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Seminário - Reintegração Social

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CC RR II MM II NN OO LL OO GG II AA II II 
Prova II 
 
Seminário: Reintegração Social 
 
Ressocialização pressupõe adaptação às normas e regras da sociedade. Para uma criança, 
a direção natural do desenvolvimento se dá no seguinte sentido: integração social – a 
criança primeiro se integra no lar; depois de recebida, acolhida e amada, ela se mostra 
apta a aderir as normas da família. Com o cárcere, o que acontece é o oposto, já que 
desde o início o preso é excluído. 
 
A prisão sob uma perspectiva psicológica 
Há “benefícios” do cárcere para a sociedade: i) ocorre exclusão do indivíduo que cometeu 
crime ou que é doente mental; ii) por meio de uma cisão, o inconsciente se “purifica”, já 
que condena no outro o mal inerente a si mesmo. Essa projeção se deve ao fato de o 
superego apresentar dificuldades em superar esse lado ruim. Ex.: Caso Nardoni – não era 
justiça o que o povo queria, mas sim vingança. 
Há a formação de dois grupos: os bons e os maus. Essa cisão faz com que a sociedade se 
aliene cada vez mais de seus conflitos internos. Há, no preso, os efeitos da autocensura e 
da culpa: a prisão tem efeito punitivo. Assim, o preso projeta sua culpa na vítima, na 
sociedade ou em um terceiro, não havendo, portanto, superação/elaboração. 
A reintegração propõe que sociedade se aproxime de cárcere e este se torne mais 
próximo da sociedade. A partir desta aproximação acontece o processo de diálogo – algo 
menos vingativo. A necessidade de reintegração não se restringe ao ambiente carcerário, 
podendo se estender para qualquer grupo que viva em situação de antagonismo. Há a 
perspectiva do entendimento do outro – que é uma perspectiva pouco concretizada. No 
cárcere, ela propõe o descurtinamento dos problemas, reconhecê-los e passar a enfrentá-
lo, tentando entender a história de vida do criminoso. 
Sociedade exclui o criminoso > o preso não consegue lidar com a culpa; difícil elaboração > 
reintegração social como solução dialética (sociedade e preso devem ter papel ativo). 
*** 
Privação Emocional e Delinqüência 
 
Winnicott e John Bowlby: estudo com crianças abandonadas pelos pais. 
 
Aspectos da mente infantil 
Amor e Ódio: A criança já nasce com os sentimentos de amor e ódio. São sentimentos 
intensos, primários, fundamentais e fundidos – a criança não os distingue. Tudo é turvo, 
confuso, instável, e até paranóico. A maturação psicológica é tanto maior quanto a 
capacidade de separação desses dois 
sentimentos. O objetivo do bebê não é amar 
ou odiar; é um estado tensional, de excitação 
orgânica, sendo que para a criança não há 
muita diferenciação entre físico e psíquico; a 
criança só quer dar vazão a essas energias 
instintivas. Mas não há uma objetivação do 
que se ama ou se odeia. Os sentimentos são 
relativos a dois verbos – amar e odiar. São verbos transitivos diretos, exigindo 
complemento. Na mente infantil os verbos são intransitivos, não existindo um 
complemento. São amor e ódio fisiológicos. 
A fusão entre o amor e o ódio é ilustrada pelo verbo comer – quando se come algo é 
porque se gosta. Mas comendo se acaba com o que se gosta. Se como, acabo com o que 
gosto, se não como, não desfruto do que gosto. Dinheiro – se gastar, fico sem, se não 
gastar, ele não vai servir para nada. O verbo comer é usado pela gíria sexual. Para o 
professor essa gíria sexual é muito rica, pois expressa o que há no fundo do ser humano – 
o sexo junta a agressividade com a libido. 
Psicopata – criança que não cresceu, predomina a mente infantil, destrói a quem ele ama 
– seu sexo costuma ser altamente destrutivo. Este amor primitivo é fixado na mente 
infantil. 
 
Maturidade: definição de objetivos; maior estabilidade emocional. A instabilidade 
emocional é infantil, e também própria do delinqüente – não de forma determinista, mas 
porque sua própria vida o torna assim (sua vida é repleta de imprevisibilidade). As 
relações emocionais com a mãe são estruturantes para a criança começar a diferenciar 
seus sentimentos, para saber quando está amando ou odiando e o que ama ou odeia. A 
mãe é a administradora da vida psíquica da criança. Se houver privação emocional, um 
transtorno nestas relações emocionais fundamentais da criança com a mãe, isso poderá 
comprometer o desenvolvimento da capacidade de diferenciação dos sentimentos. 
Freud: nada existe no adulto que não tenha existido na criança, ao menos em potencial. 
Não há como criar coisas novas, apenas como desenvolver. 
 
Agressividade e Confiabilidade do Lar: A agressividade é a objetivação do ódio – é energia 
que se expande. A criança passa por uma experiência de perda, de separação com o 
mundo. O bebê de início sente que ele e o mundo são uma coisa só: narcisismo primário, 
as sensações são derivadas de si mesmo. Começa a rebeldia quando começa essa 
objetificação, já que a descoberta de que não se é fundido com o mundo é dolorosa. 
Existem três formas de lidar com a agressividade: 
i. Manifestação espontânea e sadia: orientada aos seus objetivos legítimos; a criança 
reivindica o que é seu. 
ii. Timidez: se recolher, ameaçar de chorar. Repressão. Essa agressividade não 
manifesta terá reflexos orgânicos e complicações. 
iii. Manifestação livre e descontrolada: não é legitima e sadia, pois não está voltada 
ao seu objetivo legitimo; é uma inquietação sem objetivo, a criança não sabe 
administrar a agressividade. 
A espontaneidade sadia depende da confiabilidade da mãe e, por extensão, do lar. 
Confiabilidade é a mãe que aceita, ama e compreende o filho em sua totalidade, mesmo 
enquanto agressivo. Não é aceitar a agressividade, mas o filho enquanto agressivo. É 
necessário viver e dimensionar a agressividade, sentindo efeitos e reflexos dela para 
aprender a administrá-la. Esta confiabilidade não existe fora do lar, é típica da mãe e do 
ambiente familiar. 
Conseqüências da privação emocional: vão comprometer a confiabilidade do lar, a 
capacidade de administração da agressividade, a objetivação e a diferenciação dos 
sentimentos. 
 
Capacidade de envolvimento vs. Sentimento de culpa: a capacidade de assumir a 
responsabilidade (pelos impulsos e não somente pela autoria dos atos) é o 
desenvolvimento. Capacidade de ter consciência do desdobramento de seus atos e avaliar 
o contexto de sua vida. O sentimento de culpa traz a auto-reprovação, e pode ser 
suportável ou não. É 
importante para o 
desenvolvimento da 
ética. A criança só 
consegue manifestar 
esta capacidade 
construtiva quando é 
aceita, quando há confiabilidade do lar. Se a mãe tiver problemas não resolvidos de sua 
infância, não permitirá essa individualização, o que criará um vínculo mórbido. Se a mãe 
tiver capacidade de distanciamento, distinção, de reconhecer a identidade do filho, mas 
permanecendo disponível e acessível à criança, essa vê que a mãe continua confiável. 
 
Tipos de privação emocional (deficit primordial nas relações fundamentais entre a criança 
e a mãe, o pai e o lar) 
i. Por relações insuficientes: É uma relação insuficiente do ponto de vista 
quantitativo ou/e qualitativo. Todos nós sofremos algum grau de privação 
emocional, principalmente nas sociedades de hoje, em que é muito comum as 
mães trabalharem fora. A atenção para o filho pequeno diminui muito. A solução é 
a mãe deixar sua profissão e ficar em casa? Não, o lar depende do trabalho da mãe 
e ela tem todo direito à profissão, a mãe também não pode ser privada de seus 
direitos, então, não adianta querer ser perfeito. Há a solidão psicológica, que é 
referente à privação emocional, déficit nas relações emocionais primordiais entre a 
mãe e a criança. A insuficiência é por causa do pouco tempo que a mãe dedica à 
criança ou porque não dá atenção para a criança, dando outras coisas (presentes, 
liberdade desmedida) para suprir a falta de afeto. A qualidade do momento de 
afeto, em geral, facilmente supre a falta de quantidade. 
ii. Por relações descontinuas: Interrupçãona convivência com os pais, ou por doença, 
durante um período de tempo variável, por viagens, por separação dos pais – é 
provável que acarrete conseqüências. A morte também priva. 
iii. Por relações distorcidas: algumas são evidentes, como violência física, moral, 
psicológica (com chantagens, ameaças). 
 
Há outros tipos difíceis de se reconhecer e identificar – relações contaminadas que os 
pais, sobretudo a mãe, têm com o filho. A mãe sofre com a rejeição e projeta isso no filho. 
Esta não é uma relação saudável, não tranqüiliza a criança, pelo contrário: além dos 
próprios conflitos, vai ter os conflitos da mãe. 
Há mães que transformam os seus filhos em objeto de realização pessoal – querem o filho 
perfeito e não aceitam que o filho tenha problemas: essa será uma relação exigente, 
transformando o filho em objeto de sua realização pessoal. Pais que proíbem os filhos de 
fazer algumas coisas porque não querem ter preocupações: estes são os maiores 
problemas de delinqüência, pois há repressão. Mãe que superprotege o filho quer que o 
filho continue criança no seu colo, porque pra ela o filho adulto é agressivo: o filho cresce 
problemático, porque a criança não se sente segura. 
 
Formas de solução da privação emocional 
- Elaboração psíquica: maturação psíquica, suturação da ferida com novas amizades 
construtivas, psicoterapia  superação do problema; 
 
- Reconforto por meio de objetos: tendência a criação de vínculo de dependência  
sujeito a recaídas (podem surgir os crimes passionais). A pessoa pode ter relacionamentos 
normais, mas numa relação de dependência. Se ambos foram dependentes, a relação será 
difícil, mas aparentemente resolve a privação emocional. Posteriormente, pais carentes 
jogarão sua privação emocional sobre seus filhos; 
 
- Substituição da privação por objetos: não existe emoção, são objetos - o dinheiro, a 
profissão, o estudo... a pessoa isola as emoções e se dedica às coisas para não entrar em 
contato com o mundo problemático, sendo a obsessividade uma característica. Nada 
satisfaz o compulsivo, sentirá uma solidão e continuará a perseguir o objeto fundamental. 
A pessoa é capaz de amar, mas não de viver o amor, de expressá-lo; 
 
- Luto/tristeza: a melancolia, perda das energias, a depressão; drogas, buscando solução 
aos problemas. Os caminhos perdem o sentido  depressão. Ocorre a retração do EGO, 
continua sofrendo, mas continua vivendo o problema, podendo chegar ao suicídio, uma 
forma extrema de solução; 
 
- Drogas: o indivíduo pode se utilizar de drogas para tentar para solucionar a lacuna que 
há dentro de si. Por isso as drogas viciam – elas se apresentam como soluções, ainda que 
aparentes, de certas motivações básicas da vida, que estão frustradas. No caso de drogas 
são muito freqüentes os problemas de privação. As drogas resolvem motivações 
frustradas mais ou menos intensamente a depender da privação emocional. Há três 
grupos de drogas: i) psicolépticas, ii) psicoanalépticas, iii) psicodislépticas. 
A primeira motivação para usar drogas é o desejo de tranqüilidade, de total equilíbrio. As 
drogas psicolépticas satisfazem o desejo de tranqüilidade, como a maconha e, de início, a 
bebida alcoólica (que tem o “efeito chicote” fazendo com que depois a pessoa caia em 
depressão). Há os ansiolíticos, receitados pelo médico (antidepressivos), que viciam 
porque acabam com a ansiedade. É o introversivo. 
Outra motivação é a excitação, a energia, a vitalidade, a realização, busca de estímulos, o 
agito. É o extroversivo. Usam-se drogas psicoanalépticas, como a cocaína e o crack, que 
são drogas energizantes; há as anfetaminas, usadas por caminhoneiros, que aumentam a 
energia. Estas drogas viciam porque ilusoriamente satisfazem as motivações de excitação. 
Depois de passa o efeito da droga, é preciso uma dose maior, já que o indivíduo vai 
sofrendo tolerância. 
Drogas psicodislépticas, despersonalizantes ou alucinógenas – a terceira motivação é a se 
tem de mudar, de ser outra pessoa, de ter vivências diferentes. O turismo descansa 
porque a pessoa não utiliza seus papeis diários, a pessoa se sente outra. Permite-se ser 
diferente, comportar-se de forma diferente. As drogas dislépticas permitem algo difente – 
LSD, que vai proporcionar as “viagens”. Há os opiáceos, como a heroína e a morfina. O 
crack e o ecstasy também são um pouco assim; 
 
- Delinqüência: privação emocional por relação descontínua na família, por relações 
insuficientes e distorcidas. Privação emocional é a perda do objeto que ocasiona falta de 
estabilidade e confiabilidade no ambiente, sentindo-se a criança insegura. É uma forma de 
solução da privação emocional como as drogas são. A delinqüência é uma espécie de grito 
do adolescente para a sociedade, chamando a atenção para ele. Há dois tipos de crime e 
duas motivações. É como se a delinqüência fosse i) a busca do objeto em si ou ii) a da 
estabilidade ou confiabilidade. Na busca do objeto em si, há crimes contra o patrimônio – 
furto, roubo, estelionato, tráfico. É a busca incansável do dinheiro, por exemplo. Na busca 
de estabilidade, é como se o adolescente buscasse uma norma, uma segurança, e vai fazê-
lo por crimes que chamem a atenção, que alardeiam. São os crimes contra a vida, crimes 
de lesão corporal, crimes de depredação. Nem toda a delinqüência, no entanto, tem a ver 
com a privação emocional. 
 
*** 
 
Crime e Conflito 
 
Todo crime, salvo raras exceções, é expressão de um conflito. Pode-se verificar três tipos 
de conflito: 
i. conflito pontual: tem a ver com a vítima em particular; nada tem a ver com a 
história pregressa ou com a sociedade. Ex.: homicídio, a menos que seja um 
homicida serial ou com vários conflitos internos. 
ii. conflito inter-individual: não é pontual, é histórico, conflito com a sociedade, com 
o ambiente que é atualizado na vítima. Ex.: crimes contra o patrimônio. Os 
delinqüentes estão em conflito com os trabalhadores. 
iii. conflito intra-individual: o crime é expressão do que está dentro do indivíduo, 
tendem a ter características mais mórbidas, notórias, violentas. 
O prognóstico é melhor em relação ao primeiro tipo de conflito, eles têm maiores chances 
de se “recuperar” – não são os verdadeiros “bandidos”. Depois, o inter-individual, pois 
com ele se pode dialogar melhor do que em relação ao intra-individual. Quem sofre de 
conflito inter-individual consegue discutir o âmago do seu problema; no intra-individual é 
necessário terapia. 
 
Maturação psicológica 
Todos aspiramos à maturidade; a maturação psicológica é uma caminhada de conflitos, 
que vai do Ato ao Pensamento. Os conflitos têm uma solução – a qual tem o ato 
(respostas imediatas) e os pensamentos (respostas mediadas pela simbolização). 
Freud se utiliza da seguinte alegoria: as hordas primitivas mataram o pai, porque todos se 
sentiram dominados por ele. Depois, os filhos se arrependeram do que fizeram, 
refletiram, mas não era possível voltar no tempo. Depois do arrependimento, criaram um 
culto ao pai, no qual repetiam o parricídio e confirmavam sua independência em relação 
ao pai – assim a explicação do ritual do culto ao pai, à missa – no rito, simbolicamente se 
sacrifica o pai. 
Quanto mais se desvincular do ato e partir para o pensamento, mais maduro se está. O 
antagonismo entre as duas formas de encarar o conflito é imanente. Um dos critérios para 
se aferir a maturidade psicológica é a forma como o indivíduo soluciona seus conflitos, 
quanto mais infantil é o sujeito, mais se recorre aos atos para a solução dos conflitos; 
quanto mais adulto, mais se recorrem ao pensamento, para se resolver os problemas. 
Para a criança não há substantivo brinquedo: o que há é o verbo brincar, a ação, por isso 
vai direto ao ato. 
 
O conflito fundamental 
O conflito fundamental, que segundo Freud já existe na humanidade, é a rivalidade entre 
pais e filhos – luta pelo poder. É uma luta sofrida,pois se dá entre pessoas que se amam, 
mas necessária para ambos os lados (com isso os filhos vão construindo sua autonomia e 
os pais vêem que o filho não é uma continuidade de si mesmo) e saudável. 
Este conflito é um paradigma dos grandes conflitos sociais (na interpretação de Bergeret 
sobre o complexo de Édipo – que matou o seu pai e apossou-se de seu leito, não foi para 
apossar-se). É uma forma de a psicanálise ler os conflitos sociais, na base dos quais estaria 
sempre a luta pelo poder. 
Para Freud, no cerne do conflito está a libido, é isto que esta sendo recalcado. Já para 
Bergeret o pivô do conflito é a rivalidade como tal, é o poder, a agressividade. A libido 
para ele não é núcleo do conflito, mas uma via de solução. 
 
Bergeret -> Dahrendorf: domínio -> conflito -> mudança (conflito: processo natural na 
sociedade, tal como o complexo de Édipo no indivíduo) 
 
No caso dos conflitos fundamentais e dos demais que ocorrem, simplificando, temos dois 
tipos de solução: a solução satisfatória e a insatisfatória. No entanto, nenhuma das duas é 
plenamente real, existem soluções mais ou menos satisfatórias, mas se utiliza a 
classificação simplificada para fins didáticos. 
 
Solução não satisfatória de conflito fundamental: É preciso lembrar que não há solução 
completamente satisfatória – somente opções mais ou menos satisfatórias. Se há uma 
fixação no conflito fundamental, há respostas irracionais, com ênfase no ato – ocorre 
porque o indivíduo não superou o conflito, não conquistou autonomia, continuando em 
uma relação de dependência, e, enquanto dependente, se ama e se odeia, pois ninguém 
gosta de depender (o amor maduro existe quanto mais independente da pessoa se é). O 
conflito é predominantemente intra-individual. 
Os crimes que resultam de conflito intra-individual costumam ser respostas desviadas dos 
objetivos legítimos (conflitos irrealísticos – Coser e Simmel); e o crime é válvula da escape. 
Art. 59, CP – avaliação do objetivo é diferente da avaliação dos meios. Querer ter dinheiro 
é legítimo, o meio, tomando-o de outro, não. Emprego de sadismo: seu objetivo é 
maltratar a vítima, torturá-la e encontra prazer nisso – seu objetivo é encontrar prazer no 
sofrimento do outro, isso não é legítimo. 
Os crimes de homicídio são expressão de conflito intra-individual intenso – a recuperação 
desta pessoa é diferente em relação aos crimes que se originam de conflito inter-
individual. O conflito inter-individual é realístico. 
 
Solução satisfatória do conflito fundamental: Não há fixação nos conflitos, as respostas 
são racionais. O conflito, quando existir, é inter-individual. Quando houver crime, os 
objetivos são legítimos – roubar para ter dinheiro, assaltar para ter dinheiro. O conflito é 
realístico. O crime se mostra como tradução de uma inabilidade de solucionar conflitos 
(sociais) atuais: estado de vulnerabilidade, história de marginalização e deterioração). 
Crime de estupro – objetivo é o prazer sexual. É legítimo? Ninguém tem direito de ter 
prazer sexual quando o outro não quer. Mas o objetivo do estupro é o prazer sexual ou a 
violência? Para Freud, o sexo é amalgama entre libido e agressividade – quanto mais 
predominar o primeiro, mas maduro o ato sexual, se predominar o segundo, mais cruéis 
são os atos sexuais. Não é legítimo ter prazer sexual com base no sofrimento do outro. 
O estupro supõe violência, porém, pode acontecer de a violência ser apenas instrumento 
para dominar o outro. Se a garota resolve ceder, não há mais estupro. Se a garota resolve 
ceder, mas o prazer para o sujeito está na violência, ele não vai estuprar, vai perder a 
vontade. 
 
Neutralização do Crime 
A vítima é afastada do direito penal, o crime chega ao tribunal desvestido do caráter de 
conflito. O crime é tido hoje como i) infração a uma norma penal e ii) dívida perante o 
Estado. O conflito em si continua em aberto. Como pensar, assim, uma execução penal? 
 
 
Deslocamento do foco de atenção 
Para Baratta, o crime é resposta individual para os conflitos reais. Só uma resposta 
coletiva vai resolver o problema real. Zaffaroni defende que a cadeia agrava o estado de 
vulnerabilidade e deterioração. É necessário trabalhar com o estado de vulnerabilidade. 
 
Súmula de Propostas 
i. Deve-se buscar o fortalecimento psíquico da pessoa para os conflitos inter-
individuais; 
ii. Deve-se estabelecer reaproximação gradativa entre cárcere e sociedade; 
iii. Programas de recompensa – encontro entre vítima, agressor e sociedade. O 
enfrentamento do conflito pontual vai refletir sobre o conflito histórico; 
iv. Estimular o pensamento, a reflexão e a simbolização. O preso não pode apenas se 
sentir objeto. Deve ser colocado de frente com o conflito realístico, discuti-lo. 
 
 
*** 
 
Delinqüência Caracterológica 
 
A combinação entre o caráter e o temperamento é responsável pela formação da 
personalidade do indivíduo. Diferentemente do temperamento, o caráter é dinâmico, 
evolui, sendo moldado pelo temperamento e pelas experiências individuais. A 
delinqüência por uma “falha” no caráter tem um péssimo prognóstico. 
 
Temperamento 
Dimensão heteroconstitucional da personalidade. O temperamento é herdado – agressivo 
ou passivo. Bagagem psicológica constitucional da pessoa. Há teorias que o relacionam 
com o tipo físico. Relaciona-se com o ID: potencial energético, instintos. É mais estável 
que o caráter (que evolui, sendo a adaptação da personalidade). 
 
Caráter 
Aspecto evolutivo e adaptativo da personalidade. Produto da adaptação do indivíduo ao 
meio (mesma “casa” sempre, mas que pode ser reformada). Reflete o desenvolvimento 
do ser humano, como o EGO e o SUPEREGO. A vontade e a ética estão no caráter. 
 
Estátua de gesso: o todo é a personalidade. A matéria prima é o temperamento. A forma é 
o caráter. Mas é importante lembrar que gesso e forma não se dissociam. 
 
Vontade: Capacidade de determinação, de direcionar certa conduta. É diferente de 
desejo, impulso. Capacidade de dizer sim e não. Fonte de apaziguação dos desejos. Ex.: na 
hora da aula, você gostaria de estar no Porão, mas sua vontade fez com que você ficasse 
na aula. 
 
Ética: Capacidade de internalização dos valores, das regras de disciplina que regem a 
sociedade. Depende, quanto à aprendizagem, da inteligência. Quanto à internalização, 
depende do caráter. 
 
 Defeito nas bases do caráter: pode dar lugar a uma personalidade psicopática 
(defeito constitucional do caráter). O psicopata não tem instância de controle – 
não há SUPEREGO. A ética não é internalizada (não significa nada para ele). 
 
Mecanismos de defesa 
Vêm da parte inconsciente do EGO, vez que esse reprime o sentimento de inferioridade. 
Projeção: atirar no mundo o sentimento de inferioridade. 
 
 Jung: toda guerra (e todo ódio) acontece por projeção no outro. Todos temos um 
lado sombrio. O que não passa pelo crivo do SUPEREGO vai pra sombra. 
 
O Psicopata 
Defeito no temperamento que se manifesta no caráter. A psicopatia existe em graus. O 
psicopata não necessariamente comete crimes, mas não tem consideração por ninguém 
(nem pela própria mãe). Não há sentimento de culpa. É caracterizada no Código 
Internacional de Doenças (CID-10) como um problema de personalidade (assim, o 
psicopata é semi-imputável). Não tem domínio da vida instintiva (vontade fraca). É 
imediatista na busca por soluções dos problemas e joga com as regras do jogo a favor 
dele, mentindo. Total ausência de afeto. 
 
 Rousseau: o “bom selvagem”. O homem é desvirtuado pela sociedade. 
 
AMOR DE SI  COMPAIXÃO 
 
 Melanie Klein: o pressuposto de que o psicopata não tem superego é questionável. 
Haveria razões ligadas à infância que determinariam seu comportamento (grande 
sentimento de culpa; tudo que surge parece errado). 
 
INFERIORIDADE  ACANHAMENTO SOCIAL 
 
EGOÍSMO NARCISISMO  FALTA DE EMPATIA/HOSTILIDADE 
 
Personalidades DissociaisTrata-se de um desvio ético-formativo do caráter: o caráter é bom, mas se desvia dos 
valores por experiências/vivências em grupos. Assim, a ética e a vontade ficam 
comprometidas, vez que têm sua sede no caráter. É um desvio de formação, não de 
constituição. O indivíduo com personalidade dissocial é capaz de internalizar a ética, 
porém, como o ambiente no qual vive é outro, sua ética e seus valores são diferentes 
daqueles da sociedade. 
Esse desvio se deve ao fato de os indivíduos provirem de lares carentes de afeto, valores e 
disciplina. O indivíduo é abandonado. Uma criança com lar desestruturado se torna 
fragilizada. Há maior possibilidade de se tornar dissocial por sua maior vulnerabilidade 
 
Carência de Afeto: não significa que não haja amor. O problema está na manifestação e na 
vivência desse. Pode ser cultural: famílias muito pobres não têm tempo para viver o amor; 
já famílias muito ricas acabam atribuindo a terceiros o cuidado e o tempo dos filhos 
(motoristas, babás). Pessoas com carência afetiva são fragilizadas, se sentem solitárias e 
pouco aceitas, são críticas de si mesmas, precisam de um grupo para se fortalecerem. 
 
Carência de Valores: os valores não são expressos pela família, não há exemplos de 
conduta. A família não valoriza os direitos do outro (até a falta de higiene se enquadra, 
caso não tenha sido um valor ensinado pela família). 
 
Carência de Disciplina: Se a disciplina se baseia em valores, ela tem seu fundamento. Se 
não, ela é totalitária e tirana (caso em que a disciplina não está voltada para o bem do 
outro, mas para o bem dos pais). Ex.: as críticas vindas da escola não são aceitas. 
 
O EGO providencia mecanismos de defesa ao sentimento de rejeição. Compensação: 
busca por grupos sociais com os quais o indivíduo se identifica. Ele busca ter uma função, 
um papel nesse grupo, para que 
sinta que tem uma identidade. 
Como o grupo o valoriza, ele adere 
aos valores do grupo. Pode 
apresentar excesso de 
extroversão, ditatorialismo, para 
passar a imagem de que tem 
controle de tudo. Assim, ele supera o sentimento de inferioridade. 
Os grupos, com seus valores próprios e antagônicos aos da sociedade em geral, ostentam 
condutas de hostilidade/enfrentamento/negação da sociedade. São as chamadas 
“personalidades delinqüentes”, não por uma estrutura de personalidade, mas porque 
levam uma vida delinqüente  delinqüência social (as personalidades psicopáticas, por 
sua vez, não se caracterizam por uma vida delinqüente, já que não necessariamente 
cometem crimes). 
O individuo dissocial não se encaixa no ambiente escolar; para ele, o que a escola 
transmite não tem sentido, já que ele não consegue se adaptar à disciplina. Participam de 
grupos marginalizados voltados à atividade predatória, que cometem, via de regra, crimes 
contra o patrimônio, vandalismos. O indivíduo é fiel ao grupo, orientando-se por sua 
lógica, aceitando e internalizando sua ética (o psicopata não tem isso; sua aparente 
fidelidade somente existe para que ele tire proveito da situação). 
O SUPEREGO do indivíduo dissocial é mal desenvolvido, desviado. Ele internaliza uma lei 
perversa. São imputáveis: há a capacidade de entendimento e determinação. 
Boa parte da população carcerária apresenta personalidade dissocial, sendo difícil a 
ressocialização. 
 
Solução: diálogo de co-responsabilidade para reintegração social. Proposta do GDUCC. 
 
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Exame criminológico e de Personalidade 
 
Exame Criminológico: 
Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de 
liberdade, em regime fechado, será submetido a exame 
criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma 
adequada classificação e com vistas à individualização da 
execução. 
Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser 
submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de 
liberdade em regime semi-aberto.(LEP) 
Art. 34 - O condenado será submetido, no início do cumprimento 
da pena, a exame criminológico de classificação para 
individualização da execução. (CP) 
Exame de Personalidade: 
Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados 
reveladores da personalidade, observando a ética profissional e 
tendo sempre presentes peças ou informações do processo, 
poderá: 
I - entrevistar pessoas; 
II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados, dados e 
informações a respeito do condenado; 
III - realizar outras diligências e exames necessários.(LEP) 
 
Com esses exames, visa-se a: 
 
i. Formular um programa de “tratamento” – programa individualizador de execução 
de pena. Hoje se fala em reintegração em vez de “tratamento”, visando a 
ressocializar. 
 
ii. Seguir a execução do tratamento e controlar seus resultados. 
Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus 
antecedentes e personalidade, para orientar a individualização 
da execução penal. (LEP) 
 
A classificação é feita por uma Comissão Técnica de Classificação (CTC) com um exame de 
personalidade, após um exame criminológico de entrada [nada disso é feito], que então 
elaborará o programa individualizador do tratamento, devendo acompanhar esses 
programas ao longo da execução. 
Tudo isso nada mais é do que as 3 linhas básicas de preocupação: o diagnóstico, o 
prognóstico (complicado – se tenta retirar isso da criminologia clínica) e o tratamento.

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