir os equívocos urba nos anteriores. O alvo principal de benfeitorias era o espaçamento irregular das ruas, que tinham desafiado o realinhamento repetidas vezes. Em 1792 o aspecto futuro de São Paulo havia sido mapeado no chamado “Plano Topographico”, um plano diretor em que se prescrevia o alinha mento para novas zonas da cidade. Todavia, essas disposições não foram executadas senão em 1808, e o velho centro da cidade, praticamen te inalterado, continuou a dificultar as comunica ções. Em 1809 uma legislação real exigiu o plantio de árvores nos primeiros jardins públicos da municipalidade, na vaga esperança de que a arborização de certo modo camuflasse e com pensasse as deficiências flagrantes nas zonas mais antigas e não planificadas da capital bandei rante.17 Como se vê, no resto do século XVIII o destaque à retilineidade e à regularização conti nuou, agora estendendo-se aos centros urbanos mais antigos. Essa mudança de pólo geográfico do urbanismo moderno foi acompanhada por um aumento do número de povoações promovi das a vila principalmente nas capitanias litorâ neas. Com efeito, nas décadas de 1780 e 1790, pelo menos 23 comunidades18 foram elevadas à categoria de vila, das quais 16 se concentravam no eixo entre a Bahia e São Paulo. É certo que a maioria dessas vilas foram criadas a partir de povoações já existentes, porém nos casos em que as aglomerações se originaram do nada (inclusive as aldeias indígenas), elas tenderam a ajustar-se às novas normas urbanas.19 Em contrapartida, as regiões que haviam figurado tão destacadamente nos planos urbanís ticos das décadas anteriores agora assistiam a um decréscimo de atividade simétrico. Nas déca das de 1780 e 1790, apenas duas novas vilas fo ram criadas oficialmente no Norte, enquanto no Centro e no Oeste sabe-se que absolutamente nenhuma povoação foi promovida a vila nesse mesmo período.20 Evidentemente as autoridades da Coroa estavam percebendo que agora não era neces sário criar tantas vilas oficiais no interior como dantes. Em termos puramente econômicos, essa mudança justificava-se pelo enorme declínio da renda produzida por essas regiões. De 1788 a 1798, a decadência da situação econômica tanto do Pará como de Mato Gros so acarretou um decréscimo no comércio, ao ponto de as autoridades temerem que a estag nação total fosse iminente.21 Da mesma forma, a dissolução simultânea das companhias comerciais do Grão Pará e do Mara nhão precederam uma contração econômica ge ral nas capitanias do Norte. Havia chegado o tempo de reduzir os cus tos, e isso era mais evidente ao longo da via co mercial fluvial Guaporé-Madeira que em qual quer outro lugar. Embora a construção não ces sasse por completo, os administradores agora mostravam menos preocupação com a uniformi dade das fachadas que dantes. Por exemplo, um memorandum de 1797, em que se requeria a criação de mais uma comunidade no Salto da Cachoeira, fez referência aos gastos feitos pelos portugueses na construção de São José de Maca pá e outras comunidades povoadas por colonos açorianos. O autor do memorandum, o enge nheiro e sargento-mor Ricardo Franco de Almei da Serra, indicou que uma maneira de reduzir os custos no Salto seria manter um traçado urba- 9 1 A ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL Fig. 26 - Planta básica de Unbares, no Espirito Santo, 1819 no ordenado, mas eliminar as exigências estilísti cas quanto às habitações.22 O governador Souza Coutinho aceitou a sugestão do seu engenheiro e decidiu que os habitantes da nova comunidade podiam construir suas casas conforme “seus meios e seus caprichos”.23 Desse modo, o Tesou ro Real arcaria apenas com o dispêndio de trans portar imigrantes para a nova colônia e construir a igreja e o hospital público. Diferentemente do procedimento adotado nos primeiros planos de colonização com açorianos, o governo agora assumiria a responsabilidade apenas de fornecer instrumentos aos colonos, em vez de dotar cada família de uma unidade residencial padronizada. Mesmo em Portugal, os administradores do final do século XVIII reconheciam que a unifor midade, embora a seu ver estilisticamente prefe rível, muitas vezes era financeiramente onerosa. Assim sendo, em 1805 as autoridades de Lisboa resolveram que nas ruas e praças principais da cidade, o aspecto geral já aprovado e estabelecido para a sua construção será observado, e nas demais [os habitantes] terão permissão para introduzir as inovações e variações no aspecto que sejam mais apropriadas ao gosto, conforto e disponi bilidade de capital de cada um dos que cons tróem esses [prédios].24 Por fim, nas áreas do Brasil consideradas urbanisticamente inviáveis, a Coroa poderia, co mo último recurso, passar contratos a particu lares para fundarem as suas próprias comunida des. Na realidade esse mecanismo havia existido já em 1686, quando se concedeu a colonos o di reito de estabelecerem aldeias indígenas. Entre tanto, uma legislação posterior tornou quase 9 2 A ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL impossível particulares administrarem esses estabelecimentos; paraieiam ente ao enorm e dispêndio que um empreendimento dessa natu reza requerería, essa legislação restringia a sua prática.25 Mesmo assim, alguns empreendedo res, sempre ávidos pela mão-de-obra indígena, tentaram fundar comunidades desse tipo, apesar dos riscos financeiros certos. Por exemplo, em 1768 Manuel da Rocha Pereira encaminhou um requerimento ao governo pedindo permissão para estabelecer uma aglomeração para os po bres na capitania do Rio de Janeiro. Ele explicou que essa povoação não precisava ser sofisticada; as casas poderíam ser cobertas com sapé, em vez de telhas, que seria o preferível, e os habitan tes poderíam manter-se através da agricultura e da pesca. Consoante esse colonizador altruísta, o objetivo era “desviar muitas almas do inferno”; quanto ao seu interesse pessoal no empreendi mento, nenhuma menção é feita.26 Alguns pretendentes à construção de vilas submeteram as plantas das suas povoações à aprovação do governo. Uma das mais inusitadas foi o desenho da futura vila agrícola de Jesus Maria, na capitania de São Paulo. Para essa co munidade, o projetista ideou uma configuração concêntrica; ruas circulares de casas alternavam- se com faixas de pomares e plantas decorativas, enquanto o centro do círculo foi reservado para a igreja.27 Todavia, esse projeto surpreendente não é tão original quanto parece à primeira vista. Plantas de aldeias indígenas maranhenses do final do século XVII apresentam uma seme lhança notável na disposição das casas e na arbo rização com o desenho da vila de Jesus Maria de 178028, e, como observou Aroldo Azevedo, muitas comunidadesindígenas autóctones do Brasil eram cercadas por estacadas circulares.29 Não obstante esses afastamentos ocasionais do modelo regulamentar, ditados por razões financeiras, a preferência pela retilineidade e pelo equilíbrio simétrico permaneceu constante em todo o final do século XVIII. Esses conceitos tiveram aceitação nas zonas costeiras nas déca das de 1780 e 1790, quando um grande número de vilas planejadas apareceram na paisagem. Por exemplo, a pequena comunidade de Linhares, no Espírito Santo (Figura 26), tem um traçado em malha ortogonai que não difere do das cida des interioranas do meado do século XVUI.34 Com a “Independência” do Brasil em 1822, o Império deu seguimento às preferências estilís ticas do Brasil barroco, declarando que o cres cimento urbano padronizado era não só desejá vel como verdadeiramente obrigatório. Assim, a Lei de Organização Municipal, de 1828, que' estatuiu as diretrizes para o crescimento urbano no País no século XIX, continha instruções precisas para as prefeituras no que se referia à configuração urbana. As câmaras municipais deveríam não só zelar diligentemente pela con servação e pela aparência das suas respectivas cidades, mas também procurar conseguir, o tem po todo, a “elegância e a regularidade exterior dos prédios e ruas”.31 (1) E. A. Gutkind, The Twilight of Cities (The Free Press, Nova York, 1962), p. 38. (2) Entre os incentivadores das idéias fisiocráticas de maximização da produtividade da terra no Brasil no final do século XVIII figuram José Vieira Couto e José de Sá Bittencourt. E. Bradford Burns, em A History of Brazil, pp. 95-96, analisa a influência do pensamento fisiocrata no Brasil. (3) Posturas da Câmara Municipal de Sabará, artigos 102 e 103, sem data. Esse código foi transcrito em Augusto Lima, A s Primeiras Vilas do ouro (Belo Horizonte, 1962). (4) Ver Rocha Penteado, op. cit., vol. I, p. 111. (5) O Jardim Botânico do Rio foi construído por imposição do príncipe regente Dom João VI, depois da transmigração da família real para o Brasil em 1808. (6) Essa lenda é apreciada em Brasil Gérson, His tória das Ruas do Rio de Janeiro (Editora Souza, Rio de Janeiro, 3a edição, sem data), pp. 230-231. (7) “Planta do Passeio por volta de 1850”, cons tante em José Mariano, O Passeio Público do Rio de Janeiro, 1779-1783 (C. Mendes Júnior, Rio de Janeiro, 1943). 9 3 A ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL (8) “Planta do Passeio Público depois da reforma radical realisada por Glaziou (1862) , ibidem. (9) Carta de José da Silva Lisboa ao Dr. Domin- goVandelli, diretor do Real Jardim Botânico de Lisboa, da Bahia, 18 de outubro de 1781. AHU-CA, Bahia, 10.907. (10) O governador Manuel da Cunha Menezes apoiou esse projeta Ver mapa do “.. .Prospec to da Obra que pretendem fazer os Nego ciantes da Cidade da Bahia”, aproximadamente 1776. AHU-Iria, n“ 183. (11) “Projecto do novo paredão para conter o impurrão das terras que ameasão queda sobre toda a extensão baixa”, aproximadamente 1786. AHU-Iria, n“ 186. (12) A capital foi transferida para o Rio de Janeiro em 1763. (13) Robert C. Smith, “Documentos Baianos”, RSPHAN, vol. IX, p. 94. (14) As ordens completas, datadas de 15 de novem bro de 1785, encontram-se ibidem, pp. 95-96. Em 1809 o uso de venezianas mouriscas foi totalmente proibido, “que he propio para o me lhoramento e elegancia não só em particular, da erecção dos Edifficios, mas em geral dos prospectos, semetria e ordem regular, das pra ças e Ruas...”, in Robert C. Smith, op. cit., p. 99. Uma anãlise do plano de realinhamento de 1785-1786 pode ser encontrada em Affonso Ruy, História Política e Administrativa da Cidade de Salvador (Tipografia Beneditina Ltda., Bahia, 1949), p. 318. (15) “Estatutos da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho da Cidade do Rio de Janeiro”, de 17 de dezembro de 1792, Conde de Resende, BNRJ, 1-32-13-27. (16) Niterói, denominada Praia Grande, situada defronte ao Rio de Janeiro, do outro lado da baía de Guanabara, foi projetada no começo da década de 1820. (17) Ver Gilberto Leite de Barros, A Cidade e o Planalto: Processo de Dominância da Cidade de São Paulo (Livraria Martins, São Paulo, 1967), vol. I, pp. 223-225. (18) Aroldo Azevedo, Vilas e Cidades, pp. 37-45. (19) A malha ortogonal é evidente na “Planta da freguezia de São Fidelis”, sem data, BNRJ-SI, Arq. 4-6-10. São Fidélis, na capitania do Rio de Janeiro, foi edificada nos anos 1780. (20) Aroldo Azevedo, op. cit., p. 37. (21) David M. Davidson, Rivers and Empire, p. 204. (22) Ricardo Franco de Almeida Serra, “Discurso sobre a urgente necessidade de uma povoação na cachoeira do Salto do Rio Madeira..., 1797’ , reproduzido em O Patriota, nfl 2 (março-abril de 1814), pp. 5-6. (23) Rodrigo de Sousa Coutinho, “Memória sobre communicações fluviais do Pará com Mato Grosso”. Pará, 4 de agosto de 1797. AHI, Lata 288, Maço 8, Pasta 9. Apensa a esse documento, há uma estimativa do custo total do estabe lecimento de colonos na nova comunidade; esse montante, acrescido dos salários dos engenheiros, ascende a 41.637 réis. Pará, 7 de fevereiro de 1799. (24) Delgado da Silva, op. cit., Supplement 1791- 1820, p. 318. Essa ordem foi expedida em 23 de novembro de 1805. (25) Para obter informações sobre o emprego da mão-de-obra indígena por particulares, ver Colin M. MacLachlan, op. cit., pp. 203-206. (26) Carta de Manuel da Rocha Pereira à Coroa, de 12 de abril de 1769. BA, 54-XIH-4, doc. 24- 24v.(27) Planta para a nova comunidade de Jesus Maria, traçada por Manuel Borges Netto Pimentel, 24 de agosto de 1780. BA, 54-XIII- 16, fl. 12. (28) Por exemplo, a “Planta da aldea dos índios Bar bados”, sem data, do final do século XVII, Maranhão. AHU-Iria, nfl 66. (29) Ver Aroldo Azevedo, “Embriões de cidades brasileiras”, in Boletim Paulista de Geoppajia nQ 25 (março de 1957), p. 40. (30) “Prospecto da povoação de Linhares, anno de 1819”, BNRJ-SI, Arq. 30, desenhos, doc. ic. (31) ‘Título III - Posturas públicas” da lei de 12 de outubro de 1828, que definiu as responsa bilidades municipais. Essas diretrizes estão contidas nos artigos 66 e 71,1“ de outubro de 1828. CLB, 1828. 9 4 £ /v c /i -f o te e n v o s Capítulo IX ° ) '''-t 'A *s3j C n \r •;:')fói2f.3iAo ^ s r e t i c A O programa de novas vilas numa visão panorâmica É claro que a intenção de Portugal ao criar nqyas yiks .pelo interior do Brasil era mais que um simples exercício de estética. No'Ttnal do século XVIIÍ, às reformas urbana e fundiária haviam modificado estruturalmente, ou pelo menos desafiado, muitas das instituições mais f caras da colônia. Durante todo o tempo em que o objetivo principal do programa evoluiu de uma tentativa inicial de estabelecer um controle, por j meio de uma rejeição tanto da oligarquia agrá- j ria como do princípio da sesmaria e, finalmente, l P'!r;i um programa em grande escala de refor- I ma das normas culturais do Brasil, a fórmula perm aneceu essencialmente a mesma: esta belecer uma municipalidade bem construí- da, provê-la de administradores leais e certificar- se de que a sua autoridade não fosse trans gredida. Essa abordagem normativa aplicava- se não apenas às colônias de açorianos, mas igualmente às comunidades indígenas; tratava- se de um “plano diretor” no sentido mais lato do termo. Estilisticamente, o formalismo barroco das vilas interioranas do Brasil adequava-se perfei- tamente às metas ostensivas da Coroa portugue sa. Tendo chegado à conclusão de que o cresci mento urbano regulamentado era indispensável para aumentar o controle governamental, os por- tugueses.em s uma,lestavam,buscando uma polí tica urbano-estatal que diferia pouco das estraté gias coetâneas empregadas na Europa. É um fato amplamente reconhecido que o planejamen to urbano na Europa setecentista apresentava uma correspondência notável com a filosofia da época. Praças rigorosamente quadradas e alturase fachadas das edificações uniformes eram as contrapartes físicas das preferências daquela época pela regulamentação e racionalidade do comportamento. Em vez de deixar o cresci mento da cidade seguir um curso aleatório e sem controle, o urbanista do século XVIII confiava em planos diretores previamente elaborados que se caracterizavam por um cumprimento rigoroso da fórmula da regularidade tanto na aparência como nas medidas. Tal era a abordagem racional do desenvolvimento urbano; ela demonstrava esmagadoramente a capacidade do homem de submeter a natureza e a sociedade às suas pró prias exigências. Assim sendo, as vilas criadas no Brasil no fim da era colonial necessariamente apresenta vam algumas analogias surpreendentes com os projetos urbanos europeus da mesma época. Comparando-se, por exemplo, a criação de São Petersburgo, no noroeste da Rússia, com o esta belecimento de Vila Bela, em Mato Grosso, torna-se evidente que se visava a objetivos seme lhantes. Em primeiro lugar, ambos os núcleos urbanos foram construídos em regiões remotas, com a finalidade expressa de demonstrar aos observadores internacionais que as fronteiras do território nacional haviam sido efetivamente ampliadas. Ambos foram projetados como capi- tais-vitrinas, exigindo o concurso de uma nume rosa força de trabalho no esforço da construção. Nos dois casos foi necessário recorrer à coerção para formar o núcleo demográfico inicial. Final mente, ambos os centros urbanos revelaram a influência do monumentalismo, o idioma barro co então popular da grandiosidade.1 9 5 O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA O planejamento urbano no Brasil, e na Rússia também, foi considerado como uma expressão das idéias da política do “bom” go verno. A mentalidade setecentista européia esta va convencida pelos filósofos iluministas (entre eles Montesquieu) de que a vida decente con sistia em obedecer às leis do gênero humano. A verdadeira liberdade consistia não necessaria mente em fazer o que se queria, mas sim o que se devia fazer, de acordo com leis naturais, mas estabelecidas.2 O busüis aí era definir o que constituía a lei natural; de que maneira um go verno benevolente, ou “iluminado”, podia escla recer as questões, desenvolvendo códigos de conduta que enfeixassem as normas esperadas. Uma administração verdadeiramente “moderna” dessa época considerava a regulamentação e a ordem como o outro lado dessa lei natural; por conseguinte, a “boa” política pressupunha uma abordagem sistematizada do funcionamento da sociedade, em lugar da atitude do laisser-faire (não interferência). Para autoridades bem-intencio nadas, mas com pouca ou nenhuma fé real no seu semelhante, era claro que um governo mais rígido era preferível à ausência total de governo. No Brasil, essa filosofia do Buminismo orien tou o desenvolvimento do programa de constru ção de vilas. Conseqüentemente, a configuração da vila cuidadosamente desenhada e executada foi racionalizada como uma representação sim bólica da “boa” política administrativa, um aferi dor do funcionamento suave da sociedade. Den tro desse contexto, a lógica das declarações do ouvidor Monteiro1 de que casas análogas em Porto Seguro assegurariam a ordem interna é evidente; se cada habitante fosse obrigado a ajus tar-se a um modelo padronizado de casa e de estilo de vida e, além disso, possuísse exatamente as mesmas comodidades que seus vizinhos, as causas de inveja e conflitos seriam eliminadas. Daí se poder esperar que os membros da comu nidade coexistissem “naturalmente” dentro dos parâmetros de uma lei benevolente. Por tentador que seja analisar o fenômeno da vila criada a partir do zero no Brasil como um reflexo do Iluminismo em plagas distantes, afirmar que a única motivação subjacente à po lítica portuguesa era a vontade e implantar novos padrões intelectuais europeus seria um engano. O programa de construção de vilas era decidida mente mais abrangente que uma simples preten são filosófica de missões “civilizatórias” a em preender, quando, exatamente no próprio século XVIII, os objetivos dos portugueses para a sua colônia e a sua maneira de vê-la tomaram um rumo inteiramente novo. Portanto, é essencial relembrar essas características peculiares do século XVIII, não só para perceber as diferenças em relação aos dois séculos de ocupação anterio res, mas também para adquirir um discernimen to de todos os efeitos da nova política das vilas. Em primeiro lugar, deve-se assinalar que o volume total da construção urbana aumentou extraordinariamente no século XVIII, enquanto o interior era aberto lentamente para a coloniza ção (Figura 27). Na realidade, no decurso do século XVIII, pode-se observar uma série de vagas ou fases de povoamento urbano, que pri meiramente avançaram rapidamente pelo inte rior e só na última década refluíram para o lito ral, num ressurgimento da planificação urbana e da fundação de novos centros na faixa costeira. Conforme se demonstrou em capítulos anterio res, um modelo padronizado de vila foi sinteti zado num código de construção, simplificando o processo de edificação. Aroldo Azevedo ob servou que nada menos que 118 comunidades foram elevadas à categoria de vila no Brasil no decorrer do século XVIII.4 Embora nem todas se tenham ajustado às novas normas urbanas (muitas dessas vilas, sobretudo as da zona de mineração, evidentemente foram criadas a partir de núcleos já existentes), a orientação geral para a regulamentação foi uma característica desse ciclo, e, na minha opinião, a maioria dessas novas comunidades obedeceram ao modelo predeter minado.5 O século XVIII também assistiu ao cresci mento da importância dos engenheiros militares, não só em Portugal, mas no Brasil também. Não raro esses engenheiros eram encarregados exclu sivamente da construção de novas comunidades 9 6 sÚR&ovWunfi no sertão, e era muito lógico esperar que a ins trução militar desses homens os tornasse afei çoados a um modelo de vila que destacava a reti- hneidade e a sistematização. Como salientara o arquiteto e urbanista renascentista italiano Leon- Battista Alberti (Gênova, 1404 - Roma, 1472) quase quatro séculos antes6, ruas retas eram um símbolo da imponência de uma cidade, e mais W u&ynMMigp ús Mqtsj'iKwJ - .gjq fáceis de controlar, as vielas tortuosas das co munidades não planificadas ofereciam a turbas de camponeses rebeldes (ou de soldados ou índios, no caso do Brasil) muitas possibilidades de se esconderem dos olhos vigilantes das auto ridades. O utra característica peculiar do século X V ln , que se tornou particularmente percep- 9 7 O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÀO PANORAMICA tívei depois da ascensão de Pombal ao poder, foi a freqiiència com que os administradores portugueses operaram no nível macroeconômico do desenvolvimento. Malgrado a maior parte dos estudos convencionais da história latino- americana descreva os administradores reais portugueses como altamente ineptos7, as infor mações apresentadas aqui comprovam que a Coroa tinha um plano de modernização de gran de alcance que abrangia o Brasil inteiro e que foi executado por etapas no decurso do século XVIII. Pombai percebeu facilmente a vantagem de estabelecer conjuntos coordenados de vilas em regiões tão diferentes como o extremo Oeste, o Amazonas e o Sul do Brasil, e seus represen tantes na colônia seguiram a maré. A percepção do papel de polarização exercido pelas comuni dades urbanas mais importantes determinou a localização de muitas das novas municipalidades. Dentro dessa linha de pensamento, deduziu-se que a diversificação da produção dos centros interioranos acabaria resultando na ampliação dos mercados dos núcleos urbanos importantes, assim como estimularia o abrimento de novas estradas comerciais no interior. As comunidades padronizadas do Pantanal devem a sua origem a esse reconhecimento, assim como a rede de vilas de abastecimento criada em PortoSeguro. Esses planejamentos regionais, reforçados pelo compromisso oficial com a via comercial fluvial Guaporé - Madeira e com o estabelecimento de companhias comerciais (e. g., a Companhia do Grão Pará e Maranhão), evidenciaram um tipo de reflexão sistemática acerca do potencial do Brasil que só fora possível depois que se pene trou oficialmente no interior na década de 1700. Além disso, essa reflexão sistemática demons trou uma compreensão extremamente sofistica da e surpreendentemente precoce da mecânica dos esquemas de planejamento regional de estilo moderno. Ela também constituiu uma comprovação suficiente da eficiência crescente evidenciada pelos administradores portugueses e do seu êxito em fixarem as metas de longo alcance para o controle da colônia. Por conseguinte, esta análi se refutaria os historiadores que referem o início do governo absoluto no Brasil ao começo da era pombaiina.8 Embora a concepção notável de Pombal de que o planejamento de vilas era equivalente a “europeização” indubitavelmente tenha acrescentado uma nova dimensão ao es quema joanino original, é patente, na legislação examinada neste estudo, que já havia sido desen volvido e aplicado no Brasil um modelo de go verno absolutista muito antes de o marquês che gar ao poder. O modus operands pelo qual o sertão podia ser reduzido à submissão, mediante a cria ção de municipalidades disciplinadas, foi delinea do claramente nos primeiros anos que se segui ram aos achados de ouro dos bandeirantes, e mudou pouco até o meado do século. Outra questão em que a presente análise diverge das concepções convencionais relati vas ao século XVIII é o conceito geralmente aceito de que os portugueses procuraram conter a migração de brasileiros para o litoral do País depois das descobertas de ouro. Celso Furtado, por exemplo, afirmou que foram tomadas medi das enérgicas para dificultar a relocalização no Brasil de açorianos e outros imigrantes.9 Entre tanto, esta análise mostrou que a inclusão de imi grantes portugueses (casais) em projetos de colonização para o Sul e a Amazônia era conside rada uma parte desejável e mesmo essencial do programa de construção de vilas. Por exemplo, Rolim de Moura preferiu povoar a sua capital longínqua, Vila Bela, com recém-chegados da Europa a reunir nela os errabundos e faiscado- res bandeirantes. Com referência a isso, ao lon go de toda a via fluvial do Madeira, uma zona através da qual muita riqueza de contrabando provavelmente se escoaria, a Coroa achou pru dente fundar comunidades não apenas com residentes no local, mas também com colonos europeus. Embora se possa alegar que, a des peito dos planos meticulosos para os imigran tes europeus, os portugueses na realidade não contribuíram muito para o seu bem-estar, isso não invalida a sua clara preferência por colonos europeus no povoamento das zonas escassa mente ocupadas do Brasil. 9 8 O PROGRAMA D E NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA Uma questão talvez menos evidente em que se pode insistir, com referência ao programa de novas vilas, é que ele representa uma inversão no modelo tradicional de transferência cultural. Antes do século XVIII, a assimilação cultu ral no Brasil, quase invariavelmente, havia se orientado das zonas costeiras para dentro, em direção ao interior; em consequência disso, a mudança no sertão foi um processo lento decor rente das modificações operadas inicialmente em comunidades litorâneas. Todavia, na década de 1700, a maior parte das experiências urbanas foi levada a efeito pela primeira vez em povoações interioranas. A tendência de “arborizar” as com posições urbanas apareceu primeiramente nas praças cercadas de árvores de postos avançados fronteiriços.10 O cuidado extremo com o detalhe, igualmente, foi visto primeiramene em comu nidades longínquas tais como Mocha, no Piam. Incontestavelmente, o fato de os portugueses estarem construindo da estaca zero no interior permitiu-lhes efetuar inovações numa escala impossível nas cidades costeiras já construídas. Não obstante, a imitação cuidadosa dos dese nhos barrocos europeus e a tentativa consciente de lançar os postos avançados do sertão na cor rente principal da cultura européia indicam que os administradores provinciais estavam tão cien tes das tendências artísticas usuais no Velho Mundo, e dispostos a adotá-las, quanto seus con frades do litoral. Na realidade eles muitas vezes estavam “à frente” dos seus contemporâneos da costa. Da mesma forma, observa-se uma modifi cação interessante no fluxo da assimilação cultu ral entre o país-metrópole e a colônia brasileira. Certamente é evidente que o impulso de planeja mento e o princípio diretor do programa de construção de vilas do século XVIII tiveram origem nas pranchetas de desenho em Portugal, com plena aprovação do governo. Não obstante, antes do terremoto de Lisboa (1755), poucos projetos urbanísticos haviam sido executados no próprio país. Embora arquitetos portugueses fossem mandados a outros países para aprender as últimas tendências arquitetônicas e engenhei ros estrangeiros fossem trazidos incessante- rnente à corte portuguesa e enviados além-mar, é evidente que no Brasil colonial havia maiores oportunidades para a experimentação urbana do que na metrópole. Por falta de cidades mais an tigas necessitadas de reforma urbana, o sertão brasileiro constituía um campo de provas para os conceitos de planejamento barrocos portu gueses. Muitas dessas inovações - na perspecti va, na uniformidade das fachadas e na iteração dos elementos arquiteturais - reapareceram pelo meado do século na reconstrução de Lisboa. As amplas praças das colônias de açorianos de Alexandre de Gusmão foram reproduzidas na enorme Praça do Comércio da Lisboa de pós- 1755. Da mesma forma, as ordens de padroni zar as fachadas das habitações, vistas pela pri meira vez nas diretrizes para a criação da vila de Mocha e reiteradas numerosas vezes durante todo o século XVIII, tiveram as suas réplicas nas fachadas cuidadosamente alinhadas e idên ticas da malha urbana redesenhada do bairro da Baixa de Lisboa. Portanto, o programa de plani- ficação de vilas constituiu um caso singular, em que a Coroa primeiramente experimentou na colônia e em seguida trouxe os resultados para o país-metrópole. Outra observação que se deve registrar com referência ao século XVIII em geral e ao programa de planificaçâo de vilas em particular foi que, em última análise, o controle total baseou-se num lento desgaste do poder tradicio nal das câmaras municipais. À medida que o século avançava, a tendência das autoridades do governo português foi inibir a iniciativa local, e não encorajá-la, tornando as câmaras das vilas praticamente impotentes para agir em seu pró prio nome. Dauril Alden enumerou vários exemplos de pequenas vilas do século XVIII que foram obrigadas a renunciar ao poder municipal em favor das autoridades reais. Domínios admi nistrativos tradicionalmente da competência da câmara, tais como a coleta de impostos, a fisca lização das eleições e a administração geral da circunscrição municipal, foram absorvidos gra dativamente pelas autoridades da Coroa.11 Nos 9 9 O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÀO PANORÂMICA casos das vilas recém-criadas, a tarefa dos portu gueses era simplificada de imediato: lotando um número suficiente de funcionários do governo em cada vila logo no início e interligando essas vilas em redes regionais de funcionamento sintô- nico, o controle real ficava praticamente assegu rado. Não só a jurisdição da câmara municipal diminuiu no campo político como também, em cada localidade, as pessoas importantes sofreram uma drástica perda de autoridade no tocante ao seu poder de regulamentar a distribuição da terra. Na Idade Média, a responsabilidade pela concessão de terras tinha sido deixada a cargo dos adminstradores locais. Com a possível ex ceção da outorga de terra nas poucas cidades reaisdo Brasil, o tratamento medieval da posse da terra foi transferido intacto para a colônia; dessa forma, primeiramente os donatários e depois os poderosos do sertão ficaram sendo as únicas autoridades em questões agrárias. O di reito de aquisição de terra não foi propugnado senão nos anos 1690 e no século seguinte, quan do a Coroa aproveitou a oportunidade de ampliar a sua autoridade, assum indo total respon sabilidade pela distribuição de terras, bem como pela criação de novas vilas. Esse processo foi característico notadamente das povoações de fronteira, onde se negou aos habitantes locais qualquer influência na escolha de terras e, em vez disso, um funcionário designado outorgou a cada um um trato de terra para lavrar. Nas metrópoles costeiras maiores, foi igualmente sig nificativo o êxito da Coroa em fomentar a aceita ção do princípio do domínio publico. Assim, mes mo em áreas ocupadas há muito tempo, a Coroa tinha precedência sobre os direitos locais à terra, no caso de surgir uma necessidade efetiva. Interpretando-se tudo isso numa escala mais ampla, percebe-se que os portugueses esta vam procurando não só reformar as práticas bra sileiras de posse da terra como desafiar a própria fonte de poder que estava por trás das grandes propriedades. Vendo-se sob esse prisma, é intei ramente plausível que os esforços conjugados para relocalizar colonos das ilhas portuguesas do Atlântico e para reunir os índios tenham sido empreendidos visando a suplantar a linhagem “nativa”, bem como a fornecer exemplos da cul tura européia. O mais importante para os ob jetivos de Lisboa era a conclusão evidente de que esses camponeses “resgatados” sentir-se- iam obrigados à Coroa pela sua boa sorte de serem reassentados. A gratidão podia ser am pliada facilmente até à franca lealdade; certa mente não é mera conjetura que no final das contas a Coroa esperava substituir a oligarquia agrária por minifundiários satisfeitos. Não obstante vários estudos do Brasil pós- colonial12 terem mostrado que essas tentativas de enfraquecer a classe latifundiária estiveram longe de lograr êxito, não deixa de ser claro que as motivações subjacentes a esses esforços eram notavelmente avançadas para o século XVIII. Apesar dos fracassos, nesse espaço de tempo a Coroa conseguiu estabelecer precedente para o controle da distribuição de terras pela autoridade real, para a supervisão governamental das sub divisões urbanas e para a planificação oficial do desenvolvimento interiorano. Hoje se percebe claramente que a Coroa superestimou as suas possibilidades; contudo, o desafio à ordem social e econômica colonial vigente evidentemente estava séculos à frente do seu tempo e era sem paralelo em matéria de política colonial naquela época. Essa compreensão extraordinariamente moderna dos grandes problemas que o desen volvimento do Brasil enfrentava salta aos olhos quando se confronta o tratamento português da construção de vilas com o dos seus vizinhos do hemisfério ocidental. O trono espanhol havia manifestado preocupação com a regulamentação urbana ainda na Idade Média, quando textos clássicos sobre o assunto eram lidos avidamente. Essa predileção pelo crescimento urbano con trolado transmitiu-se às colônias do Novo Mun do, pois em 1502 o governador Ovando dotou a cidade de São Domingos [capital da atual República Dominicana, que, junto com o Haiti, formava a ilha de Hispaniola] com uma disposi ção das ruas grosseiramente retilinear. 71 anos 100 O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA depois, as idéias espanholas de planificação urbana foram codificadas nas chamadas Leis das índias, que supostamente expunham detalhada mente uma fórmula a ser seguida para toda nova vila fundada no Novo Mundo. Essas leis impu nham a criação de cidades em xadrez, construí das com base em progressões geométricas teóri cas. Uma pequena vila seria baseada num qua drado perfeito composto de nove quarteirões. As comunidades maiores seriam construídas em disposições de cinco quarteirões por cinco, enquanto as excepcionalmente grandes podiam atingir um máximo de 81 quarteirões. Cada co munidade devia ter a forma de um quadrado perfeito e tinha de ser orientada de acordo com as correntes eólicas predominantes no local. O quarteirão central dessa composição era destina do à praça da vila.u O modelo espanhol da Lei das índias era uma adaptação de fórmulas renascentistas de planejamento urbano. Ele objetivava produzir cidades ideais, seguindo o modelo clássico apre sentado nos escritos do antigo planificador ro mano Vegetius.14 A preocupação principal do modelo espanhol era como a comunidade apare cia no papel; a sua realidade tridimensional pare ce ter sido secundária. Estilisticamente, tanto o tratamento espa nhol como o português da planificação de vüas eram rígidos, embora este último desse destaque à uniformidade barroca grandiosa. Não obstan te, parece que, no século XVIII, enquanto as cidades da América espanhola se desenvolviam cada vez mais “organicamente”, no Brasil acon tecia o oposto. Por exemplo, as vilas chilenas da década de 1700 normalmente apresentavam uma falta de previsão no seu traçado.15 Em regra geral, as vilas coloniais que ficavam longe dos grandes centros da autoridade real, como a cidade do México e Lima, tendiam a crescer desor denada ou espontaneamente. Nessas condições, há indicações que apoiam o ponto de vista de que os planos espanhóis para as cidades coloniais nunca foram integrados em programas mais am plos com vistas a ampliar o controle real, como aconteceu no Brasil. Só num número restrito de zonas fronteiriças, como partes da Argentina e da Venezuela e no Norte do México, a coroa espanhola reaimente procurou regulamentar a sociedade mediante o reassentamento ou a fun dação de núcleos primários.14 Essa dicotomia contraria a proposição recente de Morse de que existia uma filosofia ambiental para uma grande parte da planificação urbana colonial espanho la17, o que, por sua vez, pode ter levado a um afrouxamento do controle sobre o desenvolvi mento das vilas no século XVIII. Por outro la do, o princípio diretor preponderante subjacente à regulamentação das vilas no fim da era colonial no Brasil não era o fator econômico, mas sim a associação conscientemente estabelecida entre o crescimento urbano controlado e a aceitação da autoridade real no sertão. Conquanto a mentalidade moderna possa compreender ou mesmo aceitar a necessidade de uma associação como essa, a vila padroniza da resultante que apareceu por todo o Brasil no século XVIII hoje seria menosprezada como apenas uma multiplicidade de Levittowns coloniais. A simetria e a uniformidade das facha das nas vilas brasileiras significavam o alinha mento de casas simples de portas e janelas sem ornamento algum; a imponência das composi ções barrocas européias, tais Como a meia-lua de Bath, na Inglaterra, inexiste no cenário brasi leiro. A austeridade do modelo colonial, repetida em alas infindáveis de moradias de um só pavi mento, dificilmente seria apreciada pelo obser vador moderno, ensinado a valorizar a inovação arquitetônica. Porém para os portugueses do século XVIII e seus fiéis partidários do interior, essa regularidade era um símbolo de beleza, sofisti cação, civilidade e progresso. Ainda hoje exis tem urbanistas que preferem firmemente a abor dagem colonial sistemática da construção a reali zações criativas tais como Chandigarh, na índia, ou mesmo Brasília. Na época atual, de superpo- voamento, em que o financiamento de habita ções populares pelo governo é impositivo e a pré-fabricação é uma necessidade econômica, as unidades habitacionais padronizadas de uma vila 101 O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORAMICA típica do Brasil setecentista. tai como São José de Macapá, fazem cada vez mais sentido. Além disso, os portugueses parece terem atingido o seu objetivo de aproveitar ao máximo os recursosdemográficos limitados. Com base na pesquisa pioneira de Dauril Alden sobre os censos brasileiros do fim da era colonial1*, eu fiz uma avaliação grosseira do grau em que a reunião forçada de indivíduos no interior foi realizada. Em comparação com uma família média de 5,4 pessoas para a totalidade do Brasil, a região do alto Amazonas (rio Negro) tinha uma média de 7,9 pessoas por família; o Pará, 7,6; e Mato Grosso, 7,7. Dauril Alden não conseguiu explicar por que as famílias eram mais numero sas no interior, mas levando-se em conta que os recenseadores incluíam na unidade familiar (“fogo”) todas as pessoas que vivessem numa mesma unidade habitacional, fossem elas da família ou não” , o significado desses números torna-se claro. Os dados indicam que as novas vilas cumpriram a função a que se destinavam: atuar como pontos de agrupamento para indiví duos dispersos, a fim de desenvolver melhor aquelas regiões longínquas. Não existem dados numéricos de real uti lidade para um estudo sério sobre a magnitu de da população dessas comunidades, uma vez que o recenseamento só se tornou comum no Brasil no final do século XVIII. Além disso, não havia nenhum critério demográfico fixa do oficialmente para distinguir entre cidade e vila que pudesse fornecer uma indicação so bre o número mínimo de pessoas que viviam nos novos núcleos urbanos. Mesmo assim, algumas informações pontuais existentes in dicam que essas novas vilas, que foram super visionadas desde o início, continuaram a atrair novos habitantes: uma das vilas da rede de Porto Seguro foi inaugurada com uma população inicial de 130 habitantes; dez anos depois essa população já havia crescido para cerca de 400 almas, segundo uma estimativa.2* Outro exem plo é São José de Macapá, que começou como um núcleo de umas 300 pessoas21; em 1817, 66 anos depois da sua fundação em 1751, um obser vador descreveu-a como um dos maiores centros da região.22 Todavia, a lição mais importante que se pode obter da experimentação urbana dos portu gueses talvez seja o reconhecimento da neces sidade de lidar com os problemas até das comu nidades mais remotas. Diversamente dos plani- ficadores de cidades mais antigos, os urbanistas do século XVIII não se restringiram a projetos de grandes cidades. Até mesmo a aldeia indígena mais modesta era considerada digna de receber nm tratamento de planificaçâo completa, cujo escopo final era atingir a “civilização”. Con quanto hoje, passados dois séculos, seja claro para nós que essa concepção de “modernização” era calcada numa visão etnocêntrica (e tinha uma semelhança desagradável com uma coletivização forçada), os portugueses estavam convencidos de que a cultura européia era o supra-sumo da civilização e, consequentemente, a chave do de senvolvimento. Assim sendo, o governo português e seus fiéis funcionários no Brasil consideravam-se co mo apóstolos do progresso - os instrumentos através dos quais a cultura européia moderna penetraria na sua colônia rústica. A meta do seu programa era a modernização por meio da padronização, não só das ruas e casas, mas tam bém, como a experiência de Porto Seguro de monstra eloqüentemente, dos próprios colonos. O século XVIII mostrou reiteradamente que os portugueses não mais admitiríam vilas formadas aleatoriamente como Jaguaripé, na Bahia, “traça da sem nenhum ordenamento e baseada apenas nos caprichos arbitrários dos seus habitantes”.23 Daí em diante seria diferente: se as vilas e cidades do Brasil fossem construídas segundo os câno nes de regularidade do desenho barroco, e se os habitantes de cada localidade se ajustassem aos mesmos princípios na sua conduta, então o Bra sil podería ser considerado “europeizado”, não obstante a sua formação cultural mista. Pode ser que os europeus daquela época tenham sorri do das plantas das miniaturas dos Versailles e dos Champs-Élysées [famosa avenida de Paris que liga a Place de la Concorde à Place de 1’Étoi- 102 O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA le] criadas a partir de comunidades indígenas; porém os portugueses nunca duvidaram da se riedade da sua missão. O modelo de homoge neidade urbana a que o Brasil foi submetido não podería deixar de introduzir um estilo de vida mais sofisticado às miríadas de habitantes semi- bárbaros da colônia e, concomitantemente, um poder mais absoluto para a Coroa. Como o go vernador Cunha Menezes anunciou tão expres sivamente no seu plano para a reconstrução de Vila Boa, a sua capital provincial agora pode ría “beneficiar-se com o sistema praticado em todas as nações mais adiantadas da Europa”.24 Durante os últimos anos do século XVIII e também muito tempo depois de instaurado o Império, a prevalência das malhas urbanas orto- gonais foi assegurada. Nas localidades onde, ocasionalmente, disposições estilísticas tais co mo a homogeneidade das fachadas foram aban donadas em favor de um tipo de construção menos onerosa, as aglomerações, alinhadas des de o início segundo as diretrizes modernas, con tinuaram a apresentar um aspecto regular. Ago ra se construíam jardins públicos de formas geo métricas estritas e alamedas metódicas para ser vir de pulmões para os centros urbanos, ao mes mo tempo em que eles realçavam a invariável regularidade da construção urbana brasileira. Os conceitos de ordem e precisão, outrora ditados pelo programa disciplinar para o interior sem lei, agora se haviam tornado padrões de bom gosto para toda a nação. (1) Duas descrições da construção de São Peters- burgo podem ser encontradas em “Eighteenth- Century St. Petersburg”, de Tamara Talbot Rice, in Cities of Destiny, de Arnold Toynbee (editor) (McGraw-Hill, Londres, 1968), pp. 242-257; e em Urban Development in Eastern Europe: Bulgaria, Romania and the USSR, de E. A. Gutkind (Free Press, Nova York, 1972), pp. 368-395. Ver também Urban Networks in Russia, 1 '50-1800, and Premodem Periodization, de Gil bert Rozman (Princeton Univertsity Press, Princeton, Nova Jersey, 1976). (2) Eugen Weber, A Modem History of Europe: Men, Cultures and Societies from the Renaissance to tije Pres ent (W W. Norton & Co., Nova York), pp. 673-4. (3) Ver o Capítulo VII. (4) Aroldo Azevedo, Vilas e Cidades, p. 35. (5) Como Apêndice deste livro, há um quadro que contém uma relação de novos centros urbanos com alguns dados sobre eles. (6) W A. Eden, “The De Re JEdijicatoria de Leon- Battista Alberti”, in The Town Planning Review, vol. 19, n“ 1 (1943), pp. 15-16. (O humanista e arquiteto Leon-Battista Alberti nasceu em Gênova, em 1404, e faleceu em Roma, em 1472. Em Theogonius, no Tratado da Familia e nos seus diálogos, ele propôs o ideal do equilí brio e da medida Escreveu ainda Delia Pittura e De Statua.) (7) Uma reiteração clássica desse conceito é en contrada em A History of Latin America: From the Beginnings to the Present, de Herbert Herring (Alfred A. Knopf, Nova York, 3* edição, 1968), p. 221. Ali se lê o seguinte: “Um cotejo da admi nistração portuguesa no Brasil com a espanhola no Peru e no México indica que os portugueses raramente foram tão rigorosos e coerentes quanto os espanhóis.” (8) Por exemplo, Donald E. Worcester, op. cit., con sidera Pombal como um marco divisório na História do Brasil. Kenneth R. Maxwell, op. cit., também dá um destaque especial à rigorização do regime administrativo no Brasil, que ele relaciona com o início da era pombalina. (9) Celso Monteiro Furtado in The Economic Growth of Brazil: A Survey from Colonial to Modem Times (University of California Press, Berkeley, 1965), pp. 80-81. (10) Ver a citação de E. A. Gutkind na primeira página do Capítulo VIII, mais atrás. Uma excelente descrição do tratamento paisagístico barroco pode ser encontrada no Capítulo X (“The Leaf and the Stone”) da obra The City of Man: A New Approach to Recovery of Beauty in American Cities, de Christopher Tunnard (Charles Scribner’s Sons, Nova York, 1970), pp. 235-258. (11) DaurilAlden, op. cit., pp. 309-322 e 422-423. (12) Em outro texto, eu fiz uma critica dos modelos 103 O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA agrários brasileiros. Ver “Land and Urban Plan ning; Aspects of Modernization in Early Ni neteenth-Century Brazil”, de minha lavra e que, na época em que escreví este volume, es tava prestes a vir a lume em Luso-Brasfíian Re view. Ver também “Larifundia and land Policy in Nineteenth-Century Brazil”, de Warrren Dean, in HAH.R, vol. 51, na 4 (novembro de 1971). (13) Uma tradução para o inglês das leis espanholas de 1573 pode ser encontrada em “Royal Ordi nances Concerning the Laying-out of Towns”, de Zelia Nuttall, in HAHR, vol. V, ns 2 (maio de 1922), pp. 249-254. Ver também “Early Spanish Town Planning in the New World”, de Dan Stanislawski, in Geographical Review, vol. XXXVII, n“ 1 (1947), pp. 94-105; e Los origenes del urbanismo imperial en America, de Erwin Walter Palm (Instituto Panamericano de Geografia e Historia, México, 1951). Ne nhum dos documentos de planejamento portu gueses que examinei continha regulamenta ções sobre a orientação geográfica das vilas, a não ser a determinação de que a povoação deveria ser fundada num local “bem arejado” e onde houvesse abundância de madeira e água. (14) Woodrow Borah, em “European Cultural In fluence in the Formation of the First Plan for Urban Centers that Has Lasted to Our Ti mes”, contido em X X X IX Congreso Internacio nal de Americamstas - Adas e Memórias, vol. 2 (Li ma, 1972), p. 53, é de opinião que as plantas espanholas procedem de Vegetius, gênio mili tar romano, e não de Vitruvius. Por outro lado, uma comparação entre os princípios vitru- vianos e as Novas Leis das índias Espanho las pode ser encontrada em Dan Stanislawski, op. cit.. (15) Gabriel Guarda, em La ciudad chilena deI siglo X V III (Centro Editor de América Latina S. A., Buenos Aires, 1968), pp. 18 e 19, examina as comunidades não planificadas do século XVIII. Segundo esse autor, muitos desses núcleos urbanos não planificados originaram- se de antigas aldeias indígenas, ou então de fazendas que foram divididas em pequenas propriedades. As zonas de mineração também tinham muitas aglomerações não planificadas. Isso se aplica também ao México, onde as cida des mineiras de Tasco, Guanajuato e Zacatecas apresentam traçados irregulares; ver Woodrow Borah, op. cit., p. 42. (16) Ver, por exemplo, “New Towns of Eighteenth- Century Northwest Argentina”, de David Robinson e Teresa Thomas, in Journal of LaiinAmerican Studies, pp. 1-33, vol. 6, n° 1 (1974). (17) Ver Richard M. Morse, “Brazil’s Urban Deve lopment; Colony and Empire”, in Journal of Urban History, voL 1, n“ 1 (novembro de 1974), p. 42 etpassim. E interessante observar que nes se ensaio o autor manifestamente mudou radi calmente suas concepções iniciais citadas no Capítulo I desta obra. Evidentemente com ba se na sua leitura de Nestor Goulart Reis Filho (cuja obra é descrita no Capítulo I), Morse ago ra reconhece a existência de uma tradição de planejamento urbano no Brasil colonial, que culminou com o “triunfo” da malha ortogonal no século XVm (p. 41). (18) Dauril Alden, “The Population of Brazil in the Late Eighteenth Century: Preliminary Study”, in HAHR, vol. XLIII, n° 2 (maio de 1963), pp. 199-200. (19) Issofoi observado por Donald Ramos em “The Traditional Mineiro Family: The Adaptative Houseful, 1804-1838”, monografia apresentada no Congresso da American Historical Associa tion de dezembro de 1977. (20) “Relação Individual do que o Ouvidor da Capitania de Porto Seguro (José Xavier Macha do Monteiro) riella tem operado nos 10 para 11 annos, que tem decorrido desde o dia 3 de maio de 1767 athé o fim de julho de 1777”. AHU-CA, n“ 9493. (21) A carta de Mendonça Furtado a Alexandre Metello de Souza Menezes datada do Pará, 20 de dezembro de 1751, menciona esse número aproximado. MCM, vol. I, p. 122. (22) Manuel Aires de Casal, Corografia Brasílica ou Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brasil (1817) (Edições Cultura, São Paulo, 1943), vol. II, p. 252 (23) Essa observação está registrada na legenda da “Planta da Villa de Nossa Senhora da Ajuda de Iaguaripe”, 1705. AHU-Iria, n° 155. (24) Ver o Capítulo VII. Os comentários de Kenneth R. Maxwell sobre a conduta política do governador confirma a atenção excessiva 104 O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA que este dava ao detalhe. O governador é des- descriro como “um militar rigoroso e elegante rodeado de sicofantas venais e parasitas.... Seu gosto peia aparência e sua lealdade aos seus camaradas sobrepujavam o seu senso de justiça.” Op. cit., p. 99. 105 1 * 4 B i b l i o g r a f i a F o n t e s a r q u i v í s t i c a s : A - Lisboa 1 - Arquivo Histórico Ultramarino (AHU1 Códices: 221 Registos de cartas régias para diversas entidades, de várias capitanias do Brasil, 1711-1713. 223 Registo de cartas e provisões régias para os governadores e várias entidades de diferentes capitanias do Brasil, 1712-1721. 226 Registo de cartas régias e provisões para os governadores e mais entidades das diferentes capitanias do Brasil, 1720-1723. 227 Registo de provisões régias para várias personalidades das diferentes capitanias do Brasil, 1723-1728. 228 Registo de provisões régias para os governadores e mais entidades de diferentes capitanias do Brasil, 1728-1740 229 Registo de provisões régias para os governadores e mais entidades de diferentes capitanias do Brasil, 1739-1756. 232 Registos de consultas sobre assuntos das capitanias do Rio de Janeiro, Bahia e Colônia de Sacramento, 1674-1710. 236 Registo de provisões e cartas régias para os governadores e mais entidades de várias capitanias do Bra sil, 1726-1751. 239 Registo de consultas sobre diferentes assuntos referentes às capitanias de São Paulo, Goiás e mais ca pitanias, 1726-1779. 241 Registo de provisões régias sobre assuntos respeitantes à capitania de Minas Gerais, 1726-1753. Papéis avulsos: Mato Grosso - Carias 2 e 3. Goiás - Carias 1 e 2. Pará - Caria 16. Rio Grande do Sul - Caria 1 2 - Biblioteca da Aiuda (BA) Documentos: 54-XIII-16 54-XIII-4 1 0 7 3 - Biblioteca Nacional de Lisboa (BNL) Manuscritos: 1648, Luís Serra Pimentel, Tratado de Castramentacão ou Alojamento dos Exércitos (1659?), 4o vol., 1. Coleção Pombalina: Volumes 159-163; 622; 624; 629. B - Rio de Janeiro 1 - Arquivo Histórico do Itamaratv (AHI) (Os números de catálogo a seguir correspondem às listagens numeradas da Coleção do Barão da Ponte Ribeira, Parte 111-34 — Arquivos Particulares do Arquivo Histórico do Itamaraty.) Lata 266 Maço 1, Pasta 12. Ofício do Capitão-Genetal Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres ao Ministro Martinho de Melo, pedindo licença para fazer um estabelecimento na margem oriental do Paraguai,... 1772-1800. Lata 266 Maço 1, Pasta 21. Diário da diligência da Comissão chefiada pelo engenheiro Ricardo Franco, 1786. Lata 266 Maço 2, Pasta 4. Documentos com diversas anotações sobre a região, 1722-1805. Lata 266 Maço 7, Pasta 10. Cópias e Minutas incompletas sobre vários assuntos, 1752-1775. Lata 267 Maço 6, pasta 12. Ofício de Luís Antônio de Sousa, Capitáo-General da Capitania de São Paulo, ao Conde de Oeiras, sobre ordem de não permitir que os paulistas fizessem descobrimento para o lado do Tibagi e Apucarana, 1765. Lata 267 Maço 9, Pasta 17. Defesa da Capitania de São Paulo, 1775-1778. Lata 275 Maço 5, Pasta 9, Doc 2. Plano de uma povoação na cachoeira Girão, no rio Madeira, delineada pelo Capitão-General de Mato Grosso Luís Pinto de Souza Coutínho, 1765. Lata 288 Maço 6, Doc. 1. Diário da rotina da expedição exploradora chefiada pelo Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria, 1774-1776. Lata 288 Maço 8, Pasta 9. Memória sobre comunicações fluviais do Pará com Mato Grosso - Dom Rodrigo de Sousa Coutinho, 1797-1799. Lata 265 Maço 2, Pasta 7. Resumo histórico de algumas fortalezas e povoações, 1764-1793. Alguns outrosdocumentos consultados no Arquivo Histórico do Itamaraty: Livros: 343/2; 340/4/4 Lata 195, Maço 4, Pasta 4. 2 - Arquivo Nacional do Rio de Janeiro fANRJ) Catalogadas: 952, Vol. XVIII Não catalogadas: Caixa 748 108 3 - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ) Documentos: 1-31, 28, 41, n2 4, Carta Régia enviada a Mendonça Furtado, 3 de março de 1755. 1-31,28,41, n2 6, Cópia da Carta de S. Mag.e dirigida a Franc. Xavier de Mendonça Furtado, erigindo a aldea do Trocano, em villa com o nome de Borba e Nova, 3 de março de 1755. 1-32,13, 27, Estatutos da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho da Cidade do Rio de Janeiro, 1792. Conde de Resende. IV-12, 2, 13, Memória sobre o descobrimento, governo e população e cousas mais notáveis da Cap.nía de Goyas. José Barbosa e Sá. IV-13, 4,10, Doc 1, Descripção da Capitania de Goyas e tudo o que nelk he notável te o anno de 1783, começa pella Villa Boa. IV-13, 4,10, Doc 16, Instruções de Cunha Menezes para Vila Boa, aproximadamente 1778. 9IV-13,4,10, Doc. 17, Carta ao Ouvidor da Comarca com as Instrucções assima para as deixar Recomendadas à Câmara na aud.ca g.al. Luís da Cunha Menezes. Documentos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro respeitantes a luís Antônio de Souza: Livros de Registros: Listas 1 e 2. 4 - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro flHGBl Lata 61, Doc. 11, Termo de Fundação de Vila Maria do Paraguay. Lata 354, Doc 16, Relação das famílias que vão estabelecer-se na praça de Mazagão, por ordem de Sua Magestade. Medidas tomadas pelo Conselho Ultramarino: Maranhão e Grão Pará, 1678-1808, vol. X. Arq. 1.1.3, Correspondência official do Governador do Grão Pará, 1752-1777 Arq. 1.2.2, Consultas do Conselho Ultramarino sobre negócios da Capitania de São paulo, 1726-1754. C — Belo Horizonte Arquivo Público Mineiro Atas da Câmara de Mariana, Livro 15 (1739-1746). Códice 81, Ordens e Cartas Régias, 1743-1744. D — São Paulo Biblioteca Municipal de São Paulo Mss c 52 Diário da viagem que em vizita e correição das povoações da Capitania de São José de Rio Negro fez o ouvidor e intendente geral... Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio no anno 1774-1775. 109 M a p o t e c a s : A - Lisboa 1 - Arquivo Histórico Ultramarino (AHU) Todos os números constantes do texto sào referentes ao catálogo de Alberto Iria intitulado Inventário Geral da Cartografia brasileira Existente no Arquivo Histórico Ultramarino, IV Coióquio Internacional de Estudos Luso- Brasileiros, transcrito em Studia n0 17 (abril de 1966). 2 - Casa da Insua 0 Agrupamento de Cartografia Antiga do Ministério de Ultramar, em Lisboa, conserva uma coleção de reproduções fotográficas dos mapas da Casa da Insua. Porém os números de mapas constantes do texto são relativos à catalogação original da Casa da Insua. 3 - Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL) MS nfl 57 Planta de Guaratuba, in “Cartas corográphicas e hidrográphicas de toda a costa e portos da Capitania de Sào Paulo... levantadas pelo Coronel João da Costa Ferreira” (1790?) MS nfl 3-G-2 Projecto de edificação da nova Villa Real da Praia Grande, 1819 B - Rio de Janeiro 1 - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro - Secção de Iconografia 2 - Mapoteca do Arquivo Histórico do Itamaraty Esses números são relativos ao catálogo compilado por Isa Adonias intitulado Mapas e Planos Manuscritos Relativos ao brasil Colonial (Ministério das Relações Exteriores, Rio de Janeiro, 1960). 3 - Mapoteca do Instituto Geográfico do Exército Todos os números citados referem-se a documentos dessa mapoteca. 4 — Biblioteca Municipal de São Paulo Ms d 3 Perspectiva da igreja e quartéis da Aldeia de S. Jozé de Mossamedes, 1801 Ms d 3 Aldeia de S. Jozé de Mossamedes, aproximadamente 1801 110 A — Documentos e fontes contemporâneas Abreu, Tomás Canceiro de. “Relação sobre as villas e rios da Capitania de Porto Seguro”, in Anais da biblioteca Nacional do Rio de Janeiro XXXII (1914). A ires d e Casal, Manuel. Corografia brasílica ou Relaçãc Histórico-Geográfica do Reino do brasil (1817), 2 vols. Edições Cultura, São Paulo, 1943. Almeida Serra, Ricardo Franco de. “Discurso sobre a urgente necessidade de uma povoação na cachoeira do Salto do Rio Madeira..., 1797”. O Patriota nfl 2 (março-abril de 1914). Alpoim , José Fernandes Pinto. Exame de Artilheiros que Comrprehende Arithmética, Geometria e Artilharia. Lisboa, 1744. Anais da biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 1876-. “Anais de Vila Bela desde o primeiro descobrimento deste sertão do Mato Grosso, no ano de 1734”. X Congresso do Mundo Português (1940), pp. 303-320. Annaes da biblioteca e Archivo Público do Pará, 10 vols., 1902-1926. Belém. Barleu, Gaspar. 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V BA 24 Prado 1772 ? V BA 25 Guaratuba 1768 Guaratuba V PR 26 Lajes 1766-8 Lajes V SC 27 Mazagão 1771 Mazagão V AP 28 Iguatemy (Prazeres) Ca. de 1772 — PF SP 29 Albuquerque 1778 Corumbá V MT 30 Vila Maria do Paraguay 1778 Cáceres V MT 31 Casalvasco 1783 — V MT 32 Aldeia Maria Ca. de 1780 — A GO 33 Sào José de Mossamedes Ca. de 1780 — A GO 34 Piracicaba 1808 Piracicaba NR SP 35 Limeira 1808 Limeira NR SP 36 Niterói (Praia Grande) 1819 Niterói V RJ 37 Linhares 1819 Linhares V ES 118 N." Topônimo primitivo i Ano 2 Ano Topônimo atual Classificação 4 Estado 38 Salvador (Bahia) 1549 1785 Salvador C BA 39 Rio de Janeiro 1565-67 D. de 1790 Rio de Janeiro C GB 40 São Paulo 1560 1792-1808 Sào Paulo C SP Notas relativas ao apêndice: (1) Ano em que foi concedido o titulo oficial à localidade, ou então ano de sua fundação. (2) Ano da remodelação da localidade surgida sem planificaçâo ou da sua modificação. (3) Nesse sistema de classificação, C = cidade; V = vila; A = aldeia; NR = não reconhecida oficialmente na época do planejamento; e PF = praça forte (cidade fortificada). Além disso, com referência às datas, Ca. de = cerca de; e D. de = década de. (4) As siglas dadas nessa coluna correspondem aos seguintes estados: AM = Amazonas; AP = Amapá; BA = Bahia; CE - Ceará; ES = Espírito Santo; GB — Guanabara; GO = Goiás; MA = Maranhão; MG = Minas Gerais; MT = Mato Grosso; PA = Pará; PB = Paraíba; PE = Pernambuco; PI = Piauí; PR = Paraná; RJ = Rio de Janeiro; SC = Santa Catarina; e SP = São Paula 119 índice onom ástico remissivo Topônimos A Açores 14, 47, 57 Albuquerque (Corumbá) 77, 79, 80, 81, 82, 87, 118 Aldeia Maria 81, 89, 87, 118 Amapá 57, 59, 60,62, 67 Amazonas, capitania 35, 49, 50, 69, 98, 102 Amazonas, rio 50, 51, 66, 97, 102 Apucarana, serra de 75 Aquiraz 21, 23 Aracati 23, 24, 26, 46, 97,118 Araguaia, rio 31 Argentina 101 B Bahia, capitania 11,17,18,19, 20, 23,69, 91,102 Bahia, Cidade da, ver Salvador Balsemão 55,79, 86,97,118 Barcellos (Rio Negro) 51, 52, 53, 56,65, 97, 118 Bath, Inglaterra 101 Belém, Pará 35,49, 50, 51,53,62, 66,77,78,79,80, 97 Belo Horizonte XII, 1 Borba (Trocano) 50, 65, 97, 118 Botucatu73 Bragança (Souza de Caeté) 50, 97,118 Brasil, Estado do 17 Brasília VII, XI, 1,101 Buenos Aires XII, 14, 48, 43 c Campos Gerais 28 Cananéia 73,75 Craguatatuba 86 Carapicuíba 76, 86 Caribe 13 Casalvasco, 79, 80, 81, 82, 87, 89, 97, 111, 118 Ceará, capitania 20,21,22,23,24, 26,56,66 Champs-Élysées, Avenue des 102 Chandigarh, índia 101 Chile 101, 104 Chiquitos 79 Coimbra VII Conceição, Forte de 54, 66 Coxipo, ribeirão do 29 Cuiabá, Bom Jesus de 29, 30,31,32, 33 36, 39, 54, "3 , 77, 79, 80, 81, 82,97,118 Cuiabá, rio 29 Curitiba 42,73,76, 86,97,118 E Espanha, ver espanhóis no índice de nomes de pessoas e gcntílicos Espírito Santo 92, 93 F Faxina 73, 85, 86, 87 Fortaleza 20,21,22,23,25,26,97,118 G Goiânia 1, Goiás, capitania 14,29,30, 31,32,33,40, 81, 82, 83, 89 Guaporé, rio 14, 34, 36,40, 50,77, 78,91, 98 Guaratuba 73,74,85, 86,97,118 Guiana 57 I Icó 23,31,39, 97,118 Iguape, Ceará 21 Iguape, São Paulo 73,75 Iguatemy (Prazeres) 75, 76, 86, 97, 118 Infante, Vila Nova do 38 J Jaguaribe, rio 23 Jaguaripé, vila (Bahia) 102, 104 Jardim Botânico do Rio 90,93 Jesus Maria José, (forte) RS 47, Jesus Maria (SP) 93, 94 Juazeiro 17 L Lages 73, 75, 86, 97, 118 Laguna 43, 44 Levittown 101 Lima, Peru 101, 104 Linhares 92, 93,, 94 118 Lisboa VI, 21,23,24,28, 30,41, 50, 54,62,63, 64, 67, 85, 92,94,99,100 Longá, rio 18 120 M Macapá, ver Sào José de Madeira, iiha da 44, 57 Madeira, rio 49, 50, 54, 55, 66, 77, 78, 79, 80, 82, 91, 97, 98 Marajó, ilha de 56 Maranhão, capitania 11, 15, 25 Maranhão, estado do 15,17,18,19, 47 Mariana (Ribeirão do Carmo) VIII, 36, 37, 38, 39, 40, 43, 97, 118 Mato Grosso, capitania 14, 29, 30, 31, 32, 33, 35, 39, 47, 49, 53, 54,66, 78,79, 80, 81,87,91, 94, 95,102 Mazagão, Brasil, ver Nova Mazagão Mazagão, Marrocos 59 Melgaço 60 México 101, 103,104 México, país 101, 103 Minas Gerais, capitania VIII, 4,11,12, 27, 28, 29, 31, 36, 37, 39,72, Mocha (Victoria, hoje Oeiras) 4,17,18,19, 20, 24, 25, 64, 97, 99,118 Mogi-Guaçu 74, 85, 86 Mogi-Mirim 74, 78 Monte-Mor o Novo (Baturité) 56, 66, 97, 118 Montevidéu 14 Mutucá, rio 59 N Negro, rio 50, 51, 52, 65, 67, 97, 102, 118 Niterói (Praia Grande) 91, 94,117 Nova Mazagão 57, 59, 60, 61,62, 66, 67, 69, 97, 118 O Óbidos 60 Orenoco, rio 79 Ouro Preto (ver Vila Rica) P Pantanal 79 Pará, capitania 35,47, 49, 50, 56, 59, 62,65, 66, 75, 76, 80, 82, 91, 94,102 Pará, cidade, ver Belém Paraguai, rio 79, 80 Paraíba do Sul, rio 28 Paraná, estado 74 Paraná, rio 97 Paranaguá 42,46, 73, 74, 86, 97 Paranapanema, rio 75 Parnaíba, rio 17,18 Parnaíba, São João de 19,20, 25,97, 118 Passeio Público, Rio de Janeiro 90, 93, 94 Patos, I.agoa dos 43, 44 Pernambuco 11,15, 17,18, 20, 25 Peru, Lima 79, 80,103 Piauí 4,17,18,19,20, 22,23,24,25, 64, 97 Piracicaba, rio 73 Piracicaba, cidade 97,118 Piracuruca, rio 18 Portalegre 70,71, 72, 85, 97,118 Porto Seguro, comarca 69, 70,72,77, 84, 85, 96, 98, 102, 104 Prado 70,72, 85, 97,118 Prata, rio da 14,43, 44,45 Principe, Vila do (serra do Frio) 39 Príncipe da Beira, forte 47, 80, 81, 82, 87 Q Quito, Equador 79 R Rainha do Caeté, Vila Nova da 39 Rio de Janeiro, capitania 9, 13, 16, 39, 46, 89, 93,94 Rio de Janeiro, cidade V, XI, 11,21,28, 31, 36,37,41, 43,45,65,78,79,90,93,94,, 97, 119 Rio Grande (de São Pedro) 24,43, 44, 47, 73, 86 Rio Grande do Sul VIII, 14,45,47,48, Rússia 95,103 s Sabará 39, 89, 93 Sacramento 14,43, 44 Salgado, rio 23 Salto da Cachoeira, no rio Madeira 91, 94 Salvador da Bahia XI, XIII, 3,11, 17, 23,24,65, 66,71, 72, 78,79, 90, 94,97,119 Santa Catarina 14, 44, 45,47, 48, 75, 86 Santana 31,33,34,47, 59, 60, Santos 44,73, 85, 86 São Domingos, cap. da República Dominicana 100 São Francisco, rio 11, 23, 97 São João de Parnaíba, ver Parnaíba São José dei Rey (Tiradentes) 39 121 São losé de Macapá 47, 56, 57, 58, 59, 62, 66, 67, 69, 85, 91,97, 101, 102, 118 São josé de Mossamedes 82, 33, 84, 87, 97,118 São José do Porto dos Barcos (depois Aracatí) 23 São José do Rio Negro, ver Barcellos São Luís 17, 97 São Miguel 47, 54, 55, 56, 66,78, 79, 97, 118 São Paulo, capitania 11,14,31, 33, 39,42, 44, 47, 72, 73, 75,76,77,78,85, 86,93, 119 Sào Paulo, cidade V, XII, 31,41, 43, 73,91, 94, 97,118 São Pedro 75 São Petersburgo (ex-Leningrado) 95, 103 São Roque, cabo de 17 Sorocaba 73, 77, 85, 86 Sumidouro 27, 28, 38 T Tapajós, rio 50 Terreiro do Paço, Lisboa 64 Tibagi, rio 75 Tietê, rio 73 Tocantins, rio 9, 50, 56 Tordeslihas, Tratado de 9 Trancoso 69, 97, 118 Trocano, ver Borba v Venezuela 101 Verde 69, 97, 118 Vermelho, rio 29, 31, 39 Versailles, França 90, 102 Viamão VHI, 73, 86 Viçosa 70,72, 85,97, 118 Victoria, Nossa Senhora de, ver Mocha Vila Bela VII, 32, 33, 34, 35,36, 40,49, 79, 80,81, 82, 84, 87, 88, 89, 97, 98,103, 118 Vila Boa de Goiás (Santa Ana) 31,32,33, 39,40, 82, 84, 87, 97, 103,118 Vila Maria do Paraguay (Cáceres) 78, 79, 80, 81, 82, 87, 97,118 Vila Rica (Ouro Preto) 29, 366, 37, 38, 39 Vistosa 62, 67 N om es de pessoas e gentílicos A Abreu, Joio Capistrano de 10,11,15, 24, 25 Abreu, Tomás Canceiro 69, 84 Açorianos (casais) 26, 44, 45, 47, 48, 58, 79, 80, 91, 92, 95, 99 Adonias, Isa V, 108 Aires de Casal, Manuel 59, 66 Aiberti, Leon-Battista 97,103 Albuquerque Melo Pereira e Cáceres, Luís de (governador de Mato Grosso) 40, 77, 78, 79, 81, 82, 84, 85,87, 88 Alden, Dauril 39,47, 66, 73, 85, 86, 87, 99,101,102, 103, 104 Almeida, Pedro Taques de 41, 46 Almeida Serra, Ricardo Franco de 87, 91, 94 Aipoim, José Fernandes Pinto 37, 43, 47 Andrade, Gomes Freire de, conde de Bobadela (governador) 24, 26,40,44 Antônio, príncipe dom 42 Azevedo, Aroldo 7,15, 25, 39, 93, 94, 96, 103 Azevedo, Custódio Francisco 2, 7 Azevedo, Fernão de 2, 7 Azevedo, Thales 46, 48 B Barreto, Paulo T. 19, 25 Bastão Ferrer, Anêmona Xavier de 26 Belidor, Bernardo Forest de 43 47 Borba de Morais, Rubens, ver Morais, Rubens Borba de Boxer, Charles 13, 15, 16, 25, 38, 39 Bums, E. Bradford I, VII, XII, 15, 93 c Cabral, Pascoal Moreira 29 -Calógeras, João Pandiá 16 Câmara, João Pedro de 55, 56 Castro e Almeida, Eduardo de V, 48 Correa Filho, Virgílio 36,39,40, 87 Corrêa Pinto, Antônio 74, 75, 86 Cortesão, Jaime 42,46, 47 Costa, Thomaz Rodrigues da 58 Cruz Pinheiro, João da 58, 66 Cunha Menezes, Luís da (governador) 40, 81, 82, 83, 84, 85,87, 94,103 122 D Davidson, David M. 39, 40, V , 78, 79, 80, 87, 94 Deffontaines, Pierre 2, 6 Doxiadis, Konstantinos Apostolos 5 E Espanhóis XI, 1, 9,14, 33, 34. 39, 41, 43, 44, 45, 51, 75, 76, 79, 80, 81, 82,103 F Faria, José de 24, 26 Ferreira Reis, Artur Cézar VII, 66, 67 Fonseca e Silva, Valentim 90 Fortes, Azeredo 42 França, José Augusto 64, 67, 68 Francês, Manuel 22, 26 Franceses 41, 57 Freyre, Gilberto de Melo 2, 7 Furtado, Celso Monteiro 98, 103 G Gasparini, Graziano VII Geigger, Pedro Pinchas VII, 7 Girão Raimundo 21, 25, 26 Gusmão, Alexandre de 44, 45, 46, 47, 99 H Hardoy, Jorge E. VII, XII Harris, Marvin 2, 6 Holanda, Sérgio Buarque de VII, 6, 46 Holandeses 21, 25, 51 I Ianni, Octavio VII índios (Brasil) 11,18,19, 42, 44,49, 50, 51, 53, 54, 55, 56, 59, 60, 66,67, 69, 70, 71, 72, 73, 75, 76, 79, 80, 81, 82, 84, 85, 89, 91, 92, 93, 94, 95, 100, 104, Iria, Alberto V, 25 J Jesuítas 11, 18, 47, 49, 65, 71, 73, 75, 76, 86, 87 João V (rei) 16, 46, 49, 64 João VI (rei) 4, 5, 93 José I (rei) 49, 67 L Ladino, Mando 18 Landi, Antônio José 54, 66 Lavradio, marquês de, Luís de Almeida Soares Portugal de Alarcão Eça e Melo. Conde de avintes e (vice- rei) Leme, Mathias 73, 85, 86 Lima, d. Francisco (bispo) 17 Lyra Tavares, general Aurélio de 46, 66, 67 M Maia da Gama, João da 19, 25 Mardel, Carlos 64, 67 Maria I (rainha) 4 Mascarenhas, d. Luís de (governador) 31 Massé, João 41, 46 Melo e Castro, Manuel Bernardo de (governador) 40, 51, 65, 66 Mendonça Furtado, Francisco Xavier de (governador) V, 49, 50, 51, 53, 58, 59, 65, 66, 67,75, 76, 77, 86, 87,104 Monteiro, José Xavier Machado 69, 70, 71, 72, 84, 85, 96, 104 Montesquieu,