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O Fenômeno da Guerra Fiscal I. Panorama Geral: Guerra fiscal: competição [predatória] entre entes de uma federação (no Brasil entre Estados, e entre Municípios) por recursos oriundos do governo central e do setor privado, em situações nas quais a realização do interesse local de um implica perda potencial para outros entes subnacionais. Fatores que contribuem para o fenômeno: a) Econômicos: modelo neoliberal em um cenário de globalização e abertura econômica (internacionalização da economia), com forte potencial de desenvolvimento do setor privado, somado ao aparecimento novos atores transnacionais; abandono de programas de coordenação entre Estados e industrialização ativa promovidos pelo poder central b) Jurídicos: Autonomia constitucionalmente conferida → autonomia financeira e legislativa em matéria tributária. Distribuição desigual de recursos e competências promovida pela Constituição Federal. c) Sociais: Histórico desequilíbrio, econômico, social, institucional entre as diferentes regiões; desemprego e pressões políticas dele decorrentes. Diversidade de fenômenos e consequências. • Fenômeno Especial: Guerra dos portos → redução do ICMS para produtos importados visando atração de importadoras. Repercute no favorecimento à importação, trazendo custos sociais e econômicos generalizados ao comprometer a competitividade da indústria nacional → fator de desindustrialização e elevação das taxas de desemprego. II. Aspectos negativos e seus contrapontos: a) Criam-se tensões políticas entre os diversos entes; b) Prejudica a capacidade fiscal dos Estados/municípios; perda de arrecadação; c) A generalização dos benefícios em todos os entes, num médio-longo prazo, os benefício concedidos deixam de ter qualquer efeito estimulador, transformando os incentivos em meras renúncias de arrecadação. Neste contexto os Estados mais desenvolvidos “vencem a guerra” por terem melhor infraestrutura, enquanto toda a coletividade amarga a renúncia de receitas. (Corrida ao fundo do poço); d) Ineficiência alocativa: a concessão de benefício pode levar a empresa a se instalar em localidade inadequada àquela atividade, em relação à disponibilidade de matéria prima ou mercado consumidor; e) Apropriação de recursos públicos na composição da margem de lucro do particular. f) Prejuízos à concorrência: desigualdade entre as empresas beneficiadas e as não beneficiadas → geram pressões por parte das demais empresas para tratamento idêntico terminando por mais renúncias; g) Menor transparência fiscal: ausência dotação orçamentária explícita. Ensejo à Corrupção; h) Especificamente na Guerra dos portos: redução da competitividade dos produtos nacionais e o comprometimento do crescimento econômico. Contrapontos: • A própria Constituição Federal confere autonomia aos entes. • Há limites jurídicos (Lei de Responsabilidade Fiscal) e políticos (jogo democrático) à depreciação das receitas e da prestação de serviços públicos. • A longo prazo gera desenvolvimento da região menos favorecida, com aumento geral na eficiência econômica do todo. III. Aspectos positivos: a) Diminuição das desigualdades regionais: mecanismo para fomentar o desenvolvimento de regiões mais pobres. Estados menos desenvolvidos tem desvantagens em termos de infra- estrutura, logística e mercado consumidor que devem ser compensados de alguma forma para estimular investimentos. b) A renúncia momentânea de recursos gera criação de mercado consumidor, incremento da atividade econômica e aumento da base tributária. c) Defesa da autonomia dos entes subnacionais, sustentáculo do modelo federativo. d) Uma menor arrecadação otimizaria a utilização de recursos disponíveis, a eficiência das políticas públicas e o tamanho do próprio Estado, que num modelo liberal compromete o desenvolvimento do setor privado. Contrapontos: • Desenvolvimento regional desordenado. Caberia ao ente central desenvolver políticas de realocação dos recursos do setor privado, articulando investimentos públicos e privados, evitando danos generalizados à federação. • A redução do Estado não é intrinsecamente boa. Afirma-se em corrente ideológica contraposta, que as características do país, e as determinações constitucionais, requerem um papel ativo do Estado no desenvolvimento nacional. • Por vezes os benefícios e incentivos são considerados abusivos, que proporcionam graves danos à Federação como um todo. IV. Visão dos tribunais: • ADIn's: pertinência temática, normalmente propostas por Chefes de dos Poderes Executivos Estaduais. Exs.: ADI 1179 e ADI 2906. • Tem-se reconhecido a violação ao art. 155, §2°, XII, “g” da Constituição Federal à Lei Complementar n° 24/75, não entendendo-se possível a concessão de benefício sem a realização de convênios que envolvam a aceitação de todos os Estados-membros, reconhecendo-se a danosidade das medidas e a indisponibilidade da disciplina nacional do ICMS aos Estados- membros. • Proposta de Súmula Vinculante nº 69, STF. Eficácia e consequências práticas: • Modulação dos efeitos e evita-se a retroatividade dos efeitos (mesmo que nulas as normas); tutela dos princípios da segurança jurídica, boa fé e da confiança legítima → risco de insolvência das empresas beneficiadas. • Controle abstrato → eficácia erga omnes. • Problema: revogação da norma impugnada, e posterior publicação de outra de igual teor. V. Projeto de reforma legislativa: Proposta de resolução 01 de 2013 – estabelece a redução e uniformização gradual e progressiva das alíquotas de ICMS. Entretanto ainda mantém alíquotas diferenciadas para algumas regiões e determinados produtos, o que tem alavancado críticas. A reforma prevê ainda a criação de um fundo de compensação a estados que vierem a perder receitas. VI. Novas feições da guerra fiscal: • Evoluiu graças à impunidade das práticas de concessão de benefícios ao arrepio da Constituição Federal e da conivência da União, que a estimula através da tomada de decisões ambiguas e omissivas. • Sua existência tem servido de justificativa para acentuar a centralização de poderes e competências nas mãos da União, em prejuízo ao pacto federativo.
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