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585023402-Novas-Vilas-Para-o-Brasil-Colonia-Planejamento-Espacial-e-Social-No-Seculo-Xviii-8586774022-Compress

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P L A N T A
DA NOVA POVOACAO DB CA/AL VAS
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CIORD
C íitrtf Irtcgròdo 
de Qrdenowento Terrifonol
- r V , - - - ■ • ■ . . - - ■.
0 A publicação de New Towns for Colonial Brazil, 
W da Dra Roberta Marx Delson; em 1979, foi um 
A fe ito pioneiro. Naquela época poucos 
* > estudiosos admitiam a idéia de que 
^historicamente houvera pma padronização 
■ das vilas no Brasif-colônia, , a concepção 
0 revolucionária de tím planejamento no nível 
g macroeconômico nd sécuío XVill era ainda 
- mais impensável
0 No entanto, hoje as idéias da Dra: Delsori'
_ são encaradas como um ponto crítico 
™ no âmbito mais amplo do estudo 
0 do urbanismo português. Aquilo oue foi 
A praticado no Brasil naturafmente teve ■, I ■ 
W a sua correspondência em Portugal 
^ | e foi experimentado em menor escala 
^ em outras colônias do reino.
Mas foi o Brasil, cóm seu território 
' - aparentemente infindo e suas massas 
errantes, gue atraiu os administradores 
^portugueses.
2 Eles encaravam a sua colônia como um vasto 
laboratório espacial no qual eles deveríam criar 
> um cidadão novo e socialmente aceitável, 
alojado em composições arquitetônicas 
_ . perfeitamente alinhadas e homogêneas.
Não é absurdo afirmar que suas idéias ainda 
r hoje têm repercussão.
E com imenso prazer que damos a lume, 
pela primeira vez em português, esta obra 
de imensurável valor.
NOVAS ViLAS PARA O BRASIL-COLÔNIA
Planejamento Espadai e Sodal no Século XVIII
Um livro das edições ALVA-CIORD
O que é o CIORD
O Centro Integrado de Ordenamento Territorial - CIORD é resultado de um Convênio assinado entre 
a Universidade de Brasília - UnB e a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - 
SAE/PR, em 16.09.95. Está voltado para o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar no campo do 
Ordenamento Territorial, em colaboração com Faculdades, Institutos, Departamentos e Centros da UnB e 
de outras Universidades Brasileiras e Estrangeiras, orgãos governamentais, ONG’s e Empresas.
O que são as Edições ALVA
As Edições ALVA têm por objetivo agilizar a divulgação de conhecimento produzido sobre questões 
práticas e conceituais de territorialidade e da adequação social à mesma, de geopolítica, das relações cidade/ 
campo e cidade/região, de arquitetura e urbanismo, bem como de sua história.
Roberta Marx Delson
Novas Vilas para o 
Brasil-Colônia
Planejamento Espacial e Social 
no Século XVIII
CIORD
Centro Integrado 
de Ordenomento Territorial Edições ALVA
© Roberta Marx Delson, 1979.
Título do original em inglês: New Towns for Colonial Brazil. Spalial and Social Planning of 
the 18th Century
Dellplain Latin-Ametican Studies 2 
Editor: David j. Robinson
Departamento de Geografia da Universidade de Syracuse,
Estado de Nova York, 1979
Edição para o Brasil:
Tradução e Revisão de texto: Fernando de Vasconcelos Pinto 
Composição gráfica: Frank Svensson 
Capa: Adriana Tavares de Lyra 
Miriam Vargas
Apoio: CIORD Centro Integrado de Ordenamento Territorial - Universidade de Brasilia
Editoração: Editora ALVA Ltda. ©
SCLN 406 Bloco E Sala 110 
70 910-900 Brasília DF 
Fone: (061) 347 45 33 
Fax (061) 347 35 33
Ficha catalográfica elaborada pela 
Biblioteca Central da Universidade de Brasília
Delson, Roberta Marx
Novas vilas para o Brasil-Colônia: planejamento espacial e social no Século 
XVIII/Roberta Marx Delson; [tradução e revisão, Fernando de Vasconcelos Pinto; 
composição gráfica, Frank Svensson; capa Adriana Tavares de Lyra, Miriam Vargas]. 
- Brasília : Ed. ALVA-CIORD, 1997, Cl 979.
Traduzido de: New towns for colonial Brazil: spatial and social planning 
of the 18th Century.
ISBN 85-86774-02-2
1.72”17’(81)I. Titula II. Título: Planejamento espacial e social no Séculoxvin
ISBN 85-86774-02-2
^ 1 h 5W 4
À memória do erudito 
Professor E. Bradford Burns, 
detentor da comenda da 
Ordem do Rio Branco e 
meu mentor e amigo.
S u m á r i o
Dedicatória I
Sumário III
Relação das ilustrações IV
Abreviaturas V
Prefácio à edição brasileira 
Prefácio à edição em inglês 
Frase-chave
Capítulo I : O mito da cidade brasileira sem planificação ---------- ----- 1
~ C a p í t u l o II : A formulação de um programa de construção de vilas ^ ----- --------* 9
Capítulo III : Aplicando o modelo: primórdios experimentais no Nordeste-----— 17
Capítulo IV : A expansão da autoridade: novas vilas no Centro e no Oeste r- 27
Capitulo V : Um repertório dos princípios de construção: São Paulo e o Sul 41
—— 5̂ Capítulo VI : O Marquês de Pombal e a política portuguesa de “europeização”^ - --------- 49
Capítulo VII : Planificadores e reformadores- ------- 69
Capítulo VIII : A arborização das cidades brasileiras do fim da era colonial 89
Capítulo IX : O programa de novas vilas numa visão panorâmica____ 95
Bibliografia 107
Apêndice 118
índice onomástico remissivo 120
III
R elação das ilustrações
Figura L egenda
1 Planta básica de São João de Parnaíba, 1798
2 Croqui de Fortaleza, Ceará, aproximadamente 1730
3 Planta de Sumidouro, em Minas Gerais, 1732
4 Planta básica de Cuiabá, Mato Grosso, 1777
5A Planta básica de Vila Boa, Goiás, 1782
5B Planta de Vila Boa mostrando o realinhamento, aproximadamente 1782 
6A Detalhe de Vila Bela, 1773 
6B Planta básica de Vila Bela, 1780
7 Planta de Mariana, em Minas Gerais, depois da reconstrução de 1746-1747, sem 
data
8A Planta básica de Barcellos, no rio Negro, tal como foi redesenhada por Felipe 
Sturm, 1762
8B O novo projeto para Barcellos, sem data
9 Planta básica de São Miguel, 1765
10 Planta básica de Balsemão, 1768
11 São José de Macapá, no Amapá, 1761, mostrando o desenho da praça dupla
12 São José de Macapá: detalhe da disposição das habitações, 1759
13A Esquema inicial de Nova Mazagão, no Amapá, sem data
13B Nova Mazagão, aproximadamente 1800
14A Detalhe de Lisboa no século XVI
14B O novo projeto de Lisboa depois do terremoto de 1“/H /1 7 5 5 (1755)
15 Planta básica de Vila Viçosa, aproximadamente 1769
16 Planta básica de Portalegre, aproximadamente 1772
17 Planta básica de Prado, aproximadamente 1772
18 Planta básica de Guaratuba, Paraná, final do século XVIII
19 Planta da praça forte de Iguatemy, aproximadamente 1785
20 Planta básica de Albuquerque (atualmente Corumbá), Mato Grosso do Sul, 1784
21A Planta básica e situação de Vila Maria do Paraguay, em Mato Grosso, 1784
21B Ilustração do dia-a-dia em Vila Maria do Paraguay
22 Planta básica de Casalvasco, em Mato Grosso do Sul, 1782
23 Planta básica de Corumbá (antiga Albuquerque), Mato Grosso do Sul, 1786
24 Planta básica da Aldeia Maria para os índios caiapós, Goiás, 1782
25A Detalhe de São José de Mossamedes, Goiás, 1801
25B Planta básica em perspectiva de São José de Mossamedes, 1801
26 Planta básica de Linhares, no Espírito Santo, 1819
27 Localização de aglomerações urbanas planificadas no Brasil-colônia
IV
i
1
i
A breviaturas •
ABAPP Annaes da Bibliotheca e Archivo Público do Pará, Belém •
ABN RJ Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro M
AHI Arquivo Histórico do Itamaratv, Rio de Janeiro /
AHI-IA Catálogo da mapoteca do Arquivo Histórico do Itamaratv, de Isa Adonias, Rio 
de Janeiro
•
AHU Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa •
AHU-CA Catálogo de documentos do Arquivo Histórico Ultramarino de Castro Almeida
AHU-Iria Catálogo do acervo de mapas relativos ao Brasil de Alberto Iria, Lisboa 9
ANRJ Arquivo Nacional, Rio de Janeiro 0
APM Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte
BA Biblioteca da Ajuda •
BMSP Biblioteca Municipal de São Paulo
BNL-AP Biblioteca Nacional, Lisboa, Acervo Pombalino •
BNRJ-RC Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Registro de Cartas de Luiz Antônio de 
Souza •
BNRJ-SI Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, Seção de Iconografia •
CLB Colecção de Leis do Brasil, Rio de Janeiro
DH-BNRJDocumentos Históricos, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro •
D1HSP Documentos Interessantes para a História e Costumes de São Paulo, São Paulo A
H AH R Hispanic-American Historical Review •
IHGB Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro m '\
IHGB-CU Reproduções de documentos do Conselho Ultramarino guardadas pelo 
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro 9
MCM Correspondência de Francisco Xavier de Mendonça Furtado contida em A 
Amazônia na Era Pombalina, de Marcos Carneiro de Mendonça, 3 volumes •
MIGE Mapoteca do Instituto de Geografia do Exército, Rio de Janeiro
MU-CI Ministério de Ultramar, Lisboa, acervo de reproduções fotográficas de mapas 
da Casa da Insua
W
m
RIC Revista do Instituto do Ceará
RIHGB Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro •
RSPH AN Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro
SGL Sociedade de Geografia, Lisboa •
V
it
iii
I
í
i
Introdução à edição brasileira
Transcorreram quase 20 anos desde que es­
creví Novas Vilas para o Brasil-Colónia. Não pude 
deixar de sorrir ao constatar que o livro acabara 
me transformando numa espécie de grands dame 
de uma nova geração de intelectuais que agora 
iniciavam o estudo sistemático da urbanização 
no âmbito mais amplo da totalidade do império 
português, numa escala nunca antes imaginá­
vel. Uma parte desse esforço intelectual resultou 
de estudos promovidos e financiados pela Co­
missão Nacional para as Comemorações dos 
Descobrimentos Portugueses. A CNDP, inteli­
gentemente, criou uma subdivisão de estudiosos 
que neste mom ento estão coordenando uma 
comparação inédita de todos os escritos existen­
tes sobre a expansão e o desenvolvimento urba­
no português, em conexão com a meta mais abran­
gente da comemoração do quinto centenário dos 
grandes descobrimentos portugueses. Fiquei 
satisfeita de o organizador desse empreendimen­
to, o Professor Walter Rossa, da Universidade 
de Coimbra, erudito arquiteto português, ter ti­
do conhecimento do meu livro e, depois de mui­
ta dificuldade em me localizar, ter me incluído 
nesse novo projeto empolgante.
Igualmente gratificante foi a proposta ex­
tremamente generosa que o Professor Frank 
Svensson, da Universidade de Brasília, me fez 
há algum tempo de relançar o meu livro numa 
edição em língua portuguesa. Naturalmente eu 
aceitei a sua proposta com muita satisfação. Ao 
que parecia, ele também conhecia o meu livrinho 
e, sem eu saber, eu tivera leitores no Brasil, bem 
como em Portugal. Muito a propósito para con­
firmar isso, bem recentemente aconteceu algo 
numa sessão sobre planejamento urbano nos 
encontros da Brazilian Studies Association, em 
Washington, DC. Quando me aproximei de um 
jovem colega brasileiro para felicitá-lo pela sua
preleção, ele reconheceu-me imediatamente 
“Ah” - disse ao ver o meu crachá -, “Novas Vilas...”
Evidentemente sinto-me satisfeita e lison- 
jeada de ser considerada um dos fundadores 
desse novo campo de estudos que é a história 
do urbanismo e da planificação portuguesa, que 
não para de crescer. j^ n o entanto, com toda a 
devida modéstia, devo confessar que fiquei 
tomada de emoção por ser subitamente “desco­
berta”. Quando realizei a minha pesquisa no 
Brasil e em Portugal, há muitos anos, é claro 
que eu tinha pouca consciência de que o meu 
estudo era “pioneiro”1, mesmo reconhecendo 
que estava desafiando o saber convencional. 
Certamente eu tive o privilégio de conhecer al­
guns dos mais eminentes estudiosos da maté­
ria, como Otávio Ianni, Pedro Pinchas Gei­
ger, Sérgio Buarque de Holanda, Artur Cézar 
Ferreira Reis, Nestor Goulart Reis Filho, Jorge 
Hardoy e Graziano Gasparini, entre outros, e 
de discutir o meu projeto com eles. Na Universi­
dade de Colúmbia, estudei com E. Bradford 
Burns, Lewis Hanke, Charles Wagley, George 
Collins e, exatamente no seu último ano na 
faculade, com o legendário Frank Tannenbaum.
Quando o livro foi publicado, graças aos 
bons ofícios de David Robinson (da Universi­
dade de Syracuse, no estado de Nova York, onde 
me bacharelei), ainda encontrei algum cepticis- 
mo, principalmente entre os meus colegas dos 
Estados Unidos. Como é que eu sabia que Vila 
Bela fora construída conforme eu descrevera, 
ou que Cazal Vasco (sic), cuja planta ilustrava a 
capa original, havia sido ajustada à retilineidade 
prescrita? Retruquei-lhes que os documentos 
existentes atestavam que a legislação de planeja­
mento urbano havia sido realmente obedecida. 
Além do mais, eu havia palmilhado pessoalmente 
as ruas de várias comunidades coloniais plani-
VII
ficadas remanescentes, como Mariana, em Mi­
nas Gerais, e Viamâo. no Rio Grande do Sul, sem 
falar em Lisboa, e podia afirmar, de visu, que 
ainda existiam provas daquilo que fora uma 
tendência. Ainda assim as dúvidas persistiam. 
Será que tudo aquilo era apenas uma abordagem 
fantasiosa?
Talvez convencer os outros leve anos. No 
verão passado eu tive o prazer quase insuportá­
vel de ouvir uma jovem arquiteta brasileira dizer- 
me que havia “descoberto” as ruínas de Vila Bela 
e que as medições que ela efetuara nos restos 
das edificações estavam exatamente de acordo 
com as especificações de Rolim de Moura. Além 
disso, ela havia localizado a “verdadeira” Cazal 
Vasco (não a nova aglomeração de mesmo no­
me), e esta também oferecia provas de que as 
ordens originais de planejamento haviam sido 
cumpridas. Estou imensamente penhorada a Re­
nata Malcher de Araújo pelas suas explorações 
corajosas e por ela ter dissipado qualquer resquí­
cio de dúvida que eu possa ter tido.
Como era esperável, junto com os inevitá­
veis desgastes do tempo, eu experimentei um ine­
vitável amadurecimento das minhas idéias. Ain­
da estou firmemente convicta de que o plano 
diretor português para o Brasil do século XVIII 
era tão maravilhoso por seus objetivos quanto 
eu o havia considerado anos atrás, mesmo que 
a sensibilidade dos estudiosos modernos rejei­
te as bases dessa abordagem. Porém igualmente 
intrigante, eu acho, é uma conclusão a que che- 
guei paulatinamente. Concentrando-me nova­
mente nos dados originais e com o auxílio de 
pesquisas ulteriores, eu consegui compreender 
como a cultura material se desenvolveu no Bra­
sil colonial e apreciar as suas relações com o 
fenômeno mais amplo do colonialismo. Antes 
de tudo, estou convicta de que os portugueses 
tinham uma compreensão racional e claramente 
definida do que eles podiam e do que não po­
diam realizar. Com isso eu quero dizer que pare­
ce que eles estavam dispostos a transigir na sua 
maneira de proceder e mesmo a adaptar às for­
mas culturais locais, se isso favorecesse a acei­
tação global das normas portuguesas. Sugeri
isso no meu livro quando afirmei que, embora 
houvesse uma regulamentação das fachadas ex­
ternas das casas nas novas comunidades cons­
truídas no sertão, em muitas localidades os ad­
ministradores permitiam aos habitantes porem 
em prática suas próprias idéias no tocante ao 
interior de seus lares.
Embora alguns colegas possam considerar 
isso apenas um “verniz de europeização”, ainda 
me inclino a encará-lo como uma disposição de 
aceitar uma cultura “híbrida”. Essa hibridação 
conduziu a conciliações que atendiam tanto à 
contribuição local como às exigências da metró­
pole, e que resultaram em soluções admiráveis 
e muitas vezes notavelmente adequadas para a 
localidade em questão. Como as ilustrações da 
época indicam, era perfeitamente possível cons­
truir uma casa em estilo europeu nas comunida­
des interioranas, mesmo utilizando, por exem­
plo, folhas de palmeira em vez de paredes de 
pedra e cal. Presentemente também me sinto 
propensa a dar maior destaque ao papel dos imi­
grantes das ilhas do Atlântico (na maior parte 
açorianos), pelo seu trabalho de adaptação e cria­
ção de uma nova cultura colonial. Em vista dis­
so, meus estudos afastam-me cada vez mais de 
concepções de dominação total (ou do fenôme­
no aposto, a repressão) e conduzem-me àquilo 
que acho que identifiqueiinstintivamente (e in­
sinuei neste livro), a saber adaptabilidade e for­
mas híbridas.2
Tudo isso alcança esse grau de maior clare­
za quando colocado no âmbito mais amplo dos 
estudos do colonialismo português em escala 
global. Parece que a adaptação, a remodelação e 
a fusão da cultura local com formas puramente 
européias são reconhecidas universalmente 
como sinônimos do colonialismo português.3 
Desconfio que os portugueses sabiam que nun­
ca poderíam dominar completamente o Brasil, 
nem moldar a sua cultura de maneira inteira­
mente européia, porém a cultura rural que eles 
procuraram criar (por meio da pequena proprie­
dade rural e das redes agrícolas regionais) certa­
mente era um passo naquela direção. Isso real­
mente ainda tem repercussões no Brasil de ho­
VIII
je, exatamente como eu observei há quase 20 
anos.
Quero externar o meu agradecimento ao 
Professor David Robinson, ainda hoje editor da 
Série Dellplain de Geografia, por sua anuência 
para a republicação deste estudo. Como sempre, 
sou reconhecido ao meu esposo, Dr. Erik Del­
son, invariavelmente paciente pela sua ajuda e 
incentivo durante todos esses anos, e à sua cole­
ga Lorraine Mesker, pela sua ajuda no que se 
referiu às ilustrações. Estou grata igualmente a 
Wolney Unes, da Universidade de Brasília, pela 
sua atuação como intermediário no andamento 
das providências e pela gentileza de expedir mi­
nhas interm ináveis mensagens pelo correio 
eletrônico. Sobre a tradução extraordinaria­
mente perspicaz de Fernando de Vasconcelos 
Pinto, só posso dizer que mal posso crer que 
ele conseguiu captar todas as nuances do meu 
trabalho. Acho que o maior elogio que lhe posso 
fazer é que o livro está mais bem escrito em por­
tuguês do que em inglês.
Finalmente, quero agradecer ao Professor 
Frank Svensson por me proporcionar a opor­
tunidade de atingir um círculo de leitores brasi­
leiros ainda mais vasto. Só posso esperar que 
esta edição em português da minha obra conti­
nue a encorajar estudiosos mais jovens a pros­
seguirem as pesquisas que empreendí.
Roberta M arx Delson 
Fort Lee, Nova Jersey 
Junho de 1998
(1) Essa foi a apreciação benevolente de minha obra 
que Walter Rossa fez na sua monografia apre­
sentada no IV Seminário de História da Cidade 
e do Urbanismo, realizado no Rio de Janeiro em 
novembro de 1996, intitulada “O urbanismo re­
gulado è as primeiras cidades coloniais portugue­
sas”.
(2) Ver Nicholas Thomas, Colonialism’s Culture: An­
thropology, Travel and Govemement. Princeton Uni­
versity Press, Princeton, Nova Jersey, 1994. Ver 
também Roberta Marx Delson, “Between Im­
perial Domination and Resistance: The process 
of creating material culture in the late colonial 
Amazon” , em fase de elaboração.
(3) Urs Betterli, Cultures in Conflict: Encounters between 
Euyropean and Non-European Cultures, 1492-1800. 
Polity Press, Cambridge, Inglaterra, 1989.
I
Prefácio da edição em inglês
Para muitos brasileiros, a criação da nova 
capital federal, Brasília, significou o início da pla- 
nificação urbana formal no seu país. Na melhor 
das hipóteses, quando questionados sobre a exis­
tência de planos diretores para suas cidades, os 
brasileiros, na sua maioria, dizem que tais planos 
não existem, e lembram a miséria das favelas 
sem previsão e sem estrutura. Essa visão absolu­
tamente não se restringe ao vulgo; ela também 
é característica dos mais ilustrados.
Assim sendo, quando fui admitida na Uni­
versidade Columbia como estudante de pós- 
graduação, como de praxe, logo fui familiarizada 
com o “fato” de que não houvera planejamento 
para a cidade do Brasil-colônia como uma pre­
missa importante da história latino-americana. 
Em bora eu evidentem ente não tivesse con­
dições de questionar as conclusões de especia­
listas no assunto, fiquei a imaginar por que os 
portugueses da era colonial, ao contrário dos 
seus contemporâneos espanhóis, não tinham 
nenhum desejo preconcebido de estabelecer um 
ordenamento urbano. Eu não compreendia co­
mo os dois impérios ibéricos, que tinham forma­
ções, culturais tão acentuadamente semelhantes, 
poderíam diferir tanto nas suas respecrivas abor­
dagens da povoação colonial. As implicações 
de uma suposta diferença como essa são enor­
mes: se os espanhóis eram zelosos no seu empe­
nho em introduzir um ordenamento racional nas 
cidades coloniais das Américas, em comparação 
com os portugueses, tende-se naturalmente a 
concluir que estes devem ter sido relaxados e 
irresponsáveis com relação ao desenvolvimento 
municipal brasileiro.
Decidindo dedicar-me a essa questão na 
minha pesquisa de doutoram ento, eu cedo 
percebi que a consabida “falta de planejamento” 
para as cidades do Brasil colonial na realidade
era um mito. Desde os primeiros anos do po­
voamento português, quando o governador-ge- 
ral Tomé de Souza chegou para construir a capi­
tal de Salvador da Bahia com uma planta já traça­
da no bolso', há indícios da preocupação da Co­
roa portuguesa com o desenvolvimento de cen­
tros urbanos primários, preocupação essa que 
no século XVIII foi sistematizada numa filosofia 
completa de planejamento urbano. Enquanto 
eu aprofundava a minha compreensão do tema 
e acumulava dados, evidenciou-se que o prin­
cipal problema intelectual na minha investigação 
não era caracterizar os dois sistemas coloniais 
ibéricos, nem mesmo refutar o mito de que a ci­
dade brasileira não era planificada, mas sim ana­
lisar o surgimento de códigos de urbanização 
no Brasil setecentista como reflexo do absolu- 
tismo português na colônia.
Quando a minha tese começou a evoluir 
para um manuscrito da extensão de um livro, 
eu me concentrei cada vez mais em questões de 
política e metas administrativas, em vez de limi­
tar o meu tema a estilos arquitetônicos. Em con- 
seqüência, a proposição dominante nesta obra 
é que o programa de construção de cidades do 
século XVIII não constituía apenas uma prova 
do conhecimento rigoroso das técnicas arquite- 
tônicas da época por parte dos administradores 
coloniais, mas revelava uma mudança de atitude 
da Coroa para com o Brasil. Examinando os do­
cumentos e mapas de planejamento urbano ana­
lisados até agora, eu consegui distinguir um 
padrão que depõe fortemente em favor da exis­
tência de um “plano diretor” português abran­
gente para o povoamento no século XVIII. 
Minhas investigações conduziram-me a analisar 
áreas povoadas distantes dos centros urbanos 
tradicionais, como o Rio de Janeiro e Salvador 
da Bahia (os quais já foram bem estudados). Mi-
XI
nha arencão foi atraída para o desenvolvimento 
de cidades t viias em regiões muito afastadas da 
faixa litorânea e situadas bem dentro da vastís­
sima hinterlândia brasileira.
O planejamento urbano no Brasil chegou 
equivaler à política de controle e absolutismo: a 
configuração urbana caprichosamente regula­
mentada que orientou a construção interiorana 
no século XVIII desenvolveu-se como uma re­
presentação simbólica de “bom governo”, uma 
indicação de que a sociedade estava funcionando 
dentro de limites predeterminados e disciplina­
dos. Essa fórmula imbuiu o pensamento dos 
administradores coloniais em toda a década de 
1780, e na realidade as preferências estilísticas 
pela simetria barroca predominaram até uma 
época bem avançada no século seguinte.
E difícil agradecer a todas as pessoas que 
me ajudaram nesse esforço. Sem dúvida o Pro­
fessor E. Bradford Burns merece uma menção 
especial, por seu interesse constante pela Histó­
ria do Brasil. Estou reconhecida aos Professores 
John Mundy e Herbert Klein, da Universidade 
Colúmbia, pelo seu encorajamento e apoio aos 
meus planos durante a fase de dissertação. No 
decorrer da minha pesquisa, o Professor Nestor 
Goulart Reis Filho, da Faculdade de Arquitetura 
e Urbanismo da Universidade de São Paulo, deu- 
me sugestões valiosas que posteriormente eu 
pude incluir no contexto deste estudo. O Pro­
fessor Robert M. Levine, da Universidade Esta­
dual de Nova York, em Stony Brook, prestou- 
me valiosa consultoria e apoio intelectualem 
períodos particularmente árduos. O Professor 
Jorge E. Hardoy, do Instituto Di Telia, de Bue­
nos Aires, também me assistiu no decorrer do 
meu estudo.
Durante o período em que a exposição evo­
luiu para um livro, muitas vezes fui orientada 
pelos meus colegas do Departamento de Histó­
ria da Universidade Rutgers de Newark (Califór­
nia). Agradeço com especial empenho ao Pro­
fessor Samuel Bailey, do Departamento de His­
tória da Universidade Rutgers de New Bruns­
wick (Nova Jersey), pela leitura rigorosa do ma­
nuscrito original. O entusiasmo do Professor
David J. Robinson, editor da série em que esta 
obra se inclui, pelo meu es-tudo também foi 
imensamente importante.
Enquanto eu realizava a pesquisa para esta 
monografia, em 1970 e 1971, fui subvencionada 
por uma bolsa de estudo de língua estrangeira 
da Defesa Nacional dos Estados Unidos, e tam­
bém recebi um subsídio da Fundação Calouste 
Gulbenkian, de Lisboa. A essas duas institui­
ções, o meu reconhecimento. Além disso, quero 
registrar a minha gratidão às equipes de funcioná­
rios dos muitos arquivos cujos acervos eu con­
sultei, sempre muito solícitas. Em Lisboa, esses 
arquivos compreendem: o Arquivo Histórico Ul­
tramarino, a Torre do Tombo, a Biblioteca Na­
cional de Lisboa, a Biblioteca da Ajuda e a Socie­
dade Geográfica de Lisboa. No Rio de Janeiro, 
atenciosamente, abriram suas portas para mim 
as seguintes bibliotecas e arquivos: Biblioteca 
Nacional do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, 
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Pa­
trimônio Histórico e Artístico Nacional, Mapo- 
teca do Serviço Geográfico do Exército e Arqui­
vo Histórico e Mapoteca do Itamaraty. O Sr. 
Marcos Carneiro de Mendonça, bondosamente, 
permitiu-me consultar seus arquivos particu­
lares relativos à Amazônia. Em outras cidades 
do Brasil, fiquei grata pela ajuda das equipes do 
Arquivo Público Mineiro, em Belo Horizonte, 
da Biblioteca Municipal de São Paulo e dos 
arquivos da Câmara Municipal de Porto Alegre. 
A viagem suplementar que fiz ao Brasil em 1973, 
financiada pelo Conselho de Pesquisa da Univer­
sidade Rutgers, permitiu-me complementar a 
pesquisa para este livro e assistir ao Seminário 
sobre a Urbanização Latino-Americana em Belo 
Horizonte, no âmbito do Programa de Bolsas 
de Estudo para o Exterior do governo dos EUA. 
Fico penhorada a essas duas instituições pelo 
apoio financeiro que me deram.
Finalmente, dentre todas as pessoas a quem 
devo agradecimentos especiais, meu esposo, Eric 
Delson, é merecedor da minha mais profunda 
gratidão. Sem a sua boa vontade em me conceder 
tempo para a minha pesquisa, apesar dos seus 
próprios compromissos acadêmicos, esta obra
XII
não teria sido possível. Dedico este livro a ele e 
a meus pais, pelas suas incontáveis horas de 
paciência e pela confiança que em mim depo­
sitaram. Naturalmente a responsabilidade por 
eventuais erros cabe a mim.
A A u t o r a
quiteto nomeado pela Corca. Embora não reste 
nenhuma cópia da planta inicia! da cidade, exa­
minando-se o mapa mais anúgo existente (cerca 
de 1620),verifica-se que na construção original 
foi utilizada uma planta urbana muito seme­
lhante à de uma cidade renascentista ideal. 
Veja-se a análise feita por Nestor Goulart Reis 
Filho na sua obra Contribuição ao Estudo da Ero- 
lução Urbana do Brasil: 1500-1720 (livraria Pio­
neira, São Paulo, 1968), pp. 68-69 et passim.
(1) Tomé de Souza chegou ao sítio da futura Salva­
dor em 1549, acompanhado por Luís Dias, ar-
XIII
■ "'M
UD
Em bora na nossa sociedade moderna nós ou­
çamos falar muito em planejamento urbano, é im por­
tante compreender que a arte de projetar e constru ir 
uma cidade a partir do nada não é um avanço científi­
co m oderno como a engenharia aeronáutica ou a físi­
ca nuclear. Ao contrário, essa arte é uma das habili­
dades profissionais mais antigas do mundo civilizado.
Richard Currier em City Planning in Ancient Times
Capítulo I
O mito da cidade brasileira sem planifícação
Os historiadores da América Latina há mui­
to tempo vêm ensinando aos seus alunos que 
os espanhóis construíram cidades planificadas 
no Novo Mundo. Tornou-se quase axiomático 
falar entusiasticamente das ruas admiravelmente 
traçadas em cruz e das praças centrais em qua­
drado que caracterizavam as aglomerações urba­
nas da América espanhola, chamando-se a aten­
ção do estudante para a legislação de planeja­
mento bem elaborada que acompanhava a cria­
ção dessas comunidades.
. Entretanto, esses mesmos historiadores 
tendem a infamar as vilas e cidades construídas 
pelos portugueses no Brasil. Segundo as opi­
niões geralmente aceitas, as cidades brasileiras 
originaram-se de povoações espontâneas não 
planificadas, em vez de obedecer a normas de 
planejamento metropolitano. A sapiência con­
vencional conclui que esse crescimento alea­
tório só foi contestado no final da década de 
1950, quando a criação da nova capital federal, 
Brasília, anunciou uma nova era de consciên­
cia urbana no Brasil. Poucos leigos (e mesmo 
historiadores) se lembram dos esforços de plani- 
ficação envidados na construção de Goiânia, nos 
anos 1930, ou da utilização de um plano diretor 
na construção de Belo Horizonte no final do 
século XIX. Para os que aceitam o mito de que 
tradicionalmente não havia nenhuma regulamen­
tação para a cidade brasileira, a idéia de que hou­
ve antecedentes de um planejamento urbano 
abrangente no Brasil datando do século XVIII 
deve parecer algo como uma anormalidade. É 
visando a documentar a história desse planeja­
mento e analisar a sua motivação geopolítica que 
apresentamos a presente monografia.
■>- Essa não é uma tarefa simples. O estudante 
sequioso de conhecimento profundo da origem
e evolução das vilas e cidades brasileiras verifi­
caria que a sua investigação estaria terminada 
antes de começar, já que historiadores, arquite­
tos e geógrafos, indistintamente, têm tendido a 
descartar sumariamente o assunto. Típica das 
afirmações vulgares encontradiças sobre esse 
tema é esta opinião superficial de um arquiteto bra­
sileiro: “As cidades [do Brasil] cresceram um tan­
to desordenadamente em torno de igrejas, que 
geralmente se localizavam na área mais alta dis­
ponível. As ruas e travessas... ramificavam-se e 
serpeavam.”1 Igualmente dogmática é a asserção 
de que as vilas e cidades brasileiras foram fundadas 
“segundo uma configuração realmente extrava­
gante”.2 Entretanto, o mais prejudicial de todos 
é o conceito aventado por um célebre intelectual 
brasileiro de que “a cidade que os portugueses 
construíram no Brasil não é produto de uma 
reflexão, nem ela contradiz a conformação natu­
ral do terreno. ... [Ela não tem] nenhum rigor, 
nenhuma metodologia, nenhuma previsão.”3 
As poucas tentativas sérias de resgatar a 
imagem~hegadva das vilas e cidades primitivas 
do Brasil têm mostrado uma tendência de racio­
nalizar a “predominância” da disposição espon­
tânea da cidade, em vez de contestar essa suposi- 
ção infundada. Numa extremidade da gama de 
eruditos envolvidos nessa discussão está o histo­
riador da arte Robert C. Smith, que sustentava 
que os centros urbanos do Brasil colonial eram 
essencialmente recriações das cidades medievais 
portuguesas, completas com ruas tortuosas e 
bairros congestionados.4 Todavia, uma analogia 
como essa lança uma sombra nefasta sobre todo 
o processo da urbanização do Brasil, pois induz 
o estudioso a considerar os centros urbanos 
brasileiros historicamente retrógrados e artisti­
camente atávicos.
1
O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANIFICAÇÀO
Outros, numa posição mais intermediária, 
afirmam que os primeiros centros urbanos brasi­
leiros funcionavam bem do ponto de vista admi­
nistrativo, mas visivelmente careciam de qual­
quer plano diretor. Um comentarista dessa esco­
la opinou que . .as vilas maiores dó Brasil colo­
nial, qualquer que seja o grau em que a sua plan­
ta física tenha sido ajustada às condições locais 
e à topografia, representavam, como as vilas da 
América espanhola, a intromissão de uma ordemmetropolitana já pronta”.5
Finalmente, situado na extremidade oposta 
dessa gama de sábios, Luís Silveira observou que 
a característica espontânea das cidades e vilas bra­
sileiras na realidade era uma bênção disfarçada: 
A relutância dos planejadores portugueses de 
além-mar em adotarem um sistema geométrico 
regular, contrariamente ao que Robert Smith 
escreveu,... não me parece um arcaísmo, mas 
resultou de uma longa experiência metódica 
na criação sistemática de cidades.... Eu diría... 
que a cidade estruturada portuguesa, com a 
sua característica medieval, tende para a cidade 
perfeita, aquela em que cada elemento exerce 
uma função natural, e é superior às cidades 
com planta em xadrez..., que muitas vezes 
denotam uma clara falta de compreensão do 
conceito da cidade como um organismo vivo, 
funcional e intelectuamente ativo e, conse- 
qüentemente, sujeito aos princípios gerais da 
biologia e da sociologia.6 
Entretanto, independentemente de se ade­
rir a um ou ao outro partido dessa controvérsia, 
a análise crítica do processo da urbanização ini­
cial do Brasil ainda permanece largamente into­
cada pelos versados no período colonial. Em 
vez disso, os estudos levados a efeito concentra- 
ram-se no estabelecimento de tipologias heurís­
ticas dos centros urbanos brasileiros, as quais, 
embora intrinsecamente úteis, proporcionam 
uma compreensão limitada da dinâmica do cres­
cimento urbano. Um dos pioneiros nesse campo 
foi o geógrafo francês Pierre Deffontaines, que 
classificou as comunidades consoante uma análi­
se funcional, ;. e.,: arraiais de mineração, .vilas 
de estrada de ferro, aldeias indígenas, etc.7 Utili­
zando um critério diferente, Rubens Borba de
Morais diferenciou entre centros urbanos que 
se desenvolveram espontaneamente (e. g., arrai­
ais de mineração) e os que deram mostras de 
intervenção direta (e. g., colônias militares).8 
Certamente não se pode questionar a utilidade 
de divisões hierárquicas desse tipo para enfocar 
as variações estruturais no sistema urbano do 
Brasil. Porém essas tipologias são incapazes de 
fornecer uma análise processual em profundi­
dade dentro de um arcabouço verdadeiramente 
histórico. Essa crítica aplica-se também à clas­
sificação de Marvin Harris e Charles Wagley9, 
muito citada, bem como à obra que traz o título 
ambicioso de Como Nasceram as Cidades do Brasil\ 
uma tipologia altamente conjetural de autoria 
de um antigo político brasileiro.10
Uma direção intelectual inteiramente dife­
rente na pesquisa da urbanização do Brasil é a 
tendência de encarar as cidades e vüas como anti- 
téticas da corrente principal da cultura brasileira. 
Os proponentes desse ponto de vista afirmavam 
que, historicamente, o Brasil tem sido dominado 
pela classe dos latifundiários, cuja visão era clara­
mente rural, e não citadina. Fernão de Azevedo, 
por exemplo, focalizou o relacionamento discor­
dante contínuo da cidade brasileira com o cam­
po, em sua análise mais ampla do fenômeno da ci­
vilização industrial numa sociedade agrária11, en­
quanto Gilberto Freyre escreveu com extraordi­
nário entusiasmo sobre o papel do sobrado como 
difusor do sistema de valores da oligarquia lati­
fundiária, sempre dentro do contexto urbano.12
Além do grande número de intelectuais que 
se concentraram na influência supostamente oni­
presente dos latifundiários, há um grupo bastan­
te numeroso que mostrou um interesse constan-
> outroste pelas i _______________
grupos sociais (e. g., imigrantes europeus ou ga­
rimpeiros) para o processo de urbanização. Fi­
nalmente, há uma literatura bastante vasta de­
dicada à história específica de cidades grandes e 
pequenas. Esses estudos tradicionais amiúde 
fornecem excelentes antecedentes históricos, 
mas não conseguem situar o exemplo individual 
dentro do contexto mais amplo da proliferação 
urbana no Brasil.13
2
O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANJFICAÇÂO
\9'
0
Independentcmente das obras menciona- 
das nesta breve resenha literária, existem apenas 
quatro grandes estudos dedicados ao exame do 
panorama histórico e arquitetônico global do 
desenvolvimento urbano brasileiro dos primei­
ros tempos. Esses quatro exames são imensa­
mente diferentes na abordagem, em conseqüên- 
cia das disciplinas muito diferentes que seus 
autores representam. Vilas e Cidades do Brasil- 
, Colônial6, por exemplo, é um inventário geográ­
fico e cronológico de vilas e cidades fundadas 
no Brasil do século XVI ao século XIX. Cada 
século é estudado separadamente, e a obra forne­
ce dados sobre a localização e a data de fundação 
de cada centro urbano criado oficialmente na­
quele período. Entretanto, ela concede pouca 
atenção ao planejamento e à forma das comuni­
dades resultantes.
Em contrapartida, A Formação de Cidades no
® Brasil Colonial1, ensaio escrito por um arquiteto praticante, compreensivelmente, preocupa-se 
mais com a forma e o traçado urbano. Nesse es­
tudo, o autor examina diversos documentos im­
portantes referentes à criação de vilas coloniais 
e conclui que a aplicação de planos diretores 
formais na realidade foi um sinal de urba-niz^ção 
retrógrada. De uma maneira inteiramente errô­
nea (como mostraremos a seguir), ele afirma que 
os portugueses, oportunisticamente, simples­
mente copiaram as plantas das cidades espanho­
las, quando as duas potências se reuniram pa­
ra a assinatura do Tratado de Madri, em 1750. 
Ironicamente, vários dos códigos de construção 
que o autor apresenta no seu estudo (fora do 
contexto) foram elaborados no princípio do 
século XVIII, antecedendo assim o Tratado de 
Madri de várias décadas!
O terceiro estudo é mais precisamente uma 
interpretação convencional da evolução da cul­
tura brasileira16, em que os autores reproduzem 
diversos documentos de planejamento criativos 
e sugerem vagamente a existência de um código 
de construção abrangente. Infelizmente eles não 
vão além dessa tímida observação, deixando o 
leitor curioso, mas não apreciavelmente escla­
recido.
O último estudo deste quarteto sem dúvida 
é o mais perceptivo e, claramente, o mais bem 
pesquisado. Valendo-se de material de arquivo 
relativo a questões municipais tais como pavi­
mentação das ruas e alinhamento, o traçado de 
praças públicas, etc., N estor Goulart Reis Fi­
lho17, bem fundamentado, defende a existência 
de uma legislação portuguesa de construção de 
vilas para o Brasil, aplicada com sucesso variável 
desde a época da fundação de Salvador da Bahia, 
em 1549, até.1720. O autor desse estudo é ar­
quiteto, mas sua obra, Evolução Urbana do Brasil, 
representa um avanço pioneiro na investigação 
histórica das comúnidades brasileiras de anta- 
nho, pois lança mão de dados inovadores e deci­
sivos para a história urbana que até então haviam 
sido ignorados pelos outros investigadores.
Não obstante, mesmo aceitando a asserção 
de Reis Filho de que existia um planejamento 
form al incipiente nos prim eiros séculos da 
colonização portuguesa, seu estudo ainda deixa 
sem resposta diversas questões históricas funda­
mentais. Por exemplo, conjetura-se: até que 
ponto a política urbana estava estreitamente liga­
da aos objetivos mais gerais do governo? Além 
disso: os portugueses redigiram um código de 
planejamento abrangente, ou os exemplos cita­
dos representam apenas casos isolados? As vilas 
e arraiais situados fora do alcance geopolítico 
dos centros de governo primários, que consti­
tuem o enfoque principal da obra de Reis Filho, 
recebiam igual atenção da Coroa portuguesa? O 
que õ pèííodo posterior a 1720 (ano em que a 
análise de Reis Filho termina e que na presente 
pesquisa consideramos crítico para a história do 
desenvolvimento urbano brasileiro) revela acerca 
dos problemas e exigências de um processo urbano 
que estava evoluindo rapidamente nas regiões inte- 
rioranas do País, longe do litoral povoado? Final­
mente, o planejamento urbano sistemático era con- 
ceitualmente excepcional, ou as preferências por­
tuguesas eram um reflexo dos estilos artísticos em 
voga na Europa?
Por conseguinte, oobjeto principal da minha 
exposição será um exame tanto dos requisitos admi­
nistrativos do Brasil do século XVIII corno das
3
O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANIF1CAÇÀO
predileções arquitetônicas. A pesquisa sobre imagem “civilizada” e “europeizada” que Portu- 
esse assunte lançou mais dúvidas sobre a idéÍ2 gai esperava projetar no interior da colônia.' Para 
romântica de que o interior do Brasil foi pene- o administrador barroco, a regularidade equivalia 
trado principalmente por aventureiros. Seguin- v a beleza, sofisticação, civilização e progresso (se 
do os garimpeiros e caçadores de tesouros, a bem que por interpretações estritamente juno- 
Coroa portuguesa ia estabelecendo a sua auto- ccntricas). Como nos planos atuais de moder- 
ridade por meio de um sistema de comunidades nização e desenvolvimento, os portugueses espe- 
criteriosamente planejadas construídas em re- ravam mudar completamente - e conseguiram- 
giões remotas. Influenciados pela 'descoberta no em parte - os sistemas de valores. Outras 
de ouro na década de 1690 e diretamente amea- nações européias podem ter se apaixonado pela 
cados. os administradores metropolitanos busca- imagem pintada por J.-J. Rousseau19 da ingenui- 
ram ansiosamente os meios de ampliar o seu dade da sociedade primitiva, mas os portugueses 
controle; um sistema racional de distribuição de estavam decididos a elevar a população autóc- 
terras, combinado com a construção supervisio- tone acima do seu estado de ignorância sem ne- 
nada de vilas, constituiu o processo pelo qual o nhuma ordem, não importando o custo nem 
interior podia ser protegido contra um cresci- quão ditosa a inocência pudesse ter sido. Por 
mento independente e descontrolado. extensão, exigia-se que todos os colonos, indu-
75- Nessas condições, a partir de 1716, quase sive os europeus, se ajustassem às novas regras 
todas as novas comunidades construídas no ser- urbanas e de comportamento; o programa era 
tão foram subordinadas a um protótipo de pia- decididamente obrigatório. A época da “cons- 
nejamento de vilas, promulgado naquele mesmo cientização”20 e da mobilização das massas que 
ano para a criação da municipalidade de Mocha, estavam por trás dos planos de desenvolvimento 
na zona norte do Piauí.18 O conceito geral do do governo estava muito adiante no tempo, 
traçado desse plano diretor era barroco, com 
ênfase em ruas retilíneas, praças bem delineadas 
(amiúde orladas por fileiras de árvores plantadas 
simetricamente) e numa uniformidade de ele­
mentos arquitetônicos. O resultado do uso rei­
terado desse modelo foi um tipo de vila padro­
nizado que podia ser facilmente adaptado a re­
giões geográficas brasileiras muito diferentes.
A mão-de-obra indígena não especializada (res­
ponsável pela maior parte das construções inte- 
rioranas) podia ser empregada eficientemente, 
porquanto o domínio das técnicas de construção 
de um único conjunto de edificações básico per­
mitiría a ereção de um número ilimitado de uni­
dades habitacionais e administrativas, embora as 
edificações pudessem ser sobremodo monóto­
nas.
Fisicamente, a construção de arraiais e vilas
planificados no interior do Brasil ho século ___ ______
XVIII representava o compromisso de Portugal no final do século XVIII (mais precisamente de
com o absolutismo e com o Iluminismo. O xa- 1777 a 1792, quando ela começou a apresentar
drez da malha urbana não era apenas um requin- sinais de loucura e seu filho, D. João,depois 
te artístico, mas sim uma clara representação da D. João VI, assumiu a regência), embora os capí-
Embora o ponto mais salientado neste li­
vro sejam os projetos de povoamento do século 
XVIII, minha pesquisa começa na década de 
1690, quando a descoberta de ouro nas monta­
nhas de Minas Gerais precipitou uma importante 
reconsideração do valor da terra, do seu uso e 
da sua distribuição. Começando com um exame 
dos motivos e pressupostos subjacentes ao pro­
grama de construção de vilas dos portugueses, 
eu passo a apresentar um estudo de casos parti­
culares das comunidades efetivamente construí­
das durante esse espaço de tempo, as quais são 
analisadas em ordem cronológica e por região 
geográfica (o Nordeste, o Centro-Oeste e o Sul). 
Nos Capítulos VI e VII são examinadas as refor­
mas do período pombalino (1750-1777), com 
destaque para os administradores responsáveis 
pelo cumprimento das novas diretrizes urbanas. 
O estudo termina com o reinado de D*
4
O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLAN IFICAÇÃO
tuios finais contenham uma descrição sumária 
da direção que o planejamento urbano no Brasil 
seguiría posteriormente.
A maior parte dos casos de planificaçâo exa- 
minados na exposição do livro referem-se ao tra­
çado de comunidades relativamente pequenas, 
oü seja, povoados, aldeias e vilas. Entretanto, nu­
ma amostragem de casos mais limitada, será apre­
ciado o planejamento urbano de grande escala, 
no nível de cidade. Lamentavelmente, não existe 
nenhum termo de uso corrente na América para 
denominar a gama de atividades de planificaçâo 
para aglomerações variando de 50 a mais de 10 
mil habitantes. Empregar o termo “planejamen­
to urbano” (ou seu eqüivalente “desenho urba­
no”) para este caso pode ser desorientador, por­
que, embora geralmente ele seja aceitável, traz a 
conotação de centro urbano de grande porte, 
que claramente não se aplica à maioria das comu­
nidades do Brasil antigo. Uma alternativa seria 
inventar uma perífrase que abrangesse todos os 
tipos de planejamento21, como o termo eqüística 
do arquiteto grego Konstantinos Apostolos Do- 
xiadis (1913-1975); porém isso podería revelar- 
se contraproducente, pois tendería a tornar a 
questão ainda mais confusa, A rubrica “planeja­
mento urbano”, ou “planejamento de vilas”, é pre­
ferível a qualquer uma das opções supracitadas, 
uma vez que define o fenômeno do planejamen­
to sem discriminar o fator demográfico.
Por conseguinte, em todo o resto desta dis­
sertação, o termo “projeto de vila” será substi­
tuído por “planejamento urbano”, significando 
uma abordagem do traçado de elementos arqui­
tetônicos num centro habitado, sem conside­
ração do seu tamanho ou função. A única distin­
ção importante que se deveria fazer seria entre 
as comunidades que receberam um planejamen- 
to sistemático subsequente (i. e., depòis de fún- 
dadas) e as que foram construídas obedecendo 
desde o início a uma regulamentação.
Visto que os critérios empregados para dis­
tinguir entre vilas e cidades no período colonial 
eram no mínimo arbitrários, não procurei esta­
belecer categorias demográficas diferentes para 
umas e outras; apenas baseei-me no reconheci-
cimento oficial da Coroa portuguesa. Em incon-- 
tát eis .casos, o critério pgr? elevar oticialmente 
uma aldeia à categoria de vila baseava-se apenas 
na necessidade de instalar funcionários do go­
verno numa área ainda não superintendida. En­
tretanto, em outras coniunturas, a criação legai 
de uma vila marcava o início de um grande pro-
çâo da administração governamental. Num nível 
mais alto, quando as vilas eram promovidas a 
cidade, com frequência sofriam uma ampla re­
modelação urbana com a finalidade de lhes dar 
uma aparência consentânea com seu novo título. 
n > Por conseguinte, o verdadeiro significado 
das cartas régias que conferiam formalmente o 
título de vila não era o reconhecimento do cres­
cimento físico do arraial ou aldeia, mas sim a 
percepção pragmática de que, dentro daquela 
área específica, era preciso assumir determinadas 
responsabilidades administrativas. As vilas titu­
ladas ganhavam o privilégio de uma câmara mu­
nicipal, cujos membros eram incumbidos de de­
veres que foram delineados originariamente na 
Idade Média:
As câmaras tinham patrimônio e fonte de ren­
da próprios e não dependiam do Tesouro Real, 
ou seja, dos fundos públicos das suas respec­
tivas capitanias. O patrimônio era constituído 
de terras que lhes haviam sido concedidas no 
ato de criação da vila, terras reservadas para o 
rossio (passeio público), para a construção deprédios públicos e para a criação de parques 
públicos e de uma gleba comunal. As câmaras 
eram autorizadas a conceder algumas dessas 
terras a particulares ou arrendá-las. Ruas, pra­
ças, vias de acesso, pontes, fontes públicas e 
outras infra-estruturas também eram considera­
das partes do seu patrimônio.
As rendas da câmara provinham dos aluguéis 
que ela tinha o direito de receber sobre terras 
arrendadas e de tributos locais (taxas), autori­
zados por lei ou por permissão especial do rei. 
A câmara podia reter dois terços da renda muni­
cipal, porém um terço dnha de ser entregue 
aos representantes do Tesouro na capitania.22
Embora fuja aos objetivos deste livro estudar 
o papel da câmara municipal, os dados apresenta-
5
O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANIFICAÇÃO
dos aqui dão a entender que, pelo menos com 
referência ao século XVIII, a incumbência tra- 
dicional da câmara de supervisionar a distri­
buição de terras foi eliminada. Outros privilé­
gios tradicionais foram reduzidos pelas intro- 
missões reais nos direitos municipais de distri­
buição de rendas, no traçado da sede municipal, 
etc., e, visto que a própria Coroa se encarregava 
cada vez mais de empatar capital em projetos 
de construção no interior, a independência rela­
tiva da câmara como uma unidade auto-admi- 
nistrada diminuiu proporcionalmente. Só no 
final do século as câmaras locais fariam valer os 
seus direitos novamente, reassumindo lenta­
mente a iniciativa no desenvolvimento da vila, 
independentemente do governo metropolitano. 
Então, com toda evidência, qualquer discussão 
sobre o desenvolvimento urbano traz à baila não 
apenas a questão da configuração topográfica, 
mas atinge algumas das questões políticas mo- 
mentosas do Brasil do século XVIII.
As provas documentais utilizadas neste 
estudo foram colhidas em arquivos municipais, 
na correspondência oficial (tanto dentro do Bra­
sil como com a metrópole) e no currículo das 
academias militares que formavam os enge­
nheiros responsáveis pela maior parte das novas 
construções urbanas. Nos casos em que as pro­
vas documentais eram inadequadas ou obscuras, 
lancei mão de fontes cartográficas para confir­
mar as minhas conclusões; as excelentes plantas 
de cidades disponíveis nas mapotecas tanto de 
Portugal como do Brasil fornecem provas notá­
veis da homogeneidade dos projetos de planifi- 
cação das vilas do Brasil colonial.
(1) Henrique Mindlin, Modem Architecture in Brazil 
(Reinhold Publishing Co., Nova York, 1956), 
p .l.
(2) Richard M. Morse, Formação Histórica de São Paulo: 
De Comunidade a Metrópole (Difusão Européia 
do Livro, São Paulo, 1970), p. 10.
(3) Sérgio Buarque de Holanda, A s Raivei do Brasil 
(José Olympio, Rio de Janeiro, 3* edição,
1956), p. 152. Além dessa obra, uma relação 
parcial dos livros cuios autores aceitam o mito 
da vila colonial brasileira não planificada com­
preende: Blake McKelvey, American Urbanisa­
tion: A Comparative History (Scott, Foresman & 
Co., Illinois, 1973); Nelson Omegna, A Cidade 
Colonial (José Olympio, Rio de Janeiro, 1961); 
Walter D. Harris,Jr., The Growth of Latin-Ameri- 
:an Cities (University of Ohio Press, Athens, 
Ohio, 1971); e João Boltshauser, Noções da 
Evolução Urbana nas Americas (Faculdade de 
Arquitetura da Universidade de Minas Gerais, 
Belo Horizonte, 1968).
(4) Robert C. Smith, “Colonial Towns of Spanish 
and Portuguese America”, in]ouma!of the Society 
of Architectural Historians, volume XTV, n1 2 3 4, 
1956, pi 7. Este autor, em “Baroque Architec­
ture”, in Portugal and Brazil, H. Livermore, editor 
(Oxford University Press, Londres, 1953), pp. 
349-384, defende a tese de que as cidades brasi­
leiras têm um caráter medieval.
(5) Richard M. Morse, From Community to Metropolis: 
A Biography of São Paulo, Brazil (University of 
Flonda Press, Gainesville, 1958), p. XVII.
(6) Esta citação está contida numa pequena sinopse 
em Luís Silveira, Ensaio de Iconografia das Cidades 
Portuguesas de Ultramar (4 volumes, Lisboa, sem 
data), volume I, p. 24.
(7) Pierre Deffontaines, “The Origin and Growth 
of the Brazilian Network of Towns”, in Geogra­
phical Review, vol. XXVIII, julho de 1938, pp. 
379-399.
(8) Rubens Borba de Morais, “Contribuições para 
a história do povoamento em São Paulo até 
fins do século XVffl”, reeditado em Boletim 
Geográfico, ano III, n° 30, setembro de 1945, 
pp. 821-829.
(9) Charles Wagjey e Marvin Harris, “A Typology 
of Latin-American Subcultures”, in Dwight B. 
Heath e Richard N. Adams, editores, Con­
temporary Cultures and Societies of Latin-America 
(Nova York, 1956), pp. 42-69.
(10) Plínio Salgado, Como nasceram as cidades brasileiras 
(Edições Ática, Lisboa, 1946). Uma tipologia 
comparativa que coteja as comunidades urba­
nas da América espanhola, da portuguesa e da 
inglesa pode ser encontrada em João 
Boltshauser, Noções de Evolução Urbana nas 
Américas, 3 volumes (Universidade de Minas 
Gerais, Belo Horizonte, 1968).
6
O MITO DA CIDADE BRASILEIRA SEM PLANIFICAÇÃO
(11) Fernào de Azevedo, “A cidade e o campo na 
civilização industrial”, in Obras Completas, vol. 
XVIII, pp. 213-229. Ver também: Waidemiro 
Bazzanella, “Industrialização e urbanização no 
Brasil”, in América Latina, vol. VI, n“ 1, janeiro- 
março de 1963, pp. 3-26; e Manuel Diegues 
Júnior, Imigração, Urbanização e Industrialização 
(Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 
série VI, “Sociedade e Educação”, vol. 5, 
Ministério da Educação e Cultura, Rio de 
Janeiro, 1964).
(12) Gilberto Freyre, The Mansions and the Shanties: 
The Making of Modem Brazil (Sobrados e Mo­
cambos: A Formação do Brasil Moderno), edi­
ção e tradução de Harriet de Onis (Alfred A. 
Knopf, Nova York, 1966).
(13) Na bibliografia constante do final deste livro 
será encontrada uma relação de muitos desses 
estudos. Informamos o leitor de que as revistas 
geográficas do Brasil constituem uma rica fonte 
de material sobre o desenvolvimento de muitas 
cidades, grandes e pequenas, menos bem 
conhecidas. Um exemplo desse tipo de trabalho 
é Paulistas e Mineiros: Plantadores de Cidades, de 
Mário Leite (EdArt, São Paulo, 1961).
(14) Aroldo Azevedo, “Vilas e cidades do Brasil co­
lonial”, in Boletim n° 208, Geografia n° 11,1956, 
pp. 1-96, da Faculdade de FUosofia, Ciência e 
Letras da Universidade de São Paulo. A obra 
Evolução da Rede Urbana Brasileira, de Pedro 
Pinchas Geiger (Centro Brasileiro de Pesquisas 
Educacionais, Rio de Janeiro, 1963), é uma aná­
lise pioneira do desenvolvimento urbano bra­
sileiro sob o aspecto da geografia humana. 
Todavia, o exame do período colonial da Histó­
ria do Brasil constitui meramente uma parte 
secundária da obra, que trata principalmente 
do crescimento urbano mais recente.
(15) Paulo F. Santos, “A formação de cidades no
Brasil colonial”, V Cotóquio Internacional de estudos 
- lusc-brasiieiros, Coimbra, 1968.
(16) Tito Lívio Ferreira e Manoel Rodrigues Ferrei- • 
ra, História da Civilização Brasileira: 1500-
1822 (Gráfica Biblio Ltda., São Paulo, 1959).
(17) Nestor Goulart Reis Filho, op. cit. A obra A 
Cidade Colonial, de N. Omegna (José Olympio, 
Rio de Janeiro, 1961), foi excluída desta análise, 
porque o seu tema é mais precisamente um 
exame da estrutura social colonial com matizes 
francamente românticos. Da mesma maneira, 
A Evolução da Rede Urbana Brasileira, de Pedro 
Pinchas Geiger (Centro Brasileiro de Pesquisas 
Educacionais, Ministério da Educação e Cul­
tura, Rio de Janeiro, 1963), não foi considerada, 
porque aborda apenas sumariamente a urba­
nização do período coloniaL
(18) Veja-se a análise detalhada no capítulo III.
(19) Jean-Jacques Rousseau, Social Contract, 1762. 
Reeditado por Modern Library, Nova York.
(20) Em oposição ao conceito de educação de adul­
tos por meio da experiência cotidiana, o termo 
conscientização é empregado aqui com o signifi­
cado de “a transformação completa da cons­
ciência das pessoas que as faria compreenderem 
os parâmetros políticos da sua existência e as 
possibilidades de mudarem a sua situação pela 
açãopolítica”. Essa definição foi extraída de The. 
Homeless Mind: Modernization and Consciousness, 
de Peter Berger, Brigitte Berger e Hansfried Kell­
ner (Vintage Books, Nova York, 1974), pt 76.
(21) Veja-se o exame das definições de planejamen­
to urbano na obra de Charles Abrams The Lan­
guage of Cities: A Glossary of Terms (Avon Books, 
Nova York, 1972), p. 48.
(22) Caio Prado Júnior, The Colonial Background of Mo­
dern Brazil (versão para o inglês de Suzette 
Macedo, University of California Press, Berke­
ley, 1969)
7
Capítulo II
A formulação de um 
programa de construção de vilas
■N
N o final do século XVII foi descoberto ou­
ro no interior acidentado a oeste da província 
do Rio de Janeiro. Esse acontecimento acarretou 
a avaliação do potencial da colônia por parte de 
Portugal e mostrou claramente que o governo 
precisava agir com presteza pára garantir o con­
trole imediato do rico território interiorano. Ás~ 
terras do sertão não podiam mais ficar sem su- 
pervisâo, c os administradores, cientes disso, lo- 
go estabeleceram as primeiras medidas de um 
programa legislativo para redefinir os direitos 
sobre a terra e, ao mesmo tempo, estender a au­
toridade real.
> - Na formulação desse programa, foram le­
vadas em conta quatro questões básicas. A pri­
meira delas dizia respeito ao estabelecimento de 
uma regulamentação para áreas auríferas, pre- 
vendo-se a nomeação de funcionários reais. Isso 
visava a garantir o recebimento pela Coroa de 
uni quinto das receitas oriundas da mineração, 
o “quinto” de praxe, e possivelmente evitar ven­
das ilegais a grupos estrangeiros. A segunda ta­
refa que se impunha era estabelecer uma iuris- 
diçâo sobre os aventureiros (bandeirantes1 e boia- 
deiros) que no decorrer do século XVII baviam 
sido os primeiros a explorar o agora precioso 
sertão, na sua maior parte sem nenhuma res- 
trição da administração real. Em ligação com 
essa necessidade prioritária de reforma da lei e 
da ordem, havia a vontade da Coroa de conter a 
força crescente dos poderosos do sertão, indiví- 
duos aue se haviam enriquecido ampliando as 
suas concessões de terras originais como grilei­
ros, fazendo valer os direitos de posse. Com o 
avanço do século, as autoridades da Coroa iam
não só desafiar esses barões fundiários, mas pro­
curar desbancá-los mediante a criação de mini­
fúndios para lavradores. Estes compunham-se 
principalmente de colonos europeus oriundos 
das possessões insulares atlânticas superpo- 
voadas do reino, os quais eram considerados 
mais confiáveis e também mais propensos à agri­
cultura do que seus contemporâneos bandei­
rantes.
Por último, os portugueses pretendiam 
ampliar os seus domínios territoriais à custa dos 
espanhóis, compreendendo que, com o estabele­
cimento de colônias lusas nas regiões recém- 
exploradas do Oeste e do Sul longínquos, seus 
rivais hispânicos na América ficariam em nítida 
desvantagem. Embora as reivindicações espa- 
nholas sobre a região a oeste do rio Tocantins 
(e a leste dos Andes) tivessem sido aceitas pelo 
Tratado de Tordesilhas (em 1494, na pequena 
cidade espanhola de Tordesillas, fixou-se o meri­
diano situado a 370 léguas a oeste das ilhas Cabo 
Verde como limite entre as possessões espanho­
las e as portuguesas), esse patrimônio remoto 
nunca havia sido suficientemente colonizado pa­
ra garantir a hegemonia espanhola. A Coroa por­
tuguesa raciocinou corretamente (muito antes 
da aceitação internacional do princípio do uti 
possi de tis [como te apossaste]) que, se os lusita­
nos “ocupassem efetivamente” as terras recla­
madas pela Espanha, no final das contas pode­
ríam assegurar essas regiões para si.
(Sfo Portanto, esses quatro objetivos condicio­
naram a política portuguesa para as regiões inte- 
rioranas do Brasil durante a maior parte do sécu­
lo XVIII. Os administradores lisboetas resolve-
9
A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS
ram que uma ampliação da autoridade e uma 
redefinição dos direitos sobre a terra finjdmen,t& 
tinham de ser incorporadas a um plano de de­
senvolvimento intensivo para a hinterlàndia bra­
sileira.. O mecanismo pelo qual o sertão seria 
subordinado à autoridade real baseava-se na fun-
dacão de comunidades supervisionadas pela 
Coroa, as quais, com o tempo, formariam redes 
urbanas integradas, localizadas em pontos estra­
tégicos do interior. Assim, o planejamento e o 
desenvolvimento desses novos núcleos interiora- 
nos orientariam o processo de urbanização du­
rante todo o século.2
A penetração no interior iniciou-se no final 
do século XVI. Até então os esforços de coloni­
zação dos portugueses tinham se confinado de 
modo geral às zonas litorâneas, o que inspirou 
a Frei Vicente do Salvador a famosa metáfora 
dos caranguejos agarrados à linha costeira.3 En­
tre os anos de 1532 e 1536, a Coroa portuguesa 
dividiu o litoral do Brasil em 15 capitanias (ou 
donatarias), largas faixas de terras concedidas a 
12 homens de alto prestígio no reino. O donatá­
rio era obrigado a assinar uma escritura formal 
com a Coroa. De forma quase medieval, ele tor­
nava-se diretamente responsável pelo cresci­
mento e desenvolvimento do seu patrimônio e 
praticamente recebia carta branca no tocante à 
urbanização. No estágio de capitanias hereditá­
rias, não havia nenhuma diretriz para o cresci­
mento das povoações, e aos concessionários re­
comendava-se apenas que eles podiam:
...estabelecer todas as aldeias que quiserem 
além das povoações que se situarem ao longo 
da costa da dita terra e nas margens dos rios 
navegáveis, mas no interior eles não podem 
construí-las a menos de seis léguas de distância 
uma da outra, de maneira que possa haver pelo 
menos três lé guas de terra de cada aldeia até 
o limite territorial da outra.4
A sorte estava lançada. Ao longo da costa, 
os donatários tomavam posse de imensos talhões 
de terra, ficando até 50 léguas ( ! ) nas mãos de 
um único homem.5 Cada beneficiário, ou capi- 
tão-mor, por sua vez, tinha o direito de conceder 
terras de sesmaria a colonos dentro da sua capi­
tania, cuja extensão o próprio donatario fixava. 
A prática da concessão de sesmos (grandes 
extensões de terras) teve origem na Idade Média, 
quando os senhores feudais buscavam avida­
mente voluntários para colonizarem os seus 
territórios. As novas comunidades assim forma­
das, o soberano concedia cartas, e um sesmeiro 
distribuía terra aos recém-chegados.6
Entretanto, o sistema de sesmarias foi mais 
amplamente utilizado no Brasil (onde grandes 
áreas de terras devolutas estavam imediatamente 
disponíveis), e a sua importância para o desen­
volvimento do País não devia ser subestimado. 
Conjugada com a influência senhorial do sistema 
de donatarias, a prática da concessão de sesma­
rias literalmente institucionalizou o fenômeno 
dos latifúndios. Mesmo com a decadência da 
política da capitania particular e a tentativa bem- 
sucedida da Coroa de recomprar essas terras e 
estabelecer o controle real, processo que foi 
concluído no século XVIII, a configuração das 
concessões de terras das sesmarias persistiu. 
Acresce que muitas das terras concedidas gratui­
tamente no interior foram ampliadas pelo usuca­
pião, ou direito de posse efetiva. Os funcioná­
rios do governo permaneciam nas cidades lito­
râneas, longes demais para intervir deçisivamen- 
te nessa flagrante quebra da autoridade. Na au­
sência de fortes sanções governamentais, surgi­
ram poderosas famílias interioranas, que tiravam 
o seu prestígio e influência da “propriedade” de 
vastos domínios particulares.7
Nessas condições, o sertão amava como um 
poderoso ímã para aventureiros e habitantes das 
populosas comunidades litorâneas sedentos de 
terras. O célebre historiador brasileiro João 
Capistrano de Abreu foi o primeiro a assinalar 
a força de atração das terras do interior na sua 
obra-prima do final do século XIX Os Caminhos 
Antigos e o Povoamento do Brasit. Nessa obra origi­
nal, o autor salientou que as entradas (expedi­
ções de exploradores destemidos ao sertão) 
poderíam ser mapeadasem ciclos cronológicos, 
começando com os boiadeiros, seguidos pelos 
caçadores de escravos silvícolas e depois pelos 
garimpeiros. Em vista disso, o século XVII po-
M
A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO D E VILAS
deria ser estudado como uma série de invasões 
não planejadas do sertão.
De acordo com a cronologia de Capistrano 
de Abreu, o estudo da história do interior do 
Brasil começa propriamente no final do século 
XVI, quando decretos proibindo o pastoreio nas 
redondezas dos centros urbanos litorâneos for­
çaram os boiadeiros a migrarem para a caatinga 
do Nordeste. As primeiras boiadas a penetrar 
no sertão foram conduzidas ao longo do rio São 
Francisco, em busca da preciosa água necessária 
aos animais.9 Embora os boiadeiros não tives­
sem a intenção preconcebida de colonizar a área, 
seus complexos pecuários, instalados em terras 
ocupadas ao longo do rio, logo cresceram e se 
transformaram em pequenas povoações, com a 
incorporação de ajudantes da fazenda e de 
famílias. Por todo o interior da Bahia, para o 
norte, em direção a Pernambuco, e, por fim, mais 
ao norte, até o Maranhão, o processo foi o mes­
mo: as boiadas realizavam a penetração inicial, 
e atrás delas pequenos grupos de colonos estabe­
leciam-se. Os currais resultantes desse povoa­
mento (aldeias de criação de,gado)10 proporcio­
navam uma renda escassa aos criadores seden­
tários, que vendiam os seus limitados excedentes 
aos boiadeiros que passavam.
Enquanto àquela altura a produção pecuá­
ria se ümitava essencialmente ao Nordeste, o 
ciclo da caça de escravos amerígenas estava con­
centrado no Sul em geral. O objetivo dos aven­
tureiros escravistas que, partindo do altiplano 
ondulado de São Paulo, penetravam no sertão 
era incursionar pelas missões do Sul, onde os 
jesuítas haviam agrupado facilmente seus prote­
gidos índios em prósperas comunidades agríco­
las. Os caçadores de escravos vendiam então 
os índios capturados nas cidades costeiras já 
fundadas, aumentando assim a sua população e 
contribuindo muito pouco para o povoamento 
do interior.
Em meados do século XVI, a caça de es­
cravos começou a diminuir em conseqüência de 
um programa de armamento levado a efeito pe­
los jesuítas, e um novo grupo de aventureiros 
surgiu, disposto a explorar o desconhecido. Este
último grupo também teve origem em São Paulo, 
porém o seu intuito era a descoberta de minerais 
preciosos, e não a obtenção de escravos indíge­
nas. Os paulistas pareciam particularmente bem 
adaptados à vida rude e penosa dos garimpeiros: 
certamente a vida na capital da sua província 
não os havia habituado aos padrões relativamen­
te luxuosos do Rio de janeiro ou da Bahia. 
. Acresce que muitas vezes eles eram produto do 
caldeamento entre portugueses e índias, e ha­
viam assimilado a experiência indígena de sobre­
vivência no interior agreste.
Organizados em grupos denominados ban­
deiras, os paulistas (junto com elementos de ou­
tras regiões costeiras) penetravam profundamen­
te na hinterlàndia e não raro eram recompensa­
dos com o achado de ouro em regiões que hoje 
fazem parte do estado de Minas Gerais. Em se­
guida às primeiras descobertas de ouro e pedras 
preciosas da década de 1690, um número cres­
cente de bandeirantes mineradores vagueavam 
pelos planaltos ondulados do interior, tentando 
repetir os sucessos dos primeiros achados; en­
quanto isso, iam deixando atrás de si uma trilha 
de pequenos campos de mineração construídos 
atabalhoadamente. Não obstante, esses campos 
precários constituíram os núcleos dos primeiros 
povoados realmente permanentes da região.
Nessas condições, a abertura inicial do 
sertão brasileiro ocorreu sem qualquer interfe­
rência da fiscalização reaf Os aventureiros que 
buscavam fortuna no tráfico de cativos indíge­
nas, na criação de gado ou no garimpo de ouro 
prosseguiam tranqüilamente nas suas ativida­
des, certos de que aquelas regiões remotas esta
£A
«Vy
iA \ f O
vam fora do alcance do braço da lei. Impor qual- q(J' »&
quer controle ah, no século XVII, era uma tarefa
irrealizável pela Coroa, pois simplesmente não 
existiam vilas nem cidades onde os delinqüen- ' r x-S9*
tes pudessem ser julgados e, se preciso fosse, p 
segregados do convívio social. Na falta de cen­
tros administrativos apropriados, a atitude da 
Coroa foi simplesmente ignorar por completo 
aquela situação. Só quando a atração exercida 
pelos achados de ouro despertou o interesse da 
metrópole e quando, concomitantemente, a hin-
cy
ii
A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS
oí>
terlândia começou a seduzir um grande número 
de aventureiros é que os portugueses puseram 
em prática as primeiras providências necessárias 
para assegurar o controle do interior.
A década de 1690 marcou uma virada na 
História do Brasil: na mesma época em oue cor­
reu a notícia da descoberta de ouro no sertãor o 
governo colonial proclamou a intenção de abrir 
“oficialmente” o interior.. Uma batalha inevitá­
vel começou a delinear-se: o poder real em guar- 
da contra a “aristocracia” agrária, essencialmente 
uma repetição da luta bem conhecida entre a 
Coroa e os donatários e. coincidentemente, um 
claro reflexo do tempo muito curto transcor­
rido desde a Idade Média. Entretanto, na passa­
gem para o século XVIII, com a prática da ses- 
maria ainda gravada tão profundamente no inte­
rior, a luta assumiu aspectos mais parecidos com 
a situação de nossos dias, pois o interesse públi­
co, aqui representado pela Coroa, desafiou os 
detentores da propriedade privada. A preferên- 
J cia declarada dos portugueses pelos pequenos 
fazendeiros, e não pelos grandes latifundiários, 
fazia parte do seu ambicioso programa de rees­
truturação fundiária iniciado nos anos 1690. A 
Coroa ia implantar um projeto visionário e tão 
radical para a época que implicava em nada me­
nos que “uma reformulação completa da situa- 
'' ção jurídica do solo colonial”.11
Certamente não foi por mera coincidência 
que a primeira lei agrária formal foi elahorada 
na década em que se descobriu ouro em Minas 
Gerais. A lei de 1695, que limitava as concessões 
dê- jsesmarias a uma extensão de quatro léguas 
de comprimento por uma légua de largura, visa- 
va a atingir não só as zonas de mineração, mas 
também áreas de terras agricultáveis. Embora 
essa medida tenha sido interpretada pelos admi­
nistradores coloniais como um dispositivo para 
assegurar a ocupação efetiva da terra, seu efeito 
capital consistia em impedir que se reivindicas­
sem propriedades extensas em zonas que pudes­
sem revelar-se de valor pecuniário inestimável 
para a Coroa.
Dois anos depois a Coroa promulgou uma 
lei ainda mais restritiva, reduzindo as sesmarias
para três léguas por uma légua e prescrevendo, 
além disso, que entre uma concessão e outra se 
deveria deixar uma área de uma légua quadrada 
sem ocupação. Dessa maneira, a Coroa reserva- 
va-se um direito de via de acesso, ou um domínio 
público potencial, no caso de uma ocupação total 
da terra. O acesso assim obtido seria de imensu­
rável importância na eventualidade de um confli­
to motivado por litígios em torno de estremas 
de terras (o que não era raro) e, ao mesmo tem­
po, garantiría o acesso a futuras zonas auríferas 
ainda não descobertas, acesso esse que podería 
ser cortado por um conluio dos beneficiários 
de duas sesmarias contíguas.
Á última lei do século XVII foi baixada em 
1699.12 Ela fazia referência específica - e isso 
tem um viso bem moderno - ao “cultivo útil” 
como critério para manter a posse das terras de 
concessão, e ameaçava de expropriação quem 
deixasse de cumprir a prescrição. Conquanto 
esse corpo de leis provavelmente representasse 
mais uma veleidade do que uma determinação 
expressa da Coroa, e na realidade precisasse ser 
revisto depois, as leis revelam uma completa 
mudança da postura oficial. A burocracia portu­
guesa reconhecera que a colonização metódica 
do sertão só poderia ser levada a efeito se a terra 
fosse distribuída eqüitatívamentê em pequenas 
parcelas a um grande númerode indivíduos; a 
manutenção de grandes propriedades particula­
res no interior teria o efeito negativo de desenco­
rajar o futuro povoamento.
Inequivocamente, era do interesse dos por­
tugueses fazer cumprir essas leis tão rigorosa­
mente quanto possível. Durante as primeiras 
décadas do século XVIII, houve múltiplos casos 
de processos do Estado contra grandes proprie­
tários de terras que se recusavam a permitir que 
colonos se instalassem nas “suas” terras.13 Igual­
mente demoradas eram as demandas motivadas 
por questões de limites entre vilas vizinhas, um 
transtorno inevitável, em decorrência do qual a 
terra em litígio não podia ser facilmente adjudi­
cada para fins de colonização.14
Conjuntamente com seu empenho em re­
gularizar a distribuição da terra, os portugueses
12
A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS
procuraram resolver a questão da propriedade 
das áreas de mineração reclamadas. Logo em 
1700 o governador do Rio de Janeiro elaborou 
um código de mineração, que estabelecia o pro­
cedimento para a distribuição das áreas auríferas 
entre os garimpeiros. A lei determinava que to­
do aquele que descobrisse ouro tinha o direito 
de demarcar 60 braças quadradas (uma braça = 
seis pés = l,8288m; 60 braças = 109,728m) para 
si, uma superfície igual sendo reservada para a 
Coroa e seu representante no distrito de minera­
ção. Outros lotes auríferos eram delimitados e 
adjudicados de acordo com o número de escra­
vos que o minerador tinha a seu serviço.
Todavia, como o historiador Charles Boxer 
salientou, mesmo com esse sistema de loteamen- 
ço claramente definido, os casos de corrupção 
eram comuns nas regiões de mineração.15 O su­
borno de funcionários da Coroa para obter lotes 
suplementares era notório. Mesmo onde a terra 
já havia sido distribuída de conformidade com 
as prescrições legais, não havia meio de impedir 
que os mineiros anexassem as concessões de 
outros aos seus lotes, ou que eles os vendessem 
por um bom preço. No caso da outorga de terra 
agricultável, a área de mineração tinha de ser 
severamente vigiada para impedir a incorporação 
de terras em larga escala e trapaças.
Mas a terra em si não era o único problema 
com que a Coroa se via a braços. Igualmente 
perturbadores eram os indivíduos que enxamea- 
vam sertão adentro, considerados uma casta par- 
ticularm ente detestável pelos observadores 
portugueses. O potencial de conflito aberto sal­
tava aos olhos, principalmente porque os cana- 
vieiros do Nordeste, fortemente premidos pelas 
recentes recessôes provocadas pela concorrência 
do Caribe1*, abandonavam os seus canaviais aos 
bandos para tentar a sorte na mineração. Os 
paulistas eram infensos a esses intrusos (tanto 
aos plantadores como aos escravos) quase tanto 
quanto aos reinóis, portugueses que chegavam 
em grandes contingentes da metrópole com o 
fito de compartilhar da riqueza da terra. Se se 
quisesse evitar lutas armadas e fazer valer a lei e 
a ordem, era preciso tomar providências drás­
ticas. Assim sendo, o governador do Rio de 
Janeiro (sob cuia jurisdição a área de mineração 
estava) em 1682 foi encarregado de controlar as 
atividades dos vagabundos e desordeiros, seguin­
do o exemplo das ordens religiosas e agrupando 
tais elementos à força em povoações adrede cria­
das. Com efeito, a fraseologia das instruções 
oficiais reforça a impressão de comunidades cle­
ricais, pois nelas se faz referência explícita a “re­
duzir” a população errante, exatamente a mesma 
terminologia empregada pelos missionários nas 
suas “reduções” (aldeias).17 Agrupando-se esses 
andarilhos em povoações facilmente administra­
das, os infratores potenciais provavelmente se­
riam desencorajados e, ademais, os resultados 
positivos que se deveríam colher da administra­
ção fo n e e da ação da justiça podiam set coadju- 
vados pela atuação de párocos. Pela sua lógica 
intrínseca, as instruções devem ter recebido forte 
apoio dos administradores coloniais, porque três 
anos depois, em 1696, o novo governador da 
capitania recebeu diretrizes semelhantes, desta 
vez instruindo-o a ampliar o programa mediante 
a construção de tribunais em que juizes itineran­
tes pudessem dar audiências.18
Evidentemente nem todos os governadores 
eram conscienciosos no cumprimento das novas 
diretrizes, ou então eram incapazes de pô-las em 
prática de modo a concretizar todas as suas po­
tencialidades. Em consequência disso, em 1709 
a Coroa foi obrigada a renovar o edito para “re­
duzir toda a gente que anda nas minas e povoa- 
çoens”.19 Por todo o século XVIII, ordens se­
melhantes para reunir os “espalhados” foram re­
cebidas pelas autoridades regionais. O princí­
pio era o mesmo, não importando a região onde 
a legislação determinasse a criação de comuni­
dades, se na bacia amazônica, no Sul ou no Cen- 
tro-Oeste da colônia. Como observou um famo­
so historiador, os portugueses estavam “convic­
tos, com justa razão, de que a construção de tais 
municipalidades era o melhor meio de civilizar 
e promover o povoamento do agreste sertão”.20
A lógica da política da construção de vilas 
subsidiada pelo governo também era patente no 
trato do problema de manter o controle sobre o
1 3
A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS
escoamento do ouro que estava sendo extraído. 
Era conveniente que povoações e viias locali­
zadas em zonas produtoras de minerais precio­
sos sediassem casas de fundição e instalações 
reais de cunhagem de moedas, enquanto funcio­
nários residentes realizariam uma escrituração 
metódica das contas da mmeracàq restringindo 
assim as possibilidades do tráfico de contta- 
bando. Aiém disso, se alguma fraude fosse come­
tida, os portugueses disporiam de autoridades 
judiciárias no próprio local, capazes de exercer 
a justiça.
I— j> Por essa mesma lógica pecuniária, também 
era evidente para os representantes da Coroa que 
as novas povoações iam facilitar o recebimento 
de impostos dos habitantes agora agrupados, 
que indubitavelmente haviam escapado a esses 
inconvenientes enquanto não houvera nenhum 
controle no sertão Ademais, o próprio ato da 
criação de uma vila geraria renda suplementar 
para os cofres reais, porquanto a taxa devida pelo 
recebimento de um título de vila ia diretamente 
para o Tesouro Real. Assim, admira pouco que 
muitos acampamentos de mineração improvisa­
dos tenham sido oficialmente convertidos em 
vilas; essas novas “vilas” eram “necessárias para 
aumentar as rendas do Tesouro Real”.21
Como já foi assinalado, uma última razão 
para a decisão portuguesa de assumir o patrocí­
nio de um programa de urbanização nas regiões 
interioranas derivava do desejo luso-brasüeiro 
de ampliar os domínios territoriais em detrimen­
to dos espanhóis. A pedra angular desse progra­
ma foi assentada em 1680, quando os portugue­
ses fundaram a colônia de Sacramento na mar­
gem oriental (esquerda) do rio da Prata, no seu 
estuário, exatamente do lado oposto da cidade 
espanhola de Buenos Aires. Os espanhóis revi­
daram imediatamente, criando o núcleo urbano 
de Montevidéu a jusante de Sacramento (e tam­
bém na margem oriental), e uma luta pelo con­
trole foi desencadeada. Os portugueses perce­
beram que, se quisessem sustentar a sua-reivin- 
dicação da extremidade sul, era indispensável 
criar uma sólida linha de comunicação entre Sa­
cramento e a povoação mais próxima sob o do-
minio da Coroa (em São Paulo). Como ficou 
comprovado no interior do -Noroeste e na zona 
de mineração, a solução mais eficaz para manter 
a autoridade era fundar uma série de comuni­
dades com habitantes permanentes, uma verda­
deira fortificaçào humana responsável pela segu­
rança da região. Muitas das povoações de Santa 
Catarina e do Rio Grande do Sul devem a sua 
origem a esse esforço. Nos anos 1740 e nas dé­
cadas ulteriores, a Coroa procuraria incremen­
tar a população adotando um programa de imi­
gração oficial para a região, pelo qual colonos 
dos Açores superpovoados e de outras posses­
sões portuguesas seriam reassentados no Sul.
Se o territóriosulino era de interesse funda­
mental para os portugueses, o Extremo Oeste o 
era mais ainda, pois a descoberta de ouro nas 
suas zonas interioranas subitamente conferiu a 
essa região uma importância estratégica imensa. 
Consciente disso, a Coroa seguiría no encalço 
dos acampamentos de bandeirantes em Mato 
Grosso e Goiás, tomando as providências legais 
necessárias para a criação de vilas e arraiais por­
tugueses. No meado do século XVIII, a cons-^ 
trução de uma cidade-capital no rio Guaporé e 
a fortificação de comunidades indígenas22 ao 
longo do sistema fluvial assegurariam a supre­
macia lusitana na região, um fato que foi reco­
nhecido internacionalmente no Tratado de Madri, 
em 1750.
Portanto, em resposta a quatro estímulos 
interligados - a distribuição de terras; a desco­
berta de ouro; a necessidade de implantar a lei e 
a..ordem no sertão; e a ameaça pendente dos 
interesses espanhóis os portugueses resolve- 
ram-se a cobrir a hinterlândia com um sistema 
de cidades, vilas e povoações organizadas. Seus 
projetos racionais para levar a efeito essa emprei­
tada -que incluíram o emprego de planos direto­
res - e seu êxito final constituem um dos aspec- 
tos mais notáveis da História do Brasil do século 
XVIII e serão estudados extensamênte nos capí­
tulos subseqüentes. Todavia, é da máxima im- 
pottáncia ressaltar aqui que os portugueses, 
profeticamente, reconheceram a necessidade de 
urbanizar a hinterlândia brasileira e de realizar
1 4
A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS
uma reforma fundiária, isso há mais de 250 anos! 
Ironicamente, ainda hoje se discute o mesmo
vação do uso efetivo do solo nas grandes pro- 
priedades. O que os portugueses empreende- 
riam e conseguiríam realizar num grau surpreen­
dente durante o úirimo século completo de ad­
ministração colonial era nada menos que um 
repto frontal a todo o status quo colonial.
(1) Na introdução de The Bandeirantes: The Historical 
Bole of the Brazilian Pathfinders, de Richard M. 
Morse, editor (Alfred A. Knopf, Nova York, 
1965), este reconstitui a origem da palavra ban­
deira. Originariamente, o termo era empregado 
para designar uma unidade militar portuguesa 
de 36 homens; porém ele também tem a cono­
tação de “causa” defendida por um grupo orga­
nizado, pois é em torno da bandeira que o gru­
po se reúne. No contexto brasileiro, os homens 
que se incorporavam às expedições ao interior 
eram conhecidos pela denominação de bandei­
rantes, derivado de bandeira.
(2) Noutro texto, eu resumi essas asserções e co­
mentei o êxito português em atingir esses obje­
tivos. Ver “Colonization and Modernization in 
the Eighteenth-Century Brazil”, de Roberta 
Marx Delson, in Social Fabric and Spatial Structure 
in Colonial Latin America, de David J. Robinson, 
editor (University Micro-films International, 
Ann Arbor, Michigan, 1979), pp. 281-313.
(3) Frei Vicente do Salvador, História do Brasil: 
1500-1627, editada por Capistrano de Abreu e 
Rodolfo Garcia (São Paulo, 1931), p. 19.
(4) Documento real de outorga da capitania de Per­
nambuco a Duarte Coelho Pereira, in A Docu­
mentary History of Brazil, de E. Bradford Burns, 
editor (Alfred A. Knopf, Nova York, 1966), p. 
38. Charles R. Boxer, em The Golden Age of Bra­
zil: 1695-1750 (University of California Press, 
Berkeley, 1969), à página 357, afirma que uma 
légua é igual a 3.755 1/15 passos geométricos. 
Segundo o The Random Home Dictionary of the 
English Language (edição de texto integral, 
Random House, Nova York, 1967), um passo 
geométrico é igual a cinco pés. Assim sendo,
uma légua seria igual a pouco mais de 3,4 mi­
lhas, ou 5,472km, uma milha terrestre medindo 
1.609,35m. Para os fins desta exposição, uma 
légua será considerada igual a 3,5 milhas 
(5.632,725m).
(5) E. Bradford Burns, A History cf Brazil (Co­
lumbia University Press, Nova York, 1970), p. 
24 et passim.
(6) Para conhecer as práticas de sesmarias no Por­
tugal medieval, ver: Portugal, de J. B. Trend (Er­
nest Benn Ltd., Londres, 1957), p. 69; “The 
Donatory Captaincy in Perspective: Portuguese 
Backgrounds to the Setdement of Brazil”, de 
Harold B. Johnson, Jr., in HAHR, vol. LII, n“ 
2, maiode 1972, p. 211; e “A Portuguese Estate 
of the Late Fourteenth Century”, de Harold 
B. Johnson, in Luso-Brasflian Review, vol. X, n°
' 2, inverno de 1973, p. 158.
(7) Caio Prado Júnior, The Colonial Background of 
Modern Brazil (versão de Suzette Macedo, 
University of California Press, Berkeley, 1967),
p. 220.
(8) João Capistrano de Abreu, Caminhos Antigos e 
Povoamento do Brasil (Sociedade Capistrano de 
Abreu, Rio de Janeiro, 21 edição, 1960); ver 
sobretudo as páginas 59-164. Myriam Ellis, em 
“The Bandeiras in the Geographical Expansion 
of Brazil”, in The Bandeirantes, de Richard M. 
Morse, editor, às páginas 48-63, também disseca 
esse fenômeno cíclico.
(9) Segundo Caio Prado Júnior, op. cit., p. 216, era 
proibido criar gado em torno desses centros 
num raio de dez léguas marítimas. Essa disposi­
ção tinha por finalidade suprimir a competição 
pela área periurbana, necessária para a produ­
ção de gêneros alimentícios para os habitantes 
da cidade.
(10) Por exemplo, Pastos Bons, no Maranhão, e Cur­
rais Novos, no Rio Grande do Norte. Em “Em­
briões de cidades brasileiras”, in Boletim Pau­
lista de Geografia n° 25 (março de 1967), à página 
53, Aroldo Azevedo dá uma relação mais ampla 
de cidades-currais.
(11) Ruy Cirne Lima, Terras Devolutas: História, 
Doutrina, Legfslação (Livraria do Globo, Porto 
Alegre, 1935), p. 37.
(12) Todas essas determinações legais são analisadas 
por Charles R. Boxer na sua obra The Golden 
Age of Brasil: 1695-1750, já citada.
1 5
A FORMULAÇÃO DE UM PROGRAMA DE CONSTRUÇÃO DE VILAS
(131 Por exemplo, em 1715 foi instaurado um pro­
cesso do Estado contra o detentor de uma ses- 
maria na proximidade da vila de Conceição, 
motivado pelo fato de ele não permitir assen­
tamentos de colonos na sua propriedade (AHU, 
Códice 241, fls. 321 v. e 322).
(14) Ver, por exemplo, o processo movido pela 
Coroa referente a litígios jurisdicionais susci­
tados pela criação de uma vila na região mineira 
de Serra Fria-Barra do Rio das Velhas, datado 
de 12 de janeiro de 1720 (AHU, Códice 241, 
fls. 321v. e 322).
(15) Charles R. Boxer, op. cit., p. 52.
(16) Ver o artigo “The Brazilian Sugar Cycle of the 
XVIIth Century and the Rise o f the West 
Indian Competition”, de Matthew Edel, in Ca­
ribbean Studies, vol. 9, n“ 1, abril de 1969, pp. 
26-33.
(17) Carta do rei Dom João V, o Magnânimo, ao 
governador do Rio de Janeiro, de 27 de 
dezembro de 1693 (ANRJ, Códice 952, vol. 
VI, n° 253).
(IS) Correspondência expedida de Iisboa por Dom 
João V ao governador Artur de Sá e Meneses, 
datada de 6 de novembro de 1696 (ANRJ, 
Códice 952, vol. XVIII, p. 101).
(19) Parecer do Conselho Ultramarino sobre o 
estado das minas, de 17 de julho de 1709 (AHU, 
Códice 232, fl. 259).
(20) Charles Boxer, op. cit., p. 47. Para conhecer mais 
detalhes sobre a anarquia reinante nas minas 
brasileiras, ver João Pandiá Calógeras, A s Minas 
do brasil e Sua Legislação (Imprensa Nacional, 
Rio de Janeiro, 1904).
(21) Esse fato é assinalado na Carta Régia de 21 de 
abril de 1738 que dava permissão para fundar 
uma aldeia perto de Cuiabá. O texto reza: “ ... 
e vos concede-se a faculdade para poderdes 
fazer huma aldeya de que ahi se necessitava 
pello Rendimento da Fazenda Real”. AHU, 
Goiás, Papéis Avulsos.
(22) Ver os Capítulos IV e VI, mais adiante.
£ o t - v>4
Co N> Pt~« -roò
/
16
Capítulo III
Aplicando o modelo: 
primórdios experimentais no Nordeste
Empenhada no desenvolvimento da hinter- 
lândia por meio de uma série de comunidades 
planificadas e supervisionadas, a Coroa concen­
trou os seus primeiros esforços no Nordeste do 
Brasil, onde, no final do século XVII, as dificul­
dades criadas por sesmeiros excessivamente po­
derosos haviam se tornado cruciais. Por sua veZj 
o abrimento de diversas linhas de comunicação 
através da região aumentou a preocupação das 
autoridades nasduas unidades administrativas 
do Brasil, o estado do Maranhão e o estado do 
Brasil, que abrangiam cada um uma Jgarte do 
Nordeste. A comunicação entre a cidade lito­
rânea de São Luís, no Maranhão, e Salvador, ca­
pital do estado doBrasü^era inçadadle dificulda- 
des. Os ventos predominantes tornavam uma 
viagem marítima contornando o cabo São Roque 
muito arriscada, enquanto a alternativa de acom- 
panhar a linha da costa resultava numa viagem 
demorada e árdua. A solução lógica do proble- 
ma era abrir caminho através do sertão do Piaui, 
pois assim a distância seria encurtada, tornando 
a viagem muito mais direta. Contudo, era preci­
so lutar contra os poderosos do sertão; para que 
a segurança da estrada pudesse ser assegurada, 
cumpria pacificar esses barões agrários. Assim 
sendo, o Piauí estava fadado a ser uma das pri­
meiras regiões onde os administradores portu­
gueses e os temíveis senhores do sertão entra­
riam em desavença. O sertão piauiense já havia 
sido escassamente povoado por aventureiros 
baianos, agora dispersos em povoados fragmen­
tários ao longo das margens dos rios.1 Esses in­
trépidos andarilhos haviam aberto as primeiras 
trilhas através do interior. Partindo de São Luís,
eies avançaram ao longo da costa até o rio Par- 
naíba; dali, voltaram-se para o interior, subindo 
o grande rio, e finalmente se espalharam em di­
versos pontos ao longo dele, atravessando o 
território do Piam pelos afluentes. A trilha ter­
minava em Juazeiro, uma povoação da capitania 
da Bahia, e dali o acesso à capital era relativamen­
te fácil.2 A Coroa imaginava que esses duros 
desbravadores, que haviam corajosamente aber­
to uma trilha através da caatinga bravia, seriam 
o material humano ideal para formar o núcleo 
de uma comunidade patrocinada pelo governo; 
além disso, essa aglomeração assegurava a aceita­
ção da autoridade real.
Com esse fito em mente, a Coroa encarre­
gou D. Francisco Lima, bispo de Pernambuco, 
de criar a primeira paróquia do Piam.1 Pouco 
depois de o bispo receber essa incumbência, em 
1697, houve uma reunião em que representantes 
de vários grupos estabelecidos ao longo do rio 
Parnaíba deliberaram sobre a localização da 
igreja matriz. O local escolhido na reunião para 
a nova congregação de Nossa Senhora da Victo­
ria era uma área aproximadamente eqüidistante 
de todos os assentamentos e facilmente acessível 
pelos meios de comunicação existentes.4 A Co­
roa esperava que a nova igreja atraísse futuros 
colonos e, com base nessa suposição, previa-se 
um futuro pacífico para o Piauí.
Hoje, decorridos 300 anos, pode parecer 
que, ou os portugueses eram excessivamente 
otimistas quanto à tranqüilidade do Piam, ou eles 
estavam decididos a fazer pouco caso da ameaça 
dos poderosos sesmeiros, que já haviam demar­
cado vastas áreas na região como feudos pes-
17
A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
soais. Caso esses indivíduos continuassem pra­
ticando a apropriação indébita de terras, os co­
lonos da nova comunidade teriam pouca possi­
bilidade de adquirir glebas por iniciativa própria. 
Embora as leis gerais relativas às sesmarias da 
década de 1690 fossem plenamente aplicáveis à 
região do Piauí, a ameaça dos poderosos do ser­
tão ali era tão esmagadora que a Coroa foi força­
da a emitir uma série de disposições especiais 
para tratar do problema. Assim, em 1699 o rei 
declarou que os sesmeiros que possuíssem terras 
no Piauí e não as cultivassem, nem pessoalmente 
nem por intermédio de outrem, corriam o risco 
de perdê-las para quem quer que os denunciasse 
às autoridades.5 Essa disposição real (talvez vi­
sando expressamente a isto) precipitou uma re­
volta nò sertão. A despeito da contenda que se 
seguiu, o governo continuou a pressionar no 
sentido de uma demarcação efetiva da terra, na 
esperança de que a diminuição legal da exten­
são das sesmarias finalmente obrigasse os pode­
rosos a entregarem áreas consideráveis.
Duas disposições complementares decreta­
das pela Coroa nesse estágio inicial atiçaram ain­
da mais a ira dos grandes proprietários. A pri­
meira delas, uma lei promulgada em 1699, que 
impunha a presença de um juiz, um capitão-mor 
e outros funcionários do governo em cada uma 
das paróquias recém-criadas‘, foi acertadamente 
interpretada pelos poderosos como um desafio 
ao seu poder irrestrito no sertão. Da mesma 
maneira, a decisão de anexar o Piauí ao vizinho 
estado do Maranhão7, também decretada na 
mesma época, foi encarada pelos barões da terra 
como uma tentativa de aumentar o controle do 
governo. A animosidade dos sesmeiros perma­
neceu contida por 13 anos, até que as medidas 
imprudentes do ouvidor (juiz adjunto da admi­
nistração central) do Maranhão precipitou uma 
crise. Em 1714 o ouvidor, sem autorização, de­
clarou que de então em diante todas as terras 
do Piauí eram consideradas devolutas, ou seja, 
legalmente sem dono.8 Para apaziguar o tumul­
to desencadeado no sertão por essa decisão ofi­
cial, a Coroa foi obrigada a retroagir, determi­
nando em 1715 que as velhas sesmarias, outor­
gadas no tempo em que o Piauí era administrado 
pela Bahia e Pernambuco, ainda eram iegais, em­
bora o território agora estivesse sob a jurisdição 
do Maranhão.’
Com isso, os sesmeiros foram pacificados, 
e a Coroa, no essencial, perdeu o primeiro emba­
te. Por infelicidade, os índios do Piam escolhe­
ram exatamente esses anos tumultuados para 
rebelar-se contra os portugueses. Em 1712 e 
1713 os tapuias do norte revoltaram-se ao longo 
da fronteira do Maranhão com o Piauí, ameaçan­
do a segurança de toda a estrada Maranhão- 
Piauí-Bahia. Liderados pelo ex-convertido pe­
los jesuítas Mando Ladino, os índios, durante 
quase quatro anos, atacaram as fazendas dos co­
lonos da região. Quando a revolta foi finalmente 
debelada em 1716“ , a paciência da metrópole 
estava quase esgotada. O único recurso da Co­
roa foi estabelecer imediatamente a autoridade 
real mediante a criação de vilas no sertão do 
Piam e a sua provisão com muitos funcionários 
portugueses confiáveis.11
No mesmo ano em que se conseguiu esta­
belecer um pouco de paz, em 1716, chegaram 
ao Piam ordens para a criação de duas novas vi­
las. Uma delas se localizaria na paróquia de N os­
sa Senhora da Victoria, já existente, enquanto a 
outra reuniría colonos da área do rio Longá 
(afluente do Parnaíba), precisamente na sua con­
fluência com o rio Piracuruca.12 As leis de plane­
jamento recebidas pelas autoridades locais em 
1716 forneceríam as instruções metodológicas 
para a fundação das duas novas vilas.
Primeiramente a Coroa ordenou que se 
reunissem todos os moradores das redondezas 
para decidirem conjuntamente sobre a localiza­
ção mais apropriada para a praça central da nova 
comunidade, no meio da qual seria erigido o 
clássico pelourinho, símbolo da autoridade por­
tuguesa. A segunda providência era indicar uma 
área para uma igreja que, depois de terminada, 
pudesse abrigar todos os futuros paroquianos 
atraídos pela comunidade. Além disso, deve­
ríam ser escolhidos locais para a câmara, a cadeia 
e outras edificações públicas. Em seguida, as 
instruções insistiam em que os lotes destinados
1 8
A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
a residências nos âmbitos das vilas fossem de­
marcados em linha reta, ou '‘a régua”, garantin­
do assim uma disposição ordenada e em alinha­
mento das moradias.13 Finalmente, dever-se-ia 
procurar exigir que todas as casas tivessem o 
mesmo estilo de fachada, obtendo-se assim uma 
impressão de uniformidade e uma vista de con­
junto harmoniosa.14
Com referência a essas duas cidades piaui­
enses, duas indagações imediatamente vêm à 
mente: primeira, as ordens foram cumpridas tais 
quais exaradas na legislação de 1716?; e segunda, 
qual a razão do empenho tão grande da Coroa 
de conferir a essas novas comunidades uma apa­
rência harmoniosa, quando o Piauí em si estava 
tão afastado dos núcleos de “civilização” maispróximos? A resposta para a primeira pergunta 
parece ser afirmativa: consoante a pesquisa do 
historiador da arquitetura Paulo Barreto, as or­
dens de 1716 foram ignoradas unicamente no 
tocante à determinação de as igrejas serem sufi­
cientemente espaçosas para acomodarem as co­
munidades em crescimento. Barreto afirma que 
em 1733 a igreja de Victoria (topônimo mudado 
depois para Mocha) ainda estava em obras, ao 
passo que o templo de Piracuruca só'foi termina­
do dez anos depois.15 Uma prova mais convin­
cente é o relato de João da Maia da Gama, que 
esteve em Mocha em 1728 e descreveu a vila. 
Naquela época a cidade evidentemente tinha um 
número considerável de habitantes; haviam sido 
construídas cerca de 90 casas dentro da vila, e 
mais algumas dúzias estavam distribuídas pelos 
distritos exteriores, perfazendo perto de 120 
moradias. Além disso, João da Gama observou 
que os habitantes estavam ocupados na cons­
trução de uma “vistosa” cadeia pública de pedra 
e cascalho e cumprindo a exigência de edificar 
uma casa da câmara.16 Infelizmente, o relato de 
Gama não faz nenhuma referência à disposição 
das casas, embora provavelmente ela também 
tenha obedecido ao modelo prescrito pela 
Coroa.
Não é fácil responder à segunda pergunta, 
mas é evidente que, pelo menos no caso de Mo­
cha, os portugueses estavam decididos a super­
visionar inteiramente o desenvolvimento da co­
munidade, inclusive o seu traçado físico. Visto 
que uma situação de crise havia se manifestado 
ao longo da via fluvial tão rapidamente depois 
da promulgação das leis de sesmarias, e que a 
necessidade de congregar os poderosos e subju­
gar os índios rebeldes era tão aflitivamente pre­
mente, a criação de uma nova vila, provida de 
funcionários reais, era ditada pela necessidade, 
bem como pela possibilidade de escolha. Se tal 
comunidade fosse construída solidamente, de 
conformidade com os princípios barrocos em 
voga de uniformidade e retilineidade, teria mais 
possibilidade de suportar um ataque violento de 
elementos dissidentes. Ademais, um emprego 
largo de dinheiro e competência como esse con­
tinuaria a receber a atenção do governo. Por 
uma equação simples, uma cidade permanente 
necessariamente atrairía colonos permanentes. 
Conquanto a ordem de 1716 não prescrevesse 
uma extensão definida para a praça central nem 
a largura específica das ruas (como algumas das 
legislações ulteriores prescreveríam), o objetivo 
era criar uma comunidade de aparência ordenada 
que logo à primeira vista desse a impressão de 
que havia uma autoridade estabelecida.
Se a continuidade pode ser considerada um 
índice de êxito em planejamento urbano, a expe­
riência de Mocha satisfez todas as expectativas.
Em 1761 a vila foi elevada à categoria de cidade 
(e teve seu nome mudado para Oeiras), a única t 
do Piauí na época. Além disso, a meta impor­
tante de criar uma estrada tranqüila e segura para 
a comunicação entre o Maranhão e a Bahia havia 
sido atingida. Pouco depois da construção da 
cidade nos anos 1720, os colonos tiveram toda 
liberdade de retornar à região (principalmente 
ao longo da fronteira com o Maranhão) para re­
construir as fazendas de gado destruídas durante 
a revolta dos tapuias. Finalmente, a nova vila p 
favoreceu a formação de outros centros urbanos ( j s , 
na região, o que se traduziu numa proliferação 
de comunidades, algumas das quais alcançaram 
um porte considerável. Esses novos centros - 
como Parnaíba (Figura 1), fundada em 1761 - 
obedecem ao modelo traçado em 1716, apesar
1 9
A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
—J--------—.---- —f*
1
.. # ....
j aÍJ
1.- feggj
. 7 Jh
Fig. 1 - Planta básica de São João de Pamaíba, 1798
de posteriormente ter sido elaborada uma legis­
lação especial para a sua criação."
A contrapartida negativa da criação de Mo­
cha foi que ela não possibilitou uma solução efe­
tiva do problema de controlar os sesmeiros, que 
continuaram a apoquentar as autoridades até o 
meio do século.” Contudo, a Coroa havia mos­
trado que uma vila construída numa das áreas 
mais remotas da colônia podia prosperar se fosse 
corretamente administrada. As autoridades de­
vem ter gostado imensamente dos resultados da 
experiência de Mocha, que foi a primeira vez 
que as novas leis de planificaçâo em plena escala 
foram postas em prática. A partir de 1716, a 
Coroa repetidamente assumiu os encargos de 
experiências urbanas no interior, num esforço
contínuo de impor ordem onde o caos havia pre­
dominado. Mocha havia sido uma primeira ten­
tativa de implantar a política de controle esbo­
çada na década de 1690.
Contudo, a “pacificação” do Piauí não ha- 
via absolutamente garantido a segurança no 
Nordeste. Em seguida, a Coroa voltou a sua aten­
ção para o sul, para a regulamentação de centros 
urbanos no Ceará. Como no Piauí, o problema 
de importância capital para os portugueses ali 
era a segurança, pois duas importantes estradas 
atravessavam o território do Ceará. Á primeira 
estrada ladeava a costa, estendendo-se do norte 
de Pernambuco até pelo menos Fortaleza, no 
Ceará, enquanto a outra estrada fazia uma cone­
xão por terra entre Fortaleza e a Bahia."
20
A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
£
Não havia muitos colonos na região do Ceará. 
A maior concentração localizava-se à beira-mar, 
no ponto em que hoje fica a capital do estado, 
Fortaleza. No século XVII, os portugueses ha­
viam construído um forte - daí o nome da me­
trópole - , porém a expansão urbana não havia 
sido promovida. Foi visando a aumentar o nú­
mero de colonos na região e a assegurar o domí­
nio das duas estradas de penetração que os por­
tugueses resolveram, em 1699, fundar a vila do 
Ceará e conceder-lhe o título real. A vila deveria 
situar-se no local da velha fortificação.
A instalação da nova vila, que deveria ter 
sido uma questão pacífica, gerou uma controvér­
sia que só cessou na década de 1720. Pela lógica, 
J r o sítio da nova vila deveria ter sido a antiga po- 
' r ' voação à sombra do forte, porém o conselho 
municipal decidiu que a cidade ficaria melhor 
locaüzada a pouca distância dali, em Iguape. A 
Coroa imediatamente se opôs, fazendo saber aos 
moradores da povoação que ela considerava o 
forte como o local mais adequado para a instala­
ção da sede do governo municipal. De nada 
ç- adiantaram as discussões ásperas entre os cea­
renses e o governo local. Os portugueses não 
se demoveram, apesar do argumento da popula­
ção de que a zona de Iguape oferecia um clima 
mais saudável, terras férteis em abundância, água 
boa, fartura de peixe e um porto mais acessível 
que Fortaleza. N o 'final das contas, a Coroa 
indeferiu as objeções locais, e uma vila oficial 
foi criada em 1706 no local do antigo forte.*20 
Nem assim a oposição dos habitantes ao 
local determinado por Lisboa foi aplacada, e em
1
1713 os obstinados cearenses foram recompen­
sados com a decisão da Coroa de relocalizar a 
comunidade em Aquiraz, uma zona adjacente 
ao porto de Iguape. A despeito das suas propa­
ladas virtudes, infelizmente Aquiraz revelou-se 
uma vitória infausta. Tão logo os colonos se 
mudaram para a nova localização, os índios da 
região começaram a hostilizar a nascente comu­
nidade. O capitão-mor expressou as suas obje- 
ções ao novo lugar, mas a Coroa obstinou-se, e 
logo foram construídas uma casa da câmara, 
uma cadeia e uma igreja na comunidade, a essa 
altura completamente desmoralizada. Ademais, 
para certificar-se de que ninguém permanecesse 
em Fortaleza, deu-se um prazo de quatro meses 
aos comerciantes para transferirem suas merca­
dorias para Aquiraz.
Nessas circunstâncias, a polêmica sobre a 
escolha da localização adequada continuou nos 
anos 1720, uma parte considerável da população 
optando agora pelo retorno ao sítio de Fortaleza. 
Para resolver o problema, a Coroa deu permis­
são às autoridades locais para instalarem uma 
vila alternativa no sítioda velha fortificação, em­
bora mantendo a capital oficial em Aquiraz.21 
Com a implantação de Fortaleza a 13 de abril 
de 1726, a capitania do Ceará ficou na situação 
absurda de ter duas vilas fundadas oficialmente 
em áreas praticamente vizinhas, enquanto o 
resto da região não podia reivindicar nem mes­
mo uma única comunidade oficial. A proximi­
dade entre Fortaleza e Aquiraz não só era pouco 
prática do ponto de vista econômico (pois dupli­
cava as expensas oficiais) como criava rivalidades
( * ) Fico muito agradecida ao tradutor pela informação seguinte: O forte junto ao qual a vila de 
Fortaleza foi fundada, em 13/4/1726, foi construído pelos invasores holandeses, e não pelos portugue­
ses. É certo que, a cerca de uma légua dali, na barra do rio Ceará, Martim Soares Moreno havia erigi­
do o Forte de São Sebastião em janeiro de 1612. Porém em 6/4/1644, quando a expedição holande­
sa de 298 homens comandada por Matthias Beck aportou na enseada do Mucuripe, na atual Fortale­
za, desse forte português só restavam ruínas. O comandante Beck mandou transportar as suas telhas 
e velhas peças de artilharia, que encontrou semi-soterradas nas dunas, para o outeiro Marajaitiba, 
perto do riacho Marajaik (o córrego Pajeú, que atravessa o centro de Fortaleza). Nesse local foi 
construído o Forte Schoonenborch, de forma pentagonal. A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, 
que deu nome à capital do Ceará, só foi edificada em 1816, no mesmo local do forte holandês. As 
muralhas desse terceiro forte subsistem até hoje. Confira-se em Pequena História do Ceará, de Raimun­
do Girão.
21
JL-
A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
entre os dois núcleos demográficos incipientes. 
Diante de outra situação potencialmente explo­
siva como a do Piauí na década anterior, a Coroa 
sub-repticiamente subvencionou Fortaleza, fi­
nanciando a construção da futura urbe com fun­
dos do erário real.
O mapa mais antigo existente da vila (cerca 
de 1730) ilustra até que ponto o governo real 
subsidiou a nova comunidade (Figura 2). As 
primeiras moradas são representadas como sim­
ples casas cobertas de palha; as edificações pos­
teriores, de tetos de telhas, são comparativa­
mente luxuosas.22 Numa carta de prestação de 
contas23 datada de 23 de abril de 1731, o capitão- 
mor Manuel Francês, encarregado das opera­
ções, explica que deixou a nova vila aumentada 
de “26 casas com cobertura de telhas, todas ha­
bitadas, e que aiudcu a construir a Câmara com 
5 mil réis”. Embora não exista nenhuma prova 
documental que confirme a apiicação de uma 
uma legislação de planejamento urbano, um exa­
me minucioso do croqui revela uma certa pre- 
meditação no traçado da nova comunidade. Em 
face da difícil tarefa de integrar as edificações 
antigas no desenho, é duvidoso que a nova For­
taleza pudesse ter sido ajustada ao traçado pre­
ferido de ruas retilíneas. Por outro lado, é perfei- 
tamente visível que a área central da comunidade 
foi deixada vaga, servindo assim como praça 
principal, impressão confirmada pela presença 
da igreja matriz na sua cabeceira. Ademais, as 
casas do quarteirão paralelo à praça apresentam 
todas a mesma disposição de portas e janelas, o 
que indica uma tentativa de uniformização do
Fig. 2 - Croqui de Fortaleza, Ceará, aproximadamente 1730
22
A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
desenho. No meio desse quarteirão está a nova 
Casa da Câmara, e uma legenda no pé do dese­
nho salienta que o quartel municipal e a nova 
rua de casas foram criação do capitão-mor.
O fato de não se ter conseguido uma regu­
lamentação completa dos elementos arquitetô­
nicos em Fortaleza decorreu do desenvolvimen­
to a esmo da comunidade nos seus primeiros 
anos. Inobstante, tanto Aquiraz como Fortaleza 
ilustram a essência do programa de construção 
de vilas, porquanto ambas serviram para asse­
gurar o controle português sobre um elo de co­
municação imprescindível na colônia. Consi­
derava-se que as duas vilas tinham uma função 
estabilizadora sobre uma região remotamente 
administrada, apesar do paradoxo aparente da 
rivalidade entre Aquiraz e Fortaleza.
Por conseguinte, até os anos 1730, o poder 
administrativo português no Ceará esteve con­
centrado nos centros urbanos geminados de 
Aquiraz e Fortaleza.24 Esses centros garantiam 
o controle sobre o destino final da estrada Ba- 
hia-Ceará. Contudo, pelos anos 1730, parece 
que os portugueses compreenderam que era pre­
ciso aumentar a segurança ao longo dos trechos 
interioranos dessa artéria de intenso tráfego. 
Mais uma vez a Coroa resolveu obviar potenciais 
empecilhos, estabelecendo uma nova comunida­
de no sertão, a partir da qual os funcionários do 
governo poderíam manter o tráfego regional sob 
vigilância. O sítio escolhido em 1736 para a no­
va vila ficava num ponto intermediário da estra­
da Fortaleza-Salvador. Partindo de Fortaleza em 
direção ao sul, a estrada acompanhava a costa até 
o rio Jaguaribe e dali inflectia para o interior. O 
viajor acompanhava então o rio Jaguaribe até a 
foz do rio Salgado, seu afluente. Dali o trajeto se­
guia através do sertão até o rio São Francisco, no 
interior da Bahia.25 A confluência do rio Salgado 
com o rio Jaguaribe, em Icó, afigurava-se uma exce­
lente escolha para um baluarte administrativo.
Essa nova povoação objetivava aumentar 
a autoridade na zona e contentar os habitantes, 
que tinham sofrido grandes incômodos, porque 
a sede de comarca mais próxima, Aquiraz, ficava 
a 80 léguas de distância.26 Conforme ocorrera
no Piauí, a criação da nova vila foi acompanhada 
de uma legislação de pianificação vinda de 
Lisboa, prescrevendo as ruas retas e o traçado 
retilíneo usuais. Entretanto, em Icó as autorida­
des estavam mais interessadas na configuração 
geral do que na uniformidade dos elementos 
arquitetônicos. Assim, cada habitante foi ins­
truído a decorar a fachada do seu imóvel como 
bem quisesse, sem a preocupação de manter um 
estilo homogêneo. Uma área de cinco léguas 
nas cercanias imediatas da povoação deveria ser 
dividida entre os habitantes, outorgando-se a 
cada família no máximo uma légua quadrada de 
terra.27 A fim de impedir o monopólio da terra, 
as ordens para a criação de Icó estipulavam ex­
plicitamente que os lotes não eram concedidos 
vitaliciamente, mas apenas por um determinado 
período. Isso evitava que o beneficiário se sen­
tisse com direitos perpétuos sobre a terra.28
Na década de 1740, as autoridades portu­
guesas resolveram acrescentar mais uma vila às 
únicas três existentes no Ceará, Aquiraz, Forta­
leza e Icó. Essa nova povoação localizar-se-ia à 
margem do rio Jaguaribe, não longe do mar, con­
solidando assim, ainda mais, a autoridade sobre 
a estrada Bahia-Fortaleza. Essa região especí­
fica havia sido colonizada nas primeiras décadas 
do século anterior por pescadores, que deram 
ao seu povoado o nome de São José.29 Entretan­
to, o crescimento da comunidade não se devia à 
atividade pesqueira em si, mas sim ao movimen­
to das boiadas que passavam pela circunvizi- 
nhança, cujos boiadeiros eram ávidos pelos pro­
dutos de São José. Além disso, na proximidade 
de São José do Porto dos Barcos foi montada 
uma instalação de preparo de carne seca por sal­
ga e insolação (“oficina” ou charqueada) antes 
de 1740, e essa indústria é que era responsável 
petA prõsperidideTd a comunidade,34
Naturalmente a Coroa estava sequiosa de 
participar das vantagens comerciais em São José; 
logo em 1739 houve uma troca de correspon­
dência com os funcionários locais propondo a 
criação oficial de uma vila no sítio da povoação 
existente.31 Todavia, as ordens efetivas para a 
criação da vila de Santa Cruz do Aracaty não
2 3
A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
foram escritas e recebidas pelo ouvidor-geral, 
fosé de Faria, senão em 1747.32 Quando as pian- 
tas finalmente chegaram, os fundadores da nova 
vilaforam instruídos a escolher um lugar que 
estivesse topograficamente acima do nível das 
enxurradas do rio jaguaribe, mas que, concomi­
tantemente, fosse acessível aos barcos que che­
gassem ao rio com fins comerciais. As recomen­
dações para o traçado da cidade obedeciam às 
diretrizes de retilineidade, agora de praxe, porém 
também levavam em conta as dificuldades espe­
cíficas do local de Aracaty. Por exemplo, as or­
dens de 1747 recomendavam que as novas casas 
da vila fossem construídas com uma aparência 
uniforme; entretanto,
no caso de a nova villa ser localizada junto à po- 
voação que já existe,... quando um morador de 
uma casa [antiga] tiver de reconstruí-la por moti­
vo de ruína, deve-se avisá-lo de que a casa deve­
rá ser reconstruída de forma a dar-lhe um con­
torno e aparência equivalente aos das novas casas.
As novas ordens recomendavam o modelo ideal, 
mas, ao que parece, as autoridades podiam acei­
tar uma solução conciliatória.
Essa sensibilidade à necessidade de flexibi­
lizar os padrões de urbanização foi da mesma 
forma evidente na advertência dirigida a José 
de Faria para construir a praça da vila suficiente­
mente ampla, de modo a “não padecer do defeito 
de ficar exígua quando a villa tiver o desenvolvi­
mento que se espera”. Além disso, os consulto­
res em Lisboa recomendavam que o curral e o 
matadouro fossem construídos em terreno pú­
blico, a uma distância tal da cidade que o mau- 
cheiro não incomodasse os habitantes. Essa no­
va filosofia urbana era um evidente refinamento 
em relação à mentalidade que havia aceitado as 
moradias superlotadas das famílias dos nego­
ciantes anexas às suas lojas da cidade medieval 
portuguesa tradicional, onde as famílias e os co­
merciantes conviviam intimamente com mias­
mas fétidos e doenças. Ou em relação ao caso 
de Salvador naquela mesma época, onde os 
depósitos de lixo diários, situados embaixo dos 
grandes edifícios da cidade, ameaçavam a pró­
pria vida dos seus habitantes.33
Outras características da planta básica de 
Aiacaty eram semelhantes às determinações das 
leis de plamtícãçao para as comunidades analisa­
das anteriormente, reservando-se localizações 
destacadas na praça para os prédios importantes. 
bem como um terreno de extensão considerável 
para uso coletivo da comunidade.
As indicações mostram que as obras da vila 
começaram imediatamente, pois no início de 
1748 carnaubeiras existentes no local já ser­
viam de marcos temporários na praça recém- 
demarcada.34 O relatório de um engenheiro mili­
tar que visitou a vila em 1799 confirma a obe­
diência dos seus fundadores ao decreto de 1747. 
Ele observou que ela tinha uma certa distinção 
e polidez, a par com “uma arquitetura das casas 
agradável e regular”.35
A fórmula de Aracaty logrou tanto êxito 
que as autoridades recomendavam-na como 
modelo para a construção de outras cidades. Por 
exemplo, quando o Conselho Ultramarino ins­
truiu o governador Gomes Freire de Andrade a 
criar oficialmente uma vila na localidade de Rio 
Grande, no extremo Sul do Brasil, recomendou 
a utilização do modelo de Aracaty. A carta rece­
bida pelo governador em 1747 declarava que
...a fim de o dito Ouvidor ordenar melhor as 
ruas dessa cidade, sua praça, e a Igreja, a Casa 
da Camara e a Cadeia, estou determinando a 
instrução inclusa..., que foi remetida ao Ou­
vidor do Ceará para criar a nova villa na locali­
dade de Aracaty.36
Como se pode ver, no decurso de 30 anos 
os portugueses haviam desenvolvido um modelo 
padronizado para o traçado de novas vilas no 
interior. Essencialmente um aperfeiçoamento 
das ordens de 1716 para a criação de Mocha 
(mais tarde Oeiras), no Piauí, a fórmula de Ara­
caty revelava claramente um conhecimento das 
injunções do local, a conveniência de flexibi­
lidade ao fazer cumprir as exigências de unifor­
midade e um desejo de padrões sanitários eleva­
dos. Para a mentalidade portuguesa, uma cidade 
bem construída com certeza deveria gerar habi­
tantes satisfeitos. Foi assim que Aracati se tor­
nou o protótipo para o desenvolvimento urbano
2 4
A p l i c a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
sancionado pela Coroa; os administradores dese­
josos de implantar ordem nos rincões incuitos 
que eles governavam iam aderir ao plano por 
todo o resto do século XVIII.
(1) Ernâni Silva Bruno, Nordeste, vol. II: História 
do Brasil: Geral e Regional (Cultrix Ltda., São 
Paulo, 1967), p. 83. A bandeira de Domingos 
Jorge Velho penetrou na região em 1662-1663. 
Um contingente de baianos alcançou-a por 
volta de 1674. Ver também a exposição do ca­
so do Piauí constante em Capítulos de História 
Colonial: 1500-1800, de Capistrano de Abreu, 
revisto e anotado por José Honório Rodrigues 
(5a edição, Sociedade Capistrano de Abreu, Rio 
de Janeiro, 1969), p. 160.
(2) Essa análise das vias fluviais é baseada em Caio 
Prado Júnior, op. cit., p. 282.
(3) Consulta do Conselho Ultramarino sobre a 
carta do bispo de Pernambuco, datada de 20 
de novembro de 1697, tal como citada em Er­
nesto Ennes, A s Guerras nos Palmares (Com­
panhia Editora Nacional, São Paulo, 1938), pp. 
360-361.
(4) Isso é evidente no “Termo de eleição q.e. 
fizerão os moradores do certão do Piauhi: do 
lugar para se fazer a Igreja de Nossa Senhora 
da Victoria”, tal como citado em Ennes, op. 
cit., p. 364.
(5) Carta Régia de 20 de janeiro de 1699, tal como 
citada em Carlos Eugênio Porto, Roteiro do Piauí 
(Ministério da Educação e Cultura, Rio de Ja­
neiro, 1955), p. 66.
(6) Carta Régia de 20 de janeiro de 1699 (trechos 
posteriores), tal como citada em Capistrano de 
Abreu, Capítulos..., p. 166.
(7) Carta Régia de 3 de março de 1701, tal como 
citada em Porto, op. cit., p. 67.
(8) A ação do ouvidor Antônio José da Fonseca 
Lemos é examinada em Porto , op. cit., pp. 66 et 
seq.
(9) Ibidem.
(10) Essa revolta dos índios foi tratada em Boxer, 
op. cit., p. 236.
(11) Essa foi a recomendação do Conselho Ultra­
marino em 13 de março de 1717 (Lisboa). 
IHGB-CU, vol. X, Maranhão e Grão-Pará, 
1678-1803.
(12) Silva Bruno, op. cit., p. 84, observa o rápido 
crescimento da população nessa área de 1720 
a 1724. Paulo T. Barreto, em “O Piauí e sua 
arquitetura” (RSPHAN na 2, 1938, pp. 187- 
223), indica que tanto o povoado de Piracuruca 
como o de Victoria seriam submetidos à legis­
lação de 1716.
(13) A ênfase na uniformidade é um aspecto 
característico da nova construção de vilas no 
Brasil setecentista.
(14) A Carta Régia de 1716 está reproduzida na 
íntegra em Barreto, op. cit.
(15) Barreto, op. cit., p. 221. Enquanto a povoação 
de Mocha foi criada por volta de 1716, a de 
Piracuruca não foi concretizada senão muitos 
anos depois, conforme um consenso baseado 
em Reis Filho, op. cit., Silva Bruno, op. cit., e 
Aroldo Azevedo, Vilas e Cidades do Brasil Colo­
nial. Esse fato pode ter sido responsável pela 
aparente demora na construção de um templo 
em Piracuruca.
(16) “Diário da viagem de regresso para o Reino, 
de João da Maia da Gama, e de inspecção das 
barras dos rios de Maranhão e das capitanias 
do Norte, en 1728”, tal como citado em F. A. 
Oliveira Martins, Um Herói Esquecido: João da 
Gama, vol. II (Agência Geral das Colônias, 
Lisboa, 1944), pp. 22-23.
(17) Carta Régia ao Governador José Pereira Caldas, 
1761, tal como citada em Barreto, op. cit., pp. 
189-190. A planta de Parnaíba intitula-se “Mapa 
exacto da villa de S. João da Parnaíba”, 1798. 
Ela faz parte da mapoteca do Arquivo Histó­
rico Ultramarino, em Lisboa. Todos os mapas 
do AHU referentes ao Brasil foram catalogados 
e numerados por Alberto Iria em “Inventário 
Geral da Cartografia Brasileira Existente no 
Arquivo Histórico Ultramarino (Elementos 
para a Publicação da Brasila Monumenta Car- 
tographica)”, IV Colóquio Internacional de Estudos 
Ljtso-Brasileiros, reeditado em Studia n“ 17, abril 
de 1966. Esse mapa tem o número de referên­
cia AHU-Iria n“ 68.
(18) Ver explanação em Porto, op. cit., pp. 68-73.
(19) Caio Prado Júnior, op. cit., p. 183.
(20) Doisestudos históricos dos primórdios de For­
taleza podem ser encontrados em: Raimundo 
Girão, Pequena História do Ceará (Editora Insti­
tuto do Ceará, Fortaleza, 2a edição, 1962), pp. 
138-149; e Tristão de Alencar Araripe, História
2 5
A p l ic a n d o o m o d e l o : p r im ó r d io s e x p e r im e n t a is n o N o r d e s t e
da Província do Ceará: Desd‘ os Tempos Primitivos 
até ISSO, voi. I (Editora Instituto do Ceara, 
Fortaleza, 2* edição anotada, 1958), pp. 150- 
153.
(21) Ibidem, p. 152.
(22) Mapa da “Villa Nova da Fortaleza de Nossa 
Senhora da Assunpsão da Capitania do Ciara 
Grande, que S. Mag.de que Deos guarde foy 
cervido mandar criar”, aproximadamente 
1730, AHU-Iria, n» 69.
(23) Carta do Capitão-Mor Manuel Francês ao Rei, 
de 6 de julho de 1730. Essa carta está inclusa 
numa coleção de cartas relativas a Fortaleza; 
recebeu o número 15 no catálogo de Anêmona 
Xavier de Basto Ferrer, intitulado Segunda 
Relação de Documentos Existentes no Arquivo Histó­
rico Ultramarino, Respeitantes a Fortaleças, Igre/as 
e Outros Monumentos Antigos, Civis, Religiosos e 
Militares, Construídos pelos Portugueses no Brasil 
(Lisboa, 1960). Daqui por diante, essa fonte 
será citada como Basto Ferrer.
(24) Ver “Carta de D. João em resposta a outra do 
Governador do Maranhão-Pará em que este 
lembrava a conveniência de se colonizarem
certos pontos extremos da Amazônia com ca­
sais Açonanos”, de 18 de março de 1750. h 
Cortesão, op cit., pp. 475-476.
(25) Caio Prado Júnior, op. cit., p. 283.
(26) Ver a ordem real de 20 de outubro de 1736 na 
R1C, vol. IX (1895), p. 356.
(27) Ibidem, p. 357.
(28) Ibidem, p. 358.
(29) Emáni Silva Bruno, Nordeste, voL D, op. cit., p. 60.
(30) Raimundo Girão, op. cit., pp. 121-122.
(31) Carta de 1739 na R1C, vol. IX (1895), p. 360.
(32) A exposição que se segue é baseada na Carta 
Régia recebida por José de Faria, ouvidor-geral, 
datada de 17 de julho de 1747, ANRJ, Códice 
952, vol. 34, fls. 19-20.
(33) A. J. R. Russell-Wood, op. cit.
(34) Isso é constatado no “Auto da Criação da villa 
de Aracaty”, de 10 de fevereiro de 1748, RIC, 
vol IX (1895), pp. 395-397.
(35) Carta do Chefe de Esquadra Bernardo Manuel 
de Vasconcelos, tal como citada em Raimundo 
Girão, op. cit., p. 152.
(36) Carta Régia a Gomes Freire de Andrade de 17 
de julho de 1747. ANRJ, Códice, vol. 34, fl. 17.
2 6
\
Capítulo IV
A expansão da autoridade: 
novas vilas no Centro e no Oeste
Sem dúvida, o maior desafio enfrentado 
pelos portugueses foi implantar os novos pa­
drões urbanos nas regiões de mineração do Cen­
tro e na fronteira do extremo Oeste do País. Ali, 
os bandeirantes e outros mineradores tinham to­
mado a iniciativa na formação de comunidades, 
juncando os distritos de mineração de acampa­
mentos construídos atabalhoadamente. O histo­
riador da arquitetura Sylvio de Vasconcellos, que 
estudou a fundo as origens dos centros urbanos 
de Minas Gerais, descreve esses primeiros aglo­
merados de barracos como “de configuração li­
near, com elementos dispersos, sem nenhum 
centro de polarização definido”.1 Em geral as 
ruas desses vilarejos eram simplesmente as estra­
das que passavam pela região, e não pistas espe­
cialmente construídas. As suas casas normal­
mente eram do tipo improvisado, muitas vezes 
não passando de barracos levantados para ocu­
pação provisória. Tais “casas”, como Cassiano 
Ricardo observou com humor, “estavam com­
prometidas com o movimento”; a única coisa 
que as cabanas não faziam era caminharem junto 
com seus moradores.2
O arraial de Sumidouro, fundado pelo che­
fe de bandeira Fernão Dias Pais Leme, é um'oti- 
mo exemplo dos acampamentos de minejradores 
dispersos em Minas Gerais. Ocupado originaria- 
mente em 1675, Sumidouro futuramente desem­
penharia o papel de ponto de arrancada para a 
exploração ulterior dos planaltos colinosos aurí- 
feros. Todavia, um mapa do arraial de 17323 mos­
tra claramente que Pais Leme não construiu o 
seu campo com vistas a permanecer (Figura 3). 
Conquanto esse mapa represente visivelmente
um estágio mais avançado do desenvolvimento 
da povoação, ele realmente demonstra que as 
Unhas gerais do crescimento de Sumidouro re­
sultaram da sua fundação fortuita. Por exem­
plo, o terreno em que o acampamento se situava 
é mostrado no mapa como ondulado e cheio de 
arbustos, e, conseqüentemente, as edificações 
parecem dispostas em níveis diferentes; obser­
vam-se vários lotes cultivados locahzados em 
áreas mais elevadas que o resto da comunidade. 
A povoação compõe-se de umas poucas edifica­
ções de dimensões variadas enfileiradas ao longo 
da única “rua” do arraial, sem nenhuma preocu­
pação perceptível de alinhamento ou disposição 
sistemática. Apenas a praça da igreja mostra 
alguma unidade arquitetural, e assim mesmo 
porque esse prédio importante é o único a ocu­
par um espaço amplo e não definido por alguma 
outra circunstância.
Contudo, seria errôneo concluir, como ge­
ralmente se crê, que se permitiu que todas as 
povoações interioranas dessa região se desen­
volvessem desordenadamente como Sumidouro. 
Quando a descoberta de ouro no interior abriu 
os olhos dos portugueses para a riqueza poten­
cial do sertão, houve uma tentativa quase ime­
diata de controlar o crescimento urbano. Pode­
rosos chefes de bandeiras eram persuadidos a 
servir de exemplo para seus homens mediante a 
promessa de nomeação para o posto de alcaide- 
mor (prefeito) da comunidade onde eles resol­
vessem estabelecer-se. Além desse apelo à vai­
dade, a Coroa também esperava fixar os antigos 
desbravadores erradios pela garantia de que os 
bandeirantes que estabelecessem residência nas
2 7
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS N O C E N TR O E NO O e STE
povoações seriam dispensados de pagar foros 
(impostos)4
Essa mesma legislação que oferecia vanta­
gens inéditas aos bandeirantes também continha 
algumas diretrizes para a criação de futuras al­
deias na região. Os fundadores dessas comunida­
des deveríam procurar “sítios saudáveis, próxi­
mos de rios e de fontes de água boa, com terre­
no propício e a pouca distância das minas de 
ouro.5 A localização das futuras povoações já 
não podia ser deixada à discrição dos colonos; a 
Coroa era favorável à escolha judiciosa de luga­
res que apresentassem claras potencialidades de 
evoluírem para comunidades permanentes. Ade­
mais, Lisboa estipulava que esses novos centros 
deveríam localizar-se perto de achados de ouro 
recentes, porque a proximidade das escavações 
significava que se podería exercer uma fiscaliza­
ção rigorosa sobre o ouro extraído.
Estranhamente, nessa ordem inicia! não se 
fez nenhuma referência a um traçado urbano, o 
que dá a entender que a preocupação primordial 
nessa região era literalmente fixar os errantes, e 
não criar comunidades ordenadas. Poucos mine- 
radores se davam ao trabalho de pedir permissão 
oficial para fundar novos arraiais. Em todo caso, 
seguir os trâmites burocráticos muitas vezes re- 
velava-se um procedimento demorado e compli­
cado. Um caso que ilustra bem isso foi o requeri­
mento de Garcia Ruiz Paes para fundar uma po- 
voação à margem do rio Paraíba do Sul, em retri­
buição aos seus serviços por ter aberto a estrada 
entre o Rio de Janeiro e os Campos Gerais. A per­
missão foi concedida a título precário em 17116, 
porém quatro anos depois o Conselho Ultrama­
rino ainda não se havia decidido a permitir , a 
Paes dar início às obras.7 Indiscutivelmente, es­
sas delongas administrativas tinham um efeito
Fig. 3 - Planta básica de Sumidouro, em Minas Gerais, 1732
28
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS N O C E N T R O E NO OESTE
\ s
&
cv
t-
f t
\ 3
negativo, desencorajando outros a buscarem o a- 
val da Coroa para iniciarem novas comunidades.
Em face disso, compreende-se facilmente 
por que, apesar das intenções em contrário da 
Coroa, a maioria das comunidades que foram 
oficialmente reconhecidas e tituladas como vilas 
na segunda década do século XVIII deveram a 
sua origem, não ao patrocínio oficial de arraiais, 
massim ao crescimento natural de acampamen­
tos de mineração não planificados que já haviam 
proliferado na região. Conquanto oito dos pri­
mitivos acampamentos de bandeirantes fossem 
promovidos à categoria de vila entre os anos de 
1711 e 1718, nenhum deles teve o privilégio de 
ser fundado por iniciativa do governo.8 Todas^ 
essas novas vilãs, sém" exceção,“óbedeciam lisJ 
características gerais dos arraiais de Minas Ge­
rais supradescritos: agrupamentos lineares de 
casas dispersas. Mesmo assiríT, ãVHãçãcrde oito 
novas vilas era parte integrante do programa do 
i o d e levar administradores oficiais às
áreas de mineração. Exigia-se que cada nova 
1 vilã silijvênciona s s í , por intermédio da tesoura­
ria da câmara municipal, a construção de uma 
cadeia segura e do prédio da intendência munici­
pal.’ Posteriormente, as vilas assim constituídas 
sediariam casas de fundição, escritórios de conta­
bilidade e residências aificiais-.de coletores de 
impostos^do-atoverao/ Desse modo, as noVas 
atilas funcionavam como pontos de irradiação) 
dos serviços de supervisão governamentais. J 
. _ Apesar do surgimento da planificaçâo esta- 
! tal no Nordeste, o crescimento dessas comunida- 
: des foi deixado seíncontro le nessa fase. A res­
ponsabilidade pelosmêlhoramentosurbanos em 
Minas Gerais era exclusivamente da alçada dos 
governos locais, e alguns deles conheciam perfei- 
j tamente as novas normas urbanas. Assim foi que, 
nem 1714, aproveitando a oportunidade da des­
truição de Ouro Rjwes-gor um incêndio, a câma­
ra local determinou que, ho futuro, as casas das 
ruas que dessem na praça principal seriam medi­
das e alinhadas, ifim de criar.üma vista de conjun­
to mais regular ha .partô-éentral da vila.10 Dois 
anos antes, a câmara tinha decretado que todos 
os que quisessem construir dentro do perímetro
da vila tinham de obter uma permissão prévia 
do governo municipal, de modo que as novas 
cruas pudessem serjconstruídas em alinhamento 
reto.11 Entretanto, como obsetvõuA historiador 
mineiro Svlvio de Vasconcellos, a câmara estava 
travando uma batalha árdua, pois a topografia 
acidentada e cheia de morros de Ouro Preto 
impossibilitava o traçado de ruas retas, tornando 
assim o planejamento global extremamente 
difícil.12
Enquanto a região sul-central de Minas Ge­
rais começou assim a assumir um caráter quase 
urbano, a geração seguinte de exploradores ban­
deirantes penetrou para o oeste, em direção a 
Goiás e Mato Grosso, na busca contínua de ri­
quezas minerais. Embora em 168215 já houvesse 
indícios de ricos filões de minerais na zona do 
rio Vermelho, o verdadeiro estímulo para o po­
voamento dessa vasta região só veio na segunda 
década do século XVIII, quando finalmente a 
expedição de Pascoal Moreira Cabral descobriu 
ouro na proximidade do ribeirão do Coxipo. 
Entre 1716 e 1719, os descobridores dessa nova 
zona aurífera erigiram uma capela e iniciaram 
uma modesta povoação que constituiu o núcleo 
do que uma década depois viria a ser a vila de 
Cuiabá.14 A maioria das trilhas que serpeavam 
pela aldeia seguiam em direção ao rio Cuiabá, 
junto ao qual a povoação cresceu; a configuração 
da comunidade apenas acompanhava as irregu­
laridades da topografia. As casas espalhavam- 
se a touxe-mouxe, e mesmo a igreja paroquial 
não passava de uma simples cabana com um teto 
de palha precário.15
Apesar de tudo isso, em 1727 essa aglome­
ração miserável de simples casas foi agraciada, 
na devida forma, com o título de vila portugue­
sa, sob a auspiciosa denominação de Bom Jesus 
de Cuiabá (Figura 4).16 O princípio que norteou 
aquilo que à primeira visttTpareck uma medida 
prematura e incorreta baseava-se numa circuns­
tância decisiva: Cuiabá efa a única/aglomeração 
urbana de toda a região QçsmyNessas condi­
ções, os portugueses enfrentavam um dilema 
complicado: ou a diminuta agjomeração de Cuia­
bá deveria ser reconhecida como centro admims-
" J r . /
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO CEN TR O E NO O E S T E
... " 1
Fig. 4 - Planta básica de Cuiabá, Mato Grosso, 1777
tivo, ou então seria preciso construir uma nova 
vila. Como a Coroa estava desejosa de controlar 
o fluxo de ouro dessa zona recém-aberta, e como 
o custo da constituição e aparelhamento de uma 
equipe para construir uma nova comunidade 
nessa região remota teria sido exorbitante, os 
portugueses viram-se obrigados a aceitar a 
urbanização nas condições dos bandeirantes, 
finalmente elevando devidamente o povoado à 
condição de vila.
Porém havia sido atingido um ponto críti- 
co, porquanto a criação da vila de Cuiabá de­
monstrava o compromisso sério da Coroa com 
o desenvolvimento planejado do Oeste. A partir 
de 1727, exigiu-se que os administradores to­
massem todas aspfOVÍdêflcias posüíveis para 
reter a escassa população", mesmo èm zonas 
não produtoras de ouro, ao passo que Lisboa, 
além disso, ordenou que se estabelecessem re­
gistros de censos, a fim de obter dados sobre 
as zonas em que existissem vazios demográ­
ficos.18 As futuras povoações teriam de se sub­
meter às exigências dé planejamento, agora acei­
tas naturalmente no Nordeste. Em nenhum
3 0
. . - i o
, f . V
A e x p a n s Ao d a a u t o r i d a d e : n o v a s v il a s n o C e n t r o e n o O e s t e
outro caso essa m ud íH ^ de atitude foi mais 
evidente do que no processo de criação da loca­
lidade real destinada a ser a capitai da capitania 
de Goiás.
Até os anos 1730, Goiás ainda não havia 
sitjo explorado sistematicamente. O interesse 
pela região só foi despertado quando o bandei­
rante Bartolomeu Bueno da Silva, o “Anhan- 
güera” (diabo velho, em tupi) regressou a São 
Paulo em 1725, espalhando histórias de achados 
fabulosos de ouro na região situada entre Minas 
Gerais e Mato Grosso.19 Pelo ano de 1736 havia 
sido aberta uma trilha por terra entre Cuiabá e 
Goiás, a qual finalmente se ligava ao Rio de Ja­
neiro, e os portugueses receavam que ela se 
transformasse numa importante estrada do con­
trabando.20 Diante de mais uma situação poten­
cialmente incontrolável, as autoridades, incon- 
tinenti, ordenaram o governador de São Paulo, 
o Conde de Sarzedas (sob cuja jurisdição estava 
o território recém-aberto), a seguir imediatamen­
te para o interior de Goiás.21 O superintendente 
da região resumiu o ponto de vista oficial ao 
proclamar que
unicamente por meio da fundação de vilas e 
do estabelecimento nelas da administração 
governamental, esses homens que perambulam 
sem destino através desses campos auriferos 
podem ser controlados, sendo inconveniente 
deixá-los vaguearem sem vigilância, por causa 
das desordens que podem cometer.22
Movido por essas convicções, em 1736 Sar­
zedas partiu para as minas do rio Vermelho 
(afluente do Araguaia), munido de cópias da le- 
legislação de planejamento urbano que o orien­
tariam na criação eficiente de uma nova vila. 
Cópias das ordens para a formação da vila de 
Goiás haviam sido enviadas antecipadamente 
tanto a Sarzedas como ao superintendente.23 
Provavelmente o governador teria agido com 
toda presteza, se a sua viagem não tivesse sido 
interrompida pela sua morte inopinada em Meia 
Ponte, em fevereiro de 1737.24
A administração interina que se seguiu ao 
falecimento de Sarzedas fez poucos progressos 
no sentido de criar a vila de Goiás. Só quando
Dom Luís de Mascarenhas assumiu o governo é 
que as ordens foram finaimente cumpridas. Che­
gando ao território problemático em julho de 
173925, Mascarenhas decidiu estabelecer a nova 
capital no arraial de Santa Ana, embora o de Meia 
Ponte, próximo, tivesse pleiteado a sede da vila26, 
e em dezembro de 1739 a recém-organizada 
Câmara de Vila Boa de Goiás pôde declarar ofi­
cialmente que a vila havia sido inaugurada.27
Como o seu antecessor falecido, Mascare­
nhas sem dúvida levou consigo uma cópia da 
legislação de planejamento urbano. As ordens 
de 1736 requeriam a criação de uma comunidade 
segundo o modelo retilíneo prescrito. Elas 
diferiam das ordens para a fundação de Icó, do 
mesmo ano, apenas no destaqueà uniformidade 
das fachadas das edificações e na prescrição de 
que, nüm raio de seis léguas da vila, os habitantes 
só podiam receber meia légua quadrada de ter­
ra.28 Essas duas diferenças são compreensíveis 
em face da função específica de cada uma das 
duas comunidades. Vila Bela destinava-se a ser 
uma capital regional e, por isso, devia ter uma 
aparência consentânea com o seu papel. Icó, 
por sua vez, era apenas uma estação de parada 
na estrada comercial cearense. Assim sendo, por 
um lado, não era imperativo que essa vila se su­
jeitasse estritamente ao ideal de simetria pre­
dominante; por outro lado, certamente era possí­
vel atribuir mais terra aos colonos icoenses, me­
nos numerosos, que aos da nova vila goiana, 
considerando-se ainda que a região de Goiás era 
particularmente mais lucrativa.
Pela documentação existente, percebe-se 
que Mascarenhas seguiu as ordens referentes à 
construção dos prédios públicos necessários, 
mas foi negligente em exigir o cumprimento do 
padrão reticular no traçado das ruas.29 Dessa 
forma, compreende-se por que muito depois, 
na década de 1770, foram expedidas ordens 
recomendando que fosse estabelecido um plano 
diretor para Vila Boa a fim de futuramente evitar 
“a mesma irregularidade... com que os fundado­
res da Capital haviam construído os prédios, es­
tragados pela falta de alinhamento”.30 Uma plan­
ta da cidade em 1783 indica que, enquanto o
3 1
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N TR O E NO O E S T E
Fig. 5 A - Planta básica de Vila Boa, Goiás, 17S2
núcleo central apresentava uma falta de ordem, 
os lotes de edificações recém-delineados se­
guiam estritamente um padrão de malha ortogo- 
nal (Figuras 5A e 5B).31
As leis de planificação urbana foram postas 
em prájica com maior fidelidade na construção 
l Bela da Santíssima Trindade, na capitania 
'de MátO-Grosso. A história dessa região está inti­
mamente ligada à luta de Portugal pata prote^ 
ger a fronteira despovoadp-contra as intrusõesxs- 
paflhotas. Acresce quer qiAiulo se comprovou 
Êjúê a área a oeste e ao nlprte le Cuiabá encerrava 
preciosas jazidas de ouroArCoroa decidiu defen­
der os seus interesses, ordenando nos anos 1740 
a construção de uma vila nas suas imediações pa­
ra cumprir duas funções: desencorajar os espa­
nhóis e evitar as atividades ilícitas de bandeiran­
tes mineradores. Essa nova vila seria a sede lógi­
ca da capital da nova capitania de Mato Grosso, 
cuja criação foi recomendada pelo Conselho Ultra­
marino em 1748. Depois de construída, a nova 
vila podería imediatamente acomodar o quadro 
habitual de funcionários e militares da Coroa: 
O capitão-geral residiría a maior parte do ano 
na nova vila a ser construída em Mato Grosso 
para “tornar a colônia de Mato Grosso tão po-
3 2
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N TR O E NO Ü E STE
derosa que seja respeitada pelos seus vizinhos 
[os espanhóis] e que sirva de baluarte de todo 
o interior do Brasil”. Não só a presença de um 
oficial de alta patente e de tropas reais contri­
buiría para a defesa como a nova capitania- 
geral simbolizaria a ocupação permanente pela 
Coroa do extremo Oeste, proporcionando uma 
base firme para a aplicação do uti possidetis.32 
A criação de uma vila em Mato Grosso foi 
proposta no começo dos anos 1740, pouco de­
pois da fundação de Vila Boa em Goiás. Em mar­
ço de 1741,0 Conselho Ultramarino respondeu 
à informação prestada pelo ouvidor da Comarca 
de Cuiabá autorizando a criação de uma comuni­
dade para ocupar a terra compreendida entre o 
Lerritório dominado pelos espanhóis e os limites 
exteriores da vila de Cuíàbá. Tal vila, consoante 
esse documento, podia ser construída “emitin- 
do-se uma ordem semelhante à de Vila Boa de 
Goiás” (sic).33 Cinco anos depois, em 1746, uma
versão quase idêntica do código de planejamento 
áe Vila Boa foi enviada ao governador de São 
Paulo (sob cuja jurisdição o território de M ato 
Grosso estava), instruindo-o sobre os procedi­
mentos para projetar uma nova vila. A qu m m - 
bém a ênfase recaía na ordem e na simetria: as 
ruas deveríam ser desenhadas com uma largura 
umfõnríe e em Unhas retas; as cãsãs tmhâfti de 
ser construídas coriTuma fachada únífôrme. e 
todos os esforços dêvênâm ser envidados pqpi 
‘‘p iescxvity tíe r tím ^ ^ iI i tcT ri^sic). Em vir­
tude, antesdFtudõTdãToMhzãçao remota dessa 
futura capital administrativa, as ordens prescre­
viam ainda que os fundadores exigissem que to ­
dos os funcionários da comunidade fossem casa- 
Aos e residisae^d^nTO deTahiG Thfuito era criar 
uma população permanente; como um incentivo 
a mais ao povoamento, os novos habitantes fica­
vam isentos de todos os impostos por 12 anos a
Fig. 5 B - Planta de Vila Boa mostrando o realinhamento, aproximadamente 1782
— 3 3 —
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO CEN TR O E N O O E S T E
Fig. 6 A - Detalhe de Vila Bela, 177i
contar da fundação da vila. Além disso, exigia- 
se dos mineradores o pagamento de apenas um 
<3eHmcTdo ouro que extraíssem, em vez do quin- 
tcr habitualmente reservado à Coroa.34
Em 1750 as engrenagens tinham sido pos­
tas em movimento, e o capitão-geral da capitania 
recém-criada, Antônio Rohm de Moura, foi des­
pachado para executar as ordens reais. As co­
municações ulteriores entre Lisboa e Rohm re­
forçaram as instruções da ordem de 1746: o go­
vernador deveria escolher um sítio saudável, 
providenciando que as ruas da nova vila fossem 
largas e retas, e tomar quaisquer outras provi­
dências que julgasse necessárias para que “a dita 
vila fosse construída desde o início com boa 
orientação”.35 A localização da nova vila seria 
próxima do rio Guaporé e de preferência perto
do povoado de Santana ou do de São Francisco 
Xavier, os quais já contavam um pequeno nú­
mero de habitantes. Sobre esta última comuni­
dade, Rohm observaria que ela tinha sido 
construída “sem nenhuma ordem nem forma­
ção de ruas”36, um comentário que logo o iden­
tifica como propugnador da ordem e organiza­
ção que constituíam á essência do novo urba­
nismo.
A opção por um local próximo do rio 
Guaporé foi ditada por razões geopolíticas. 
Não só esse sítio era uma atalaia para vigiar as 
atividades das missões espanholas como, o que 
talvez fossemais importante, o rio Guaporé era 
a conexão imprescindível no quadro de um 
sistema integrado de comunicações projetado 
quefinalmente estabelecería uma hgação entre
A EXPANSÃO D.A AU TORIDADE: NOVAS VILAS N O C E N T R O E N O O E S T E
Fig. 6 B - Planta básica de Vila Bela, 1780
Belém do Pará e o extremo Oeste. Em 1750 a 
importância dessa rota havia sido reconhecida: 
O alto custo do transporte nas estradas do 
Sul elevou os preços acima das possibilidades 
dos colonos, impediu um fluxo constante de 
importações abundantes e baratas, reduziu a 
compra de escravos e a acumulação de capital 
e, em consequência disso, contribuiu para o 
declínio da produção de ouro. Porém se o Pará 
abastecesse Mato Grosso,... o Oeste recebería 
um número maior de escravos mais baratos, 
maiores quantidades de bens manufaturados e 
gêneros alimentícios, a produção de ouro rece­
bería um novo alento, Belém regurgitaria de 
ouro do Oeste, o tesouro real do Pará final­
mente sanaria o seu déficit crônico, e o Amazo­
nas podería sair da sua pobreza secular.37 
A criação de uma nova comunidade que pudesse 
servir de ponto de observação governamental 
dessa rota era claramente impositiva.
Mas,_ apesar de Ju do, o p y y tg jjo na nova 
vüa e r^ ^ u i^ lBtri^, mesmo com todas as vanta­
g e s comerciais émTjõgo.” TTTòcaTfihalmênte 
escõlEidõ pêlo capitão-geral oferecia o atrativo 
da proximidade do rio, mas com frequência era 
assolado por doenças, afugentando possíveis 
colonos. Nem a insistência de Rohm de Moura 
em que as casas fossem construídas com preste­
za, nem as vantagens do programa de isenção 
de impostos conseguiram atrair um grande nú­
mero de voluntários para essa fortaleza do inte­
rior. Três anos depois da sua fundação oficial 
em 1752, Vüa Bela tinha apenascerca de 500 
habitantes.38 Sem se intimidar com esses reveses, 
Rohm de Moura persistiu na sua obra, criando 
uma cidade tão fiel quanto possível ao modelo 
recomendado no código de 1746.
As provas documentais relativas à constru­
ção dessa vila são tão ricas que o andamento
3 5
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N T R O E NO O E S T E
das obras pode ser acompanhado praticamente 
dia a dia. Grande parte desse material está con­
tido nos Anais de Vila Bela3’, mas a correspon­
dência de Rolim de Moura, bem como um mate­
rial cartográfico de excelente qualidade, está 
igualmente disponível. Consoante os Anais, a 
edificação da cidade começou pouco depois da 
sua criação oficial em 1752. Primeiramente a 
praça principal foi demarcada em terreno eleva­
do, premunindo-se as inundações pelas cheias 
do rio. Esse largo central era um quadrado com 
408 palmos de lado, contorneado por ruas de 
60 palmos de largura (1 palmo = 22cm). O lado 
sul era ocupado pelo quartel de uma companhia 
de dragões; a fachada oeste, pela casa da câmara; 
a parte leste, pela igreja paroquial; e todo o lado
flexo do gosto pessoal de Moura. Conforme um 
documento cartográfico posterior (Figura 6A)44, 
ela ocupava pelo menos dois quarteirões inteiros 
do traçado de Vila Bela. Os aposentos davam 
para a praça central; atrás da residência foi deixa­
do uma área para um pomar racionalmente plan­
tado, que possivelmente foi o primeiro do seu 
gênero no Brasil, pois os primeiros pomares pro­
priamente ditos das cidades costérias tradicionais 
só surgiram no finai do século.45
Os visitantes a Vila Bela devem ter se sen­
tido surpresos com o porte do empreendimento 
naquele rincão remoto da colônia. Vila Bela foi 
um exemplo notável de como a política urbana 
portuguesa podia transformar o interior: certa­
mente “a planta básica de Vila Bela traduziu o
norte foi reservado para a residência do gover- 4^desejo dá metrópole de implantarõrdem e auto-
1 40 IT________________' j :__ J- 4-1 At ~ ________r ________________ 1________ 40 ' r i : ; _nador.40 Uma vez que o código de 1746 não espe­
cificava as medidas para a cidade do rio Guapo- 
ré, é provável que as dimensões utilizadas te­
nham sido estabelecidas pelo próprio capitão- 
geral. O que lhe interessava era que a nova vila 
oferecesse uma representação gráfica e visual de 
ordem e tivesse uma escala suficientemente grande 
para merecer atenção.
Entretanto, o bom senso induziu o capitão- I 
geral Moura a desobedecer à ordem de 1746 com J 
‘ difi- 2.referência à uniformidade das fachadas das edifi-
Jidade na selva remota”.45 A sua criação foi o 
produto da evolução de um código de planeja­
mento urbano cada vez mais complexo, e repre­
sentou a perseverança de um administrador 
competente com visão suficiente para ver o seu 
intento concretizado. A nova vila mato-gros­
sense constituiu um triunfo para os portugueses, 
que se propunham a instaurar a ordem e o pro­
gresso, especialmente em relação a Cuiabá, mais 
antiga e não planificada.
A última das comunidades do Centro e do
cações. Como o capitão-geral explicou, era im-, Çj Oeste patrocinadas oficialmente nas décadas de 
portante que nenhum prédio ultrapassasse o ali- <$. 1730 e 1740 foi Mariana, ou Ribeirão do Carmo, 
nhamento da rua. Porém, quanto à simetria dasA^ Mariana foi um dos primeiros arraiais surgidos
fachadas, Moura achou que isso constituiría um 
gravame a mais para os pobres, que, assim, se­
riam obrigados a construir frontispícios tão sun­
tuosos quanto os das casas dos ricos; ora, isso ini­
biría a migração voluntária de muitos colonos 
para a nova comunidade.41 Porém, para ele pró­
prio, uma moradia luxuosa era imprescindível, 
e tanto a residência do governador como os alo­
jamentos dos soldados foram construídos con­
forme os desenhos trazidos do Rio de Janeiro. 
A residência foi custeada pelo próprio Moura42, 
pois os fundos reais, no dizer do historiador mato- 
grosense Virgílio Correa Filho, estavam sofrendo 
de “anemia incurável”43; portanto, o estilo monu­
mental da residência provavelmente foi um re­
na zona aurífera de Minas Gerais. Situava-se 
cerca de 12 milhas (19,312km) a nordeste de 
Vila Rica e seguiu o mesmo tipo de desenvolvi­
mento aleatório desta. A comunidade era sulca­
da de trilhas, e as casas, na sua maior parte, eram 
construídas sem nenhuma noção corrente de 
ordem. O próprio local escolhido para o primi­
tivo acampamento de mineração foi infeliz: em 
1742 o rio ao longo do qual Carmo havia sido 
construída transbordou, inundando e arruinan­
do a maior parte das edificações da então vila.
Contudo, a destruição da povoação redun­
dou em proveito da Coroa, e os administradores 
prontamente aproveitaram a catástrofe para re­
querer a reconstrução da comunidade num terre-
36
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS N O CE N TR O t NO OESTE
no próximo, mas mais elevado. As autoridades 
da Câmara de Mariana argumentaram que se de­
veria dar prioridade à reconstrução das casas 
destruídas na enchente47, porém Lisboa pres­
sionou no sentido da criação de uma vila inteira­
mente nova. Surgia a oportunidade não só para 
corrigir os equívocos urbanísticos das vilas 
mineiras como para - e isto era o mais importan­
te - construir uma bela sede para a recém-criada 
diocese de Minas Gerais. Mariana seria elevada 
à categoria de cidade (para grande consternação
da sua rival vizinha, Vila Rica) e recebería uma 
aparência condizente com a sua nova função.
Ordenou-se proceder à construção da nova 
cidade “com toda a brevidade”, enquanto os 
fundadores da cidade foram exortados a apoiar 
uma planta básica previamente traçada, que pre­
via o crescimento futuro da cidade45. Por sorte 
dos marianenses, José Fernandes Pinto Aipoim 
(1695-1765), coordenador da Aula de Fortifica­
ção e Artilharia no Rio (uma espécie de esco­
la de engenharia informal; ver o Capítulo V),
Fig. 7 - Planta de Mariana, em Minas Gerais, depois da reconstrução de 1746-1747, sem data
3 7
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N TR O E NO O E ST E
estava trabalhando num projeto em Vila Pdca49 
e póde ser despachado para Mariana a fim de 
supervisionar a construção da cidade. O local 
escolhido para a nova urbe situava-se do outro 
lado do rio, em oposição direta ao núcleo origi­
nal. Nessa área seria construída a cadeia, a casa 
da câmara, novas habitações e, alfim, o palácio 
diocesano. As autoridades de Mariana receberam 
instruções sobre o modelo da nova cidade em 
1746. Seguindo a mesma política urbana adotada 
em outras localidades do interior, os administra­
dores portugueses ordenaram a construção de 
uma aglomeração urbana retilínea, não impor­
tando os prejuízos que pudessem resultar para 
as edificações mais antigas da área. Dever-se-ia 
envidar todos os esforços para manter as ruas lar­
gas e ladeadas por casas de desenho semelhante. 
Os pomares foram relegados para os fundos das 
casas, fazendo-se com que o lado da rua for­
masse uma fachada contínua sólida e uniforme.5® 
Hoje em dia, todos os que visitam a cidade po­
dem observar que seus fundadores cumpriram 
essas ordens: com apenas leves diferenças, as 
casas coloniais de dois pavimentos (sobrados) 
contíguas mais parecem um único prédio enor­
me que casas distintas. Houve alguns somenos 
embaraços ao programa de construção: em 1748 
um mineiro reivindicou direitos sobre o novo 
local escolhido para a cidade51, inutilmente; e 
muitos anos depois da urbanização, em 1795, 
os edis da Câmara local ordenaram a demolição 
de uma casa que impedia “a regularidade e o 
embelezamento da praça” .52 Não obstante, a 
imagem geral dessa cidade setecentista (Figura 
7)53 evidencia uniformidade e a obediência ao 
princípio de ordem e regularidade.
Como ficou demonstrado acima, em mea­
dos do século XVIII os portugueses haviam 
criado, com êxito, várias novas comunidades no 
Centro-Oeste em conformidade com os ideais 
de ordem estabelecidos. J2£t5a ajuda de enge­
nheiros militares, que cdmpartüfetvam do entu­
siasmo do governo pelá re^Uátldaae'ç;preeisão,os portugueses conseguiram projetar uma ima­
gem de solidez e autoridade-em regiões que até 
então permaneceram fora da supervisão real. As
novas vilas não tinham apenas um significado 
simbólico: em conjunto, elas deveríam ser enca­
radas como prova tangível do controle crescente 
da Coroa sobre a hinterlândia. Nenhuma dessas 
comunidades era singular; cada uma delas era 
uma parte de uma sucessão lógica no desenvol­
vimento progressivo de um código de constru­
ção de vilas padronizado. Nos 30 anos que se 
seguiríam, esse código seria racionalizado, aper­
feiçoado e finalmente apregoado como o meca­
nismo correto para “civilizar” o Brasil, demons­
trando irrefragavelmente a impaciência da Coroa 
com o desenvolvimento aleatório.
(1) Sylvio de Vasconcellos, Arquitetura no Brasil, 
Pintura Mineira e Outros Temas (Edições Escola 
de Arquitetura da Universidade de Minas 
Gerais, Belo Horizonte, 1959), p. 4.
(2) Cassiano Ricardo, Marcbapara o Oeste: A Influên- 
eia da Bandeira na Fomafão Social e Política do Brasil 
(José Olympio, Rio de janeiro, 4* edição, 1970), 
vol II, p 505.
(3) “Planta da Aldeia de Sumidouro”, 1732. AHU- 
Iria, na 277.
(4) “Parecer do Conselho Ultramarino sobre... as 
minas...”, Lisboa, 17 de julho de 1709. AHU, 
Códice 232, fl. 259.
(5) Ibidem. Charles Boxer, op. cit., p. 147, declara 
que já em 1693 a Coroa tentou transferir a res­
ponsabilidade da construção de vilas para as 
autoridades do governo brasileiro (ver o capí­
tulo final, mais adiante). Estas, principalmen- 
te os governadores-gerais, foram instruídas a 
incentivar “a criação de novas comunidades no 
interior, contanto que os habitantes locais 
arcassem com as despesas de construção da 
câmara, da cadeia e dos prédios municipais”. 
Embora eu não tenha conseguido encontrar 
essa legislação, penso que ela quadra muito 
exatamente aos objetivos do governo nos 
anosl690. Não obstante, é significativo que 
mais tarde, no século XVIII, o governo real 
assumiu os ônus da criação de novas comu­
nidades, com todos os prédios públicos, a fim 
de assegurar a ocupação definitiva em regiões 
remotas.
3 8
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO C E N T R O E N O O E S T E
(6) Correspondência do Rei ao Governador da 
Capitania do Rio de janeiro, de Lisboa, 14 de 
agosto de 1711. AHÜ, Códice 235.
(7) Carta ao Governador do Rio de Janeiro, de 
Lisboa, 16 de agosto de 1715. AHU, Códice 
235.
(8) A lista a seguir é baseada num. cotejo de 
relações de vilas estabelecidas por Reis Filho, 
op. cit., Mário Leite, op. cit., e Aroldo Azevedo, 
Vilas e Cidades. 1711, Sabará; 1711, Nossa Se­
nhora do Carmo, também chamada Ribeirão 
do Carmo, mais tarde Cidade de Mariana; 1711, 
Vila Rica, mais tarde Ouro Preto; 1712, São 
João dei Rei; 1714, Vila do Príncipe, Serra do 
Frio; 1714, Vila Nova da Rainha do Caeté; 
1715, Vila Nova do Infante, Pitangui; e 1718, 
São José dei Rei, depois Tiradentes.
(9) Correspondência do Rei ao Governador dè 
Minas Gerais, Lisboa, 3 de janeiro de 1721. 
AHU, Códice 226, fls. 68-69. Essa deter­
minação reedita a legislação de 1693, citada 
em Charles Boxer op cit., p. 147.
(10) “Atas da Câmara de Vila Ricn”,ABN RJ (1927), 
p. 319. Essa ordem é citada também em Sylvio 
de Vasconcellos, Vila Rica: Formação e Desenvo­
lvimento - Residências (Instituto Nacional do 
Livro, Rio de Janeiro, 1956), pp. 103-105.
(11) “Para que desta forma se vao endireitando as 
ruas.. tal como citado em Sylvio de Vascon­
cellos, op. cit., p. 133.
(12) Sylvio de Vasconcellos, op. cit., p. 137.
(13) A expedição de Bartolomeu Bueno da Silva 
chegou à zona do rio Vermelho por volta de 
1682 e fez uma descoberta preliminar de ouro. 
Cf. a análise em Ernâni Silva Bruno, Grande 
Oeste, vol. VI, op. cit., p. 22.
(14) Ibidem, pp. 28-29.
(15) Virgílio Correa Filho, História de Mato Grosso 
(Instituto Nacional do Livro, Rio de Janeiro,
1969) , p. 207.
(16) Essa planta de Cuiabá encontra-se numa cole­
ção de reproduções fotográficas de mapas da 
Casa da Insua conservada no Agrupamento de 
Cartografia Antiga do Ministério de Ultramar, 
MU-CI, n“ 27,1777. Como prova de que essa 
região não fora mapeada, David M. Davidson, 
Rivers and Empire: The Madeira Route and the 
Incorporation of the Brazilian Far West, 1737-1808 
(University Microfilms, Ann Arbor, Michigan,
1970) , p. 30, relata que em 1737 os espanhóis
ainda estavam em grande dificuldade até 
mesmo para localizar Cuiabá num mapa.
(17) Ver a resposta da Câmara de Cuiabá à Coroa, 
datada de 4 de setembro de 1738, explicando 
as dificuldades de reter a população onde não 
existia ouro. AHU, Mato Grosso, Caixa 2.
(18) AHU, Códice 241, fl. 101.
(19) Para obter informações sobre Bartolomeu 
Bueno da Silva, ver Charles Boxer, op. cit., pp. 
267-268, e Caio Prado Júnior, op. cit., p. 289. O 
presente texto não tem relação direta com as 
lutas entre os paulistas e os emboabas (portu­
gueses e brasileiros procedentes de outras re­
giões que também estavam à cata de ouro e 
pedras preciosas); todavia, a desordem resultan­
te das constantes contendas em São Paulo de 
fato apressou os programas do governo para o 
interior. Ver David M. Davidson, “How the 
Brazilian West Was Won: Freelance and State 
on the Mato Grosso Frontier, 1737-1752”, in 
Dauril Alden (editor), Colonial Roots of Modem 
Brazil (University of California Press, Berkeley, 
1973), pp. 61-106.
(20) Ernâni Silva Bruno, op. cit., p. 40.
(21) Carta Régia ao Conde de Sarzedas, de 11 de 
fevereiro de 1736. AHU, Códice 236, fls. 163, 
163v e 164. Uma cópia dessa ordem encontra- 
se no AHU, Goiás, Caixa 2.
(22) Esse excerto é citado no Parecer do Conselho 
Ultramarino de 25 de janeiro de 1736. AHU, 
Códice 239, fl. 66.
(23) As ordens recebidas pelo superintendente da 
Sylva são idênticas às da Carta Régia enviada 
ao Conde de Sarzedas.
(24) Sarzedas morreu ali, segundo a narrativa de 
José de Barbosa e Sá, “Memória sobre o 
descobrimento, governo e população e cousas 
mais notáveis da Capitania de Goyas”. BNRJ, 
n2 12-2-13. Essa “Memória” foi reeditada na 
RIHGB, vol. XII (1849).
(25) Ibidem, fl. 14.
(26) Essa questão é mencionada na Provisão de 31 
de abnl de 1739, contida no Documento n2 1, 
BNRJ, na 13-4-10: “Descripção da Capitania 
de Goyás e tudo o que neÜa he notável te o 
anno de 1783, começa pella Villa Boa”.
(27) Relatório da Câmara de Villa Boa de 19 de 
dezembro de 1739. AHI, Goiás, Caixa 1.
(28) Ver o estudo do.caso de Icó no Capítulo III.
(29) BNRJ, n“ 12-2-13. Barbosa refere que a igreja,
3 9
A EXPANSÃO DA AUTORIDADE: NOVAS VILAS NO CE N TR O E NO O E S T E
a casa da câmara, a cadeia e outros prédios 
públicos foram construídos naquele tempo.
(30) Instruções para reaiinhar Vila Boa emitidas pelo 
governador Luís da Cunha Menezes. BNRJ, n° 
13-4-10, Documento n2 4. Essa ordem é 
apreciada mais detalhadamente mais adiante.
(31) “Planta de Viia Boa, Capital da Capitania Gerai 
de Goyás, levantada no ano de 1 7 6 2 . . AHU- 
Iria, n“ 85. A plana da Figura 5B faz parte do 
MU-CI e recebeu o n2 31. D aa de cerca de 
1782.
(32) David M. Davidson, op. cit, p. 55.
(33) Resposta da consulta ao Conselho Ultramarino 
de l2 de março de 1741. AHU, Códice 259, 
pp. 83-85.
(34) A planta completa estava incorporada à 
Provisão Régia de 5 de agosto de 1746, “pela 
qual foram concedidos diversos privilégios, e 
prerogativas...”
(35) ANRJ, Caixa 748, Recomendações da Coroa a 
Rolim de Moura, de 19 de janeiro de 1749. 
Esse documento também é ciado em Correa 
Filho, op. cit., pp. 319-320.
(36) Tal como ciado em Correa Filho, op. cit., p 322.
(37) David M. Davidson, op. cit., p. 63.
(38) Alfredo-Maria Adriano d’Escragnolle, Viscon­
de de Taunay, A Cidade de Matto-Grosso (Antiga 
Villa Bella): 0 Rio Guaporé e a Sua Mais Ulustre 
Victima (Typographia Universal de Laeminert, 
Rio de Janeiro, 1891), p. 55. Em vez de obrigar 
casais europeus a se fixarem na nova localidade, 
que ele pessoalmente preferia, Rolim de Moura 
recomendou que a população inicial fosse 
constituída de voluntários da própria área,que 
já esavam afeitos às perspectivas de doença e 
isolamento a que estariam sujeitos na nova 
comunidade. Ver relatório de Moura à Coroa, 
de l2 de outubro de 1754. AHU, Códice 239.
(39) “Annal de Villa Bela des o primeiro desco­
brimento deste certão do Matto Grosso, no 
anno 1734”. Daado de 1754 e encontrado na 
BNL-AP, 629, fls.29-39v.
(40) Relatório do andamento das obras de Rolim 
de Moua à Coroa, de l2 de outubro de 1754, 
citado em AHU, Códice 239, fl. 188.
(41) Ibidem.
(42) Essa particularidade é mencionada na carta de 
Moura à Coroa de 29 de junho de 1756, Vila 
Bela, AHI, Lata 266, Maço 7, Pasa 10.
(43) Virgílio Correa Filho, op. cit., p. 330.
(44) Figura 6A - Novo Projecto para a continuação 
do plano primitivo..., 1773, MU-CI, n2 14. 
Figura 6B - Plano da Villa Bella..., 1780, 
MIGE, ns 1177.
(45) Ver o Capítulo IX.
(46) David M) Davidson, op. cit, p. 99. Esse autor 
cita (noa de rodapé n2 68, p. 283) uma carta 
do governador de Mato Grosso, Luís de Albu­
querque, a M. Melo e Castro, Vila Bela, 29 de 
dezembro de 1779, a qual indica que estava 
sendo dada uma atenção ininterrupra ao desen­
volvimento de Vila Bela. Nessa cara, o gover­
nador escreveu que a vila havia sido ampliada 
e compreendia cinco ruas principais e cinco 
ruas transversais. Para conhecer outra descrição 
de Vila Bela e sua fundação, ver Henrique de 
Campos Ferreira Lima, “Vila Bela da Santíssima 
Trindade de Mato Grosso: o seu fundador e a 
sua fundação”, Congresso do Mundo Português, vol. 
X (1940), pp. 291-301.
(47) APM, Atas da Câmara de Mariana, 17 de 
outubro de 1744. Livro 15 (1739-1746).
(48) Recomendação do Conselho Ultramarino às 
autoridades da Câmara de Mariana, Lisboa, 25 
de setembro de 1745. AHU, Códice 241, fls. 
296v-297.
(49) APM, Códice 81 (Ordens Régias 1743-1744), 
Cara 9. Ver também a exposição dos currículos 
de engenharia no Capítulo V.
(50) Instruções do Conselho Ultramarino às autori­
dades da Câmara de Mariana, Lisboa, 2 de maio 
de 1746. AHU, Códice 241, fls. 301-301v.
(51) Esse pleito, devidamente registrado pela 
Câmara de Mariana e comunicado a Lisboa, é 
mencionado numa carta do Conselho 
Ultramarino a Gomes Freire de Andrade datada 
de Lisboa, 22 de julho de 1748. AHU, Códice 
241, fl. 325.
(52) Aas da Câmara de Mariana, 13 de julho de 
1795.
(53) Plana da cidade de Mariana, sem data, século 
XVIII. MIGE, n2 1093.
4 0
Capítulo V
Um repertório dos princípios de construção:
São Paulo e o Sul
Uma das melhores indicações da reação en­
tusiástica que a nova política urbana suscitou 
entre os administradores portugueses foi a sua 
rápida propagação por todas as regiões da 
colônia. N o Suj, os primeiros passos em direção 
à aplicação de planos diretores urbanos foram 
ÃA-dados com atlnèrici3 á programji's de renovação 
vÇ.'de centros urbanos já existentesJ-Nos anosT730 
e até* meados~3cT século |a política portuguesa 
foi redirecionada pTrá" a'Tormaçãq de__novaâ 
comunidadeTTaErirdepreservaras zonas sulinas 
das incursões espánKõIãs. F57~rièssh~Tón]untura 
que a Coroa financiou um extenso programa de 
imigração ériropea . contrauiido engenheiros 
recém -formadospara projetar e administrar as 
colônias subsidiadas, ) Embora uma apreciação 
detalhada do planejamento dos centros urbanos 
maiores fuja um pouco ao tema em pauta, na­
quela mesma époaqfbram desenvolvido^ certos 
conceitos básicos nesse tocante.
Nas cidades mais antigas, os portugueses 
estavam interessados principalmente em estabe- 
-f - lecer a credibilidade docónceito de domínio puUli- 
co e a aceitação da soberania da C orõasobre zo­
nas atéentãodespovoadas. A situaçãoérapartí 
culafmente precária no Rio de Janeiro, onde a 
destruição ocasionada pelo sjque da cidade pelos 
franceses em )E7Í)Lhavia obrigàdo muitos habi­
tantes a procóraièfn notes domicílios. Ademais, 
a questão da disponibilidade de áreas tornou-se 
crítica depois de 1713, quando o engenheiro 
João Massé começou a executar a sua missão de 
construir um novo sistema de fortificações em 
torno da metrópole. A construção de uma mu­
ralha de contenção no único lado da cidade con­
tíguo a terra plana ainda não habitada isolou a 
área principal onde o excesso de população se 
havia estabelecido. Para piorar a situação, em 
1725 a Coroa proibiu a construção de mais casas 
na beira-mar.1 Com o acesso às duas áreas de 
expansão tradicionalmente utilizadas negado, os 
cidadãos apelaram para a Câmara Municipal, que 
então apresentou o caso à Coroa.2 Lisboa apro­
veitou a oportunidade para reforçar as prer­
rogativas reais em questões de terras, determi­
nando que a orla marítima não podia receber 
mais habitantes, pois “o mar e a praia eram de 
todos”3, porém revogando a proibição de cons­
truir nas planícies adjacentes à cidade.4
Uma situação semelhante havia surgido em 
São Paulo. Com a partida de tantos paulistas 
em demanda dos campos auríferos, o centro da 
urbe (ambiciosamente promovida à categoria de 
cidade em 1711), “havia perdido a noção de espí­
rito coletivo e [havia sofrido] um abandono qua­
se completo da vida municipal”.5 Nessas cir­
cunstâncias, não é nada surpreendente que du­
rante esse período o rossio, um grande terreno 
municipal reservado para o uso da comunidade 
e parte do patrimônio da cidade (e, por extensão, 
da Coroa), tenha sido parcelado e concedido a 
particulares. Essa prática estava tão profúnda- 
mente arraigada que até mesmo o capitão-mor 
da cidade, Pedro Taques de Almeida, tinha tira­
do partido dela e mostrou-se indignado quando 
os seus direitos a essa terra foram contestados.
Em relação tanto a São Paulo como ao Rio 
de Janeiro, o interesse imediato da Coroa tinha
41
U m r e p e r t ó r i o d o s p r in c íp i o s d e c o n s t r u ç ã o : SA o P a u l o e o S u l
sido demonstrar aue a sua autoridade em deci­
sões sobre terras tinha maior peso que quaisquer 
costumes locais. Em alguns doscentros urbanos 
menos importantes do Sul, as primeiras décadas 
do século também foram marcadas por progra­
mas orientados para a redefinição dos direitos 
sobre a terra e seu uso. Em tais centros, como 
em projetos semelhantes para o interior, a rea­
valiação do desenvolvimento urbarlb potencial 
foi confiada às autoridades da Coroa, e não às 
câmaras locais incapazes. O levantamento ad­
ministrado em Curitiba e Paranaguá, ambas per­
tencentes à Comarca de Paranaguá, ilustra a ma­
neira como o governo real achava que podia in­
tervir no desenvolvimento até então aleatório 
dessas antigas comunidades.
Na década de 1720, Raphael Pires Pardi- 
nho, ouvidor-geral da Capitania de São Paulo, 
viajou para o sul, até essas “penúltimas aglo­
merações urbanas do Estado”, com a finalidade 
de “introduzir melhoramentos e reformar essas 
vilas como se elas fossem recriadas do começo”.7 
No conjunto de ordens de remodelação emitido 
posteriormente para a cidade de Paranagua, pro- 
curõtTsê-fazer exatamente isso; dai cnTóiante 
as ruas seriam traçadas a cordel, e as casas não 
seriam máls construídas no mato, mas concen- 
trar-se-iam na própria cidade, pegadas mesmo 
umas às outras. O raciocínio subjacente a essa 
diretriz era que as casas dispersas pelo mato esta­
riam mais sujeitas a ataques (supostamente por 
índios) e também prejudicariam a homogeneida­
de da configuração da cidade.8
Como última providência, Pardinho man­
dou demolir a proliferação urbana em frente da 
Igreja Matriz a fim de criar um bulevar espaçoso 
que ia ter à igreja. Essa avenida para procissões 
deveria medir pelo menos 40 palmos (8,8m) de lar­
gura, para que a própria igreja se tornasse “mais 
decente e mais visível”9, um belo toque de monu- 
mentalismo barroco no interior brasileiro. Quan­
to a Curitiba, Pardinho, de forma semelhante,,' 
estatuiu que quem quisesse construir casas ria • 
cidade deveria primeiramente solicitar o consen­
timento da Câmara, que então designaria um ter­
reno para construção previamente alinhado.10
Se administradores sem nenhuma instrução 
em arquitetura (como Pardinho) podiam aplicar 
o novo estilo urbanocom tanto entusiasmo, era 
evidente que um engenheiro qualificado egresso 
de uma academia podería supervisionar ã urba­
nização com muito maior eficiência. Esses enge­
nheiros militares, com sua formação superior e 
seus pendores pela matemática, encaixar-se-iam 
bem nos planos de Portugal para o Sul do Brasil. 
Aiém disso, a precisão e organização da menta­
lidade militar combinavam bem com o modelo 
de ordem que a Coroa estava procurando proje­
tar no sertão.
No decurso dos anos 1730, a ciência da en­
genharia tinha se tornado quase uma paixão na 
Europa; o engenheiro militar mais famoso da 
época, Azevedo Fortes, foi contratado pela famí­
lia real portuguesa para instruir ninguém menos 
que o príncipe Dom Antônio nos rudimentos 
da sua profissão. Uma nova “classe social” , no 
dizer do historiador Jaime Cortesão, havia surgi­
do.” Essa nova incorporação na escala social 
acarretava conseqüências extraordinárias: dan­
tes, a construção e o projeto eram feitos ao sabor 
das contingências e da espontaneidade; agora 
havia uma elite com preparo científico capaz de 
abrir caminho para um desenvolvimento mais 
metódico da colônia.
As origens da engenharia militar no Brasil 
remontam ao século XVI. Por exemplo, quando 
o primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de 
Souza, desembarcou na baía de Todos os Santos 
em 1549 com uma comitiva de colonos, funcio­
nários e jesuítas chefiados por Manuel da Nóbre- 
ga, veio acompanhado por um arquiteto desta­
cado pela corte. Porém o fato é que, até o come­
ço do século XVIII, as oportunidades de brasi­
leiros natos se instruírem nessa ciência eram 
I extremamente limitadas. Os candidatos qua­
lificados eram mandados a Portugal, onde 
aprendiam os fundamentos da arte da fortifi­
cação.12 Esse ensino compreendia uma instru­
ção elementar em projeto e construção militar. 
Os instrutores portugueses utilizavam textos 
^clássicos que iniciavam o estudante na prática 
romana da castrametação, a metodologia da pla-
4 2
Um r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç ã o : S ã o P a u l o e o S u l
nificação de acampamentos militares. Em mea­
dos do século XVII, um novo manual de castra- 
metaçâo, escrito por um engenheiro português, 
foi adotado nas escolas de engenharia. Essa obra 
dava um destaque especial à retilineidade, sime­
tria e senso de proporção como pontos princi­
pais da construção militar.13
Na década de 1690, pela primeira vez, esse 
tipo de instrução tornou-se acessível no Brasil.14 
Um decreto real de 1705 exprimiu a vontade de 
que os engenheiros militares residentes no Brasil 
ensinassem a pessoas interessadas a arte da forti­
ficação.15 Foi assim que, no início do século 
XVIII, a instrução em arquitetura militar foi 
possível no Brasil, embora sem regularidade. Na 
Bahia, uma aula de engenharia militar funcionou 
descontinuamente durante todo o século, mas 
no Rio de Janeiro um programa de instrução 
formal não foi iniciado senão em 1735.
Durante um certo período, a Aula de Forti­
ficação e Artilharia do Rio de Janeiro logrou um 
grande êxito, principalmente enquanto foi dirigi­
da pelo brilhante José Fernandes Pinto Alpoim 
(cuja atuação na reconstrução de Mariana foi 
vista no capítulo anterior). Os alunos de Alpoim 
recebiam lições de geometria, trigonometria, de 
medição de alturas e distâncias e de levanta­
mento topográfico.16 Além disso, esses futuros 
engenheiros militares aprendiam a calcular 
ângulos de tiro de artilharia e o uso do cordel 
(o popular cabinho.dos pedreiros, utilizado para 
traçar retas).17 Também existem provas que de­
monstram o interesse da Coroa em que os estu­
dantes brasileiros fossem instruídos nas técnicas 
européias mais modernas. Em 1767, por exem­
plo, a Coroa aconselhou o corpo docente da Aula 
do Rio a iniciar a instrução na metodologia de 
Bernard Forest de Belidor, um especialista mili­
tar francês que escreveu sobre as técnicas da 
arquitetura militar.18 A paixão pelo desenho 
francês era particularmente visível na atenção 
dada aos projetos de fortificação do marechal 
francês Sébastien le Prestre de Vauban.19 Seus 
modelos ainda eram ativamente empregados no 
Brasil setecentista, embora tivessem sido formu­
lados na França um século antes.
Como se vê, nos anos 1~30 os diplomados 
das Aulas de engenharia militar brasileiras esta­
vam bem providos de conhecimentos, utilizáveis 
não apenas na construção de fortificações, mas 
igualmente preciosos para o planejamento de 
comunidades que constituíam postos avançados 
da Coroa nas regiões extremas do Brasil. Como 
esses engenheiros estavam entre as poucas pes- 
jsoas no Brasil que tinham um conhecimento 
profundo de matemática, muitas vezes eles eram . ,
' consultados em "projetos relativos à criação dè 7 ^ 
novas comunidades. "Ü seu conhecimento de 
planificaçâo espacial e topografia, aliado à sua 
experiênciáem agriménsúra, dâvãThês uma van­
tagem incontestável sobre construtores de cida­
des empíricos. Assim seridcçera lógico que as 
suas habilidades fossem empregadas não apenas 
em arquitetura militar, mas na construção civil 
também.
Um dos mais famosos diplomados da Aula 
de Fortificação em Portugal talvez tenha sido 
José da Silva Pais, que, além de projetista tecnica­
mente perfeito, era também um administrador 
talentoso. Seria ele que a Coroa finalmente en­
carregaria de iniciar um programa de povoa­
mento da região dos pampas sulinos.
O Sul do Brasil começou a motivar a preo­
cupação da Coroa depois da fundação do núcleo 
de Colônia do Sacramento em 1680 (defronte a 
Buenos Aires, dominada pelos espanhóis, na mar­
gem oposta do rio da Prata). Embora as escara­
muças entre as forças portuguesas e as espanho­
las na Banda Oriental tivessem cessado depois 
da assinatura de um tratado de paz em 1715, ne­
nhum esforço sério tinha sido feito para decidir 
a qual das duas potências, Portugal ou Espanha, 
a região platina cabia por direito. A posição 
portuguesa era frágil; entre São Paulo e Colônia 
do Sacramento, a única barreira que os portu­
gueses possuíam contra uma eventual agressão 
espanhola era Laguna, uma comunidade insigni­
ficante. Para reforçar a sua posição, a Coroa 
incentivou a criação de outra comunidade na en­
trada da vastíssima lagoa dos Patos. Essa povoa­
ção não só resguardaria o interior de uma possí­
vel penetração dos espanhóis pelo litoral como
4 3
t o <*.»’
U m r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç ã o : S à o P a u l o e o S u l
/T
podería funciqnar como ponto de partida para 
o desenvolt^fitento da lucrativa atividade da 
criação de gado.2;
A data exata da fundação de Rio Grande 
(na ponta sul da lagoa dos Patos, no seu sangra- 
douro, hoje um dos maiores portos do Brasil) é 
incerta, mas a maioria dos historiadores concor­
dam no ano de 1737, ou seja, uns dois anos de­
pois de um novo ataque espanhol à região.21 Em 
resposta a esse ataque, os portugueses apres­
saram-se em enviar uma expedição militar à en­
trada da lagoa para assegurar um ponto de apoio 
mínim o na área. C onquanto alguns aven­
tureiros de Laguna já tivessem demarcado terras 
para si na proximidade da lagoa, não era fácil 
atrair um grande número de colonos para uma 
área praticamente indefesa.22
A Coroa transferiu a responsabilidade pela 
nova povoação para José da Silva Pais, que 
imediatamente se pôs a trabalhar, instalando 
grupos de soldados na área e erigindo três obras 
de defesa para proteger a nova localidade.23 
Pouco depois ele mandou seu representante, 
João de Távora, a Santos a fim de recrutar famí­
lias de índios e operários para substituírem 
os soldados nas obras de construção, e também 
para aumentarem a população do povoado.24 
Além disso, diversas famílias que haviam aban­
donado Colônia do Sacramento foram ter a Rio 
Grande.25 Reconhecendo que esse contingen­
te certamente não erlTsúficíente para a forma­
ção de uma nova comunidade. Pais fez uma reco­
mendação notavelmente perspicaz ao gover­
nador de São Paulo, sugerindo que novos co­
lonos fossematraídos para a nova localidade 
por um programa de-petesização subsidiada. 
N o quadro dessçpgtígrama, a .cada novo vo­
luntário se promgteriam provisões suficien­
tes para ele atravessar o período difícil de adap­
tação, ou até a comunidade se tornar auto-sus­
tentável. O governador colaborou com Pais, e 
cada unidade familiar recebeu depois quanti­
dades de feijão e lentilhas suficientes para sus- 
tentá-la até a primeira colheita e 10 a 12 bovi­
nos e terra de pastio para iniciar a criação de 
gado.24
O plano de Pais obteve um sucesso retum­
bante. Em junho de 1738 ele pôde comunicar 
ao governador Gomes Freire de Andrade que, 
a cada visita que fazia a Rio Grande, achava-a 
“mais populosa, e maior, e mais próspera” .27 
Menos de uma década depois, os portugueses 
adotaram o programa de Pais de colonização 
subsidiada para um projeto de colonização com 
imigrantes açorianos com assistência total, 
embora em 1676 a Coroa já houvesse tentado 
instituir uma política de financiamento real do 
transporte de colonos dos Açores e outras ilhas 
do Atlântico para o Novo Mundo.2*
O Conselho Ultramarino considerava esses 
imigrantes - cujas condições de subsistência nas 
suas ilhas de origem eram dificultosas, por causa 
do excesso de população” - como colonos exce­
lentes para o Sul do BrasiL Achava-se que os 
imigrantes ilhéus eram um tipo de colono mais 
^■estável que o bandeirante. O conceito que se 
y tinha do imigrante do arquipélago dos Açores e 
üida ilha da Madeira era que ele era por natureza 
">um agricultor, satisfeito em permanecer na terra; 
s diversamente do seu contemporâneo bandeiran- 
te, o açoriano, com toda probabilidade, não se 
Kl deixaria seduzir pelas perspectivas de enriqueci- 
mento rápido na mineração no Oeste.
5 j No decorrer dos anos 1740, a Coroa estava 
firm^mèntêTésõIvlda'adbmentãrlim programa 
delr^gràçãiTTrraciça párTa região Sul do BrasiL 
Si Os colonos açorianos que deveríam ser reloca- 
lizados na zona do estuário do rio da Prata não 
cij só iam assegurar um tipo de ocupação mais se- 
dentária como iam desem penhar um papel 
importante no equilíbrio geopolítico da região 
platina. O ministro Alexandre de Gusmão (que 
era brasileiro), de tanto insistir, acabou conven­
cendo a Coroa de que o único fator eficaz de 
contenção do poder espanhol no Sul seria a 
criação de um grande número de vilas. O estabe­
lecimento da povoação de Pais na lagoa dos Pa­
tos constituía apenas o primeiro passo para asse­
gurar a área; toda a faixa de terra entre Rio Gran­
de e Santa Catarina tinha de ser povoada com 
colonos permanentes para contrabalançar a in­
fluência espanhola. Assim sendo, o brilhante
4 4
U m r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç .ã o : S ã o P a u l o e o S u l
plano de Gusmão não só “ampliaria o Bírísil e 
complementaria a sua economia com gado) do 
interior sulino”, mas também, concomiiante- 
mente, “fecharia e defendería essa entrada [para 
o Brasil] com uma muralha humana”.30 De um 
só golpe, seriam eliminados os problemas das 
intromissões espanholas, do povoamento e da 
distribuição de terras devolutas, assegurando- 
se uma população permanente e estabelecendo- 
se a autoridade real. Em suma, a ocupação efe­
tiva seria a chave para a dominação e o controle 
legal. Quando Gusmão se reuniu com diploma­
tas espanhóis em 1750, estava em condições de 
argumentar em favor da reivindicação por Por­
tugal da região do estuário do rio da Prata com 
base no utipossidetis e na ocupação efetiva reali­
zada por aqueles mesmos colonos açorianos.
Gusmão aferrou-se ardorosamente ao pla­
no de Pais de dez anos atrás como base do pro­
grama de imigração de açorianos. Cada colono 
recebería o mínimo necessário para um lar, mais 
animais e mantimentos, a fim de que o período 
de adaptação ao novo domicílio pudesse ser su­
portado mais facilmente. Além disso, as Instru­
ções (Regimento) de 1747, que definiam o pro­
grama para cada nova comunidade criada pa­
ra famílias açorianas, insistiam num traçado or­
denado das ruas e elementos arquitetônicos. As 
instruções sobre o projeto das cidades eram de­
talhadas com maior precisão nessa legislação 
do que em qualquer lei de planificação de vilas 
anterior promulgada para a hinterlândia brasi­
leira.
O Regimento de 1747 era um modelo de 
uniformidade e ordem. O planificador urbano 
era instruído a traçar ruas de não menos de 30 
pés (1 pé = 30,48cm; 30 pés = 9,144m) de largura 
e a demarcar uma praça quadrada de 500 pal­
mos (ltOm) de lado (aproximadamente o com­
primento de um campo de futebol americano). 
Isso era desenhar em grande escala; evidente­
mente o objetivo era usar ao máximo o espaço 
disponível e obter uma perspectiva grandiosa. 
Em coerência com essa política, a instrução refe­
rente às casas dizia que elas deveríam ser cons­
truídas “em boa ordem, deixando-se entre elas
e atrás delas um espaço demarcado suficiente pa­
ra o plantio de pomares-hortas”. Antes da che­
gada dos imigrantes, era preciso construir duas 
ou três dessas casas para servirem de abrigos 
temporários até o resto da cidade ser edificado.
Em bora a disponibilidade de terreno 
certamente não fosse problema no Sul subpo- 
voado, a sensatez desse arranjo é questionável, 
porque o largo espaçamento das edificações com 
certeza conferia um aspecto espalhado à comu­
nidade. É-se tentado a supor que a motivação 
disso tenha sido a aversão dos portugueses pelo 
apinhamento, considerando-se que já eram ne­
cessárias remodelações urbanas dispendiosas em 
centros urbanos tradicionais (como o Rio de Ja­
neiro). Porém o Regimento de 1747 não faz ne­
nhuma menção a esse fato.
Por conseguinte, não só o plano de Pais 
foi reutilizado e ampliado como o próprio Pais, 
agora na qualidade de governador de Santa 
Catarina, mi nomeado encarregado das novas 
comunidades. Foi-lhe d ad aT incumbência de 
supervisionar o levantamento topográfico das 
áreas, a instalação dõs colonos e o cumprimento 
das promessas aos imigrantes, que compreen­
diam a distribuição de peixe tresco aos volun- 
tários uma vez por semana e a doação de duas 
vãcãiTe uma õvelha a cada casal.31 Contudo, 
apesar do seu dom de organização e da sua 
disciplina militar, Pais teve grande dificuldade 
em assentar as primeiras famílias. Dos cerca de 
4 mil casais prometidos, só 950 haviam chega­
do até março de 1749. No decurso dos três anos 
seguintes, continuaram chegando famílias-Jo 
Sul, mas em número muito inferior às expectati­
vas iniciais.32 Um fator de desencoraiamento 
era a viagem penõsípara o Brasil, durante a qual 
os homens e as mulheres eram rigorosamêntè 
separados e vigiados para evitar qualquer con­
duta indecente.33 Porém o mais decepcionante 
para os novos imigrantes talvez tenham sido as 
novas localidades, que, apesar dasJãóas intenções 
ém contrário, estavam mal preparadas para rece­
ber os recém-chegados.
Não obstante, no decurso de 1753 várias 
comunidades povoadas por açorianos haviam
4 5
U m r e p e r t ó r i o d o s p r in c íp i o s d e c o n s t r u ç ã o : S ã o P a u l o e o S u l
sido estabelecidas no Rio Grande do Sul e em 
Santa Catarina.34 Apesar de a ordem e o projeto 
terem sido sacrificados em proveito do assenta­
mento rápido dos colonos, algumas das novas 
vilas conseguiram ajustar-se ao que o historia- 
dor-sociólogo Thales de Azevedo denominou 
“novas normas urbanas”.35 A nova política dos 
casais visivelmente foi produto da mentalidade 
do rei Dom João V; ela representava uma abor­
dagem lógica e organizada da colonização do 
Brasil, que havia evoluíçk^sgb a direção desse 
monarca. Cqmq protgtípo paravi povoamento 
de vilas, o Regimentcffde l 747 complementava 
o modelo dê Arácàtydp mesmo alo, fornecendo 
Orientação sobre asdimensoes^las novas comu­
nidades. No Sul, a Coroa estava tãòdecidida a 
povoar a região que os administradores estavam 
dispostos a ampliar financeiramente o programa 
de construção de vilas até à colonização subsi­
diada e com toda assistência. Dessarte, o plane­
jamentode vilas tinha evoluído para a instalação 
de colonos patrocinada, e daí foi apenas um pe­
queno passo para o planejamento regional abran­
gente que seria aplicado amplamente na segunda 
metade do século, com o incentivo do Marquês 
de Pombal.
(1) Recomendação do Conselho Ultramarino ao 
governador do Rio de Janeiro, de Lisboa, 5 de 
maio de 1725. AHU, Códice 227, fls. 89-89v.
(2) Uma carta ao governador do Rio de Janeiro 
datada de 10 de dezembro de 1726 (AHU, 
Códice 227, fls. 273v-274) menciona a queixa 
da Câmara. Em 5 de abril de 1729, a Coroa 
confirmou a sua decisão (AHU, Códice 228, 
fl. 46), e no ano seguinte, em 25 de junho de 
1730 (AHU, Códice 228, fl. 141v), respondeu 
negativamente a mais um requerimento da 
Câmara. Além de limitar fisicamente o cresci­
mento da cidade, a nova muralha também cor­
taria os suprimentos de água. Sobre esse aspec­
to do problema, ver Gilberto Ferraz, “João 
Massé e sua planta do Rio de Janeiro”, Jornal 
do Brasil.\ 1 de setembro de 1958.
(3) Correspondência de Alexandre Metalho de 
Souza, Frei Varges e outros (conselheiros) ao 
governador do Rio de Janeiro, de 10 de janeiro 
de 1732 (AHU, Códice 228, fl. 198v).
(4) Numa carta do Conselho Ultramarino ao 
governador do Rio de Janeiro, datada de Lis­
boa, 4 de janeiro de 1732, a Coroa resol­
veu acatar a opinião da Câmara local e dos en­
genheiros consultores (AHU, Códice 228, fl. 
197).
(5) Ernesto Ennes, “Pedro Taques de Almeida e 
as terras do Conselho ou rossio da vila de São 
Paulo Congresso Luso-Brasileiro de História 
(Lisboa, 1940), p. 195.
(6) Ibidem, pp. 202-203.
(7) “Treslado dos capítulos de correição desta Vila 
de Nossa Senhora de Paranaguá este anno de 
1721”, contido em Moysés Marcondes, “Do­
cumentos para a história do Paraná: l 1 Série”, 
in Boletim do Arquivo Municipal de Curityba\ à 
página 140, essa publicação reproduz a carta 
de Pardinho explicando os objetivos da sua visi­
ta Estou grata ao historiador Sérgio Buarque 
de Holanda pela sugestão de consultar essa 
fonte.
(8) Moysés Marcondes, op. cit., artigo 84 do 
“Treslado”.
(9) “. ..que ao menos terá [a rua] quarenta palmos 
de largo, por ficar assim mais decente, a vista à 
mesma igreja...”. Moysés Marcondes, op. cit., 
artigo 85 do “Treslado”.
(10) “Treslado dos provimentos de correição que 
nesta villa fes, a deixou para bom Regimen da 
Republica e bem comum d’ella, p D.zor Ra­
phael Pires Pardinho, 1721”. A documentação 
completa da correição de Pardinho consta do 
artigo “Provimentos de correições, 1721-1812” 
in Boletim do Arquivo Municipal de Curityba, vol. 
VID (1924), p. 16 (artigo 37).
(11) Jaime Cortesão, Alexandre de Gusmão e o Tratado 
de Madri (Instituto Rio Branco, Rio de Janeiro, 
1951), vol I, parte I, pp. 320-321.
(12) Para esta exposição sobre a engenharia militar 
portuguesa de antanho, recorrí às seguintes 
fontes: Robert C. Smith, “Jesuit Buildings in 
Brazil”, in A rt Bulletin, vol. XXX, n2 3 (se­
tembro de 1948), especialmente o apêndice 
intitulado “Portuguese Military Engineering in 
Brazil”; general Aurélio de Lyra Tavares, A 
Engenharia Militar Portuguesa na Construção do 
Brasil (Secção de Publicações do Estado-Maior
4 6
U m r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç ã o : S ã o P a u l o e o S u l
do Exército, Rio de Janeiro, 1965); Sousa 
Viterbo, Expedições Científico-Miltiares Enviadas 
ao Brasil, vol. II (Edições Panorama, Lisboa, 
1964); Adaílton Sampaio Pirassununga, O 
Ensino M ilitar no Brasil: Período Colonial 
(Biblioteca do Exército, Rio de Janeiro, 1958); 
e C. Ayres de Magalhães Sepúlveda, História 
Orgânica e Política do Exército Português, vol. V 
(Imprensa Nacional, Lisboa, 1910).
(13) Luís Serrão Pimentel, Tratado de Castrametação 
ou Alojamento dos Exércitos (1650?), vol. I, BNL- 
MSS n2 1648. Uma explanação dos princípios 
de castrametação romana pode ser encontrado 
em Lewis Mumford, The City in History: Its Ori­
gins, Its Transformations and Its Prospect (Harcourt, 
Brace and World, Nova York, 1961), p. 207.
(14) Adaílton Sampaio Pirassununga, op. cit., p. 4.
(15) Robert C. Smith, “Jesuit Buildings in Brazil”, 
in op. cit. Em 1700, Antônio Rodrigues Ribeiro 
foi promovido a sargento-mor engenheiro da 
cidade e finalmente nomeado professor da sua 
especialidade na Aula.
(16) Essas matérias foram tratadas por Alpoim no 
seu Exame de Bombeiros, como mencionado em 
Pirassununga, op. cit., p. 18.
(17) José Fernandes Pinto Alpoim, Exame de Arti­
lheiros que Comprehende Arithmética, Geometria e 
Artilharia (Lisboa, 1744). ANRJ, Secção de His­
tória.
(18) Belidor algumas vezes era chamado Ballidoro 
na correspondência oficial. Cf. Pirassununga, 
op. cit., pp. 21-22. Uma das obras que Belidor 
deixou foi Sumário de um Curso da Arquitetura 
Militar, Civil e Hidráulica (cerca de 1720).
(19) O fascínio pelo mal. Vauban é perceptível nas 
fortalezas construídas em Mato Grosso (Prín­
cipe da Beira) e Pará (São José de Macapá).
(20) Carta do Conselho Ultramarino de 1732 em 
resposta à sugestão do governador de São 
Paulo, Rodrigo Cézar de Menezes, de 28 de 
junho de 1726, para encontrar colonos para 
Rio Grande de São Pedro. Lisboa, AHU, Rio 
Grande de São Pedro, Papéis Avulsos.
(21) Ver o estudo dessa questão em Dauril Alden, 
Royal Government in Colonial Brazil: with Special 
Reference to the Administration of the Marquis of 
Eavradio, Viceroy, 1769-1779 (University of 
California Press, Berkeley, 1968), pp. 77-78.
(22) Alden conta que as primeiras sesmarias nessa 
região foram outorgadas em 1733. Ibidem, p.79.
(23) Informação obnda em Paxanhos Antunes, 
“Origens dos primeiros núcleos urbanos no Rio 
Grande do Sul, tn Anais do Segundo Congresso de 
História e Geografia Rio-Grandense, vol. n (1937), 
p. 362. Os três fortes foram São Miguel, San­
tana e Jesus, Maria, José.
(24) General Borges Fones, “O Brigadeiro José da 
Silva Paes e a fundação do Rio Grande”, in Re­
vista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande 
do Sul, ano XIII, IO trimestre (1933), p 79.
(25) Ibidem, p. 83.
(26) Ibidem. A carta em que Pais recomendava o 
programa estava datada de 12 de abril de 1737.
(27) Ibidem, p. 107.
(28) Uma das primeiras áreas cogitadas para a colo­
nização açoriana foi o Maranhão. Ver “Ordens 
e disposições para o transporte de duzentos 
casais dos Açores para o estado do Maranhão”, 
in Jaime Cortesão, Antecedentes do Tratado, parte 
III, vol. II, “Alexandre de Gusmão e o Tratado 
de Madri”, p. 399. Essa ordem está datada de 
23 de junho de 1676.
(29) Depois de meados do século XVIII, os colonos 
açorianos seriam complementados com imi­
grantes dos domínios portugueses do Norte 
da África. Da mesma forma, colonos de algu­
mas regiões de Portugal (principalmente de 
Trás-os-Montes) eram incentivados a se trans­
ferirem para o Brasil.
(30) N o entanto, Pais já havia sugerido essa 
providência dez anos antes. Cf. Dauril Alden, 
op. cit., pp. 81-82, e Jaime Cortesão, op. cit., parte 
I, tomo II, p. 248.
(31) O plano de Gusmão está contido na “Provisão 
Régia, dirigida a Alexandre de Gusmão... pela 
qual o Monarca ordenou o transporte e estabe­
lecimento dos colonos das Ilhas dos Açores 
para a Ilha de Santa Catarina e continente do 
Rio Grande de São Pedro”, de 9 de agosto de 
1747. /«Jaime Cortesão, op. cit., parte III, VII, 
pp. 452-457.
(32) Arthur Ferreira Filho, História Geral do Rio 
Grande do Sul: 1503-1964 (Editora Globo, Rio 
de Janeiro, 31 edição, 1965), p. 33.
(33) As condições para o transporte dos casais estão 
especificadas com precisão no Regimento de 
1747; as mulheres deviam ser mantidas isoladas 
durante a viagem, e seus alojamentos eram 
inacessíveis até mesmo aos esposos.
(34) Segundo Ernâni Silva Bruno, op. cit., vol. V, pp.
4 7
Um r e p e r t ó r i o d o s p r i n c í p i o s d e c o n s t r u ç ã o : São Paulo e o Sul
74-75, foram fundadas várias povoações em 
Santa Catarma, entre elas Conceição do Es­
treito, Lombas e São José do Ibiquarí. Em seu 
requerimento de promoção, José Carlos Rama-lho, capitão-engenheiro, relata a sua atuação 
no projeto de uma nova comunidade em San­
ta Catarina, em 1755. Esse documento está cata­
logado em Eduardo de Castro e Almeida, Inven­
tário dos Documentos de Ultramar de Lisboa (Rio 
de Janeiro), 1913-1936), Secção Rio de Janeiro, 
n° 18.825. Daqui em diante, esse catálogo será
atado simpíesmente como AHU-CA (Catálo­
go de Documento do Arquivo Histórico Ultra­
marino de Castro Almeida), mais a secção (Ba­
hia ou Rio de Janeiro) e o registro no catálogo. 
No seu artigo “Açorianos e madeirenses em 
Sana Catarina”, in RIHGB, vol. CCXIX (1953), 
p. 144, Lucas F. Boiteux faz referência ao levan­
tamento topográfico dessa comunidade.
(35) Thales de Azevedo, Gaúchos: A Fisionomia 
Social do Rio Grande do Sul (Aguiar e Souza 
Ltda., Salvador 2a edição, 1958), p. 58.
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4 8
Capítulo VI
0 Marquês de Pombal 
e a política portuguesa de “europeização”
Com o falecimento de Dom João V, em ju­
lho de 1750, ascendeu ao trono português Dom 
José I. Governante indeciso, José I preferiu 
deixar o controle da política nas mãos do seu 
enérgico primeiro-ministro, Sebastião José de 
Carvalho e Melo, Marquês de Pombal. Na reali­
dade, quem governou a nação e seu império ul­
tramarino até 1777 foi Pombal, como ele é ge­
ralmente conhecido, que deu continuidade à ten­
dência para o governo absoluto estabelecida pelo 
seu antecessor durante o período joanino. O 
marquês foi influenciado fortem ente pelas 
filosofias intelectualistas da época e assumiu as 
suas responsabilidades administrativas com a- 
quele zelo reformista tão característico dos de­
fensores setecentistas do Iluminismo.
Em Portugal, Pombal “procurou denoda- 
damente sacudir a nação da sua letargia e incor­
porá-la ao curso das tendências da Europa do 
seu tempo”.1 Para tanto, ele não só instituiu um 
programa de reorganização econômica, orienta­
do para aumentar a margem de lucro do gover­
no, como também procurou fazer com que os 
mecanismos administrativos operassem com 
maior eficiência mediante a centralização das 
funções governamentais. Os opositores aos seus 
planos claramente traçados não foram tolerados 
por muito tempo; os jesuítas, seus inimigos mais 
declarados, logo foram envolvidos numa conspi­
ração para assassinar o rei, o que resultou na 
sua completa expulsão do reino em 1759.
Quanto ao Brasil, a visão de Pombal era 
igualmente clara: a autoridade real deveria ser 
ampliada pelo aumento do número de vilas no 
interior e pela sua integração num programa que
procurasse aproveitar ao máximo as potenciali­
dades dos territórios até então inexplorados. 
Para realizar isso, ele propunha a inclusão das 
populações indígenas no programa de constru­
ção de vilas, decidido como estava a transformar 
esses súditos da Coroa até então ignorados - e 
menosprezados - em membros importantes da 
sociedade brasileira. Naturalmente a supressão 
da proteção dos jesuítas às sociedades indígenas 
em 1759 ajudou o programa pombalino, porém 
na realidade os seus objetivos já estavam cla­
ramente traçados desde o início da década.
A meta geográfica imediata do plano de 
colonização indígena de Pombal era o Amazo­
nas, que começara a adquirir uma importância 
econômica em conseqüência do abrimento da 
ligação fluvial Pará-Madeira-Guaporé entre 
Belém e Vila Bela, em Mato Grosso. Nessa re­
gião, Pombal foi auxiliado e favorecido pela pre­
sença do seu cunhado, Francisco Xavier de Men­
donça Furtado, que administrou a capitania do 
Pará na qualidade de governador por toda a 
década de 1750. Este, nas suas próprias palavras, 
procurou fazer cumprir
as ordens terminantes de civilizar os índios, 
possibilitando-lhes adquirir um conhecimento 
do valor do dinheiro... e acostumando-os com 
os europeus, não só ensinando-lhes português 
como incentivando casamentos entre índios e 
portugueses.2
A tarefa revelou-se difícil devido a que os colo­
nos portugueses do Amazonas eram uma gen­
talha inculta; principalmente nas regiões supe­
riores do rio, tanto os missionários como os 
habitantes laicos tendiam a ser “um bando de
4 9
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ’
grosseiros, despudorados e gananciosos, de 
pouco valor como divulgadores da civilização 
européia”.3
Assim sendo, num esforço consciente para 
introduzir um novo elemento social no Amazo­
nas, Pombal ordenou que se imprimisse um no­
vo impulso ao programa de colonização com 
açorianos dos anos 1740 e que ele fosse incorpo­
rado ao seu plano de modernização dos índios. 
Os imigrantes recém-chegados seriam reassenta- 
dos em povoações do Amazonas, onde poderíam 
servir de exemplos do comportamento digno eu­
ropeu para os índios circunstantes. As próprias 
comunidades, edificadas em conformidade com 
o código de construção estabelecido no começo 
do século, seriam modelos de pensamento orde­
nado e racional: as praças regulares e bem traça­
das, as ruas retas, as fachadas uniformes (idéias 
que aliás seriam utilizadas na reconstrução de 
Lisboa depois do terremoto de 1755) provavel­
mente fariam com que os índios aspirassem ao 
“modo de vida” europeu.
O programa de construção de novas vilas 
no Amazonas foi iniciado quase imediatamen­
te depois da ascensão do marquês ao poder. 
A despeito das probabilidades desfavoráveis, o 
governador Mendonça Furtado foi instado a 
iniciar um levantamento do Pará, logo em 1751, 
para avaliar as condições das comunidades exis­
tentes e determinar onde se poderíam estabele­
cer novos centros urbanos.4 Foram escolhidas 
duas áreas para povoamento imediato: a zona a 
leste da cidade de Belém, onde se concentraria 
a colonização com imigrantes das ilhas do Atlân­
tico, conforme se decidiu, e as principais vias 
fluviais da bacia amazônica, compreendendo os 
rios Madeira, Tapajós e Negro. Em 1753 Men­
donça Furtado pôde comunicar que havia esco­
lhido a povoação já existente de Souza de Caeté 
para a localização de uma primeira vila oficial, 
que recebería o novo nome de Bragança, em ho­
menagem à família real. O sítio tinha as vanta­
gens da proximidade do Atlântico, embora um 
pouco afastado da beira-mar, e de ficar perto 
de um braço do rio Guamá, afluente do Tocan­
tins. Prevendo um grande sucesso comercial
para a comunidade, resultante da pesca e da 
agricultura, cujos produtos poderíam ser manda­
dos para Belém, Mendonça Furtado pleiteou 
junto à Coroa a vinda de colonos brancos (ca­
sais) para povoarem a nova vila. Uma aldeia de 
índios (“gente da tetra”) existente nas cercanias, 
explicou ele, estaria disponível como mão-de- 
obra suplementar para os agricultores, e também 
poderia ajudar no transporte das mercadorias 
para Belém em suas canoas. Uma escola onde 
as crianças índias pudessem aprender a língua 
portuguesa concorrería para facilitar a adaptação 
mútua desses dois grupos díspares.5
Na mesma carta, o governador preconizou 
a criação de duas outras redes de comunidades 
euio-indígenas, desta vez mais para o interior, 
nos rios Xingu e Tapajós. Um ano depois, Men­
donça Furtado comunicou-se novamente com 
Lisboa, elogiando o projeto inicial de Bragança 
e salientando que ele havia tomado “todas as 
providências que [ele] considerava necessárias 
para o crescimento... da aglomeração” .6 Seu 
entusiasmo originou outras propostas urbanas, 
inclusive a criação da cidade de Borba, no local 
da antiga comunidade indígena de Trocano.Essa 
nova vüa, localizada perto da confluência do rio 
Madeira com o Amazonas (no atual estado do 
Amazonas), destinava-se a servir de posto admi­
nistrativo avançado na via fluvial comercial Gua- 
poré-Madeira. Apesar de a atração de colonos 
para essa área remota ter se mostrado difícil, 
fazendo com que o bispo do Pará recomendasse 
à Coroa custear as despesas do seu assenta­
mento7, a localidade foi fundada com êxito em 
1756*. Aqui, as regras de alinhamento urbano 
foram seguidas fielmente’, o que levou um visi­
tante nos anos 1770 a comentar que a comuni­
dade era “uma grande praça de quatro lados com 
casas em quatro ruas”.1* Dez anos depois, o 
famoso escritor sobre a região amazônica Ale­
xandre Ferreira de Rodrigues afirmou, na sua 
Viagem Filosófica, que Borba era uma das poucas 
comunidades amazônicas que mereciam o título 
de vila.11
Tal como no Nordeste meio século antes, 
as dificuldades de conseguir colonos para as
50
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ”
regiões longínquas da Amazônia eram agravadas 
pela necessidade de mantet o controle numa 
zona muito distante da capital administrativa, 
Belém. As conseqüências negativas dessa situa­
ção precária para a soberania portuguesa nessa 
região foram percebidas por Mendonça Furta­
do durante a sua visita à zona do rio Negro em 
1754. Posteriorm ente, ele sugeriu a Lisboa 
transformar essa região do alto Amazonas numa 
nova capitania, cuja base de operações seria uma 
nova vila a construir; essa comunidade não só 
substituiría Belém do Pará, dispondo de funcio­
nários administrativos e de um tribunal na pró­
pria sede, como poderia também hospedar as 
comitivas estrangeiras cuja chegada ao território 
estava prevista para efetivarem os acordos de 
fronteiras já acertados entre os espanhóis e os 
portugueses no Tratado de Madri, em 1750. Em 
3 de março de 1755, o governo da metrópole, 
concordando com a idéia de Mendonça Furtado, 
autorizou a criação de uma nova capitania e da 
vila de São José do Rio Negro.12
A exemplo de outras ordens que até então 
haviam servido de base para a fundação de novas 
capitais e vilas administrativas, a Carta Régia de 
1755 que ordenava a criação da vila de Rio 
Negro preceituava um traçado urbano ordenado. 
A praça principal deveria ser demarcada em 
primeiro lugar, prevendo-se localizações para a 
igreja, a casa da câmara, a cadeia e outros prédios 
públicos. As casas deveríam ser “construídas 
com o mesmo feitio externo, mas, quanto ao 
interior, cada [morador] poderia fazer o que lhe 
conviesse”. Dever-se-ia ter o cuidado de manter 
essa uniformidade na construção, bem como na 
largura das ruas, a fim de que a vila apresentasse 
sempre a mesma “beleza”. Os terrenos para ca­
sas e pomares-hortas poderíam ser concedidos 
com generosidade aos colonos, contanto que 
eles obedecessem às novas disposições.13
A instrução inicial dos portugueses era 
situar a nova cidade na embocadura do rio Ne­
gro, porém Mendonça Furtado resolveu loca­
lizar o novo centro a montante, na aldeia de Ma- 
riuá (também citada como Mariva), a uma longa 
distância da confluência do rio Negro com o
Amazonas. Nesse local, a nova vila constituiría 
um ponto de observação a partir do qual as co­
munidades indígenas circunvizinhas noderiam 
ser mantidas sob controle. Além disso, cõnío o 
bispo do Pará observou na sua carta em que 
aprovava a mudança de localização decidida por 
Mendonça Furtado, o novo sítio cumpriría a 
função de atalaia para vigiar as atividades dos 
espanhóis e holandeses nessa parte da Amazô­
nia, ao mesmo tempo em que serviría de entre­
posto para uma série de ervas medicinais colhi­
das nas imediações, as quais eram o principal 
produto de exportação da região.14
Malgrado essas metas ambiciosas, ainda em 
1759 pouco progresso havia sido feito no sen­
tido de transformar a aldeia de Mariuá na nova 
vila de São José (ou, como ela era mais comu- 
mente chamada, Barcellos). O sucessor de Men­
donça Furtado, Manuel Bernardo de Melo e Cas­
tro, naquele ano instou junto ao Marquês de 
Pombal para que se reconhecesse a urgência de 
converter a aldeia numa vila antes da chegada 
das comitivas de fronteiras, a fim de comprovar 
a solidez da posição portuguesa. Em virtude 
de a reivindicação portuguesa da região ter se 
baseado no princípio da ocupação efetiva, era 
impensável que a colônia que recebería os nego­
ciadores tivesse um aspecto desleixado. Era 
necessário salvar as aparências, dando a impres­
são de que, mesmo na selva longínqua, prospera­
va um baluarte da cultura portuguesa. Nesse 
contexto, Melo e Castro salientou que faltavam 
urgentemente gêneros alimentícios “do tipo 
produzido nas fazendas européias”, principal­
mente trigo e azeite, e que as provisões de vinho, 
vinagre, carne e sal também eram escassas. Ade­
mais, naquele momento, em 1759, as edificações 
levantadas por ordem de Mendonça Furtado es­
tavam “completamente deterioradas”.15
Por sorte o contingente português da comi­
tiva de fronteiras já havia chegado a Barcellos. 
Os préstimos de Felipe Strum, um dos melhores 
engenheiros e cartógrafos mandados pelos por­
tugueses ao Brasil, foram prontamente empre­
gados no programa de remapeamento de Bar­
cellos. Uma planta datada de 1762 (Figura 8A)16
51
O M a r q u ê s d e P o m b a i . e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ”
Fig. 8 A - Planta básica it Barcellos, no Rio Negro, tal como foi rtitstnbaia por Felipe Strum, 1762
mostra a extensão das modificações urbanas que 
se seguiram ao novo desenho de Strum. Em 
obediência às ordens de 1755, a cidade concen­
trava-se em torno de uma nova praça espaçosa, 
na frente da qual havia um terreno reservado 
para uma igreja paroquial de boas proporções. 
Ao que parece, a praça da comunidade primitiva 
foi abandonada na periferia da cidade, porque 
mudaram a orientação da malha urbana para 
longe desse centro, dando-lhe uma direção 
norte-sul. O centro da cidade aparece situado a 
pouca distância da margem do rio, onde são 
previstos embarcadouros para canoas. Na nova
praça está assinalada uma sala de conferências 
para os delegados plenipotenciários; no entanto, 
a três quarteirões dali ficava um “curral de tarta­
rugas”, o que indica que a cidade passou tempos 
difíceis sanando as suas características provin­
ciais.
Durante os anos seguintes, apesar dessa 
planta desenhada cuidadosamente, os registros 
mostram numerosos exemplos da necessidade 
de reconstruir as estruturas públicas. Um dos 
grandes problemas era que as edificações muitas 
vezes eram de madeira, um material de pouco 
valor prático na selva amazônica úmida, onde
52
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o '
Fig. 8 B - 0 novo projeto para Barcellos, sem data
tudo apodrecia.17 Por exemplo, em 1768 os ar­
mazéns, o quartel e a residência do governador 
tiveram de ser reconstruídos (Figura 8B).“
Sem se mostrarem intimidados por esses 
reveses na renovação de vilas nas regiões remo­
tas, os portugueses, sob a direção de Pombal, 
continuaram a pressionar os administradores do 
Brasil para “civilizarem” as localidades mais an­
tigas. As recomendações sobre a maneira de rea­
lizar isso compreendiam instruções relativas à 
ordem em que aos novos prédios seriam cons­
truídos; antes de tudo, seria erigida a igreja; de­
pois viría a residência do representante do gover­
no.” Naquela época, o uso de um traçado urba­
no regular tinha se tornado tão comum que um 
administrador local escreveu em 1757 informan­
do que havia utilizado “o modelo de costume”, 
a fim de que o local que ele estava demarcando 
tivesse “as características de uma vila bem fun­
dada”.20
A expulsão dos jesuítas em 1759 ensejou 
às autoridades portuguesas oportunidades ainda 
maiores de assunção do controle das comunida­
des indígenas. Quase imediatamente as denomi­
nações dessas antigas aldeias foram substituídas 
por nomesde cidades portuguesas21; achava-se 
que isso dava uma impressão de “civilização”. 
Foram nomeados superintendentes laicos para 
administrar as comunidades, os quais eram ins­
truídos a supervisionar as novas edificações para 
abrigar trabalhadores índios. As casas deveríam 
ser construídas com “uniformidade e retilineida- 
de”, e as terras agricultáveis da localidade tinham 
de ser divididas em proporções iguais aos habi­
tantes.22
O movimento de reforma urbana tinha um 
atrativo evidente; centros urbanos tão díspares 
como a cidade de Belém e aldeias indígenas em 
Mato Grosso foram submetidos a programas de 
remodelação rigorosos. Para Belém, Mendonça 
Furtado recomendou encarecidamente que os 
impostos locais fossem utilizados por um perío­
do de dez anos para reformar a cidade, que, na 
sua opinião, salvo pela sua grande população, 
pouco diferia das aldeias do sertão.23 Não sur­
preende que as suas propostas tenham acabado
53
O M a r q u ê s d e P oiMb a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ’
fomentando a pavimentação de ruas na cidade24 
e a edificação de muitos prédios públicos, inclu­
sive do Palácio dos Governadores, projetado pe­
lo engenheiro italiano Antônio José Landi (Bolo­
nha, 1708 - Belém, 1790).25
Na hinterlândia, nem mesmo a humilde vila 
de Cuiabá pôde escapar ao espirito reformista. 
Com a sua configuração inicial sem racionalida­
de26, a comunidade havia crescido sem que ne­
nhum esforço fosse feito para conter a ocupação 
da área de pastagem comum (rossio e logradou­
ro). Na década de 1750, atendendo a um reque­
rimento da Câmara Municipal de Cuiabá, o Con­
selho Ultramarino, em Lisboa, determinou que 
essa terra pública fosse devolvida para cultivo. 
Exigiu-se então que os proprietários das casas 
encravadas na área pública reconstruíssem as 
suas residências num terreno destinado especifi­
camente a esse fim. Essa área seria previamente 
alinhada e subdividida em lotes, em ruas traçadas 
em linha reta. Dessa maneira, a autoridade e a
ordem finalmente deixariam a sua marca na mais 
mal traçada de todas as povoações. Além disso, 
a devolução das terras públicas para uso da Câ­
mara assegurar-lhe-ia uma renda fixa, tornando 
desnecessária a coleta de impostos específicos a 
cada vez que fosse executada uma meihoria pú­
blica.27
Em outras áreas de Mato Grosso e particu­
larmente ao longo do rio Madeira, os portugue­
ses procuraram consolidar os ganhos territoriais, 
reunindo as populações existentes em diversas 
novas aglomerações de projeto regulamentado. 
O caso da aldeia de São Miguel ilustra bem esse 
processo. Já tinha existido uma aldeia indígena 
naquele trecho do rio Madeira (a cerca de quatro 
léguas do Forte de Conceição), porém durante 
os anos 1760 ela tinha se mostrado inadequada. 
Havia chegado um contingente de índios há 
pouco repatriados das missões espanholas pelos 
portugueses, e a velha aldeia não tinha condições 
de alojá-los decentemente. Nessas circunstân­
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Fig. 9 - Planta básica de São Miguel, 1765
5 4
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l í t i c a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o '
Fig. 10 - Planta básica de Balsemão, 1768
cias, o capitão-geral João Pedro da Câmara, 
resolveu transferir a aldeia para longe dali. O 
novo complexo seria projetado com “o forma­
lismo [/. e. retiüneidade] que convinha para a 
habitação e o conforto dos seus moradores.28 
O esboço (Figura 9) que acompanhava a carta 
de Câmara dá uma idéia do grau de “aquartela­
mento” a que os trabalhadores índios seriam sub­
metidos: longas alas de unidades residenciais em 
arranjo simétrico aparecem como alojamentos 
para os índios. Esses alojamentos estão dispos­
tos de um lado e do outro de uma grande praça, 
em cuja frente estão as casas do administrador 
da comunidade e do vigário residente, e, por trás,
um armazém para as frutas colhidas. O quarto 
lado da praça, defrontando o rio, é deixado aber­
to. Em 1768 foi oficialmente inaugurada mais 
uma comunidade indígena ao longo da via fluvial 
do Madeira, denominada Balsemão. Nela, as 
habitações dos trabalhadores eram constituídas 
por unidades de alojamento individuais pegadas, 
com paredes divisórias comuns, numa disposi­
ção semelhante à de São Miguel. Entretanto, 
diferentemente desta, as casas em Balsemão 
(Figura 10) formam a orla de grandes quarteirões 
(cuja área interna é dividida em pomares-hortas), 
proporcionando assim uma aparência decidida­
mente menos militar à comunidade. A confor-
5 5
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç ã o ”
mação das ruas é a malha ortogonai habitual, 
que vai ter a uma praça pública quadrada espaço­
sa. Os quatro cantos dessa praça são entalhados 
em ângulo reto, o que confere a essa composição 
um elemento de desenho incomum. O lado nor­
te da praça é ocupado pela igreja, ladeada por 
unidades residenciais; oposta a ela, no lado sul, 
está a casa da câmara. Os centros dos lados les­
te e oeste são armazéns; os espaços restantes 
são preenchidos por casas para índios.® De acor­
do com os documentos anexos51, Luís Pinto de 
Souza Courinho, capitão-geral na época da cons­
trução, teve pouca dificuldade em reunir os ín­
dios pasmas na sua nova comunidade. Por outro 
lado, os 400 soldados que se juntaram a ele nesse 
local devem ter representado um incentivo 
fortíssimo. Essa povoação foi tão bem-sucedida 
que Coutinho achou que bastavam apenas três 
administradores portugueses para tomar conta 
dos índios: um superintendente da comunidade, 
um vigário e uma pessoa não identificada cuja 
função era velar pelo bem-estar da população 
indígena, que totalizava cerca de 150 pessoas 
(56 homens, 46 mulheres, 27 meninos e 17 meni­
nas). Entre os índios estavam inscritos dois 
“príncipes da nação”, embora não fosse fre- 
qüente os planificadores do século XVIII atenta­
rem para esse tipo de dado sociológico.
Durante toda a década de 1760, os adminis­
tradores, desejosos de instituir o programa de 
urbanização e europeização do Marquês de 
Pombal, concentraram-se em corrigir o que eles 
julgavam ser erros cometidos nos núcleos urba­
nos mais antigos. O ouvidor do Pará, Ramos 
Mourão, partiu nos primeiros meses de 1762 pa­
ra visitar pessoalmente as comunidades da re­
gião do rio Tocantins e da ilha de Marajó. Nas 
localidades onde não encontrou nenhum concei­
to de ordem, ele instituiu o novo regime urbano; 
nas povoações onde tinha reinado uma com­
preensão nebulosa do que constituía a “corte­
sia”, ele substituiu-a por uma noção já bem defi­
nida e bem aceita de “civilidade” européia. Com 
relação a uma certa comunidade, ele mandou 
os habitantes repararem suas casas no prazo de 
dois anos e murarem seus pomares.52 E não ape­
nas isso: o dono de cada pomar seria obrigado a 
plantar “duas laranjeiras, um limoeiro, uma pi- 
menteira, duas goiabeiras, dois cajueiros, dois 
mamoeiros e dois coqueiros”. Não era permi­
tido a ninguém construir casas sem consenti­
mento prévio dos funcionários da câmara, que, 
por sua vez, providenciariam que as ruas fossem 
“retas, largas e espaçosas e que as casas fossem 
construídas com uma mesma forma e um mes­
mo tipo de fachada, isso sendo conveniente para 
a beleza da vila”. Por fim, construir-se-ia uma 
fornalha num local próximo para fornecer telhas 
para os tetos das casas, e nos anos vindouros, 
todo mês de outubro, os funcionários da câmara 
deveríam vistoriar as casas e pomares para certi­
ficar-se de que as ordens haviam sido cumpri­
das.55
Em algumas localidades, a responsabilidade 
pelo alinhamento urbano foi confiada aos habi­
tantes mais qualificados. Isso sucedeu, por 
exemplo, na criação da vila de Monte-Mor-o- 
Novo, no Ceará, onde Custódio Francisco Aze­
vedo, residente no local e habilidoso no uso da 
prancheta, foi encarregado de traçar a planta da 
nova vila. Aqui também o risco da comunidade 
obedeceu ao formato usual: uma grande praçacentral alinhada, rodeada por casas uniformes, 
uma igreja, a casa da câmara e um açougue.54 
Como orientação para o traçado do resto da vila, 
a Coroa recomendou que se usasse o código pro­
mulgado em 1755 para a criação da vila de São 
José do Rio Negro (Barcellos).55 Outras provas 
indicam que no tempo da criação de Monte-Mor, 
em 1764, eram comuns as recomendações ofi­
ciais para seguir as plantas de São José, conforme 
demonstra esta prescrição:
...determinados pela Lei de 6 de junho de 1755, 
serão praticadas, sempre que possível, as nor­
mas e o alinhamento ordenados para o estabele­
cimento da vila dé São Miguel do Rio Negro.54 
Ao que parece, em Monte-Mor não houve difi­
culdade em aplicar as diretrizes urbanas precei- 
tuadas; foi feito o levantamento topográfico da 
área, a terra foi distribuída e demarcada com 
vistas a garantir que as construções futuras se­
guissem a mesma orientação de alinhamento.57
5 6
O Marquês d e Pombal e a p o l ít Tc a p o r t u g u e s a d e “europeização'
, D .UÍb ° U‘ra,S com un>dades, tam bém no 
1 ° rte do Brasl1’ S t r a i n a confiança depositada 
pelos portugueses nas técnicas de arquitetura e 
urbamsmo durante a era pombalina. Tanto São 
Jose de Macapa como Nova Mazagão, no terri­
tório do Amapá, foram desenhadas e demar­
cadas por equipes de especialistas qualificados 
em engennana. Junto com as comunidades vizi­
nhas, elas eram parte de um sistema econômico 
regional e ficaram sob a jurisdição da Companhia 
Geral do Grao Pará e Maranhão, uma empresa 
monopohsnca criada pelo Marquês de Pombal 
em 1755 para explorar os recursos do extremo 
Morte da imensa colônia.
A construção de São José foi a primeira 
providencia desse plano. Em 1751 os portugue­
ses haviam reconhecido a necessidade de estabe­
lecer um presidio militar e uma comunidade no
local da antiga guarnição defensiva de Santo
em 1688 í MaCaPa , E s s a Unificação, fundada 
em 1688 para defender o Amapá de eventuais 
incursões francesas vindas da Guiana limítrofe 
afigurava-se inadequada pelos padrões de mea­
dos do século XVIII. Em face disso, a Coroa 
resolveu reforçar as defesas na zona, assentando 
uma populaçao bastante numerosa na área 
circutqacente e remodelando as obras de defesa 
Fn? i ocapitao-mor João Batista de Oliveira
foi mandado ao local para iniciar a formação de 
uma comunidade agrícola.54 Até dezembro do 
mesmo ano foram enviadas para a nova povoa- 
çao quatro expedições de colonos (muitos dos 
quais provinham dos Açores e da ilha da Madei­
ra), perfazendo talvez 300 pessoas; todavia 
passaram-se vanos anos até que a comunidade 
pudesse ser considerada viável.5’ Relatórios do
Fig. 11-São José de Macapá, no Amapá, 1761, mostrando o desenho da praça dupã,
5 7
o M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç ã o ”
andamento dos trabalhos datando de 1757 refe­
rem que as obras da nova vila ainda estavam em 
curso; um ano depois a comunidade foi promo­
vida a vila, apesar de inacabada.40
Uma carta de João da Cruz Pinheiro, o ou­
vidor que chefiava a equipe de demarcação, dá 
uma descrição do procedimento pelo qual a vila 
foi traçada. No seu relato, Pinheiro queixou-se 
de que havia levado dois dias de trabalho inin­
terrupto, “do amanhecer ao anoitecer”, para pla­
nejar uma comunidade com alicerces suficientes 
para ser permanente. Nessa povoação, como em 
outras localizadas perto de cursos ou coleções 
de água, os aterros para ruas e subdivisões 
paramoradias tinham de ser planejados de modo 
a preservá-la com segurança das inundações pe­
rigosas. O mapa incluso à carta de Pinheiro 
mostra que ele conseguiu entremear a malha ur­
bana na multiplicidade de pequenas lagoas alaga- 
diças.41
Os voluntários açorianos para a nova vila 
foram postos sob o comando do sargento-mor 
Thomaz Rodrigues da Costa, o oficial mais gra­
duado do presídio. Homem “bastante inteligen­
te criterioso e cristão”42, da Costa foi judiciosa- 
mente escolhido por Mendonça Furtado e rece­
beu plena liberdade para desenvolver a comuni­
dade como melhor lhe parecesse (Figura l l ) .43 
Sendo engenheiro, da Costa apreciava sobre­
maneira a ordem e o regulamento. Cada colono 
recebeu instrumentos, gado e sementes para 
plantar, e a cada um foi adjudicada uma^unidade 
de moradia e exploração padronizada.44 Na rea­
lidade, isso foi uma repetição do plano de colo­
nização com açorianos de 1747, porém o docu­
mento cartográfico do caso de Macapá é tão mi-
5 8
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e i z a ç ã o ’
nudente que é possível visualizar exatamente 
como o plano foi executado. A planta, de 1“59 
(Figura 12), tem uma escala que permite calcular 
a dimensão de cada unidade residencial. De 
acordo com essa planta, cada casa tem uma fa­
chada de mais ou menos 33 pés (10m ou 5.5 bra­
ças) e um comprim ento de cerca de 18 pés 
(5,5m). O espaço interno é dividido em três 
pequenos compartimentos com um vestíbulo 
estreito. Como na maioria das comunidades 
construídas tendo em vista minimizar os custos, 
as casas de Macapá são pegadas umas às outras, 
com paredes comuns. Seu exterior é uniforme, 
como mostra o desenho do rodapé da planta; 
cada unidade tem três janelas simples sem ornato 
e uma porta com um dintel singelo. Atrás de 
cada casa há um lote comprido destinado ao cul­
tivo de um pomar e horta e à manutenção dos 
animais domesticados e de galináceos. A dis­
posição das ruas é em malha ortogonal, inter­
rompida por duas grandes praças. A única fun­
ção de uma dessas praças parece ser conter o 
pelourinho de praxe em toda municipalidade, en­
quanto a outra tem um caráter administrativo, 
compreendendo a igreja, a casa da câmara e o 
açougue.45 Próximo à praça administrativa fica 
o posto médico da vila, a “casa do cirurgião”.
A composição de Macapá tem sido tachada 
de monótona e estéril pelos observadores da 
atualidade.46 Aos olhos do homem moderno, 
ela pode parecer assim; contudo, o atributo de 
uniformidade de Macapá constitui uma prova 
admirável da capacidade crescente dos adminis­
tradores coloniais de supervisionarem o desen­
volvimento de um centro urbano no Brasil. 
Acresce que, para a sua época, São José de Maca­
pá representava o exemplo ideal do bom gosto 
em urbanismo; simetria e harmonia de perspec­
tiva eram sinônimos de beleza para a mentali­
dade setecentista. Até mesmo a fortaleza cons­
truída em Macapá na década seguinte ilustra a 
preferência pela ordem e pela precisão geomé- 
rica do barroco.47 Seus quatro bastiões eqüi- 
distantes, baseados nos modelos franceses de 
fortificação, continuaram a impressionar os que 
visitavam a comunidade. Mesmo décadas de­
pois, em 181A Aires de Casal comentou que 
Macapá tinha “um forte magnífico”, bem como 
“boas ruas”.45
Mazagão, a outra comunidade da região do 
Amapá, também mereceu considerável reflexão 
por parte da Coroa antes da sua fundação. En­
quanto São José de Macapá prosperava, os por­
tugueses sentiam a necessidade de mais colo­
nos na região. A pequena distância de Macapá 
existia a pequena aldeia indígena de Santana, e, 
no final dos anos 1760, o capitão-geral do Pará, 
Fernando da Costa Athayde Teive, refletiu que 
a sua população podia ser transferida, para bene­
fício de toda a zona.49 Para tanto, Domingos Sam- 
bucetti50, engenheiro italiano comissionado pelo 
exército português, foi destacado para um novo 
local à margem do rio Mutucá, com o encargo 
de começar o levantamento preliminar para o 
estabelecimento da nova comunidade indígena.
Àquela altura, os portugueses estavam 
encontrando dificuldades em outros domínios 
do seu vasto império ultramarino. Seu último 
reduto no Norte da África, Mazagão, estava em 
decadência, e eles enfrentavam o difícil problema 
de reassentar os colonos dessa guarnição. A op­
ção lógica para o reassentamento dos mazaga- 
nenses era o Brasil, que não só podia receber 
mais povoadores que Portugal ou suas ilhas do 
Atlântico como, de acordo com a mentalidadepombalina, beneficiar-se-ia com a introdução de 
elementos culturais europeus. Tirando partido 
dessa excelente oportunidade de povoamento, 
Athayde Teive, em consulta com Mendonça Fur­
tado - agora Secretário do Ministério de Ultra­
mar - , procurou demonstrar que podia instalar 
facilmente o contingente deslocado de Mazagão 
na mesma colônia que estava sendo construída 
para os antigos moradores da aldeia indígena 
de Santana.51 Com os índios como trabalhadores 
braçais e os colonos europeus como fazendeiros, 
o capitão-geral anteviu um êxito infalível para a 
nova vila.
Pouco depois de Sambucetti concluir o 
levantamento da área do rio Mutucá, Ignacio da 
Costa de Moraes Sarmento foi nomeado coman­
dante da primeira expedição. Sarmento, homem
5 9
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç ã o ”
Fig. 13 A - Esquema inicial de Nova Maçagão, no Amapá, sem data
de “muita honra e alto prestígio”52, iniciou suas 
tarefas separando uma área que definia os limites 
da comunidade. Dentro dessa área, logo come­
çou o trabalho de demarcar uma malha urbana 
de ruas e praças alinhadas e de construir aloja­
mentos suficientes para os colonos esperados.53 
Os índios de Santana forneceram a força de tra­
balho para essa tarefa, coadjuvados por outros, 
recrutados nas aldeias indígenas de Melgaço e 
Óbidos.54 É claro que Sarmento trazia consigo 
o modelo português de vila costumeiro, que pre- 
ceituava um povoamento regulamentado. Não 
obstante Sambucetti ter advertido o governador 
de que o terreno acidentado podería obrigar a 
alguns desvios da geometria habitual da planta 
básica portuguesa55, parece que Sarmento, obsti­
nadamente, manteve-se fiel ao princípio da reti- 
lineidade e projetou a cidade envidando todos 
os esforços possíveis para manter a boa ordem. 
Para tal, o solo foi nivelado em 1770, e as ruas 
foram traçadas com quarteirões de mesmas di­
mensões e eqüidistantes (Figuras 13A e 13B).56 
No final das contas, todos esses trabalhos, inclu­
sive a construção dos lares, foram custeados pelo 
Tesouro Real.57
Os dados estatísticos existentes acerca de 
Nova Mazagão são abundantes pelos padrões 
da época. Em 1772 registrou-se que a localidade 
tinha 459 habitantes, sendo 383 cidadãos livres 
e 76 escravos. De acordo com um relatório, a 
força de trabalho necessária para construir a 
nova vila compunha-se de 122 índios. No final
60
Fig. 13 B - Nova Mazagão, aproximadamente 1800
de 1772, esse grupo já havia construído 134 uni- padas, tanto pela população livre como pela es- 
dades habitacionais, 117 das quais estavam ocu- crava.59
61
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç ã o ’
Fig. 14 A - Detalhe de Lisboa no século X V I
A nova vila satisfez as expectativas de 
Athayde Teive. Com o incentivo de um ano de 
sustento às custas do governo, os mazaganenses 
estabeleceram-se rápida e definitivamente.60 Ao 
que parece, o seu orgulho por esse feito fê-los 
sentir-se superiores à média dos habitantes do 
Pará.61 Porém a sua pretensa superioridade não 
os impediu de comerciarem com seus vizinhos 
de Macapá. Essas duas comunidades, juntamen­
te com outra povoação em Vistosa, formavam 
uma zona do arroz, cuja produção era embarca­
da para Belém; essa zona constituía uma impor­
tante fonte desse produto para a capital.62 Até 
1778 esse sistema regional esteve sob a jurisdição 
da Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão 
e, como tal, era submetido a freqüentes fiscaliza­
ções administrativas. Em 1775 o novo governa­
dor do Pará, João Pereira Caldas, vistoriou cada 
uma das três vilas e exarou um relatório sobre o 
seu progresso. Para a vila de Mazagão, ele reco­
mendou a construção de uma olaria destinada à 
produção de telhas, “para o enobrecimento das 
casas e para evitar, assim, maiores riscos de 
incêndio”. Uma instalação semelhante foi pro­
posta para Macapá, que Pereira Caldas achou 
consideravelmente aumentada e “lusificada” em 
relação ao que ele observara na sua visita ante­
rior, em 1773.63 Ali, no longínquo território do 
Amapá, estavam funcionando postos avançados 
viáveis da cultura e da autoridade portuguesa.
A julgar pelo grande número de vilas e ar­
raiais construídos durante o período de 1750 a 
1777 (os 27 anos da era pombalina), o procedi­
mento pombalino da planificação de cidades não
6 2
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a df. “ e u r o p e i z a ç ã o ’
pode ser considerado senão um sucesso.64 Tra­
balhando com um paradigma de vila iá estabe­
lecido, Pombal aprimorou o processo e firmou 
o conceito de que a boa ordem urbana era uma 
marca do comportamento europeu (portanto, 
“civilizado”). Pouco importou se os habitantes 
dessas comunidades planificadas continuaram 
fiéis à sua dieta tradicional de mandioca, ou se 
eles mantiveram as suas maneiras grosseiras, co­
mo afirmou um historiador65; pelo menos na sua 
aparência exterior, as comunidades planificadas 
deram mostras de um estilo de vida europeu.
Num certo sentido, o Brasil, com seu vasto 
sertão, serviu de campo de prova para os dese­
nhos urbanos mais recentes saídos das pranche­
tas em Portugal. Embora os portugueses vies­
sem fazendo experiências de planejamento urba­
no inovadoras desde a Idade Média, a oportu­
nidade de construção em massa de novas cidades 
era restrita num país que havia sido povoado
desde a Antigüidade. A vida urbana no Portugal 
setecentista decorria com razoávei estabilidade, 
até a manhã do dia Ia de novembro de 1755, quan­
do um terremoto atingiu Lisboa. Imediatamente 
se determinou uma reconstrução completa da 
área do centro da cidade. Já que muitos dos con­
ceitos urbanos aplicados naquele projeto foram 
os mesmos que vinham sendo empregados no 
Brasil, vale a pena examinar sua utilização no 
país-metrópole.
O sismo de 1755 destruiu uma grande parte 
do velho núcleo comercial do centro de Lisboa, 
o que requereu uma reconstrução urbana de 
proporções inauditas.66 Muitos engenheiros com 
formação em arquitetura civil apresentaram di­
versos projetos para reedificar a área; alguns de­
les propuseram reconstruir as ruas seguindo o 
mesmo traçado medieval (Figura 14A), ou con­
servando pelo menos algumas das antigas vias 
de circulação. Finalmente se adotou o único pro-
Fig. 14 B - Novo projeto de Lisboa depois do terremoto de 1‘/11/1755
6 3
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç Ao ’
jeto tjue apresentava uma abordagem inteira­
mente nova; ele propunha “uma ‘rede’ muito 
complexa, composta de oito ruas de orientação 
norte-sul e nove dispostas do leste para o oes­
te”.67 Essas ruas seriam o meio de ligação entre 
duas importantes praças.
O risco foi de autoria de Eugênio dos San­
tos, diplomado pela Aula de Fortificação por­
tuguesa, e Carlos Mardel, engenheiro militar 
húngaro. A natureza racional do projeto para o 
bairro baixo de Lisboa empolgou o Marquês de 
Pombal, que o apoiou entusiasticamente. Co­
mo observou José Augusto França, o esquema 
era perfeitamente concorde com a política do 
marquês, servindo de representação gráfica da 
sua atitude ordenada em relação ao governo 
(Figura 14B).6*
Na planta de Santos e Mardel, três ruas ser­
viríam de artérias principais de tráfego inten­
so e, ao mesmo tempo, seriam o eixo de direcio­
namento do trânsito de uma praça para a outra. 
Essas artérias tinham 60 palmos (13,2m) de lar­
gura, enquanto as ruas menos importantes ti­
nham apenas 40 palmos (8,8m). Os prédios des­
sas vias tinham uma altura e uma fachada regula­
mentada, de modo que, num comprimento de 
400 metros, não seria admitida “a mínima varia­
ção, a menor fantasia”. Além disso, para aumen­
tar a composição homogênea do bairro, cada rua 
deveria ter a sua própria especialidade comercial. 
Embora a Idade média tivesse sido fértil em pre­
cedentes dessa especialização de ruas, os novos 
regulamentos, aliados às novas prescriçõesde 
construção, levaram muitos críticos a se queixa­
rem da opressiva monotonia da planta. Em que 
pesasse essa objeção, a planta para a “Baixa” foi 
executada; o descumprimento do novo código 
resultava na recusa da permissão de construir 
no novo bairro.69
. A praça principal da metrópole, o Terreiro 
do Paço, foi igualmente submetida aos novos 
padrões urbanos. Outrora uma praça pitoresca 
de formato irregular, ela era voltada para o mar, 
e nela ficava o palácio real. No novo projeto 
para a “Baixa”, a praça foi transformada no novo 
centro judiciário e de serviços públicos da nova
L'sboa. Reprovou-se-ihe o caráter comercial, 
pois nela ficavam a aifándega, os serviços públi­
cos, o tribunal e o centro financeiro. Sua nova 
fachada reproduzia a ética empresarial da “orga­
nização”: três lados da praça foram ocupados 
com “prédios idênticos, com arcadas do térreo 
ao primeiro andar e pilastras duplas”70, enquan­
to o quarto lado permaneceu aberto para o mar 
e para o império português longínquo. Do lado 
oposto ao paredão do mar, foi construído mais 
tarde um arco do triunfo que abria a perspectiva 
desse lado para a malha de tuas comerciais situa­
da atrás dele.
O espírito das reformas da “Baixa” propa- 
gou-se por outros bairros de Lisboa71 e até por 
outras cidades portuguesas (com especialidade 
o Porto). Embora a maior parte dos observa­
dores europeus o ignorassem, os conceitos de 
desenho utilizados na reforma urbana da metró­
pole eram exatamente os mesmos que vinham 
sendo postos em prática no Brasil havia já meio 
século. Por exemplo, o projeto de Lisboa revela 
a mesma preocupação com o alinhamento e a 
uniformidade das ordens de 1716 para a criação 
de Mocha, no Piauí. O projeto da “Baixa” pode 
ter sido realmente, como França escreveu, “um 
pensamento urbano dinâmico ímpar na Europa 
setecentista”72; porém os conceitos revelados na 
construção da capital do reino no final dos anos 
1750 haviam sido aperfeiçoados pelos adminis­
tradores e engenheiros portugueses no Brasil no 
decurso das décadas que antecederam o sismo.
As experiências portuguesas de planificaçâo 
urbana no Brasil e a reconstrução posterior de 
centros urbanos em Portugal demonstram clara­
mente que o governo real havia compreendido 
que a planificaçâo urbana podia servir a fins 
administrativos práticos e, ao mesmo tempo, ser 
esteticamente agradável. Como em outras partes 
da Europa, para os portugueses, a “planificaçâo 
urbana tornou-se um instrumento da política 
estatal”71 A administração de Dom João V foi a 
primeira a compreender que um programa de 
construção de vilas encerrava uma potencia­
lidade de ampliação da autoridade; Pombal inter­
pretou essa fórmula como a condição indispen-
6 4
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç Ao ’
sável do bom governo, acrescentando-lhe o seu 
reconhecimento da dimensão sócio-cuitural do 
programa. O modeío d t vila utilizado no Brasil 
em meados do século XVIII era apreciado não 
só pelo seu traçado ordenado e esteticamente 
agradável, mas também porque ele simbolizava 
um nível de “europeização” e sofisticação ao 
qual Pombal achava que o interior do Brasil 
devia aspirar. Sob a direção do marquês, a colô­
nia foi totalmente impregnada de aplicações, 
tanto teóricas como práticas, da filosofia muni­
cipal “iluminizada” do século XVIII.
(1) Donald E. Worcester, Brazil: From Colony to 
World Power (Charles Scribner’s Sons, Nova 
York, 1973), p. 47.
(2) Como já foi assinalado em Kenneth R. Max­
well, Conflicts and Conspiracies: Brazil and Portugal, 
1750-1808 (Cambridge University Press, 
Londres, 1973), p. 15, as outras reformas do 
Marquês de Pombal no Brasil abrangiam a orga­
nização de companhias comerciais para asse­
gurar o monopólio português de valiosos arti­
gos de exportação, a transferência da capital 
da colônia de Salvador para o Rio de Janeiro e 
a reativação da cobrança do quinto real, a quota 
da coroa sobre a renda gerada no Brasil.
(3) David Sweet, “The ‘Conquest’ of Northeastern 
Brazil: Sketches for a People’s History of Ex­
pansion”, ensaio apresentado na Convenção da 
Associação Americana de História, Nova Or­
leans (Louisiana), dezembro de 1972, pp. 21-22.
(4) Recomendações do Rei a Francisco Xavier de 
Mendonça Furtado, de 30 de maio de 1751. 
AHI, Livro 343/2, nQ 29.
(5) Carta de Mendonça Furtado à Coroa, de 11 de 
outubro de 1753. AHU, Pará, Caixa 16.
(6) Carta de Mendonça Furtado, de 13 de setembro 
de 1754. Registro de Cartas, BNL-CP, n2 159.
(7) Carta do Bispo do Pará a Francisco Xavier de 
Mendonça Furtado, Pará, 31 de janeiro de 
1756.
Esse documento está reproduzido em MCM, 
vol. III, p. 905.
(8) Como está assinalado em “Resumo histórico 
de algumas fortalezas e povoações”, AHI, Lata 
256, Maço 2, Pasta 7.
(9) Cópia da carta de S. Mag.de a Mendonça Fur­
tado, de 3 de março de 1755. Essa carta instruía 
o governador a alinhar as ruas de Borba. BNRI 
1-31, 28,41, n2 6.
(10) Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio, “Diário 
da viagem que em vizita e correição das povoa- 
çoens da Capitania de S. José do Rio Negro 
fez o ouvidor e intendente geral da mesma, 
no anno 1774-1775”. BMSP, MSS C, 52.
(11) Como citado em Ernâni Silva Bruno, Amavônia 
vol. I, op. cit., p. 83.
(12) Carta Régia, de Lisboa, 3 de março de 1775, 
endereçada a Francisco Xavier de Mendonça 
Furtado. BNRJ1-31, 28, 41, n2 4.
(13) Ibidem.
(14) Carta do bispo do Pará a Mendonça Furtado, 
do Pará, 13 de maio de 1775. AHI, Livro 430/ 
4/2, n2 35.
(15) Carta de Manuel Bernardo de Mello e Castro 
a Sebastião José de Carvalho, Pará, 2 de no­
vembro de 1759. ABAPP, vol. VIII (19131 
pp. 99-106.
(16) Figura 8A - Villa de Barcellos, 1762, MIGE,
n2 1005; Figura 8B - Planta da nova villa de 
Barcellos, aproximadamente 1770.BNRI-SI n2 
24-3-1. J ’
(17) Isso está dito na “Memória sobre o Governo do 
Rio Negro”, 1762. AHI, Livro 340/4/4, n2 42.
(18) Correspondência de Fernando da Costa Athay- 
de Teive a Mendonça Furtado, Pará, 2 de julho 
de 1768. AHI, Lata 195, Maço 4, Pasta 4.
(19) Carta do Capelão Antônio Machado a Men­
donça Furtado (?), Missão de N. S. da Piedade,
6 de abril de 1756. BNL-CP, 622, fls. 166-167.
(20) Carta de José Marq.e da Fon.a Castelho a 
Mendonça Furtado, de 20 de dezembro de 
1757. BNL-CP, 624, fls. 188-188v. Castelho 
declara ter utilizado “a ordinária planta p.a q. 
ficace... e se construhir com as qualidades q 
deve ter hua bem fundada Va.”.
(21) Essas mudanças de nomes deram-se entre 1757 
e 1760. Uma representação do Tribunal da 
Mesa de Consciência datada de 13 de janeiro 
de 1760 ordenou que as denominações de 
várias missões jesuíticas cujo controle o Estado 
havia assumido fossem mudadas. AHU-CA, 
Bahia, 4791.
6 5
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç Ao ”
(22) Dois estudos recentes acerca da atitude 
portuguesa para com as missões podem ser 
encontrados em Daniel Sweet, op. cit., e Colin 
M. MacLachlan, “The Indian Labor Structure 
in the Portuguese Amazon, 1700-1800”, in 
Dauril Alden (editor), Colonial Roots of Modem 
Brasfil (University of California Press, Berkeley, 
1973), pp. 199-230.
(23) Carta de Mendonça Furtado à Coroa, Pará, 21 de 
fevereiro de 1759.M&4PP, voL VDI (1913), p 52
(24) Antônio Rocha Penteado, Belém: Estudo de 
Geografia Uéana, 2 vols. (Universidade Fedetal 
do Pará, Belém, 1968), p. 109.
(25) O engenheiro italiano Antônio José Landi veio 
para o Brasil para acompanhar a comitiva de 
demarcação de fronteiras. Gal. Aurélio de Lyra 
Tavares, op. cit, p. 110.
(26) Ver capítulo IV.
(27) Parecer do Conselho Ultramarino, de 25 de 
setembro de 1758. AHU, Códice 239.
(28) Carta de José Pedro da Câmara a Mendonça 
Furtado, de 17 de dezembro de 1765. Esse 
documento está apenso à planta 71 do Catálogo 
AHU-Iria.
(29) Projecto de novo apuzento p.a os índios da 
Aldeya de S. Miguel, 1765. AHU-Iria, n° 71.
(30) Planta de uma povoação na cachoeira Girão 
do tio Madeira delineada pelocapitão-geral de 
Mato Grosso Luís Pinto de Sousa Coutinho, 
1768. In AHI-IA, n“ 75.
(31) Carta de Luís Pinto de Sousa Coutinho a 
Mendonça Furtado, Fortaleza da Conceição, 
30 de novembro de 1768. AHI, Lata 275, Maço 
5, pasta 9.
(32) Isso foi registrado por Artur César Ferreira Reis 
em “Aspectos da Amazônia na sexta década 
do século XVIII”, in RSPHAN, vol. VIII 
(1944), p. 68.
(33) Posturas e Taxas da Villa de Conde. Como 
citado ibidem, p. 70.
(34) Termo da Demarcação e Assignação do 
Terreno da real villa de Monte-Mór o Novo 
da América, in RIC, vol. V (1888), p. 265.
(35) A recomendação foi emitida em 1° de abril de 
1767. RIC, vol VII (1890), p. 106. Parece que 
essa idéia havia impregnado o pensamento de 
muitos administradores portugueses. Por exem­
plo, em 1763 o governador do Pará (Melo e 
Castro) emitiu um informe no sentido de que 
no faturo todas as comunidades recebessem
nomes, “como é de costume em povoações 
dviiizadas”. Todas as casas seriam construídas 
com uniformidade e retidão”, e os funcioná­
rios da câmara seriam encarregados de subdivi­
dir a área da vila, que depois seria adjudicada 
em partes iguais aos habitantes. Pará, 23 de 
janeiro de 1763, como citado in Ferreira Reis, 
op. cit., p.69.
(36) Ver “Termo pelo qual se assignou o districto 
d’esta villa e o Patrimônio d elia e para Rocio 
pasto commum dos gados dos seus morado­
res”. RIC, vol. VIII (1891), p. 269.
(37) Ibidem. Monte-Mor o Novo atualmente tem o 
nome de Baturité; fica no Ceará, perto do rio 
Maranguape.
(38) “Instrução que levou o Capitão-Mor João 
Batista Oliveira quando foi estabelecer a nova 
vila de S. José de Macapá”, Pará, 18 de dezem­
bro de 1751. MCM, vol. I, p. 115.
(39) A carta de Mendonça Furtado a Alexandre 
Metelo de Souza Menezes, do Pará, 20 de 
dezembro de 1751, menciona essas expedições. 
MCM, vol. I, p. 22.
(40) Carta de Mendonça Furtado à Coroa, Pará, 10 
de abril de 1757. BNL-CP, 162, fl. 19v.
(41) Correspondência de João da Cruz Diniz 
Pinheiro a Mendonça Furtado, de 2 de abril 
de 1755. BNL-CP 624, fls. 64-65.
(42) Essa é a opinião de Manuel Bernardo de Melo 
e Castro, expressa numa carta a Tomé Joaquim 
da Costa, datada do Pará, 30 de janeiro de 1760. 
ABAPP, vol. VIII (1913), p. 126.
(43) Figura 11 - Planta da Villa de S. Jozé do 
Macapá, 1761. AHU-Iria, n“ 24; Figura 12 - 
Planta Ichnographica das cazas... de S. José 
de Macapá para os novos povoadores, 1759. 
MIGE, n° 1015.
(44) A esse respeito, ver Artur César Ferreira Reis, 
“Guia histórico dos municípios do Pará”, 
RSPHAN, vol. XI (1947), p. 286.
(45) Esse modelo de praça dupla foi visto pela 
primeira vez na Salvador quinhentista; foi 
empregado reiteradamente no século XVHI.
(46) Por exemplo, Santos, op. cit, p. 62.
(47) Ptaça de S. José de Macapá, 1771, MIGE, nQ 
1227.
(48) Manuel Aires de Casal, Geografia Brasílica ou 
Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brasil 
(1817) (Edições Cultura, São Paulo, 1943), vol. 
II. P- 52
66
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç Ao ’
(49) Isso está concorde com a exposição contida 
em “Município de Mazagão”, AKÀPP, vol. IX 
(1916), p p . 398-399.
(50) Sambucetti, de origem genovesa, trabalhou 
como engenheiro na comissão portuguesa de 
fronteiras da Capitania do Rio Negro. Ver Lyra 
Tavares, op. cit, p. 126.
(51) “Município de Mazagão”, op. cit, pp. 403-404.
(52) Ibidem, op. cit., pp. 398-399. Mendonça Furtado 
emitiu essa opinião a respeito de Sarmento.
(53) Ver Artur César Ferreira Reis, Território do 
Amapá: Perfil Histórico (Imprensa Nacional, Rio 
de Janeiro, 1949), p. 65.
(54) “Município de Mazagão”, op. cit., p. 399. Colin 
M. MacLachlan, op. cit, p. 218, registra que, 
em 1774, 19 aldeias indígenas forneceram tra­
balhadores para fins de construção em Vila 
Nova de Mazagão.
(55) Ver a carta de Sambucetti ao governador Athay- 
de Teive, de 13 de março de 1770, como cita­
da em “Município de Mazagão”, op. cit., p. 405.
(56) Figura 13A - Levantamento inicial da Vila 
Nova de Mazagão, sem data. MU-CI, n° 24; 
Figura 13B - Planta da Villa Nova de Mazagão, 
aproximadamente 1800. MIGE, n“ 1017.
(57) Ferreira Reis, op. cit., p. 66. Isso também consta 
no “Município de Mazagão”, op. cit., p. 403. 
Ver também “Relação das famílias que vão esta- 
belecer-se na praça de Mazagão, por ordem de 
Sua Magestade”. IHGB, Lata 354, Doc. 16.
(58) Essa informação demográfica está contida na 
carta de Gama Lobo de Almada (encarregado 
da comunidade), de 15 de dezembro de 1772, 
como citada em “Município de Mazagão”, op. 
cit., p. 413.
(59) “Município de Mazagão”, op. cit., p. 412.
(60) O programa de manutenção por um ano segue 
o modelo traçado para as comunidades açoria- 
nas em 1747. Ver “Município de Mazagão”, 
op. cit., p. 412, n“ 45.
(61) Ferreira Reis, “Guia histórico dos municípios 
do Pará”, op. cit., p. 289.
(62) Em seu relatório citado em “Município de 
Mazagão”, op. cit, p. 419 (sem data), Gama 
Lobo observa que em 1778 Macapá exportou 
16.136 alqueires de arroz, Mazagão exportou 
3.317 Ví, e Vila Vistoza, 2.230 (o alqueire era 
uma medida de capacidade variável de uma 
região para outra; o alqueire de Lisboa eqüivalia 
a 13,8 litros). Uma análise dos princípios dire­
tores econômicos durante a era pombalina 
pode ser encontrada em Kenneth R. Maxwell, 
“Pombai and the Nationalization of the Luso- 
Brazilian Economy”, in HAHR, vol. XLIII, n° 
4 (novembro de 1968), pp. 608-663.
(63) Relatório de João Pereira Caidas a Martinho 
de Mello e Castro, Pará, 5 de novembro de 
1775. IHGB-CU. Arc 1.1.3, pp. 352v-355.
(64) Eu diria que foram construídas pelo menos 35 
vilas e arraiais.
(65) Ver David Sweet, op. cit. et passim.
(66) Um relato sucinto do acontecimento e suas 
conseqüências pode ser encontrado em Luís 
Soriano, História do Reinado de El-Rei D. José 
(Typographia Universal, Lisboa, 1867), vol. II, 
pp. 92-93.
(67) Ver José Augusto França, Lisboa Pombalina e o 
Iluminismo (Livros Horizonte, Lisboa, 1965), p. 
74. Salvo outras remissões, esta explanação é 
baseada no excelente estudo de França.
(68) Figura 14A - Planta de Lisboa no século XVI, 
tirada de G. Braun, Civitas Orbis Terrarunr, Figura 
14B - Planta elaborada pelos arquitetos Eugê­
nio Carvalho e Carlos Mardel superposta a um 
mapa de 1660 para a reconstrução do Rossio. 
Reproduzida com autorização da editora de E. 
A. Gutkind, Urban Development in Southern 
Europe: Spain and Portugal, voL III: International 
History of a City Development (The Free Press, 
Nova York, 1967), pp. 62 e 67.
(69) Consulta do Rei, Lisboa, 16 de setembro de 
1756. Reproduzida em Antônio Delgado da 
Silva, Supplemento à Collecçâo de Legis/a-ção 
Portuguesa (Typographia Luis Correa da Cunha, 
Lisboa), vol. 1750-1762, nota 413.
(70) Robert C. Smith, The A rt of Portugal: 1500-1800 
(The Meredith Press, Nova York, 1968), p. 105.
(71) Por exemplo, pelo bairro do Rato. A Resolução 
do Rei datada de 4 de agosto de 1767 exigia o 
reaknhamento e a regulamentação de toda cons­
trução fatura em tomo das ddades já existentes 
(sem especificar se isso também se aplicava às 
colônias de Ultramar). Delgado da Silva, op. 
cit, vol. 1763-1790, p. 158. Depois dessa época, 
os portugueses empenharam-se na construção 
de novas cidades em larga escala também na 
sua pátria. De acordo com Luís C Moncada, Um 
iluminista Português do Século X V III (Saraiva e 
Companhia, São Paulo, 1941), p. 103, o sábio por­
tuguês Verney propôs no final dos anos 1760
6 7
O M a r q u ê s d e P o m b a l e a p o l ít ic a p o r t u g u e s a d e “ e u r o p e iz a ç à o ’
que o governo criasse novas cidades em estra- (J2) Augusto França, op. at., p. 83. 
das principais de tráfego intenso ‘para acelerar (73) E. A. Gutkind, op. at., pp. 31-32. 
o comércio”.
68
Capítulo VII
Planificadores e reformadores
Nas últimas décadas do século XVIII, em­
bora o Amazonas fosse o objetivo principal das 
reformas pombalinas, a faixa litorânea, o Sul e 
o Oeste do Brasil foram igualmentereavalia­
dos.1 Nessas regiões, o êxito ou o fracasso das 
novas povoações muitas vezes dependiam da 
personalidade e da energia dos governadores que 
as administravam. Nas décadas de 1770 e 1780, 
a tendência das autoridades dessas regiões era 
criarem redes de comunidades semelhantes ao 
eixo Macapá-Mazagâo, que fora formado no 
N orte. Algumas dessas novas redes estavam 
orientadas para aglomerações urbanas tradicio­
nais, que elas abasteciam com um fluxo contínuo 
de produtos agrícolas. Outras redes foram esta­
belecidas em zonas escassamente povoadas, pro- 
porcionando-lhes o desenvolvimento de uma au- 
tarcia. Desse modo, mais uma dimensão de pla­
nejamento regional foi acrescentada aos obje­
tivos já explícitos do programa de construção 
de vilas. O êxito desse “plano diretor” e a sofisti­
cação da metodologia empregada podem sur­
preender os planificadores da atualidade, que 
parecem julgar qúe uma abordagem abrangente 
do desenvolvimento é apanágio exclusivo do 
nosso século.2
Esse planejamento no nível macroeconô­
mico foi mais perceptível na comarca de Porto 
Seguro (na zona sudeste da capitania da Bahia) 
que em qualquer outro lugar. Ali, foi planejado 
e construído todo um sistema de sete centros 
urbanos. Neste caso, os abundantes dados docu­
mentais e cartográficos existentes proporcionam 
não só uma intelecção excepcional do processo 
de planejamento de vilas como também uma 
compreensão da mentalidade do planificador.
Nos primeiros anos da década de 1760, a 
comarca de Porto Seguro estava sob a direção 
do ouvidor Tomás Canceiro de Abreu, que esta­
va interessado principalmente na criação dasvilas 
indígenas de Verde e Trancoso. Ele deixou 
plantas para a formação das novas vilas que asse­
guravam um espaçamento regular entre as futu­
ras casas. Além disso, procurou criar uma ordem 
moral para os novos habitantes, exigindo que 
de então em diante os índios deveríam viver em 
casas com:
... ao menos 6 quartos, um que lhe servisse de 
sallinha, outro para os paes dormirem, outro 
para os filhos, o 4o para as filhas,o 5o para a 
cozinha e o 6o para terem os seus effeitos.3 
No seu zelo pela europeização dos índios, 
Abreu só foi superado pelo seu sucessor, José 
Xavier Machado Monteiro, que chegou a Porto 
Seguro por volta de 1768. Enquanto aquele 
admitiu ter tido dificuldades em estabelecer as 
suas novas comunidades-modelo, Monteiro con­
seguiu fundar vilas viáveis e que funcionavam 
bem. A chave do seu sucesso foi a criação de 
comunidades com dois componentes raciais; 
nesse projeto, colonos portugueses e índios de­
veríam viver juntos, exatamente no mesmo tipo 
de moradia. Os europeus forneceríam padrões 
de comportamento, enquanto os índios, no seu 
entender, teriam o privilégio de observar e 
aprender, imitando-os. Pelo que foi dito ante­
riormente, já se sabe que esse esquema não foi 
concebido por Monteiro; na realidade ele tinha 
sido a filosofia subjacente à política de Pombal 
para o Amazonas de. localizar aldeias indígenas 
junto a vilas européias. No entanto, o ouvidor 
de Porto Seguro infundiu no programa um fer-
6 9
P l a n if ic a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
Fig. 15 - Planta básica de Vila Viçosa, aproximadamente 1769
vor quase evangélico, impondo à população 
branca a obrigação moral de elevar os índios aos 
seus padrões culturais. No seu relatório anual, 
ele escreveu: “Com referência aos índios, estou 
procurando civilizá-los.”4 Para tanto, Monteiro 
proibiu as mulheres índias de usarem blusas que 
mostrassem os seios. Vedou aos homens e mu­
lheres dançarem o sensual batuque, quer em pú­
blico, quer às ocultas.5 As crianças de mais de 
três anos não podiam dormir no quarto dos pais, 
e os meninos e meninas de sete anos para cima 
foram proibidos de tomar banho juntos.6
O desenho das vilas de Porto Seguro patro­
cinadas por Monteiro são mais uma confirma­
ção da sua predileção pela hiper-regulamentação. 
Para cada uma das três vilas criadas pelo ouvidor 
-Vila Viçosa, 1768; Portalegre, 1769; e Prado, 
1772 -, a disposição das edificações foi planejada 
detalhadamente, desenhada e depois executada
no local escolhido. Inobstante Monteiro ter de­
clarado com modéstia que, à falta de um arqui­
teto, as plantas foram traçadas pela sua “mão 
inábil”7, os documentos cartográficos existentes 
revelam que ele tinha um conhecimento muito 
profundo dos princípios de planejamento urba­
no do século XVIII, pois, conforme ele admitiu 
depois, os seus projetos seguiam “as normas ha­
bituais”.8
Todas as três vilas de Monteiro (Figuras 
15,16 e 17) compunham-se de quadras de área 
uniforme, cuja orla era formada de casas rigoro­
samente alinhadas de frente para ruas de largura 
idêntica.9 Os fundos das habitações dispunham 
de pomares-hortas, criados por parcelamento do 
espaço interno de cada quadra. Esse adminis­
trador utilizou nas suas três vilas o modelo de 
duas praças, um desenho visto com frequência 
em cidades litorâneas do Brasil.10
70
P l a n if ic a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
Monteiro estava firmemente convicto de 
que a disposição ordenada resultante amansaria 
os índios que estavam aos seus cuidados, que 
ele considerava “os mais repulsivos e detestáveis 
do Brasil” .11 Ele baseava essa pressuposição nu 
ma compreensão pessimista e verdadeiramente 
hobbesiana da natureza humana. O ouvidor 
achava que, se todos os habitantes tivessem exa­
tamente as mesmas comodidades, inclusive casas 
análogas, com o mesmo número de janelas e por­
tas e quintais de área padronizada, todas as cau­
sas de inveja e dissenção seriam eliminadas.12 
Entretanto, diversamente dos sonhos pretensa­
mente socialistas das comunidades dos missioná­
rios, Monteiro amenizava suas idéias comunitá­
rias com uma ênfase na unidade familial como 
o único elemento social de grande importância. 
Enquanto os padres de mentalidade socialista 
utópica (especialmente os jesuítas) freqüente- 
mente haviam agrupado os seus protegidos em 
barracões comunitários, Monteiro insistia em 
que as unidades habitacionais familiais eram in­
dispensáveis para inspirar respeito pelo “modo 
de vida europeu”.
Ao redor de cada comunidade, Monteiro 
mandou desmatar um anel “da largura de dois
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Fig. 16 - Planta básica de Portalegre, aproximadamente 1772
71
P l a n if ic a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
Fig. 17 - Plantaa básica de Prado, aproximadamente 1772
tiros”. Essa disposição protegeria os colonos 
dos ataques de índios hostis (que poderíam ca- 
muflar-se no mato) e, além disso, “proporciona­
ria arejamento, aumentaria a área de pastagem 
e afastaria as onças, cobras e mosquitos”.15 As 
comunidades dedicavam-se à agricultura, pro­
duzindo principalmente algodão e cereais. Essa 
produção, junto com garoupas pescadas, era em­
barcada no cais construído em cada vila e man­
dado para Salvador, onde contribuía significa- 
tivamente para o abastecimento daquela cida­
de e da zona açucareira circunvizinha do Recôn­
cavo. Ao mesmo tempo, as vilas de Porto Segu­
ro funcionavam como pontos de parada acessí­
veis e centros de fornecimento para baianos em 
demanda das riquezas minerais de Minas Ge­
rais.
Como se vê, a rede de vilas de Porto Seguro 
constituía uma zona economicamente integrada 
que, por sua vez, servia uma importante cidade 
colonial. Ela apresentava uma lógica de ponto 
central básico que seria copiada em outras zonas 
da colônia com graus de sucesso variados. Pa­
tentemente, a experiência das vilas de Monteiro 
foi bem fundamentada; em 1803, um visitante 
expressou aprovação a essas pequenas comuni­
dades e elogiou os seus traçados ordenados. 
Embora Portalegre tivesse sofrido uma perda de 
população devido a uma inundação pelo rio pró­
ximo, Vila Viçosa e Prado ainda existiam e eviden­
temente mantinham a sua forma urbana origi­
nal.14
O entusiasmo de Monteiro por um estilo 
de vida europeu foi emulado por um contem-
72
P l a n if ic a d or e s e r e f o r m a d o r e s
poráneo seu no Sul do Brasil, Luís Antônio 
de Souza. Pouco depois de assumir o governo 
de São Paulo, Souza anunciou suas intenções de 
reformar comunidades antigas, reunindo pes­
soas errabundas e estabelecendo novos núcleos 
urbanos por todo o Sul do Brasil.15 O resultado 
seria tornar a capitania de São Paulo econômica 
e defensivamente mais forte, embora, como ob­
servou Dauril Alden, Souza também estivesse 
interessado em notabilizar-se.16 Apesar de suas 
ambições irritarem vários de seus colegas gover­
nadores de capitanias e de o seu atrevimento 
ter lhe valido ser considerado um petulante pelo 
vice-rei, o Marquês de Lavradio, A ntônio de 
Souza prosseguiu vigorosamente com os seus 
planos de construção de vilas e obteve um êxito 
razoável.
O programa de construção de novas vilas 
no Sul foi dividido em três etapas: primeiramen­
te seria criado um sistema de vilas na estrada cos­
teira e das montanhas do Sul; em segundo lugar, 
antigas comunidades indígenas seriam transfor­
madas em unidades urbanas viáveis; e, final­
mente, uma rede de fortificações seria construída 
e associada às populações residentes nas proxi­
midades. A primeira fase foi iniciada pouco de­
pois de Souza assumir o seu cargo e foi objeto de 
uma extensa correspondência entre o gover­
nador e o Marquês de Pombal. Em 25 de de­
zembro de 1766, Antônio de Souza escreveu ao 
ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, 
o Marquês de Pombal, comunicando que havia 
mandado construir seis novas comunidades em 
áreas vantajosas “pela localização estratégica, 
conforto e fertilidade dos solos”. A primeira de­
las seria localizada na faixa arenosa onde o rio 
Piracicaba confluía com o Tietê, dez léguas a 
oeste da última aglomeração fundada na zona. 
A segunda vila, Botucatu, seria edificada na es­
trada de Cuiabá, na esperança de restituir a pros­
peridade que as terras outrora cultivadas haviam 
tido antes da expulsão dos jesuítas. Uma terceira 
comunidade, Faxina, seria fundada na estrada 
que ia de São Paulo a Curitiba, mais a oeste de 
Sorocaba, já existente; propunha-se uma quarta, 
Lages, na estrada que partia de Curitiba para o
sul, em direção a Viamào, em Rio Grande de São 
Pedro. As últimas duas vilas desse sexteto seriam 
comunidades pesqueiras, uma na angra de Gua- 
ratuba, abaixo de Paranaguá, e a outra entre 
Iguape e Cananéia.”
Não vem ao caso descrever os muitos pro­
blemas com que o próprio governador se viu a 
braços. Independentemente deles, é possível 
examinar o seu programa de construção de vilas 
a fim de obter uma intelecção do processo urba­
no. A espinha dorsal do plano de Souza era o 
agrupamento de todos os recursos humanos das 
áreas assinaladas para o desenvolvimento urba­
no; ordenou-se que todo mundo vivesse em “po­
voações civis”, por definição uma localidade de 
mais de 50 lares (casas).1* Ao mesmo tempo, o 
governador de São Paulo determinou que as no­
vas vilas criadas sob os seus auspícios não seriam 
apenas pontos de reunião de moradores, mas 
ostentariam toda a sofisticação urbana e ordem 
do seu tempo. Essa predileção pelo desenvolvi­
m ento urbano regulamentado é patente na 
correspondência de Souza com o juiz de fora 
de Santos, em que este foi instruído a providen­
ciar que de então em diante toda construção na­
quela comunidade portuária obedecesse às nor­
mas urbanas preceituadas. O pensamento do 
governador é claro e revelador:
Uma das coisas de que os países mais adianta­
dos costumam cuidar atualmente é da simetria 
e harmonia das edificações que estão surgindo 
em cidades grandes e pequenas, de modo que, 
da sua aparência (disposição), resulte não só o 
conforto público, mas também o prazer, com os 
quais as aglomerações se tornam mais atraentes 
e apropriadas, sabendo-se da boa ordem com 
que essas edificações são dispostas, da discipli­
na [polícia] e cultura de seus habitantes.”
Para com as novas vilas que patrocinou, 
Souza foi igualmente exigente no cumprimento 
dos alinhamentos urbanos prescritos. Com 
referência a isso, é particularmente interessan­
te observar que, no caso de Mathias Leme, anti­
go fazendeiro que vivia no campo com seus dois 
filhos, o governador determinou não só que ele 
se mudasse para uma “povoação civil”, mas para
73
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
Fig. IS - Planta básica de Guaratuba, Paraná, final do século XVIII
uma que já estivesse arruada (demarcada).20 
Consoante o governador, só depois que um nú­
mero suficiente de casas tivesse sido demarcado 
ao longo de ruas alinhadas é que se poderia con­
ceder oficialmente o título de vila a uma povoa­
ção.21 Em concordância com isso, quando surgiu 
a questão de optar entre Mogi-Guaçu e Mogi- 
Mirim para elevar à categoria de vila, Souza 
escreveu às autoridades daquela povoação suge­
rindo sutilmente que, se elas transferissem os 
seus habitantes para um local plano próximo e 
depois construíssem casas em ruas demarcadas, 
então Mogi-Guaçu recebería o pelourinho e 
todos os privilégios competentes, em vez de 
Mogi-Mirim, que na realidade estava em melho­
res condições.22
Atrair povoadores para as suas novas co­
munidades, apesar da sua aparência ordenada, 
não foi tarefa fácil para o governador. Como estí­
mulo para induzir colonos para o arraial de Guara­
tuba, Souza mandou afixar cartazes na vila de Para­
naguá, que ficava perto, anunciando que o governo 
daria terra e instrumentos agrícolas aos voluntários. 
Além disso, os novos habitantes seriam dispensados 
do recrutamento para o exército por um período 
de dez anos, e não seriam obrigados a prestar qual­
quer outro serviço.25
Evidentemente o programa foi bem-suce­
dido, pois em 1768 Souza pôde comunicar ao 
seu superior que a comunidade tinha sido funda­
da com “água boa e com exposição ao sol do la­
do norte”.24 Além disso, 70 casas já haviam sido
7 4
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
alinhadas nas ruas da comunidade fFigura 18).25 
Dois anos depois a povoação foi constituída em 
vila, e as autoridades locais foram instruídas a 
adaptar uma casa da câmara e uma cadeia na sua 
conformação física. A outra comunidade litorânea, 
Subaúna, fundada entre Iguape e Cananéia, também 
foi construída “com modernidade”, de acordo com 
um relatório de 1775, embora esse documento 
mencione que suas edificações, em estado deplo­
rável, estivessem em reparos.26
A criação da comunidade de Lages apresentou 
empeços muito maiores. Em 1766 Luís Antônio 
de Souza nomeou o capitâo-mor Antônio Correa 
Pinto superintendente da construção daquele nú­
cleo.27 Prometeu-lhe uma grande residência na nova 
comunidade e pôs um pedreiro-canteiro e um car­
pinteiro a seu serviço, tudo às expensas do gover­
nador. Este até doou uma estátua de Nossa Senho­
ra pintada a óleo, tirada da sua coleção particular, 
para a futura igreja.28
Mesmo assim, malgrado o evidente entu­
siasmo do governador, os trabalhos na nova vila 
demoraram a começar, em parte devido à relu­
tância de Correa Pinto em se mudar para o novo 
local29, mas também em decorrência dos litígios 
jurisdicionais provocados pelos governos de 
Santa Catarina e São Pedro.50 Dois anos depois, 
em 1768, o governador viu-se obrigado a man­
dar todos os moradores das circunjacências de 
Lages a se mudarem para a nova comunidade, 
caso contrário seriam expulsos da zona.51 Em ­
bora a comunidade finalmente tenha sido funda­
da, há uma certa incerteza entre os historiadores 
quanto a se o capitão-mor Correa Pinto cumpriu 
ou não as leis de planejamento urbano.52 Um 
relato do século XIX afirma que a área foi arrua­
da de acordo com as instruções do governador 
Souza55; no entanto, Victor Peluso, especialista 
em geografia urbana da atualidade, sustenta que 
a malha urbana quadrangular só foi implantada 
em Lages no meado do século XIX.54 Outros 
ainda afirmam que a vila foi deslocada do seu 
local primitivo, abrindo-se caminho, assim, para 
a instauração da desordem urbana.55
O caso de Lages pode ser considerado uma 
decepção para o governadorde São Paulo. Mes­
mo assim ele não desanimou de continuar apli­
cando suas idéias urbanas em larga escala. Seus 
planos para antigas aldeias indígenas constituem 
excelentes exemplos da plena amplitude da sua 
ambição. Por exemplo, para o extremo oeste do 
atual estado do Paraná, ele concebeu um sistema 
de povoações que, segundo ele, poderíam ga­
rantir o controle português no território. O nú­
cleo desse piano era a serra de Apucarana, uma 
zona triangular emoldurada pelos rios Parana- 
panema e Tibagi. Em resposta a uma carta do 
seu superior proibindo os paulistas de procu­
rarem riquezas minerais nessa área montanho­
sa, Souza defendeu suas razões para implantar 
urgentemente postos avançados nessa zona 
remota. Em segredo absoluto, ele estabelecería 
arraiais de índios e erradios a intervalos de dez 
léguas. Tomando como modelo o grande número 
de vilas e aldeias criadas no Pará (e enaltecendo a 
contragosto o êxito de Mendonça Furtado), o 
governador de São Paulo propunha-se a criar 
arraiais agrícolas nos matagais, tão ricos e se­
dutores atrairíam não apenas os habitantes das 
redondezas, mas até os índios das missões je- 
suíticas espanholas próximas. Ele vaticinava que 
estes
nos virão procurar quando se derem conta de 
que entre nós eles são homens como todo mun­
do e são tratados como tais, ao passo que os es­
panhóis os tratam como animais, privando suas 
mulheres e filhos da liberdade e espoliando-os 
de seus bens, sem deixá-los possuir nada.54 
Poucos anos depois, Souza criou coragem 
e escreveu diretamente a Mendonça Furtado, 
agora ministro das Colônias em Lisboa, pedindo 
ao antigo urbanizador do Pará orientações sobre 
a organização de comunidades indígenas. Na 
mesma carta, o governador, aproveitando sagaz­
mente a oportunidade, informou o ministro de 
que os recursos disponíveis em São Paulo para 
a criação dessas vilas eram minguados. Tocando 
num ponto sensível do modo de pensar do anti­
go administrador, Souza insinuou que talvez os 
portugueses tivessem sido negligentes nas suas 
responsabilidades de criar novas vilas e exortou- 
os a povoarem o Brasil “na mesma medida em
7 5
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
que os espanhóis haviam feito na América his­
pânica”.
O apelo do governador provavelmente foi 
bem acolhido, pois no ano seguinte ele ordenou 
a criação da aldeia indígena de Carapicuíba.35 
Além disso, nessa mesma época o governador 
começou a executar a sua proposta de povoações 
fortificadas no rio Iguatemy. Em virtude de essa 
zona ficar a um alcance de tiro surpreendente­
mente curto das terras dominadas pela Espanha, 
era forçoso que essas comunidades fossem forti­
ficadas, bem como auto-sustentáveis. Pequenos 
agrupamentos de sete ou oito famílias seriam 
dispostos nas adjacências do forte a distâncias 
especificadas; esses agrupamentos constituiríam 
uma linha de defesa avançada da povoação prin­
cipal.
Mesmo sofrendo oposição ao seu plano39, 
Souza conseguiu ver o seu projeto executado.
As plantas de Iguatemy mostram uma praça for­
te que não difere das guarnições renascentistas 
do século XVI que os portugueses construiram 
na índia. Uma muralha inclinada com redentes 
(projeções triangulares) circunda um conjunto 
uniforme de quadras internas; a praça rpincipal 
não está exatamente no centro (Figura 19).4(1
Durante toda a sua carreira, que durou até 
1775, Antônio de Souza lutou para cobrir o seu 
território com comunidades primorosas e bem 
ordenadas. Perto do fim do seu mandato, ele 
exortou os administradores que nomeara a ter­
minarem as cidades planejadas nas primeiras fa­
ses do seu programa41 e a iniciarem a cosntrução 
de outras mais, em conformidade com os cânones 
em voga do bom desenho urgano.42 O go­
vernador atribuiu uma função a cada grupo dê 
comunidades assim criadas. As vilas situadas 
mais a oeste eram necessárias como trampolins
Flg. 19 - Planta da praça forte de Iguatemy, aproximadamente 1785
7 6
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
para as terras espanholas e também 
para fornecer suprimentos e servir de 
ponto de descanso para mineradores 
esperançosos. Entre Cuiabá e Soroca­
ba, Souza esperava incentivar o cresci­
mento da produção pecuária e o fabri­
co de artigos de couro. Em relação ao 
sul e às vilas mais antigas dentro do 
seu âmbito de influência, o governador 
fomentou a agricultura intensiva basea­
da no cultivo de arroz, algodão e trigo.43
Como planificador de vilas, An­
tônio de Souza pertence àquela clas­
se especial de administradores que não 
apenas patrocinaram povoações como 
procuraram dotar tais projetos de um 
princípio diretor de base mais ampla. 
Junto com Mendonça Furtado, Luís An­
tônio de Souza coloca-se entre os pri­
meiros a aderirem ao axioma setecen- 
tista de que o bom governo era favore­
cido pelo crescimento urbano super­
visionado.
N o Oeste do Brasil, Luís de Albu­
querque Melo Pereira e Cáceres, gover­
nador de Mato Grosso e um dos ex­
poentes da planificação de vilas, não 
era menos entusiasta pela criação de 
novas comunidades que seus confrades 
de Porto Seguro e São Paulo. O seu 
programa para transformar a capitania 
numa região viável e auto-sustentada 
do império português estava estreita­
mente ligado às ambições já sistemati­
zadas do governo relativas à via fluvial 
comercial Guaporé-Madeira-Belém. 
Como David M. Davidson mostrou no 
seu excelente estudo do sistema comer­
cial do Madeira,
Fig. 20 - Planta básica de Albuquerque (atualmente Corumbá), Mato 
Grosso do Sul, 1784
os portugueses pretendiam pôr em 
prática uma espécie de projeto de 
desenvolvimento regional à maneira 
do Século XVIII que... implicava em graus mais 
detalhados de planejamento estatal para uma 
utilização racional de recursos escassos.44
Segundo Davidson45, enquanto o volume 
do comércio no rio Madeira não satisfez às ex­
pectativas durante as décadas de 1750 e 1760, a 
Coroa continuou a patrocinar a criação de feito-
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
Fig. 21A - Planta básica e situação de Vila Maria do Paraguay, cm Mato Grosso, 1784
rias (entrepostos comerciais) ao longo do rio. 
Duas dessas comunidades, São Miguel e Balse- 
mão, apresentadas inicialmente como modelares 
da nova organização urbana, haviam sido cons­
truídas na década de 1760.44 Nos anos 1770, quan­
do Luís de Albuquerque assumiu o seu posto, 
Pombal já havia traçado um programa abran­
gente para o rio que visava a revitalizar a via 
comercial. A fim de consolidar o comércio e 
evitar a má administração reinante, ele reco­
mendou que Mato Grosso restringisse o comér­
cio com o Rio de Janeiro, Salvador e outros por­
tos costeiros, privilegiando a comunicação com 
Belém do Pará. Porém muito mais notável foi a
Fig. 21 B - Ilustração do àa-a-dia em Vila Maria do Paraguay
7 8
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
sua sugestão de que o comércio tomaria maior 
impulso se se utilizasse essa via fluvial para o 
tráfico de contrabando, sancionado pelo Estado, 
com as províncias espanholas de Quito, do Peru 
e do Orenoco.47
Esse plano secreto estava em operação 
quando Luís de Albuquerque foi nomeado go­
vernador. Sua função dentro do plano do co­
mércio pelo rio Madeira era fiscalizar o tráfe- 
godo rio e criar comunidades que pudessem fun­
cionar como entrepostos das mercadorias que 
chegavam das missões espanholas próximas. 
O progresso dessas novas povoações foi rápido, 
em boa parte devido ao zelo incansável do go­
vernador. Embora se houvesse predito que logo 
os espanhóis forneceríam aos portugueses rique­
zas preciosas (principalmente prata contraban­
deada das minas do Peru), na prática o comércio 
revelou-se medíocre. Como Davidson explica, 
as missões forneciam quase que somente gado 
em pé,... que, embora normalmente em falta 
em Mato Grosso,... era um sucedâneo decep­
cionante das riquezas da América espanhola.48 
Se hoje, decorridos mais de 200 anos, essa 
observação é de uma clareza meridiana, tal possi­
bilidade certamente não fora levada emconta 
nos cálculos do governador, que se apressava 
em construir as suas comunidades na suposição 
de um futuro próspero garantido. Dois dos cen­
tros de comércio projetados foram fundados na 
região do Pantanal ao sul de Cuiabá, numa zona 
escassamente colonizada até aquela época. Albu­
querque, um arraial que representava o posto 
mais avançado do domínio português, foi cons­
truído para abrigar tanto índios como soldados. 
Seu aspecto geral, de disciplina e rígida organiza­
ção militar (Figura 20)49, estava em conformi­
dade com a sua função estratégica. A segunda 
povoação, Vila Maria do Paraguay, localizada a 
sudoeste de Cuiabá, no rio Paraguai, era forma­
da por casais indígenas, embora o governador 
esperasse posteriormente trazer famílias açoria- 
nas.50 Consoante as metas fixadas no termo de 
fundação, a nova vila atuaria como um ímã para 
os colonos dispersos nas circunjacências ime­
diatas; na realidade, vários habitantes da comu­
nidade eram índios da província espanhola de 
Chiquitos atraídos pelos portugueses.'1
Como Albuquerque, que recebeu o sobre­
nome do governador, Vila Maria era um modelo 
de regularidade e padronização (Figura 21)52. 
Supondo que o traçado seria seguido fielmente, 
Albuquerque enviou um carpinteiro ao local jun­
to com os engenheiros militares de costume. 
Uma estampa da vila, desenhada algum tempo 
depois da sua fundação, fornece um instantâneo 
notável da afanosa atividade cotidiana nas novas 
povoações. Nesse escorço (Figura 21B), vê-se 
uma longa praça ladeada por duas alas opostas 
de casas iguais. No primeiro plano, alguns índios 
estão lavando roupa no rio, enquanto uma canoa 
conduzindo portuguêses desliza diante deles a 
impressão imediata é de uma prosperidade bucó­
lica, um ideal que Albuquerque evidentemente 
imaginava estar reservado a todos os seus proje­
tos urbanos. Em 1783, cinco anos depois da 
fundação de Vila Maria e Albuquerque, o gover­
nador criou a comunidade de Casalvasco, num 
local oito léguas ao sul de Vila Bela. O sítio era 
uma estância predileta do governador, que 
passava uma temporada ali todo ano com seu 
círculo de amigos e sua família.53 Porém, do 
ponto de vista geopolítico, o mais importante 
era que Casalvasco ficava numa zona recente­
mente arrancada dos espanhóis pela comitiva de 
fronteiras responsável pela demarcação dos 
limites do Tratado de 1777.54 Albuquerque esta­
va ansioso por ocupar esse território, principal­
mente depois que os espanhóis relocalizaram a 
sua Missão de Santa Ana inquietantemente perto 
das terras reclamadas pelos portugueses.55 A co­
munidade de Casalvasco, “uma pequena povoa­
ção vulgar” dedicada principalmente à criação 
de gado, desempenharia assim um papel duplo, 
desencorajando as ambições espanholas obser­
vadas.56
A planta de Casalvasco, como convinha à 
estação de férias do governador, era de um estilo 
quase monumental; as edificações foram dis­
postas metodicamente em várias unidades bem 
definidas, mas articuladas. A primeira delas, a 
Praça da Victoria, quadrada e com um lado aber-
7 9
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
Fig. 22 - Planta básica dl Casalvasco, Mato Grosso do Sul, 1782
to, era contornada em três lados por uma fileira 
singular de árvores; nela estavam habitações para 
índios que dantes foram súditos da Espanha, o 
quartel para os soldados, os alojamentos dos ofi­
ciais, a residência do governador e o hospital. A 
segunda praça, também aberta de um lado, era 
igualmente orlada de árvores, mas era de nature­
za residencial. Atrás dessas praças ficava um 
largo passeio público ajardinado ladeado por 
duas alas de habitações com as frentes voltadas 
para ele; nos fundos de cada moradia havia um 
quintal para pomar nitidamente demarcado (Fi­
gura 22) ,57
Longe de ser apenas “uma pequena povoa­
ção vulgar” , Casalvasco revelou-se a única das 
três novas vilas que participou ativamente do
tráfico de contrabando com os espanhóis.5* Vila 
Maria e Albuquerque, que se esperava desem­
penhassem um papel importante no comércio, 
foram superadas por Vila Bela e a fortificação 
próxima de Príncipe da Beira.59 Em contra-parti- 
da, as outras comunidades, em conjunto, funcio­
naram bem como um sistema de abastecimento 
e comércio independente do tráfico de contra­
bando. É bem possível que o governador real­
mente tenha previsto a possibilidade de fracasso 
da via fluvial do Madeira e tenha planejado essa 
rede regional de vilas nas zonas sulinas da sua 
capitania como uma precaução contra o desastre 
econômico. Acresce que, em virtude de todas 
as mercadorias, por lei, terem de vir do Pará, 
numa demorada e dispendiosa viagem, era sen­
80
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
sato tornar a região de Mato Grosso tão auto- 
suficiente quanto possível. A rede foi calculada 
m eticulosam ente: A lbuquerque p roduziría 
gêneros alimentícios e madeira para constru­
ção; Casalvasco fornecería gado e sal, bem co­
mo salitre (nitrato de potássio ou sódio) para o 
fabrico de pólvora para o Forte de Príncipe da 
Beira. Vila Bela, dedicada ao comércio com as 
províncias espanholas, absorvería a produção 
de Casalvasco, enquanto Vila Maria e A lbu­
querque serviríam o crescente mercado de Cuia­
bá.60 Em 1786 um engenheiro em visita a Albu­
querque observou que essa povoação já havia 
produzido safras extraordinárias de milho e 
feijão e tinha estabelecido uma indústria cam- 
pestre de tecelagem de algodão, cuja produ­
ção era barganhada em Cuiabá por artigos de 
luxo.61
A sabedoria ao programa do governador 
Albuquerque é patente ainda hoje: enquanto Vila 
Bela (o centro de permuta de contrabando) teve 
a sua importância ofuscada, finalmente caindo 
em decadência em meados do século XIX, os 
centros de abastecimento de Albuquerque (hoje 
Corumbá, em Mato Grosso do Sul, Figura 23)62 
e Vila Maria (a atual Cáceres, em Mato Grosso) 
são cidades importantes. Não só dotando as 
novas aglomerações de instalações excelentes, 
projetadas com vistas a perdurar, como também 
assegurando uma função econômica diferente a 
cada uma delas, Luís de Albuquerque revelou- 
se um dos melhores planificadores regionais do 
período colonial.
Um último administrador esclarecido desse 
período é digno de menção: Luís da Cunha Me­
nezes, governador de Goiás de 1778 a 1783.
Fig. 23 - Planta básica de Corumbá (antiga Albuquerque), em Mato Grosso do Sul, 1786
81
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
Fig. 24 - Planta básica ia Alicia Maria para os índios caiapós, Goiás, 1782
Como seus coirmãos supracomentados, Mene­
zes considerava a disposição urbana ordenada 
como um instrumento eficaz para manter con- 
' trole sobre os seus governados. Isso é evidente 
na comunidade regulamentada que ele planejou 
para os índios caiapós, recentemente pacifica­
dos (Figura 24)“ , e em São José de Mossamedes 
(Figuras 25A e 25B)64, uma povoação indígena a 
oeste de Vila Boa. Em Mossamedes, a monoto­
nia costumeira das comunidades construídas 
pelo governo foi atenuada pelo detalhe decora­
tivo de cornijas festonadas nos prédios dos lados 
norte e sul da praça principal. Além disso, o 
lado sul foi ornamentado com uma arcada de 
dois estágios rebuscada que lembrava a entrada 
da praça do Comércio, em Lisboa. Outro ornato 
original eram as torres localizadas nos cantos
da praça. Consoante a legenda da Figura 25A, 
“a perfeição tanto do exterior como do interior” 
devia ser imputada ao governador Menezes. 
Entretanto, os melhores esforços do governador 
no campo da planificação urbana concentraram- 
se em Vila Boa, a capital da província. Apesar 
de essa vila ter sido uma das primeiras comuni­
dades subordinadas ao código urbano, era dolo­
rosamente claro para o governador, quando ele 
assumiu o governo em 1778, que as ordens ini­
ciais não haviam sido obedecidas. Seu antecessor 
no governo de Goiás, José de Almeida de Vas­
concelos, tinha tentado reformar um pouco a 
vila durante o seu mandato (1772-1778), mas 
havia se contentado com pequenos melhoramen­
tos napavimentação das ruas e com o reparo 
da ponte.65 Cunha Menezes atacou o problema
8 2
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
Í M i Í “Í “Í ) J y , í l M - M I - t
Fig. 25 A - Detalhe de São José de Mossamedes, Goiás, 1801
Fig. 25 B - Planta básica em perspectiva de São José de Mossamedes, 1801
8 3
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
com seu extraordinário entusiasmo e sua predile­
ção pela perspectiva ordenada. Numa declara­
ção clássica dos objetivos da planificaçâo de vilas 
portuguesas, o governador explicou ao ouvidor 
da comarca de Vila Boa as razões por que a co­
munidade precisava ser realtnhada. Relacio­
nando a regularidade da configuração das ruas 
com a regularidade do comportamento, Luís da 
Cunha Menezes expôs a teoria de que a boa ad­
ministração começava com a construção de vilas 
correta. Se uma perspectiva agradável pudesse 
ser conseguida por meio do alinhamento das 
ruas e da uniformização das fachadas, então se 
podia esperar que os habitantes da localidade 
seguissem o exemplo mostrassem uma conduta 
civil decente. Assim sendo, o governador propu­
nha que daí por diante todos os prédios a cons­
truir e reconstruir em Vila Boa se ajustassem a 
um plano diretor, para que a capital provincial 
pudesse compartilhar “do sistema praticado em 
todas as nações mais civilizadas da Europa”.* 
A intenção do plano diretor de Menezes é 
enunciada claramente no parágrafo inicial da sua 
legislação de planejamento:
Desejando evitar doravante a mesma irregula­
ridade com que os fundadores desta capital 
construíram os prédios, que estão estragados 
pelo desalinhamento,... eu determino que a 
partir de agora a nova forma apresentada nos 
parágrafos a seguir seja cumprida sem infrações, 
do que resultarão benefícios, não só para a po­
voação em si como para os seus habitantes.”
A primeira prescrição da lista de reformas urba­
nas do governador foi a exigência de que não se 
podería mais construir fora do perímetro urba­
no, visto que muitas das ruas já existentes eram 
pouco povoadas. Além disso, todas as novas 
habitações não só tinham de ser localizadas em 
ruas alinhadas como deveríam obedecer às nor­
mas relativas à uniformidade das fachadas, a fim 
de manter “uma perspectiva agradável e a civili­
zação”. Para a praça da vila onde o alto custo 
impedia a reconstrução das casas dentro das 
“novas proporções”, o governador recomendou 
que todos os prédios fossem pintados numa 
mesma cor, obtendo-se assim uma aparência de
regularidade. O arruador da vila (fiscal demar- 
cador) foi encarregado da execução do projeto; 
ele seria orientado por um plano diretor68 que 
continha desenhos de ruas recém-mapeadas e 
de fachadas possíveis para os prédios da praça 
principal. A regularidade dos novos elementos 
urbanos representava um contraste total com 
o núcleo aleatório da vila, resultante da cons­
trução apressada dos anos 1730.
Como seus contemporâneos José Xavier 
Machado Monteiro, Antônio de Souza e Luís 
de Albuquerque, Luís da Cunha Menezes estava 
convicto da necessidade de regulamentar o de­
senvolvimento urbano. Trabalhando em regiões 
geograficamente longínquas e economicamente 
atrasadas da colônia, esses administradores con­
seguiram criar redes urbanas “modernas” e eco­
nomicamente eficientes. Os índios e os erra- 
bundos afetados por esses planos regionais fo­
ram submetidos a um meio europeu até então 
desconhecido nas zonas provincianas. O obje­
tivo final desses administradores era aquele 
atributo impalpável de “civilização”; e uma co­
munidade urbana estritamente controlada era 
o primeiro passo para introduzir aquele atributo 
no Brasil. Porém, racionalizações altruísticas à 
parte, era claro que a Coroa é que tinha a ga­
nhar, como a maior beneficiária das mudanças 
introduzidas no interior; ordem e regularidade 
no nível local assegurava o controle absoluto 
sobre toda a colônia.
(1) Uma grande parte do material deste capítulo 
foi publicada em “Planners and Reformers: 
Urban Architects of Late Eighteenth Centu­
ry Brazil”, de Roberta Marx Delson, in 
Eigbteentb-Century Studies, vol. 10, na 1 (outono 
de 1976), pp. 40-51.
(2) Ver também minha comparação dos planos 
de colonização pós-1964 com as colônias sub­
sidiadas do século XVIII. R. M. Delson, “Co­
lonization and Modernization”, op. cit., pp. 281- 
313.
8 4
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
(3) Tomás Canceiro de Abreu, “Relação sobre as 
villas e rios da Capitania de Pôrto Seguro”, in 
ABNRJ, vol. XXXII (1914), p. 38.
(4) Relatório do Ouvidor de Porto Seguro, José 
Xavier Machado Monteiro, Porto Seguro, abril 
de 1773. AHU-CA, Bahia, 8581.
(5) “Leis municipais e provinciais para o bom go­
verno da nova Vila Viçosa”, de 24 de fevereiro 
de 1769. AHU-CA, 7974, apenso ao 7972.
(6) Essa determinação seguiu os padrões gerais de 
comportamento estabelecidos pelos portugue­
ses para as comunidades indígenas. Ela é men­
cionada nas “Instrucções para o governo dos 
índios da Capitania de Pôrto Seguro” enviadas 
a Machado Monteiro, documento datado de 
27 de julho de 1777. AHU-CA, Bahia, 9494, 
anexo ao 9492.
(7) Carta de Machado Monteiro ao Rei, de Porto 
Seguro, 24 de fevereiro de 1769. AHU-CA, 
Bahia, 7972.
(8) Ibidem, “. . . o devido formulário”.
(9) Figura 15 - Planta básica de Vila Viçosa, apro­
ximadamente 1769. AHU-Iria, na 179; Figura 
16 - Planta da nova vila de Portalegre, apro­
ximadamente 1772, AHU-Iria, na 180;
Figura 17 — Planta da nova vila de Prado, 
aproximadamente 1772, AHU-Iria, n° 181.
(10) Ver a explanação sobre Macapá.
(11) Carta de Machado Monteiro ao Rei, de Porto 
Seguro, 10 de maio de 1770. AHU-CA, Bahia, 
8215.
(12) Por este modo . . . todos os moradores (ficão) 
huns sem inveja dos outros.” In “Provimentos 
e instrucções do Ouvidor... Machado Montei­
ro, relativos a fundação da Villa Viçosa”, Porto 
Seguro, 1768, AHU-CA, Bahia, 7975.
(13) “Relação individual d o . . . Ouvidor da Capita­
nia de Porto Seguro... desde o dia 3 de maio 
de 1767 athé o fim de Julho de 1777”, AHU- 
CA, Bahia, 9147.
(14) De acordo com o “Mappa e descripção da Cos­
ta, Rios e seus terrenos, de toda a Capitania de 
Porto Seguro... feito e examinado pelo Capi- 
tão-mor João da Silva Santos... Principiado em 
abril de 1803”. AHU-CA, Bahia, 27.113, apen­
so ao 27.008.
(15) Carta de Dom Luiz Antônio de Souza ao Con­
de de Oeiras (um dos dois títulos nobiliárquicos 
do Marquês de Pombal), de São Paulo, 23 de 
dezembro de 1766.
(16) Dauril Alden, Rmai Government in Colonial tíraril 
p. 460.
(17) Carta de Souza ao Conde de Oeiras, de São 
Paulo, 24 de dezembro de 1766, DIHSP, vol. 
XXIII, pp. 40-43.
(18) “Ordem para que os moradores se ajuntem em 
Povoações civis de cincoenta vizinhos para ci­
ma”. Souza faz referência a essa ordem na sua 
correspondência com o Conde de Oeiras de 23 
de dezembro de 1766. DIHSP, vol XXEU, p 8.
(19) “Portaria que levou o D.or Juiz de Fora quan­
do foi para Santos”, de São Paulo, 15 de se­
tembro de 1766. BNRJ-RC, Lista 1, fls. 67-68v.
(20) Mathias Leme tinha o prazo de 15 dias para 
se mudar para “qualquer lugar arruado”. São 
Paulo, 19 de setembro de 1768, BNRJ-RC, 
Lista 1, fl. 164.
(21) Em 1769 Souza resolveu que o arraial de Fa­
xina, situado entre Curitiba e Sorocaba, tinha 
“bastante numero de moradores, e suficien­
tes cazas arruadas para se lhe poder dar o 
nome de Villa”, BNRJ-RC, Lista 1, fl. 164. 
São Paulo, 29 de junho de 1769.
(22) “Ordem p.a Se Suspender a Capela de S. 
Ant.o de Mogiguasu...”. São Paulo, 15 de 
novembro de 1769. BNRJ-RC, Lista 1, fls. 
178v-179.
(23) Correspondência do Ouvidor de Parnagoa 
[sic\ a Luís Antônio de Souza, de Santos, 2 
de fevereiro de 1766. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 
24. Essa isenção incluía tanto os ajudantes 
como os ordenanças.
(24) Correspondência de L. A. de Souza ao Conde 
de Oeiras, de São Paulo, 9 de fevereiro de 
1768, DIHSP, vol. XXTTT, p. 418.
(25) Planta de Guaratuba in “Cartas Corogra- 
phicas e Hidrographicas de toda a Costa e 
Portos da Capitania deSão Paulo... levan­
tadas pelo Coronel João da Costa Ferreira” 
(1790?). SGL, MS, na 57.
(26) “Officio de José Custódio de Sá e Faria ao 
Capitão-General Martim Lopes Lobo de Sal­
danha”, de São Paulo, 22 de fevereiro de 
1776. AHI, Lata 267, Maço 6, Pasta 17.
(27) Correspondência de Luís Antônio de Souza 
ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 24 de de­
zembro de 1766, DIHSP, vol. XXIII, p. 38.
(28) Correspondência de Luís Antônio de Souza 
ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 24 de de­
zembro de 1766. DIHSP, vol. XXIII, p. 38.
8 5
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
(29) Esse tato foi assinalado por L. A. de Souza 
em sua carta ao Conde de Oeiras de São Pau­
lo, 27 de março de 1767. DIHSP, vol. XXIII, 
p. 150.
(30) Os termos (limites legais) de Curitiba, em 
Santa Catarina, e Viamão, em Rio Grande 
de São Pedro, não haviam sido fixados defini­
tivamente. Assim sendo, quando Luís Antô­
nio de Souza autorizou o capitão-mcr Antô­
nio Correa Pinto a localizar uma nova comu­
nidade entre esses dois núcleos urbanos já 
existentes, automaticamente lançou o seu 
agente num litígio jurisdicional inconcluso. 
Ver Américo Brasilense Antunes de Moura, 
“Governo do Morgado de Mateus no vice- 
reinado do conde da Cunha: São Paulo res­
taurado”, in Revista do Arquivo Municipal (São 
Paulo), vol. U I (1938), pp. 9-155.
(31) “Ordem para que todos os moradores do 
Certão das Lagens fação Cazas na Villa que 
se manda formar naquela paragem”, de São 
Paulo, 6 de agosto de 1768. BNRJ-RC, Lista 
1, fl. 131v.
(32) Os conceitos de planejamento de L. A. de 
Souza para Lages estão especificados na sua 
“Portr.a para formatura da nova Villa do 
Certão das Lagens”, de Ia de agosto de 1768. 
BNRJ-RC, Lista 1, fl.131. Consoante esse 
documento, o governador de São Paulo 
ordenou que “esta [Lages] seja formada em 
quadras de sessenta, ou oitenta varas [metros] 
cada hua, e dahy para cima, e que as ruas 
sejão de sessenta palmos de largura, mandan­
do formar as primeiras cazas nos ângulos das 
quadras, de modo que fiquem os quintaes 
p.a dentro a intestar huns com os outros”. 
Esse desenho, em que os cantos das quadras 
seriam chanfrados, pode parecer muito com 
a planta de Balsemão (cf. Figura 10).
(33) Manuel Joaquim Almeida Coelho, Memória 
Histórica da Província de Santa Catharina 
(Typographia Desterrense, Desterro, 1865), 
pp. 178-179. Um esquema do século XVIII 
da comunidade encontrado no “Diário da 
rotina da expedição exploradora chefia­
da pelo Brigadeiro José Custódio de Sá Fa­
ria, 1774-1776” (AHI, Lata 288, Maço 6, 
Documento 1) confirma o emprego de uma 
disposição em malha ortogonal no traça­
do inicial. O governo atualmente proíbe a
reprodução desse mapa em virtude da cate­
goria em que o documento foi classificado
(34) Victor Peluso Júnior, “Tradição e plano urba­
no: cidades portuguesas e alemãs no estado 
de Santa Catarina”, ir. Boletim Geográfico, ano 
XIV n“ 133 (1956), pp. 3.35, 352 et passim.
(35) DIHSP, vol. XXIII, p. 42, n2 1. Essa parece ser 
a explicação mais plausível.
(36) Correspondência do governador L. A. de Souza 
ao Conde de Oeiras, de São Paulo, 17 de se­
tembro de 1765. AHI, Lata 267, Maço 6, Pasta 
12. A sua descrição mordaz da vida dos índios 
entre os jesuítas não é diferente da de Robert 
Southey, que publicou um relato do Brasil no 
começo do século seguinte. Ver o subtítulo 
“The Guarani Mission: The Despotic Welfare 
State” (A missão guarani: o despótico Estado 
do bem-estar social) da sua History of Brafil (2 
vols., Londres, 1817), reeditado em Magnus 
Mõmer (editor), The Expulsion of the Jesuitsfrom 
Latin America (Alfred A. Knopf, Nova York, 
1965), pp. 55-62.
(37) Correspondência de L. A. de Souza a Francisco 
Xavier de Mendonça Furtado, de São Paulo, 4 
de julho de 1767. BNRJ-RC, Lista 2, fl.7.
(38) “Ordem p.a ser Director José Fry da Aldea de 
Carapicuiba”, São Paulo, 12 de julho de 1769. 
BNRJ-RC, Lista 1, fl. 165v. De acordo com 
essa ordem, os índios deveriam ser reunidos e 
receber casas em ruas alinhadas a fim de poder 
viver com a “civilidade apropriada”.
(39) Uma análise dessa oposição pode ser encon­
trada em Dauril Alden, Rojai Government in 
Colonial Brafil, pp. 462-465.
(40) Figura 10 - “Demonstração da Praça de N. 
S.ra dos Praseres”, BNRJ-SI, Arq. 23-10-6 (o 
forte é mencionado ora como Praseres, ora 
como Iguatemy, por causa do rio junto ao qual 
se situava).
(41) Ver “Portr.a p.a o Sargento-mor. . . completar 
a erecção da nova V.a da Faxina no termo de 
seis mezes”, São Paulo, 16 de maio de 1772. 
BNRJ-RC, Lista 1, fls. 312-313.
(42) Por exemplo, as ordens para usar de regulari­
dade no desenho das edificações são repetidas 
na “Ordem p.a o Satgto... erigir hua Povoação... 
chamada Caraguatatuba”, São Paulo, 27 de 
setembro de 1770. BNRJ-RC, Lista 1, fl. 205.
(43) Uma análise dos planos econômicos de L. A. 
de Souza para as zonas a desenvolver pode ser
86
P l a n e j a d o r e s e r e f o r m a d o r e s
encontrada em Ernâni Silva Bruno, Viagem ao 
País dos Paulistas 0osé Olympic, Rio de Janeiro, 
1966), pp. 83-104 et passim.
(44) David M. Davidson, op. cit., p. 145.
(45) Ibidem, pp. 140-227.
(46) Ver o Capítulo VIII, seguinte.
(47) David M. Davidson, op. cit., pp. 191-192.
(48) Ibidem, p. 198.
(49) Figura 20A - “Perfil da Povoação de Albu­
querque”, 1784, MU-CI n2 15; Figura 20B - 
“Plano da direcção e forma con que se acha 
estabelecida a Povoação de Albuquerque”, sem 
data, MU-CI, n2 16.
(50) “Termo de Fundação de Vila Maria do Para­
guay”, de 5 de junho de 1779, IHGB, Lata 61, 
Doc. 11.
(51) Carta de Luís de Albuquerque Melo Pereira e 
Cáceres a Martinho de Mello e Castro, apen- 
sa ao ‘Termo de Fundação”, IHGB, Lata 61, 
Doc 11. Ver também J. C. Freitas Barros, Um 
Quadro e uma Figura: O Mato Grosso e Luís de Albu­
querque (Lisboa, 1951). Segundo esse relato, o nú­
mero de índios reassentados em Vila Maria foi 
de 78. Além deles, outros colonos foram atraí­
dos para a nova comunidade, e àquela altura a 
população total era de 239 habitantes (ver p. 
13). Outra sinopse da fundação de Vila Maria 
pode ser achada em “Vila Maria do Paraguay e 
providencias para o seu engrandecimento”, in 
RIHGB, vol. XXVIII, n21 (1865),pp. 110-117.
(52) Figura 21A - “Planta de Villa Maria do 
Paraguay”, 1784, MU-CI, n2 68A; Figura 21B 
- Villa Maria, sem data, MU-CI, n2 45.
(53) Virgílio Correa Filho, “Luiz de Albuquerque: 
fronteiro insigne”, in Anais do Terceiro Congresso 
de História Nacional (Imprensa Nacional, Rio de 
Janeiro, 1942), p. 196.
(54) Isso está registrado nos ofícios do governador 
Luís de Albuquerque a Martinho de Mello e 
Castro (1772-1800). AHI, Lata 266, Maço 1, 
Pasta 12.
(55) Virgílio Correa Filho, As Raias de Mato Grosso 
(São Paulo, 1925), vol. IV, p. 99.
(56) Correspondência de Luís de Albuquerque a 
Martinho de Mello e Castro (1772-1800) de 
26 de novembro de 1763. AHI, Lata 266, Maço 
1, Pasta 12, D oc D.
(57) “Planta da nova povoação de Cazalvasco . . . , 
erigida no anno i?82”, MU-CI, n2 Al.
(58) vide M. Davidson, op. cit., assinalou diversas 
transações ocorridas em Casalvasco já em 
1784. Ver o seu Apêndice 4, Quadro K, p. 
462.
(59) Q Forte de Príncipe da Beira também foi 
construído sob a orientação de Albuquerque. 
Para obter dados sobre as barganhas feitas no 
forte e em Vila Bela, ver ibidem.
(60) O documento em que esse plano regional está 
exarado não tem assinatura nem data, mas 
parece ser da lavra do governador Luís de 
Albuquerque. Está contido em “Documentos 
com diversas anotações sobre a região, 1772- 
1805”, AHI, Lata 266, Maço 2, Pasta 4.
(61) “Diário da diligencia da Comissão chefiada 
pe-lo Engenheiro Ricardo Franco, 1785- 
1786”. Essa observação foi feita em junho de 
1786. AHI, Lata 266, Maço 1, Pasta 21.
(62) “Planta da Villa de Corumbá. . . . Outubro de 
1876”, MIGE n2 1175.
(63) Figura 24 - “Plano projeto de hu [um] novo 
estabelecimento de índios da Naçao Cayapo 
margem do Rio Fartura e denominado Aldeya 
Maria... . 1782”. AHU-Iria, n2 84.
(64) Figura 25A -“Perspectiva da Igreja e Quartéis 
da Aldeia de S. Jozé de Mossamedes. 1801”; 
Figura 25B - “Aldeia de S. Jozé de Mossa­
medes”, aproximadamente 1801. Ambos os 
mapas pertencem ao acervo da Biblioteca 
Municipal de São Paulo, MS D3.
(65) Ernâni Silva Bruno, Grande Oeste, vol. VI, 
História do Brasil, pp. 66-67. O Capítulo IV 
contém uma análise da evolução de Vila Boa.
(66) Carta do governador Luís da Cunha Menezes 
ao Ouvidor Antônio José Cabral de Almeyda 
contendo instruções sobre o realinhamento da 
vila, datada de Vila Boa, 28 de dezembro de 
1778. BNRJ, IV-13-14-10, Documento 17.
(67) Roteiro para o realinhamento de Vila Boa, sem 
assinatura nem data. Esse documento prova­
velmente foi escrito em 1778 por Cunha 
Menezes. Faz parte do acervo da BNRJ, IV- 
14-4-10, Documento 16.
(68) Ver as Figuras 5A e 5B, no Capítulo IV.
8 7
Capítulo III
A arborização das cidades brasileiras no
fim da era colonial
No final da dominação pombalina em 1777, 
com a adaptação bem-sucedida do modelo de 
planificaçâo de vilas padronizado a regiões geo­
graficamente diferentes, os portugueses estavam 
aptos a para voltar siia atenção para os aspectos 
paisagísticos do desenvolvimento urbano. Des- 
curados no início do século, na pressa de ordenar 
as ruas e regulamentar as fachadas dos prédios, 
os jardins e a arborização agora começavam a 
ser incorporados às composições urbanas. Como 
nos primeiros exemplos de planejamento já exa­
minados, esse novo cuidado urbano refletia as 
preferências européias da época pela arboriza­
ção extensiva:
No século XVII, caracterisricamente, a maior 
parte dos hortos de recreio situavam-se fora 
das cidades. Ainda não se empregavam árvores 
no planejamento de ruas ou praças. Só no sécu­
lo XVIII ocorreu uma mudança. As novas 
idéias foram aplicadas até mesmo nas chamadas 
vilas coloniais, como as povoações militares 
fundadas por Maria Theresa,... e em Carouge, 
distrito de Genebra, desenhado por Laurent 
Giardive em 1784. As cidades eram circunda­
das por aléias duplas de árvores, e não mais 
por muralhas, e em alguns lugares as aléias pe­
netravam até o centro.1 
No Brasil, os primeiros projetos paisagísti­
cos foram desenhados para postos avançados 
remotos e comunidades indígenas. Como já foi 
visto, Casalvasco tinha praças orladas por alas 
de árvores rigorosamente alinhadas, enquanto 
na comunidade indígena de Aldeia Maria, em 
Goiás, a praça principal era ornamentada por
uma cercadura de árvores alinhadas e plantadas 
a intervalos regulares. Nesses exemplos, a arbo­
rização realçava a natureza ordenada da compo­
sição urbana; árvores dispostas ordenadamente 
davam a impressão de uniformidade. Conco­
mitantemente, o toque da arborização também 
tinha uma função ecológica, de acordo com as 
convicções fisiocráticas dos intelectuais brasi­
leiros do final do século XVIII, segundo as quais 
a verdadeira fonte da riqueza de um país era a 
terra cuidadosamente tratàda.2 Assim sendo, a 
câmara de Sabará determinou que todos os que 
possuíssem terras atravessadas por cursos de 
água eram obrigados a plantar árvores de raízes 
profundas (como cedros e pinheiros) nas suas 
margens a fim de impedir a erosão do solo. Pela 
mesma razão, a câmara exigiu que no futuro as 
beiras das estradas fossem plantadas com fileiras 
de árvores, que proporcionariam conforto e 
“prazer” aos viajantes, bem como frutas para 
as pessoas com fome que se encontrassem nas 
proximidades dessa vila mineira.3
Nessa mesma época, as cidades costeiras 
tradicionais também estavam experimentando 
uma revivescência do verde. Em vez dos primei­
ros jardins de recreio aristocráticos plantados 
em Vila Bela pata o desfrute exclusivo do gover­
nador (ver Figura 6), os administradores portu­
gueses agora procuraram oferecer espaço de 
recreação mais para o público em geral. Esses 
parques não só constituiríam centros de recreio 
para os habitantes da cidade como serviríam de 
cenários para jardins botânicos, onde se pudesse
8 9
A ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL
levar a efeito a experimentação agronômica. O 
Horto Botânico de Belém, organizado em 17814, 
foi criado para esse fim, assim como os jardins 
botânicos de Salvador e do Rio de Janeiro.5
Porém foi no Rio de Janeiro que o jardim 
público, projetado exclusivamente como passeio, 
alcançou o mais alto requinte. Uma lenda popu­
lar carioca muito conhecida afirma que o vice- 
rei Luís de Vasconcelos (1779-1790), ao passar, 
ouviu uma mocinha comentar que nos seus 
devaneios ela havia imaginado a área pantanosa 
da orla da cidade transformada num jardim mag­
nífico.6 Talvez motivado por essa inspiração 
oportuna ou, o que é mais provável, pela com­
preensão mais racional de que o paul infestado 
de mosquitos representava uma ameaça séria à 
saúde, o vice-rei ordenou a criação de um jardim 
de recreio no local do pântano. O arquiteto Va- 
lentim Fonseca e Silva, que estudara em Lisboa 
e voltara para o Brasil com uma inclinação pelo 
desenho europeu, foi quem traçou a configura­
ção excessivamente formal que o jardim teria; 
ele parecia-se com uma perfeita miniatura dos 
jardins do Palácio de Versailles (perto de Paris), 
com as mesmas alamedas longas e canteiros si­
métricos.7 Esse desenho de inspiração francesa 
do Passeio Público durou até o meado do século 
XIX, quando foi substituído pelo estilo em voga 
do “jardim inglês” de forma livre.8
Entretanto, nas cidades mais antigas, o es­
pírito reformista foi além das mudanças consa­
gradas no paisagismo. Por exemplo, em Salva­
dor, cidadãos de mentalidade progressista defen­
diam a necessidade de uma zona portuária mais 
limpa. Como observara o bem informado escri­
tor José da Silva Lisboa, a Cidade Baixa era den­
samente povoada, e as ruas estreitas e escuras 
tornavam-na ainda mais desagradável.9 Os atra- 
cadouros deteriorados da orla da Cidade Baixa 
contribuíam para o quadro geral de desmazelo. 
Para remediar essa situação lamentável, a câmara 
resolveu, com o apoio dos comerciantes do local, 
reconstruir a zona portuária, com um sistema 
de cais, rampas de estaleiros e novos prédios 
comerciais cuidadosamente regulamentados. 
Essa benfeitoria pública deveria ser custeada por
taxações, por volume, sobre as mercadorias que 
transitassem pelo porto.10 Em seguida a essa 
proposta inicial, foram desenhadas plantas que 
mostravam a localização de um paredão de con­
tenção em todo o contorno da Cidade Baixa. 
A finalidade explicita desse paredão era estabe­
lecer uma barreira protetora, para evitar a queda 
de entulho no bairro da Cidade Baixa.11 Entre­
tanto, o verdadeiro móvel dessa providência era 
o desejo oculto de conter o crescimento da Baixa 
e, assim, evitar a contaminação gradativa da Ci­
dade Alta, mais elitista, pela expansão da favela 
da Cidade Baixa.
Outra preocupação das autoridades da ci­
dade era a aparência geral das ruas da cidade. 
Embora Salvador não fosse mais a capital do 
Brasil12, ainda era uma metrópole importante, 
com um potencial de crescimento notável. Reco­
nhecendo esse fato, os próceres da cidade resol­
veram que daí em diante as construções em 
Salvador teriam de se ajustar às noções de ordem 
e regularidade (a essa altura corriqueiras no inte­
rior) para emprestar à cidade um aspecto de 
sofisticação. Nessas condições, em 1785 a câ­
mara elaborou um novo código de construção 
para a cidade, em conformidade com as reco­
mendações dos fiscais da prefeitura. O histo­
riador Robert C. Smith qualificou essas normas 
precisas de construção como “da maior impor­
tância para a história da arquitetura colonial no 
Brasil”.15 O novo código continha regulamen­
tações (já em largo uso no sertão) sobre as altu­
ras dos prédios, as proporções aceitáveis para 
janelas e portas, bem como limitações insólitas 
sobre o uso de sacadas em pisos no nível das 
ruas. Daí em diante prestar-se-ia atenção ao ali­
nhamento da rua, e o descumprimento dos no­
vos regulamentos seria punido com a prisão e 
multas severas.14
O Rio de Janeiro não ficou muito atrásde 
Salvador na adoção de códigos de construção. 
Acresce que a Aula de Fortificação, recém-refor- 
mada, estava produzindo um fluxo constante de 
diplomados, amplamente capacitados a em ­
preender a tarefa. Em 1792 o Conde de Resende 
determinou que todos os alunos da academia
9 0
A ARBORIZAÇAO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL
militar deveriam estudar arquitetura civil no 
sexto ano do curso; eles estudariam carpintaria 
e cantaria e a arte da ornamentação, bem como 
os métodos de construção preferidos. Já que se 
esperava que eles contribuíssem com o seu co­
nhecimento em importantes projetos de obras 
públicas, esses futuros engenheiros seriam ins­
truídos na arte da construção de pontes e canais, 
assim como em construção e pavimentação de 
estradas.15 Assim, esses técnicos bem preparados 
poderíam ser convocados em qualquer situação 
que requeresse os seus conhecimentos, como a 
construção de casas na cidade vizinha de Niterói, 
em terras pantanosas recuperadas.16
Até a provinciana São Paulo foi contagiada 
pelo espírito da reforma urbana. Tomando as 
diretrizes do governador Luís Antônio de Souza 
como roteiro, os administradores da cidade ago­
ra trabalhavam para corrigir os equívocos urba­
nos anteriores. O alvo principal de benfeitorias 
era o espaçamento irregular das ruas, que tinham 
desafiado o realinhamento repetidas vezes. Em 
1792 o aspecto futuro de São Paulo havia sido 
mapeado no chamado “Plano Topographico”, 
um plano diretor em que se prescrevia o alinha­
mento para novas zonas da cidade. Todavia, 
essas disposições não foram executadas senão 
em 1808, e o velho centro da cidade, praticamen­
te inalterado, continuou a dificultar as comunica­
ções. Em 1809 uma legislação real exigiu o 
plantio de árvores nos primeiros jardins públicos 
da municipalidade, na vaga esperança de que a 
arborização de certo modo camuflasse e com­
pensasse as deficiências flagrantes nas zonas 
mais antigas e não planificadas da capital bandei­
rante.17
Como se vê, no resto do século XVIII o 
destaque à retilineidade e à regularização conti­
nuou, agora estendendo-se aos centros urbanos 
mais antigos. Essa mudança de pólo geográfico 
do urbanismo moderno foi acompanhada por 
um aumento do número de povoações promovi­
das a vila principalmente nas capitanias litorâ­
neas. Com efeito, nas décadas de 1780 e 1790, 
pelo menos 23 comunidades18 foram elevadas à 
categoria de vila, das quais 16 se concentravam
no eixo entre a Bahia e São Paulo. É certo que 
a maioria dessas vilas foram criadas a partir de 
povoações já existentes, porém nos casos em que 
as aglomerações se originaram do nada (inclusive 
as aldeias indígenas), elas tenderam a ajustar-se 
às novas normas urbanas.19
Em contrapartida, as regiões que haviam 
figurado tão destacadamente nos planos urbanís­
ticos das décadas anteriores agora assistiam a 
um decréscimo de atividade simétrico. Nas déca­
das de 1780 e 1790, apenas duas novas vilas fo­
ram criadas oficialmente no Norte, enquanto no 
Centro e no Oeste sabe-se que absolutamente 
nenhuma povoação foi promovida a vila nesse 
mesmo período.20
Evidentemente as autoridades da Coroa 
estavam percebendo que agora não era neces­
sário criar tantas vilas oficiais no interior como 
dantes. Em termos puramente econômicos, essa 
mudança justificava-se pelo enorme declínio da 
renda produzida por essas regiões.
De 1788 a 1798, a decadência da situação 
econômica tanto do Pará como de Mato Gros­
so acarretou um decréscimo no comércio, ao 
ponto de as autoridades temerem que a estag­
nação total fosse iminente.21 
Da mesma forma, a dissolução simultânea das 
companhias comerciais do Grão Pará e do Mara­
nhão precederam uma contração econômica ge­
ral nas capitanias do Norte.
Havia chegado o tempo de reduzir os cus­
tos, e isso era mais evidente ao longo da via co­
mercial fluvial Guaporé-Madeira que em qual­
quer outro lugar. Embora a construção não ces­
sasse por completo, os administradores agora 
mostravam menos preocupação com a uniformi­
dade das fachadas que dantes. Por exemplo, um 
memorandum de 1797, em que se requeria a 
criação de mais uma comunidade no Salto da 
Cachoeira, fez referência aos gastos feitos pelos 
portugueses na construção de São José de Maca­
pá e outras comunidades povoadas por colonos 
açorianos. O autor do memorandum, o enge­
nheiro e sargento-mor Ricardo Franco de Almei­
da Serra, indicou que uma maneira de reduzir 
os custos no Salto seria manter um traçado urba-
9 1
A ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL
Fig. 26 - Planta básica de Unbares, no Espirito Santo, 1819
no ordenado, mas eliminar as exigências estilísti­
cas quanto às habitações.22 O governador Souza 
Coutinho aceitou a sugestão do seu engenheiro 
e decidiu que os habitantes da nova comunidade 
podiam construir suas casas conforme “seus 
meios e seus caprichos”.23 Desse modo, o Tesou­
ro Real arcaria apenas com o dispêndio de trans­
portar imigrantes para a nova colônia e construir 
a igreja e o hospital público. Diferentemente 
do procedimento adotado nos primeiros planos 
de colonização com açorianos, o governo agora 
assumiria a responsabilidade apenas de fornecer 
instrumentos aos colonos, em vez de dotar cada 
família de uma unidade residencial padronizada.
Mesmo em Portugal, os administradores do 
final do século XVIII reconheciam que a unifor­
midade, embora a seu ver estilisticamente prefe­
rível, muitas vezes era financeiramente onerosa.
Assim sendo, em 1805 as autoridades de Lisboa 
resolveram que
nas ruas e praças principais da cidade, o aspecto 
geral já aprovado e estabelecido para a sua 
construção será observado, e nas demais [os 
habitantes] terão permissão para introduzir as 
inovações e variações no aspecto que sejam 
mais apropriadas ao gosto, conforto e disponi­
bilidade de capital de cada um dos que cons­
tróem esses [prédios].24
Por fim, nas áreas do Brasil consideradas 
urbanisticamente inviáveis, a Coroa poderia, co­
mo último recurso, passar contratos a particu­
lares para fundarem as suas próprias comunida­
des. Na realidade esse mecanismo havia existido 
já em 1686, quando se concedeu a colonos o di­
reito de estabelecerem aldeias indígenas. Entre­
tanto, uma legislação posterior tornou quase
9 2
A ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL
impossível particulares administrarem esses 
estabelecimentos; paraieiam ente ao enorm e 
dispêndio que um empreendimento dessa natu­
reza requerería, essa legislação restringia a sua 
prática.25 Mesmo assim, alguns empreendedo­
res, sempre ávidos pela mão-de-obra indígena, 
tentaram fundar comunidades desse tipo, apesar 
dos riscos financeiros certos. Por exemplo, em 
1768 Manuel da Rocha Pereira encaminhou um 
requerimento ao governo pedindo permissão 
para estabelecer uma aglomeração para os po­
bres na capitania do Rio de Janeiro. Ele explicou 
que essa povoação não precisava ser sofisticada; 
as casas poderíam ser cobertas com sapé, em 
vez de telhas, que seria o preferível, e os habitan­
tes poderíam manter-se através da agricultura e 
da pesca. Consoante esse colonizador altruísta, 
o objetivo era “desviar muitas almas do inferno”; 
quanto ao seu interesse pessoal no empreendi­
mento, nenhuma menção é feita.26
Alguns pretendentes à construção de vilas 
submeteram as plantas das suas povoações à 
aprovação do governo. Uma das mais inusitadas 
foi o desenho da futura vila agrícola de Jesus 
Maria, na capitania de São Paulo. Para essa co­
munidade, o projetista ideou uma configuração 
concêntrica; ruas circulares de casas alternavam- 
se com faixas de pomares e plantas decorativas, 
enquanto o centro do círculo foi reservado para 
a igreja.27 Todavia, esse projeto surpreendente 
não é tão original quanto parece à primeira vista. 
Plantas de aldeias indígenas maranhenses do 
final do século XVII apresentam uma seme­
lhança notável na disposição das casas e na arbo­
rização com o desenho da vila de Jesus Maria 
de 178028, e, como observou Aroldo Azevedo, 
muitas comunidadesindígenas autóctones do 
Brasil eram cercadas por estacadas circulares.29
Não obstante esses afastamentos ocasionais 
do modelo regulamentar, ditados por razões 
financeiras, a preferência pela retilineidade e pelo 
equilíbrio simétrico permaneceu constante em 
todo o final do século XVIII. Esses conceitos 
tiveram aceitação nas zonas costeiras nas déca­
das de 1780 e 1790, quando um grande número 
de vilas planejadas apareceram na paisagem. Por
exemplo, a pequena comunidade de Linhares, 
no Espírito Santo (Figura 26), tem um traçado 
em malha ortogonai que não difere do das cida­
des interioranas do meado do século XVUI.34
Com a “Independência” do Brasil em 1822, 
o Império deu seguimento às preferências estilís­
ticas do Brasil barroco, declarando que o cres­
cimento urbano padronizado era não só desejá­
vel como verdadeiramente obrigatório. Assim, 
a Lei de Organização Municipal, de 1828, que' 
estatuiu as diretrizes para o crescimento urbano 
no País no século XIX, continha instruções 
precisas para as prefeituras no que se referia à 
configuração urbana. As câmaras municipais 
deveríam não só zelar diligentemente pela con­
servação e pela aparência das suas respectivas 
cidades, mas também procurar conseguir, o tem­
po todo, a “elegância e a regularidade exterior 
dos prédios e ruas”.31
(1) E. A. Gutkind, The Twilight of Cities (The Free 
Press, Nova York, 1962), p. 38.
(2) Entre os incentivadores das idéias fisiocráticas 
de maximização da produtividade da terra no 
Brasil no final do século XVIII figuram José 
Vieira Couto e José de Sá Bittencourt. E. 
Bradford Burns, em A History of Brazil, pp. 
95-96, analisa a influência do pensamento 
fisiocrata no Brasil.
(3) Posturas da Câmara Municipal de Sabará, 
artigos 102 e 103, sem data. Esse código foi 
transcrito em Augusto Lima, A s Primeiras Vilas 
do ouro (Belo Horizonte, 1962).
(4) Ver Rocha Penteado, op. cit., vol. I, p. 111.
(5) O Jardim Botânico do Rio foi construído por 
imposição do príncipe regente Dom João VI, 
depois da transmigração da família real para o 
Brasil em 1808.
(6) Essa lenda é apreciada em Brasil Gérson, His­
tória das Ruas do Rio de Janeiro (Editora Souza, 
Rio de Janeiro, 3a edição, sem data), pp. 230-231.
(7) “Planta do Passeio por volta de 1850”, cons­
tante em José Mariano, O Passeio Público do Rio 
de Janeiro, 1779-1783 (C. Mendes Júnior, Rio 
de Janeiro, 1943).
9 3
A ARBORIZAÇÃO DAS CIDADES BRASILEIRAS NO FIM DA ERA COLONIAL
(8) “Planta do Passeio Público depois da reforma 
radical realisada por Glaziou (1862) , ibidem.
(9) Carta de José da Silva Lisboa ao Dr. Domin- 
goVandelli, diretor do Real Jardim Botânico 
de Lisboa, da Bahia, 18 de outubro de 1781. 
AHU-CA, Bahia, 10.907.
(10) O governador Manuel da Cunha Menezes 
apoiou esse projeta Ver mapa do “.. .Prospec 
to da Obra que pretendem fazer os Nego­
ciantes da Cidade da Bahia”, aproximadamente 
1776. AHU-Iria, n“ 183.
(11) “Projecto do novo paredão para conter o 
impurrão das terras que ameasão queda sobre 
toda a extensão baixa”, aproximadamente 1786. 
AHU-Iria, n“ 186.
(12) A capital foi transferida para o Rio de Janeiro 
em 1763.
(13) Robert C. Smith, “Documentos Baianos”, 
RSPHAN, vol. IX, p. 94.
(14) As ordens completas, datadas de 15 de novem­
bro de 1785, encontram-se ibidem, pp. 95-96. 
Em 1809 o uso de venezianas mouriscas foi 
totalmente proibido, “que he propio para o me­
lhoramento e elegancia não só em particular, 
da erecção dos Edifficios, mas em geral dos 
prospectos, semetria e ordem regular, das pra­
ças e Ruas...”, in Robert C. Smith, op. cit., p. 99. 
Uma anãlise do plano de realinhamento de 
1785-1786 pode ser encontrada em Affonso 
Ruy, História Política e Administrativa da Cidade 
de Salvador (Tipografia Beneditina Ltda., Bahia,
1949), p. 318.
(15) “Estatutos da Real Academia de Artilharia, 
Fortificação e Desenho da Cidade do Rio de 
Janeiro”, de 17 de dezembro de 1792, Conde 
de Resende, BNRJ, 1-32-13-27.
(16) Niterói, denominada Praia Grande, situada 
defronte ao Rio de Janeiro, do outro lado da 
baía de Guanabara, foi projetada no começo 
da década de 1820.
(17) Ver Gilberto Leite de Barros, A Cidade e o 
Planalto: Processo de Dominância da Cidade de São 
Paulo (Livraria Martins, São Paulo, 1967), vol. 
I, pp. 223-225.
(18) Aroldo Azevedo, Vilas e Cidades, pp. 37-45.
(19) A malha ortogonal é evidente na “Planta da 
freguezia de São Fidelis”, sem data, BNRJ-SI, 
Arq. 4-6-10. São Fidélis, na capitania do Rio 
de Janeiro, foi edificada nos anos 1780.
(20) Aroldo Azevedo, op. cit., p. 37.
(21) David M. Davidson, Rivers and Empire, p. 204.
(22) Ricardo Franco de Almeida Serra, “Discurso 
sobre a urgente necessidade de uma povoação 
na cachoeira do Salto do Rio Madeira..., 1797’ , 
reproduzido em O Patriota, nfl 2 (março-abril 
de 1814), pp. 5-6.
(23) Rodrigo de Sousa Coutinho, “Memória sobre 
communicações fluviais do Pará com Mato 
Grosso”. Pará, 4 de agosto de 1797. AHI, Lata 
288, Maço 8, Pasta 9. Apensa a esse documento, 
há uma estimativa do custo total do estabe­
lecimento de colonos na nova comunidade; 
esse montante, acrescido dos salários dos 
engenheiros, ascende a 41.637 réis. Pará, 7 de 
fevereiro de 1799.
(24) Delgado da Silva, op. cit., Supplement 1791- 
1820, p. 318. Essa ordem foi expedida em 23 
de novembro de 1805.
(25) Para obter informações sobre o emprego da 
mão-de-obra indígena por particulares, ver 
Colin M. MacLachlan, op. cit., pp. 203-206.
(26) Carta de Manuel da Rocha Pereira à Coroa, de 
12 de abril de 1769. BA, 54-XIH-4, doc. 24- 
24v.(27) Planta para a nova comunidade de 
Jesus Maria, traçada por Manuel Borges Netto 
Pimentel, 24 de agosto de 1780. BA, 54-XIII- 
16, fl. 12.
(28) Por exemplo, a “Planta da aldea dos índios Bar­
bados”, sem data, do final do século XVII, 
Maranhão. AHU-Iria, nfl 66.
(29) Ver Aroldo Azevedo, “Embriões de cidades 
brasileiras”, in Boletim Paulista de Geoppajia nQ 25 
(março de 1957), p. 40.
(30) “Prospecto da povoação de Linhares, anno de 
1819”, BNRJ-SI, Arq. 30, desenhos, doc. ic.
(31) ‘Título III - Posturas públicas” da lei de 12 de 
outubro de 1828, que definiu as responsa­
bilidades municipais. Essas diretrizes estão 
contidas nos artigos 66 e 71,1“ de outubro de 
1828. CLB, 1828.
9 4
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Capítulo IX
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O programa de novas vilas 
numa visão panorâmica
É claro que a intenção de Portugal ao criar 
nqyas yiks .pelo interior do Brasil era mais que 
um simples exercício de estética. No'Ttnal do 
século XVIIÍ, às reformas urbana e fundiária 
haviam modificado estruturalmente, ou pelo 
menos desafiado, muitas das instituições mais 
f caras da colônia. Durante todo o tempo em que 
o objetivo principal do programa evoluiu de uma 
tentativa inicial de estabelecer um controle, por 
j meio de uma rejeição tanto da oligarquia agrá- 
j ria como do princípio da sesmaria e, finalmente, 
l P'!r;i um programa em grande escala de refor- 
I ma das normas culturais do Brasil, a fórmula 
perm aneceu essencialmente a mesma: esta­
belecer uma municipalidade bem construí- 
da, provê-la de administradores leais e certificar- 
se de que a sua autoridade não fosse trans­
gredida. Essa abordagem normativa aplicava- 
se não apenas às colônias de açorianos, mas 
igualmente às comunidades indígenas; tratava- 
se de um “plano diretor” no sentido mais lato do 
termo.
Estilisticamente, o formalismo barroco das 
vilas interioranas do Brasil adequava-se perfei- 
tamente às metas ostensivas da Coroa portugue­
sa. Tendo chegado à conclusão de que o cresci­
mento urbano regulamentado era indispensável 
para aumentar o controle governamental, os por- 
tugueses.em s uma,lestavam,buscando uma polí­
tica urbano-estatal que diferia pouco das estraté­
gias coetâneas empregadas na Europa. É um 
fato amplamente reconhecido que o planejamen­
to urbano na Europa setecentista apresentava 
uma correspondência notável com a filosofia da 
época. Praças rigorosamente quadradas e alturase fachadas das edificações uniformes eram as 
contrapartes físicas das preferências daquela 
época pela regulamentação e racionalidade do 
comportamento. Em vez de deixar o cresci­
mento da cidade seguir um curso aleatório e sem 
controle, o urbanista do século XVIII confiava 
em planos diretores previamente elaborados que 
se caracterizavam por um cumprimento rigoroso 
da fórmula da regularidade tanto na aparência 
como nas medidas. Tal era a abordagem racional 
do desenvolvimento urbano; ela demonstrava 
esmagadoramente a capacidade do homem de 
submeter a natureza e a sociedade às suas pró­
prias exigências.
Assim sendo, as vilas criadas no Brasil no 
fim da era colonial necessariamente apresenta­
vam algumas analogias surpreendentes com os 
projetos urbanos europeus da mesma época. 
Comparando-se, por exemplo, a criação de São 
Petersburgo, no noroeste da Rússia, com o esta­
belecimento de Vila Bela, em Mato Grosso, 
torna-se evidente que se visava a objetivos seme­
lhantes. Em primeiro lugar, ambos os núcleos 
urbanos foram construídos em regiões remotas, 
com a finalidade expressa de demonstrar aos 
observadores internacionais que as fronteiras do 
território nacional haviam sido efetivamente 
ampliadas. Ambos foram projetados como capi- 
tais-vitrinas, exigindo o concurso de uma nume­
rosa força de trabalho no esforço da construção. 
Nos dois casos foi necessário recorrer à coerção 
para formar o núcleo demográfico inicial. Final­
mente, ambos os centros urbanos revelaram a 
influência do monumentalismo, o idioma barro­
co então popular da grandiosidade.1
9 5
O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA
O planejamento urbano no Brasil, e na 
Rússia também, foi considerado como uma 
expressão das idéias da política do “bom” go­
verno. A mentalidade setecentista européia esta­
va convencida pelos filósofos iluministas (entre 
eles Montesquieu) de que a vida decente con­
sistia em obedecer às leis do gênero humano. 
A verdadeira liberdade consistia não necessaria­
mente em fazer o que se queria, mas sim o que 
se devia fazer, de acordo com leis naturais, mas 
estabelecidas.2 O busüis aí era definir o que 
constituía a lei natural; de que maneira um go­
verno benevolente, ou “iluminado”, podia escla­
recer as questões, desenvolvendo códigos de 
conduta que enfeixassem as normas esperadas. 
Uma administração verdadeiramente “moderna” 
dessa época considerava a regulamentação e a 
ordem como o outro lado dessa lei natural; por 
conseguinte, a “boa” política pressupunha uma 
abordagem sistematizada do funcionamento da 
sociedade, em lugar da atitude do laisser-faire (não 
interferência). Para autoridades bem-intencio­
nadas, mas com pouca ou nenhuma fé real no 
seu semelhante, era claro que um governo mais 
rígido era preferível à ausência total de governo.
No Brasil, essa filosofia do Buminismo orien­
tou o desenvolvimento do programa de constru­
ção de vilas. Conseqüentemente, a configuração 
da vila cuidadosamente desenhada e executada 
foi racionalizada como uma representação sim­
bólica da “boa” política administrativa, um aferi­
dor do funcionamento suave da sociedade. Den­
tro desse contexto, a lógica das declarações do 
ouvidor Monteiro1 de que casas análogas em 
Porto Seguro assegurariam a ordem interna é 
evidente; se cada habitante fosse obrigado a ajus­
tar-se a um modelo padronizado de casa e de 
estilo de vida e, além disso, possuísse exatamente 
as mesmas comodidades que seus vizinhos, as 
causas de inveja e conflitos seriam eliminadas. 
Daí se poder esperar que os membros da comu­
nidade coexistissem “naturalmente” dentro dos 
parâmetros de uma lei benevolente.
Por tentador que seja analisar o fenômeno 
da vila criada a partir do zero no Brasil como 
um reflexo do Iluminismo em plagas distantes,
afirmar que a única motivação subjacente à po­
lítica portuguesa era a vontade e implantar novos 
padrões intelectuais europeus seria um engano. 
O programa de construção de vilas era decidida­
mente mais abrangente que uma simples preten­
são filosófica de missões “civilizatórias” a em­
preender, quando, exatamente no próprio século 
XVIII, os objetivos dos portugueses para a sua 
colônia e a sua maneira de vê-la tomaram um 
rumo inteiramente novo. Portanto, é essencial 
relembrar essas características peculiares do 
século XVIII, não só para perceber as diferenças 
em relação aos dois séculos de ocupação anterio­
res, mas também para adquirir um discernimen­
to de todos os efeitos da nova política das vilas.
Em primeiro lugar, deve-se assinalar que o 
volume total da construção urbana aumentou 
extraordinariamente no século XVIII, enquanto 
o interior era aberto lentamente para a coloniza­
ção (Figura 27). Na realidade, no decurso do 
século XVIII, pode-se observar uma série de 
vagas ou fases de povoamento urbano, que pri­
meiramente avançaram rapidamente pelo inte­
rior e só na última década refluíram para o lito­
ral, num ressurgimento da planificação urbana 
e da fundação de novos centros na faixa costeira. 
Conforme se demonstrou em capítulos anterio­
res, um modelo padronizado de vila foi sinteti­
zado num código de construção, simplificando 
o processo de edificação. Aroldo Azevedo ob­
servou que nada menos que 118 comunidades 
foram elevadas à categoria de vila no Brasil no 
decorrer do século XVIII.4 Embora nem todas 
se tenham ajustado às novas normas urbanas 
(muitas dessas vilas, sobretudo as da zona de 
mineração, evidentemente foram criadas a partir 
de núcleos já existentes), a orientação geral para 
a regulamentação foi uma característica desse 
ciclo, e, na minha opinião, a maioria dessas novas 
comunidades obedeceram ao modelo predeter­
minado.5
O século XVIII também assistiu ao cresci­
mento da importância dos engenheiros militares, 
não só em Portugal, mas no Brasil também. Não 
raro esses engenheiros eram encarregados exclu­
sivamente da construção de novas comunidades
9 6
sÚR&ovWunfi
no sertão, e era muito lógico esperar que a ins­
trução militar desses homens os tornasse afei­
çoados a um modelo de vila que destacava a reti- 
hneidade e a sistematização. Como salientara o 
arquiteto e urbanista renascentista italiano Leon- 
Battista Alberti (Gênova, 1404 - Roma, 1472) 
quase quatro séculos antes6, ruas retas eram um 
símbolo da imponência de uma cidade, e mais
W u&ynMMigp ús Mqtsj'iKwJ - .gjq
fáceis de controlar, as vielas tortuosas das co­
munidades não planificadas ofereciam a turbas 
de camponeses rebeldes (ou de soldados ou 
índios, no caso do Brasil) muitas possibilidades 
de se esconderem dos olhos vigilantes das auto­
ridades.
O utra característica peculiar do século 
X V ln , que se tornou particularmente percep-
9 7
O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÀO PANORAMICA
tívei depois da ascensão de Pombal ao poder, 
foi a freqiiència com que os administradores 
portugueses operaram no nível macroeconômico 
do desenvolvimento. Malgrado a maior parte 
dos estudos convencionais da história latino- 
americana descreva os administradores reais 
portugueses como altamente ineptos7, as infor­
mações apresentadas aqui comprovam que a 
Coroa tinha um plano de modernização de gran­
de alcance que abrangia o Brasil inteiro e que 
foi executado por etapas no decurso do século 
XVIII. Pombai percebeu facilmente a vantagem 
de estabelecer conjuntos coordenados de vilas 
em regiões tão diferentes como o extremo Oeste, 
o Amazonas e o Sul do Brasil, e seus represen­
tantes na colônia seguiram a maré. A percepção 
do papel de polarização exercido pelas comuni­
dades urbanas mais importantes determinou a 
localização de muitas das novas municipalidades. 
Dentro dessa linha de pensamento, deduziu-se 
que a diversificação da produção dos centros 
interioranos acabaria resultando na ampliação 
dos mercados dos núcleos urbanos importantes, 
assim como estimularia o abrimento de novas 
estradas comerciais no interior. As comunidades 
padronizadas do Pantanal devem a sua origem 
a esse reconhecimento, assim como a rede de 
vilas de abastecimento criada em PortoSeguro. 
Esses planejamentos regionais, reforçados pelo 
compromisso oficial com a via comercial fluvial 
Guaporé - Madeira e com o estabelecimento de 
companhias comerciais (e. g., a Companhia do 
Grão Pará e Maranhão), evidenciaram um tipo 
de reflexão sistemática acerca do potencial do 
Brasil que só fora possível depois que se pene­
trou oficialmente no interior na década de 1700. 
Além disso, essa reflexão sistemática demons­
trou uma compreensão extremamente sofistica­
da e surpreendentemente precoce da mecânica 
dos esquemas de planejamento regional de estilo 
moderno.
Ela também constituiu uma comprovação 
suficiente da eficiência crescente evidenciada 
pelos administradores portugueses e do seu êxito 
em fixarem as metas de longo alcance para o 
controle da colônia. Por conseguinte, esta análi­
se refutaria os historiadores que referem o início 
do governo absoluto no Brasil ao começo da 
era pombaiina.8 Embora a concepção notável 
de Pombal de que o planejamento de vilas era 
equivalente a “europeização” indubitavelmente 
tenha acrescentado uma nova dimensão ao es­
quema joanino original, é patente, na legislação 
examinada neste estudo, que já havia sido desen­
volvido e aplicado no Brasil um modelo de go­
verno absolutista muito antes de o marquês che­
gar ao poder. O modus operands pelo qual o sertão 
podia ser reduzido à submissão, mediante a cria­
ção de municipalidades disciplinadas, foi delinea­
do claramente nos primeiros anos que se segui­
ram aos achados de ouro dos bandeirantes, e 
mudou pouco até o meado do século.
Outra questão em que a presente análise 
diverge das concepções convencionais relati­
vas ao século XVIII é o conceito geralmente 
aceito de que os portugueses procuraram conter 
a migração de brasileiros para o litoral do País 
depois das descobertas de ouro. Celso Furtado, 
por exemplo, afirmou que foram tomadas medi­
das enérgicas para dificultar a relocalização no 
Brasil de açorianos e outros imigrantes.9 Entre­
tanto, esta análise mostrou que a inclusão de imi­
grantes portugueses (casais) em projetos de 
colonização para o Sul e a Amazônia era conside­
rada uma parte desejável e mesmo essencial do 
programa de construção de vilas. Por exemplo, 
Rolim de Moura preferiu povoar a sua capital 
longínqua, Vila Bela, com recém-chegados da 
Europa a reunir nela os errabundos e faiscado- 
res bandeirantes. Com referência a isso, ao lon­
go de toda a via fluvial do Madeira, uma zona 
através da qual muita riqueza de contrabando 
provavelmente se escoaria, a Coroa achou pru­
dente fundar comunidades não apenas com 
residentes no local, mas também com colonos 
europeus. Embora se possa alegar que, a des­
peito dos planos meticulosos para os imigran­
tes europeus, os portugueses na realidade não 
contribuíram muito para o seu bem-estar, isso 
não invalida a sua clara preferência por colonos 
europeus no povoamento das zonas escassa­
mente ocupadas do Brasil.
9 8
O PROGRAMA D E NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA
Uma questão talvez menos evidente em que 
se pode insistir, com referência ao programa de 
novas vilas, é que ele representa uma inversão 
no modelo tradicional de transferência cultural.
Antes do século XVIII, a assimilação cultu­
ral no Brasil, quase invariavelmente, havia se 
orientado das zonas costeiras para dentro, em 
direção ao interior; em consequência disso, a 
mudança no sertão foi um processo lento decor­
rente das modificações operadas inicialmente em 
comunidades litorâneas. Todavia, na década de 
1700, a maior parte das experiências urbanas foi 
levada a efeito pela primeira vez em povoações 
interioranas. A tendência de “arborizar” as com­
posições urbanas apareceu primeiramente nas 
praças cercadas de árvores de postos avançados 
fronteiriços.10 O cuidado extremo com o detalhe, 
igualmente, foi visto primeiramene em comu­
nidades longínquas tais como Mocha, no Piam. 
Incontestavelmente, o fato de os portugueses 
estarem construindo da estaca zero no interior 
permitiu-lhes efetuar inovações numa escala 
impossível nas cidades costeiras já construídas. 
Não obstante, a imitação cuidadosa dos dese­
nhos barrocos europeus e a tentativa consciente 
de lançar os postos avançados do sertão na cor­
rente principal da cultura européia indicam que 
os administradores provinciais estavam tão cien­
tes das tendências artísticas usuais no Velho 
Mundo, e dispostos a adotá-las, quanto seus con­
frades do litoral. Na realidade eles muitas vezes 
estavam “à frente” dos seus contemporâneos da 
costa.
Da mesma forma, observa-se uma modifi­
cação interessante no fluxo da assimilação cultu­
ral entre o país-metrópole e a colônia brasileira. 
Certamente é evidente que o impulso de planeja­
mento e o princípio diretor do programa de 
construção de vilas do século XVIII tiveram 
origem nas pranchetas de desenho em Portugal, 
com plena aprovação do governo. Não obstante, 
antes do terremoto de Lisboa (1755), poucos 
projetos urbanísticos haviam sido executados no 
próprio país. Embora arquitetos portugueses 
fossem mandados a outros países para aprender 
as últimas tendências arquitetônicas e engenhei­
ros estrangeiros fossem trazidos incessante- 
rnente à corte portuguesa e enviados além-mar, 
é evidente que no Brasil colonial havia maiores 
oportunidades para a experimentação urbana do 
que na metrópole. Por falta de cidades mais an­
tigas necessitadas de reforma urbana, o sertão 
brasileiro constituía um campo de provas para 
os conceitos de planejamento barrocos portu­
gueses. Muitas dessas inovações - na perspecti­
va, na uniformidade das fachadas e na iteração 
dos elementos arquiteturais - reapareceram pelo 
meado do século na reconstrução de Lisboa. As 
amplas praças das colônias de açorianos de 
Alexandre de Gusmão foram reproduzidas na 
enorme Praça do Comércio da Lisboa de pós- 
1755. Da mesma forma, as ordens de padroni­
zar as fachadas das habitações, vistas pela pri­
meira vez nas diretrizes para a criação da vila 
de Mocha e reiteradas numerosas vezes durante 
todo o século XVIII, tiveram as suas réplicas 
nas fachadas cuidadosamente alinhadas e idên­
ticas da malha urbana redesenhada do bairro da 
Baixa de Lisboa. Portanto, o programa de plani- 
ficação de vilas constituiu um caso singular, em 
que a Coroa primeiramente experimentou na 
colônia e em seguida trouxe os resultados para 
o país-metrópole.
Outra observação que se deve registrar 
com referência ao século XVIII em geral e ao 
programa de planificaçâo de vilas em particular 
foi que, em última análise, o controle total 
baseou-se num lento desgaste do poder tradicio­
nal das câmaras municipais. À medida que o 
século avançava, a tendência das autoridades do 
governo português foi inibir a iniciativa local, e 
não encorajá-la, tornando as câmaras das vilas 
praticamente impotentes para agir em seu pró­
prio nome. Dauril Alden enumerou vários 
exemplos de pequenas vilas do século XVIII que 
foram obrigadas a renunciar ao poder municipal 
em favor das autoridades reais. Domínios admi­
nistrativos tradicionalmente da competência da 
câmara, tais como a coleta de impostos, a fisca­
lização das eleições e a administração geral da 
circunscrição municipal, foram absorvidos gra­
dativamente pelas autoridades da Coroa.11 Nos
9 9
O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÀO PANORÂMICA
casos das vilas recém-criadas, a tarefa dos portu­
gueses era simplificada de imediato: lotando um 
número suficiente de funcionários do governo 
em cada vila logo no início e interligando essas 
vilas em redes regionais de funcionamento sintô- 
nico, o controle real ficava praticamente assegu­
rado.
Não só a jurisdição da câmara municipal 
diminuiu no campo político como também, em 
cada localidade, as pessoas importantes sofreram 
uma drástica perda de autoridade no tocante ao 
seu poder de regulamentar a distribuição da 
terra. Na Idade Média, a responsabilidade pela 
concessão de terras tinha sido deixada a cargo 
dos adminstradores locais. Com a possível ex­
ceção da outorga de terra nas poucas cidades 
reaisdo Brasil, o tratamento medieval da posse 
da terra foi transferido intacto para a colônia; 
dessa forma, primeiramente os donatários e 
depois os poderosos do sertão ficaram sendo as 
únicas autoridades em questões agrárias. O di­
reito de aquisição de terra não foi propugnado 
senão nos anos 1690 e no século seguinte, quan­
do a Coroa aproveitou a oportunidade de ampliar 
a sua autoridade, assum indo total respon­
sabilidade pela distribuição de terras, bem como 
pela criação de novas vilas. Esse processo foi 
característico notadamente das povoações de 
fronteira, onde se negou aos habitantes locais 
qualquer influência na escolha de terras e, em 
vez disso, um funcionário designado outorgou 
a cada um um trato de terra para lavrar. Nas 
metrópoles costeiras maiores, foi igualmente sig­
nificativo o êxito da Coroa em fomentar a aceita­
ção do princípio do domínio publico. Assim, mes­
mo em áreas ocupadas há muito tempo, a Coroa 
tinha precedência sobre os direitos locais à terra, 
no caso de surgir uma necessidade efetiva.
Interpretando-se tudo isso numa escala 
mais ampla, percebe-se que os portugueses esta­
vam procurando não só reformar as práticas bra­
sileiras de posse da terra como desafiar a própria 
fonte de poder que estava por trás das grandes 
propriedades. Vendo-se sob esse prisma, é intei­
ramente plausível que os esforços conjugados 
para relocalizar colonos das ilhas portuguesas
do Atlântico e para reunir os índios tenham sido 
empreendidos visando a suplantar a linhagem 
“nativa”, bem como a fornecer exemplos da cul­
tura européia. O mais importante para os ob­
jetivos de Lisboa era a conclusão evidente de 
que esses camponeses “resgatados” sentir-se- 
iam obrigados à Coroa pela sua boa sorte de 
serem reassentados. A gratidão podia ser am­
pliada facilmente até à franca lealdade; certa­
mente não é mera conjetura que no final das 
contas a Coroa esperava substituir a oligarquia 
agrária por minifundiários satisfeitos.
Não obstante vários estudos do Brasil pós- 
colonial12 terem mostrado que essas tentativas 
de enfraquecer a classe latifundiária estiveram 
longe de lograr êxito, não deixa de ser claro que 
as motivações subjacentes a esses esforços eram 
notavelmente avançadas para o século XVIII. 
Apesar dos fracassos, nesse espaço de tempo a 
Coroa conseguiu estabelecer precedente para o 
controle da distribuição de terras pela autoridade 
real, para a supervisão governamental das sub­
divisões urbanas e para a planificação oficial do 
desenvolvimento interiorano. Hoje se percebe 
claramente que a Coroa superestimou as suas 
possibilidades; contudo, o desafio à ordem social 
e econômica colonial vigente evidentemente 
estava séculos à frente do seu tempo e era sem 
paralelo em matéria de política colonial naquela 
época.
Essa compreensão extraordinariamente 
moderna dos grandes problemas que o desen­
volvimento do Brasil enfrentava salta aos olhos 
quando se confronta o tratamento português da 
construção de vilas com o dos seus vizinhos do 
hemisfério ocidental. O trono espanhol havia 
manifestado preocupação com a regulamentação 
urbana ainda na Idade Média, quando textos 
clássicos sobre o assunto eram lidos avidamente. 
Essa predileção pelo crescimento urbano con­
trolado transmitiu-se às colônias do Novo Mun­
do, pois em 1502 o governador Ovando dotou 
a cidade de São Domingos [capital da atual 
República Dominicana, que, junto com o Haiti, 
formava a ilha de Hispaniola] com uma disposi­
ção das ruas grosseiramente retilinear. 71 anos
100
O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA
depois, as idéias espanholas de planificação 
urbana foram codificadas nas chamadas Leis das 
índias, que supostamente expunham detalhada­
mente uma fórmula a ser seguida para toda nova 
vila fundada no Novo Mundo. Essas leis impu­
nham a criação de cidades em xadrez, construí­
das com base em progressões geométricas teóri­
cas. Uma pequena vila seria baseada num qua­
drado perfeito composto de nove quarteirões. 
As comunidades maiores seriam construídas em 
disposições de cinco quarteirões por cinco, 
enquanto as excepcionalmente grandes podiam 
atingir um máximo de 81 quarteirões. Cada co­
munidade devia ter a forma de um quadrado 
perfeito e tinha de ser orientada de acordo com 
as correntes eólicas predominantes no local. O 
quarteirão central dessa composição era destina­
do à praça da vila.u
O modelo espanhol da Lei das índias era 
uma adaptação de fórmulas renascentistas de 
planejamento urbano. Ele objetivava produzir 
cidades ideais, seguindo o modelo clássico apre­
sentado nos escritos do antigo planificador ro­
mano Vegetius.14 A preocupação principal do 
modelo espanhol era como a comunidade apare­
cia no papel; a sua realidade tridimensional pare­
ce ter sido secundária.
Estilisticamente, tanto o tratamento espa­
nhol como o português da planificação de vüas 
eram rígidos, embora este último desse destaque 
à uniformidade barroca grandiosa. Não obstan­
te, parece que, no século XVIII, enquanto as 
cidades da América espanhola se desenvolviam 
cada vez mais “organicamente”, no Brasil acon­
tecia o oposto. Por exemplo, as vilas chilenas 
da década de 1700 normalmente apresentavam 
uma falta de previsão no seu traçado.15 Em regra 
geral, as vilas coloniais que ficavam longe dos 
grandes centros da autoridade real, como a 
cidade do México e Lima, tendiam a crescer desor­
denada ou espontaneamente. Nessas condições, 
há indicações que apoiam o ponto de vista de 
que os planos espanhóis para as cidades coloniais 
nunca foram integrados em programas mais am­
plos com vistas a ampliar o controle real, como 
aconteceu no Brasil. Só num número restrito
de zonas fronteiriças, como partes da Argentina 
e da Venezuela e no Norte do México, a coroa 
espanhola reaimente procurou regulamentar a 
sociedade mediante o reassentamento ou a fun­
dação de núcleos primários.14 Essa dicotomia 
contraria a proposição recente de Morse de que 
existia uma filosofia ambiental para uma grande 
parte da planificação urbana colonial espanho­
la17, o que, por sua vez, pode ter levado a um 
afrouxamento do controle sobre o desenvolvi­
mento das vilas no século XVIII. Por outro la­
do, o princípio diretor preponderante subjacente 
à regulamentação das vilas no fim da era colonial 
no Brasil não era o fator econômico, mas sim a 
associação conscientemente estabelecida entre 
o crescimento urbano controlado e a aceitação 
da autoridade real no sertão.
Conquanto a mentalidade moderna possa 
compreender ou mesmo aceitar a necessidade 
de uma associação como essa, a vila padroniza­
da resultante que apareceu por todo o Brasil no 
século XVIII hoje seria menosprezada como 
apenas uma multiplicidade de Levittowns 
coloniais. A simetria e a uniformidade das facha­
das nas vilas brasileiras significavam o alinha­
mento de casas simples de portas e janelas sem 
ornamento algum; a imponência das composi­
ções barrocas européias, tais Como a meia-lua 
de Bath, na Inglaterra, inexiste no cenário brasi­
leiro. A austeridade do modelo colonial, repetida 
em alas infindáveis de moradias de um só pavi­
mento, dificilmente seria apreciada pelo obser­
vador moderno, ensinado a valorizar a inovação 
arquitetônica.
Porém para os portugueses do século 
XVIII e seus fiéis partidários do interior, essa 
regularidade era um símbolo de beleza, sofisti­
cação, civilidade e progresso. Ainda hoje exis­
tem urbanistas que preferem firmemente a abor­
dagem colonial sistemática da construção a reali­
zações criativas tais como Chandigarh, na índia, 
ou mesmo Brasília. Na época atual, de superpo- 
voamento, em que o financiamento de habita­
ções populares pelo governo é impositivo e a 
pré-fabricação é uma necessidade econômica, as 
unidades habitacionais padronizadas de uma vila
101
O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORAMICA
típica do Brasil setecentista. tai como São José 
de Macapá, fazem cada vez mais sentido.
Além disso, os portugueses parece terem 
atingido o seu objetivo de aproveitar ao máximo 
os recursosdemográficos limitados. Com base 
na pesquisa pioneira de Dauril Alden sobre os 
censos brasileiros do fim da era colonial1*, eu 
fiz uma avaliação grosseira do grau em que a 
reunião forçada de indivíduos no interior foi 
realizada. Em comparação com uma família 
média de 5,4 pessoas para a totalidade do Brasil, 
a região do alto Amazonas (rio Negro) tinha uma 
média de 7,9 pessoas por família; o Pará, 7,6; e 
Mato Grosso, 7,7. Dauril Alden não conseguiu 
explicar por que as famílias eram mais numero­
sas no interior, mas levando-se em conta que os 
recenseadores incluíam na unidade familiar 
(“fogo”) todas as pessoas que vivessem numa 
mesma unidade habitacional, fossem elas da 
família ou não” , o significado desses números 
torna-se claro. Os dados indicam que as novas 
vilas cumpriram a função a que se destinavam: 
atuar como pontos de agrupamento para indiví­
duos dispersos, a fim de desenvolver melhor 
aquelas regiões longínquas.
Não existem dados numéricos de real uti­
lidade para um estudo sério sobre a magnitu­
de da população dessas comunidades, uma vez 
que o recenseamento só se tornou comum no 
Brasil no final do século XVIII. Além disso, 
não havia nenhum critério demográfico fixa­
do oficialmente para distinguir entre cidade e 
vila que pudesse fornecer uma indicação so­
bre o número mínimo de pessoas que viviam 
nos novos núcleos urbanos. Mesmo assim, 
algumas informações pontuais existentes in­
dicam que essas novas vilas, que foram super­
visionadas desde o início, continuaram a atrair 
novos habitantes: uma das vilas da rede de Porto 
Seguro foi inaugurada com uma população 
inicial de 130 habitantes; dez anos depois essa 
população já havia crescido para cerca de 400 
almas, segundo uma estimativa.2* Outro exem­
plo é São José de Macapá, que começou como 
um núcleo de umas 300 pessoas21; em 1817, 66 
anos depois da sua fundação em 1751, um obser­
vador descreveu-a como um dos maiores centros 
da região.22
Todavia, a lição mais importante que se 
pode obter da experimentação urbana dos portu­
gueses talvez seja o reconhecimento da neces­
sidade de lidar com os problemas até das comu­
nidades mais remotas. Diversamente dos plani- 
ficadores de cidades mais antigos, os urbanistas 
do século XVIII não se restringiram a projetos 
de grandes cidades. Até mesmo a aldeia indígena 
mais modesta era considerada digna de receber 
nm tratamento de planificaçâo completa, cujo 
escopo final era atingir a “civilização”. Con­
quanto hoje, passados dois séculos, seja claro 
para nós que essa concepção de “modernização” 
era calcada numa visão etnocêntrica (e tinha uma 
semelhança desagradável com uma coletivização 
forçada), os portugueses estavam convencidos 
de que a cultura européia era o supra-sumo da 
civilização e, consequentemente, a chave do de­
senvolvimento.
Assim sendo, o governo português e seus 
fiéis funcionários no Brasil consideravam-se co­
mo apóstolos do progresso - os instrumentos 
através dos quais a cultura européia moderna 
penetraria na sua colônia rústica. A meta do 
seu programa era a modernização por meio da 
padronização, não só das ruas e casas, mas tam­
bém, como a experiência de Porto Seguro de­
monstra eloqüentemente, dos próprios colonos. 
O século XVIII mostrou reiteradamente que os 
portugueses não mais admitiríam vilas formadas 
aleatoriamente como Jaguaripé, na Bahia, “traça­
da sem nenhum ordenamento e baseada apenas 
nos caprichos arbitrários dos seus habitantes”.23 
Daí em diante seria diferente: se as vilas e cidades 
do Brasil fossem construídas segundo os câno­
nes de regularidade do desenho barroco, e se os 
habitantes de cada localidade se ajustassem aos 
mesmos princípios na sua conduta, então o Bra­
sil podería ser considerado “europeizado”, não 
obstante a sua formação cultural mista. Pode 
ser que os europeus daquela época tenham sorri­
do das plantas das miniaturas dos Versailles e 
dos Champs-Élysées [famosa avenida de Paris 
que liga a Place de la Concorde à Place de 1’Étoi-
102
O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA
le] criadas a partir de comunidades indígenas; 
porém os portugueses nunca duvidaram da se­
riedade da sua missão. O modelo de homoge­
neidade urbana a que o Brasil foi submetido não 
podería deixar de introduzir um estilo de vida 
mais sofisticado às miríadas de habitantes semi- 
bárbaros da colônia e, concomitantemente, um 
poder mais absoluto para a Coroa. Como o go­
vernador Cunha Menezes anunciou tão expres­
sivamente no seu plano para a reconstrução de 
Vila Boa, a sua capital provincial agora pode­
ría “beneficiar-se com o sistema praticado em 
todas as nações mais adiantadas da Europa”.24
Durante os últimos anos do século XVIII 
e também muito tempo depois de instaurado o 
Império, a prevalência das malhas urbanas orto- 
gonais foi assegurada. Nas localidades onde, 
ocasionalmente, disposições estilísticas tais co­
mo a homogeneidade das fachadas foram aban­
donadas em favor de um tipo de construção 
menos onerosa, as aglomerações, alinhadas des­
de o início segundo as diretrizes modernas, con­
tinuaram a apresentar um aspecto regular. Ago­
ra se construíam jardins públicos de formas geo­
métricas estritas e alamedas metódicas para ser­
vir de pulmões para os centros urbanos, ao mes­
mo tempo em que eles realçavam a invariável 
regularidade da construção urbana brasileira. Os 
conceitos de ordem e precisão, outrora ditados 
pelo programa disciplinar para o interior sem 
lei, agora se haviam tornado padrões de bom 
gosto para toda a nação.
(1) Duas descrições da construção de São Peters- 
burgo podem ser encontradas em “Eighteenth- 
Century St. Petersburg”, de Tamara Talbot 
Rice, in Cities of Destiny, de Arnold Toynbee 
(editor) (McGraw-Hill, Londres, 1968), pp. 
242-257; e em Urban Development in Eastern 
Europe: Bulgaria, Romania and the USSR, de E. 
A. Gutkind (Free Press, Nova York, 1972), pp. 
368-395. Ver também Urban Networks in Russia,
1 '50-1800, and Premodem Periodization, de Gil­
bert Rozman (Princeton Univertsity Press, 
Princeton, Nova Jersey, 1976).
(2) Eugen Weber, A Modem History of Europe: Men, 
Cultures and Societies from the Renaissance to tije Pres­
ent (W W. Norton & Co., Nova York), pp. 673-4.
(3) Ver o Capítulo VII.
(4) Aroldo Azevedo, Vilas e Cidades, p. 35.
(5) Como Apêndice deste livro, há um quadro que 
contém uma relação de novos centros urbanos 
com alguns dados sobre eles.
(6) W A. Eden, “The De Re JEdijicatoria de Leon- 
Battista Alberti”, in The Town Planning Review, 
vol. 19, n“ 1 (1943), pp. 15-16. (O humanista e 
arquiteto Leon-Battista Alberti nasceu em 
Gênova, em 1404, e faleceu em Roma, em 
1472. Em Theogonius, no Tratado da Familia e 
nos seus diálogos, ele propôs o ideal do equilí­
brio e da medida Escreveu ainda Delia Pittura 
e De Statua.)
(7) Uma reiteração clássica desse conceito é en­
contrada em A History of Latin America: From 
the Beginnings to the Present, de Herbert Herring 
(Alfred A. Knopf, Nova York, 3* edição, 1968), 
p. 221. Ali se lê o seguinte: “Um cotejo da admi­
nistração portuguesa no Brasil com a espanhola 
no Peru e no México indica que os portugueses 
raramente foram tão rigorosos e coerentes 
quanto os espanhóis.”
(8) Por exemplo, Donald E. Worcester, op. cit., con­
sidera Pombal como um marco divisório na 
História do Brasil. Kenneth R. Maxwell, op. cit., 
também dá um destaque especial à rigorização 
do regime administrativo no Brasil, que ele 
relaciona com o início da era pombalina.
(9) Celso Monteiro Furtado in The Economic Growth 
of Brazil: A Survey from Colonial to Modem Times 
(University of California Press, Berkeley, 1965),
pp. 80-81.
(10) Ver a citação de E. A. Gutkind na primeira 
página do Capítulo VIII, mais atrás. Uma 
excelente descrição do tratamento paisagístico 
barroco pode ser encontrada no Capítulo X 
(“The Leaf and the Stone”) da obra The City 
of Man: A New Approach to Recovery of Beauty in 
American Cities, de Christopher Tunnard 
(Charles Scribner’s Sons, Nova York, 1970), pp. 
235-258.
(11) DaurilAlden, op. cit., pp. 309-322 e 422-423.
(12) Em outro texto, eu fiz uma critica dos modelos
103
O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA
agrários brasileiros. Ver “Land and Urban Plan­
ning; Aspects of Modernization in Early Ni­
neteenth-Century Brazil”, de minha lavra e 
que, na época em que escreví este volume, es­
tava prestes a vir a lume em Luso-Brasfíian Re­
view. Ver também “Larifundia and land Policy 
in Nineteenth-Century Brazil”, de Warrren 
Dean, in HAH.R, vol. 51, na 4 (novembro de 
1971).
(13) Uma tradução para o inglês das leis espanholas 
de 1573 pode ser encontrada em “Royal Ordi­
nances Concerning the Laying-out of Towns”, 
de Zelia Nuttall, in HAHR, vol. V, ns 2 (maio 
de 1922), pp. 249-254. Ver também “Early 
Spanish Town Planning in the New World”, 
de Dan Stanislawski, in Geographical Review, 
vol. XXXVII, n“ 1 (1947), pp. 94-105; e Los 
origenes del urbanismo imperial en America, de 
Erwin Walter Palm (Instituto Panamericano 
de Geografia e Historia, México, 1951). Ne­
nhum dos documentos de planejamento portu­
gueses que examinei continha regulamenta­
ções sobre a orientação geográfica das vilas, a 
não ser a determinação de que a povoação 
deveria ser fundada num local “bem arejado” 
e onde houvesse abundância de madeira e 
água.
(14) Woodrow Borah, em “European Cultural In­
fluence in the Formation of the First Plan 
for Urban Centers that Has Lasted to Our Ti­
mes”, contido em X X X IX Congreso Internacio­
nal de Americamstas - Adas e Memórias, vol. 2 (Li­
ma, 1972), p. 53, é de opinião que as plantas 
espanholas procedem de Vegetius, gênio mili­
tar romano, e não de Vitruvius. Por outro lado, 
uma comparação entre os princípios vitru- 
vianos e as Novas Leis das índias Espanho­
las pode ser encontrada em Dan Stanislawski, 
op. cit..
(15) Gabriel Guarda, em La ciudad chilena deI siglo 
X V III (Centro Editor de América Latina S. 
A., Buenos Aires, 1968), pp. 18 e 19, examina 
as comunidades não planificadas do século 
XVIII. Segundo esse autor, muitos desses 
núcleos urbanos não planificados originaram- 
se de antigas aldeias indígenas, ou então de 
fazendas que foram divididas em pequenas 
propriedades. As zonas de mineração também 
tinham muitas aglomerações não planificadas. 
Isso se aplica também ao México, onde as cida­
des mineiras de Tasco, Guanajuato e Zacatecas 
apresentam traçados irregulares; ver Woodrow 
Borah, op. cit., p. 42.
(16) Ver, por exemplo, “New Towns of Eighteenth- 
Century Northwest Argentina”, de David 
Robinson e Teresa Thomas, in Journal of 
LaiinAmerican Studies, pp. 1-33, vol. 6, n° 1 
(1974).
(17) Ver Richard M. Morse, “Brazil’s Urban Deve­
lopment; Colony and Empire”, in Journal of 
Urban History, voL 1, n“ 1 (novembro de 1974), 
p. 42 etpassim. E interessante observar que nes­
se ensaio o autor manifestamente mudou radi­
calmente suas concepções iniciais citadas no 
Capítulo I desta obra. Evidentemente com ba­
se na sua leitura de Nestor Goulart Reis Filho 
(cuja obra é descrita no Capítulo I), Morse ago­
ra reconhece a existência de uma tradição de 
planejamento urbano no Brasil colonial, que 
culminou com o “triunfo” da malha ortogonal 
no século XVm (p. 41).
(18) Dauril Alden, “The Population of Brazil in the 
Late Eighteenth Century: Preliminary Study”, 
in HAHR, vol. XLIII, n° 2 (maio de 1963), pp. 
199-200.
(19) Issofoi observado por Donald Ramos em “The 
Traditional Mineiro Family: The Adaptative 
Houseful, 1804-1838”, monografia apresentada 
no Congresso da American Historical Associa­
tion de dezembro de 1977.
(20) “Relação Individual do que o Ouvidor da 
Capitania de Porto Seguro (José Xavier Macha­
do Monteiro) riella tem operado nos 10 para 
11 annos, que tem decorrido desde o dia 3 de 
maio de 1767 athé o fim de julho de 1777”. 
AHU-CA, n“ 9493.
(21) A carta de Mendonça Furtado a Alexandre 
Metello de Souza Menezes datada do Pará, 20 
de dezembro de 1751, menciona esse número 
aproximado. MCM, vol. I, p. 122.
(22) Manuel Aires de Casal, Corografia Brasílica ou 
Relação Histórico-Geográfica do Reino do Brasil 
(1817) (Edições Cultura, São Paulo, 1943), vol. 
II, p. 252
(23) Essa observação está registrada na legenda da 
“Planta da Villa de Nossa Senhora da Ajuda 
de Iaguaripe”, 1705. AHU-Iria, n° 155.
(24) Ver o Capítulo VII. Os comentários de 
Kenneth R. Maxwell sobre a conduta política 
do governador confirma a atenção excessiva
104
O PROGRAMA DE NOVAS VILAS NUMA VISÃO PANORÂMICA
que este dava ao detalhe. O governador é des- 
descriro como “um militar rigoroso e elegante 
rodeado de sicofantas venais e parasitas.... Seu
gosto peia aparência e sua lealdade aos seus 
camaradas sobrepujavam o seu senso de 
justiça.” Op. cit., p. 99.
105
1
*
4
B i b l i o g r a f i a
F o n t e s a r q u i v í s t i c a s :
A - Lisboa
1 - Arquivo Histórico Ultramarino (AHU1
Códices:
221 Registos de cartas régias para diversas entidades, de várias capitanias do Brasil, 1711-1713.
223 Registo de cartas e provisões régias para os governadores e várias entidades de diferentes capitanias do 
Brasil, 1712-1721.
226 Registo de cartas régias e provisões para os governadores e mais entidades das diferentes capitanias do 
Brasil, 1720-1723.
227 Registo de provisões régias para várias personalidades das diferentes capitanias do Brasil, 1723-1728.
228 Registo de provisões régias para os governadores e mais entidades de diferentes capitanias do Brasil, 
1728-1740
229 Registo de provisões régias para os governadores e mais entidades de diferentes capitanias do Brasil, 
1739-1756.
232 Registos de consultas sobre assuntos das capitanias do Rio de Janeiro, Bahia e Colônia de Sacramento, 
1674-1710.
236 Registo de provisões e cartas régias para os governadores e mais entidades de várias capitanias do Bra­
sil, 1726-1751.
239 Registo de consultas sobre diferentes assuntos referentes às capitanias de São Paulo, Goiás e mais ca­
pitanias, 1726-1779.
241 Registo de provisões régias sobre assuntos respeitantes à capitania de Minas Gerais, 1726-1753.
Papéis avulsos:
Mato Grosso - Carias 2 e 3.
Goiás - Carias 1 e 2.
Pará - Caria 16.
Rio Grande do Sul - Caria 1
2 - Biblioteca da Aiuda (BA)
Documentos:
54-XIII-16
54-XIII-4
1 0 7
3 - Biblioteca Nacional de Lisboa (BNL)
Manuscritos:
1648, Luís Serra Pimentel, Tratado de Castramentacão ou Alojamento dos Exércitos (1659?), 4o vol., 1. 
Coleção Pombalina:
Volumes 159-163; 622; 624; 629.
B - Rio de Janeiro
1 - Arquivo Histórico do Itamaratv (AHI)
(Os números de catálogo a seguir correspondem às listagens numeradas da Coleção do Barão da Ponte
Ribeira, Parte 111-34 — Arquivos Particulares do Arquivo Histórico do Itamaraty.)
Lata 266 Maço 1, Pasta 12. Ofício do Capitão-Genetal Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres ao 
Ministro Martinho de Melo, pedindo licença para fazer um estabelecimento na margem oriental 
do Paraguai,... 1772-1800.
Lata 266 Maço 1, Pasta 21. Diário da diligência da Comissão chefiada pelo engenheiro Ricardo Franco, 
1786.
Lata 266 Maço 2, Pasta 4. Documentos com diversas anotações sobre a região, 1722-1805.
Lata 266 Maço 7, Pasta 10. Cópias e Minutas incompletas sobre vários assuntos, 1752-1775.
Lata 267 Maço 6, pasta 12. Ofício de Luís Antônio de Sousa, Capitáo-General da Capitania de São Paulo,
ao Conde de Oeiras, sobre ordem de não permitir que os paulistas fizessem descobrimento para 
o lado do Tibagi e Apucarana, 1765.
Lata 267 Maço 9, Pasta 17. Defesa da Capitania de São Paulo, 1775-1778.
Lata 275 Maço 5, Pasta 9, Doc 2. Plano de uma povoação na cachoeira Girão, no rio Madeira, delineada
pelo Capitão-General de Mato Grosso Luís Pinto de Souza Coutínho, 1765.
Lata 288 Maço 6, Doc. 1. Diário da rotina da expedição exploradora chefiada pelo Brigadeiro José Custódio 
de Sá e Faria, 1774-1776.
Lata 288 Maço 8, Pasta 9. Memória sobre comunicações fluviais do Pará com Mato Grosso - Dom Rodrigo 
de Sousa Coutinho, 1797-1799.
Lata 265 Maço 2, Pasta 7. Resumo histórico de algumas fortalezas e povoações, 1764-1793.
Alguns outrosdocumentos consultados no Arquivo Histórico do Itamaraty:
Livros: 343/2; 340/4/4
Lata 195, Maço 4, Pasta 4.
2 - Arquivo Nacional do Rio de Janeiro fANRJ)
Catalogadas: 952, Vol. XVIII
Não catalogadas: Caixa 748
108
3 - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ)
Documentos:
1-31, 28, 41, n2 4, Carta Régia enviada a Mendonça Furtado, 3 de março de 1755.
1-31,28,41, n2 6, Cópia da Carta de S. Mag.e dirigida a Franc. Xavier de Mendonça Furtado, erigindo a aldea 
do Trocano, em villa com o nome de Borba e Nova, 3 de março de 1755.
1-32,13, 27, Estatutos da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho da Cidade do Rio de Janeiro, 
1792. Conde de Resende.
IV-12, 2, 13, Memória sobre o descobrimento, governo e população e cousas mais notáveis da Cap.nía de 
Goyas. José Barbosa e Sá.
IV-13, 4,10, Doc 1, Descripção da Capitania de Goyas e tudo o que nelk he notável te o anno de 1783, 
começa pella Villa Boa.
IV-13, 4,10, Doc 16, Instruções de Cunha Menezes para Vila Boa, aproximadamente 1778.
9IV-13,4,10, Doc. 17, Carta ao Ouvidor da Comarca com as Instrucções assima para as deixar Recomendadas 
à Câmara na aud.ca g.al. Luís da Cunha Menezes.
Documentos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro respeitantes a luís Antônio de 
Souza:
Livros de Registros: Listas 1 e 2.
4 - Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro flHGBl
Lata 61, Doc. 11, Termo de Fundação de Vila Maria do Paraguay.
Lata 354, Doc 16, Relação das famílias que vão estabelecer-se na praça de Mazagão, por ordem de Sua 
Magestade.
Medidas tomadas pelo Conselho Ultramarino: Maranhão e Grão Pará, 1678-1808, vol. X.
Arq. 1.1.3, Correspondência official do Governador do Grão Pará, 1752-1777
Arq. 1.2.2, Consultas do Conselho Ultramarino sobre negócios da Capitania de São paulo, 1726-1754.
C — Belo Horizonte
Arquivo Público Mineiro
Atas da Câmara de Mariana, Livro 15 (1739-1746).
Códice 81, Ordens e Cartas Régias, 1743-1744.
D — São Paulo
Biblioteca Municipal de São Paulo
Mss c 52 Diário da viagem que em vizita e correição das povoações da Capitania de São José de Rio 
Negro fez o ouvidor e intendente geral... Francisco Xavier Ribeiro de Sampaio no anno 1774-1775.
109
M a p o t e c a s :
A - Lisboa
1 - Arquivo Histórico Ultramarino (AHU)
Todos os números constantes do texto sào referentes ao catálogo de Alberto Iria intitulado Inventário Geral da 
Cartografia brasileira Existente no Arquivo Histórico Ultramarino, IV Coióquio Internacional de Estudos Luso- 
Brasileiros, transcrito em Studia n0 17 (abril de 1966).
2 - Casa da Insua
0 Agrupamento de Cartografia Antiga do Ministério de Ultramar, em Lisboa, conserva uma coleção de 
reproduções fotográficas dos mapas da Casa da Insua. Porém os números de mapas constantes do texto são 
relativos à catalogação original da Casa da Insua.
3 - Sociedade de Geografia de Lisboa (SGL)
MS nfl 57 Planta de Guaratuba, in “Cartas corográphicas e hidrográphicas de toda a costa e portos da 
Capitania de Sào Paulo... levantadas pelo Coronel João da Costa Ferreira” (1790?)
MS nfl 3-G-2 Projecto de edificação da nova Villa Real da Praia Grande, 1819
B - Rio de Janeiro
1 - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro - Secção de Iconografia
2 - Mapoteca do Arquivo Histórico do Itamaraty
Esses números são relativos ao catálogo compilado por Isa Adonias intitulado Mapas e Planos Manuscritos 
Relativos ao brasil Colonial (Ministério das Relações Exteriores, Rio de Janeiro, 1960).
3 - Mapoteca do Instituto Geográfico do Exército
Todos os números citados referem-se a documentos dessa mapoteca.
4 — Biblioteca Municipal de São Paulo
Ms d 3 Perspectiva da igreja e quartéis da Aldeia de S. Jozé de Mossamedes, 1801 
Ms d 3 Aldeia de S. Jozé de Mossamedes, aproximadamente 1801
110
A — Documentos e fontes contemporâneas
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do Livro, Rio de Janeiro, 1968.
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Capitão-General do Estado do Grão Pará e Maranhão Francisco Xavier de Mendonça Furtado, 1751-1769, 3 vols. 
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1963.
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Typografia Luis Correa da Cunha, Lisboa, 1830-1847.
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117
A p ê n d i c e
Relação das municipalidades coloniais planificadas estudadas no texto e constantes na 
Figura 27
N.° Topônimo primitivo Ano Ano" Topônimo Classificação
*
Estado
atual
1 Paranaguá 1646-9 1721 Paranaguá V PR
2 Curitiba 1661 1721 Curitiba V PR
3 Mocha (Victoria) 1716 Oeiras V PI
4 Piracuruca 1716 Piracuruca V PI
5 Cuiabá 1727 D. de 1750 Cuiabá V MT
6 Fortaleza 1725 Ca. de 1730 Fortaleza V CE
7 Icó 1736 Icó V CE
8 Vila Boa 1736-9 1778-82 Goiás V GO
9 Mariana 1746 Mariana C MG
10 Aracaty 1747 Aracaty V CE
11 Vila Bela 1752 — V MT
12 Bragança 1753 Bragança V PA
13 São José do Rio Negro
(Barcellos) 1755 1762 Barcellos V AM
14 Borba (Trocano) 1756 Borba V AM
15 Sào José de Macapá 1758 Sào José/Macapá V PA
16 Sào João de Parnaíba 1761 Parnaíba V PI
17 Sào Miguel 1765 ? A AM
18 Balsemão 1768 ? A AM
19 Monte-Mor 1768 Baturité V CE
20 Trancoso D. de 1760 ? V? BA
21 Verde D. de 1760 ? V? BA
22 Viçosa 1768 ? V BA
23 Portalegre 1769 ? V BA
24 Prado 1772 ? V BA
25 Guaratuba 1768 Guaratuba V PR
26 Lajes 1766-8 Lajes V SC
27 Mazagão 1771 Mazagão V AP
28 Iguatemy (Prazeres) Ca. de 1772 — PF SP
29 Albuquerque 1778 Corumbá V MT
30 Vila Maria do Paraguay 1778 Cáceres V MT
31 Casalvasco 1783 — V MT
32 Aldeia Maria Ca. de 1780 — A GO
33 Sào José de Mossamedes Ca. de 1780 — A GO
34 Piracicaba 1808 Piracicaba NR SP
35 Limeira 1808 Limeira NR SP
36 Niterói (Praia Grande) 1819 Niterói V RJ
37 Linhares 1819 Linhares V ES
118
N." Topônimo primitivo
i
Ano
2
Ano Topônimo
atual
Classificação
4
Estado
38 Salvador (Bahia) 1549 1785 Salvador C BA
39 Rio de Janeiro 1565-67 D. de 1790 Rio de Janeiro C GB
40 São Paulo 1560 1792-1808 Sào Paulo C SP
Notas relativas ao apêndice:
(1) Ano em que foi concedido o titulo oficial à localidade, ou então ano de sua fundação.
(2) Ano da remodelação da localidade surgida sem planificaçâo ou da sua modificação.
(3) Nesse sistema de classificação, C = cidade; V = vila; A = aldeia; NR = não reconhecida oficialmente na 
época do planejamento; e PF = praça forte (cidade fortificada). Além disso, com referência às datas, Ca. 
de = cerca de; e D. de = década de.
(4) As siglas dadas nessa coluna correspondem aos seguintes estados: AM = Amazonas; AP = Amapá; BA = 
Bahia; CE - Ceará; ES = Espírito Santo; GB — Guanabara; GO = Goiás; MA = Maranhão; MG = Minas 
Gerais; MT = Mato Grosso; PA = Pará; PB = Paraíba; PE = Pernambuco; PI = Piauí; PR = Paraná; RJ 
= Rio de Janeiro; SC = Santa Catarina; e SP = São Paula
119
índice onom ástico remissivo 
Topônimos
A
Açores 14, 47, 57
Albuquerque (Corumbá) 77, 79, 80, 81, 82, 87, 118
Aldeia Maria 81, 89, 87, 118
Amapá 57, 59, 60,62, 67
Amazonas, capitania 35, 49, 50, 69, 98, 102
Amazonas, rio 50, 51, 66, 97, 102
Apucarana, serra de 75
Aquiraz 21, 23
Aracati 23, 24, 26, 46, 97,118 
Araguaia, rio 31 
Argentina 101
B
Bahia, capitania 11,17,18,19, 20, 23,69, 91,102
Bahia, Cidade da, ver Salvador
Balsemão 55,79, 86,97,118
Barcellos (Rio Negro) 51, 52, 53, 56,65, 97, 118
Bath, Inglaterra 101
Belém, Pará 35,49, 50, 51,53,62, 66,77,78,79,80, 97
Belo Horizonte XII, 1
Borba (Trocano) 50, 65, 97, 118
Botucatu73
Bragança (Souza de Caeté) 50, 97,118 
Brasil, Estado do 17 
Brasília VII, XI, 1,101 
Buenos Aires XII, 14, 48, 43
c
Campos Gerais 28 
Cananéia 73,75 
Craguatatuba 86 
Carapicuíba 76, 86 
Caribe 13
Casalvasco, 79, 80, 81, 82, 87, 89, 97, 111, 118
Ceará, capitania 20,21,22,23,24, 26,56,66
Champs-Élysées, Avenue des 102
Chandigarh, índia 101
Chile 101, 104
Chiquitos 79
Coimbra VII
Conceição, Forte de 54, 66
Coxipo, ribeirão do 29
Cuiabá, Bom Jesus de 29, 30,31,32, 33 36, 39, 54, "3 , 
77, 79, 80, 81, 82,97,118 
Cuiabá, rio 29
Curitiba 42,73,76, 86,97,118
E
Espanha, ver espanhóis no índice de nomes de pessoas 
e gcntílicos 
Espírito Santo 92, 93
F
Faxina 73, 85, 86, 87
Fortaleza 20,21,22,23,25,26,97,118
G
Goiânia 1,
Goiás, capitania 14,29,30, 31,32,33,40, 81, 82, 83, 89 
Guaporé, rio 14, 34, 36,40, 50,77, 78,91, 98 
Guaratuba 73,74,85, 86,97,118 
Guiana 57
I
Icó 23,31,39, 97,118 
Iguape, Ceará 21 
Iguape, São Paulo 73,75 
Iguatemy (Prazeres) 75, 76, 86, 97, 118 
Infante, Vila Nova do 38
J
Jaguaribe, rio 23 
Jaguaripé, vila (Bahia) 102, 104 
Jardim Botânico do Rio 90,93 
Jesus Maria José, (forte) RS 47,
Jesus Maria (SP) 93, 94 
Juazeiro 17
L
Lages 73, 75, 86, 97, 118 
Laguna 43, 44 
Levittown 101 
Lima, Peru 101, 104 
Linhares 92, 93,, 94 118
Lisboa VI, 21,23,24,28, 30,41, 50, 54,62,63, 64, 67, 
85, 92,94,99,100 
Longá, rio 18
120
M
Macapá, ver Sào José de 
Madeira, iiha da 44, 57
Madeira, rio 49, 50, 54, 55, 66, 77, 78, 79, 80, 82, 91, 
97, 98
Marajó, ilha de 56 
Maranhão, capitania 11, 15, 25 
Maranhão, estado do 15,17,18,19, 47 
Mariana (Ribeirão do Carmo) VIII, 36, 37, 38, 39, 40, 
43, 97, 118
Mato Grosso, capitania 14, 29, 30, 31, 32, 33, 35, 39, 
47, 49, 53, 54,66, 78,79, 80, 81,87,91, 94, 95,102 
Mazagão, Brasil, ver Nova Mazagão 
Mazagão, Marrocos 59 
Melgaço 60 
México 101, 103,104 
México, país 101, 103
Minas Gerais, capitania VIII, 4,11,12, 27, 28, 29, 31, 
36, 37, 39,72,
Mocha (Victoria, hoje Oeiras) 4,17,18,19, 20, 24, 25, 
64, 97, 99,118 
Mogi-Guaçu 74, 85, 86 
Mogi-Mirim 74, 78
Monte-Mor o Novo (Baturité) 56, 66, 97, 118 
Montevidéu 14 
Mutucá, rio 59
N
Negro, rio 50, 51, 52, 65, 67, 97, 102, 118
Niterói (Praia Grande) 91, 94,117
Nova Mazagão 57, 59, 60, 61,62, 66, 67, 69, 97, 118
O
Óbidos 60
Orenoco, rio 79
Ouro Preto (ver Vila Rica)
P
Pantanal 79
Pará, capitania 35,47, 49, 50, 56, 59, 62,65, 66, 75, 76, 
80, 82, 91, 94,102 
Pará, cidade, ver Belém 
Paraguai, rio 79, 80 
Paraíba do Sul, rio 28 
Paraná, estado 74 
Paraná, rio 97
Paranaguá 42,46, 73, 74, 86, 97 
Paranapanema, rio 75 
Parnaíba, rio 17,18
Parnaíba, São João de 19,20, 25,97, 118 
Passeio Público, Rio de Janeiro 90, 93, 94 
Patos, I.agoa dos 43, 44 
Pernambuco 11,15, 17,18, 20, 25 
Peru, Lima 79, 80,103 
Piauí 4,17,18,19,20, 22,23,24,25, 64, 97 
Piracicaba, rio 73 
Piracicaba, cidade 97,118 
Piracuruca, rio 18 
Portalegre 70,71, 72, 85, 97,118 
Porto Seguro, comarca 69, 70,72,77, 84, 85, 96, 98, 
102, 104
Prado 70,72, 85, 97,118 
Prata, rio da 14,43, 44,45 
Principe, Vila do (serra do Frio) 39 
Príncipe da Beira, forte 47, 80, 81, 82, 87
Q
Quito, Equador 79
R
Rainha do Caeté, Vila Nova da 39 
Rio de Janeiro, capitania 9, 13, 16, 39, 46, 89, 93,94 
Rio de Janeiro, cidade V, XI, 11,21,28, 31, 36,37,41, 
43,45,65,78,79,90,93,94,, 97, 119 
Rio Grande (de São Pedro) 24,43, 44, 47, 73, 86 
Rio Grande do Sul VIII, 14,45,47,48,
Rússia 95,103
s
Sabará 39, 89, 93 
Sacramento 14,43, 44 
Salgado, rio 23
Salto da Cachoeira, no rio Madeira 91, 94 
Salvador da Bahia XI, XIII, 3,11, 17, 23,24,65, 66,71, 
72, 78,79, 90, 94,97,119 
Santa Catarina 14, 44, 45,47, 48, 75, 86 
Santana 31,33,34,47, 59, 60,
Santos 44,73, 85, 86
São Domingos, cap. da República Dominicana 100
São Francisco, rio 11, 23, 97
São João de Parnaíba, ver Parnaíba
São José dei Rey (Tiradentes) 39
121
São losé de Macapá 47, 56, 57, 58, 59, 62, 66, 67, 69, 
85, 91,97, 101, 102, 118 
São josé de Mossamedes 82, 33, 84, 87, 97,118 
São José do Porto dos Barcos (depois Aracatí) 23 
São José do Rio Negro, ver Barcellos 
São Luís 17, 97
São Miguel 47, 54, 55, 56, 66,78, 79, 97, 118 
São Paulo, capitania 11,14,31, 33, 39,42, 44, 47, 72, 
73, 75,76,77,78,85, 86,93, 119 
Sào Paulo, cidade V, XII, 31,41, 43, 73,91, 94, 97,118 
São Pedro 75
São Petersburgo (ex-Leningrado) 95, 103 
São Roque, cabo de 17 
Sorocaba 73, 77, 85, 86 
Sumidouro 27, 28, 38
T
Tapajós, rio 50 
Terreiro do Paço, Lisboa 64 
Tibagi, rio 75 
Tietê, rio 73 
Tocantins, rio 9, 50, 56 
Tordeslihas, Tratado de 9 
Trancoso 69, 97, 118 
Trocano, ver Borba
v
Venezuela 101 
Verde 69, 97, 118 
Vermelho, rio 29, 31, 39 
Versailles, França 90, 102 
Viamão VHI, 73, 86 
Viçosa 70,72, 85,97, 118 
Victoria, Nossa Senhora de, ver Mocha 
Vila Bela VII, 32, 33, 34, 35,36, 40,49, 79, 80,81, 82, 
84, 87, 88, 89, 97, 98,103, 118 
Vila Boa de Goiás (Santa Ana) 31,32,33, 39,40, 82, 
84, 87, 97, 103,118
Vila Maria do Paraguay (Cáceres) 78, 79, 80, 81, 82,
87, 97,118
Vila Rica (Ouro Preto) 29, 366, 37, 38, 39 
Vistosa 62, 67
N om es de pessoas e gentílicos
A
Abreu, Joio Capistrano de 10,11,15, 24, 25 
Abreu, Tomás Canceiro 69, 84 
Açorianos (casais) 26, 44, 45, 47, 48, 58, 79, 80, 91, 92, 
95, 99
Adonias, Isa V, 108
Aires de Casal, Manuel 59, 66
Aiberti, Leon-Battista 97,103
Albuquerque Melo Pereira e Cáceres, Luís de
(governador de Mato Grosso) 40, 77, 78, 79, 81, 82, 
84, 85,87, 88
Alden, Dauril 39,47, 66, 73, 85, 86, 87, 99,101,102, 
103, 104
Almeida, Pedro Taques de 41, 46 
Almeida Serra, Ricardo Franco de 87, 91, 94 
Aipoim, José Fernandes Pinto 37, 43, 47 
Andrade, Gomes Freire de, conde de Bobadela 
(governador) 24, 26,40,44 
Antônio, príncipe dom 42 
Azevedo, Aroldo 7,15, 25, 39, 93, 94, 96, 103 
Azevedo, Custódio Francisco 2, 7 
Azevedo, Fernão de 2, 7 
Azevedo, Thales 46, 48
B
Barreto, Paulo T. 19, 25
Bastão Ferrer, Anêmona Xavier de 26
Belidor, Bernardo Forest de 43 47
Borba de Morais, Rubens, ver Morais, Rubens Borba de
Boxer, Charles 13, 15, 16, 25, 38, 39
Bums, E. Bradford I, VII, XII, 15, 93
c
Cabral, Pascoal Moreira 29
-Calógeras, João Pandiá 16
Câmara, João Pedro de 55, 56
Castro e Almeida, Eduardo de V, 48
Correa Filho, Virgílio 36,39,40, 87
Corrêa Pinto, Antônio 74, 75, 86
Cortesão, Jaime 42,46, 47
Costa, Thomaz Rodrigues da 58
Cruz Pinheiro, João da 58, 66
Cunha Menezes, Luís da (governador) 40, 81, 82, 83,
84, 85,87, 94,103
122
D
Davidson, David M. 39, 40, V , 78, 79, 80, 87, 94 
Deffontaines, Pierre 2, 6 
Doxiadis, Konstantinos Apostolos 5
E
Espanhóis XI, 1, 9,14, 33, 34. 39, 41, 43, 44, 45, 51, 
75, 76, 79, 80, 81, 82,103
F
Faria, José de 24, 26
Ferreira Reis, Artur Cézar VII, 66, 67
Fonseca e Silva, Valentim 90
Fortes, Azeredo 42
França, José Augusto 64, 67, 68
Francês, Manuel 22, 26
Franceses 41, 57
Freyre, Gilberto de Melo 2, 7
Furtado, Celso Monteiro 98, 103
G
Gasparini, Graziano VII 
Geigger, Pedro Pinchas VII, 7 
Girão Raimundo 21, 25, 26 
Gusmão, Alexandre de 44, 45, 46, 47, 99
H
Hardoy, Jorge E. VII, XII 
Harris, Marvin 2, 6
Holanda, Sérgio Buarque de VII, 6, 46 
Holandeses 21, 25, 51
I
Ianni, Octavio VII
índios (Brasil) 11,18,19, 42, 44,49, 50, 51, 53, 54, 55, 
56, 59, 60, 66,67, 69, 70, 71, 72, 73, 75, 76, 79, 80, 
81, 82, 84, 85, 89, 91, 92, 93, 94, 95, 100, 104,
Iria, Alberto V, 25
J
Jesuítas 11, 18, 47, 49, 65, 71, 73, 75, 76, 86, 87 
João V (rei) 16, 46, 49, 64 
João VI (rei) 4, 5, 93 
José I (rei) 49, 67
L
Ladino, Mando 18 
Landi, Antônio José 54, 66
Lavradio, marquês de, Luís de Almeida Soares Portugal 
de Alarcão Eça e Melo. Conde de avintes e (vice- 
rei)
Leme, Mathias 73, 85, 86
Lima, d. Francisco (bispo) 17
Lyra Tavares, general Aurélio de 46, 66, 67
M
Maia da Gama, João da 19, 25 
Mardel, Carlos 64, 67 
Maria I (rainha) 4
Mascarenhas, d. Luís de (governador) 31 
Massé, João 41, 46
Melo e Castro, Manuel Bernardo de (governador) 40, 
51, 65, 66
Mendonça Furtado, Francisco Xavier de (governador) 
V, 49, 50, 51, 53, 58, 59, 65, 66, 67,75, 76, 77, 86, 
87,104
Monteiro, José Xavier Machado 69, 70, 71, 72, 84, 85, 
96, 104
Montesquieu,

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