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Caderno Celli - 2a prova

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1 
 
5.4 - Aladi e Mercosul 
 
 Devemos conhecer, antes de tudo, os antecedentes do Mercosul. É importante fazer a relação entre os 
fenômenos, sabendo localizar as origens, as razões políticas e econômicas que fundamentalmente dão as razões 
jurídicas. 
Tivemos, nas décadas de 50 e 60, o surgimento de algumas idéias sobre integração, como a tentativa de 
sistematização das “etapas de integração” (zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum, integração 
monetária, etc.). Vimos também que houve alguns contrapontos aos dispositivos do GATT, ou pelo menos a 
maneira pela qual as negociações vinham sendo realizadas. São contrapontos provenientes, sobretudo, da 
América Latina (CEPAL). Diversos estudos foram feitos, encontrando respaldo na conferência das nações 
unidas para comércio e desenvolvimento (UNCTAD), o que levou à modificação do GATT e a introdução do 
capítulo IV, sobre comércio e desenvolvimento. Depois disso, tivemos na Rodada Uruguai, a criação da cláusula 
de habilitação. Essa cláusula permite que países em desenvolvimento adotem, em seus esquemas regionais e 
subregionais de integração, algumas flexibilidades. Ela foi adotada apenas em 1979. 
O cenário das origens do Mercosul é posterior à criação das Comunidades Europeias, mas anterior a 
1979. Por força de algumas discussões ocorridas no âmbito da CEPAL, discutiu-se a necessidade da criação de 
um processo de integração na América do Sul. Assim como havia sido criada a Comunidade Econômica 
Europeia, 1957, pensou-se a necessidade de que, principalmente os países da América do Sul, criassem um 
processo de integração. 
A ideia de se criar um espaço de integração que envolvesse os 10 países da América do Sul, mais o 
México, surge nesse momento. Em 1960, foi assinado o Tratado de Montevidéu, que criou a Associação Latino-
americana para uma área de livre-comércio (ALALC). O que temos na ALALC? Em primeiro lugar, o nome é 
revelador do seu objetivo: a criação de uma zona de livre-comércio. Isso reproduz o pensamento de Bela 
Balassa, que já tinha uma definição sobre o que era uma zona de livre-comércio (mecanismos de progressiva 
liberalização do comércio de bens). 
Em 10 anos, estabeleceu-se um prazo para a criação da zona de livre-comércio. Tudo o que era mais 
retórico em termos de objetivos estava nos consideranda desse tratado de 1960. Quais os mecanismos para se 
atingir essa área de livre-comércio em 10 anos? A ALALC foi uma exceção permitida ao GATT. A data era 1960 
e tínhamos apenas um fundamento legal para a constituição desses acordos regionais, em exceção ao art. 1º. O 
tratado da ALALC, então, foi constituído como exceção à cláusula de nação mais favorecida, a partir do art. 
XXIV. 
Em se baseando no art. XXIV, a ALALC possui os mecanismos permitidos por ele (formação de zona 
de livre-comércio ou união aduaneira). O que se almeja na constituição de uma zona de livre-comércio é a 
remoção de todas as barreiras tarifárias sobre todos os produtos que transitam numa determinada região. A 
ALALC teve que reproduzir as regras do art. XXIV do GATT. Não havia clareza de que os acordos regionais 
deveriam ser notificados ao sistema multilateral, mas é evidente que o Tratado de Montevidéu foi notificado ao 
GATT. 
Os mecanismos previstos no art. XXIV são: 
- progressiva liberalização 
- prazo de 10 anos para a eliminação total das barreiras tarifárias 
Se observarmos os mecanismos do tratado, verificamos uma contradição. De um lado, há um prazo para 
que, em 10 anos, se crie uma zona de livre-comércio. De outro, há mecanismos de desgravação tarifária. Quando 
comparamos esses mecanismos com aqueles próprios do sistema GATT (corte linear das tarifas a partir de todo 
o universo de produtos existentes), verificamos que há uma dificuldade em se fazer negociações produto por 
produto. Não havia violação às regras do GATT, porque havia a proposta de remoção das barreiras tarifárias em 
10 anos. O processo, porém, não seria feito a partir de um corte linear das tarifas. A negociação seria feita 
produto por produto. 
2 
 
Ex.: Brasil e Argentina: resolvem reduzir tarifas na área de equipamentos. Dentre os bens de capital, 
negocia-se a alíquota de importação dos tratores. Chega-se a um acordo. Como dentro da zona de livre-
comércio, é preciso estender essa vantagem aos outros países (cláusula de nação mais favorecida). 
É complicado alcançar algum acordo. Como era a primeira experiência na região, havia um objetivo de 
liberalização do comércio, mas o mecanismo de desgravação era muito conservador. Em segundo lugar, havia 
um fundado receio de que, já naquela época, as economias mais fortes (Argentina, México e Brasil) fossem as 
mais beneficiadas por essa conformação. Eram os países mais industrializados e detinham setores 
industrializados ou semi-industrializados com maior expressão. Já havia a percepção de certas assimetrias entre 
os países. 
Passamos de um discurso da ALALC e da ALADI para chegarmos à ação, no Mercosul. Há toda uma 
retórica de integração e livre-comércio na ALALC, mas o mecanismo já revela uma posição conservadora e 
receosa dos Estados. Quando vemos que eles desejavam atingir esse ponto em 10 anos, com aquele mecanismo, 
percebemos que é força de retórica, que seria impossível alcançar tal objetivo com um mecanismo tão 
conservador. 
O próprio desenrolar das negociações demonstrou que elas avançavam muito lentamente. Outra questão 
de suma importância: de um lado, os estudos da CEPAL exigiam a integração dos países latino-americanos 
(ALALC, p. ex.); de outro lado, uma das principais contribuições da CEPAL para as economias dos países 
latino-americanos foi a separação entre países de economia central e países de economia periférica, sustentando 
que os países da periferia suprem os países centralizados com matéria-prima e insumos. Os produtos 
industrializados contêm maior valor agregado. Essa relação de centro-periferia (dependência) tende a se agravar. 
O que seria preciso para mudar a condição de centro e periferia? Como eliminar a dependência? Para se 
aproximarem dos países centrais, os países periféricos teriam que mudar as relações de troca (insumos básicos 
por produtos com valor agregado). Isso seria feito por meio da substituição de importações. Cada um dos países 
deveria criar mecanismos de desenvolvimento e investimento, de forma a ele próprio criar indústrias 
estratégicas. Cada país, no lugar de continuar importando, deveria produzir, criar suas próprias indústrias. 
Nesse contexto, temos a celebração do Tratado de Montevidéu (1960). A contradição latente entre a 
criação de uma zona de livre-comércio e uma política de substituição de importados, que era latente, fica clara. A 
zona de livre-comércio pressupõe a eliminação de barreiras; de outro, a política de substituição de importados 
impõe a criação de barreiras. Não foram todos os países que conseguiram efetivar uma política de substituição 
de importações. Brasil, Argentina e México foram bem sucedidos nesse processo. Em 1960, por exemplo, 
instala-se o parque industrial automobilístico no Brasil. 
Percebe-se uma grande contradição entre uma ALALC que lutava pela liberalização das importações e 
países que viviam um momento contrário de diminuição das importações e de produção local, no sentido de 
diminuir a dependência. As desconfianças que existiam aos três grandes países da América-latina, um mecanismo 
de desgravação tarifária bastante conservador e a ideia de substituição de importações, tudo isso serviu para 
minar a força da ALALC. 
Mesmo com todas essas limitações, a ALALC conseguiu aumentar o comércio dentro da região. Depois, 
porém, entrou num período de total estagnação. Verificou-se que, mesmo nesse período em que houve um 
aumento de comércio intrarregional, os grandes beneficiados foram justamente Brasil, Argentina e México. Não 
havia vontade política em se avançar para um prazo retoricamente estabelecido de criação de uma zona de livre-
comércio. Não havia mecanismos de tratamento especiale diferenciado para países de menor desenvolvimento, 
por exemplo. 
Percebeu-se essa estagnação. Por outro lado, a integração econômica européia avançava com grandes 
dificuldades. Outros acordos regionais também tinham sido assinados. Persistia a ideia de integração regional, 
mas percebeu-se que os avanços nesse processo passariam necessariamente pelo reconhecimento das diferenças 
entre os países (Brasil, Argentina e México X Paraguai e Bolívia, p. ex.). 
Devemos reconhecer que esses países todos, de maneira mais ou menos bem sucedida, estão 
implantando políticas de substituição de importações. Evidentemente, os Estados investiam em determinados 
setores da economia para que se desenvolvessem. Não podemos pensar, como se fez na ALALC, numa 
desgravação de produto por produto. Porém, devemos respeitar a necessidade de proteção dos setores frágeis. 
O pensamento deve ser mais flexível. 
3 
 
Eram as idéias que estavam sendo discutidas no final da década de 70. Seria necessária a existência de 
mecanismos mais flexíveis, com um processo de integração que liberasse o comércio em conciliação com a 
substituição de importações. Seria necessário reconhecer que não seria possível um tratamento igual a todos. 
Eram idéias discutidas não só no âmbito da ALALC, como também na CEPAL, com ressonância na UNCTAD 
e, finalmente, incorporação pelo GATT. Em 1979, temos a adoção de uma resolução pelo GATT que vem de 
encontro a isso (cláusula de habilitação: reconhecimento de que existem assimetrias). Os países menos 
desenvolvidos deveriam ser tratados diferentemente (special and different treatment). 
Nesse cenário, e com esses elementos, com o amadurecimento da ideia de mudança do processo 
subregional na América do Sul, a ALALC, que tinha fundamento legal no art. XXIV do GATT, dava lugar para 
outra forma de integração. O Tratado de Montevidéu de 1960 foi revogado, assinando-se um novo Tratado de 
Montevidéu (1980) criando a ALADI (Associação Latino-americana de integração). 
Logo no nome já há uma alteração: o objetivo da ALADI é criar um espaço de integração, de forma livre 
em relação às amarras do art. XXIV do GATT. Não há a necessidade de se criar uma zona de livre-comércio em 
um determinado prazo. Não estabeleceram metas que sabiam que não seriam cumpridas. Isso não seria 
necessário. Seria uma integração do possível, e o que não fosse possível não envolveria problemas: a 
complexidade, em relação ao arranjo institucional, envolvia inclusive os mecanismos de liberalização. 
Essa flexibilidade que permeia o tratado da ALADI tem como fundamento jurídico a cláusula de 
habilitação. Não era exigência a criação de uma zona de livre-comércio, sendo mais importante a liberdade para 
a integração. Era uma integração entre países em desenvolvimento, e cláusula de habilitação permitia a formação 
de acordos desses países entre si, sem a necessidade de abertura das fronteiras para todos os produtos. Dentro 
do próprio acordo, não seria necessária a aplicação automática da cláusula de nação mais favorecida. Não há o 
objetivo declarado da zona de livre-comércio. 
De um lado, seria possível que, num processo de negociação para abertura de fronteiras entre países 
menores, que as concessões trocadas entre eles não fossem estendidas aos maiores, porque seriam países de 
menor desenvolvimento econômico relativo. Deveria haver uma coordenação melhor entre os países, aliada a 
uma atenção especial a esses países. Haveria uma integração mais afinada com o grau de desenvolvimento 
intrínseco e as políticas de desenvolvimento interno de cada um, encontrando respaldo na cláusula de 
habilitação. 
É importante fazer essa associação da ALADI com o contexto da cláusula de habilitação e com o 
contexto da América Latina. Ela reproduz a palavra que sintetiza a cláusula de habilitação: “flexibilidade”. Ela 
prevê um tratamento especial e diferenciado aos países com menor desenvolvimento econômico relativo 
(Bolívia, Paraguai, Equador). 
O Tratado de Assunção, que criou o Mercosul, faz remissão ao preâmbulo do Tratado de Montevidéu 
que criou a ALADI. Fala-se do desenvolvimento progressivo com vistas à integração. O que melhor caracteriza 
a flexibilização da ALADI é o seu art. 7º. Os acordos de alcance parcial envolvem apenas alguns países 
membros, não abrangendo a todos. Cria-se um processo de integração regional através da progressiva 
multilateralização. 
Os acordos de alcance parcial, no âmbito da ALADI, representam uma exceção à cláusula de nação mais 
favorecida dentro da própria ALADI. Diferencia-se, portanto, da ALALC. Os países membros da ALADI 
podem realizar acordos com um ou dois, e essas trocas específicas para alguns setores envolvem um 
desenvolvimento em comum aos países, não apenas a redução de impostos de importação (acordos de 
complementação econômica). Esses acordos têm alcance parcial, ou seja, as condições só valem para aqueles que 
assinaram os acordos. 
A ALADI, que continua em vigor, tem, como seu maior repertório, vários acordos de complementação 
econômica (Brasil e México, Uruguai e Chile, etc.). Percebeu-se que seria mais interessante fazer acordos com 
abrangência regional. Há o princípio da convergência, que determina que, posteriormente, tais acordos serão 
estendidos para os outros membros (convergência dos acordos). 
Nesse âmbito, com fundamento legal no art. 7º do Tratado de Montevidéu, Uruguai, Argentina, Brasil e 
Paraguai comunicaram à ALADI a elaboração do Acordo Parcial nº 18, determinando a criação de um mercado 
comum que seria denominado MERCOSUL. Os quatro países, com base na ALADI, subscreveram um acordo 
4 
 
de complementação econômica de alcance parcial. Surge o fundamento legal para a criação do MERCOSUL. O 
MERCOSUL notifica a ALADI sobre esse Acordo Parcial, que nada mais é do que o Tratado de Assunção. 
 
26.4 - Mercosul 
 
 A ALADI já continha elementos de flexibilização em relação aos mecanismos do GATT, enquadrando-
se na cláusula de habilitação. Os mecanismos da ALADI foram possíveis porque ela é de 1980, um ano após a 
entrada em vigor da cláusula de habilitação. Essa flexibilização envolve, como um dos mecanismos mais 
emblemáticos, os acordos de alcance parcial, que podem ser celebrados apenas entre alguns países, não entre 
todos. É flexibilização da cláusula de nação mais favorecida. A partir desses acordos de alcance parcial, chega-se 
aos acordos de complementação econômica, que possuem objetivos que vão além de um simples processo de 
liberalização comercial. 
 Juntos, os dois instrumentos (acordo de complementação econômica e acordo de alcance parcial) valem 
apenas para quem fez o acordo. Há, assim, o surgimento do Mercosul, como já exposto em aula anterior. A 
questão não resolvida é se o Mercosul também teria como fundamento o art. XXIV do GATT, pois, ao se 
enquadrar como uma união aduaneira, ela recairia nesse artigo. Três casos do órgão de solução de controvérsias 
da OMC tangenciaram o assunto. 
O Mercosul, então, é uma exceção à própria ALADI. Algumas regras não se aplicarão às partes 
contratantes do GATT. O Mercosul surgiu como exceção à ALADI. Sua criação, pelo Tratado de Assunção, foi 
notificada à ALADI, que notificou o GATT. Essa relação é fundamental e deve ser bem compreendida: o 
Mercosul decorre de um mecanismo da ALADI. 
A composição inicial do Mercosul foi feita por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Hoje, como 
membros associados, podendo participar das negociações do Mercosul, mas sem direito a voto, temos a 
Venezuela1, Bolívia, Chile, Peru, Equador e Colômbia. Chile e Peru, por exemplo, possuem uma série de 
acordos bilaterais; Equador faz parte da ALBA. O problema é verificar que também há uma formação de um 
cipoal legislativo complicado na própria América do Sul. 
Em 1992, há a notificação da ALADI ao sistema GATT. Hoje, há um outro fundamento legal para o 
Mercosul - art. 5º do GATS. Em 2005, foi assinado o Protocolo de Buenos Aires, sobre liberalização de serviços 
dentro do Mercosul. 
Assim, como fundamentoslegais, esquematicamente, temos: 
- Cláusula habilitante: por conta da flexibilização no sistema ALADI 
- Art. 5º do GATS: por conta do protocolo de serviços que procura liberalizar o comércio de serviços 
- duvidosamente, o art. XXIV do GATT: por ser uma união aduaneira, mesmo que incompleta 
O Mercosul chegou a ser analisado pelo Comitê de Comércio e Desenvolvimento da OMC, para 
verificar se ele se enquadrava na cláusula de habilitação. Sua análise não foi definitiva. O Comitê de Acordos 
Regionais está fazendo uma análise, ainda não finalizada. Assim, não há nada que comprometa os fundamentos 
legais acima mencionados. 
Em 1991, o Consenso de Washington havia acabado de ser assinado. Era um momento liberalizante e 
privatizante. Predominava a ideia da liberalização como um fim a ser alcançado e, portanto, não poderia ser 
diferente com o Mercosul. É a primeira fase do Mercosul, bem mais liberalizante. O bloco, porém, também 
inseria a questão do desenvolvimento, com a diminuição das assimetrias entre os próprios membros do bloco, 
principalmente em relação a Uruguai e Paraguai. Houve a criação posterior de alguns fundos (FOCEN), 
destinados a investimentos realizados nesses países. É uma segunda fase, ainda em curso, de enfoque no 
desenvolvimento. 
 
1 O país está numa situação indefinida, porque optou ingressar como membro efetivo do Mercosul. Isso resultou num protocolo 
para alterar o Tratado de Assunção, que já foi ratificado por Brasil, Argentina e Uruguai, mas ainda pendente no Paraguai. 
5 
 
Há a questão da gradualidade (Bela Balassa) também no Mercosul. O Tratado de Assunção é claro em 
afirmar que, no prazo de 3 anos, os países consolidariam uma Zona de Livre Comércio para posteriormente 
formar uma União Aduaneira e depois um Mercado Comum. A Comunidade Europeia fornecia um contexto 
inspirador para o bloco. 
Pelo art. 1º, os Estados-partes estariam comprometidos a construir um Mercado Comum, reproduzindo 
os erros históricos de pensar que em tão pouco tempo seria possível construir um mercado comum. A União 
Europeia demorou mais de 30 anos para chegar a esse ponto (1957 - 1992, com o Tratado de Maastricht). Hoje, 
temos uma união aduaneira imperfeita que está muito longe de chegar a esse ponto. Não há sinais que indiquem 
uma vontade política em chegar-se a essa etapa de livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos. 
O art. 1º indica, além da intenção de se fazer uma zona de livre comércio, serviços e fatores produtivos, a 
ideia de uma tarifa exterior comum e a coordenação de políticas macroeconômicas. Não há uma precisão de 
como isso será atingido, o que é esmiuçado pelos artigos seguintes, embora isso seja feito de forma mais retórica 
do que prática. 
O art. 5º dispõe que durante o período de transição para constituição do Mercado Comum, os principais 
instrumentos são: 
a) um Programa de Liberação (liberalização) Comercial, com reduções tarifárias progressivas, lineares e 
automáticas (zona de livre comércio), para chegar a 31 de dezembro de 1994 com tarifa zero, sem barreiras 
tarifárias e não tarifárias para toda a universalidade dos produtos; 
 - contraponto: ainda hoje existem Listas de Exceções para a Zona de Livre Comércio, com 
produtos que não possuem alíquota zero (produtos sensíveis). É uma primeira constatação de que nem a Zona 
de Livre Comércio do Mercosul foi consolidada. Isso só ocorrerá quando os produtos e serviços estiverem livres 
de impostos de importação. Pelo menos 25% dos produtos, segundo o professor, não estariam livres de 
impostos. É o essencial do que os países produzem, sendo o volume mais efetivo do comércio. 
b) a Coordenação de Políticas Macroeconômicas 
c) uma Tarifa Externa Comum 
Em 1994, tínhamos um incremento extraordinário do comércio intrarregional, com redução das barreiras 
tarifárias e não-tarifárias. Não se chegou, porém, a uma Zona de Livre Comércio totalmente feita. Mesmo assim, 
havia a programação de uma reforma do Mercosul, concretizada pela assinatura do Protocolo de Ouro Preto. 
Muito embora não tenhamos consolidado a zona de livre comércio, avançamos. 
Como previsto no art. 5º, o Mercosul passou para uma segunda etapa, de união aduaneira. Isso exigiria 
um esforço muito maior de coordenação de política comercial. Seria necessária uma tarifa de imposto de 
importação única para todos os produtos de outros países. Isso é mais difícil. Exemplificativamente, o Brasil tem 
um setor de bens de capital forte, enquanto a Argentina precisa importar bens de capital para a sua indústria. De 
um lado, o Brasil não quer reduzir suas alíquotas de importação (respeitados os limites máximos da OMC); de 
outro, a Argentina deseja uma alíquota aplicada de zero ou próxima a zero, a fim de renovar seu parque 
industrial. Surgem listas de exceções à união aduaneira. 
Para se atingir essa coordenação, torna-se necessária uma institucionalização do bloco. O Protocolo de 
Ouro Preto foi importante por trazer mecanismos de cooperação e por, juridicamente, atribuir ao Mercosul a 
personalidade jurídica de Direito Internacional. Significa que pode praticar todos os atos necessários à realização 
de seus objetivos, ou seja, pode contrair direitos e obrigações. Assim, o Mercosul pode ser caracterizado como 
uma Organização Internacional. 
Qual a importância dessa caracterização? Para se avançar em matéria de política comercial, que exige 
uma política comercial comum, é necessário um avanço institucional. Modifica-se o tratado de assunção para 
que se reflita essa nova etapa. Passa-se para uma união aduaneira, que é uma etapa mais sofisticada de atuação e 
exige um arcabouço institucional mais sofisticado. A decisão por uma organização internacional tem as suas 
repercussões - p. ex. o Mercosul representa os Estados-membros, embora, na prática, isso não ocorra. 
O que decorre do fato de o Mercosul ter ganhado personalidade jurídica? A rigor, os tratados poderiam 
ser assinados apenas por um representante do Mercosul, embora, na prática, os Estados-membros assinem 
6 
 
também. Em tese, isso conferiria autorização e legitimidade para que o Mercosul atuasse em nome de todos os 
países, mas ainda há necessidade de ratificação interna. 
O Mercosul pode negociar acordos comerciais em nome dos quatro, mas eles terão que assinar. Mesmo 
a negociação não é feita pelo Mercosul enquanto bloco. Normalmente, há uma composição de interesses, mas 
esse desprendimento fica claro em casos como a rodada Doha. É diferente do que ocorre, por exemplo, com a 
União Europeia, que negocia efetivamente em bloco. 
Em 2000, foi editada uma Decisão (32/2000) que, decorrendo do fato de o Mercosul ser uma 
organização internacional e uma união aduaneira, vedava aos entes do Mercosul a possibilidade de celebrar 
acordos isoladamente. O Mercosul é o responsável por impedir, por exemplo, que o Brasil celebre muitos 
acordos bilaterais. Segundo o professor, deveria haver, dentro do Mercosul, mecanismos de efetiva 
redistribuição de renda, de apoio a Uruguai e Paraguai, que ficam imobilizados por não poderem fazer acordos 
bilaterais. Por isso, criou-se o FOCEN, como um fundo financiador de projetos de desenvolvimento dos países 
menores. É uma concessão política para amenizar a insatisfação dos menores. 
A conseqüência da institucionalização e dessa decisão é a vedação a esses acordos comerciais separados, 
com exceção dos Acordos de Complementação Econômica (ACE) no âmbito da própria ALADI. Dentro da 
ALADI, os países podem, isoladamente, celebrar acordos comerciais, mas não no Mercosul, com outros países 
de fora do bloco. Juridicamente, então, cada um deles pode celebrar acordos dentro da ALADI (com países da 
ALADI), mas não fora, não com países de fora (EUA, p. ex.). 
A grande discussão no momento é o acordo econômico entre o Mercosul e a União Europeia. São 
negociações que começaram em 2004, foram interrompidas, e agora devem voltar com mais intensidade. 
 
Órgãos do MercosulOs principais órgãos são o Conselho e o Grupo de Trabalho do Mercosul. No início, havia apenas uma 
Comissão Parlamentar Conjunta (embrião do atual Parlamento) e a Secretaria. O Protocolo de Olivos criou o 
Tribunal Permanente de Revisão e o Tribunal Administrativo Trabalhista. 
 O Mercosul teve uma clara influência da Comunidade Europeia, mas, desde o início, verificamos essas 
influências nos objetivos. Existem muito mais diferenças do que semelhanças. Uma delas é que a opção européia 
foi atribuir aos órgãos institucionais um caráter supranacional. O que isso significa? O Mercosul é uma 
organização internacional de caráter intergovernamental, enquanto a União Europeia é uma organização 
internacional de caráter supranacional. É uma questão de intensidade de delegação de soberania. 
 No caso da União Europeia, a delegação de soberania para a organização e para seus órgãos é muito 
mais intensa. Eles receberam uma parcela maior de soberania, sendo supranacionais porque os órgãos não 
representam os interesses dos Estados, mas os interesses da organização, com decisões vinculantes para os 
próprios Estados. A Comissão da União Europeia são funcionários da própria organização, que trabalham para 
ela e representam os interesses dessa organização. As decisões são tomadas tendo em vista os interesses da 
organização internacional. Eles não são representantes dos Estados-membros, mas representantes da 
organização. Assim, por exemplo, a competência do Tribunal de Justiça da União Europeia se sobrepõe à 
competência do Poder Judiciário de cada um dos Estados-membros em matéria comunitária. 
 Competência intergovernamental, por sua vez, significou e significa uma menor intensidade de delegação 
de soberania. Por isso, o Mercosul, embora em tese represente os Estados, não assina os acordos por conta 
própria. A intensidade de soberania atribuída é menor, e os Estados-membros continuam defendendo seus 
interesses. A lógica jurídica não se confirma na prática, pois mesmo tendo sido criada a personalidade jurídica, os 
seus órgãos institucionais são intergovernamentais, pois os representantes são os de cada um dos Estados-
membros. Não são interesses que se sobrepõem aos interesses dos Estados-membros. 
 
03.05 - Mercosul e sua estrutura institucional 
 
7 
 
Errata: a ALADI é uma organização internacional 
 
Os órgãos institucionais do Mercosul, responsáveis pelo funcionamento da organização, possuem 
características intergovernamentais. Os órgãos intergovernamentais têm como representantes os representantes 
de cada um dos Estados-membros do Mercosul, não representando os interesses da organização, mas aqueles de 
seus governos. Isso marca a diferença em relação à União Europeia, que tem órgãos supranacionais. 
O Mercosul é formado pelos seguintes órgãos: Conselho do Mercado Comum, Grupo do Mercosul, 
Comissão do Comércio, Comissão parlamentar e Parlamento, Secretaria, Tribunal Permanente de Revisão e 
Tribunal Administrativo Trabalhista. 
 
Conselho do Mercado Comum 
 
 É o principal órgão, responsável pela condução política do processo de integração e pela tomada de 
decisões fundamentais para os compromissos assumidos no Tratado de Assunção. É composto pelos ministros 
exteriores e de economia de todos os países. Tem a função de exercer a titularidade da personalidade jurídica do 
Mercosul, podendo delegá-los para o órgão executivo da organização. 
Como se trata de um órgão político, seus atos normativos são chamados de “decisões”, atos que 
constituem o nível normativo mais elevado do Mercosul. Assim como as “resoluções”, possuem caráter 
vinculativo. 
Ex.: Decisão 32/00: é uma das mais importantes, tomada num momento em que se tentou uma renovação do 
Mercosul após a crise financeira do Brasil (1999) e da Argentina (2000-2001). Tentou-se demonstrar a coesão 
política do Mercosul, sustentando-se que a política econômica tendia cada vez mais à coesão. Pelo fato de ser 
uma organização internacional, dotada de personalidade jurídica, a decisão afirmou a necessidade de uma política 
externa comum (união aduaneira) e, no art. 1º, reafirmou o compromisso dos Estados-Partes2 em negociar, em 
conjunto, acordos regionais com outros países. No art. 2º, determina que, a partir de 2001, os Estados não 
poderiam celebrar novos acordos preferenciais isoladamente, mas sim enquanto Mercosul. É uma decisão 
política muito discutida hoje em dia, face à realidade do spaghetti bowl e do grande número de acordos bilaterais 
no cenário mundial. Na prática, existem muito mais divergências do que convergências. Uma das decorrências 
da crise financeira é a busca por acesso aos mercados. 
 Na União Europeia, durante muito tempo o Conselho de Ministros, como órgão político, exerceu uma 
importante função. Hoje, divide sua atuação com o Parlamento. 
 
Grupo Mercado Comum 
 
 É o órgão executivo, composto por 4 membros titulares e 4 membros alternos, de cada país, designados 
pelos respectivos governos, dentre os quais devem constar os representantes dos ministérios exteriores, 
ministérios da economia (ou equivalentes) e membros dos bancos centrais. Uma vez que eles são designados 
pelos governos, eles defendem os interesses de seus governos. Não são funcionários da organização em si. 
Ele pode implementar as decisões do Conselho por meio de “resoluções”, que também são vinculantes. 
Também é possível que, por delegação expressa do Conselho, o Grupo seja o responsável por negociar e assinar 
acordos em nome do Mercosul. 
Há uma discussão grande por conta do número reduzido de “resoluções” incorporadas aos 
ordenamentos jurídicos dos países-membros. Ao contrário da União Europeia, na qual há exigência de 
vinculação às normas comunitárias, no Mercosul as resoluções são tomadas por um órgão que reúne 
representantes dos próprios governos. Pela lógica, uma vez aceitas e determinadas por representantes dos 
 
2 Segundo o professor, em 2000 já eram Estados-membros. 
8 
 
próprios governos, tanto as decisões como as resoluções deveriam ser automaticamente incorporadas aos 
Estados (exceto algumas, que trazem políticas muito importantes e devem passar pelos Parlamentos). Foram os 
próprios países que decidiram, por meio de seus representantes, a partir de consenso (decisões unânimes). 
Porém, o que verificamos é um grande déficit de incorporação de resoluções e decisões ao ordenamento 
jurídico. 
 
Comissão 
 
 Também é um órgão técnico, voltado a editar “diretrizes” sobre a administração da tarifa externa 
comum. Discutem-se os avanços e os retrocessos na Tarifa Externa Comum. 
Ex.: Brasil tem uma exceção à Tarifa Externa Comum para vinhos de sobremesa, aplicando uma alíquota 
máxima de 20%. 
 
Parlamento 
 
 Foi criado em 2005, tendo como incumbência representar os povos do Mercosul. No ano de 2010, foi 
adotada uma decisão pelo Conselho (n. 28/10) propondo a regulamentação de eleições que estabeleçam o 
sufrágio universal para o Mercosul. Estabelece uma proporção na representatividade, de tal sorte que o Brasil 
indicaria por volta de 37 parlamentares e Argentina (26), Paraguai (18) e Uruguai (18) indicariam um número 
proporcional de representantes. A ideia é que, em 2014, além de votar para os cargos majoritários e do 
congresso, os brasileiros possam votar para escolher seus representantes no Parlamento do Mercosul. 
Na União Europeia, o Parlamento só adquiriu importância com o passar do tempo, havendo maior 
destaque para o Conselho de Ministros. 
 
Secretaria 
 
 Representa os setores econômicos e se situa em Montevidéu. 
 
Tribunal Permanente de Revisão 
 
Objetivos do Mercosul 
 
 O Mercosul tem como objetivos a liberalização comercial, com a queda das barreiras alfandegárias e não-
alfandegárias. As exportações dos países da região e o comércio intrarregional cresceram expressivamente nos 
últimos anos. 
 Associados com o comércio de bens existem dois outros importantes assuntos. O primeiro diz respeito 
ao tratamentodos investimentos estrangeiros. Recentemente, uma empresa chinesa se comprometeu a fazer um 
investimento de 12 bilhões de dólares para montar IPads, no Brasil. Em contrapartida, a empresa chinesa 
gostaria de diversas concessões, tributárias e não-tributárias. Muitas peças deverão ser importadas, mas o Brasil 
estabeleceu a necessidade de transferência de tecnologia e utilização de maior parte de componentes brasileiros. 
 O Protocolo de Colônia (1994) dispõe sobre o tratamento dos investimentos no Mercosul, enquanto o 
Protocolo de Buenos Aires (1994) dispõe sobre o tratamento dos investimentos em relação a terceiros países. O 
Brasil foi o último a ratificar o Protocolo de Buenos Aires, que entrou em vigor na semana passada. O objetivo 
do Protocolo de Colônia é a harmonização das regras entre os países, enquanto o de Buenos Aires procura 
proteger investimentos de países não-membros do Mercosul. 
9 
 
 Há uma situação estranha, porque Paraguai e Uruguai possuem acordos bilaterais (não comerciais) sobre 
investimentos com vários países. O Brasil tem 15 BITs (Bilateral Investments Agreements), mas nenhum deles foi 
ratificado. Seria favorável para o Mercosul que as políticas fossem coesas nesse sentido. 
Dentro do próprio Mercosul, há também o Protocolo de Montevidéu sobre o comércio de serviços 
(1997, vigente desde 2005). Busca proporcionar a abertura do comércio de serviços. É uma lógica 
completamente diferente, sem a discussão sobre barreiras tarifárias ou não tarifárias. Não se trata da imposição 
de imposto de importação sobre serviços. É preciso que a legislação de um país permita que um profissional de 
outro país preste seus serviços. É a eliminação de barreiras normativas, que deveriam ocorrer com muito mais 
rapidez no âmbito do Mercosul. 
 
Estágio atual do Mercosul 
 
 É uma “união aduaneira” incompleta, com várias exceções. No ano de 2010, o Conselho de Ministros 
apresentou e aprovou o Código Aduaneiro do Mercosul. Tem uma importância fundamental para se eliminares 
barreiras que atualmente estão impedindo que a união aduaneira possa ser efetivamente uma “união aduaneira”. 
Esse código representa um avance, sinalizando para uma evolução da organização. 
 
Sistema de Solução de Controvérsias 
 
 Estamos diante de uma organização internacional intergovernamental. Seus órgãos possuem 
competência que não se sobrepõe sobre os órgãos internos de cada país. O professor afirmou, em artigo 
anterior, que seria necessário um sistema que desse eficácia às normas do Merocul, por meio de um Tribunal que 
estivesse acima da competência dos órgãos dos países do Mercosul. O professor, porém, mudou de ideia, 
pensando que não existe mais um modelo ideal a ser seguido (o da União Europeia). Questiona-se até mesmo a 
complexidade do bloco. 
 O Tratado de Assunção, no art. 3, cria um Sistema de Solução de Controvérsias provisório, 
complementado com o Protocolo de Brasília, assinado em dezembro de 2001, que estabelecia um mecanismo 
arbitral de solução de controvérsias, não um mecanismo judicial. Para alguns autores, o interessante poderia ser a 
existência de um mecanismo judicial de solução de controvérsias. Segundo eles, o Brasil não adotou esse sistema 
por ser o mais forte da região e por não desejar se submeter a nenhum órgão de controle. 
Em 2002, a assinatura do Protocolo de Olivos revogou o Protocolo de Brasília. Não alterou a substância 
do mecanismo, que continuou arbitral, mas alterou pontos importantes. Anteriormente, havia a necessidade de 
tentativa de negociação política das demandas comerciais entre Estados ou empresas e, apenas no caso de 
fracasso dessas negociações, os Estados (detentores da capacidade processual) poderiam acessar o mecanismo 
de solução arbitral. Há a possibilidade de negociações diretas, seguidas por tentativas no Grupo e no Conselho. 
O Protocolo de Brasília previa a arbitragem para a solução das demandas que não fossem resolvidas 
amigavelmente nos passos anteriores. Qualquer dos Estados-partes poderia manifestar à Secretaria a intenção de 
ingressar com uma demanda arbitral. Cria-se um tribunal ad hoc, com um processo de arbitragem, redundante 
num laudo. 
O Protocolo de Olivos se insere num contexto de necessidade de superação da crise Argentina (2002). A 
solução seria a transformação do sistema de solução de controvérsias. Tentou-se resolver as reivindicações dos 
países vizinhos a partir de algo parecido com um tribunal de justiça, a partir de um mecanismo arbitral. Guido 
Soares chama o resultado do processo de Frankestein. Por quê? 
Antes, havia a possibilidade de se desconsiderar um laudo arbitral do Mercosul a partir de uma demanda 
no Órgão de Solução de Controvérsias da OMC. Até que ponto isso poderia ser feito juridicamente? 
Politicamente, seria um símbolo da fraqueza do bloco (“lavagem de roupa suja fora de casa”). Segundo o 
Protocolo de Olivos, se os países preferirem levar a causa à OMC, deverão abandonar o sistema do Mercosul, 
mas se iniciarem a demanda no Mercosul, não poderão utilizar outros foros. Evita-se, assim, o fenômeno do 
“foro shopping”. 
10 
 
O Protocolo de Olivos mantém a necessidade de negociações diretas ou negociações no Grupo do 
Mercosul. Se elas fracassarem, instaura-se um tribunal ad hoc com 3 árbitros. É o mesmo procedimento do 
Protocolo de Brasília. 
Inova ao criar o Tribunal Permanente de Revisão. É um Frankestein por misturar procedimentos 
arbitrais com características judiciais, principalmente no tocante à possibilidade de revisão dos laudos arbitrais 
pelo Tribunal. 
 
10.05 - Mercosul (cont.) 
 
 Em 2000, tenta-se resgatar o Mercosul e, de certa forma, atender à demanda de países menores para que 
se tivesse uma solução de controvérsias diferente. Partiu do próprio Brasil a iniciativa de propor um novo 
modelo de solução de controvérsias que pudesse substituir o Protocolo de Brasília. Redundou no Protocolo de 
Olivos (2002). 
Com a finalidade de evitar problemas que haviam ocorrido sob a égide do Protocolo de Brasília (caso 
entre Argentina e Brasil), com descrença do Mercosul perante a comunidade internacional e o fenômeno do foro 
shopping, uma das primeiras modificações trazidas pelo Protocolo de Olivos foi possibilitar às partes levar as 
questões para a OMC ou para o Sistema de Solução de Controvérsias do Mercosul, com exclusão do outro, em 
caso de o objeto ser o mesmo. 
O professor refere-se à expressão de Guido Soares, de que o sistema se tornou um Frankenstein. Foi 
uma tentativa de agradar os países menores e criar um sistema parecido com um sistema judicial, mas, no fundo, 
ainda arbitral. Não é um sistema judicial e tampouco é um sistema único, como a OMC. O Protocolo de Olivos 
se inspirou no sistema da OMC, mas criou algo diferente. 
É claro que continua a haver sempre a possibilidade de negociações diretas entre as partes, com a 
possibilidade de que a questão vá para o grupo do Mercado Comum. Não há necessidade de se passar pelo 
Grupo Mercado Comum, podendo-se acionar diretamente o procedimento arbitral. Instaurado o procedimento, 
há um prazo para a prolatação do laudo. Há a previsão de 3 árbitros. 
As diferenças, até aqui, são a possibilidade de escolha com exclusão e a opcionalidade do GMC. 
O tribunal é ad hoc, para o caso. 1 árbitro é designado por cada Estado, e ambos escolhem um 3º. O 
laudo deve ser proferido em 60 dias, prorrogáveis por 30 dias. Criou-se um Tribunal Permanente de Revisão e, 
se as partes tiverem optado por instaurar um tribunal ad hoc, o laudo está sujeito a apelação para esse TPR. 
Evidencia-se que é um Frankenstein, porque a arbitragem é feita entre os Estados, com autonomia da 
vontade das partes de escolher o árbitro ou o tribunal. Proferido o laudo, ele não pode estar sujeito à apelação. É 
um produto da vontade das partes. Prevê-se, porém, a possibilidade de que a parte apele. O laudo é sempre 
inapelável, tendo força de coisa julgada (res judicata). Não poderia estar sujeito à apelação. No Mercosul, contudo, 
há o Tribunal Permanentede Revisão, com membros estáveis que, embora não fiquem permanentemente 
disponíveis, podem ser acionados. Apenas se não houver um recurso, então, o laudo terá força de coisa julgada. 
A sede do Tribunal Permanente de Revisão é a cidade de Assunção. São cinco membros e cada Estado-
parte do Mercosul escolherá um árbitro e um suplente, sendo o 5º deles escolhido pela unanimidade dos 
Estados. 
As partes podem recorrer diretamente ao Tribunal Permanente de Revisão, sem necessidade de 
constituição de um Tribunal ad hoc. Ele seria “revisor” do quê? Ele só revê quando há um laudo proferido por 
um tribunal ad hoc, mas, havendo a possibilidade de que as partes acionem diretamente o tribunal, não é 
tecnicamente um Tribunal “de Revisão”. 
O laudo do TPR tem um prazo para ser proferido. É adotado por maioria, não constando os votos 
dissidentes. É definitivo, obrigatório e tem força de coisa julgada. O descumprimento do laudo arbitral enseja a 
possibilidade de medidas compensatórias, tal como ocorre na OMC, inclusive com possibilidade de retaliação 
cruzada. 
11 
 
O Protocolo de Olivos, então, manteve um sistema arbitral e ainda criou um Tribunal Permanente de 
Revisão para rever laudos arbitrais ou para acionar diretamente. Os membros do Tribunal não são escolhidos 
como numa arbitragem. Também não é permanente. Só pode ser um “Frankenstein”. 
Existe outra função, ainda em fase de consolidação, que é a função consultiva do Tribunal de Revisão. 
Há uma função jurisdicional de solução de controvérsias (inclusive entre particulares) e uma função consultiva. 
O laudo será proferido e publicado, devendo ser cumprido pelo Estado. Não é como um laudo particular, 
devendo ser imediatamente cumprido. Caso não seja cumprido, haverá a requisição ao Mercosul para a adoção 
de medidas compensatórias. 
 
Caso dos Pneus Remoldados 
 
 Pneu remoldado é aquele que já foi reutilizado, podendo ser novamente utilizado por uma única vez. O 
Uruguai entrou com uma demanda em 2001 (Protocolo de Brasília) contra uma medida do governo brasileiro 
que proibia a importação de pneus remoldados, sob alegação de que geraria um lixo ambiental no Brasil. 
A prof. Maristela Basso era membro do Tribunal ad hoc do Mercosul. Afirmou que o exame deveria se 
dar sob perspectiva comercial. O princípio fundamental era a liberalização comercial, não argumentos 
ambientais. 
O Uruguai alegou que a proibição de importação de pneus usados era contra o art. 1º do Tratado de 
Assunção e ao seu anexo I (arts. 1 e 10, 2). Também seria contrário à decisão 22/00. Todas proibiam medidas de 
restrição de comércio. O país também recorreu aos princípios gerais de direito internacional (estoppel), sobre 
expectativas criadas no comércio internacional pela importação tradicional de pneus. 
O Brasil alegou que a portaria regula a importação de bens usados. Além disso, as normas técnicas 224 e 
225 do Mercosul definiam os pneus remoldados como um bem usado submetido a um processo de reutilização. 
A Resolução 109 de 1994 do GMC sujeitava o tratamento dos bens à legislação nacional. Por fim, não haveria 
uma constância em relação aos pneus remoldados. 
O Tribunal ad hoc decidiu por unanimidade que havia incompatibilidade com a normativa do Mercosul, 
ordenando ao Brasil que alterasse sua legislação para conformar-se à decisão do Tribunal. O Brasil eliminou a 
proibição em relação apenas ao Mercosul. A prof. Maristela justificou, em sua decisão, que os pneus entraram 
para o livre comércio, devendo permanecer assim. Se o Brasil quisesse regulamentar, tendo em vista o ambiente 
e o consumidor, poderia fazê-lo desde que fizesse de forma quadripartite, ou seja, teria que ser uma decisão dos 
quatro países. 
Em julho de 2005 foi instalado um segundo tribunal ad hoc, entre Uruguai e Argentina. Os argentinos 
fizeram a mesma coisa que o Brasil. O contexto é outro, porém, e se submete ao Protocolo de Olivos. A 
argumentação argentina foi bem diferente, e a proporção da questão ambiental ganhou muito mais vulto. 
Embasou-se a contestação no princípio da precaução e no princípio da proteção ao meio-ambiente, para 
eliminação do passivo ambiental. Há tanto um problema de saúde pública desses pneus (ex. dengue) como um 
risco de incêndios e poluição. 
Para Hermes Huck, membro do tribunal, os dois princípios, tanto a liberalização comercial como a 
proteção ao meio-ambiente deveriam ter pesos parecidos na análise do caso. 
O Uruguai fez basicamente as mesmas alegações do caso brasileiro. Por outro lado, a fundamentação 
Argentina foi diversa da brasileira. Alegaram que a lei argentina estaria de acordo com o Tratado de Montevidéu 
de 1980 (art. 50), que permitiria restrição não-tarifária em nome do direito ambiental. Alegaram também o 
princípio da precaução, que permite a retirada de circulação de um produto que suscita dúvidas quanto à 
nocividade para as próximas gerações.3 O preâmbulo sobre o Tratado de Assunção e o Acordo Macro de 
Proteção do Meio-Ambiente do Mercosul também reforçaria a Argentina. 
 
3 É um princípio muito utilizado na União Europeia e na OMC, embora não seja muito claro. 
12 
 
Por maioria de votos, o Tribunal entendeu que haveria compatibilidade da legislação argentina. Por 
enquanto, ainda não haveria solução para o passivo ambiental gerado pelos pneus utilizados. 
O Uruguai, então, recorreu ao Tribunal Permanente de Revisão. O Tribunal teve uma decisão 
diametralmente oposta à do tribunal ad hoc. O Mercosul teria como único princípio basilar o livre-comércio. 
Essas restrições ao princípio do livre comércio deveriam passar por um exame rigoroso. 
Qual a conseqüência? Em 2005, as Comunidades Europeias entraram com um pedido de consulta contra 
o Brasil, alegando que o país deixaria de cumprir com as regras da OMC ao impedir a entrada dos pneus 
remoldados. 
As Comunidades Europeias fundamentaram seu pedido no art. 1º do GATT (tratamento de nação mais 
favorecida) e no art. 3º do GATT (tratamento nacional). Também equiparam os pneus remoldados aos pneus 
usados.4 Também alegam a impossibilidade de restrições quantitativas (art. 11 do GATT). 
Por outro lado, o Brasil se defendeu por meio do art. XX da OMC. Prevê as exceções gerais ao acordo. 
Um dos motivos seria a alínea “b” (medidas necessárias ao meio-ambiente e à saúde pública). Seria possível 
deixar de cumprir normas comerciais com base nessa exceção. Além disso, o Mercosul seria uma união 
aduaneira, constituindo uma exceção à cláusula da nação mais favorecida e fortalecendo o laudo arbitral. A 
importação de pneus remoldados aumentaria o passivo ambiental e a sua proibição seria a única medida capaz 
de impedir o grande número de resíduos de pneus. 
A argumentação brasileira, especialmente no tocante à união aduaneira, demonstra claramente a relação 
entre os âmbitos regional e multilateral. Haveria uma exceção permitida pelo próprio acordo da OMC. 
Com relação ao art. XI, o Painel e o Órgão de Apelação concluíram que a restrição da importação era 
incompatível com a eliminação de licenças prevista pelo GATT. As liminares da Justiça local brasileira seriam 
incompatíveis com o tratamento nacional do GATT, tratando estrangeiros de modo diferente aos locais e 
diferentemente entre eles mesmos. 
O Painel que a restrição era consistente com o art. XX, pois a proibição foi provisoriamente aceita como 
justificável, porque não havia nenhuma alternativa menos restringente. Porém, o art. XX deve ser interpretado 
sempre de forma conjunta (caput e alíneas). Pelo caput, só pode haver alegação de uma das medidas da alínea, 
desde que não seja arbitrária ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional. Revertendo o parecer do 
Painel, o Órgão de Apelação entendeu que as medidas não eram consistentes com o art. XX, pois havia a 
importação de países do Mercosul, mas não a importação de outros países. As medidas devem ser vistas 
segundo suas finalidades, e o que se verificou foi uma isenção do Mercosule uma restrição a outros países. 
Para o professor, a argumentação deveria passar pela existência de uma organização internacional e 
regional. O Brasil cumpria um laudo. A vitória principal para o governo foi o destaque conferido para a questão 
ambiental: se o Brasil resolvesse o problema interno das liminares e a diferenciação com o Mercosul, ele estaria 
cumprindo a decisão do Órgão. Prevaleceu a norma ambiental em detrimento da liberalização comercial. 
Em 2009, o STF decidiu pela inconstitucionalidade das liminares, em confronto com os arts. 196, 170 e 
225 da Constituição (ADPF 101). Os pneus usados seriam apenas lixo ambiental, que tornaria o país o quintal 
do mundo. Em conclusão, proibiu toda e qualquer importação, contrapondo-se ao laudo do Mercosul. Tem-se 
um conflito entre a ordem interna e a ordem internacional, causado pelo fato de o Mercosul ser uma instância 
intergovernamental, e não supranacional, como na União Europeia. 
 
Caso das Papeleiras 
 
 A instalação de duas fábricas papeleiras no Uruguai gerou manifestações da população argentina da 
região fronteiriça com o Uruguai. Com barricadas, ficou prejudicada a livre circulação de pessoas e serviços entre 
Argentina e Uruguai. O próprio governo argentino da província apoiava o protesto. Em 2006, há um Tribunal 
 
4 Argumento não tão bom: na verdade, querem exportar o passivo ambiental. 
13 
 
de ad hoc para julgar a controvérsia entre Uruguai e Argentina, em razão da omissão do Estado argentino em não 
adotar medidas apropriadas para retomar a livre circulação. 
 O Uruguai alegou a violação à livre circulação e prejuízos nos serviços (turismo). Outras normas de 
direito internacional, como acordos de transporte terrestre, teriam sido violados. A Argentina, por outro lado, 
alegou a possibilidade de liberdade de expressão do povo argetino. 
O tribunal decidiu que o posicionamento argentino foi incompatível com o Tratado de Assunção. O art. 
27 impedia as partes de descumprir acordos por normas de seu direito interno. Por outro lado, o direito à 
liberdade de expressão não era ilimitado. O resultado final, porém, não foi concedido em relação às futuras 
condutas da Argentina. 
Não foi, porém, o único caso. Quase simultaneamente, o mesmo caso foi levado à Corte Internacional 
de Justiça, sob fundamento de que o próprio Estatuto do Rio Uruguai, no art. 60, parágrafo 1, permitia a 
submissão do litígio à Corte de Justiça. 
As duas partes pediram medidas preventivas. A Argentina pedia a não instalação das fábricas, enquanto o 
Uruguai pedia a livre circulação. Foram rejeitadas. Reconheceu-se que o Uruguai não cumpria o Estatuto do Rio 
Uruguai (art. 7º: qualquer decisão unilateral de um país que envolvesse o rio deveria ser notificada à outra parte), 
que não fez um estudo de impacto ambiental antes de questionar a Argentina e que, portanto, deveria reparar 
integralmente o prejuízo. 
Em 20 de abril de 2010, a CIJ decidiu que o Uruguai violou as obrigações, mas não teria violado 
obrigações substantivas. O dano maior já havia sido causado. A fábrica poderia ser mantida sem a necessidade 
de que a fábrica deixasse de funcionar. Já era um fato consumado. Instou o Uruguai a não agir assim de novo. 
 
17.5 - Unasul 
 
Caso da Argentina x Brasil: Demonstra o problema do desequilíbrio dos países num processo de integração, 
por exemplo, na formação de uma zona de livre comércio. A Argentina tem um mecanismo, em especial em 
produtos nos quais o Brasil é mais competitivo, que dificulta a entrada desses produtos no país. Não deve haver 
restrições à entrada de produtos. Estabelece-se a necessidade de uma licença prévia aos produtos. Ela deveria ser 
automática, caso contrário os produtos ficam retidos na fronteira. A OMC autoriza um período de 60 dias para a 
concessão da licença, mas a Argentina ficou pródiga em demorar mais. É um caso que poderia ser levado tanto 
para o órgão de solução de controvérsias do Mercosul como da OMC. 
 Existem, atualmente, vários processos anti-dumping contra produtos chineses. Quando as autoridades 
brasileiras decidem aplicar direitos anti-dumping, o produto chinês passa a ter uma sobretaxação no país, tornando 
o produto nacional mais competitivo. Porém, existe uma técnica - circunvation - que burla os direitos anti-dumping 
aplicados contra algumas empresas. Os chineses, então, não podem exportar diretamente para o Brasil, mas 
exportam para a Indonésia que, essa sim, exporta para o Brasil. Existe uma triangulação de bens que envolvem 
até mesmo países do Mercosul. 
Ex.: exportação de cobertores chineses feita a partir de Paraguai e Uruguai. Ingressam no Brasil com certificado 
de origem, mas, na verdade, são fabricados na China. 
 O Brasil não poderia suspender as licenças automáticas visando apenas a Argentina (não-discriminação). 
Evidentemente, isso vale para todos os países que exportam automóveis para o país. Por ser uma união 
aduaneira, há uma vedação de celebração de acordos bilaterais fora do grupo regional (não é um regionalismo 
aberto). Diante das dificuldades do Mercosul, não seria o caso de rever esse regionalismo aberto? 
 
Unasul 
 
 O Tratado Constitutivo da União de Nações Sul-Americanas foi assinado em 2008. Prevê que a entrada 
em vigor do tratado ocorre depois da assinatura de nove países. Isso aconteceu em 11.3.2011. A UNASUL, 
14 
 
portanto, entrou em vigor, faltando apenas dois países a ratificá-lo - Brasil e Paraguai. Está na pauta do 
processo, sendo apenas uma questão de aprová-lo (decreto legislativo). 
 Em termos de interpretação dos tratados, é imprescindível conhecer o preâmbulo. No caso do Tratado 
da UNASUL, há uma grande abrangência (construir uma identidade e uma cidadania sul-americanas, construir 
um ambiente de cooperação política, social, energética, etc.). São objetivos diferentes dos objetivos comerciais 
do Mercosul. Destaca-se a questão energética e de infraestrutura. 
 Também se apresenta o fortalecimento do multilateralismo como algo a ser perseguido. As nações têm a 
convicção de que se deve fortalecer o multilateralismo. Vemos, porém, exatamente o oposto. Por conta da 
proliferação de acordos bilaterais, verificamos um enfraquecimento do multilateralismo. 
 Entendem também que a integração sulamericana deve ser alcançada por meio de um processo 
inovador, incluindo as conquistas e os avanços do Mercosul e da Comunidade Andina das Nações. 
 
Bibliografia: Félix Peña 
 
 Existe uma complementariedade entre UNASUL, Mercosul e CAN, com uma convergência. Captamos 
uma ideia de algo maior que o Mercosul, algo que vai além de uma simples integração calcada fundamentalmente 
no comércio. Pretende ir além, sem prejuízo do Mercosul e da Comunidade Andina das Nações. No futuro, 
ainda não se sabe como, irá abrangê-las. 
 Um aspecto importante diz respeito à ideia de que os Estados-partes pretendem constituir a UNASUL 
como uma organização internacional, dotada, portanto, de personalidade jurídica internacional. 
Mais ou menos na linha do preâmbulo, há o objetivo de construir, de maneira participativa e consensual, 
um espaço de cooperação cultural, social, econômico e político, priorizando o diálogo, políticas de educação, 
infra-estrutura e política do meio-ambiente. Busca diminuir a desigualdade socioeconômica, reduzindo as 
assimetrias. A linguagem é completamente diferente, sendo mais do que um espaço de integração comercial. 
Em terceiro lugar, como objetivos específicos há o fortalecimento do debate político e a inclusão social. 
A integração energética para manejo sustentável dos recursos da região também é uma necessidade. O tratado 
evidencia, então, o conceito multifacetado dos processos de integração, principalmente no que toca à integração 
física, cultural e política. 
Objetiva-se a criação de uma cidade sul-americana, à semelhança do Tratado de Schengen. Fala-se, 
também, em integração produtiva. Trata-se até de luta contra terrorismo e cooperação setorial.Como estamos diante de uma organização internacional, há órgãos. Eles são intergovernamentais. Há o 
Conselho de Chefas e Chefes de Estado, o Conselho de Ministros de Relações Exteriores, Conselho de 
Delegados e Delegadas e Secretaria Geral. É interessante verificar que também há uma sinalização pelo 
desenvolvimento da institucionalidade da UNASUL, com a convocação de reuniões ministeriais setoriais, e 
também a constituição de grupos de trabalho para analisar determinados assuntos. 
O Conselho de Chefas e Chefes é o órgão máximo, responsável pelas diretrizes políticas e pela condução 
do processo de integração. Existe a Presidência pro tempore, que será exercida sucessivamente em ordem 
alfabética, por períodos anuais. A atual é uma colombiana, ex-ministra da Educação, para exercer um mandato 
de complementação a Nestor Kirchner. 
O Conselho de Ministros é responsável por implementar as decisões. 
A sede da UNASUL é Quito, no Equador. É onde funciona a Secretaria Geral. 
Tudo é decidido por consenso, o que revela o caráter político e pouco institucional da UNASUL. Como 
é organização internacional, pode ter relação com terceiros e assumir compromissos. Prevê-se, no futuro, a 
formação de um parlamento sul-americano na cidade de Cochabamba, na Bolívia. Fala-se, atualmente, em 
Parlamento Sul-Americano, com competência bastante abrangente. 
A solução de controvérsias também é prevista, o que revela ainda o baixo grau de institucionalização, por 
demonstrar os conflitos internos. É uma organização muito mais política. 
15 
 
Outra curiosidade é o fundamento jurídico da UNASUL. Verifica-se, com clareza, que não se está diante 
de um processo de integração predominantemente comercial. O registro do Tratado é perante a Secretaria das 
Nações Unidas, o que exclui a necessidade de notificação â OMC. A UNASUL já exerceu o papel de fórum de 
intermediação de conflitos, no caso da rivalidade entre Equador e Colômbia. 
Já foram criados Grupos de Trabalho. Foi criado um Grupo de Trabalho para a criação de um acordo de 
investimentos estrangeiros (tratamento aos capitais estrangeiros). O Brasil tem 14 acordos bilaterais de 
investimentos (não se confundem com acordos bilaterais), todos ainda não em vigor. Os grupos de trabalho são 
criados com o objetivo de institucionalizar mais a UNASUL. A partir da criação, há a definição da ordem de 
prioridades da organização. Duas já ficaram mais patentes: a defesa e a infra-estrutura. 
O professor chama atenção para a integração de infra-estrutura. Há um projeto chamado IRSA, um 
braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que financiou diversos projetos de infra-estrutura. 
Evidentemente, o grosso de investimentos deverá ser feito no Brasil. Existem a perspectiva da finalização da 
ligação ferroviária entre Brasil, Paraguai, Bolívia e Chile. Outra prioridade é a ligação rodoviária entre Brasil e 
Chile e entre Roraima e Georgetown. É um processo importante para compensar os gargalos de infra-estrutura 
de nosso país. 
Verificamos com clareza como Mercosul e UNASUL podem se complementar. Criou-se um conselho, 
dentro da UNASUL, sobre infra-estrutura e planejamento. É crucial para o desenvolvimento econômico e 
social, com redução de assimetrias. Isso se faz com base em investimentos de infra-estrutura. 
 
Nafta 
 
 Em 1994, foi assinado o NAFTA, entre EUA, Canadá e México. É um tratado internacional que, dentro 
dos seus objetivos, pretende criar uma zona de livre comércio. É importante testar novamente os modelos que 
discutimos no primeiro bloco. Se é uma zona de livre comércio, não se enquadra na definição clássica. Em se 
tratando de livre comércio, o objetivo é estabelecer a liberalização do comércio de bens (eliminar barreiras 
tarifárias e não-tarifárias) e de serviços (eliminar barreiras normativas para prestadores de serviços). 
 O NAFTA, porém, vai além. Tem capítulos que tratam de assuntos que classicamente nunca estiveram 
no conceito de livre comércio. 
Ex.: propriedade intelectual, investimentos, concorrência, compras governamentais, comércio e meio-ambiente, 
comércio e relações trabalhistas. 
 Exatamente por envolverem temas que não são típicos de uma zona de livre-comércio, o tratado criador 
do NAFTA prevê uma zona de livre-comércio, mas não no sentido clássico. Seria uma zona de livre-comércio 
ampliada. 
 Em segundo lugar, estávamos em 1994. Na mesma época, estava sendo concluída a Rodada Uruguai do 
GATT. É claro que houve um esforço muito grande dos EUA de fazer com que o acordo final da OMC 
contivesse uma estrutura normativa idêntica ao NAFTA. Isso não foi possível. Tentou-se reproduzir o modelo 
de zona de livre-comércio ampliada para a ALCA. O projeto foi definitivamente abandonado em 2003. 
No caso dos serviços, há um modelo de lista positivo e outro modelo de lista negativa. O GATS adota o 
modelo de lista positiva, ou seja, um membro da OMC não é obrigado a assumir compromissos em matéria de 
serviços. Quando assume, ainda tem a possibilidade de listar os serviços em que assumiu. Nessa lista, ainda 
estabelece que manterá algumas restrições a determinados campos, privilegiando determinadas empresas. É um 
modelo muito flexível. O país que decide politicamente liberalizar o seu comércio de serviços, quando o faz, tem 
a possibilidade de adotar a lista positiva (liberaliza-se o que quiser, da maneira que quiser). O que não estiver na 
lista não envolve compromisso. Numa perspectiva de país em desenvolvimento ou emergente isso é bastante 
interessante, pois são setores difíceis. 
Ex.: setor de serviços jurídicos; serviços educacionais; serviços de infra-estrutura. 
 Se o país resolve abrir parte do mercado, abre, mas com restrições. 
16 
 
Por outro lado, o modelo de lista negativa foi adotado pelo NAFTA. O que não estiver incluído na lista 
é considerado totalmente aberto, sem restrições. Evidentemente, há um viés muito mais liberalizante. O 
processo de liberalização dos serviços tende a avançar muito mais rapidamente do que, por exemplo, no 
Mercosul, cujo modelo é de lista positiva e só foi positivado por meio de protocolo de 2008. O sistema GATS 
também adota um sistema de lista positiva. 
Em relação aos investimentos, prevê-se que haverá a necessidade de tratamento nacional não 
discriminatório em relação aos investimentos. Se houver um problema envolvendo um investidor (parte privada) 
e o Estado (governo do país), há a previsão de um mecanismo especial de solução de controvérsias. O investidor 
leva o Estado ao CIRDI (Centro Internacional de Resolução de Disputas sobre Investimentos), que é um braço 
do BIRD. 
Esse modelo permite que o Estado fique na mesma posição de um particular, o que se reproduz em 
todos os acordos bilaterais de investimentos, razão pela qual o Brasil nunca ratificou nenhum dos acordos 
assinados. 
Num caso do NAFTA (Metalclad), o prefeito de uma cidade mexicana adotou uma lei obrigando as 
empresas a modificarem os processos de tratamento de resíduos sólidos. A empresa investidora norte-
americana, prejudicada em seu retorno dos investimentos pela nova lei, pensou que isso violaria o capítulo de 
investimentos do NAFTA. Levou a sua disputa para o CIRDI. O laudo resolveu que realmente havia ocorrido 
um prejuízo. 
Temos duas questões: 
- como colocar investidor privado no mesmo patamar do Estado? 
- em que medida um tribunal privado está em condições de julgar o que é interesse privado e interesse 
público? 
Ao final, o Estado mexicano foi obrigado a indenizar a empresa. O grande problema é esse modelo que 
se pretendeu inserir na OMC. Resultou num modelo mais tímido, as Medidas de Comércio Relacionadas aos 
Investimentos (TRIMs - Trade Related Investments Measures). Não podemos simplesmente aceitar a ideia 
predominante no NAFTA. Foi isso que pautou a conduta dos parlamentares durante muito tempo, no Brasil. 
Dos 14 BITs apresentados ao Congresso, nenhum foi aprovado com a passagem de um governo para outro. 
O problema é que vivemos um momento de transição. Éo caso dos investimentos da Petrobrás há 4 
anos, na Bolívia, ou da Odebrecht há 3 anos, no Equador. O Brasil, país eminentemente receptor de 
investimentos estrangeiros, passou a ser um país exportador de investimentos. É necessário repensar a questão 
de investimentos? Deve o país pensar nas empresas que investem no exterior? É uma questão inquietante, tendo 
em vista a tensão entre o predomínio do interesse privado e do interesse público, tendo em vista a situação do 
Brasil hoje em dia. Fala-se em reviver os 14 BITs assinados, mas isso passa por uma emenda à Constituição para 
aceitação da jurisdição de outros tribunais. 
Finalmente, em termos de solução de controvérsias, o NAFTA tem um sistema de solução de 
controvérsias geral (envolvendo os Estados), um mecanismo especial para questões anti-dumping e sanitárias e 
um outro sistema, especial, para questões relacionadas com investimentos. 
 
24.5 - Nafta; União Europeia 
 
Nafta (cont.) 
 
 É uma zona de livre comércio ampliada. O acordo é assinado em 1994, constituindo uma proposta feita 
e capitaneada pelos EUA como um modelo para outros acordos da OMC. Trata da liberalização do comércio de 
bens (eliminação de barreiras tarifárias e não tarifárias), da liberalização do comércio de serviços (com sistema de 
lista negativa) e também trata da propriedade intelectual (assemelhado transplantado para o modelo dos TRIPs). 
Há um capítulo destinado à concorrência. 
17 
 
Por fim, cabe destaque para o capítulo relativo a investimentos. A disciplina do NAFTA não entrou no 
sistema da OMC (TRIMs). É o sistema que os EUA adotam nos acordos bilaterais pelo mundo. No âmbito do 
NAFTA, estabelece condições de segurança para o investimento nos três países. 
Não há um único modelo de solução de controvérsias. Há um modelo geral, assemelhado ao Protocolo 
de Olivos (possibilidade de optar por um ou por outro, com proibição de se utilizar outro depois da escolha), e 
modelos específicos para dumping e, principalmente, investimentos, dentre outros. 
O professor destaca, no Chapter XI, como deve ser feita a proteção dos investimentos. Qualquer ato 
considerado danoso ao investimento estrangeiro deverá ser levado ao tribunal CIRDI (Centro Internacional de 
Resolução de Disputas relacionadas com Investimentos). É o sistema adotado nos BIT (Bilateral Investiments 
Trades). 
Em relação a esse modelo, o professor critica a possibilidade de interesses públicos se submeterem a 
juízos privados. Antes, era fácil criticar esses acordos sob a visão do Brasil como país receptor de investimentos. 
O que mudou, e por isso o professor encontra-se em fase de dúvida, é que o Brasil se tornou um país que 
exporta investimentos. Suas empresas (Oderbrecht, Gerdau, etc.) têm investimentos no exterior. 
Ex.: Metalclad - uma empresa norteamericana fez investimento numa Municipalidade mexicana. Começou 
a produzir com determinada expectativa de retorno. Num determinado momento, a Municipalidade adotou uma 
medida tornando mais rigorosas certas regras ambientais, como o manuseio de resíduos sólidos, por exemplo. 
Essa empresa gerava um grande passivo ambiental, especialmente no tocante ao manejo de resíduos sólidos. A 
lei fazia com que a empresa aumentasse seus investimentos. Seria necessário investir mais para que se tivesse um 
manejo. A questão foi levada perante o CIRDI. A decisão do Tribunal foi no sentido de que o Estado mexicano 
adotou medidas que feriram os investidores. Um Tribunal privado decidiu se sobrepondo sobre interesses 
públicos. 
O Chapter XI está reproduzido na maior parte dos acordos de investimentos celebrados. O Brasil 
precisaria assinar a Convenção de Washington e ratificá-la (Convenção que criou o CIRDI). Além disso, deveria 
criar emenda flexibilizando o número de tribunais a que está submetida a jurisdição brasileira. 
Então, o NAFTA é apenas uma categoria, não um passo na integração. Não se criou uma organização 
internacional e nada indica que se queira passar para uma união aduaneira. Essas etapas de integração não estão 
previstas. O objetivo de se apresentar o NAFTA é apresentar um contraponto ao MERCOSUL e à UNASUL, 
mostrando outra categoria que apresenta diversos pontos diferenciados. 
 
União Europeia 
 
 A construção jurídica da União Europeia não é nada cartesiana, ordenada. Há vários tratados que se 
seguem e modificam tratados anteriormente. O professor esperava que o Tratado de Lisboa conferisse ordem à 
organização, que ele fizesse uma consolidação e fosse o tratado específico. Assim, como o NAFTA, a União 
Europeia apresenta outro contraponto, outro modelo. É um exemplo único que seguiu um movimento histórico 
único. Não se enquadra, por exemplo, nos fundamentos jurídicos do sistema multilateral GATT/OMC. A 
União Europeia possui moeda única, livre circulação de pessoas (Tratado de Schengen), etc. 
 
Bibliografia: Elizabeth Accioly 
 
É importante marcar a diferença entre o direito da União Europeia e o Mercosul. Para tanto, é 
necessário verificar a evolução histórica da organização europeia, bem como os instrumentos normativos que 
mostram a supremacia de um direito sobre o outro. Há uma profusão de tratados que se seguem uns aos outros, 
introduzindo importantes mudanças. 
Um primeiro passo importante para entender a construção histórica é a Declaração Schumann (1950). 
Robert Schumann era o primeiro ministro francês. Junto com Jean Monnet, consideraram a necessidade de unir 
França e Alemanha num mercado comum, principalmente para manter a paz na região. 
18 
 
Em 1951, cria-se a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Para Jean Monnet, alteram-se as relações 
internacionais como eram tradicionalmente. Naquele momento, foi decidida a criação da primeira Comunidade 
Europeia (França, Alemanha, Benelux e Itália), fundindo uma parte das soberanias nacionais e as submetendo ao 
interesse comum. Isso merece destaque, porque já revela a intenção de se criar uma organização supranacional. 
Em 1957, é criada, mediante o Tratado de Roma, a Comunidade Econômica Europeia e também a 
EURATOM. Entre 1957 e 1986, caminhou-se para a criação de um Mercado Comum. No entanto, até 1986, 
muitos dos elementos desse mercado comum ainda faltavam. Sentiu-se a necessidade de reiterarem-se os pilares 
do Mercado Comum. Em 1986, há o Ato Único Europeu (Ata Única Europeia). Há a possibilidade de um maior 
número de assuntos serem votados pelo Conselho Europeu (órgão político), a criação do Tribunal de Primeira 
Instância da União Europeia e o aumento da importância do Parlamento Europeu. O propósito último seria 
unir os europeus, criar uma área sem fronteiras, permitir a liberdade de movimento. A Ata Única seria um 
divisor de águas na Europa, tanto para o funcionamento de suas instituições como para a direção que desejam 
dar à Europa como um todo (Jacque Delors). 
Naquela época, não havia a consolidação do mercado comum. Era necessária essa consolidação para 
uma união monetária e para uma união entre os povos. Para o professor, ainda não há uma plena consolidação 
do Mercado Comum. 
Em 1992, com o Tratado de Maastricht, cria-se a União Europeia, como uma união aduaneira 
consolidada. Prevê-se a adoção de uma moeda única, de uma área sem fronteiras e de uma cidadania europeia. 
Formaram-se três pilares: (i) pilar comunitário (Comunidade Econômica - antiga Comunidade Econômica 
Europeia -, Comunidade do Carvão e do Aço, EUROATOM); (ii) cooperação policial e judicial; (iii) política 
externa e segurança comum. 
 
Obs.: para o professor, o Mercado Comum já nasceu como uma união aduaneira já no Tratado de Roma. Já 
havia um funcionamento desse tipo desde cedo, mas ela é consolidada com o Tratado de Maastricht. 
 
Cria-se, então, a União Europeia, sem extinção das Comunidades existentes. O Tratado de Maastricht é 
uma indicação dos rumos que deveriam ser tomados, após se atingir um patamar de mercado de comum. Há 
alterações fundamentalmente no Tratado de Roma, mantendo todo o direito comunitário. 
Em 2001, há um tratadoimportante - o Tratado de Nice - com uma declaração sobre o futuro da União 
Europeia. Algumas questões surgem, como saber qual a delimitação precisa das competências entre União 
Europeia e Estados-membros (exclusivas de um ou de outro e mistas). É trazido o Estatuto da Carta dos 
Direitos Fundamentais da União Europeia. Também se prevê a simplificação dos tratados, uma exigência da 
população europeia, que desejava reduzir a complexidade trazida pela grande quantidade de tratados. Por fim, há 
um destaque do papel dos Parlamentos nacionais na arquitetura europeia. 
Temos uma entidade nova, uma organização internacional. Há um problema em saber o que cada 
Estado atribuiu a essa organização. Desde o início é claro, sendo-lhe conferidas as competências em matéria 
comunitária. A definição do que seja matéria comunitária, porém, é problemática. Houve grande atribuição de 
competências supranacionais para os órgãos da União Europeia, mas isso nunca ficou muito claro. Isso interfere 
nas empresas e até mesmo nos Estados, que cederam parte de seus poderes. Além disso, como fica a questão 
dos temas que não foram deixados para a União Europeia? 
Os países definem a criação de uma Constituição Europeia, um documento único e consolidado, ideias 
trazidas pelo Tratado de Nice. Fernand Herman, deputado europeu, defendia a criação dessa Constituição, 
prevista para 2004. Tratado seria um acordo entre Estados soberanos, que continuam soberanos. Pelo Tratado 
de Roma, os Estados-membros criariam uma comunidade independente dos Estados, capaz de criar normas 
jurídicas superiores aos Estados e aplicáveis diretamente aos cidadãos. Era necessário criar um modelo federal 
de Constituição para se criar um sistema de garantias jurídicas e políticas que protegessem as liberdades dos 
indivíduos. 
A questão se resume ao seguinte: tratado ou constituição? No fim, houve uma grande discussão e a 
submissão dessa decisão a plebiscitos nos Estados-membros. Na Holanda e na França houve a rejeição. Aprovar 
uma Constituição significaria tirar competências dos Estados. Vingou, então, a ideia da criação de um Tratado. 
19 
 
Na evolução desse processo, sempre se queixou da existência de um déficit democrático. Somente em 
1979, o Parlamento passou a ser reconhecido como um Parlamento, com membros escolhidos por meio de 
sufrágio universal. Isso caminhou lentamente até Maastricht e Nice. Somente na última década e no Tratado de 
Lisboa, o Parlamento se tornou um verdadeiro Parlamento. Na realidade, quem legislava era o Conselho de 
Ministros. A competência legislativa passa a ser compartilhada com o Parlamento e, hoje em dia, é totalmente do 
Parlamento, mediante proposta da Comissão (parecido com um sistema de proposta do Executivo para o 
Legislativo). 
Muito do processo, então, foi pensado e implementado por burocratas, o que leva a um questionamento 
sobre o respeito às diretivas. 
Com o fracasso da Constituição, tentou-se pegar seus elementos principais para um formato de tratado. 
Muitos países criticaram, afirmando que seria uma Constituição escrita de outra forma, o que não é verdade. A 
Constituição retirava muito das competências dos Estados. O Tratado de Lisboa, então, é realmente um tratado 
e regulamenta as competências comunitárias sem se chegar a uma Constituição. 
Em relação ao histórico dos países: 
- 1950-57: 6 países iniciais 
- 1973: Reino Unido, Irlanda e Dinamarca 
- 1981: Grécia 
- 1986: Portugal e Espanha 
Para um País entrar na Comunidade Econômica Europeia, ele deveria ser uma democracia. Os países, 
então, entram ao caírem as ditaduras. 
- 1995: Áustria, Finlândia e Suécia 
Formou-se a Europa dos 15 
- 2004: Eslováqua, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, República Checa, Chipre e 
Malta 
Muitos eurocépticos criticam essa “grande expansão” ocorrida em 2004, com a inclusão de países com 
diferentes níveis de desenvolvimento econômico e social. Isso teria levado a União Europeia a uma derrocada. 
- 2007: Bulgária e Romênia 
 
Direito Comunitário 
 
 Desde 1965, a Comunidade Europeia foi dotada de personalidade jurídica de direito internacional 
público, e com base nisso assina acordos de cooperação com países e organizações. Dentro das fontes de direito 
comunitário, há as de direito primário (tratados constitutivos e protocolos) e de direito secundário (atos 
obrigatórios e não obrigatórios). 
Os atos obrigatórios seriam: 
- regulamentos 
- diretivas 
- decisões 
Trata-se de um direito derivado. Embora não houvesse clareza sobre o resultado final da evolução da 
Comunidade, o fato de se ter criado uma Comunidade com poderes supranacionais sempre esteve claro. Em 
direito secundário, a grande diferença do processo de integração na Europa são justamente os regulamentos. São 
instrumentos normativos que até dezembro de 2010 eram editados pelo Conselho de Ministros. 
20 
 
Uma vez editados os Regulamentos, eles possuem aplicabilidade direta. Eles entram em vigor 
imediatamente em todos os Estados-membros da organização. É uma lei única que vale para todos 
imediatamente. Não há a necessidade de nenhum ato complementar, de nenhum tipo de ratificação. 
Abaixo, na pirâmide, temos as diretivas. São atos normativos editados pela Comissão Europeia (órgão 
Executivo). Enquanto os regulamentos têm aplicabilidade direta, com conteúdo político e técnico, as diretivas 
têm conteúdo técnico. As diretrizes, em direito internacional, não são vinculantes. É importante que todos os 
Estados assinem. Não se pode permitir que alguns Estados adotem e outros não. Estudando a evolução do 
processo, verificamos que em muitas vezes alguns Estados-membros deixaram de incorporar diretivas nos 
ordenamentos jurídicos. Quem determinou a incorporação imediata foi o Tribunal de Justiça Europeu, 
buscando consolidar o processo de integração. Por isso, as diretivas, na União Europeia, são mais que simples 
diretivas. 
Por fim, há as decisões. Elas também devem ser cumpridas. À medida que avança o processo de 
consolidação da União Europeia, o cumprimento acaba sendo uma decorrência natural. 
Nem sempre foi assim. A construção do processo é bastante complicada. O caso Costa v. ENEL (1964) 
é um leading case na construção do direito comunitário. Afirma que há a supremacia, no caso de conflito entre 
regulamento e entre uma norma de direito interno, ou mesmo entre diretiva e uma norma de direito interno, 
supremacia da norma comunitária. Isso não estava previsto, tendo sido uma construção jurisprudencial. Sem 
isso, não se construiria a integração. Foi uma afirmação jurisprudencial sobre as normas de direito interno. 
Essa superioridade do direito comunitário é o grande diferencial do processo de integração europeu. Em 
nenhum outro há o reconhecimento dessa supremacia sobre o direito interno. Há casos em que o Tribunal de 
Justiça foi solicitado para exercer sua competência num sistema de reenvio prejudicial. Os juízes nacionais 
encaminham automaticamente as demandas para o Tribunal de Justiça, porque a ele compete analisar as 
questões envolvendo direito comunitário. Houve casos, no final da década de 90, em que o Tribunal se 
pronunciou no sentido de que, diante de um conflito entre uma norma comunitário e a Constituição dos 
Estados com Constituições escritas, prevaleceria as normas de direito comunitário. Houve reações que 
culminaram em discussões sobre o ativismo judicial do Tribunal de Justiça. 
O Tratado de Lisboa, por mais que estabeleça claramente as competências, não toca nessas questões. Foi 
o problema da não-aprovação da Constituição. É a norma comunitária que prevalece sobre as normas de direito 
interno em matéria de direito comunitário. O Tratado de Maastricht confirma esse pilar, tentando dar maior 
clareza ao fato de que, em matéria de direito comunitário, há a supremacia da organização. Finalmente, no 
Tratado de Lisboa, os três pilares foram eliminados, com a tentativa de uma melhor organização das 
competências. 
Verificamos que, no Mercosul, não há órgãos

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