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1 TUTELA PROVISÓRIA 1. TRAÇOS COMUNS ENTRE TUTELAS DE EVIDÊNCIA E URGÊNCIA Um dos pontos comuns entre essas duas tutelas é a sumariedade da cognição, visto que a decisão se assenta em uma análise superficial do objeto, o que permite ao julgador decidir a partir de um juízo de probabilidade. Tendo em vista a superficialidade da análise do magistrado, a precariedade também é uma característica de ambas as tutelas, pois a tutela provisória será eficaz ao longo do processo, ressalvada a possibilidade de decisão judicial em sentido contrário (art. 296, parágrafo único, CPC), mas ela poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo (art. 296, caput, CPC). Consequentemente, por ter fundamento em cognição sumária e precária, a tutela provisória é inapta a tornar-se indiscutível pela coisa julgada. Além disso, tanto a tutela de evidência como a de urgência são solicitadas por requerimento, salvo previsão legal. Ademais, outro ponto em comum é o fato de que ambas buscam abrandar os efeitos perniciosos do tempo do processo, garantindo efetividade da jurisdição. Por fim, é válido pontuar que as tutelas provisórias (de urgência ou evidência) podem se tornar tutelas definitivas por meio de sentenças ou acórdãos. 1.1 Diferenças importantes: A tutela provisória de evidência pressupõe a demonstração de que as afirmações de fato estejam comprovadas, fazendo com que o direito fique evidente. Nesse contexto, a tutela de urgência pressupõe a demonstração de “probabilidade do direito” e do “perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo” (art. 300, CPC). Diante disso a urgência serve de fundamento à concessão da tutela provisória cautelar ou satisfativa (arts. 294 e 300, CPC), contudo, a evidência só permite a autorização da tutela provisória satisfativa (arts. 294 e 311, CPC). 2. REGRAS COMUNS ÀS TUTELAS PROVISÓRIAS 2 Em primeiro lugar, há regras sobre as custas. Assim, segundo o artigo 295 do CPC, a tutela provisória requerida em caráter incidental independe do pagamento de custas, pois será processada nos mesmos autos do pedido principal. Já quando o requerimento tem caráter antecedente ou simultâneo, as custas não são pagas duas vezes (arts. 303 e 308). Trazendo a discussão para a tutela de evidência, que é limitada ao caráter incidental, não há necessidade de pagamento de custas. Outrossim, outra regra comum às tutelas está relacionada à conservação, revogabilidade e mutabilidade. De acordo com o art. 269 do CPC, as tutelas provisórias podem, a qualquer tempo, serem revogadas ou modificadas, tendo em vista que são concedidas com base em cognição sumária, o que dá um caráter provisório e precário às tutelas provisórias. Dando continuidade, outra regra importante é a estabelecida no artigo 297 do Código de Processo Civil, na qual consagra que o juiz tem o poder de determinar todas as medidas que considerar adequadas para a efetivação da tutela provisória. Esse dispositivo decorre da evidente impossibilidade de abstrata previsão da totalidade das situações de risco para o processo (poder geral de cautela). Além disso, na decisão que concede, nega, modifica ou revoga a tutela provisória, o juiz deve justificar as razões de seu convencimento de modo claro e preciso (art.298, CPC). No que tange à regra de competência, quando a tutela provisória foi requerida em caráter incidental, o juízo competente será o da causa principal. Contudo, caso requerida em caráter antecedente, define-se o órgão competente seguindo-se as regras de competência (art. 299, CPC). Nessa vertente, quando se tratar de competência originária de tribunal, segue-se a mesma lógica. No caso dos recursos, a competência para a concessão de tutela provisória, em regra, será do relator (art. 299, parágrafo único; art. 932, II). Quando se tratar de recurso ordinário, extraordinário e especial, para que seja definida a competência para concessão de tutela cautelar, deve-se verificar a fase em que se encontra o recurso. 3. MOMENTOS DE CONCESSÃO DA TUTELA PROVISÓRIA 3.1 Liminarmente 3 A tutela provisória de urgência antecedente, segundo Fredie Didier Jr (2015), só pode ser requerida in limine litis, na petição inicial do processo em que se pretende formular, ou seja, a tutela provisória de urgência antecedente é requerida liminarmente, mas não necessariamente será decidida liminarmente, pois antes da citação e oitiva do requerido, é possível a designação de justificação prévia (art. 300, §2°, CPC). A tutela provisória incidental, por sua vez, pode ser requerida e concedida a qualquer tempo, seja desde o início do processo até seus momentos finais. Nesse diapasão, é importante citar que “rigorosamente, liminar é só o provimento que se emite inaudita altera parte, antes de qualquer manifestação do demandado e até mesmo antes de sua citação" (DIDIER, 2015, p. 578). Nesse sentido, o próprio Código de Processo Civil adota esse raciocínio, referindo-se à medida liminar como uma medida tomada anteriormente à citação (arts. 239, 300, § 2°, 302, II, e 311, parágrafo único, CPC). Desse modo, a concessão da liminar da tutela provisória só é possível quando se trata de tutela de urgência (art. 300, §2°, CPC) ou de evidência (incisos II e III do art. 311, CPC). 3.2 Na sentença A tutela provisória pode ter seus respectivos pressupostos preenchidos já no momento da prolação da sentença, havendo, portanto, cognição exauriente. Nesse caso, Fredie Didier Jr cita duas situações distintas em que o juiz poderia conceder a tutela provisória em sede de sentença: A) Se for caso de reexame necessário ou de apelação com efeito suspensivo, a concessão da tutela provisória no bojo da sentença terá por consequência retirá-la do estado de ineficácia e autorizar o cumprimento provisório. B) Sendo caso de apelação sem efeito suspensivo e não sendo caso de reexame necessário, a execução provisória já está automaticamente autorizada, tornando quase que inútil a concessão da tutela provisória. 3.3 Em grau recursal 4 A tutela provisória pode ter, também, seus pressupostos preenchidos depois da prolação da sentença. Nessa vertente, se a sentença já houver sido proferida e o processo já se encontra no tribunal, em grau de recurso, deve-se formular o requerimento de tutela provisória incidental dirigido ao próprio tribunal, para que seja apreciado pelo órgão responsável pelo julgamento do recurso (art. 299, parágrafo único, CPC). Assim sendo, tendo em vista que o juiz de primeira instância já encerrou seu ofício na fase de conhecimento, não podendo mais atuar na causa com esse propósito, a competência para apreciar o pedido de tutela provisória é do tribunal. Nesse caso, o requerimento deve ser formulado por petição simples, mediante demonstração de preenchimento dos pressupostos dos arts. 995 e 1.012, §4° e encaminhado ao tribunal ou relator, a depender de alguns critérios. 4. RECORRIBILIDADE DAS INTERLOCUTÓRIAS RELATIVAS À TUTELA PROVISÓRIA O artigo 1.015, inciso 1° do CPC, deixa claro que são agraváveis decisões relativas às tutelas provisórias, seja no tocante à sua concessão, bem como aquelas que se referem à sua efetivação. Semelhantemente, o artigo 1.013, inciso 5°, consagra que o capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é impugnável na apelação. 5. DA FUNGIBILIDADE À UNIFICAÇÃO DAS MEDIDAS Diante das dificuldades que podem surgir na diferenciação da tutela antecipada e da tutela cautelar, o legislador deixou a previsão da fungibilidade dessas tutelas de urgência requeridas em caráter antecedente, exigindo a prévia e necessária adaptação procedimental. Nesse ínterim, o artigo 305, parágrafo único do Código de Processo Civil, prevê que, uma vez requerida tutela cautelar em caráter antecedente, caso o juiz entenda que sua natureza é satisfativa, poderárecebê-la seguindo o rito correspondente. Trata-se, nesse caso, de fungibilidade progressiva, convertendo-se a medida cautelar em satisfativa, da menos agressiva para a mais agressiva. Contudo, admite-se, também, a fungibilidade regressiva, da satisfativa para a cautelar (da mais agressiva para 5 a menos agressiva). Dessa forma, é admitida uma fungibilidade de mão dupla, exigindo- se, no entanto, que se converta o procedimento inadequado para o adequado. 6. CAUTELARES NOMINADAS Em um primeiro momento, é necessário destacar que o legislador classificou as medidas cautelares em nominadas e inominadas. As cautelares nominadas, nesse contexto, são aquelas previstas pelo próprio Código de Processo Civil, em seu artigo 301, que cita o arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem. As cautelares inominadas, por sua vez, não têm previsão na Lei Processual. Sua existência se dá pela constatação da experiência forense de que há algumas situações de perigo para as partes que não podem ser antevistas pelo legislador, visto que não ocorrem com a mesma frequência das cautelares nominadas, o que dificulta sua regulamentação. 7. TUTELAS DE URGÊNCIA Mormente, é essencial destacar que a sua concessão pressupõe a demonstração da probabilidade do direito, bem como a demonstração do perigo de dano ou de ilícito, ou ainda do comprometimento da utilidade do resultado final que a demora do processo representa (art. 300, CPC). Além disso, a tutela de urgência satisfativa exige também que os efeitos da decisão antecipatória possam ser revertidos (art. 300, § 3°, CPC). No que se refere à concessão e requerimento, a tutela provisória de urgência pode ser requerida e concedida em caráter incidental ou antecedente. Nesse sentido, a incidental se processa de acordo com as regras gerais já mencionadas, contudo, a antecedente segue algumas regras específicas. 7.1 Probabilidade do direito A probabilidade do direito pode ser entendida como sendo a plausabilidade de existência desse mesmo direito. Assim, é necessário que o magistrado avalie se há elementos que evidenciem a probabilidade de ter acontecido o que foi narrado e quais as 6 chances de êxito do demandante (art. 300, CPC). Portanto, é preciso que se visualize, na narrativa, uma verdade provável sobre os fatos alegados, independentemente da produção de provas. 7.2 Perigo da demora A tutela provisória de urgência tem como critério a existência de elementos que deixem evidente o perigo que a demora no oferecimento da prestação jurisdicional representa para a efetividade da jurisdição e eficaz realização do direito. Assim sendo, o perigo da demora é definido como sendo o perigo que a demora processual representa de dano ou o risco ao resultado útil do processo (art. 300, CPC). O perigo de dano, nesse contexto, deve ser concreto, atual e grave e o dano deve ser irreparável ou de difícil reparação. 7.3 Reversibilidade da tutela provisória satisfativa O art. 300, § 3°, do Código de Processo Civil traz o seguinte texto: “a tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão”. Ou seja, é necessário que seja possível retornar ao status quo ante caso se constate, no curso do processo, que deve ser alterada ou revogada (precariedade). 7.4 Tutela de urgência satisfativa em caráter antecedente A tutela de urgência satisfativa antecedente é aquela requerida dentro do processo em que se pretende pedir a tutela definitiva, no intuito de adiantar seus efeitos, mas ocorre antes da formulação do pedido de tutela final. Diante disso, a situação de urgência, já existente no momento da propositura da ação, justifica que o autor se limite, na petição inicial, a requerer a tutela antecipada, indicar o pedido de tutela definitiva, expor a lide, indicar o valor da causa considerando o pedido de tutela definitiva que pretende formular e explicitar que pretende valer-se do benefício da formulação do requerimento da tutela antecipada em caráter antecedente. 7.5 Tutela de urgência cautelar em caráter antecedente 7 Tal tutela é aquela requerida dentro do processo em que se pretende, a posteriori, formular o pedido de tutela definitiva. Tem como objetivos centrais adiantar provisoriamente a eficácia da tutela definitiva cautelar e assegurar a futura eficácia da tutela definitiva satisfativa. Nessa vertente, é importante destacar que para que essa tutela seja concedida, há um procedimento próprio disciplinado nos arts. 305 ao 309 do CPC. Destaca-se, também, que a tutela cautelar é autônoma em relação à tutela satisfativa, pois contém mérito próprio (pedido e causa de pedir). Isso se evidência pelo fato de que o resultado do julgamento da demanda cautelar não influencia no resultado do julgamento da demanda satisfativa, isto é, o vencedor da cautelar pode sair vencido no pedido principal e vice-versa. 8. TUTELA DE EVIDÊNCIA Resumidamente, a evidência é o estado processual em que as afirmações de fato estão comprovadas. Nesse ínterim, a evidência se conjuga em dois pressupostos: prova das alegações de fato e probabilidade de acolhimento da pretensão processual, dispensando-se, assim, a demonstração de urgência ou perigo. Tem como objetivos redistribuir o ônus que advém do tempo necessário para transcurso de um processo e concessão de tutela definitiva. Art. 311. A tutela da evidência será concedida, independentemente da demonstração de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando: I - ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da parte; II - as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante; III - se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação de multa; IV - a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável. 8 Dado o exposto, percebe-se que existem duas modalidades de tutela provisória de evidência: punitiva e documental. A primeira é utilizada quando fica caracterizado o abuso de direito de defesa ou manifesto propósito protelatório da parte (art. 311, I), já a segunda é usada quando há prova documental das alegações de fato da parte (art. 311, II a IV). 9. TUTELA PROVISÓRIA CONTRA A FAZENDA PÚBLICA O artigo 1059 do Código de Processo Civil de 2015 prevê que a tutela provisória, seja satisfativa ou cautelar, contra a Fazenda Pública, será aplicável de acordo com o disposto nos arts. 1º a 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992, e no Art. 7º, § 2º, da Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009. Nesse contexto, o CPC-2015 condensou formalmente o quadro de restrições legais à tutela provisória contra a Fazenda Pública, citando as únicas leis em vigor que podem limitar esse processo. Diante disso, a tutela provisória contra a Fazenda Pública fica proibida quando tem como objeto: A) “a reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza” (art. 7º, § 2º, da Lei nº 12.016/2009); B) “medida que esgote, no todo ou em qualquer parte, o objeto da ação” (art. 1º, § 3°, da Lei nº 8.437/1992); C) “a impugnação, em primeira instância, de ato de autoridades sujeita, na via de mandado de segurança, à competência originária do tribunal – ressalvados a ação popular e a ação civil pública (art. 1 °, §§ 1°e 2°, da Lei n° 8.437/1992). 10. ESTABILIZAÇÃO DA TUTELA ANTECIPADA E “MONITORIZAÇÃO” DO PROCESSO CIVIL BRASILEIROEssa técnica ocorre quando ela é concedida em caráter antecedente e não é impugnada pelo réu, litisconsorte ou assistente simples. Ocorrendo isso, o processo será extinto e a decisão antecipatória continuará produzindo efeitos, até que seja ajuizada 9 uma ação autônoma para revisá-la, reformá-la ou invalidá-la. Nesse diapasão, segundo Fredie Didier Jr. (2015), essa técnica representa uma generalização da técnica monitória para situações de urgência e para a tutela satisfativa, na medida em que torna viável a obtenção de resultados com a inércia do réu. No Código de Processo Civil de 1973, havia o emprego da técnica monitória em sede de procedimento especial voltado para a tutela de direitos específicos. Nesse viés, o legislador generalizou a técnica, introduzindo-a no procedimento comum para todos os direitos prováveis e em perigo que tenham sido objeto de tutela satisfativa provisória antecedente. Os objetivos da estabilização são: afastar o perigo da demora com a tutela de urgência e oferecer resultados efetivos e imediatos diante da inércia do réu. Desse modo, para que isso ocorra, é preciso que o autor tenha requerido a concessão da tutela provisória satisfativa em caráter antecedente, bem como que o autor não tenha manifestado, na petição inicial, a sua intenção de dar prosseguimento ao processo após a obtenção da tutela antecipada. Além disso, é necessário que haja decisão concessiva da tutela provisória satisfativa em caráter antecedente e, por fim, é necessário que o réu permaneça inerte diante da decisão que concede tutela antecipada antecedente. 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Congresso Nacional. Código de Processo Civil, de 15 de março de 2015. Diário Oficial da União, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 1 ago. 2022. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n° 8.437, de 30 de junho de 1992. Diário Oficial da União, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8437.htm. Acesso em: 1 ago. 2022. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n° 12.016, de 06 de agosto de 2009. Diário Oficial da União, Brasília, ano 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12016.htm. Acesso em: 1 ago. 2022. DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de Direito Processual Civil. 10 ed. Juspodivm, Salvador-BA, v. 2, 2015. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios. 7ª Turma Cível. Agravo de instrumento n. 0729062-43.2021.8.07.0000. Relator: Fabrício Fontoura Bezerra. Julgamento em 02 de fevereiro de 2022. Corte ou Tribunal. Brasília (DF), 02 de fevereiro de 2022.
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