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1 PROCESSO PENAL IV Prof. Marcos Zilli 2º semestre 2012 Aula 08/08 Procedimento de Tribunal do Júri (i) Diligências complementares podem ser requeridas. O juiz pode requerer oitiva de testemunhas do juízo. (ii) Momento para sanar irregularidades. (iii) O tribunal é único, tudo deve estar pronto antes de sua ocorrência. (iv) Designação de data para ocorrer a sessão de julgamento. Desaforamento Antes de ocorrer a sessão, porém, pode haver o desaforamento: deslocamento de competência, com modificação territorial apenas (competência relativa). Não afasta a competência do Tribunal do Júri, desloca-se apenas o local onde será realizada a sessão. Razões que justificam o desaforamento (arts. 427/428 CPP): 1 – Prevalência de interesses públicos: (i) interesse de ordem pública (grave comoção social que causam algum tipo de intranquilidade naquela comarca e que podem prejudicar a sessão do tribunal – lembrando sempre que o tribunal é composto por juízes leigos, que estão mais sujeitos a pressão – assim, o legislador busca resguardá-los); (ii) dúvida sobre a imparcialidade dos jurados (basta a dúvida, não é necessária prova efetiva do comprometimento da imparcialidade); (iii) dúvida quanto o resguardo da integridade física do acusado. 2 – Excesso de prazo: envolve a garantia da duração razoável do processo. O legislador determina o prazo de 6 meses, contados a partir da preclusão da decisão de pronúncia. Procedimento de desaforamento O órgão jurisdicional que determinará se haverá desaforamento ou não é o órgão superior de jurisdição, ou seja o TJ ou STJ. Legitimidade para requerer o desaforamento: para as hipóteses do art. 427, qualquer uma das partes; para as hipóteses do art. 428, apenas a defesa (a defesa seria a mais interessada no julgamento mais célere). Nas hipóteses do art. 427, ainda, o juiz presidente do tribunal também poderá requerer o desaforamento, trata-se de hipótese de representação do presidente tribunal de júri. Procedimento do art. 427: (i) O tribunal superior poderá, em caráter liminar, determinar a suspensão do julgamento. São situações que comprometem o andamento normal da sessão do júri, de modo que se deixa-se o 2 procedimento acontecer sem a decisão do desaforamento, essa sessão poderá ser declarada nula. De modo que, dependendo da alegação e do suporte probatório do requerimento, o tribunal determine a suspensão do julgamento, até que seja decidido sobre o desaforamento. (ii) Não há previsão legal de manifestação da parte contrária (se a defesa pede o desaforamento, a acusação não se manifesta, e vice-versa). Porém, é uma questão controvertida, e há autores que defendem que deve ser dado oportunidade para a parte contrária se manifestar. (iii) O juiz também deve ser ouvido antes do tribunal decidir (a não ser na hipótese que haja a representação do juiz). Procedimento do art. 428: (i) Não cabe a suspensão no caso do art. 428, porque o que justifica o desaforamento nesse caso é exatamente a demora em julgar. (ii) Como somente a defesa pode requerer o desaforamento, há previsão legal que a acusação pode se manifestar antes da decisão. (iii) Não há previsão de manifestação prévia do juiz. O desaforamento é definitivo, não é possível reaforamento. Mas nada impede que a nova comarca, para onde se determinou a ida aos autos, existam requisitos para um novo desaforamento. Juízo da causa Trata-se de um órgão jurisdicionado. O juiz divide a sua tarefa com os juízes leigos, os jurados. Escolha dos jurados São 25 jurados. A cada sessão plenária, 25 jurados vão comparecer, e serão sorteados apenas 7 para formar o conselho de sentença, os quais efetivamente julgarão o mérito da acusação. Todo ano o Tribunal do Júri faz uma lista de jurados que irão atuar em todas as sessões do ano seguinte. O juiz requisita informações às mais variadas entidades, para que indiquem pessoas que estariam habilitadas para serem jurados (empresas privadas, instituições de ensino, sindicatos, etc.). O CPP estabelece um número de pessoas que deve compor essa lista, e o número de pessoas varia de acordo com o tamanho da comarca (art. 425). Publicada a lista, aguardam-se impugnações e, posteriormente, publica-se uma lista definitiva. A partir dessa lista, fazem-se cédulas com todos os nomes, colocam-se as cédulas na urna geral que fica lacrada com o juiz. Aproximadamente 10/15 dias antes de cada reunião periódica do tribunal (art. 433, §1º) é feita uma audiência de sorteio, um ato público. Nessa reunião são sorteados 25 jurados da urna geral. Essas 25 pessoas deverão participar de todas as sessões marcadas para aquele mês. Essas 25 cédulas são transferidas para outra urna, a urna de sorteio, que será levada para cada sessão de julgamento e no dia da sessão, dos 25 nomes, sorteiam-se 7 (sete). Jurados (i) Isenção: art. 437. Isenta as pessoas do exercício da função de jurados. Estão relacionados ao exercício de determinadas funções. Por exemplo, aos maiores de 70 anos é dada a faculdade para exercer a função de jurado ou não. 3 (ii) Impedimento: art. 448. Obstam que determinadas pessoas exerçam as funções de jurados naquele conselho de sentença. Não é uma objeção a exercer a condição de jurado, mas somente naquele conselho de sentença específico. Por exemplo, já tem um parente que irá compor o conselho de sentença. (iii) Proibição: art. 449 e art. 426, §4º. (a) Jurado que atuou no julgamento anterior (súmula 206 STF) – houve uma sessão do tribunal de júri, houve recurso e na apelação o julgamento foi anulado, o que traz a necessidade de realizar uma nova sessão plenária. Assim, os jurados que participaram do primeiro julgamento não poderão participar do segundo; (b) Jurado que integrou outro conselho de sentença no caso de concurso de pessoas. Em caso de concurso, via de regra, todos serão julgados em uma mesma sessão, salvo algumas poucas exceções. Contudo, quando houver essa cisão, o jurado que compor o conselho de sentença em um desses julgamentos não poderá participar do outro; (c) jurado que tiver integrado o conselho de sentença nos últimos 12 meses anteriores – o jurado que atuou em conselho de sentença um ano, não poderá integrar no ano subsequente. (iv) Recusa: o jurado é obrigado a prestar esse serviço, se ele não comparece sem justificativa estará sujeito a certas providências, como multa (art. 436, §2º). Se a recusa for motivada por questões religiosas, esse jurado deverá prestar um serviço alternativo (art. 438), e se essa pessoa se recusar a prestar tais serviços alternativos, terá suspenso seus direitos políticos (art.?). Função: (i) Julgamento dos crimes dolosos contra a vida e conexos (os jurados são chamados para analisar a imputação no sentido fático, cabendo a questão jurídica ao juiz); (ii) Exercício efetivo – serviço público relevante (art. 439); (iii) É considerado funcionário público (art. 327, CP) e tem responsabilidade criminal (art. 445); (iv) Traz benefícios ao jurado nas licitações publicas e concursos (art. 440); (v) Preservação dos vencimentos (art. 441); (vi) Sujeito a prisão especial (art. ?). Sessão de julgamento 1) Primeira providência: averiguar quem está presente e ausente. (i) Ausência do MP: não pode ser realizado o julgamento, adiamento para o 1º dia desimpedido (art. 455, CPP), não é possível nomear um promotor “ad hoc”. Se isso ocorrer, o juiz deverá comunicar tal fato ao procurador geral para ele adotar as medidas cabíveis, e se for o caso, designar um novo representante do MP. (ii) Ausência do advogado do réu: não é possível realizar o julgamento, deverá ser adiado. Se a ausência é injustificada, o juiz deverá marcar uma nova data e, nesse dia, já provocar a intimação da defensoria pública, pois se nessa data o advogado não vier novamente, a defensoria que irá exercer a defesa do réu. Entre essas audiências deverá ter o prazo de 10 dias para viabilizara defesa pela defensoria pública. (iii) Ausência de réu que está solto (reforma de 2008): se o réu foi intimado para a audiência, o julgamento ocorre de qualquer forma (art. 457). Tal ausência é interpretada como exercício do direito de silêncio do réu. 4 (iv) Ausência do réu preso: se o réu não foi conduzido à sessão do júri, haverá adiamento do julgamento, a não ser que o defensor concorde em continuar a sessão do julgamento. Há quem afirme que essa anuência só seria possível pelo defensor constituído, e não pelo defensor dativo (Art. 457, 2º). (v) Ausência do assistente de acusação: se for injustificada, o julgamento é realizado, porque não há prejuízo, pois o acusador principal está presente. Mas se for apresentado motivos para sua ausência, há a possibilidade de se adiar o julgamento, mas não é obrigatoriedade de adiamento. (vi) Ausência do advogado do querelante (hipótese de ação penal privada substitutiva da pública): se injustificada, a ação é retomada pelo MP. Se há justificativa, adia-se a sessão. (vii) Ausência de testemunhas: se foi arrolada em cláusula de imprescindibilidade, encontrada e intimada (se não foi intimada, não há prejuízo para o julgamento, pois é dever da parte fornecer o endereço correto da testemunha), suspendem-se os trabalhos e é determinada a imediata condução da testemunha; se isso não for possível/viável, adia-se a sessão de julgamento determinando que o oficial de justiça conduza coercitivamente a testemunha. Se no novo dia, a testemunha ainda assim não comparecer, o julgamento será realizado. (viii) Jurados: o juiz retira os nomes da urna e confere cédula por cédula quais jurados estão presentes. (a) Se comparecerem 15 dos 25 jurados, a sessão é realizada; (b) Se compareceram menos de 15 jurados, não se realiza a sessão, designa-se nova data. 2) Instaura-se a sessão, e é feito o pregão: é anunciado qual é o processo que será colocado em julgamento. É um momento solene e formal, e é o momento limite para que as partes possam arguir algum tipo de nulidade. Se a nulidade é relativa, e não arguida nesse momento, ela é sanada. 3) Sorteio dos jurados que irão compor o conselho de sentença. O juiz deve advertir os jurados que irá realizar o sorteio, lembrando-os das hipóteses de impedimento, etc. O jurado sorteado se levanta e se apresenta às partes. As partes irão dizer se concordam com o jurado – é o único momento em que a defesa se manifesta antes da acusação. Cada uma das partes pode fazer três recusas injustificadas (recusas peremptórias), e demais recusas justificadas, baseadas nas hipóteses de isenção, de impedimento, etc. (Para maior esclarecimento do que será explicado abaixo ver tabela dos slides do Zili sobre sorteio). (a) Um réu com um defensor: se o defensor rejeitar o jurado, a acusação sequer é ouvida, o jurado é automaticamente excluído. Se a defesa aceita, e a acusação recusa, o jurado é excluído. O jurado somente é aceito se tanto defesa e acusação aceitarem. (b) Vários réus com vários defensores: se o primeiro defensor recusa o jurado, ele já é automaticamente excluído. Se o primeiro defensor aceita, e o segundo recusa, o jurado já é excluído sem ouvir a acusação. Se todos os defensores aceitam e a acusação recusa, o jurado é excluído. Quando todos aceitam, o jurado fará parte do conselho de sentença. (c) Quando forem várias partes e sucessivas recusas que inviabilizam a formação do conselho de sentença (pode-se chegar a uma situação que não há jurados suficientes): nesse caso, o julgamento será cindindo, será separado na hipótese de pluralidade de réus com pluralidade de defensores. Serão designadas novas datas, uma para cada réu. Preferência para o julgamento do autor do crime (art. 469, §2º), em coautoria segue a ordem de preferência do art. 429, CPP. 4) Formação do conselho: (a) tomada do juramento individual (art. 472); 5 (b) entrega de cópia da pronúncia, das decisões posteriores e o relatório feito pelo juiz quando está preparando o julgamento (art. 472); (c) uma vez escolhidos, eles se torna incomunicáveis (não podem ter contato externo, com outras pessoas fora do tribunal do júri) e são proibidos de manifestar sua opinião entre eles (diferente do sistema americano), eles devem formar sua opinião individualmente (adotamos o modelo de formação de convicção íntima). Aula 15/08 5) Instrução do plenário (a) Testemunhas do juízo (b) Testemunhas da acusação e defesa As perguntas dos advogados são feitas diretamente, mas o juiz exerce um poder fiscalizatório e pode indeferir perguntas. As perguntas dos jurados são feitas através do juiz presidente. Isso porque os jurados são juízes leigos, e a formulação de suas perguntas pode indicar uma opinião do júri sobre o caso, o que pode eivar de nulidade todo o procedimento. É uma questão delicada, em que os juízes têm geralmente muita cautela. (c) Acareações (d) Esclarecimentos dos peritos (art.422 c/c art. 159, §5º) (e) Interrogatório (art. 474): É meio de exercício de auto defesa. É realizado em plenário, caso o réu tenha comparecido a sessão de julgamento. Deve-se resguardar o direito do acusado de entrevista com o seu defensor antes de começar o interrogatório. O acusado não está obrigado a responder às perguntas, e pode manter-se em silêncio. Porém, é uma questão um pouco problemática, porque são os jurados que irão avaliar o interrogatório. Nesse ponto, é preciso orientar bem os jurados para que não avaliem negativamente se o acusado ficar em silêncio e não responder. Existem duas partes do interrogatório: (i) indagações pessoas sobre a vida familiar, etc., trata- se da qualificação do acusado; (ii) perguntas relacionadas à imputação. É conduzido pelo juiz presidente, e ao fim de suas perguntas, ele concede oportunidade para que os jurados façam suas perguntas, as quais, na verdade, serão feitas por intermédio do juiz presidente. Depois, a acusação faz perguntas (MP ou querelante), depois o assistente de acusação e, por fim, a defesa. No caso de vários réus com vários defensores – os advogados do réu que não está sendo interrogado podem formular perguntas. Nesse caso, o juiz deve ser maleável, e a ordem de suas perguntas deve ser, pelo menos, antes das perguntas da defesa, para permitir a ampla defesa do acusado. Uso de algemas (art. 474, §3º e Súmula Vinculante nº 11): Deve haver decisão do juiz devidamente fundamentada em um dos casos da súmula vinculante nº 11 antes de permitir o uso de algemas. Se ele for algemado sem decisão, o julgamento pode ser considerado nulo. Esse determinação adveio porque alguns tribunais superiores vinham anulando algumas sessões porque o 6 réu teria ficado algemado durante toda a sessão. Um dos motivos para tal é para proteger a convicção dos jurados – por serem juízes leigos, seriam mais suscetíveis de certas impressões, os jurados poderiam ser influenciados por tal imagem. Tal matéria foi então regulamentada. Uso de Algemas - Restrições - Responsabilidades do Agente e do Estado – Nulidades. Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Observações: 1 – Princípio da comunhão das provas: a partir do momento que a parte arrola determinada testemunhas, essa testemunha passa a ser de interesse comum, e não somente da parte que a arrolou. Como consequência, se a parte que arrolou a testemunha desiste da sua oitiva, a sua desistência só produzirá efeitos se a outra parte também concordar. Se não concordar, a testemunha será ouvida. 2 – Embora a produção da prova esteja concentrada na instrução em plenário, nada impede que duranteos debates, as partes requeiram a reinquirição de testemunhas já ouvidas (art. 476, §4º), quando, por exemplo, os debates suscitam pontos controvertidos, para os quais é necessário ouvir novamente a testemunha. Nesse caso, após os depoimentos das testemunhas, elas não são dispensadas, e ficam aguardando durante a sessão de julgamento, diante da possibilidade de reinquiri-las. 3 – É possível a leitura de peças no plenário, como por exemplo, as testemunhas ouvidas no âmbito de carta precatória, ou então as provas já realizadas por serem cautelares. (d) Debates em plenário As partes devem manifestar sua tese e uma síntese de seus argumentos. É o momento em que os jurados devem ser convencidos. Tempo previsto: 1:30h para a acusação (envolve o acusador principal e o assistente de acusação) e 1:30h para defesa (art. 477). Limites dos fundamentos da sustentação: a decisão de pronúncia. Ou seja, o acusador pode até suscitar uma situação menos gravosa do que a determinada na pronúncia, mas não pode suscitar uma decisão mais grave. Inclusive, o MP, como custos legis, pode até requerer a absolvição do réu, inobstante a decisão de pronúncia. Há a possibilidade que o acusador suscite questões agravantes (reforma de 2008). Isso é permitido porque tais questões não serão decidas pelos jurados, mas sim pelo juiz em eventual dosimetria da pena. Mas há grandes controvérsias sobre tal questão na doutrina. Os acusados não podem dormir, sob pena de nulidade do julgamento (é sério, tem decisões do STF sobre isso). Réplica: 1h para cada. Se não houve réplica, não haverá tréplica. Com o encerramento da fala da defesa, o juiz deve indagar se o acusador fará réplica, se a resposta for não, encerram-se os debates. Mas essa resposta do acusador deve ser simplesmente “não”, pois se fizer posterior considerações, poderá considerar aquilo como réplica, por exemplo 7 “não, porque as provas e os debates foram suficientes para provar a culpa do acusado”. Há jurisprudência que indica isso como réplica, devendo então haver tréplica. Vários acusados: o tempo fica acrescido de mais uma hora para a acusação e para a defesa, cada uma passa a ter 2h30. É o tempo máximo, ainda que hajam vários defensores para os vários réus. Eles deverão dividir o tempo entre eles, e se não houve consenso, o juiz que decide. O período de réplica e tréplica também dobra, passando a ser de 2h. Observações 1 – Possibilidade de inovação da tréplica: qual a matéria pode ser suscitada na tréplica? A defesa pode inovar sua defesa, ela não estaria adstrita aos termos da acusação. Antes não se permitia isso porque se ela inovasse na tréplica, a acusação não teria oportunidade de se defender. Porém, a possibilidade de inovar foi considerada como um exercício de plenitude de defesa. 2 – Apartes: intervenções feitas pela parte contrária durante a exposição da parte contrária. Antes da reforma de 2008 não havia qualquer regulamentação a respeito e era uma bagunça, havendo vários casos de anulação da sessão pelo excesso de apartes que inviabilizaram a exposição da parte. Hoje em dia há o art. 497, XII. 3 – Proibição de leitura de documento novo (art. 479, CPP). Qualquer documento novo deverá ser juntado aos autos em até três dias antes da sessão de julgamento, para permitir o exercício do contraditório. Porém, isso não abrange a leitura de doutrina e jurisprudência. 4 – Determinados argumentos são proibidos de serem invocados (reforma de 2008) (art. 478, CPP). Busca-se evitar uma má-impressão por parte dos jurados, que são juízes leigos. São argumentos que tem forte carga de persuasão, mas cuja força probatória não é relevante. Por exemplo: referir-se a decisão de pronúncia como se fosse um argumento de autoridade (“tanto o acusado deve ser condenado, que foi pronunciado” / “o réu é culpado, tanto que a decisão de pronúncia foi confirmada pelo TJ, por unanimidade”); uso de algema (“o uso de algemas é excepcional, e nesse caso o réu está algemado, o que indica que ele é culpado, porque ele é muito perigoso”); silêncio do acusado (“ele permaneceu em silêncio, o que indica que ele é culpado”); ausência de interrogatório, é possível que haja sessão sem a presença do acusado, mas a acusação não pode referir-se a isso (“tanto ele é acusado que sequer compareceu a audiência”). 6) Indagação dos jurados O juiz indaga se os jurados já estão aptos a decidir, ou se precisam de algum esclarecimento. Se precisarem de esclarecimento, o que é momento de cautela para que o jurado não expresse sua opinião sobre o procedimento. Muitas das dúvidas podem ensejar a produção de nova prova. Se ela puder ser produzida em plenário, suspende-se a sessão e ela é produzida. Se não puder ser produzida em plenário, haverá dissolução do conselho, e será marcada nova sessão (art. 481, CPP). 7) Formulação de quesitos Após os esclarecimentos, há a leitura dos quesitos. São perguntas formuladas pelo juiz para que os jurados a respondam. Após a leitura dos quesitos, indaga se as partes tem alguma duvida ou impugnação. Se não houver, os jurados encaminham-se a sala especial onde será realizada a votação. 8 Como são elaborados os quesitos (art. 482): Elementos que devem ser considerados: (i) Decisão de pronúncia e decisões posteriores, como as que confirmam a pronúncia, ou para adequar a pronúncia aos fatos; (ii) interrogatório ao acusado; e (iii) alegações feitas pelas partes durante os debates. Os quesitos devem ser redigidos de forma simples e objetiva, que demandem respostas objetivas (“sim” ou “não”). Os quesitos devem ser elaborados em séries: uma série para cada crime; se forem vários réus, uma série para cada réu (art. 483, §6º). Sequência dos quesitos: (a) Materialidade do fato: primeiro sobre o fato (“Houve ferimentos?”), depois sobre a causalidade (“os ferimentos foram a causa da morte da vítima”?). Há doutrinadores que afirma que esse quesito deveria ser um só, como Badaró. (b) Autoria e participação (c) Se o jurado absolve ou não o acusado (novidade de 2008): a forma é prestabelecida em lei “os jurados absolvem o acusado?”, e abrange todas as teses defensivas. No modelo anterior, todas as teses defensivas deveriam ser quisitadas. (d) Causa de diminuição de pena (e) Qualificadoras ou causa de aumento: estas devem estar previstas na pronúncia ou decisões posteriores. Observações: a defesa não precisa suscitar atenuantes, cabe ao juiz avaliar se há a presença de agravantes ou atenuantes (art. 492, I, a, CPP). Sala secreta: estão presentes os jurados, o juiz presidindo, e acompanhado por assistentes, pelos defensores e pela acusação (e assistente). O juiz elabora o quesito, e passa uma urna para os jurados depositarem seu voto relativo à este quesito. Depois passa uma outra urna para depositar as cédulas inválidas. Antes era preciso contabilizar os votos válidos, e depois conferir com os inválidos (se houvesse 7 “sim” na urna válida, deveria haver 7 “não” na urna inválida). Mas hoje, o juiz, atingindo a maioria, pára de contar os votos. Se houver contradição nas respostas, por exemplo, consideram que o homicídio foi realizado por motivo louvável (relevante valor moral), e depois reconhecem que foi também por motivo torpe – o juiz deve esclarecer as perguntas e realizar nova votação. Depois do fim da votação, o juiz irá dosar a pena. Elaborada a sentença, o juiz a lê em plenário, momento em que o julgamento se torna público. ORGANOGRAMAS – RESUMÃO TRIBUNAL DO JÚRI 9 10 Processo Penal IV – 22/08/2012 Sentença Penal O tratamento das decisões penais carece de uma melhor sistematização por parte do legislador. Isso é perfeitamente detectável quando examinamos alguns artigos do CPP, como o artigo 800, o artigo 593 e o artigo 581. Segundo o artigo 593, caberia apelação das decisões definitivas ou com força de definitivas. No que diz respeito ao artigo 581, o recurso em sentido estritocaberia da decisão, do despacho ou da sentença. Com a análise desses dispositivos, percebemos uma terminologia vacilante. Há uma dificuldade de se compreender o sistema recursal no processo penal, porque ele está muito distante da racionalidade do processo civil. Há muito tempo a doutrina procura concentrar os seus esforços na tentativa de estabelecer uma sistematização das decisões ou dos tipos de decisões. Essa sistematização não encontra um respaldo absoluto no CCP. Mas ela reflete inclusive as propostas de alteração do CPP. De comum, as sentenças põem fim ao processo ou pelo menos tem essa força potencial. 1) Sentença definitiva (com julgamento de mérito) (a) Definitiva em sentido estrito Procedência ou improcedência da pretensão punitiva. É o julgamento da pretensão punitiva do Estado. Aqui estamos em um contexto de ação penal condenatória. A sentença que é proferida pelo Estado juiz enfrenta a pretensão punitiva, afirmando se ela é procedente ou não. (a.1) Condenatória: juiz julga procedente a pretensão punitiva. (a.2) Absolutória: juiz julga improcedente a pretensão punitiva. (i) Própria: As absolutórias próprias, em razão do momento em que é proferida, pode ser uma absolutória própria sumária (ex.: absolutória proferida ao término da 1ª fase do procedimento do júri) ou absolutória própria final. (ii) Imprópria: artigo 26, caput do CPP (inimputabilidade penal em decorrência de doença mental). De acordo com esse dispositivo, o sujeito não está sujeito a pena, mas a uma medida de segurança. Quando julgamentos um caso em que um inimputável praticou uma conduta criminal, a sentença a ser proferida não será condenatória em razão da inimputabilidade. Nesse caso, a sentença é absolutória. 11 Mas essa sentença não é absolutória própria, pois vem acompanhada de uma medida de segurança. Essa medida busca resguardar a sociedade de uma periculosidade. É um tipo de sanção, mas não tem a mesma característica da pena. A medida de segurança não está calcada em juízo de culpabilidade, mas de periculosidade. (b) Definitiva em sentido lato. Aqui não se está julgando a procedência ou improcedência da pretensão punitiva. Aqui essa decisão toca o direito de punir do Estado, mas não o de procedência ou improcedência da pretensão punitiva. EX 01: Extinção da punibilidade – O Estado não tem o direito de punir. Encerramos o processo. A decisão toca o direito de punir, mas não fala se ele é procedente ou não. Por isso não é adequada a inserção do legislador de 2008 da sentença de extinção de punibilidade no contexto da absolvição sumária. Isso porque essa sentença apenas declara extinta a punibilidade. EX 02: Sentença proferida no contexto do HC ou da revisão criminal. A revisão criminal não é ação condenatória, mas impugnativa. O seu objetivo não é por em discussão a pretensão punitiva do Estado. Ela visa desconstituir a sentença condenatória transitada em julgado e os seus efeitos. É esse o objetivo. Então neste caso a sentença proferida na revisão criminal poderá anular a sentença anterior e poderá inclusive absolver o condenado. 2) Terminativa Sem julgamento de mérito. EX: Sentença que rejeita a denúncia ou queixa por reconhecimento de falta de justa causa. 3) Decisão interlocutória. São atos judiciais decisórios proferidos ao longo da marcha processual. Por essa proposta de sistematização, teríamos dois tipos de decisão interlocutórias: (a) Simples: decidem questão incidente de natureza processual. Ex: Prisão Preventiva. Elas são denominadas simples porque a questão decidida é exclusivamente processual. A matéria envolvida por esse ato decisório toca especificamente uma matéria de natureza processual. E aí temos múltiplos exemplos: prisão temporária; decisão que converte a prisão em flagrante em prisão preventiva. Ainda no mesmo contexto, uma decisão que decreta uma medida cautelar pessoal diferente da prisão pode ser apontada como exemplo. Outra decisão interlocutória seria aquela que determina a ilicitude de uma prova e o seu desentranhamento. (b) Mistas: decidem o mérito de questão incidente. Ex: Livramento condicional. Nas decisões mistas, a questão incidental também toca ao direito penal material. No curso do processo de execução, o juiz profere várias decisões interlocutórias incidentais e que tocam o próprio direito penal. Todas as questões que envolveram quantidade de penal, regime prisional, forma de cumprimento da pena e etc são questões que tocam o direito penal. Quando o juiz concede o livramento condicional, o juiz decide uma questão incidental mista. 4) Despachos 12 Movimentação do processo com nenhum ou mínimo conteúdo decisório. Os despachos estão inseridos naquela ideia de que o processo deve ter um impulso oficial, tendo em vista o objetivo de proferir sentença. Ex: Juiz determina a citação do réu. Outro exemplo seria quando o juiz concede oportunidade para uma das partes se manifestar a respeito de documentos juntados pela parte contrária. Ex: Designação de audiência de suspensão condicional do processo. Classificação das sentenças (i) Quanto à natureza do provimento: Declaratória: existência ou inexistência de relação ou situação jurídica. EX.: Concessão de habeas corpus, extinção da punibilidade (declara que o Estado não pode mais exercer o poder-dever punitivo). Absolutória: pode ter um conteúdo declaratório ao declarar a improcedência da ação penal. Desconstitutiva/Constitutiva – Modifica ou estabelece uma nova situação jurídica. EX.: Revisão criminal. Absolutória (réu foi absolvido, ele estava preso cautelarmente e foi posto agora em liberdade. Além disso, foram restituídos álbuns objetos alvo de apreensão. Assim, além de absolutória, essa sentença desconstitui uma situação jurídica). Condenatória – Afirma a procedência da pretensão punitiva e fixa a sanção penal correspondente. Essa sentença necessariamente vem acompanhada da sanção penal. Além de uma dimensão declaratória, onde o juiz reconhece o cometimento de uma prática criminosa, essa sentença necessariamente vem acompanhada pela determinação da penal. (ii) Quanto ao aspecto subjetivo. Simples: Proferida por órgão monocrático. Plúrima: Órgãos colegiados homogênios – decisão de um recurso por turma, câmaras ou seções. EX: Sentença julgadas pelos Tribunais. Sentença da Lei 12.694 – julgamento de crimes de organização criminosa. Complexa: Proferida por julgadores de natureza diversa – sentença do tribunal do juri. É proferida por mais de uma pessoa, mas a função dessas pessoas não é a mesma. Não estamos falando dos atos decisórios proferidos na primeira fase, mas do ato decisório final. Aquela sentença é proferida em razão da convergência de dois órgãos: o conselho de sentença, que enfrenta as questões relacionadas ao mérito. E o juiz presidente do tribunal do júri, que deve definir a pena correspondente ou, no caso de absolvição, proclamar a absolvição. Requisitos da sentença (art. 381, CPP). A sentença deve ser divida em três partes: relatório, motivação e dispositivo. (i) Relatório: é considerada a história relevante do processo. Qual é o objetivo? O legislador entende que ao apresentar o relatório nós teríamos uma declaração inequívoca de que o juiz teria tido acesso a todas as informações dos autos. Antigamente a ausência de relatório era tida como uma forma de nulidade absoluta. Hoje encontramos julgados que falam em nulidade relativa. Por isso, precisaríamos demonstrar o prejuízo. Há dois casos em que o legislador dispensa a presença do relatório: (a) JECrim (art. 81, §3, Lei 9.099/95) – A ideia é de agilidade, mas sobretudo de informalidade que deve permear o 13 procedimento do JECrim. O legislador afasta a necessidade de apresentação de relatório. (b) Sessão plenária do Tribunal do Júri (art. 492, CPP). Qual é a lógica para essa dispensabilidade? Porque o juiz já elaborou um relatório até a sessão. E porque da sessão da tribunaldo juri será lavrada uma ata circunstanciada indicando tudo o que ocorreu na sessão plenária. Por isso, não há necessidade de o juiz elaborar um relatório. (ii) Motivação: é no âmbito da motivação que o juiz vai apresentar as suas razões para julgar. É um discurso justificativo, na qual são expostos fundamentos fáticos e jurídicos relacionados com a imputação. É uma garantia constitucional (art. 93, IX, CF) – explicitação das razões da atuação estatal, devido processo (art. 5º, LXI, CF). O parágrafo 2º do art. 5 proclama que o rol de direitos e garantias fundamentais não excluem outros direitos implícitos ou decorrente de outras normas da CF ou de tratados internacionais. Essa seria a hipótese do artigo 93, IX. Sentença sem motivação é nula. O prejuízo não precisa ser demonstrado. Por isso fala-se em nulidade absoluta, não em nulidade relativa. Será que o juiz pode usar argumentação ou motivação “per relationem”? É aquele que ele se refere a decisão de outrem como substrato para a sua própria decisão. Ex: Acolho em totun as razões do MP, que servem como razão de decidir. No âmbito doutrinário, há quase unanimidade em entender que esse tipo de fundamentação é inviável e inadmissível. Apesar disso, o STJ já afirmou que é possível essa fundamentação. Obs. Tribunal do Júri – Os jurados não precisam justificar porque condenam, nem indicar o porque está absolvendo. É uma sentença em que o juiz simplesmente vai invocar os vereditos do juiz. O juiz não pode fazer isso porque existe a soberania dos vereditos. Ele apenas vai indicar os parâmetros da pena. (iii) Dispositivo: A ausência de dispositivo, segundo Ada, Scarance e Magalhães, tornaria a sentença inexistente. A maioria da doutrina, por sua vez, entende que a sentença é nula. MOTIVAÇÃO (a) Absolutória: o juiz deve indicar o fundamento para a absolvição (art. 386, CPP). Isso tem importantes efeitos no âmbito das ações civis. Uma vez expedida decisão absolutória, o juiz deve expedir alvará de soltura e providenciar a cessação das medidas cautelares. No caso de absolutória imprópria, ele deve indicar a medida de segurança aplicável. (a.1) Sumária – julgamento antecipado – desnecessidade de realização da atividade instrutória (art. 397 do CPP). Esse julgamento antecipado somente ocorre em favor do réu. Obs.: Procedimento do tribunal do júri – art. 415 do CPP – Essa absolvição sumária já existia. As mudanças ocorreram quanto aos seus requisitos. A absolvição do artigo 397 é um exemplo claro de absolvição sumária, é impeditiva da atividade instrutória. A decisão do artigo 415, prolatada ao término da primeira fase e depois de uma atividade instrutória. Ela é impeditiva do julgamento do tribunal do júri. (a.2) “Final” - É a absolvição proferida ao término da marcha processual. O juiz de 1º grau esgota a sua atividade jurisdicional (art. 386 do CPP). i. Estar provada a inexistência de fato: fato naturalístico (material) – certeza quanto à inocorrência. 14 ii. Não haver prova da existência do fato: situação de dúvida quanto à inexistência do fato. iii. Não constituir o fato infração penal: fato naturalístico existe, porém não guarda adequação típica. iv. Estar provado que o réu não concorreu para a infração penal (Lei 11.690, de 09.06.2008): certeza quanto ao não envolvimento do réu no fato. Há provas de que o fato ocorreu. O fato é ilícito. Está provado que o réu não foi agente ou partícipe dessa agressão. v. Não existir prova de ter o réu concorrido para a infração: fato material existe. Adequação penal típica. Mas há dúvida de que se o réu concorreu. Não estou dizendo que ele não concorreu. Estou dizendo que há dúvidas se ele concorreu ou não. vi. Existirem circunstâncias que excluam o crime ou isentem o réu de pena (juízo de certeza) ou mesmo se houver fundado dúvida sobre sua existência (dúvida). vii. Não existir prova suficiente para a condenação. É a hipótese consagratória do princípio do in dubio pro reu. Para condenar é preciso ter certeza dos termos da condenação. Quando há dúvida, não é possível proferir sentença condenatória. Sentença absolutória própria – improcedência da pretensão punitiva estatal – variação do grau absolutório – qual é o ''grau'' ou natureza dessa absolvição? Sentença absolutória imprópria – é uma situação configurada de doença mental. Há certeza quanto à absoluta incapacidade de compreensão e de autodeterminação. Há certeza de inimputabilidade decorrente de doença menta. É improcedente a pretensão punitiva estatal. Mas é acompanhada por uma medida de segurança. (b) Condenatória: o juiz deve indicar o valor mínimo para futura reparação dos danos (art. 387, IV). Essa previsão está cercada de polêmicas, mas há unanimidade de que isso só pode estar na sentença se o acusador formulou requerimento nesse sentido. Somente assim estaria garantido o contraditório e a ampla defesa. No âmbito da sentença condenatória, o juiz deve enfrentar a possibilidade de decretação ou cessação da prisão cautelar. Além disso, há diversos outros atos que podem ser determinados nesta sentença. Exemplo disso é o perdimento de bens relacionados com o tráfico (art. 63 da lei 11.363/2006). i. Fundamento fático e jurídico: reconstrução fática (valoração probatória) e procedimento de adequação penal típica do fato revelado. O juiz deve enfrentar as teses arguidas pelas partes. Isso está inserido em uma primeira parte, chamada de fundamentação (que deve ser fática e jurídica). ii. Individualização da pena – O segundo momento da motivação é a individualização da pena. A individualização tem por base um método trifásico. (1º) circunstâncias judiciais (art. 59 CP); (2º) Agravantes/atenuantes (art. 61/67 do CP); (3º) Causas de amento/diminuição. Além dessas três fases, o juiz deve avaliar também os seguintes aspectos: (4º) Regime prisional (art. 33, CP); (5º) Substituição da pena privativa por multa (Art. 60, §2º, CP); (6º) Substituição da pena privativa por restritiva de direitos (Art. 44, CP); (7º) Concessão do sursis (suspensão da execução da pena privativa de liberdade) (Art. 77, CP). 15 Aula 29.08 Coisa Julgada Justiça x Paz Social Justiça – aprimoramento da decisão mediante a possibilidade de reexame, aproximação do provimento jurisdicional à realidade. Paz social – encerramento do litígio – solução do conflito mediante a imutabilidade do comando decisório – estabilidade das relações jurídicas – segurança jurídica. Não interessa a perpetuação do conflito, pois ela é fomentadora de instabilidade. Daí a ideia de que o conflito deve em algum momento se estabilizar, ainda que ela não seja a mais justa ou a mais correta. “a sentença definitiva, não mais sujeita a reexames recursais, transforma a res judicanda em res judicata, e a vontade concreta da lei especial entre as partes, no tocante ao conflito jurisdicionalmente decidido e solucionado” Frederico Marques. A coisa julgada empresta à sentença, empresta ao comando que provém da sentença, o valor da imutabilidade. A questão está definitivamente decidida para aquelas partes que estavam em conflito. As decisões estão sujeitas a reexames, mas chega um momento que a decisão será definitiva. Coisa julgada formal: relacionada ao processo, uma estabilidade processual. Haverá um momento que não será mais possível a discussão da decisão. Tem efeitos intraprocessual – esgotamento de todas as vias recursais. Coisa julgada material: extrapola os limites do processo, atingindo a vida das pessoas. Dimensão extraprocessual – impossibilidade das partes reabrirem um novo processo, uma vez que no processo anterior a questão já foi definitivamente decidida. Portanto, a imutabilidade tem uma projeção interna (impossibilidade de novo exame naquele processo) e externa (impossibilidade de novo processo sobre o mesmo litígio). A coisa julgada material sé pressuposto da coisa julgada formal. Preclusão x Coisa julgada Preclusão: fato impeditivo que assegurao andamento da marca processual e impede o retrocesso. Perda de faculdade ou direito processual em face do seu não-exercício. Efeitos intraprocessuais. Não podemos sempre associar a ideia de preclusão com imutabilidade. Coisa julgada: é mais forte que a preclusão, é a imutabilidade do comando decisório do juiz. Efeito do esgotamento ou do não-exercício das vias impugnativas. A única associação que poderia ser feita entre coisa julgada e preclusão é que a coisa julgada forma seria a preclusão máxima. Preclusão Coisa julgada 16 Fato impeditivo que assegura o avanço da marcha processual e impede o retrocesso (objetivo). Imutabilidade do comando decisório proferido pelo Estado-Juiz. Perda da faculdade ou direito processual em face de seu não exercício ou exercício (subjetiva). EX: Qual é o momento processal para apresentar o rol de testemunhas? Na apresentação da denúncia ou queixa. EX 2 – Decisão de pronúncia – Está sujeita a recursos. Ou as partes se contentam com a decisão e não há qualquer recurso ou as partes apresentam impugnação. Podemos ter preclusão quer pela omissão ou pelo esgotamento das vias recursais. No que se refere a admissibilidade da acusação, a questão está preclusa. No que se refere ao reconhecimento dos elementos mínimos para submeter aquele caso ao julgamento do tribunal do juri, a questão está preclusa. Nada impede que após a preclusão da decisão de pronúncia o conteúdo seja alterado. Ex.: Algum foi acusado por tentativa de homicídio. A vítima falece depois da decisão. Agora ele será processado por homicídio e, portanto, o teor da decisão pode ser alterado. Assim, a preclusão nem sempre significa imutabilidade da decisão. Efeito do esgotamento ou do não exercício das vias impugnativas. Efeitos intraprocessuais. “suma preclusão” (Miguel Fenech) – coisa julgada formal. Eficácia natural da sentença x Coisa julgada Desenvolvida por Liebman. A ideia de eficácia natural da sentença está associada a uma ideia de legitimidade do ato decisório do juiz. Assim, a sentença sempre contém uma eficácia natural. Há uma presunção de legitimidade dos atos decisórios, como fruto de um ato de poder. Essa ideia não pode ser confundida com coisa julgada, pois está é limitada às partes que litigaram, enquanto a eficácia natural atinge a todos. Choque de valores: Justiça x Paz social A justiça relaciona-se ao aprimoramento da decisão mediante a possibilidade de reexame. Paz social é relacionada ao encerramento do litígio mediante a imutabilidade do comando decisório. Quando a justiça (=reexame constante da decisão) deve prevalecer sobre a paz social? A preservação da liberdade pode justificar a prevalência do reexame sobre a imutabilidade. Condenação transitada em julgada, mas surgem provas que tragam um benefício ao réu. 17 E o contrário, quando a paz social prevalece sobre a justiça? Sentença absolutória transitada em julgada, será definitiva mesmo se for injusta. Se descobrirem provas novas que demonstrem a culpabilidade do réu, não poderá haver reexame da sentença absolutória. Ou seja, no Processo Penal, o valor liberdade é essencial para averiguar a relação entre justiça e paz social. A justiça prevalece quando a imutabilidade ferir a liberdade. A paz social (imutabilidade) prevalece também quando estiver em jogo a liberdade. Revisão criminal: art. 621, CPP. Medidas de segurança: casos em que a imutabilidade não atua na hipótese de absolvição imprópria – sentença absolutória que impõe medida de segurança. Há quem defenda de revisão dessa sentença, pois além de absolutória, é acompanhada de uma medida restritiva. Porém, há muita controvérsia na doutrina. Questão dos limites dessa revisão – há quem defenda que essa revisão não poderia levar a condenação dessa pessoa. Seria uma revisão restrita, tão somente relacionada a imposição da medida de segurança. Há quem diga que a periculosidade não é dada somente pelo fato de ele ser inimputável, mas também por ter sido considerado culpado de um crime. Crimes internacionais: definidos pelo Estatuto de Roma – crimes contra a humanidade; genocídio; agressão; crimes de guerra. Trata-se de uma ordem penal internacional. O Tribunal Penal Internacional, competente para julgar esses crimes, pode desconsiderar sentenças absolutórias nacionais quando foram proferidas com o claro objetivo de assegurar a impunidade do criminoso. Nesse caso, admite-se a relatividade da coisa julgada. Art. 5º, XL, CF – irretroatividade da lei. Art. 2º, §ún., CP. Súmula 611, STF. Condenação criminal – pronunciamento rebus sic stantibus: durante a execução criminal deve-se adequar o cumprimento da sanção penal às novas realidades do próprio condenado. A condenção continua, não há violação a coisa julgada, há apenas adequação. A execução criminal esta informada por outros princípios, ligados a própria natureza do direito penal, se assegurar o cumprimento do comando condenatório e permitir a reitegração do condenado, ou seja, a execução criminal se volta para o futuro. A ideia de progressão de regime não é revisão da sentença condenatório, mas sim processo que visa a reintegração do condenado. Art. 1º, segunda parte, Lei 7210/84 (Lei de Execuções Penais). Decisões terminativas Encerram o processo e impedem o exercício do poder-dever punitivo. É decisão sobre o mérito. 18 Também traz o manto da imutabilidade. Exemplo – extinção da punibilidade. Extinção de punibilidade pautada na morte do agente. Porém, depois descobre-se que a certidão de óbito era falsa? Art. 107, CP. Há muita controvérsia, há quem afirme que não poderia haver revisão de decisões que de qualquer forma firam a liberdade. Porém, há quem afirme que, por seu calcada em documento falso, não se operaria a coisa julgada. O STF já decidiu pela revogação de decisão, afirmando que não se operaria a coisa julgada. Não seria possível a pessoa se beneficiar com ato ilícito. Arquivamento de inquérito policial. Há quem considere que seja mero despacho, e não decisão terminativa. Promovido o arquivamento por considerar aquela conduta atípica, e o juiz acolheu a manifestação ministerial, e determina o arquivamento por atipicidade. Posteriormente, são colhidas novas circunstâncias que demonstram a tipicidade. Art. 18, CPP: novas provas podem reabrir o inquérito. Porém, após a reforma de 2008, a atipicidade é hipótese de absolvição sumária. Embora a decisão de arquivamento não seja formalmente uma decisão de absolvição sumária, tem o mesmo teor. O STF se manifestou afirmando não ser possível desarquivar o inquérito policial. “se o fato está suficientemente apurado e o Juiz e o promotor concordam que o fato não constituiu crime”. A questão aqui é que, apesar de ainda não ter uma ação penal, juiz e promotor adentram ao próprio mérito da questão. Coisa julgada: limites subjetivos Há muita controvérsia sobre o tema. Aspecto subjetivo: imutabilidade do comando é restrita as sujeitos do processo. Quem não foi parte no processo penal não pode ser submetida aos efeitos da coisa julgada. Mas seus efeitos não podem ultrapassar esse limite? Concurso de agentes – crime realizado por várias pessoas, mas por enquanto somente uma pessoa está sendo processada. A pessoa é absolvida pelo o juiz ter considerado o fato inexistente. Posteriormente são processadas os outros agentes. De acordo com a prof. Ada Pellegrini, elas poderiam ser processadas, pois não foram atingidas pela coisa julgada. Há quem entenda, porém, que a ação poderia ser rejeitada liminarmente por ausência de interesse de agir por já ter havido decisão que entender ser o fato inexistente. Título executivo judicial (sentença) poderia ser executado para obter responsabilização civil em face de outras pessoas que não participaram do processo penal? Por exemplo, o empregado é condenado, mas não tem dinheiro, é possível executar o empregador? No entendimentode Ada Pellegrini, não, pois o empregador não participou do processo. 19 Limites objetivos Sentença condenatória aprecia um fato narrado, sob o qual haverá um pronunciamento judicial. Quais os limites dessa coisa julgada sob o aspecto objetivo? O prof. Vicente Greco entende que a coisa julgada se circunscreve ao fato principal narrado pelo MP. O núcleo da infração somente é relevante, e não os elementos acidentais. Mas e na hipótese de concurso material de crimes: vários crimes de furto, mas processado por apenas um deles. Seria impossível analisar os outros crimes de furto? Não, a coisa julgada se cinge apenas àquele crime de furto específico, podendo ser processado posteriormente pelos demais. Concurso formal – uma única ação, dois ou mais crimes. Há entendimento que nesse aspecto, se foi processado por um dos crimes apenas, ele poderia ser processado e julgado pelo outro. Mas há quem entende que não poderia haver outro julgamento se já houve coisa julgada (mesmo contexto da ação já julgada). Crime continuado – várias ações delituosas que, por ficção jurídica, são tratadas como um único crime, por proximidade temporal, por terem sido executadas em circunstâncias semelhantes. Se apenas parte desses crimes foram processados e julgados, depois apura-se que haveria outra parcela de crime. Se já foi apreciado o “todo”, não seria possível reabrir a discussão sobre uma parcela nova desse todo. Crime permanente – crime cuja execução se prolonga no tempo (ex. sequestro). Sequestro que começou em fevereiro e é acusado afirmando que terminou em maio. A pessoa é absolvida. Depois descobre que o sequestro durou até julho. Não poderá reabrir a discussão, a unicidade do crime de sequestro prevalece. Crime habitual – várias ações que denotam um hábito. Processo e julgado por curandorismo, acusado dessa prática durante todo o ano de 2011. É julgado e absolvido. Em 2012 ele continua. É possível iniciar um novo processo, pois são fatos novos. O crime habitual é caracterizado por vários fatos que revelam um hábito, não há uma unicidade como no crime permanente. Aula 12.09 Nulidades Trata da relação entre tipo penal e tipo processual previsto na lei, e o ato processual realizado. Exemplo: Citação. A citação é um dos atos de comunicação mais importante. Para tanto, o legislador fixa uma série de requisitos para que a citação seja válida. Isso tudo compreende um modelo processual típico, formatado pelo legislador. A expectativa é que o ato processual que vai ser formulado ao longo da marcha processual corresponda integralmente ao tipo processual previsto pelo legislador. Quando há esse perfeito encaixe, a correspondência é plena, ou seja, o ato realizou todos os elementos do tipo penal. Essa situação concretiza as expectativas do legislador processual. Os problemas se iniciam quando o ato processual é realizado, porém, sem preencher todos os requisitos previstos para o tipo processual. É nesse momento de inadequação entre o ato processual concretizado que começam os nossos problemas. 20 Inadequação do ato processual: A) Descumprimento de exigências mínimas: é questão de inexistência. Ex.: Sentença preferida por quem não é juiz. B) Cumprimento de exigências mínimas, mas com desconformidades graves: é questão de invalidade. Pode ser uma nulidade absoluta ou relativa. Gera efeitos até a decisão judicial que a declara. C) Desconformidade mínima: trata-se de mera irregularidade. Não são desconformidades relevantes. O ato processual não preencheu todos os requisitos previstos, o encaixe não é perfeito, no entanto essas exigências não são sérias. O problema aqui é de mera irregularidade, não de validade ou existência. Assim, percebemos que pode haver três graus de desconformidade. Estamos falando em um procedimento de adequação processual entre um ato e um tipo processual. Muitas vezes acabamos associando o tipo processual àquilo que está previsto no CPP. Isso não está integralmente correto. Quando pensamos em um processo constitucionalizado, percebemos que não podemos nos restringir ao âmbito da legislação processual. Atipicidade processual: A) Constitucional: violação às garantias processuais constitucionais. A consequência jurídica é a inexistência ou absolutamente inválido, isto é, nulo. B) Processual propriamente dita: a violação à legislação processual acarreta, geralmente, vício de invalidade ou irregularidade (mas não inexistência). Há um momento de realização do ato processual. Nesse momento, deveremos realizar aquele movimento de adequação típico processual. A partir daí, dependendo da conclusão, teremos um problema de inexistência ou invalidade. Invalidade Podem ser de dois tipos: absoluta ou relativa. O que diferencia uma da outra? A diferença está no interesse tutelado pelo modelo processual. Se o interesse envolvido é o interesse de ordem pública, então dizemos que o vício é de caráter absoluto. São aqueles interesses que tocam os sujeitos envolvidos no processo, mas para além das partes aqueles interesses são ainda maiores, direcionados a todo e qualquer pessoa. Ex.: Norma foi criada para resguardar a ampla defesa. Ato não cumpriu toda a adequação típica. O interesse nessa norma é público. Existe o interesse da parte, mas o interesse de ordem pública é maior. Quando há esse problema de inadequação processual, a invalidade ou nulidade é de caráter absoluto. Por outro lado, teremos nulidades relativas. E por que são assim denominadas? Porque a norma processual que foi desrespeitada procurava tutelar um interesse privado, particular. Era o interesse que envolve os sujeitos daquela relação processual. Não é possível extrapolar aquela relação processual. 21 Invalidade Declaração judicial de nulidade Atipicidade com o modelo constitucional- processual ou apenas processual. Observância da instrumentalidade das formas Absoluta – interesse de ordem pública Relativa – interesse de ordem privada Princípio do interesse Existe um tempo entre a prática do ato e a declaração judicial de sua nulidade. Mais do que esse tempo, a relação não é automática. Não basta identificarmos a ocorrência de uma nulidade para que necessariamente o juiz declare judicialmente a ocorrência da nulidade. Mesmo nesses casos, é possível que o juiz não declare a nulidade do ato, desde que a finalidade tenha sido atingida. EX.: Ato processual atípico. Modelo desenhado para preservar o interesse de ordem pública. Nulidade absoluta. A despeito da atipicidade e do interesse público, não houve nenhum prejuízo às partes. Então não será declarada a nulidade do ato. Muitos autores fazem uma correlação que não é correta, qual seja, verificada a nulidade absoluta o ato deve ser declarado, obrigatoriamente, nulo. Existe sim a possibilidade de, mesmo diante de uma nulidade absoluta, aquele ato não ser declarado nulo, se não houver prejuízo das partes. Outra coisa é o princípio do interesse, restrito às nulidades relativas. Aqui é a ideia de que ninguém pode provocar a nulidade cujo reconhecimento só interessa a parte contrária ou que ela mesma provou. Veja que o princípio do interesse está restrito às partes e, portanto, dentro do campo da nulidade relativa. Princípio da instrumentalidade das formas É o princípio que visa reforçar a finalidade que se pretende alcançar com a realização de um ato processual, muito mais do que a sua forma. Não é o abandono total e absoluto da forma, mas é um princípio que não dá preferência à forma. O que importa é o fim para o qual foi instituído o ato – se o fim foi atingido não há que se declarar a nulidade. Ex. 01: Sentença sem relatório – juiz enfrentou todas as teses. Qual é a finalidade? Trazer a ideia de que o juiz de fato teve contato com todos os elementos probatórios e, sobretudo, que ele teve conhecimento de todas as teses arguidas; Ex.02: ausência de intimação das partes para a audiência, mas todos comparecem. Art.65 da Lei 9.099/95 - “Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados” = consagração normativa do princípio da instrumentalidade das formas. Princípio do prejuízo Não se declara a nulidade se não decorreu prejuízo. A ideia que a nulidade, para ser judicialmente declarada, depende sempre da ocorrência de prejuízo. Art. 563 e 566 do CPP. Relação íntima entre instrumentalidade das formas e prejuízo: 22 Nulidade absoluta: o prejuízo de presume, exatamente porque o interesse é de ordem pública. Cabe ao juiz afastar a nulidade demonstrando que não houve prejuízo. Nulidade relativa: o prejuízo não é presumido. A parte interessada tem que demonstrar a ocorrência do prejuízo. Ou seja, não é porque o prejuízo é presumido que SEMPRE haverá declaração de nulidade. Não é porque prejuízo deve ser nulidade que a nulidade relativa será menos aplicada. A questão aqui é meramente de ônus de prova. Na nulidade absoluta, existe a presunção do prejuízo. Cabe a ele demonstrar que não ocorreu o prejuízo. Se ele de fato demonstrar que não ocorreu prejuízo, ele não declarará a nulidade. Diferente é o que ocorre na nulidade relativa. Como não existe a presunção do prejuízo, a parte afetada deve demonstrar que ocorreu o prejuízo. Se comprovado, o juiz deve declarar a nulidade. Princípio da causalidade Ao declarar a nulidade do ato, o juiz também deve declarar quais atos foram contaminados por aquela nulidade (art. 573, §1º, CPP). Ex.: Nulidade absoluta na citação. Juiz não afasta a presunção de prejuízo. O tribunal reconhece a nulidade na citação. Da citação para a frente todos os atos estão cominados e são, portanto, nulos. Nulidade originária (ato nulo); nulidade derivada (ato contaminado). Princípio da conservação Os atos que são independentes não são contaminados. Ex.: Nulidade na oitiva de uma testemunha não implica nulidade de todas as demais. Testemunha seria ouvida por carta precatória. Se o juiz reconhece essa nulidade, ele não vai declarar a nulidade das demais provas orais produzidas. Diferente será a questão se for prolatada a sentença. O juiz vai declarar a nulidade daquela prova oral produzida e, eventualmente, da própria sentença, mas vamos manter aquelas outras provas. Princípio do interesse Ninguém pode invocar nulidade a que tiver dado causa (padrão ético-profissional). A parte não pode arguir nulidade que interesse apenas a parte contrária (interesse processual). Art. 565, CPP. Porque vincular esse princípio ao da nulidade relativa? Porque a nulidade relativa é aquela que toca apenas aos interesses das partes. *** O problema está em que o MP sempre tem o interesse de criar um título jurídico sem qualquer tipo de vício, imune a qualquer tipo de nulidade. Essa ideia de interesse deve ser avaliada de uma maneira mais ampla, mais complexa, pois ainda que o ato tenha atingido interesse direto da defesa, o MP poderia arguir a nulidade para evitar uma sentença que poderia ser revogada. Nulidade absoluta: pouco importa quem tenha provocado a nulidade ou quem beneficiará – juiz pode reconhecer de ofício. Nulidade relativa: vigora o princípio do interesse já que a é nulidade instituída em favor da parte. 23 Outros princípios Convalidação: aproveitamento, sempre que possível, da atividade processual atípica – quando a nulidade é sanada (Ar. 527, CPP). Sempre que for possível, vamos aproveitar um ato processual imperfeito. Permanência: ato nulo produz efeitos até que seja declarada a sua nulidade. Restrição à decretação da invalidade: declaração da nulidade depende da previsão de instrumento para vê-la declarada. Há momentos processuais e instrumentos processuais para arguir a nulidade. Ex.: Nulidade em que a parte pretende ver a nulidade sanada pelo TJ. O recurso é a apelação, via de regra em preliminar. Inexistência Nulidade Absoluta Nulidade Relativa Ausência de requisito essencial. os requisitos mínimos não foram preenchidos. Violação de forma que protege o interesse público. Ex.: Ampla defesa, juiz natural, etc. Violação de forma que protege o interesse privado. Inexistência jurídica, pois há existência material. Pode ser declarada de ofício (a qualquer momento do processo). Depende da provocação da parte interessada. Não poderia produzir efeitos, mas o produz até a declaração jurídica de inexistência. Insanáveis (não há que se falar em preclusão no âmbito de uma nulidade absoluta). 1 Sanáveis (preclusão). Não pode ser reconhecida de ofício. Se a parte interessada não arguir, ou o MP como custos legis não pedir, preclui a nulidade de caráter relativo. Princípio do prejuízo, da instrumentalidade das formas e da causalidade. Prejuízo é presumido: o juiz para não anular o ato deve afastar a imperfeição. Princípio da instrumentalidade das formas, da causalidade e do interesse. A parte precisa comprovar a imperfeição, não basta falar que o ato é irregular. Sistemas regulatórios da nulidade São mais modelos teóricos do que sistemas fechados: A) Supremacia da legalidade: qualquer imperfeição ou inadequação entre ato e modelo processual, gerará nulidade. É uma visão extrema da regularidade dos atos processuais. B) Taxatividade: pressupões uma descrição das situações de imperfeição que gerariam nulidades. São ordenamentos que estabelecem um rol de imperfeições processuais que, se verificadas, geram nulidade. É um rol taxativo. C) Gravidade: a nulidade se opera dependendo do grau de imperfeição. Quanto mais severa for a desconformidade do ato, tem-se a sua nulidade. 1 Qual a relevância de diferenciar inexistência de nulidade? O ato inexistente pode produzir efeitos até que se reconheça a inexistência. Porém, no caso do exemplo da sentença proferida por quem não é juiz, ela nunca poderá formar coisa julgada, a pessoa poderia inclusive ser processada novamente. 24 A legislação brasileira, porém, não adota nenhum desses sistema integralmente, mas sim, parte de cada um deles. Art. 564, CPP, estabelece um rol de nulidades, o qual, no entanto, não é taxativo (inciso IV do próprio artigo). Além disso, contata-se a adoção de diversos princípios relativos a nulidade, como o do prejuízo (art. 563, CPP – traz implícita a ideia de gravidade); do interesse (art. 565); da gravidade (art. 566); e há também um sistema de convalidação no nosso sistema (art. 572). Ou seja, o Brasil adota um modelo confuso, pouco preciso com relação ao regime de nulidades no processo penal. Aula 19/09 Nulidades – Regulamentação processual Análise das hipóteses do art. 564, CPP. Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: I. Por incompetência, suspeição ou suborno do juiz (a) Incompetência: regras determinadas para estabelecer uma medida da jurisdição. Pode ser absoluta (fixadas no plano constitucional – justiça federal, estadual, prerrogativas de foro, etc.) ou relativa (legislação infraconstitucional, por exemplo, local). Competências absolutas são determinadas por um interesse de ordem pública, mas também a competência relativa envolve interesse de ordem pública (por exemplo, local da ocorrência do crime, é o local que sofreu os maiores efeitos da prática delituosa, é o onde será mais fácil a coleta de provas, e há um interesse que aquele seja o local do processo penal). Ou seja, não há identificação total entre competência absoluta = nulidade absoluta; competência relativa = nulidade relativa. Assim, incompetência será sempre caso de nulidade absoluta, mas isso não significa que será decretada a nulidade. Por exemplo, em caso de incompetência relativa, há o fenômeno de prorrogação (se a nulidade não for arguida no momento certo, prorroga-se a competência), por isso alguns autores falam que competência relativa haveria nulidade relativa. Porém, a definição de nulidade absolutaou relativa passa pelo interesse protegido pela norma e, em ambos os casos, há interesse público. (b) Suspeição: também engloba as regras de impedimentos e incompatibilidade. Todos os atos praticados por juízes impedido ou suspeito, será nulo. Qual é o interesse do legislador em estabelecer o rol de situações de impedimento, suspeição? A finalidade é resguardar a imparcialidade do julgador, juiz equidistante das partes. Portanto, diz respeito a nulidade absoluta, pois a imparcialidade é atributo essencial do julgador (Ada Pellegrini). (c) Suborno: é um termo atécnico, pois não há referência a ela na legislação penal. O que se entende como suborno é a prática, pelo juiz, de atos que comprometem sua imparcialidade, como a corrupção passiva (art. 317, CP). Por envolver a imparcialidade, há nulidade absoluta. II. Por ilegitimidade de parte 25 Legitimidade é uma das condições da ação. Não há, aqui, problema de nulidade. Mas há já mecanismo para resolver a questão, que é a rejeição liminar da denúncia ou queixa (art. 395, II). O próprio legislador já decidiu como resolver a questão. E se a ilegitimidade for apurada após o recebimento da ação? O juízo inicial de admissibilidade já foi realizado, tendo havido o recebimento da denúncia. A questão não tem uma solução uniforme, seja na doutrina ou na jurisprudência. Há quem entenda que nesse caso a ação deveria ser extinta sem julgamento de mérito, com base em uma aplicação a posteriori do art. 395, II, CPC (entendimento minoritário). A posição majoritária é de declarar a nulidade de todo o processo, sendo necessário impetrar uma nova ação, desde o começo, desde que não tenha ocorrido a prescrição e decadência. Não há real diferença prática entre as duas hipóteses. III. Por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: Não se trata de irregularidade da forma, mas ausência, falta, abstenção. (a) A denúncia ou queixa e a representação e, nos processos de contravenção penal, a portaria ou auto de prisão em flagrante. (i) Falta de denúncia ou queixa: em tese, se não há denúncia, não há ação penal, não há processo. Toca muito mais a questão de inexistência jurídica do que nulidade. Se admitir-se que seja nulidade, é absoluta. (ii) Ausência de representação: ações penais públicas condicionadas, cujo exercício depende de representação do ofendido. Embora o legislador faça referência apenas a representação, deve-se completar esse rol com as ações públicas condicionadas à requisição do Ministro da Justiça. É um problema que envolve condição de improcedibilidade, que levaria a hipótese de rejeição liminar da denúncia ou queixa. Porém, o art. 569 afirma que essa omissão poderia ser regularizada até o final do processo. Independe da possibilidade de sanatória, é uma hipótese de nulidade absoluta. (iii) Ausência de portaria ou auto de prisão em flagrante: na legislação de 1941, os processos de contravenções, a ação penal era intentada por portaria ou auto de prisão em flagrante (era o chamado o procedimento judicialiforme), porém, com a nova ordem constitucional, determinou-se que a ação penal pública só poderia ser intentada pelo MP. Portanto, as possibilidade de ajuizamento de ação que não pelo MP foram revogadas. Ou seja, essa parte do dispositivo foi revogado, pela revogação do procedimento judicialiforme. (b) Ausência do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o art. 167. As infrações que deixam vestígios tornam o exame de corpo de delito indispensável. Quando não for feito esse exame, o legislador entende haver nulidade. Porém, não se trata de nulidade, mas sim de prov. Dependendo do estágio processual essa questão será resolvida de forma distinta. Se o problema é ausência de prova, de materialidade, ao ser oferecida a ação, deveria o juiz rejeitá-la por ausência de justa causa. Se a ausência do corpo de delito for percebida após o recebimento de denúncia, a ausência de provas pode levar a uma absolvição sumária ou “final”. Portanto, não é um problema de nulidade, mas toca a temática da prova, que dependendo do momento processual terá um resultado. Embora haja a indispensabilidade de exame de corpo delito em delitos com vestígios, essa obrigatoriedade é abrandada pelo art. 167. Esse artigo dispõe que no desparecimento de vestígios, a prova poderá ser substituída por prova oral. 26 (c) Ausência de defensor ao réu presente, que não o tiver, ou ao ausente, e de curador ao menor de 21 anos O réu não possui réu constituído, devendo ser nomeado um defensor a ele. O réu ausente não trata de citação por edital e suspensão do processo, mas sim, no caso de realização de prova antecipação (art. 366, CPP), produção esta que deve ser produzida à luz do contraditório, e portanto, é necessária a nomeação de defensor. Ou a hipótese daquele que foi citado e não comparece, ainda assim é indispensável a nomeação de defensor. Esses casos estão relacionados à indispensabilidade da defesa técnica. Trata-se de real interesse de ordem pública - nulidade absoluta. E no caso de defensor presente, mas que exerce a defesa de maneira deficiente? Há controvérsia. Boa parte da doutrina entende que esse é um problema que também afeta a ampla defesa. Não basta a defesa técnica formal, ela tem que ser também substancial. A deficiência afeta a ampla defesa, e portanto, afeta interesse de ordem pública. Contudo, não é isso que a jurisprudência consagrou. A súmula 523 do STF impõe que a deficiência só será caso de nulidade caso haja prova de prejuízo pelo réu, ou seja, trata-se de nulidade relativa. A hipótese de nomeação de curador deve ser desconsiderada, pois reflete a legislação anterior, de que menores de 18 anos sempre requeriam a nomeação de curador, ao lado da nomeação de defesa técnica. Não há mais necessidade de nomeação de curador. (d) Ausência de intervenção do Ministério Público A primeira situação é aquela de ação penal ajuizada pelo MP (ação penal pública), se ele não intervém em todos os termos da ação por ele intentada, há hipótese de nulidade absoluta, pois a intervenção do MP reflete o interesse de ordem pública, pois o MP é quem catalisa a promoção do poder-dever punitivo da ação penal. A segunda situação é de ação ajuizada por particular (ação penal subsidiária), ainda assim o MP deverá intervir. Há entendimento que seria uma nulidade relativa, pois existe já outro titular da ação penal. (e) Falta de citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, e os prazos concedidos à acusação e à defesa. (i) Ausência de citação: ato de comunicação de processo mais importante. É pressuposto de ampla defesa (informação para reação). Trata-se, portanto, de nulidade absoluta. Porém, o art. 570 complica as coisas. Trata de hipótese de ausência de citação que pode ser “sanada” (inobstante tratar-se de nulidade absoluta) se o acusado comparecer. Isso porque se o réu comparecer, significa que ele teve ciência de algum modo do processo. (ii) Ausência de interrogatório: é obrigatória a concessão da oportunidade, mas o réu não é obrigado a falar. Ou seja, se o réu está presente (se ele não é revel), o interrogatório é obrigatório. Se ele é revel, não é obrigatório conceder essa oportunidade. Ou seja, se o réu está presente e não é concedida essa oportunidade ao réu, viola-se o direito de defesa do réu (exercício de autodefesa). Trata-se, portanto, de nulidade absoluta. (iii) Ausência de concessão de prazos: se os prazos previstos de manifestação para a acusação e defesa, há violação ao contraditório e ampla defesa – nulidade absoluta. Ainda que não tenha sido concedido prazo, se atingiu-se a finalidade do ato (a parte se manifestou nos autos mesmo assim). Ou seja, ainda no caso de nulidade absoluta, é possível que ela não seja declarada, apesar de a força para que ela seja declarada é muito mais forte. 27 ** É possível que uma sentença absolutória sane as nulidades ocorridas no processo. Masdependendo da sentença absolutória, ainda assim pode haver prejuízo. Se ele argui no processo que não participou do crime, e é absolvido por insuficiência probatória, há prejuízo. (f) Ausência de sentença de pronúncia, o libelo e a entrega de cópia do rol de testemunhas, nos processo do Tribunal de Júri. (i) Decisão de pronúncia: não se trata de sentença, é uma terminologia antiga. Em tese, é caso de inexistência, pois a decisão de pronúncia é o link indispensável entre a primeira e segunda fase do tribunal. Mas o legislador trata como nulidade. Se houver a continuidade da marcha processual, há nulidade absoluta. A omissão é declarada nula e todos os atos posteriores. (ii) O libelo não mais existe. Era uma peça acusatória. A fase de requerimento de diligências, após a decisão de pronúncia, ocupa o lugar do antigo libelo. (g) Ausência de intimação do réu para sessão do tribunal de júri, quando a lei não permitir o julgamento a revelia (i) Ausência de intimação: é ato de comunicação. Direito de informação, relaciona-se a ampla defesa. Nulidade absoluta. (ii) Réu solto deve ser intimado, se não comparece, o julgamento pode ser realizado (art. 457, CPP). A ausência do réu é interpretado como manifestação do direito ao silêncio. Se ele não é intimado, e por isso não comparece, há quem defenda que se o defensor é constituído, e na audiência falar que apesar de não ter sido intimado o réu ficou sabendo do processo, mas não quis comparecer, tudo bem, a audiência pode ser realizada. Porém, no caso de defensor dativo, isso não seria admitido. Réu preso – deve ser requisitado, se não é apresentado, o julgamento pode ser realizado com anuência do defensor (art. 457, §2º), há quem defenda que só o defensor constituído poderia dar essa anuência. (h) Ausência de intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos na lei. Não há mais libelo e contrariedade. Atualização interpretativa – o requerimento de diligência ocupou o lugar do libelo (art. 422). Não intimação das testemunhas – violação ao direito de produção de provas. Porém, o legislador trata isso como nulidade relativa (devem ser arguidas no tempo oportuno - art. 572, I, caso contrário, ocorre preclusão, e a nulidade está sanada), pois entende que isso compete ao interesse das partes, de ver a prova produzida, mesmo para aquelas arroladas em caráter de imprescindibilidade. Aula 26/09 (i) A presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri É uma causa de nulidade absoluta. 28 (j) Sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade. Sorteio: critério que assegura a imparcialidade na formação do conselho – nulidade absoluta. Incomunicabilidade: reforça a imparcialidade e a formação livre da convicção do juiz leigo – interesse de ordem pública – nulidade absoluta. Incomunicabilidade interna: é a proibição dos jurados trocarem idéias ou impressões a respeito do julgamento que está sendo conduzido. É a ideia de preservar a convicção íntima do jurado, livre de qualquer tipo de consideração. É uma convicção íntima, pessoal, ainda que calcada nas provas apresentadas no julgamento. Os jurados podem falar sobre qualquer outro assunto, menos aqueles relacionados ao julgamento. Incomunicabilidade externa: os jurados não podem ter contato com nenhuma outra pessoa, garantindo-se que nenhuma pressão exterior venha a induzir ou direcionar a convicção dos jurados. O interesse aqui é evitar que esses juízes leigos, sujeito a uma maior pressão, sofra influência do que acontece fora da sessão de julgamento. Essa incomunicabilidade deve ser garantida durante toda a sessão de julgamento (mesmo que ela dure dias ou semanas). Por se tratar de proteção do interesse público, o desrespeito acarreta nulidade absoluta. (k) Os quesitos e as respectivas respostas A ausência de quesitos ou respostas inviabiliza a apuração da real vontade dos jurados: nulidade absoluta (obs. Súmula 156, TF). Art. 564, §único – deficiência de quesitos, contradição das respostas – inviabiliza a apuração da real vontade dos jurados: nulidade absoluta. Embora se tratar de assunto de ordem pública e, portanto, deveria ser nulidade absoluta, a jurisprudência dominante (ainda não é posicionamento unânime) entende que vícios nos quesitos seria uma nulidade relativa que deve ser alegada após a leitura dos quesitos em plenário (art. 484, caput). Eventual contradição das respostas dos quesitos: exemplo comum em que os jurados respondem afirmativamente que o crime teria sido cometido por relevante valor moral, e também respondem afirmativamente que foi cometido por motivo torpe. (l) Acusação e a defesa, na sessão de julgamento Não diz respeito a ausência de defesa ou acusação, mas sim a deficiência. No Tribunal do Júri impera não só a ampla defesa, mas a plenitude de defesa. Desse modo, uma defesa deficiente, contraditória, absurda, compromete a plenitude da defesa, havendo nesse caso uma nulidade absoluta. O juiz pode reconhecer de ofício, dissolvendo a sessão e marcando nova data de audiência. Se não foi reconhecido pelo juiz, poderá ser reconhecido pelo Tribunal em sede de apelação. (m) Sentença (i) Ausência de sentença, não foi proferida decisão sobre a causa. É hipótese de inexistência do próprio ato de julgar. Há uma nulidade absoluta e todos os atos posteriores estarão viciados. (ii) Deficiência da sentença. Pode se dar em vários níveis, como a falta de relatório. Nesse caso trata-se de ausência de enfrentamento de uma das teses arguidas. Por exemplo, uma das teses é de tentativa, não abordada pelo juiz. Não houve pronunciamento jurisdicional de uma matéria suscitada pela parte. É um problema que afeta as partes envolvidas, mas também de ordem pública: nulidade absoluta. 29 Essa nulidade depende de reconhecimento do grau de jurisdição superior, pois o juiz não irá declarar a nulidade de sua própria sentença. Pode-se entender que não houve nulidade porque não houve prejuízo, mas no caso da tentativa o prejuízo é evidente. É possível também que a sentença seja completada pela interposição de embargos de declaração. (n) O recurso de ofício, nos casos em que a lei o tenha estabelecido Inadequação terminológica: não é adequado falar de recurso de ofício, mas sim reexame necessário ou duplo grau de jurisdição obrigatório. Algumas hipóteses específicas requerem tal reexame. Quando não opera esse reexame, a sentença não transita em julgado. São poucas as hipóteses que cabem reexame necessário, mas são todas uma decisão política, de rever decisões asseguradoras da liberdade: (a) Sentença de concessão de habeas corpus em primeiro grau (art. 574, I); (b) Absolvição sumária do Tribunal do Júri do antigo art. 411 do CPP – o art. 574, II tem redação compatível com a redação original do CPP, pois o procedimento do Tribunal de Júri foi reformado, com a reforma de 2008 não há mais previsão de absolvição sumária no art. 411, CPP – entendeu-se que houve uma revogação tácita desse inciso. (c) Concessão de reabilitação (art. 746) (d) Absolvição em processo contra economia popular ou contra a saúde pública ou quando houver arquivamento do inquérito policial (art. 7º da Lei 1521/1951). O ato que determina o arquivamento do inquérito policial sequer é considerado ato decisório, e portanto, não está sujeito a recurso, porém, deverá haver reexame necessário. A nulidade, no caso desse inciso não é do ato decisório em si, mas da certidão que atesta transito em julgado. É essa certidão que é nula. Súmula 423 do STF. Todos os atos posteriores também serão contaminados de nulidade. Seria uma nulidade absoluta. Se a parte interpõe recurso voluntário, não haverá trânsito em julgado, portanto não há problema. Além disso, a finalidade de reexame da decisão será atingida. (o) A intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos
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