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Botanica_Economica_-_Eduardo_van_den_Berg

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO 
“LATO SENSU” (ESPECIALIZAÇÃO) A DISTÂNCIA 
BOTÂNICA 
 
 
 
 
 
 
BOTÂNICA ECONÔMICA 
 
 
 
 
 
 Eduardo van den Berg 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Universidade Federal de Lavras - UFLA 
Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - FAEPE 
Lavras-MG 
2005
 
 
PARCERIA 
 Universidade Federal de Lavras - UFLA 
 Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão - FAEPE 
REITOR 
 Antônio Nazareno Guimarães Mendes 
VICE-REITOR 
 Ricardo Pereira Reis 
DIRETOR DA EDITORA 
 Marco Antônio Rezende Alvarenga 
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO 
 Joel Augusto Muniz 
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” 
 Marcelo Silva de Oliveira 
COORDENADOR DO CURSO 
 Evaristo Mauro de Castro 
PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO DA FAEPE 
 Edson Ampélio Pozza 
EDITORAÇÃO 
 Centro de Editoração/FAEPE 
IMPRESSÃO 
 Gráfica Universitária/UFLA 
 
Ficha Catalográfica preparada pela Divisão de Processos Técnicos da 
Biblioteca Central da UFLA 
 
Van den Berg, Eduardo 
Botânica econômica / Eduardo Van den Berg. – Lavras: UFLA, 2005. 
56 p.: il. – Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” (Especialização) a Distância 
– BOTÂNICA. 
 
Bibliografia 
 
1. Botânica. 2. Domesticação. 3. Gramínea. 4. Planta. I. Universidade 
Federal de Lavras. II. Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão. III. 
Universidade Federal de Lavras. IV. Título. 
 
CDD – 581.6 
 630.28 
 
 
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou 
forma, sem a prévia autorização.
 
 
 
 
S U M Á R I O 
 
 
1 Introdução....................................................................................................................5 
 
2 Domesticação ..............................................................................................................6 
 
3 Cereais utilizados pelo homem..................................................................................13 
 
4 Plantas fornecedores de látex ...................................................................................18 
 
5 Plantas produtoras de óleos e gorduras ....................................................................20 
 
6 Plantas ceríferas........................................................................................................23 
 
7 Exsudatos do tronco, bálsamos e gomas..................................................................24 
 
8 Plantas aromáticas ....................................................................................................25 
 
9 Condimentos..............................................................................................................31 
 
10 Plantas taníferas......................................................................................................34 
 
11 Plantas têxteis .........................................................................................................36 
 
12 Plantas corticeiras ...................................................................................................39 
 
13 Plantas tintoriais ......................................................................................................40 
 
14 Espécies madeireiras ..............................................................................................42 
 
15 Matéria prima para celulose e papel........................................................................47 
 
16 Plantas ornamentais ................................................................................................48 
 
17 Plantas tóxicas ........................................................................................................49 
 
18 Bioprospecção .........................................................................................................53 
 
19 Bibliografia ...............................................................................................................58 
 
 
 
 
 
 
1 
INTRODUÇÃO 
O escopo da Botânica Econômica é extremamente amplo. Existem, disciplinas, 
áreas da ciência, cursos inteiros que abrangem apenas alguns aspectos daquilo que 
pode ser chamado de botânica econômica. Assim, longe de esgotar o assunto, esta 
obra pretende introduzi-lo. A intenção é que o leitor tenha uma idéia do universo a ser 
explorado nesta área. 
Um dos capítulos mais intrigantes desta abordagem é aquele que trata da 
domesticação, em particular, da domesticação de espécies vegetais e suas 
implicações para a nossa civilização. Mais no final do livro, uma outra faceta 
intimamente ligada com a domesticação e uso de plantas nos tempos atuais é 
tratada brevemente sob o tópico Bioprospecção. 
A maior parte da obra lida com os diferentes grupos de produtos vegetais e 
suas espécies fornecedoras adotadas pela civilização humana. Estes produtos e 
espécies são descritos de forma sucinta, procurando enfatizar aqueles mais 
importantes. No entanto, referências que tratam do assunto de forma mais extensa 
são fornecidas nos respectivos capítulos. Neste sentido, os Jardins Botânicos de Kew 
possuem uma impressionante coleção de objetos, produtos e plantas utilizadas pelos 
povos ao redor do mundo, exibidos em suas coleções de Botânica Econômica e 
apresentados sinteticamente por Griggs et al. (s/d). 
 
 
2 
DOMESTICAÇÃO 
Um organismo domesticado pode ser definido como “uma espécie reproduzida 
em cativeiro e assim modificada de seus ancestrais selvagens e de forma a se tornar 
mais útil para os seres humanos que controlam sua reprodução e (no caso de 
animais) seu suprimento de alimento” (Diamond 2002). 
A domesticação de plantas e animais foi certamente o principal evento na 
história da humanidade nos últimos 13.000 anos. Este processo alterou 
profundamente a organização e complexidade das sociedades, funcionou como um 
elemento marcante no desenvolvimento tecnológico, impulsionou mudanças 
drásticas na distribuição de etnias no globo, alterou marcantemente a composição 
genética das diversas sociedades humanas, alterou acentuadamente a forma de 
ocupação do solo, a distribuição da vegetação natural, resultando em profundas 
mudanças ambientais. 
Entender o processo de domesticação e suas conseqüências é indispensável 
para a compreensão de quem somos hoje e porque, e quem fomos no passado e o 
que nos reserva o futuro. A investigação sobre a domesticação das plantas é feita 
principalmente através de duas abordagens: estudos genéticos e escavações 
arqueológicas. Os estudos genéticos visam descobrir o(s) ancestral(is) selvagens das 
plantas domesticadas. A distribuição do(s) ancestral(is) pode indicar a região de 
origem da espécie ou variedade em questão. A investigação arqueológica visa não só 
identificar os locais de origem, mas também datar o início da domesticação. 
Obviamente, ambas as abordagens têm suas limitações. No caso de escavações 
arqueológicas, normalmente os dados são escassos e foram preservados apenas em 
condições peculiares, como áreas mais secas e/ou cavernas, resultando em um 
padrão de dados que não necessariamente representa a real abrangência da área 
original da domesticação, assim como não necessariamente indica com precisão a 
data da domesticação. Por outro lado, os dados genéticos muitas vezes falham em 
indicar precisamente o ancestral da espécie em questão ou a sua área de 
distribuição, isto porque a distribuição passada pode ser diferente da distribuição 
atual, assim como o ancestral pode estar extinto ou modificado. 
Recentemente foi publicada uma excelente revisão sobre o processo de 
Domesticação 
 
7 
domesticação de plantas e animais, intitulado “Evolução, conseqüências e futuro da 
domesticação de plantas e animais” (“Evolution,consequences and future of plant 
animal domestication”) (Diamond 2002) no qual fundamentamos a maior parte deste 
capítulo. Outros trabalhos foram consultados no processo e merecem nossa menção, 
como Heisser Jr. (1977), Smith (2001) e Bryant (2003). 
 
a. História da domesticação 
i. A decisão de domesticar 
A origem da domesticação e a razão porque em determinado momento da 
história os seres humanos adotaram este processo são questões ainda bastante 
obscuras e fonte de inúmeras especulações. 
Os registros fósseis e arqueológicos existentes atestam a ocorrência das 
primeiras domesticações com sucesso no final do Pleistoceno, cerca de 13.000 atrás. 
Se houve tentativas anteriores ou não é algo a ser desvendado. Os primeiros 
processos de domesticação parecem coincidir com o aumento da imprevisibilidade 
climática, diminuição das populações de espécies animais de grande porte (que eram 
preferidas pelas sociedades de caçadores-coletores) e aumento da ocupação 
humana de habitats disponíveis. Tais mudanças parecem estar fortemente 
relacionadas com a transição do comportamento de caça e coleta, e o nomadismo 
associado a isto, para o cultivo de plantas e criação de animais, implicando em 
agrupamentos humanos mais sedentários. 
A transição da coleta e caça para o cultivo de plantas e criação de animais 
resultou inicialmente em mais trabalho, menor estatura de adultos, condição nutritiva 
pior e maior carga de doenças para a população humana. Apesar destes problemas, 
a longo prazo, os benefícios secundários advindos do sedentarismo produziram 
sociedades mais complexas e tecnificadas resultando no domínio destas sobre 
aquelas baseadas na coleta e caça. 
 
ii. Mudanças nos organismos durante a domesticação 
A domesticação implica necessariamente em mudanças genéticas e fenotípicas 
associadas à seleção efetuada pelo homem sobre os organismos. Entre os animais, 
freqüentemente, a domesticação implica em cérebros menores e sentidos menos 
aguçados, quando comparados com os seus parentes selvagens. Outras 
características também foram favorecidas como maior docilidade, lã de melhor 
qualidade, porte maior (ex. galinhas) ou menor (ex. auroques, os ancestrais dos bois 
atuais). 
Entre os cereais, uma das características inconscientemente selecionadas foi 
sempre a não dispersão dos grãos. Embora um mutante cujas sementes não 
dispersem esteja fatalmente condenado a extinção em populações naturais, em 
populações cultivadas ou coletadas para posterior cultivo, este mutante seria 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica 
 
8 
naturalmente selecionado devido a maior facilidade de coleta das sementes. Em 
algumas situações, quando a domesticação foi feita para propósitos alternativos, uma 
espécie ancestral resultou em culturas e raças bem diferentes. Por exemplo, 
diferentes raças de cães ou os vários tipos de Brassica oleracea (mostarda, couve-
flor, couve, brócolis, etc.) (Cruciferae). 
 
iii. Razão do número pequeno de espécies domesticadas 
Um aspecto que sempre intrigou os cientistas foi o relativamente pequeno 
número de espécies domesticadas. Por exemplo, das 148 espécies de grandes 
herbívoros e onívoros (com mais de 45 kg), apenas 14 foram efetivamente 
domesticadas. Das cerca de 200.000 plantas superiores selvagens, apenas 100 
delas são efetivamente espécies domesticadas valiosas. 
Apesar de inúmeras outras especulações, a provável razão para explicar o 
pequeno número de espécies domesticadas está nas espécies em si e não nos 
povos ou nas condições ambientais locais. Isto pode ser comprovado pelas 
inúmeras, persistentes, mas falhas tentativas de se domesticar novas espécies 
animais ou o grande número de espécies de plantas, que, embora sejam coletadas e 
usadas pelo homem há muito tempo, nunca efetivamente se tornaram domésticas. A 
história mostra que, nos últimos séculos, poucas espécies foram efetivamente 
acrescentadas à relativamente pequena lista de espécies domésticas, sendo que as 
espécies que entraram na lista são relativamente pouco importantes, em termos 
econômicos. 
Alguns fatores podem inibir a domesticação em plantas, entre eles o controle 
poligênico de alguma característica indesejável. Por exemplo, as árvores produtoras 
de amêndoas foram domesticadas a muito tempo atrás na Europa, embora os 
carvalhos nunca o tenham sido para a produção de castanhas. O fato é que, embora 
as amendoeiras produzissem frutos normalmente tóxicos, esta toxidez estava ligada 
a um gene dominante simples, ou seja, naturalmente e freqüentemente sempre 
apareceram eventualmente amendoeiras com frutos não tóxicos, sendo estas 
facilmente selecionadas pelas populações humanas. No caso dos carvalhos, a 
toxidez normalmente encontrada nos frutos está ligada a um controle poligênico, 
sendo muito raras as árvores que produzem frutos com nenhuma ou baixa toxidez, 
inibindo as possibilidades de domesticação através de coleta de sementes em 
árvores na natureza. 
 
iv. Razão do pequeno número de centros de domesticação 
A domesticação de plantas e animais permitiu um enorme incremento na 
produção de alimento, permitindo um fantástico progresso em termos de aumento 
das populações, desenvolvimento tecnológico e sofisticação na estrutura política e na 
capacidade militar destas sociedades. Como resultado disto, ao longo de todo o 
Domesticação 
 
9 
globo, historicamente, as sociedades baseadas no cultivo da terra sobrepujaram, 
subjugaram e exterminaram as populações humanas de caçadores e coletores. 
Sendo assim, alguém poderia supor que em qualquer lugar do mundo, alguns dos 
coletores-caçadores eventualmente começariam a domesticar organismos e 
eventualmente se tornariam os dominadores da região, havendo assim múltiplos 
centros de domesticação no globo. 
Estranhamente, a domesticação parece ter surgido independentemente em no 
máximo nove áreas ao redor do mundo (Crescente Fértil, China, Mesoamérica, 
Andes/Amazônia, leste dos Estados Unidos, Sahel, África Oeste tropical, Etiópia e 
Nova Guiné). Curiosamente, a maioria destas áreas não corresponde aos atuais 
centros de produção de alimentos, como alguém poderia supor (Figura 1). Como 
explicar este fato? Aparentemente, os eventos de domesticação dos animais e 
plantas mais valiosas para a humanidade ocorreu onde estas plantas estavam 
disponíveis como organismos selvagens. As sociedades que foram capazes de 
realizar estas domesticações sobrepujaram as populações humanas de caçadores e 
coletores que ocorriam próximo, expandindo o seu domínio e difundindo as espécies 
domesticadas. Quando tais espécies domesticadas foram adotadas por outros povos 
que habitavam áreas com climas mais favoráveis e solos mais férteis, tais povos se 
tornaram mais poderosos que os povos que originalmente domesticaram as 
espécies, mudando as áreas onde plantas e animais eram preferencialmente 
cultivados e criados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 1. Centros de domesticação (em laranja) e produção agrícola atual (amarelo). 
Extraído de Diamond et al. (2002). 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica 
 
10 
 
 
v. Como a produção de alimentos domesticados se espalhou pelo 
mundo 
A expansão de organismos domesticados para outras partes do mundo a partir 
dos centros de domesticação pode ter ocorrido de duas maneiras. A menos provável 
ou a mais rara deve ter sido através dos povos nômades de coletores e caçadores 
que adquiriram organismos domesticados e os levaram para outras regiões. Um 
exemplo deste tipo de expansão parece ter acontecido no sudeste da África, a cerca 
de 2.000 anos atrás, quando povos coletores e caçadores se tornaram criadores de 
gado originário da Eurásia. 
No entanto, a forma mais comum de expansão parece ter ocorrido através da 
expansão das sociedades mais tecnificadas baseadas no cultivo do solo e criaçãode 
animais sobre as sociedades mais primitivas dependentes da coleta e da caça. 
A expansão das culturas e criações parece ter sido muito mais rápida no sentido 
do eixo leste-oeste do que no sentido norte-sul. Isto parece estar ligado a maior 
adaptabilidade das culturas e criações às regiões com latitudes similares, que 
possuem os mesmos comprimentos de dia e sazonalidades similares. Tais regiões 
possuem climas, habitats e doenças semelhantes e, assim, demandam menores 
mudanças evolutivas nos organismos. A expansão de culturas e criações no sentido 
norte-sul ocorreu muito mais lentamente. Estes fatos podem ser comprovados pela 
rápida expansão do trigo, citros e pêssego no eixo leste-oeste e lenta expansão das 
culturas domesticadas no México para a América do Sul (Figura 2). 
 
 
Figura 2. Expansão de espécies domesticadas no globo: rápida (setas em verde), 
lenta (setas em vermelho). Segundo Diamond et al. (2002). 
Domesticação 
 
11 
 
b. Conseqüências da domesticação 
Inúmeras e importantes foram as conseqüências da domesticação. Em termos 
das sociedades humanas, a domesticação permitiu uma maior produção de alimento 
localmente, resultando no abandono do nomadismo e fixação do homem. O 
sedentarismo assim produzido, associado a mais intensa produção de alimento e 
conseqüente possibilidade de diversificação de atividades, originou sociedades mais 
diversificadas e complexas, estratificadas socialmente, com sistemas de governo 
mais organizados e exércitos permanentes, literalmente extinguindo as sociedades 
de caçadores-coletores. 
Indiretamente, outros problemas surgiram, por exemplo, o surgimento de novas 
doenças epidêmicas, cujo aparecimento só foi possível devido aos grandes 
adensamentos populacionais. Outro fator que contribuiu para o aparecimento destas 
doenças foi o contato mais íntimo com os animais domésticos, sendo estes 
reconhecidamente a origem da maioria das doenças epidêmicas modernas. Por outro 
lado, como um produto secundário destas epidemias, as populações humanas 
sedentárias tornaram-se, por seleção, mais resistentes a estas doenças, e estas, por 
sua vez, se tornaram o principal fator de extermínio das populações indígenas que 
tiveram contato com as sociedades eurasianas em expansão. 
 
c. O futuro da domesticação 
A existência de um relativamente pequeno número de espécies domesticadas 
gera em nós a expectativa que, graças à tecnologia atual e conhecimento científico, 
um número maior de espécie poderia ser domesticado nestes tempos modernos. 
Contrariamente a isto, inúmeros esforços modernos de domesticação de plantas e 
animais têm tido poucos resultados práticos, e as espécies mais recentemente 
domesticadas (“blueberries”, macadâmia, pecans e morangos) são relativamente 
pouco importantes quando comparadas às espécies domesticadas no passado. 
Apesar disto, é possível que o conhecimento genético-ecológico-ambiental nos 
permita sucesso na domesticação de alguns organismos cujas tentativas passadas 
foram frustadas. 
Uma outra faceta da domesticação são os seus efeitos negativos sobre os 
genótipos humanos selecionados anteriormente pelas centenas de milhares de anos 
baseados na caça e coleta. Na sociedade atual, genótipos que anteriormente eram 
benéficos entre coletores-caçadores, hoje levam ao aparecimento de doenças como 
a diabetes tipo II e a hipertensão devido à conservação de sais no corpo. A baixa 
freqüência de diabetes tipo II entre europeus parece ser produto do expurgo de 
genótipos favoráveis a esta doença (através da morte prematura dos indivíduos 
portadores destes genótipos) ao longo de maior tempo de convivência com culturas 
agrícolas domesticadas. Em outras sociedades, onde a exposição a altas 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica 
 
12 
concentrações de carboidratos é relativamente recente, a incidência de diabetes tipo 
II tem crescido assustadoramente. Estima-se que entre 2000 e 2010, a incidência de 
diabetes deve aumentar no mundo em torno de 46%. 
 
 
3 
CEREAIS UTILIZADOS PELO HOMEM 
(DIAMOND, 2002; HEISER JR., 1977) 
Mais de 70% das terras cultivadas estão ocupadas pela produção de cereais, 
que respondem por mais de 50% das calorias consumidas pelo homem. Entre as 
plantas indispensáveis à civilização humana da forma que a conhecemos, destacam-
se três cereais: trigo, arroz e milho. 
Os cereais são importantes fontes de carboidratos devido ao endosperma 
amiláceo de seus grãos. Por outro lado, têm baixo teor protéico e são pobres em 
cálcio, vitamina A (exceto o milho amarelo) e vitamina C. Sendo assim, sua grande 
importância está na excelente fonte de carboidratos que representam. As grandes 
civilizações do Oriente Médio tiveram seu poder calcado na cultivo de trigo e cevada. 
Já nas Américas, o milho foi essencial à pujança dos impérios ali formados. Na Ásia 
oriental, em países como a China e o Japão, o arroz representou e ainda representa 
a base alimentar daqueles povos. 
 
a. O Trigo (Triticum spp., Graminae) 
O trigo é provavelmente uma das primeiras plantas a serem domesticadas pelo 
homem. Registros arqueológicos desta domesticação remontam a mais de 12.000 
anos atrás. Atualmente o trigo é o cereal de maior importância econômica do mundo, 
sendo utilizado principalmente para a fabricação de pão e confecção de massas. O 
alto teor de glúten do trigo dá a massa do pão uma consistência grudenta que é 
capaz de reter o gás carbônico produzido durante a fermentação permitindo, assim, o 
crescimento da massa. 
O processo de domesticação do trigo foi muito estudado e existem inúmeros 
registros das etapas que originaram os tipos de trigo atualmente existentes e 
cultivados. 
As diferentes espécies de trigo existentes pertencem ao gênero Triticum. 
Existem espécies diplóides, com 14 cromossomos, tetraplóides, com 28 
cromossomos e hexaplóides, com 42 cromossomos. Obviamente, as espécies mais 
primitivas foram as diplóides (AA), entre as quais se destaca o Triticum boeoticum 
Boiss., uma espécie nativa do Oriente Médio, e T. monococcum L., esta última ainda 
cultivada. Tais espécies apresentam grãos maiores e raques dos frutos menos 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica 
 
14 
quebradiças. T. boeoticum provavelmente se hibridizou com alguma outra espécie 
(provavelmente Aegilops speltoides Tausch) e sofreu uma duplicação de 
cromossomos resultando em uma espécie tetraplóide (AABB). 
Entre as espécies tetraplóides, T. dicoccoides (Körn.) Körn. ex Schweinf. é uma 
nativa importante. Já T. dicoccum Schrank foi antigamente utilizada na fabricação de 
massas e pão na Ásia e na região do Mediterrâneo, sendo atualmente mais usada 
para a alimentação animal. Várias espécies tetraplóides apresentam os grãos sem 
envoltório, o que, embora seja desvantajoso às plantas selvagens, são uma 
importante vantagem para o seu cultivo. T. durum Desf. é atualmente a espécie 
tetraplóide mais cultivada, sendo preferida para a fabricação de massas para 
macarrão. 
Uma das espécies tetraplóides provavelmente hibridizou com Aegilops 
squarrosa L., produzindo um híbrido triplóide, que pela duplicação dos cromossomos 
resultou em uma espécie hexaplóide (AABBDD). Entre as espécies hexaplóides 
destaca-se T. spelta L., que foi outrora muito importante na Europa. Atualmente, a 
espécie hexaplóide T. aestivum L., ou trigo comum, é a espécie de trigo mais 
importante para a humanidade, sendo utilizada para a fabricação de pães. 
Originalmente, é provável que o trigo fosse consumido, após a secagem e 
moagem, na forma de um mingau. Só posteriormente, após o aparecimento de 
poliplóides e seleção humana, foi possível a produção de pão. Paralelamente às 
mudanças genéticas, ocorreram também, durante o processo de domesticação, 
mudanças morfológicas que tornaram o trigo mais produtivo e mais adequado ao 
cultivo e colheita. Inicialmente,os talos dos grãos eram quebradiços o que favorecia 
o processo natural de dispersão. Com a domesticação deste cereal, os talos se 
tornaram mais resistentes, o que favorecia a colheita. Outras mudanças também 
aconteceram, como por exemplo, a pronta e regular germinação das sementes, as 
brácteas que envolviam os frutos se tornaram mais soltas e houve um aumento do 
tamanho dos grãos. 
As atuais variedades de trigo permitem colheita mecânica e possuem 
produtividade enormemente superior as espécies originais. Além disto, novos 
híbridos têm sido produzidos visando a obtenção de produtos com outras 
características, como por exemplo o triticale, um híbrido de trigo (Triticum) com 
centeio (Secale). 
 
b. O Arroz (Oryza spp., Gramineae) 
Embora o arroz seja cultivado em uma área mais restrita que o trigo, devido a 
sua importância na Ásia em países populosos como a Índia, China, Japão entre 
outros, este cereal provavelmente alimenta mais pessoas que o próprio trigo, sendo a 
principal fonte de carboidratos nestas regiões. 
 
Comparativamente ao trigo e ao milho, pouco se conhece sobre a domesticação 
Cereais utilizados pelo homem 
 
15 
do arroz. Sabe-se, no entanto, que isto provavelmente ocorreu antes de 5.000 anos 
A.C., como indicam evidências arqueológicas encontradas na Tailândia. Certamente 
a domesticação desta cultura ocorreu no sudeste asiático, onde continua a ter uma 
importância imensa. Da China, o arroz foi levado para o Japão dois séculos antes do 
início da era cristã. Nesta época, o arroz já era conhecido na Europa, tendo sido 
levado para esta região por mercadores árabes e por Alexandre, o Grande. Para 
muitos povos asiáticos a importância do arroz é tal que ele foi e é muitas vezes 
considerado uma planta sagrada, como atestam escritos chineses e hindus. 
O gênero Oryza possui cerca de 25 espécies. No entanto, a espécie Oryza 
sativa L. é responsável pela quase totalidade do arroz produzido no mundo. Existe 
ainda Oryza glaberrima Steud., uma espécie cultivada na África Ocidental, e O. 
perennis Moench de ampla distribuição nas regiões tropicais úmidas e um possível 
ancestral de O. sativa. É provável que esta espécie selvagem fosse colhida como o 
trigo, até tornar-se cultivada. No processo de domesticação, os grãos se tornaram 
maiores, os talos mais resistentes e o arroz perdeu as barbas comuns nas espécies 
selvagens. Ainda existem espécies selvagens, algumas delas usadas em cerimônias 
religiosas no sudeste asiático. Apesar de se conhecerem variedades tetraplóides, a 
maioria das variedades é diplóide, tendo 24 cromossomos. As inúmeras variedades 
de arroz podem ser divididas em dois grandes grupos: os tipos japonica de grãos 
curtos e gomosos quando cozidos e os tipos indica, que ficam mais secos após o 
preparo. Os tipos japonica, em geral, são mais produtivos. 
Tradicionalmente o arroz é cultivado em terrenos alagados, embora existam 
variedades que cresçam e produzam bem em terrenos secos. A própria EMBRAPA, 
no Brasil, há vários anos vem lançando variedades adequadas ao cultivo nos solos 
de cerrado. 
Em 2005, foi anunciada na Inglaterra uma nova variedade de arroz dourado 
geneticamente modificado (do grupo indica) que possui em seus grãos teores de 
betacaroteno 20 vezes mais elevados que as variedades tradicionais. O betacaroteno 
é metabolizado em vitamina A no organismo humano. Tal variedade vem de encontro 
a uma das necessidades prementes em populações humanas que tradicionalmente 
consomem arroz e são carentes desta vitamina, o que resulta em mais de 500.000 
crianças cegas todos os anos, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). 
Além do consumo direto do arroz, este tem outras aplicações, como por 
exemplo, a fabricação da bebida nacional do Japão, o saquê. Também pode ser 
utilizado para a produção de goma. As cascas podem ser utilizadas como 
combustível, na construção civil ou para a extração do furfurol, que por sua vez é 
empregado na fabricação de certos tipos de plástico. 
Uma outra atividade freqüentemente associada ao cultivo de arroz irrigado no 
sudeste asiático é a criação de peixes, principalmente de carpas, constituindo um 
complemento protéico importante em uma dieta dominada pelo arroz. 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica 
 
16 
 
c. O Milho (Zea mays L.) 
O milho foi domesticado no México a cerca de 7.000 anos atrás, se tornando o 
principal alimento dos povos daquela região e, posteriormente, de outros povos da 
América, incluindo a América do Sul. Diversas plantas, além do milho, foram 
domesticadas no México, incluindo a abóbora (Cucurbita pepo L., Cucurbitaceae) e o 
feijão (Phaseolus vulgaris L., Leguminosae). Todas estas três espécies se tornaram 
bastante importantes na cultura dos povos pré-colombianos, mas nenhuma delas 
adquiriu a proeminência do milho. 
Durante a domesticação do milho, a raque das espiguetas se tornou mais rígida 
e sem cerdas, além do mais, ocorreu a perda do processo natural de desarticulação 
e dispersão dos grãos. A um bom tempo, tem-se como certo que o milho originou-se 
das espécies ou subespécies de teosinto (gênero Zea). Embora existam teorias 
recentes que propõe a origem do milho a partir do teosinto perene (Zea diploperennis 
H.H. Iltis, Doebley & R. Guzmán) em hibridação com uma espécie de Tripsacum, a 
origem mais provável foi a partir de um único ancestral comum, provavelmente o 
teosinto anual (Zea mays ssp. parviglumis H.H. Iltis & Doebley). Vários trabalhos 
genéticos têm reforçado esta idéia e, mais recentemente, encontraram-se diversas 
populações nativas desta espécie de teosinto anual em torno da área de provável 
origem do milho. 
A partir de sua domesticação, provavelmente ocorrida na região do Rio Balsas, 
sudeste do México, o milho se espalhou para o norte do México e, lentamente, 
devido às diferenças ambientais, foi levado para a América do Sul. No processo de 
domesticação e expansão do seu cultivo, o milho se tornou extremamente variável 
quanto as suas adaptações a diferentes solos e climas, tamanho e cor das espigas e 
dos grãos, porte, etc. Quando foi levado para a Europa, o milho não foi bem aceito, 
sendo considerado mais uma curiosidade do que um alimento de qualidade. É 
ilustrativa a visão do inglês John Gerard, no final do século XVI e início do XVII: “O 
trigo turco (como o milho era chamado) nutre muito menos que o trigo, centeio, 
cevada ou aveia ... fornece ao corpo pouco ou nenhuma nutrição. Não temos até 
agora prova certa ou experiência referente às virtudes deste tipo de trigo; se bem que 
os índios bárbaros, que nada sabem, são obrigados a fazer virtude da necessidade, e 
acham-no um bom alimento: ao passo que nós podemos julgar com facilidade, que 
ele pouco nutre, é de difícil e má digestão, alimento mais conveniente para porcos 
que para o homem.” Em contraste com isto, atualmente o milho representa uma das 
mais importantes culturas no mundo, principalmente nos EUA. 
O milho é utilizado na alimentação humana, sendo que no México e outros 
países, onde a sua presença é milenar, inúmeros produtos são fabricados com este 
cereal. Talvez uma de suas maiores importâncias econômicas seja na alimentação 
animal, pudendo ser utilizado diretamente ou para a fabricação de rações, sendo um 
dos principais componentes para as rações de suínos. 
O milho atualmente cultivado comercialmente nos países produtores é bastante 
Cereais utilizados pelo homem 
 
17 
diferente das variedades ancestrais. As variedades comerciais resultam normalmente 
do cruzamento de duas ou mais variedades, sendo por isto chamadas de híbridos. 
Tais cruzamentos resultam em variedades mais produtivas graças aos benefícios do 
vigor híbrido. Se por um lado, graças a estas variedades híbridas a produção de 
milho no mundo cresceu vertiginosamente, por outro, pelo mesmo motivo da alta 
produtividade, muitas populaçõeshumanas têm abandonado as suas antigas 
variedades de milho em favor das variedades híbridas. Como resultado disto, tem 
ocorrido uma enorme perda de diversidade genética pela extinção destas variedades 
tradicionais. Tal problema precisa ser tratado com atenção, pois pode comprometer 
os próprios programas de melhoramento do milho e de criação de novos híbridos, 
mais produtivos ou mais resistentes a pragas e doenças. Mais recentemente, através 
da engenharia genética, têm surgido variedades de milho transgênicas, induzindo 
resistência a pragas ou tolerância à aplicação de herbicidas. 
 
 
4 
PLANTAS FORNECEDORAS DE 
LÁTEX (RIZZINI & MORS, 1995) 
Dentre as plantas fornecedoras de látex é destaque a seringueira (Hevea spp., 
Euphobiaceae). Várias espécies deste gênero são ou foram utilizadas para produção 
de borracha natural. A seringueira é nativa da Amazônia brasileira e, por muito 
tempo, o Brasil dominou o mercado da borracha, sendo isto a origem de grandes 
fortunas e recursos que mudaram a face de grandes cidades da região Norte, tais 
como Belém e Manaus, no século XIX. Em 1876, o inglês Henry Wickham conseguiu 
contrabandear mudas de seringueira para o Royal Botanical Garden, próximo a 
Londres, onde já havia uma estufa preparada para receber estas mudas. A partir 
disto, os ingleses levaram a seringueira para as suas colônias orientais, vindo 
desbancar a hegemonia brasileira. 
Em seu estado natural, a seringueira ocorre em densidades relativamente 
baixas. Isto torna a exploração das populações naturais pouco competitiva se 
comparada com populações plantadas. No entanto, tentativas de plantios adensados 
na Amazônia resultaram em enormes fracassos, como foi o caso da experiência da 
Fordlândia no Pará nos anos 20. A razão disto é que, em condições de umidade 
relativa elevada e alta densidade, ocorre a proliferação do fungo Microcyclus ulei, que 
ataca as folhas e literalmente destrói as plantações. Tais insucessos, aliados a 
produção em escala comercial em países do Oriente, como a Malásia (onde não 
ocorre este fungo), levaram à decadência da produção de borracha no Brasil. 
Atualmente, existem plantios de seringais em regiões de escape da doença, como 
São Paulo e Centro-Oeste brasileiro, onde o clima sazonal desfavorece a proliferação 
do fungo. 
Plantas fornecedoras de látex 
 
19 
Outras plantas podem ser ou são utilizadas para extração de látex como pode 
ser visto no quadro a seguir. 
 
Nome comum Nome científico Origem Uso 
Caucho Castilla ulei Warb. 
(Moracee) 
Pará e Mato 
Grosso 
Produção de borracha 
Mangabeira Hancornia 
speciosa B.A. 
Gomes 
(Apocynaceae) 
Brasil Borracha de 
qualidade inferior 
Balata Várias espécies de 
Sapotaceae 
Brasil Plástico de origem 
vegetal, muito 
utilizado no passado 
Chicle Várias espécies de 
Sapotaceae 
Brasil, América 
Central 
Produção de goma de 
mascar 
 
 
5 
PLANTAS PRODUTORAS DE ÓLEOS 
E GORDURAS (LORENZI ET AL., 1996; 
PEIXOTO, 1972; 1973; RIZZINI & MORS, 1995) 
Os óleos e gorduras produzidas por plantas são ésteres de glicerina e ácidos 
graxos. Quando apresentam consistência sólida são chamados de gorduras, e, 
quando líquidos, de óleos. Os principais ácidos graxos são o palmítico, esteárico e 
oléico. Os dois primeiros são “saturados” e conferem a consistência sólida aos 
lipídeos dos quais participam na composição. O ácido oléico é “insaturado” e é o 
principal componente dos óleos vegetais. 
Óleos e gorduras possuem inúmeras aplicações na indústria alimentícia, 
lubrificante, entre outras. Alguns óleos, chamados de “secativos”, são altamente 
insaturados e sujeitos à auto-oxidação em contato com o ar, endurecendo 
rapidamente. Tais óleos são muito utilizados na indústria de tintas. 
Dentre todas as famílias botânicas, Palmae assume um papel de destaque 
entre as plantas produtoras de óleos não secativos. Uma excelente obra sobre as 
espécies de palmeiras nativas e cultivadas no Brasil é o livro de Lorenzi et al. (2004). 
 
a. Dendezeiro (Elaeis guineensis L.) 
O dendezeiro é talvez a palmeira produtora de óleo mais importante no mundo. 
Provavelmente originária da África, é comum subespontaneamente na Amazônia, 
Nordeste brasileiro e em outros estados como São Paulo e Espírito Santo. É possível 
que tenha sido trazida para o Brasil pelos escravos, sendo aqui utilizada para a 
produção do óleo de dendê, tradicional na Bahia. Em outros países, em particular na 
África, esta palmeira é amplamente cultivada. O teor de óleo da polpa do fruto varia 
de 47 a 63% e o da amêndoa de 42 a 46%. O óleo de dendê é extraído da polpa do 
fruto, já a semente fornece um óleo chamado de palmiste, de múltiplas aplicações 
industriais (por exemplo, em sabonetes e margarinas). 
Plantas produtoras de óleos e gorduras 
 
21 
 
b. Coqueiro-da-bahia (Cocos nucifera L.) 
De origem discutível, o coco-da-bahia, além de diversas outras utilidades, 
possui uma polpa com 60 a 65% de óleo ou gordura. A exploração deste óleo é feita 
em todo mundo através de um produto intermediário, a copra, que é a amêndoa 
seca. Da copra, posteriormente se extrai o óleo ou gordura, utilizada na indústria 
alimentícia ou na indústria de sabões e velas. A copra ralada é utilizada em 
confeitaria e no preparo de uma emulsão conhecida por nós como “leite de coco”. 
Outras utilidades desta planta estão o uso de estipe e folhas para construções 
rústicas e do seu endosperma líquido com alto poder hidratante. 
 
c. Babaçu (Orbingya martiana B. Rodr. e O. oleifera Burret) 
O babaçu, cuja principal espécie comercial é O. martiana, predomina no meio 
norte brasileiro (Maranhão e Piauí). O óleo de babaçu alcança 60 a 70% da 
amêndoa, sendo empregado na indústria de sabões e detergentes. 
A extração da castanha é feita tradicionalmente por mulheres e crianças 
“quebradeiras de coco”. Atualmente existe um incentivo a formação de cooperativas 
extrativistas de babaçu, que inclusive têm agregado valor ao produto, produzindo 
seus próprios cosméticos e sabonetes. 
Nas regiões de sua ocorrência, freqüentemente o babaçu se torna uma 
infestante problemática de pastagens, podendo inviabilizar a atividade pecuária. Uma 
outra forma de sua utilização é a exploração de seu palmito, podendo isto se tornar 
uma forma econômica de combater esta invasora em pastagens. 
 
d. Outras espécies produtoras de óleo 
Além das espécies citadas acima, outras palmeiras brasileiras possuem 
potencial para a extração de óleos, como é caso da bacaba (Oenocarpus bacaba 
Mart.), do urucuri (Attalea excelsa Mart.), do buriti (Mauritia spp.), do tucum (Bactris 
spp. e Astrocarium spp.) e da macaúba (Acrocomia spp.). 
Outros óleos não secativos podem ser extraídos do algodoeiro (Gossypium 
spp., Malvaceae), da mamona (Ricinus communis L., Euphorbiaceae) e da soja 
(Glycine hispida Maxin., Leguminosae). O óleo do algodão, extraído de suas 
sementes, é importante na indústria alimentícia e francamente utilizado na 
alimentação animal. A mamona produz o óleo de rícino, utilizado industrialmente por 
não perder viscosidade, mesmo em altas temperaturas. O subproduto da extração 
deste óleo, a torta de mamona, pode ser utilizado na alimentação animal com 
cautela, por possuir uma proteína tóxica (ricina) e ser altamente alergênico. O óleo de 
soja é rico em gorduras insaturadas, sendo muito utilizado na culinária. 
Os óleos extraídos do amendoim (Arachis hypogaea L., Leguminosae) e do 
girassol (Helianthus annuus L., Compositae) são também utilizados na culinária, 
sendo que o óleo de girassol, devido ao alto teor de ácidos graxos insaturados, é 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica 
 
22 
preferido àqueles com maiores teores de ácidos graxos saturados. 
Outras espécies produtoras de óleos e gorduras não secativos são: andiroba 
(Carapa guianensis Aubl.),castanheira-do-pará (Bertholletia excelsa H.B.K.), abacate 
(Persea americana Mill.), milho (Zea mays L.), pequi (Caryocar brasiliense Camb.), 
tingui (Magonia pubescens St. Hill.). 
Entre as plantas produtoras de óleos secativos, cabe destacar a Euphorbiaceae 
conhecida com tungue (Aleurites fordii Hemsley), cultivada em todo o mundo para 
produção de óleo de importância enorme para a indústria de tintas e vernizes. Uma 
outra espécie importante na extração de óleos secativos é o linho (Linum 
usitatissimum L.) da família Linaceae, de cujas sementes se extraí um dos mais 
importante óleos secativos. 
Existe uma espécie nativa brasileira, a oiticica (Licania rigida Benth) da qual 
também se extrai um óleo secativo. 
 
 
6 
PLANTAS CERÍFERAS (LORENZI ET AL., 
1996; RIZZINI & MORS, 1995) 
a. Carnaúba (Copernica alba Morong e C. prunifera (Miller) H. E. Moore, 
Palmae) 
Duas espécies de Copernica (C. alba e C. prunifera) podem ser usadas para a 
extração de cera, sendo que C. prunifera (carnaúba) é certamente a mais produtiva e 
importante. Esta espécie ocorre no Nordeste brasileiro (do Maranhão a Bahia), junto 
aos rios, inclusive em áreas periodicamente inundadas. 
A cera produzida por esta planta é de ótima qualidade, embora bastante cara 
devido ao modo de extração. No passado, a utilização desta cera era mais difundida 
(polimento, impermeabilização, selador, fabricação de sabonete e batom). 
Atualmente, o aparecimento de ceras sintéticas e mais baratas substituiu, em parte, o 
uso da cera de carnaúba. Ainda assim, existe a exploração desta cera para fins 
específicos. 
A cera é extraída da superfície das folhas e cada folha de carnaúba rende de 3 
a 10g, razão do seu alto preço. Após coletadas, as folhas são secas ao sol, sobre 
grandes lençóis e depois batidas para retirar a cera. 
 
b. Outras espécies ceríferas 
Uma outra espécie de palmeira cerífera é o licuri (Syagrus coronata (Mart.) 
Becc.), que produz uma cera parecida com a da carnaúba, mas de pior qualidade. 
Esta espécie ocorre de Pernambuco a Minas Gerais. Uma cera também similar a da 
carnaúba é extraída da Maranthaceae Calathea lutea (Aubl.) Meyer. A sua cera tem 
alto ponto de fusão, embora não seja ainda explorada comercialmente. Originária do 
Baixo Amazonas, esta planta ocorre inclusive no estado do Rio de Janeiro. 
Como um subproduto da extração do açúcar, pode-se extrair cera da cana-de-
açúcar (Saccharum officinarum L., Gramineae), constituindo esta uma enorme fonte 
potencial para fornecimento de ceras vegetais. 
 
 
7 
EXSUDATOS DO TRONCO, 
BÁLSAMOS E GOMAS (RIZZINI & MORS, 
1995) 
Diversas árvores produzem exsudatos do tronco conhecidos como bálsamos 
ou, em alguns casos, como gomas. 
Entre os exsudatos cabe destacar aqueles produzidos por plantas da família 
Burseraceae, chamados de resina Elemi. Embora existam espécies na Ásia e África, 
pertencentes a esta família, que produzem esta resina, no Brasil, cabe destacar as 
espécies do gênero Protium, conhecidas por breu-branco ou almecega. Tais resinas 
(compostos terpênicos) podem ser utilizadas no preparo de tintas e vernizes ou são 
aromáticas usadas em incensos. Atualmente resinas de Protium têm sido usadas na 
indústria de perfumaria. 
Os bálsamos são derivados dos ácidos benzóicos ou cinâmicos. Entre eles, 
podemos destacar aquele extraído da Leguminosae Myroxylon spp. (óleo-bálsamo). 
Erronemente conhecido como bálsamo, o óleo-resina (exsudato com ácidos 
resinosos e compostos voláteis) extraído da Leguminosae copaíba (várias espécies 
de Copaifera) é muito usado como medicinal. Neste caso, o tronco é perfurado até o 
cerne, fluindo às vezes mais de cinco litros de óleo. Este possui propriedades 
medicinais, sendo tradicionalmente utilizado pelas populações humanas na sua 
região de ocorrência. 
As gomas são carboidratos hidrófilos utilizados na fabricação de colas e tintas 
para aquarela. Várias espécies de Leguminosae do gênero Acacia produzem 
exsudatos gomosos explorados comercialmente, entre elas cabe destacar a A. 
senegal Willd., de origem africana, e a A. decurrens Willd. de origem australiana, 
produtoras de goma arábica. 
Outras espécies produtoras de gomas são: angico (Anadenanthera spp., 
Leguminosae), pau-de-tucano (Vochysia spp., Vochysiaceae) e cajueiro (Anacardium 
occidentale L., Anacardiaceae). 
 
 
8 
PLANTAS AROMÁTICAS (LORENZI, 2000; 
LORENZI ET AL., 2003; RIZZINI & MORS, 1995; 
VIEIRA, ET AL. 2002) 
As plantas aromáticas produzem e armazenam óleos essenciais utilizados na 
indústria de perfumaria e, secundariamente, em condimentos ou mesmo produtos 
medicinais. 
Normalmente estes óleos, devido a sua delicadeza, são extraídos por processos 
especiais, normalmente vinculados ao arraste por vapor d’água. O Brasil é grande 
produtor destes óleos essenciais, sendo praticamente auto-suficiente e fornecendo 
essências para outros países. 
 
a. Árvores que fornecem cumarina 
A cumarina é uma essência muito utilizada na indústria de perfumaria, 
composição de bouquets e aromatização do tabaco. Uma das espécies mais 
utilizadas na extração da cumarina é o cumaru (Dipteryx odorata (Aubl.) Willd., 
Leguminosae). A cumarina presente principalmente em suas sementes é extraída por 
meio de álcool e posteriormente purificada. O cumaru ocorre na região Amazônica. 
Uma outra espécie de Leguminosae produtora de cumarina é a amburana 
(Amburana cearensis (Fr. All.) A.C. Smith.). Esta espécie ocorre no Nordeste 
brasileiro, predominantemente na caatinga, podendo, porém, ocorrer em outras 
regiões, até a Argentina. Embora, tradicionalmente, esta espécie seja explorada 
exclusivamente para a extração de madeira, suas sementes possuem altos teores de 
cumarina e a produção de sementes é elevada, transformando esta espécie em uma 
potencial produtora de cumarina em escala comercial. 
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26 
 
 
b. Essências obtidas de madeiras 
i. Pau-rosa 
Uma das essências mais consumidas pela indústria de perfumaria é o álcool 
terpênico linalol. Este álcool pode ser encontrado em diversas espécies ao redor do 
mundo, sendo a canforeira (Cinnamomum camphora (L.) J. Presl, Lauraceae) a mais 
famosa. Em 1925, descobriu-se no Pará uma árvore conhecida como pau-rosa 
(Aniba rosaeodora Ducke, Lauraceae) que produz um óleo aromático rico em linalol. 
A partir deste momento iniciou-se uma exploração predatória desta espécie levando 
quase a sua extinção. Como resultado disto, hoje o Brasil importa a essência 
sintetizada em laboratórios suíços. 
A extração do óleo se dá por arraste de vapor, sendo o rendimento em torno de 
1kg de óleo por 100kg de lenho. Para se ter uma idéia da intensidade de exploração, 
o Brasil chegou a produzir 300 a 400 toneladas de óleo por ano na década de 60. 
 
 
ii. Sassafrás 
O safrol é uma essência originalmente extraída da espécie norte-americana de 
Lauraceae Sassafras albidum (Nutt.) Nees. Esta essência é utilizada na indústria 
farmacêutica, perfumaria e indústria química. 
No Brasil o safrol foi encontrado na canela-sassafrás (Ocotea odorifera (Vellozo) 
Rohwer, Lauraceae), abundante no sul do país. A exploração predatória desta 
espécie levou a redução acentuada de suas populações nativas, até a proibição de 
sua exploração em 1991. 
Mais recentemente foi encontrado o safrol na Piperaceae Piper hispidinervum 
C.D.C., existente na região amazônica (no Acre principalmente). Nesta condição, 
estas piperáceas comportam-se como pioneiras, formando povoamentos quase 
puros em áreas de clareiras e prestando-se assim a exploração comercial. 
 
 iii. Candeia 
A espécie Eremanthus erythropappus (DC.) MacLeish (Compositae) é usada 
para a extração de um óleo essencial cujo princípio ativo é o alfabisabolol, muito 
utilizado na indústria de cosméticos e fármacos. Esta espécieocorre em regiões de 
campos com altitude variando de 1.000 a 1.700 m (Pérez et al. 2004), sendo comum 
nas bordas das matas de galeria que ocorrem nestas regiões, embora também possa 
ocupar áreas de interflúvios nestas regiões. 
 
 
iii. Eucalipto 
Diversas espécies do gênero Eucalyptus (Myrtaceae) produzem óleos 
essenciais. Este gênero é originário da Austrália, mas é cultivado em todo o mundo, 
inclusive no Brasil, onde existem várias espécies plantadas com sucesso. Além de 
Plantas aromáticas 
 
27 
seus óleos essenciais, a maior importância dos eucaliptos está na produção de 
celulose, carvão para siderurgia e outros fins, madeira para mourões e construções, 
inclusive podendo ser usada em indústria moveleira. 
Os óleos de eucalipto são diversificados, assumindo inclusive importância 
taxonômica. Entre os óleos extraídos de espécies de eucalipto podemos citar o 
eucaliptol ou cineol (Eucaliptus globulus Labil), usado para inalações; o felandreno 
(E. phelandra B & Sm. e outros), usado em desinfetantes e desodorantes; piperitona 
(E. dives Schauer e outros), transformado posteriormente em timol e mentol; um 
quarto grupo de óleos usado em perfumaria vem de E. marthuri Deane & Maid. 
(geraniol e acetato de garanila) e de E. citriodora Hook. (citronelal). 
 
c. Ervas produtoras de óleos essenciais 
i. Menta (Mentha spp., Lamiaceae) 
Plantas do gênero Mentha, que não são nativas do Brasil, mas cultivadas aqui 
profusamente, fornecem um óleo bruto aromático, do qual, por arrastamento de 
vapor, retira-se o mentol. Esta essência é amplamente utilizada como aromatizante 
de tabaco, alimentos, indústria farmacêutica e cosmética, etc. Atualmente o Brasil é 
um dos principais produtores, comercializando tanto o óleo bruto, como o mentol. 
 
ii. Outras plantas 
Outras plantas herbáceas podem ser utilizadas para a produção de óleos 
como segue no quadro abaixo. 
Nome comum Nome científico Origem Óleo essencial 
Alfavacão Ocimum 
gratissimum L. 
(Lamiaceae) 
- eugenol 
Gerânio Pelargonium 
odoratissimum Ait. 
(Geraniaceae) 
- geraniol 
Capim-limão Cymbopogon 
flexuosus (DC.) 
Stapf. (Gramineae) 
Ásia Citral (perfumes e 
sabonetes) 
Citronela Cymbopogon 
nardus Rendle 
(Gramineae) 
Java Geraniol e citronelal 
 
d. Óleos cítricos 
Das plantas do gênero Citrus (Rutaceae) extraem-se diversos óleos essenciais 
comercializados e valorizados no mundo inteiro. Os óleos podem ser extraídos das 
cascas, das folhas ou das flores. Os óleos das folhas (petitgrain) são empregados na 
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28 
perfumaria e saboaria fina. Os óleos das flores (neroli) são extremamente apreciados 
pela indústria de perfumaria fina. 
Tradicionalmente estes óleos eram produzidos em países europeus 
mediterrâneos, principalmente na Itália, na ilha da Sicília e sul da França. Hoje, a 
produção se estendeu a outros países e continentes. 
 
e. Outras plantas 
Inúmeras outras plantas existem no Brasil com potencial para a exploração de 
óleos essenciais. Entre as famílias com maior potencial estão Myrtaceae, Lauraceae, 
Verbenaceae e Lamiaceae, embora as essências não estejam limitadas a estas 
famílias. 
 
 
9 
INFUSÕES (ABIC 2007; MACFARLANE 2003; 
ODARDA 2007) 
Tradicionalmente, a humanidade tem usado diversas plantas em infusão em 
chás ou outras bebidas. Frequentemente, tais bebidas fazem parte de rituais sociais 
dos diversos grupos onde eles são usados. 
 
a. Café (Coffea arabica L. e C. canephora Pierre ex A. Froehner, 
Rubiaceae) 
Originário das montanhas subtropicais da Etiópia, o café se transformou em um 
dos principais produtos da agropecuária brasileira, sendo o país o maior produtor 
mundial. Duas espécies são cultivadas, sendo que C. arabica é a que produz bebidas 
de melhor qualidade e possui maior expressão na economia brasileira. Esta espécie 
é mais produzida em Minas Gerais, tradicionalmente no sul do estado e, mais 
recentemente, na região do Triângulo Mineiro. Também é cultivada no estado de São 
Paulo indo até o norte do Paraná. O café robusta (C. canephora) é mais adequado 
para climas mais quentes, produzindo bebida de pior qualidade, embora assuma 
certa importância na composição de misturas com C. arabica. O maior produtor de 
robusta no Brasil é o estado do Espírito Santo, mas este também é plantado em 
Rondônia. 
O café foi contrabandeado da Guiana Francesa para o Brasil pelo Sargento-Mor 
Francisco de Mello Palheta em 1727. Inicialmente seu cultivo teve maior sucesso no 
vale do Rio Paraíba, Rio de Janeiro. A expansão da cultura para os estados de Minas 
Gerais e São Paulo foi um dos principais causadores do desmatamento intensivo da 
Mata Atlântica. Nas últimas décadas, áreas de cerrado do Triângulo Mineiro têm sido 
abertas para a produção desta cultura. 
Mais recentemente, há uma crescente busca de melhor qualidade de bebida 
nos grãos nacionais, gerando um maior investimento em tecnologia de produção e 
processamento do grão, como um diferencial no preço da mercadoria no mercado 
externo. 
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30 
 
b. Chá (Camellia sinensis (L.) Kuntze, Theaceae) 
 
O chá é uma das infusões mais consumidas no mundo, sendo o mais 
importante no Ocidente. Diferentes tipos de chás são produzidos pela infusão de 
folhas de Camellia sinensis após diversos métodos de processamento. O 
processamento das folhas sempre envolve a oxidação das mesmas e, de acordo com 
o grau de oxidação, são produzidas as diferentes variações de chás desta planta. A 
espécie é originária das regiões subtropicais com clima de monções próximas à 
Índia, sendo este país o maior produtor mundial, seguido de perto pela China. 
O uso de chá nos países de sua origem é uma tradição milenar, com diversas 
variantes de acordo com os aspectos culturais de cada região. Uma das tradições 
mais importantes no Japão é o consumo ritualístico do chá. Alguns destes costumes 
foram adotados e modificados pelos europeus em seus países, sendo tradicional o 
consumo de chá na Grã-Bretanha. 
Mais recentemente, o chá-verde, uma variante produzida desta planta 
 
c. Erva-mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil., Aquifoliaceae) 
 
A erva-mate é uma árvore da região subtropical da América do Sul, comum no 
Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, principalmente como arvóres de sub-bosque 
das florestas de araucária. As tribos indígenas destas regiões já possuíam o hábito 
de beber infusões das folhas desta planta, sendo tal costume incorporado pelos 
povos europeus colonizadores. 
No Brasil, a erva-mate é consumida preferencialmente como chimarrão (Rio 
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná) ou como bebida fria, o tereré (Mato Grosso 
do Sul). Ela é colhida em povoamentos naturais ou, mais recentemente, em plantios. 
 
d. Outras espécies 
 
Nome comum Nome científico Origem Parte utilizada 
Hortelã Anadenanthera 
spp. 
(Leguminosae) 
Brasil Casca e lenho 
Erva-cidreira 
Capim-limão 
 
 
 
9 
CONDIMENTOS (GRIGGS ET AL., S/D; 
RIZZINI & MORS, 1995) 
Os condimentos são constituídos por partes de plantas (folhas, caules, frutos, 
etc.) dessecadas que podem ser usados na culinária emprestando aos alimentos 
sabores e aromas agradáveis. Antigamente os condimentos eram conhecidos por 
especiarias, gerando um comércio intenso entre a Europa e a Ásia durante a Idade 
Média e Renascença. Não são incluídos aqui os temperos tais como cebola, salsa, 
alho, etc. 
 
a. Pimenta-do-reino 
A pimenta-do-reino constitui-se dos frutos de Piper nigrum L. (Piperaceae) 
colhidos de vez e, então, secos. Esta planta é cultivada em grande escala na Ásia e 
África. No Brasil, foi trazida e cultivada por colonos japoneses, que atualmente 
abastecem o mercado interno. 
 
b. Pimenta-de-macaco e pimenta-de-bugreEspécies do gênero Xylopia (Annonaceae) produzem frutos utilizados como 
substitutos da pimenta-do-reino. Entre estas espécies X. aromatica (Lam.) Mart., que 
ocorre nos cerrados, é a mais utilizada. Os seus frutos são ralados e aplicados em 
carnes, sendo, no entanto, menos picantes que a pimenta-do-reino. 
 
c. Pimentas do gênero Capsicum 
Diversas espécies do gênero Capsicum (Solanaceae) produzem frutos de sabor 
ardido e amplamente utilizado na culinária de vários países e regiões, onde cabe 
destacar o México e a Bahia (Brasil). A taxonomia deste gênero é complicada e o 
número de espécies é discutível e polêmico. No Brasil popularmente conhecem-se 
quatro tipos de pimenta: pimenta-malagueta, pimenta-chifre-de-veado, pimenta-
comari e pimenta-de-cheiro. 
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32 
 
d. Noz-moscada 
Extraída da moscateira (Myristica fragrans Houtt.), da família Myristicaceae, a 
noz moscada é quase exclusivamente produzida na ilha de Granada, no Caribe. No 
Brasil, tem-se uma espécie de Lauraceae (Cryptocarya moschata Mart.), cujas 
sementes apresentam propriedades semelhantes a noz moscada verdadeira. 
 
e. Canela 
A canela é extraída de duas espécies da família Lauraceae, Cinnamomum 
zeylanicum Breyne, originária do Ceilão, e C. cassia Nees, originária China, sendo 
cultivada em toda a Ásia Tropical. 
 
f. Louro 
O louro (Laurus nobilis L., Lauraceae) tem origem mediterrânea e suas folhas 
são tradicionalmente usadas na culinária brasileira. 
 
g. Gengibre 
O rizoma desta planta (Zingiber officinale Rosc., Zingeberaceae) originária da 
Índia e Indochina é usado como condimento culinário e em bebidas alcoólicas. 
 
h. Plantas da família Lamiaceae 
A região em torno do Mediterrâneo e Oriente Médio é rica em plantas da família 
Lamiaceae. Esta família possui inúmeras espécies aromáticas, tradicionalmente 
utilizadas na culinária daqueles povos e na fabricação de chás. Posteriormente 
muitas destas plantas foram trazidas para o Brasil. Entre as espécies mais 
importantes podemos destacar: Ocimum basilicum L. (basilicão), Origanum majorana 
L. (orégano), Rosmarinus officinalis L. (alecrim), Melissa officinalis L. (erva-cidreira), 
Mentha piperita L. (hortelã). 
 
i. Baunilha 
A baunilha é extraída comercialmente da Orchidaceae Vanilla planifolia Andr., 
de origem mexicana, embora existem inúmeras outras espécies pertencentes a este 
gênero e possuidoras do mesmo aroma. 
As plantas são trepadeiras cultivadas tradicionalmente no México há séculos. 
No entanto, o maior produtor é Madagascar. Tradicionalmente a cultivo se dá em 
matas derrubadas onde se deixam algumas árvores para servirem de suporte. Para 
que ocorra a produção de frutos, a polinização é efetuada manualmente. 
Normalmente os frutos são secos em um processo complicado e vendidos a países 
como os EUA, o maior consumidor. 
 
Condimentos 
 
33 
 
j. Cravo-da-índia 
O cravo-da-índia constitui-se dos botões florais secos da espécie de Myrtaceae 
Syzygium aromaticum Merr. & Per. Tais botões são extremamente apreciados como 
condimento, graças à presença do eugenol. Uma outra aplicação deste produto é na 
Medicina e Odontologia como analgésico. Em herbários, tradicionalmente emprega-
se o cravo-da-índia como repelente de insetos pragas. 
 
 
10 
PLANTAS TANÍFERAS (RIZZINI & MORS, 
1995) 
 
Várias plantas são capazes de produzir taninos, mas apenas umas poucas são 
utilizadas comercialmente devido à concentração destes produtos. Os taninos têm a 
propriedade de embeber tecidos, couros e peles, tornando-se menos putrescíveis, 
por isso são largamente utilizados na curtição de couros. 
 
a. Acácia-negra 
De origem australiana, esta planta (Acacia decurrens Willd., Leguminosae) foi 
introduzida em diversos outros países para a produção de taninos. Entre estes 
países estão o Brasil e a África do Sul. Esta espécie é provavelmente a mais 
importante na produção de taninos. No Brasil, ela é cultivada principalmente no Rio 
Grande do Sul, ocupando áreas extensas e sendo a espécie mais importante na 
produção de taninos no país. 
 
b. Barbatimão 
Stryphnodendron adstringens (Mart.) Cov. (Leguminosae) é uma espécie 
extremamente comum em cerrados. Tradicionalmente esta espécie tem suas 
populações naturais exploradas para a extração de taninos. Ramos e árvores são 
cortados, tendo suas cascas extraídas. Após o corte ocorre a regeneração abundante 
desta espécie. 
 
c. Quebracho 
O quebracho (Schinopsis lorentzii (Griseb.) Engl., Anacardiaceae) já foi 
considerada a até a década de 40 a espécie mais importante para a extração de 
taninos. Neste caso, tais substâncias são extraídas do lenho e não da casca. O 
quebracho tem a sua ocorrência em áreas confluentes do Paraguai, Argentina e 
Brasil e, embora até hoje, este seja um produto importante de exportação do 
Paraguai e Argentina, o quebracho perdeu relevância para outras matérias primas 
mais comuns e exploráveis. 
Plantas taníferas 
 
35 
 
d. Outras espécies 
 
Nome comum Nome científico Origem Parte utilizada 
Angicos Anadenanthera 
spp. 
(Leguminosae) 
Brasil Casca e lenho 
Aroeira Schinus terebinthi- 
folius Raddi 
(Anacardiaceae) 
Rio de Janeiro, 
Minas Gerais e 
São Paulo 
Casca 
Mangue Rhizophora mangle 
L. (Rizophoraceae) 
América do Sul e 
Central 
Casca 
Eucalipto Eucalyptus spp. 
(Myrtaceae) 
Austrália Casca e lenho 
 
 
11 
PLANTAS TÊXTEIS (GRIGGS ET AL., S/D; 
LORENZI ET AL., 1996; RIZZINI & MORS, 1995) 
Uma enorme quantidade de espécies de plantas pode ser utilizada para a 
produção de tecidos, vassouras, tapetes e material de enchimento. Medina (1959), 
citado por Rizzini & Mors (1995), relacionou 2.287 espécies vegetais utilizáveis como 
têxteis. 
 
a. Espécies com fibras na semente 
i. Algodão 
As fibras do algodão são atualmente indispensáveis para a humanidade, 
produzindo tecidos termicamente confortáveis, não alergizantes e relativamente 
baratos. O gênero Gossypium (Malvaceae) é originário da América, sendo o Brasil 
um importante centro de dispersão. O algodoeiro mais cultivado e de maior 
importância comercial é o algodão herbáceo (G. hirsutum L. var. hirsutum), sendo 
amplamente cultivado no Centro-Oeste brasileiro e envolvendo uma enorme 
agroindústria, desde de seu plantio até ao enfardamento e posterior produção de fios 
e tecidos. 
No Nordeste brasileiro, se cultiva o algodoeiro arbóreo e perene conhecido 
como seridó (G. hirsutum L. var. mariae-galante). Além deste, existem várias outras 
espécies entre as quais cabe destacar G. barbadense L., cujas variedades são 
conhecidas como mocó, algodão-verdão e rim-de-boi. 
Historicamente, o algodão afetou profundamente a história da humanidade, em 
particular alguns países. A Revolução Industrial na Inglaterra começou efetivamente 
com a invenção de descaroçadores mecânicos e teares mecânicos, o que barateou 
enormemente o custo de produção de tecidos a partir do algodão. Com o aumento da 
demanda de matéria-prima por parte desta industrialização, diversos países 
investiram no plantio de algodão, entre eles o Brasil e os EUA. Nos EUA, a economia 
da região sul foi fortemente baseada na produção de algodão a partir de mão-de-
obra escrava, o que se tornou um dos pivôs da Guerra da Secessão. 
O Brasil foi um grande produtor de algodão até meados do século XX, onde o 
aparecimento do bicudo levou à decadência das lavouras. Atualmente, um novo ciclo 
Plantas têxteis 
 
37 
algodoeiro se instalou no Centro-Oeste, utilizando alta tecnologia para solucionar 
problemas fitossanitários e aumentar a produtividade. 
 
ii.Espécies produtoras de paina ou Kapok 
A samaúma (Ceiba pentandra (L.) Gaertn., Malvaceae), originária da América 
tropical, sendo inclusive comum no Brasilamazônico, é cultivada em Java, Filipinas e 
Ceilão, para a produção de paina leve e impermeável a água, útil em enchimentos 
em geral (por exemplo salva-vidas) e como isolante térmico. 
Outras espécies com paina semelhante são aquelas malváceas do gênero 
Bombax e Ceiba speciosa (A. St.-Hill.) Ravenna, a paineira. A taboa (Typha 
domingensis Pers., Typhaceae) também produz produto similar ao Kapok. 
 
b. Fibras de folhas 
Várias espécies pertencentes às monocotiledôneas possuem folhas cujas fibras 
encontram diversos empregos na confecção de tecidos e cordas. Normalmente as 
folhas destas plantas são colhidas, malhadas em cepo e lavadas abundantemente 
em água. Após a secagem, são “penteadas” em máquinas especiais. 
Duas espécies de Agavaceae do gênero Agave são especialmente importantes 
para isto, A. furcroides Lem., mais explorado no México e A. sisalana Perr., mais 
cultivado no Brasil. As plantas deste grupo estão adaptadas a climas mais secos, se 
dando bem no Nordeste brasileiro. Após alguns anos, estas plantas emitem um 
enorme pendão floral que, ao invés de produzir flores, originam uma quantidade 
enorme de bulbilhos, sendo estes utilizadas no plantio. 
O Brasil é o segundo produtor mundial de sisal, sendo o produto empregado na 
confecção de cordas, barbantes, chapéus, redes, etc. Além disto, partes da planta 
podem ser empregadas para a alimentação animal ou na produção de pasta 
celulósica. No México, o eixo da inflorescência é empregado na produção da tequila. 
Outras plantas produzem fibras de folhas úteis, entre elas cabe destacar o 
abacá (Musa textilis Neé, Musaceae), chamada também de banana têxtil, que é um 
dos produtos agrícolas mais importantes nas Filipinas. Tem-se ainda o caroá 
(Neoglaziovia variegata (Arr. Cam.) Mez., Bromeliaceae) e espécies de Sensevieria 
(Liliaceae). 
 
c. Fibras de entrecasca 
Várias plantas produzem fibras encontradas no caule entre a casca e o 
periciclo, às vezes incluindo este último. 
O linho (Linum usitatissimum L., Linaceae), além da extração de óleo, é 
cultivado para produção de fibras utilizadas em tecidos. Outra espécie, usada da 
mesma forma é o cânhamo (Cannabis sativa subsp. sativa L., Cannabinaceae), que 
não possui o princípio ativo da maconha (Cannabis sativa subsp. indica (Lam.) Small 
& Crong.). 
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38 
A juta é extraída de duas espécies de Corchorus (Malvaceae), C. olitorius L. e 
C. capsularis L., ambas originárias da Ásia e cultivadas principalmente na Índia, em 
terrenos alagadiços. A fibra é extraída colhendo-se a planta debaixo da água e 
pondo-a a secar. Após a secagem é colocada novamente na água para que ocorra 
putrefação, sendo então removido os detritos, tornando-se as fibras facilmente 
destacáveis. Lava-se novamente e processa-se a secagem. A juta é utilizada para 
confecção de sacarias para cereiais, café, etc. Atualmente, a juta tem sido produzida 
no Brasil na região do baixo Amazonas. 
O Ramie ou rami (Boehmeria nivea (L.) Gaud., Urticaceae) é originário da Ásia, 
mas ocorrendo de forma sub-espontânea no Brasil. No exterior, é principalmente 
cultivado na Japão, China e Índia. No Brasil, vem sendo cultivado desde a década de 
50, principalmente por imigrantes japoneses. As suas fibras são extremamente 
resistentes e são separadas quimicamente, sendo utilizadas para fabricação de 
roupas de baixo, estofamento, barbante e papel. 
Outras espécies podem ser utilizadas neste sentido, como é o caso de algumas 
malváceas tais como guaxima (Urena lobata L.), malvas (Sida rhombifolia L., entre 
outras espécies do gênero Sida) e mamorana (Pachira aquatica Aubl.). 
 
d. Fibras de palmeiras 
As palmeiras (Palmae) são importantes fornecedoras de fibras. Entre elas cabe 
destacar as piaçavas, extraídas das bainhas das plantas, principalmente das 
espécies Attalea funifera Mart. (na Bahia), Leopoldinia piassaba Wall. (na Amazônia). 
Outras palmeiras podem ser úteis para isto, principalmente aquelas do gênero 
Oenocarpus. 
Outras fibras são extraídas do coco-da-bahia (Cocos nucifera L.), do mesocarpo 
do fruto, das folhas do tucum (Astrocaryum tucumã Mart.), da carnaúba (Copernica 
cerifera (Arr. Cam.) Mart.) e do buriti (Mauritia spp.). 
 
 
12 
PLANTAS CORTICEIRAS (RIZZINI 
& MORS, 1995) 
A origem da cortiça é o súber de algumas plantas, que o produzem em grande 
quantidade. A maioria das árvores produz súber, mas em pequena quantidade. 
Espécies que produzem súber em quantidade suficiente para a exploração comercial 
são poucas. 
A cortiça é formada por células mortas e cheias de ar e caracteriza-se por sua 
leveza, flutuabilidade, impermeabilidade e elasticidade. 
A espécie que é comercialmente mais explorada e que supera em muito as 
outras espécies alternativas, tanto em quantidade de cortiça como em termos de 
expressão comercial, é o carvalho corticeiro (Quercus suber L., Fagaceae). Esta 
espécie é amplamente cultivada em países como Portugal, Espanha, Argélia, 
Tunísia, França, Marrocos e mesmo na Ásia. A cortiça produzida por este carvalho 
representa a quase totalidade da cortiça produzida no mundo. 
A planta entra em produção a partir dos 20 anos de idade, sendo a cortiça 
retirada de 9 em 9 anos. A planta pode alcançar 500 anos de idade. A cortiça é 
retirada e fervida para liberação de taninos e restos de seiva, podendo ser utilizada 
para isolamento térmico, rolhas, linóleo, sapatos, salva-vidas, etc. 
Algumas plantas no Brasil, principalmente na região do cerrado, produzem 
cortiça o suficiente para justificar a sua exploração comercial. Entre elas pode-se 
destacar: pau-santo (Kielmeyera coriacea Mart., Clusiaceae), que é a espécie mais 
importante no Brasil; pau-marfim (Agonandra brasiliensis Miers., Opilaceae); pau-
lepra (Pisonia tomentosa Casar, Nyctaginaceae); favela-branca (Enterolobium 
ellipticum Benth, Leguminosae); pereiro-do-campo (Aspidosperma dasycarpum Mart., 
Apocynaceae); Connarus suberosus Planch; mulungu (Erythrina mulungu Mart., 
Leguminosae) e Symplocos lanceolata (Mart.) A. DC. Estas duas últimas espécies, 
devido à espessura da cortiça são potenciais candidatas ao cultivo comercial. 
 
 
13 
PLANTAS TINTORIAIS (GRIGGS, S/D; 
RIZZINI & MORS, 1995) 
Atualmente, com a evolução da indústria química e conseqüente crescimento da 
produção e diversificação dos corantes sintéticos, os corantes de origem vegetal 
perderam enormemente a importância que possuíam no passado, embora alguns 
ainda estejam presentes no mercado. 
 
a. Henê 
Desde o início da cosmética, o henê, extraído da Lythraceae Lawsonia inermis 
L., alcançou e ainda alcança uma posição de proeminência. Originário do Oriente 
Próximo, ainda hoje é utilizado em tinturas de cabelos. 
O cultivo desta espécie é mais expressivo na África e Ásia Austral, podendo ser 
cultivado no Brasil também. 
 
b. Urucum 
O urucum (Bixa orellana L., Bixaceae) é uma espécie neotropical que possui 
sementes revestidas de arilo vermelho-cinabarina, rico em bixina, um pigmento 
insípido e inócuo utilizado para colorir alimentos. Freqüentemente, este produto é 
vendido como colorau. O pigmento foi no passado utilizado pelos índios para pinturas 
no corpo, sendo utilizado, como veículo, óleos animais ou vegetais, já que ele é 
lipossolúvel. Uma de suas propriedades interessantes é sua ação como filtro solar 
em relação aos raios ultravioletas. 
 
c. Pau-campeche 
Haematoxylon campechianum L. (Leguminosae) é uma espécie nativa da 
América Central que produz um pigmento de cor negra extremamente duradouro, a 
hemateína, por isto sua importância. Além disto, desta espécie se extrai a 
hematoxilina, utilizada em laboratórios de histologia como corante. 
 
 
 
Plantas tintoriais 
 
41 
 
d. Pau-brasil 
Intimamente ligado a história de nosso país, o pau-brasil (Caesalpinia echinataLam., Leguminosae), além de emprestar o nome a nação, forneceu durante um longo 
tempo um pigmento vermelho, a brasileína, de grande importância no comércio dos 
séculos XVI e XVII. A exploração desta espécie foi tão intensa, que até hoje é rara na 
Mata Atlântica. 
 
e. Outras espécies 
 
Nome comum Nome científico Origem Pigmento 
Tatajuba Maclura tinctoria 
(L.) D. Don ex 
Steud. (Moraceae) 
América Central e 
do Sul 
Amarelo a pardo 
Jenipapo Genipa americana 
L. (Rubiaceae) 
América Central e 
do Sul 
Preto (dos frutos 
verdes) 
Simplocos Symplocos spp. 
(Symplocaceae) 
Cosmopolita Vermelho (das raízes 
e folhas) 
Carajuru Arrabidaea chica 
(HBK) Bur. 
(Bignoniaceae) 
Amazônia Vermelho 
Cuieté Crescentia cujete 
L. (Bignoniaceae) 
Amazônia Preto ou marron 
Liquens Várias Várias Várias 
 
 
14 
ESPÉCIES MADEIREIRAS (CARVALHO, 
2003; LORENZI, 1992; 1998; LORENZI ET AL., 
2003; RIZZINI & MORS, 1995) 
 
A caracterização ou mesmo a simples listagem das espécies madeireiras 
utilizadas e potenciais certamente foge do escopo deste texto acadêmico, isto porque 
a diversidade de espécies é enorme. Além disto, de acordo com a demanda dos 
mercados e disponibilidade das espécies, há uma constante mudança na lista e na 
importância comercial das espécies, tornando a sua atualização impraticável. Obras 
excelentes sobre este assunto são os livros de Lorenzi (1992, 1998, 2003), além de 
Carvalho (2003). 
A exploração madeireira no Brasil, excetuando-se espécies de Eucalyptus e 
Pinus e umas poucas outras espécies, é feita basicamente a partir da retirada de 
toras de florestas nativas. Tal atividade foi desenvolvida abundantemente na Mata 
Atlântica e, atualmente, responde por uma enorme parcela da ocupação de mão-de-
obra, abertura de estradas e circulação de capital na região do Brasil ocupada pela 
Floresta Amazônica. 
Apesar da pressão internacional e das exigências legais, apenas uma pequena 
porcentagem destas toras provem de áreas sob planos de manejo sustentável. Além 
disso, muitos destes planos são questionáveis quanto a sua sustentabilidade, seja 
devido à carência ou deficiência no acompanhamento técnico, desconhecimento 
científico da dinâmica das florestas ou ausência de fiscalização. Por outro lado, a 
Amazônia possui claramente uma vocação florestal e a manutenção de sua 
cobertura atual de vegetação não só é importante para a conservação da enorme 
diversidade biológica existente ali, como também é importante para regulamentação 
climática do globo. Assim, torna-se essencial o desenvolvimento e aplicação de 
tecnologias que permitam a exploração sustentável dos recursos madeireiros na 
Amazônia, sem comprometer as populações das espécies comerciais ou não. 
Historicamente, a exploração de recursos madeireiros no Brasil, e mais 
atualmente na Amazônia, se dá através de ciclos predatórios focados em espécies 
importantes para o mercado em uma determinada época. Isto aconteceu com o 
jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra (Vell.) Fr. All., Leguminosae), na Mata Atlântica 
Espécies madeireiras 
 
43 
e, mais atualmente, com o pau-marfim (Balfourodendron riedelianum Engl., 
Rutaceae) e o mogno (Swietenia macrophylla King., Meliaceae), este último na 
Amazônia. 
As madeiras, devido à relativa leveza, resistência e facilidade para produção de 
peças com diferentes formas, sempre foram utilizadas pelo homem na produção de 
instrumentos de trabalho, móveis, construções, embarcações, veículos, etc. Devido a 
sua enorme e variada utilidade, a exploração de madeiras vem ocorrendo a milhares 
de anos. Não são raros os exemplos onde tal exploração, normalmente associada à 
ocupação agropecuária, transformou paisagens enormes, reduzindo as áreas de 
florestas nativas e transformando as áreas remanescentes em pequenos fragmentos. 
Isto ocorreu na Mata Atlântica, nas florestas de araucárias do Sul do País e está 
ocorrendo na Amazônia. 
Devido ao crescente escassez de madeiras nativas e crescente demanda do 
mercado por recursos madeireiros, tem sido formadas no Brasil florestas plantadas 
de pinos (Pinus spp., Pinaceae), eucalipto (Eucalyptus spp., Myrtaceae) e outras 
espécies, como por exemplo, mais recentemente, a teca (Tectona grandis L. f., 
Lamiaceae). 
Abaixo segue a lista de algumas espécies madeireiras brasileiras de maior 
importância. 
 
Nome comum Nome científico Origem Utilidade 
Andiroba Carapa guianensis 
Aubl. (Meliaceae) 
Antilhas ao Brasil 
(Amazônia) 
Mobílias, carpintaria, 
embarcações 
Angelim-pedra Hymenolobium 
excelsum Ducke. 
(Leguminosae) 
Pará e Amazonas Mobília, carpintaria, 
marcenaria, 
construção civil e 
construção naval 
Angico-vermelho Anadenanthera 
spp. 
(Leguminosae) 
Do Maranhão à 
Argentina 
Construções rurais, 
lenha e carvão 
Aroeira-do-sertão Myracrodruon 
urundeuva Allemão 
(Anacardiaceae) 
Do Ceará à 
Argentina 
Obras externas, 
mourões 
 
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44 
 
Nome comum Nome científico Origem Utilidade 
Braúna Schinopsis 
brasiliensis Engl. 
(Anacardiaceae) 
Caatinga bahiana Dormentes e obras 
externas 
Candeia Eremanthus 
erythropappus 
(DC.) MacLeish 
(Compositae) 
Bahia a São Paulo 
em terrenos 
elevados 
Mourões, óleo 
essencial 
Canelas Lauraceae 
(Ocotea, 
Nectandra). Entre 
elas, a imbuia (O. 
porosa (Ness. & 
Mart.) Barroso) 
Variável, Imbuia no 
Paraná e Santa 
Catarina 
Óleos, obras 
internas, mobília 
Cedro Cedrela fissilis 
Vell., C. odorata L., 
C. angustifolia S. & 
Hoc. (Meliaceae) 
C. fissilis: Minas 
Gerais ao Rio 
Grande do Sul 
C. odorata: México 
ao Nordeste 
brasileiro 
C. angustifolia: 
floresta atlântica 
montana até 
Argentina 
Carpintaria, 
marcenaria, mobília, 
construção naval e 
aeronáutica, 
instrumentos 
musicais, etc. 
Cerejeira Amburana 
cearensis 
(Allemão) A. C. 
Sm. (Leguminosae) 
Vale do Rio Doce 
(MG e ES) e 
caatinga nordestina 
Mobília, lambris, 
balcões, tonéis, 
folheados 
 
Espécies madeireiras 
 
45 
 
Nome comum Nome científico Origem Utilidade 
Garapa Apuleia leiocarpa 
(Vog.) Macbr. 
(Leguminosae) 
Do Nordeste 
brasileiro à 
Argentina 
Construção, 
marcenaria, interiores, 
tacos, dormentes, etc. 
Guatambu Aspidosperma spp. 
(Apocynaceae) 
Várias partes do 
Brasil 
Carpintaria, 
xilogravura, tacos, 
sapatos, etc. 
Ipê Tabebuia spp. 
(Bignoniaceae) 
Da Amazônia à 
Argentina 
Estruturas externas, 
tacos, construção 
pesada, tacos e 
bengalas, cangas, etc. 
Jacarandá-da-
bahia 
Dalbergia nigra 
(Vell.) Fr. All. 
(Leguminosae) 
Sul da Bahia até 
São Paulo (quase 
desapareceu) 
Folheados, mobília de 
luxo, objetos 
decorativos, cabos de 
talheres, instrumentos 
musicais, etc. 
Jatobá Hymenaea spp. 
(Leguminosae) 
Sul do México a 
região Sudeste e 
Centro-Oeste 
Construção pesada, 
obras hidráulicas, 
postes, carroçaria, 
etc. 
Jequitibá-rosa Cariniana legalis 
(Mart.) Kuntze 
(Lecythidaceae) 
Sul da Bahia ao 
Rio Grande do Sul, 
inclusive no 
Centro-oeste e 
Acre 
Tabuado, carpintaria, 
compensados, 
sapatos, etc. 
Óleo-bálsamo Myroxylon 
balsamum (L.) 
Harms 
(Leguminosae) 
Sul do México ao 
Norte da Argentina 
Construção civil e 
naval, pontes e 
estruturas externas, 
carroçaria, etc. 
Paraju Manilkara longifolia 
(DC.) Dub. 
(Sapotaceae) 
Sul da Bahia ao 
Norte do Espírito 
Santo 
Madeiramento para 
telhados e vigas 
 
EDITORA – UFLA/FAEPE - Botânica Econômica 
 
46 
 
Nome comum Nome científico Origem Utilidade 
Pau-de-balsa Ochroma 
pyramidale (Cav.) 
Urb. (Malvaceae) 
Sul do México ao 
Peru, Bolíva e 
Amazônia 
Madeira muito leve, 
jangadas e balsas 
para navegação 
fluvial, brinquedos

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