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Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos SEDIMENTOS E PARTÍCULAS COLOIDAIS 1 Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos CARACTERIZAÇÃO E IMPORTÂNCIA DE SEDIMENTOS • Depósitos de detritos biológicos e químicos constituídos por grânulos finos, médios e grossos. • Importantes fontes de materiais inorgânicos e orgânicos em águas naturais, estuários e oceanos. 2 Composição: minerais (argila, silte, areia) ou materiais contendo matéria orgânica como constituinte principal. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Solos Versus Sedimentos Solos: sistemas aeróbios, pois estão em contato com o ar. Em geral, contêm maior teor de matéria orgânica e sofrem cons- tantes lixiviações, ao contrário dos solos. 3 Sedimentos: encontram-se em ambientes anaeróbios e estão sujeitos às condições redutoras. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos 2. Transporte dos Fragmentos: chuva, gravidade, ventos; 3. Sedimentação: os materiais são depositados no fundo dos mares (bacia de sedimentação); 5. Cimentação: com a compactação a água “é expulsa” para as camadas superiores. Forma-se um cimento natural que une os grãos de sedimentos uns aos outros. 4 Formação de Sedimentos 4. Compactação: se a erosão continuar, o transporte para a bacia de sedimentação causa a compactação de sedimentos; 1. Erosão: as rochas se desintegram; Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos - Deposição Pode resultar de processos químicos, físicos e biológicos. -Transporte do Material Sedimentar para o Corpo d’água Por erosão, escavação da praia, reações de precipitação. 5 - Reações de Oxidação-Redução: podem ser formados compos- tos insolúveis. Ocorre com Fe2+ ao ser oxidado a Fe3+: 4 Fe 2+ + 10 H2O + O2 4 Fe(OH)3(s) + 8 H + - Atividades Biológicas: responsáveis pela formação de certos sedimentos aquáticos. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Atividades Biológicas: bactérias que produzem gran- des teores de Fe3+ (Ferrobacillus e Gallionella, o usam na obtenção de energia para processos metabólicos. 6 Gallionella Ferrobacillus Catalisam a oxidação de Fe2+ a Fe3+: 4 Fe2+ + 4 H+ + O2 4 Fe 3+ + 2 H2O Bactérias em Regiões Anaeróbias: (fundo de cor- pos d’água): ex. bactérias redutoras de sulfato: Desulfotomaculum e Archaea Desulfotomaculum Desulfotomaculum 1) Usam sulfato passando-o a sulfeto: SO4 = H2S SO4 = + 10 H+ + 8 e- H2S + 4 H2O 2H+ + SO4 = + 2 {CH2O} 2CO2 + H2S + 2H2O A rc h a e a D e s u lf o to m a c u lu m Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos 7 2) Reduzem Fe3+: importantes microorganismos redutores de Fe: bactérias dos gêneros Shewanella e Geobacter Fe(OH)3(s) + e - Fe2+ + 3 OH- Shewanella Geobacter Transferência de Espécies Químicas nos Sedimentos À cadeia alimentar aquática: mariscos, minhocas, insetos, etc. • Transferência Indireta Sedimentos/Água/Organismos: a transferência de poluentes é muito comum envolvendo um estágio intermediário na água. • Transferência Direta Sedimentos/Organismos: significativa e ocorre com poluentes pouco solúveis em água, como os pesticidas organohaletos. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos • Substâncias nos Sedimentos: mantidas nos poros de água (poros microscópicos nos sedimentos) e são provavelmente as mais usadas por organismos. 8 Formação de Sedimentos de CaCO3: a) Águas ricas em CO2 dissolvido proveniente da ação bacteriana b) Águas em contato com formações de CaCO3 c) Águas contendo altos teores de Ca2+ e HCO3 - Ca2+ + 2 HCO3 - CaCO3(s) + CO2(g) + H2O Sedimentos de cálcio no Tibete formados em centenas de mi- lhares de anos com água rica Ca(HCO3)2. Águas correntes contendo Ca2+ como dureza tem- porária formam sedimentos e tornam-se alcalinas: 1. Ao liberar CO2 para a atmosfera Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos 9 2. Pelo consumo de CO2 por algas 3. Por contato com base dissolvida depositando-se CaCO3 insolúvel: Ca2+ + 2 HCO3 - CaCO3(s) + CO2(g) + H2O Esses sedimentos podem ser formados no verão, pois o pH aumenta devido à reação fotossintética: Ca2+ + 2 HCO3 - hv {CH2O} + CaCO3(s) + O2(g) Estalactites Estalagmites Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos PARTÍCULAS COLOIDAIS Minerais, poluentes orgânicos, materiais proteináceos, algas, bactérias, suspensos na água como diminutas partículas. Físico irlandês John Tyndall Características: assemelham-se tanto à partículas em solução, quanto em suspensão. Têm diâmetro situados entre 1 nm a 103 nm e dispersam a luz (Efeito Tyndall) 10 Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Comportamento dos Coloides: influenciado por suas características físico-químicas: • Elevada área específica (m2/g) • Alta energia interfacial Classificação de Colóides • Hidrofílicos • Hidrofóbicos • Colóides de Associação 11 • Elevada relação superfície/densidade de carga. • Possuem movimento browniano Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos • Hidrofílicos: macromoléculas que intera- gem fortemente com água são solu- ções de moléculas grandes ou íons. Ex. muitas proteínas (plasma sanguíneo). 12 • Hidrofóbicos: interagem menos com água. São está- veis devido à carga negativa ou positiva. Ex.: argilas, gotículas de petróleo, minúsculas partículas de ouro. Na fig. observa-se a formação da dupla camada. Suspensões hidrofílicas são me- nos afetadas por adição de sais que suspensões hidrofóbicas Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos 13 CH3(CH2)16 – Cauda Organofílica: Ânions estereatos tendem a formar clusters consistindo de vários ânions com caudas de HC dentro da esfera da partícula coloidal e cabeças iônicas na superfície em contato com água e Na+ (contra-íon) Colóide de Associação: agregado de moléculas e íons (micelas) Ex.: íon estereato de sódio (sabão) que possui: Cabeça Hidrofílica: _ CO2 – Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Estabilidade dos Colóides Hidratação Carga Superficial 14 Hidratação: a camada de água na superfície das partículas co- loidais hidratadas impede o contato, resultando em unidades maiores. Principais fenômenos que contribuem Carga Superficial: pode impedir a agregação devido à repulsão eletrostática entre partículas de mesmo sinal. Depende do pH. Em águas naturais em pH 7, em geral, aspartículas coloidais são negativamente carregadas Colóides Negativamente Carregados no Meio Aquático: gotículas coloidais de petróleo e células de algas e bactérias. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Carga das células individuais de microorganismos com compor- tamento semelhante às partículas coloidais: a) Depende do pH b) É adquirida por perda ou ganho de H+ por grupos carboxíli- cos e aminos na superfície celular: +H3N(célula +)CO2H +H3N(célula neutra)CO2 - H2N(célula -)CO2 - 15 pH Baixo pH intermediário pH elevado (carga líquida positiva) (carga líquida zero) (carga líquida negativa) As cargas superficiais de partículas coloidais são função do pH Ponto de Carga Zero (ZPC): em pH intermediário as partículas de colóide têm carga líquida zero (ZPC) favorecendo a agregação de partículas e a precipitação de sólido volumoso. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Em meio relativamente ácido: (2,8 < pH < 4,5): ganho de H+ Pode haver reação na superfície Carga Líquida Positiva: MnO2(H2O)(s) + H + MnO2(H3O) + (s) Ganho de H+ I II IV III 16 O colóide MnO2 encontra-se positivamente carregado Carga Superficial do MnO2(H2O) O óxido hidratado adquire carga por ganho ou perda de H+. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Meio Alcalino: Pode Haver Perda de H+ Carga Líquida Negativa: MnO2(H2O)(s) MnO2(OH) - (s) + H + Em geral, nas águas naturais: pH > 4,5 Ganho de H+ I II IV III 17 O colóide MnO2 encontra-se negativamente carregado Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Processos de Sorção e de Troca Iônica em Sedimentos 18 SORÇÃO ADSORÇÃO ABSORÇÃO Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Sedimentos são importantes depósitos de íons metálicos Têm habilidade de trocar cátions com o meio aquático Fe2+, Mn2+, Zn2+, Cu2+, Ni2+, Mg2+, Ca2+, K+, Na+ Capacidade de Troca Catiônica (CTC) Por serem capazes de sorver e deslocar H+, os sedimentos têm efeito tampão em certas águas 19 Expressa em milimols/100g de sólido seco. CTC Típicas de Sedimentos (em águas naturais): 20 a 30 mmols/100 g Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Ganho de H+ I II IV III Habilidade de Sorção: alguns hidró- xidos e óxidos metálicos hidratados (Mn(IV), Fe(III)) sorvem efetivamente várias espécies no meio aquático, caso do MnO2 coloidal. Interações Superficiais de Sólidos em Contato com Água: superfícies de óxidos metálicos que sorvem íons metálicos Mtz+ por complexação: 20 M OH + Mtz+ M OMtz-1 + H+ Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos 21 Pode ocorrer quelação: Sorção de Ânions por Superfícies Sólidas: a troca aniônica é mais difícil de explicar. O grau de sorção é variável: a) fosfatos e sulfatos: em geral, são sorvidos em pH < 7. Podem ser sorvidos na superfície de hidroxilados. b) cloretos e nitratos: tal como as partículas coloidais no solo, são sorvidos por atração eletros- tática em pH ácido. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Íons Metálicos em Sedimentos e em Partículas Suspensas Ambos são depósitos de traços de íons de metais: Cr, Pb, Cd, Cu, Mo, Ni, Co, Mn,... presentes como: • Compostos simples • Íons mantidos por argilas trocadoras catiônicas • Ligados a óxidos hidratados de Fe ou Mn • Quelatados à substâncias húmicas insolúveis 22 Em águas relativamente limpas (não poluídas) a ocorrência de traços metálicos em materiais suspensos relaciona-se ao mineral de origem dos sólidos suspensos Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Manutenção de Metais por Partículas: entre outros fatores, a disponibilidade de metais agregados a partículas depende: • Do tipo de ligação e estado de oxidação do metal • Da natureza do material suspenso • Do tipo de organismo presente na água • Das condições químicas e físicas da água 23 Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Presença de Sulfetos Metálicos em Sedimentos Anaeróbios: 24 Biodisponibilidade de Metais nos Sedimentos: limitada pelas baixas solubilidades dos sulfetos. Porém: quando os sedimentos são expostos ao ar, S= oxida-se a SO4 = liberando teores significa- tivos de metais pesados. Deve-se, sobretudo à: SO4 = redução microbiótica S= SO4 = + 10 H+ + 8 e- H2S + 4 H2O Fósforo nos Sedimentos: elemento importante na química aquá- tica pois é um nutriente fundamental e necessário ao crescimen- to de algas contribui para a eutrofização A troca iônica em sedimentos é importante na disponibilidade de fósforo para os vegetais Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos 25 Forma de Fósforo em Sedimentos 1) Fosfato Mineral: sobretudo, hidroxiapatita (Ca5OH(PO4)3) 2) Fósforo Orgânico: incorporado à biomassa aquática, em geral, a partir de algas ou de origem bacteriana. 3) Fósforo Ocluído: não é facilmente disponível. Ex: ortofosfatos contidos em matrizes de óxi- dos hidratados amorfos de Fe e Al e aluminosili- catos amorfos. The most reactive chemical element, fluorine, has been claimed not to occur in nature. First direct evidence from in situ NMR spectroscopy now proves that elemental fluorine indeed occurs in nature as an occlusion in antozonite (Didier Descouens) Flúor ocluído 4) Fósforo Não Ocluído: em geral, mais solúvel e disponível que o ocluído. Tal como os orto- fosfatos, liga-se à superfície de SiO2 ou CaCO3 Contêm polifosfatos como estabilizantes Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Polifosfatos: podem ser sorvidos por sedimentos em águas que receberam cargas domésticas, in- dustriais ou de solos fertilizados. 26 Sorção de Matéria Orgânica (MO) nos Sedimentos: materiais suspensos contendo MO sorvida incorporam-se aos sedimentos. Captura de MO por Material Suspen- so e Sedimentar: importante e em parte responsável pela presença de herbicidas devido à incorporação por erosão de solo contaminado. Em certas áreas lavradas há acúmulo de pesticidas nos sedimentos Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Ácidos húmicos C187 H186 O89 N9 S2 Sedimentos mais Comuns com Habilidades Ligantes Complexos de Argilas e Substâncias Húmicas Atuam como trocadores ca- tiônicos: sorvem compostos orgânicos catiônicos por mecanismos relativamente fortes, reduzindo a mobilida- de e a atividade biológica do composto orgânico. 27 • Argilas • Substâncias Húmicas Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos A maioria dos sedimentospossui sítios aniônicos. Portanto: Compostos orgânicos negativamente carregados não são forte- mente mantidos, ou seja, movem-se na água Possuem atividade biológica e biodegradabilidade elevadas 28 Em geral, o grau de sorção de compostos orgânicos: • É inversamente proporcional a solubilidade: os menos solúveis são captados mais fortemente por materiais lipofílicos (subs- tâncias húmicas). • Compostos com pressão de vapor relativamente alta: podem evaporar e os processos fotoquímicos podem ter papel impor- tante na degradação. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Sorção por Substâncias Húmicas no Solo Ácidos húmicos:C187 H186 O89 N9 S2 Certos poluentes são covalentemente ligados à material húmico É provável que o mesmo ocorra em sedimentos formados a partir de solos 29 Supõe-se que a ligação ocorra por ação de enzimas sobre organismos: agem como oxiredutases catalisando reações redox e polimerizando compostos aromáticos. Ex.: reação de acoplamento do 2,4- diclorofenol (poluente) a um anel aro- mático de uma substância húmica Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos • Hidrólise ácida ou básica Remoção de Resíduos em Substâncias Húmicas Muito Difícil 30 • Bioquimicamente • Termicamente Gases em Águas Intersticiais Água Intersticial: mantida por sedimentos. É reservatório de gases no meio aquático natural. Em geral: a concentração de gases na água intersticial difere da concentração no restante da água. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos (*) 31 * CH4 não pode ser determinado na superfície do sedimento, pois no ar o teor é muito baixo e é biodegradável em meio anaeróbio. Universidade Estadual do Ceará – Química Ambiental – Profa. Dra. Nadja Vasconcelos Final do Capítulo
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