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Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 1 de 20 1. Diferenciar DM Tipo 1 e 2 (fisiopatologia); O Diabetes mellitus (DM), segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é definido como uma doença crônica não transmissível (DCNT), caracterizada pelo aumento da glicose plasmática, devido à defeitos na secreção e/ou ação da insulina produzida pelo pâncreas. De uma forma geral, a DM pode ser classificada em 3 subtipos principais e mais conhecidos: 1º) DM tipo 1: provocada por reações autoimunes; 2º) DM tipo 2: hiperglicemia gerada por uma resistência à insulina; 3º) DM gestacional: quaro de hiperglicemia durante a gravidez que, geralmente, desaparece após o parto. DM tipo 1: O Diabetes Mellitus Tipo I (DM1) geralmente se apresenta na infância ou adolescência com um quadro clínico de hiperglicemia e cetoacidose diabética. É uma doença autoimune, caracterizada pela infiltração linfocítica e destruição das células secretoras de insulina das ilhotas de Langerhans. A destruição das células beta-pancreáticas leva a uma deficiência de insulina que por sua vez acarreta hiperglicemia e outras complicações metabólicas secundarias. Esta destruição é mediada por respostas autoimunes que lesa irreversivelmente as células, levando ao aumento da glicose no sangue por déficit absoluto de produção de insulina. Nesse sentido os principais marcadores imunológicos do comprometimento pancreático são os autoanticorpos anti-ilhota (anti-ICA), anti-insulina (anti-IAA), antidescarboxilase do ácido glutâmico (anti- GAD), antitirosina fosfatase (IA2 e IA2B) e anti- transportador de zinco e estão presentes em 90% dos pacientes por ocasião do diagnóstico. No período de manifestação da doença, com a presença de hiperglicemia e cetose, as células secretoras de insulina já estão em número muito diminuído ou ausentes. A presença de infiltrado inflamatório do tipo linfomononuclear, configurando insulite, e a ausência de células beta, indica o quadro histológico do DM1. Este processo inclui quatro estágios distintos: (I) pré- clínico: autoimunidade dirigida contra as células- beta, com diminuição aguda e progressiva da resposta insulínica à glicose intravenosa ou oral; (II) início do diabetes clínico; (III) remissão transitória; (IV) diabetes associado a complicações agudas, crônicas e óbito. O estágio pré-clínico é definido pela presença de autoanticorpos contra constituintes da célula-beta pancreática, que participam da sua autodestruição. Uma ampla variedade de marcadores, como os anticorpos anticélulas das ilhotas, anti-insulina, antiácido glutâmico descarboxilase e antitirosino fosfatases, estão relacionados ao desenvolvimento do DM1. Pelo menos um desses marcadores está presente em 85-90% dos indivíduos com hiperglicemia de jejum, observada no início da doença. Autoanticorpos anti-insulina são detectados em cerca de 50% dos pacientes diabéticos recentemente diagnosticados. O principal autoantígeno envolvido na patogenia do DM1 é o GAD, neuroinibidor do sistema nervoso central, a partir do L-glutamato. Duas formas são reconhecidamente expressas nos tecidos humanos: GAD65 e GAD67. Já os anticorpos anticélulas das ilhotas reconhecem receptores de membrana do tipo proteína tirosina fosfatase (PTP), ou seja, o antígeno de células de ilhotas (ICA512) ou antígeno da ilhota 2 (IA-2). Geralmente, este grupo de autoanticorpos é detectado após o aparecimento do anticorpo anti- GAD65, e praticamente confirma o diagnóstico de DM1. O autoantígeno IA-2B, receptor de membrana das células-beta pancreáticas, pode ser reconhecido por autoanticorpos anti-ilhotas. Doenças autoimunes como o DM1 envolvem a interação de diferentes subpopulações de linfócitos e células apresentadoras de antígenos. Entre estas populações celulares, estão incluídos os linfócitos CD4+ e CD8+, células B, células natural killer (NK), macrófagos e células dendríticas, que desempenham importante papel na geração da resposta autoimune. A apresentação de autoantígenos específicos das células beta pancreáticas pelos macrófagos e/ou células dendríticas para os linfócitos T CD4+, constitui-se como o primeiro evento no processo de autoimunidade visto no DM1. Os macrófagos ativados com os autoanticorpos secretam citocinas que induzem a migração Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 2 de 20 celular e estimulam vários tipos celulares a secretarem radicais livres muito tóxicos às células betapancreáticas. Durante o processo de insulite, que parece ocorrer com maior força em ilhotas onde existam células beta metabolicamente ativas, os linfócitos TCD8+ são as células principais. Tais linfócitos, após reconhecimento dos autoantígenos pancreáticos, efetuam a destruição das células-beta por citólise através da liberação de perforinas e granzimas, e também por indução de apoptose. Dessa maneira, macrófagos, linfócitos TCD4+ e linfócitos TCD8+ atuam em conjunto na destruição das células beta pancreáticas. O linfócito TCD4+ ativado secreta várias citocinas, cuja principal ação é gerar a proliferação e a diferenciação de linfócitos T e de outras células, incluindo linfócitos B e macrófagos. A liberação de citocinas pró- inflamatórias, como o fator de necrose tumoral α (TNF-α), interferon-gama (IFNγ) e interleucina- 1 beta (IL-1β) por células apresentadoras de antígeno e células T, auxilia a iniciação e a duração da resposta inflamatória e autoimune no DM1. Os linfócitos B também participam da patogenia do DM1, seja apresentando autoantígenos, preferencialmente o GAD ou, ainda, como plasmócitos secretores de autoanticorpos. Ao longo do tempo, as células betas vão diminuindo em número, assim como a intensidade do processo inflamatório. A suscetibilidade ao DM1 é herdada, e há um risco aumentado que é observado em parentes em primeiro grau de uma pessoa afetada pela doença, porém, 85% de casos novos não abrange tal linhagem familiar. Os pacientes com DM1 geralmente são HLA- DR3 ou HLA-DR4, uma característica demonstrada por outras doenças autoimunes órgãos-específicas. Presume-se a possibilidade de uma infecção como fator desencadeante da destruição autoimune das células secretoras de insulina, dentre os vírus supostamente envolvidos, encontra-se os vírus da rubéola, citomegalovírus e retrovírus. Acredita-se que a evolução do DM1 não é aguda e sim um processo de autoagressão de evolução lenta que provavelmente se desenvolve durante anos numa fase pré-clínica. Os fatores genéticos conhecidos, até a ocasião, podem ser responsáveis por no máximo 65% a 70% dos casos de DM1 e não explicam o aumento no número de casos nas últimas décadas. Esses dados lembram a importância de fatores ambientais no processo patogênico do DM1. Este aumento está relacionado ao baixo índice de infecções durante a infância. Os fatores ambientais mais implicados são a dieta e virose. O sedentarismo e a obesidade, cuja incidência vem crescendo, são fatores que até podemos chamar de ambientais, e predispõe a ocorrência conjunta, de resistência à insulina e autoimunidade antiilhotas em alguns pacientes. Fonte: FISIOPATOLOGIA DO DIABETES MELLITUS TIPO 1: UMA REVISÃO DM tipo 2: A resistência à ação da insulina a nível do músculo e do fígado e o compromisso na secreção de insulina pelas células β dos ilhéus de Langerhans são os principais defeitos fisiopatológicos envolvidos na génese da diabetes tipo 2. A menor capacidade secretora é o resultado da morte celular programada (apoptose) das células β, do efeito de glicotoxicidade e lipotoxicidade sobre as células β remanescentes e da resistência daquelas à ação estimulatória do péptideo 1 semelhante ao glucagon (glucagon- like peptideo 1 [GLP-1]). Por outro lado,a diabetes tipo 2 carateriza-se pela presença de uma hiperglucagonemia relativa (níveis de glucagon mais elevados do que seria presumível face aos níveis de glicose circulante) e um aumento na sensibilidade hepática ao glucagon, resultando em aumento na produção hepática de glicose. A insulinorresistência periférica, a nível dos adipócitos, resulta em aumento da lipólise e consequente aumento dos níveis de ácidos gordos livres circulantes (FFA). Estes vão agravar a resistência à ação da insulina a nível muscular e hepática e exercem um efeito tóxico (lipotoxicidade) sobre a capacidade secretora das células β pancreáticas. A maior reabsorção renal de glicose por aumento da atividade dos cotransportadores tipo 2 de sódio-glicose (SGLT2), com consequente aumento do limiar renal de glicose, contribui para o aumento da glicemia. Também, o processo inflamatório Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 3 de 20 subclínico e a resistência vascular à ação vasodilatadora da insulina (com compromisso na chegada da glicose e da insulina aos tecidos) comprometem a normal resposta à ação da insulina, a nível dos vários tecidos e órgãos-alvo. Por outro lado, também se verifica uma resistência à ação inibidora do apetite exercida pela insulina, leptina, GLP-1, amilina e péptido YY, bem como uma diminuição nos níveis de dopamina e aumento nos de serotonina a nível do sistema nervoso central (SNC) contribuem para o aumento de peso, exacerbando a insulinorresistência. Fonte: https://www.researchgate.net/publication/32619 0002_Fisiopatologia_da_diabetes_mellitus_tipo _1_e_tipo_2_100_perguntas_chave_na_diabetes Diferenças entre as DMs: O pâncreas é um órgão do corpo humano, localizado atrás do estômago, que faz parte do sistema digestório e do sistema endócrino, e possui duas funções importantes: produzir enzimas que auxiliam na digestão dos alimentos e produzir insulina – o hormônio responsável pelo controle da glicemia. Em condições normais, o pâncreas produz quantidades adequadas de insulina para deslocar a glicose da nossa corrente sanguínea para dentro das células, onde será armazenada e funcionará como energia, mantendo assim níveis adequados de glicose no sangue. No diabetes, essa função do pâncreas está comprometida, porém ocorre de maneira diferente no tipo 1 e no tipo 2: No diabetes tipo 1 o pâncreas não consegue mais produzir insulina, devido à destruição das células beta por um mecanismo autoimune. Como resultado, a glicose não consegue entrar nas células, ficando na corrente sanguínea, causando a hiperglicemia e sensações de fraqueza e cansaço, além de outros sintomas. Já no diabetes tipo 2, temos dois mecanismos que causam a permanência de glicose no sangue (hiperglicemia): o pâncreas até consegue produzir insulina, porém em quantidade insuficiente e algumas células do corpo não reconhecem a insulina, o que chamamos de resistência à insulina. Em ambos os tipos de diabetes o resultado do mau funcionamento do pâncreas é a hiperglicemia e as complicações resultantes disso. Porém o tratamento é diferente, já que, como vimos acima, a fisiopatologia não é a mesma. No diabetes tipo 1 necessitamos da aplicação de insulina, pois o organismo não produz mais esse hormônio, e a falta dela não permite que as células recebam a glicose, fonte tão importante de energia para manter o funcionamento adequado de todo o organismo. Além da insulina uma dieta saudável e exercícios físicos são necessários para evitar complicações futuras. No diabetes tipo 2 – dependendo da gravidade – o tratamento pode ser feito apenas com medicação oral, exercício físico e controle da dieta, no entanto, com o passar dos anos, pode ser necessário o uso de insulina, pois o pâncreas vai reduzindo cada vez mais a produção desse hormônio. A longo prazo as complicações do diabetes tipo 1 e tipo 2 são as mesmas, porém a curto prazo o diabetes tipo 1 tem muito mais chances de fazer hipoglicemia e ter consequências severas por causa disso. O diabetes tipo 1 ocorre mais comumente na infância e juventude, porém isso não significa que um adulto não possa desenvolver o diabetes tipo 1. Já o diabetes tipo 2 costuma aparecer principalmente na idade adulta, mas, novamente, não significa que não possa ocorrer em jovens, inclusive, devido ao alto índice de obesidade precoce observado na população geral tem sido cada vez mais frequente o surgimento dessa doença em pessoas mais novas, uma vez que a obesidade leva à resistência à insulina. Fonte: https://www.ufrgs.br/lidia- diabetes/2020/08/03/diferencas-entre-o-diabetes- tipo-1-e-o-diabetes-tipo-2/ 2. Definir os critérios diagnósticos da DM (laboratoriais e clínicos); Principais sintomas do DM tipo 1: Vontade de urinar diversas vezes; fome frequente; sede constante; perda de peso; fraqueza; fadiga; nervosismo; mudanças de humor; náusea; vômito. Principais sintomas do DM tipo 2: https://www.researchgate.net/publication/326190002_Fisiopatologia_da_diabetes_mellitus_tipo_1_e_tipo_2_100_perguntas_chave_na_diabetes https://www.researchgate.net/publication/326190002_Fisiopatologia_da_diabetes_mellitus_tipo_1_e_tipo_2_100_perguntas_chave_na_diabetes https://www.researchgate.net/publication/326190002_Fisiopatologia_da_diabetes_mellitus_tipo_1_e_tipo_2_100_perguntas_chave_na_diabetes https://www.ufrgs.br/lidia-diabetes/2020/08/03/diferencas-entre-o-diabetes-tipo-1-e-o-diabetes-tipo-2/ https://www.ufrgs.br/lidia-diabetes/2020/08/03/diferencas-entre-o-diabetes-tipo-1-e-o-diabetes-tipo-2/ https://www.ufrgs.br/lidia-diabetes/2020/08/03/diferencas-entre-o-diabetes-tipo-1-e-o-diabetes-tipo-2/ Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 4 de 20 infecções frequentes; alteração visual (visão embaçada); dificuldade na cicatrização de feridas; formigamento nos pés; furúnculos. Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/diabetes/ O diagnóstico de diabetes mellitus (DM) deve ser estabelecido pela identificação de hiperglicemia. Para isto, podem ser usados a glicemia plasmática de jejum, o teste de tolerância oral à glicose (TOTG) e a hemoglobina glicada (A1c). Em algumas situações, é recomendado rastreamento em pacientes assintomáticos. R1 – No indivíduo assintomático, É RECOMENDADO utilizar como critério de diagnóstico de DM a glicemia plasmática de jejum maior ou igual a 126 mg/dl, a glicemia duas horas após uma sobrecarga de 75 g de glicose igual ou superior a 200 mg/dl ou a HbA1c maior ou igual a 6,5%. É necessário que dois exames estejam alterados. Se somente um exame estiver alterado, este deverá ser repetido para confirmação. Os critérios para diagnóstico de DM não são concordantes entre si. A HbA1c tem baixa sensibilidade e alta especificidade em identificar DM diagnosticado pelo critério da glicemia de 2h. Todos os métodos têm limitações metodológicas. A GJ necessita de jejum, sofre interferências decorrentes de condições agudas e tem menor taxa de reprodutibilidade quando comparadas à HbA1c. O TOTG é oneroso, desconfortável e consome mais tempo. A HbA1c tem maior custo e não leva em conta a variabilidade individual no fenômeno de glicação proteica, além de ter menor sensibilidade diagnóstica do que os outros métodos. R2 – Na presença de sintomas inequívocos de hiperglicemia, É RECOMENDADO que o diagnóstico seja realizado por meio de glicemia ao acaso ≥ 200 mg/dl. Este painel considera que, com o intuito de não postergar o início de tratamento em situações agudas, o diagnóstico de DM poderá ser feito por meio de glicemia ao acaso, quando na presença de sintomas inequívocos de hiperglicemia. R3 – DEVE SER CONSIDERADO estabelecer o diagnóstico de DM na presença de glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl e HbA1c ≥ 6,5% em uma mesma amostrade sangue. R4 – É RECOMENDADO sempre considerar fatores clínicos e interferentes laboratoriais na interpretação dos resultados dos exames solicitados para diagnóstico de DM e pré- diabetes. Ao se fazer diagnóstico de diabetes, deve-se considerar os aumentos e reduções da glicemia que podem ocorrer transitoriamente em determinadas situações clínicas agudas ou secundárias a drogas. Níveis falsamente baixos de glicemia em um paciente normoglicêmico podem ocorrer por erros metodológicos. Da mesma forma, existem situações clínicas que limitam o uso da HbA1c como método diagnóstico. Rastreamento R5 – É RECOMENDADO o rastreamento para todos os indivíduos com 45 anos ou mais, mesmo sem fatores de risco, e para indivíduos com sobrepeso/obesidade que tenham pelo menos um fator de risco adicional para DM2. https://bvsms.saude.gov.br/diabetes/ Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 5 de 20 R6 – A repetição do rastreamento para DM e pré- diabetes DEVE SER CONSIDERADA em intervalos de, no mínimo, três anos. Intervalos mais curtos podem ser adotados quando ocorrer ganho de peso acelerado ou mudança nos fatores de risco. R7 – Em adultos com exames normais, porém mais de um fator de risco para DM2, DEVE SER CONSIDERADO repetir o rastreamento laboratorial em intervalo não superior a 12 meses. R8 – É RECOMENDADO fazer rastreamento para diabetes nos pacientes que apresentem comorbidades relacionadas ao diabetes secundário, como endocrinopatias e doenças pancreáticas, ou com condições frequentemente associadas ao DM, como infecção por HIV, doença periodontal e esteatose hepática. R9 – É RECOMENDADO que pacientes que irão iniciar medicações com potencial efeito hiperglicemiante, como glicocorticoides ou antipsicóticos, sejam rastreados para diabetes antes e após o início do tratamento. R10 – É RECOMENDADO realizar triagem para DM2 em crianças e adolescentes com 10 ou mais anos de idade ou após início da puberdade que apresentem sobrepeso ou obesidade, e com, pelo menos, um fator de risco para detecção de DM2. R11 – Triagem para risco de DM tipo 1 (DM1) com dosagem de autoanticorpos DEVE SER CONSIDERADA para familiares de primeiro grau de pessoas acometidas apenas se houver possibilidade de inserir pessoas de risco em estudos clínicos visando prevenção do DM. Fonte: https://diretriz.diabetes.org.br/atividade- fisica-e-exercicio-no-pre-diabetes-e-dm2/ 3. Abordar as complicações agudas e crônicas da DM; COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DIABETES MELLITUS HIPOGLICEMIA Ocorre quando o valor da glicemia é inferior a 50- 60 mg/dl. Condições de Risco: Pacientes em uso de insulina, pacientes idosos em uso de Sulfonilureias, insuficiência renal, omissão ou atraso alimentar, realização de exercício não usual, educação em diabetes deficiente, vômitos ou diarreia, baixa idade, insulinoterapia de início recente, troca ou dose excessiva de insulina, neuropatia diabética, glicemia normal ou baixa à noite, ingestão de bebidas alcoólicas (principalmente de estômago vazio). Sinais e sintomas: • Hipoglicemia Leve; • Tremores, sudorese intensa (suor frio), fraqueza, palpitações, palidez, ansiedade e fome; • Hipoglicemia Moderada; • Tontura, diplopia, esquecimento, incapacidade de concentração, dor de cabeça, irritabilidade, choro, rebeldia, fala confusa, perda de coordenação motora; • Hipoglicemia Grave; • Sonolência, convulsão e inconsciência. Conduta: Verificar a glicemia, se < 60 mg/dl, nos casos leves a moderados, orientar ingesta de 1 copo de suco de laranja natural ou 1 copo de refrigerante normal ou 1 colher de sopa de açúcar diluída em água ou 3 balas de caramelo. Aguardar 15 minutos e repetir a glicemia, se continuar < 60 mg/dl ou persistirem os sintomas, repetir o tratamento acima. Nos casos graves, no paciente inconsciente, não forçar a ingestão oral, mas pode ser colocado açúcar embaixo da língua. Aplicar 20 ml de glicose 50% endovenosa, que poderá ser https://diretriz.diabetes.org.br/atividade-fisica-e-exercicio-no-pre-diabetes-e-dm2/ https://diretriz.diabetes.org.br/atividade-fisica-e-exercicio-no-pre-diabetes-e-dm2/ Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 6 de 20 repetido até a total recuperação do paciente. Às vezes é necessário manter soro glicosado EV para evitar nova crise. Pacientes e familiares devem ser orientados a terem sempre consigo 15 g de carboidrato para uso via oral (sache de glicose ou 3 balas moles de caramelo) a fim de serem utilizados em caso de hipoglicemia. HIPERGLICEMIA Condições de risco: Excesso de alimentação, inatividade ou redução da atividade física habitual, quantidade insuficiente de insulina (esquecimento, dose inadequada, insulina vencida ou congelou), estresse físico ou emocional, doenças febris ou traumáticas. Conduta: A enfermagem deverá verificar glicemia capilar, se > 250 mg/dl, realizar orientações de enfermagem e referir para atendimento médico. ESTADO HIPERGLICÊMICO HIPEROSMOLAR O EHH é uma complicação metabólica do diabetes mellitus caracterizada por hiperglicemia grave, desidrataçãoextrema, hiperosmolaridade do plasma e alteração do nível de consciência. Com mais frequência, ocorre em pacientes com diabetes mellitus tipo 2, geralmente por ocasião de um estresse fisiológico. O diagnóstico de hiperosmolar hiperglicêmico é por hiperglicemia grave e hiperosmolaridade plasmática e ausência de cetose significativa. O tratamento se faz com solução fisiológica e insulina IV. As complicações incluem coma, convulsões e morte. CETOACIDOSE Quadro de hiperglicemia e acidose metabólica causada por excesso de acetoácidos decorrente da deficiência insulínica. Está presente em aproximadamente 25% dos pacientes no momento do diagnóstico do diabetes mellitus tipo 1(DM1), sendo a causa mais comum de morte entre crianças e adolescentes com DM1. Condições de risco: Doença febril aguda, estados infecciosos, suspensão da insulinoterapia, diabetes previamente mal controlado, diabetes de controle instável, distúrbios psicológicos graves, uso de cocaína, educação em diabetes deficiente. Sinais e sintomas: Poliúria, polidpsia, desidratação, agitação, dor abdominal, rubor facial, hálito cetônico, hiperventilação, náuseas, vômitos, sonolência. Achados Laboratoriais: Hiperglicemia (>300 mg/dl), glicosúria, cetonúria cidose (pH < 7,3), leucocitose, alterações eletrolíticas. COMA HIPEROSMOLAR Condições de risco: Diabetes tipo 2 com doença intercorrente (infecção grave, infarto miocárdio ou cerebral, estresse intenso, etc) ou uso de drogas hiperglicemiantes. Sinais e sintomas: Poliúria, polidpsia, desidratação intensa, dor abdominal, hipertermia, sonolência, obnubilação, coma. Achados Laboratoriais: Glicosúria intensa, hiperglicemia extrema (geralmente > 700 mg/dl), azotemia. Rastreamento e conduta inicial na cetoacidose e coma hiperosmolar Considerar o diagnóstico na presença de condições de risco e sinais/sintomas, confirmar com medida de glicemia e enviar ao hospital (letalidade alta). Se possível, iniciar hidratação endovenosa com soro fisiológico 0,9% 15 a 20 ml/kg na primeira hora (1 litro em 1 hora) e 10 unidades insulina humana regular intramuscular, enquanto aguarda ambulância. Na criança as doses devem ser calculadas de acordo com peso e faixa etária (0,1 U/kg/h). COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DIABETES MELLITUS Representam um sério e oneroso problema de saúde pública, comprometendo a qualidade de vida das pessoas acometidas. Podem ser prevenidas ou retardadas com um bom controle glicêmico e pressórico, assim como outros fatores de risco específicos. RETINOPATIA Início do aparecimento por volta do 7º ano de diabetes, podendo estar presente no diagnóstico do tipo 2.Cerca de 50% dos pacientes com 10 anos e 60 a 80% com 15 ou mais anos de doença tem retinopatia, a qual é proliferativa na maioria Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 7 de 20 deste último grupo. Em Ribeirão Preto, estudo de prevalência de retinopatia diabética, na população urbana adulta, mostrou que 12,1% da população diabética tem retinopatia. Fatores de risco: Maior risco no DM tipo 1 que no tipo 2, duração do diabetes, mau controle glicêmico prolongado, hipertensão arterial, presença de nefropatia diabética e gravidez (maior risco para surgimento ou progressão). Evolução: Sem sintomas até estados avançados. A evolução pode ser acompanhada através de fundoscopia, e segue a sequência mostrada no gráfico acima: retinopatia diabética não proliferativa leve, moderada e grave (RDNP-L, M, G, microaneurismas, micro-hemorragias e exsudatos) e retinopatia diabética proliferativa (RDP, com neovasos), maculopatia e amaurose. Rastreamento com fundoscopia sobre midríase ou retinografia com luz infravermelha sem midríase: • Tipo 1 = Anual, a partir do 5 º ano de diagnóstico • Tipo 2 = Anual a partir do diagnóstico Indicações para encaminhamento ao oftalmologista: Anualmente com rotina, na gestação iniciada ou planejada, na presença de neovascularização ou edema de mácula, quando houver redução da acuidade visual. Tratamento: Fotocoagulação da retina a laser ou vitrectomia em serviços especializados. OUTRAS FORMAS DE DOENÇA OCULAR NO DIABETES Cataratas (frequência 3 vezes maior nos idosos diabéticos do que na população geral) e úlcera de córnea. DOENÇA RENAL DO DIABETES MELLITUS (DRD) A doença renal do diabetes acomete 20-40% com DM1 e DM2. No Brasil, a incidência de pacientes novos com DRD em diálise é de 77 por milhão de paciente. Fatores de risco: Duração do diabetes, mau controle glicêmico prolongado, hipertensão arterial e raça negra, tabagismo, dislipidemia, história familiar da doença. Fatores agravantes: Hipertensão arterial, obstrução urinária, infecção urinária de repetição, drogas nefrotóxicas (contrastes radiológicos endovenosos, antiinflamatórios, aspirina em altas doses, acetaminofen por uso prolongado, aminoglicosídeos). Recentemente a Albuminúria passou a ser classificada apenas como Excreção urinária de Albumina (EUA) normal ou elevada, em substituição dos termos micro e macroalbuminúria. O rastreamento deve ser iniciado pela medida de albumina ou relação albuminacreatinina (RACur) em amostra isolada de urina. A Albuminúria anormal deve ser confirmada em duas de três amostras coletadas em um intervalo de 3 a 6 meses, devido a variabilidade diária da EUA. Valores de Albuminúria utilizados para o diagnóstico de DRD: • Concentração de albumina ≥ 14 mg/L • Relação Albumina-creatinina ≥ 30mg/g • Amostra de urina de 24 horas ≥ 30mg/24 h Tratamento: • Normal: solicitar RACur anualmente. • Nefropatia incipiente: Tratar hipertensão se existir, considerar inibidores enzima de conversão (enalapril, captopril) e/ou bloqueador receptor de angiotensina 1 (losartan), e verificar potássio sérico. • Nefropatia clínica: Se não houver retinopatia, encaminhar ao nefrologista para excluir outras formas de nefropatia, tratar hipertensão com IECA e/ou BRA. • Verificar creatinina: se 2,5 mg/dl encaminhar ao Nefrologista. • Manter controle glicêmico intensivo. Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 8 de 20 NEUROPATIA Complicação crônica mais comum, 40% dos pacientes apresentam alguma forma de neuropatia. • Polineuropatia simétrica distal sensitivo- motora • Neuropatia focal • Neuropatia autonômica Fatores de risco: Mau controle glicêmico, duração do diabetes, alcoolismo, idade, tabagismo, hipertensão, sexo masculino. Rastreamento: Questionar presença de dor, parestesias, insensibilidade extremidades, fraqueza muscular, tonturas posturais, incapacidade de perceber hipoglicemia, diarreia, náuseas, vômitos, disfunção esfincteriana, disfunção sexual. Examinar pressão em pé e deitado, sensibilidade dos pés com monofilamento de 10 g, reflexos miotáticos e sensibilidade vibratória (diapasão). Tratamento polineuropatia simétrica distal: - Sintomático: Analgésicos (AAS e Paracetamol); carbamazepina; antidepressivos tricíclicos; fenotiazínicos; capsaicina tópica. - Educação paciente quanto à insensibilidade. - Calçados especiais, emolientes para os pés e fisioterapia. MACROANGIOPATIA Cardiopatia isquêmica: 7,5% homens e 13,5% mulheres entre 45 e 60 anos. Aterosclerose das Coronárias Principais (angina, infarto do miocárdio, morte súbita) e Doença Coronariana de Pequenos Vasos (insuficiência cardíaca, arritmias, morte súbita). Doença Cerebrovascular: 4,8% entre 45 e 60 anos, 12,7% entre 65 e 74 anos. Doença Vascular Periférica: 8% no diagnóstico de DM2, 45% após 20 anos. Fatores de risco associados: Hipertensão, dislipidemia, obesidade, tabagismo, idade. Rastreamento: Pesquisa de pulsos arteriais nas extremidades e carótidas e de sopros carotídeos nas consultas de rotina. Alterações de onda T e do segmento ST em ECG (solicitar anualmente). Pesquisar fatores de risco. Opções terapêuticas nos casos já instalados (atendimento especializado): Antiagregantes plaquetários (AAS 100- 300 mg/dia), hipolipemiantes, Pentoxifilina, cilostazol, Nitratos, Bloqueadores de cálcio, Beta- bloqueadores cardioseletivos, clopidogrel, cirurgia de revascularização. Fonte: https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/files/ssaude/ pdf/prot-hip-diab-cap-14.pdf 4. Explicar a fisiologia do equilíbrio ácido-base; A regulação do equilíbrio dos íons hidrogênio é, em alguns aspectos, semelhante à regulação de outros íons no organismo. Além do controle feito pelos rins, existem outros mecanismos de tamponamento acidobásico envolvendo o sangue, as células e os pulmões, que são essenciais para a manutenção das https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/files/ssaude/pdf/prot-hip-diab-cap-14.pdf https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/files/ssaude/pdf/prot-hip-diab-cap-14.pdf Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 9 de 20 concentrações normais dos íons hidrogênio nos líquidos extra e intracelular. O pH normal do sangue arterial é de 7,4, enquanto o pH do sangue venoso e dos líquidos intersticiais é de cerca de 7,35 devido ao dióxido de carbono liberado dos tecidos para formar ácido carbônico. O indivíduo apresenta acidose quando o pH cai abaixo de 7,4 e alcalose quando o pH aumenta de 7,4. Três sistemas primários regulam as concentrações de íons hidrogênio para evitar o desenvolvimento de acidose ou alcalose: os sistemas químicos de tampões acidobásicos dos líquidos corporais; o centro respiratório que regula a remoção de dióxido de carbono e, portanto, de ácido carbônico; e os rins, que têm a capacidade de excretar urina ácida ou alcalina durante a acidose ou a alcalose. Um tampão é qualquer substância capaz de ligar-se reversivelmente a íons hidrogênio. O gás carbônico e a água combinam-se reversivelmente para formar ácido carbônico, em um sistema de equilíbrio químico com a presença da enzima anidrase carbônica. Existe uma relação matemática definida entre a proporção das concentrações dos elementos ácidos e básicos de cada sistema tampão e o pH da solução. Essa relação para o sistema tampão bicarbonato é dada pela equação de Henderson-Hasselbalch. As proteínas são importantes tampões intracelulares, como a hemoglobina nos eritrócitos. Na regulação respiratória, o aumento na ventilação elimina o gás carbônico do líquido extracelular, o que reduz a concentração de íons hidrogênio. Inversamente, a diminuição da ventilação aumenta o gás carbônico e, assim, também aumenta a concentração de íons hidrogêniono líquido extracelular. Consequentemente, o aumento na concentração de íons hidrogênio estimula a ventilação alveolar através da sensibilização do centro respiratório. Os rins regulam a concentração de íons hidrogênio do líquido extracelular através de três mecanismos básicos: secreção de íons hidrogênio, reabsorção de íons bicarbonato filtrados e produção de novos íons bicarbonato. Na acidose, há excreção aumentada de íons hidrogênio e adição de íons bicarbonato ao líquido extracelular. Na alcalose, há secreção tubular diminuída de íons hidrogênio e aumento da excreção de íons bicarbonato. Fonte: Resumo do Tratado de Fisiologia Humana – Guyton E Hall (ler o capítulo oficial) 5. Estudar epidemiologia, etiologia, fatores de risco, fisiopatologia, quadro clinico, diagnóstico, diagnóstico diferencial e tratamento da cetoacidose; A cetoacidose diabética (CAD) é uma complicação grave que pode ocorrer durante a evolução do diabetes mellitus tipos 1 e 2 (DM1 e DM2). Está presente em cerca de 25% dos casos no momento do diagnóstico do DM1 e é a causa mais comum de morte entre crianças e adolescentes com DM1, além de ser responsável por metade das mortes nesses pacientes com menos de 24 anos. Em um grande estudo nacional, o Brazilian Type 1 Diabetes Study Group (BrazDiab1SG), que avaliou 3.591 pacientes com DM1 (56% do sexo feminino) de instituições de atendimento público, o diagnóstico de DM1 realizado por meio da CAD foi de 42,3%. Um estudo recente demonstrou que os valores elevados de hemoglobina glicada (HbA1c) são preditores de CAD em crianças e adolescentes com menos de 18 anos, concluindo que o controle glicêmico insatisfatório em longo prazo se relaciona com o seu diagnóstico independentemente de fatores demográficos e socioeconômicos. Nesse contexto de dados do BrazDiab1SG com quase metade (47,5%) dos pacientes com DM1 apresentando (HbA1c) ≥ 9%,9 a CAD acaba tendo ainda maior importância no Brasil. A CAD moderada e grave deve ser tratada em Unidade de Terapia Intensiva e, fundamentalmente, por profissionais habilitados para esse tipo de complicação. É importante salientar que, durante muitos anos, considerou-se a CAD uma complicação específica do DM1. Entretanto, a literatura tem publicado vários relatos de CAD em indivíduos com DM2, inclusive em idosos acima de 70 anos. Antes do advento da insulina, a taxa de mortalidade da CAD oscilava em torno de 90%. Da década de 1950 em diante, com a evolução de todo o arsenal terapêutico, como antibioticoterapia, a ênfase no processo de hidratação, o controle eletrolítico e o uso de insulina regular, essa taxa foi reduzida para aproximadamente 10%. Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 10 de 20 Atualmente, em centros de excelência no tratamento de CAD, a mortalidade geral é inferior a 1%, mas podendo ser > 5% em indivíduos mais velhos e com doenças graves, e, quando evolui com edema cerebral, pode atingir 30% ou mais. As principais causas de morte por CAD são edema cerebral, hipopotassemia, hipofosfatemia, hipoglicemia, complicações intracerebrais, trombose venosa periférica, mucormicose, rabdomiólise e pancreatite aguda. O prognóstico depende das condições de base do paciente, com piora sensível em idosos, gestantes e aqueles com doenças crônicas. Fatores precipitantes Os estados infecciosos são a etiologia mais comum da CAD. Dentre as infecções, as mais frequentes são as do trato respiratório superior, as pneumonias e as infecções de vias urinárias. Além disso, na prática diária, é necessário valorizar outros fatores importantes, como acidente vascular cerebral (AVC), ingestão excessiva de álcool, pancreatite aguda, infarto agudo do miocárdio (IAM), traumas e uso de glicocorticoides. Dentre as drogas ilícitas, a cocaína pode ser a causa de episódios recorrentes de CAD em jovens. Os distúrbios psiquiátricos associados a irregularidades na condução da dieta ou no uso diário de insulina também podem contribuir para a CAD. A utilização crescente na prática psiquiátrica de compostos denominados antipsicóticos atípicos para o tratamento do transtorno de humor bipolar e da esquizofrenia (clozapina, olanzapina, risperidona e quetiapina, por exemplo) é capaz de aumentar o risco de distúrbios metabólicos, como ganho de peso, dislipidemia, DM, CAD e pancreatite aguda, sendo observados riscos maiores com a clozapina e a olanzapina e menores com a risperidona e a quetiapina. Atualmente, com o uso mais frequente de bombas de infusão contínua subcutânea de insulina ultrarrápida, tem-se observado aumento na incidência de CAD. Tal fato pode ocorrer em razão da obstrução parcial ou total do cateter, provocando redução aguda de infusão de insulina. Vale lembrar que a descompensação glicêmica costuma ser mais prolongada e mais grave em pacientes com DM1 recém-diagnosticados e idosos com diabetes associado a processos infecciosos ou com limitações no autocontrole físico ou psíquico. Fisiopatologia Na CAD, fundamentalmente, o que ocorre é a redução na concentração efetiva de insulina circulante associada à liberação excessiva de hormônios contrarreguladores, entre os quais o glucagon, as catecolaminas, o cortisol e o hormônio de crescimento. A deficiência de insulina pode ser absoluta, em pacientes com DM1, ou relativa, como observado em pacientes com DM2 na presença de estresse ou doenças intercorrentes. Em resumo, essas alterações hormonais na CAD desencadeiam o aumento da produção hepática e renal de glicose e a redução de sua captação pelos tecidos periféricos sensíveis à insulina, resultando em hiperglicemia e hiperosmolalidade no espaço extracelular. Portanto, a hiperglicemia é resultante de três mecanismos: ativação da gliconeogênese e da glicogenólise e redução da utilização periférica de glicose, principalmente nos músculos. A combinação de deficiência de insulina com aumento de hormônios contrarreguladores provoca a liberação excessiva de ácidos graxos livres do tecido adiposo (lipólise), os quais, no fígado, serão oxidados em corpos cetônicos (ácidos beta-hidroxibutírico e acetoacético) em um processo estimulado sobretudo pelo glucagon e devido ao aumento da relação glucagon/insulina e diminuição da atividade da malonil coenzima A, responsável por modular o transporte dos ácidos graxos livres para dentro da mitocôndria dos hepatócitos para oxidação no sistema microssomal. Assim, todo esse processo culmina em cetonemia e acidose metabólica. Finalmente, na CAD, observam-se desidratação e glicosúria de graus variáveis, diurese osmótica e perda de fluidos e eletrólitos. Os inibidores do cotransportador sódio-glicose 2(SGLT2), uma nova classe de antidiabéticos orais, cuja função é diminuir a glicemia plasmática ao inibir a reabsorção tubular renal de glicose, podem estar associados a CAD em pacientes com DM1 e DM2. Uma apresentação atípica de CAD que pode atrasar o diagnóstico e o início do seu tratamento, sendo descrita com o uso de Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 11 de 20 inibidores de SGLT2, é a denominada CAD “euglicêmica”, em razão de elevações discretas e moderadas na glicose sanguínea relatadas em alguns casos. Dados de estudos randomizados com inibidores do SGLT2 relataram baixa incidência de CAD em pacientes com DM2 (cerca de 0,07%), contudo o risco de CAD em uso inapropriado entre aqueles com DM1 é elevado (acima de 10%); 5% requerem admissão hospitalar para o seu tratamento. Os potenciais mecanismos de CAD com o uso de inibidores de SGLT2 foram relatados, incluindo o aumento do glucagon, a redução da dose diária de insulina requerida, a diminuição da supressão da lipólise, a cetogênese e a diminuição da excreção urinária decetonas. Diagnóstico História e exame físico O quadro clínico da CAD representa uma evolução lenta e progressiva dos sinais e sintomas de DM descompensado. Entre eles, citam-se poliúria, polidipsia, perda de peso, náuseas, vômitos, sonolência, torpor e, finalmente, coma. Ao exame físico, na presença de acidose, podem- se observar hiperpneia e, em situações mais graves, respiração de Kussmaul. Desidratação com pele seca e fria, língua seca, hipotonia dos globos oculares, extremidades frias, agitação, face hiperemiada, hipotonia muscular, pulso rápido e pressão arterial variando do normal até o choque hipovolêmico podem ocorrer. A intensificação da desidratação dificulta e torna doloroso o deslizamento dos folhetos da pleura e do peritônio, sendo possível observar defesa muscular abdominal localizada ou generalizada, com quadro de dor abdominal presente em até 51% dos casos. Em alguns casos, são verificadas dilatação, atonia e estase gástrica, o que agrava o quadro de vômitos. O atraso no início do tratamento da acidose e da desidratação pode evoluir com choque hipovolêmico e morte. Achados laboratoriais A avaliação laboratorial inicial de pacientes com CAD deve incluir a determinação de glicose plasmática, fósforo, ureia, creatinina, cetonemia, eletrólitos, inclusive com o cálculo de ânion-gap, análise urinária, cetonúria, gasometria, hemograma e eletrocardiograma. Quando necessário, solicitam-se raios X de tórax e culturas de sangue e urina. A última recomendação da American Diabetes Association (ADA), datada de 2009, adota, como critério diagnóstico da CAD, glicemia sanguínea ≥ 250 mg/dL, porém alguns pacientes apresentam aumentos menores nos valores da concentração da glicemia sanguínea após a retenção ou diminuição da dose da insulina na presença de doenças que diminuem a ingesta alimentar. Em 1973, Munro e colaboradores relataram 211 episódios de CAD, 16 (7,6%) com glicemia sanguínea < 200 mg/dL, condição denominada, na época, de CAD euglicêmica. Essa apresentação é mais vista em gestantes com diabetes, pacientes com diminuição da gliconeogênese durante abuso do álcool e, mais recentemente, em uso de inibidores de SGLT2. Recentemente, Dhatariya e Umpierrez sugeriram a necessidade de revisar os posicionamentos de CAD com a mudança de critério para hiperglicemia ≥ 200 mg/dL. Em concordância, os critérios bioquímicos atuais revisados para o manejo da CAD em crianças e adolescentes da International Diabetes Federation (IDF) são: glicemia sanguínea > 200 mg/dL, sendo que, em casos raros, a glicemia pode ser < 200 mg/dL (CAD euglicêmica); pH de sangue venoso < 7,3 ou bicarbonato sérico < 15 mmol/L, além de cetonemia e cetonúria. A CAD é definida como grave quando evolui com pH de sangue venoso < 7, moderada entre 7 e 7,24 e leve entre 7,25 e 7,3. A maioria dos pacientes com CAD apresenta-se com leucocitose, verificada em até 55% dos casos, e pode traduzir apenas intensa atividade adrenocortical. O sódio sérico mostra-se abaixo do normal em 77% dos casos na CAD devido à transferência osmótica de líquidos do espaço intra para o extracelular, vômitos e, também, pela perda renal associada aos corpos cetônicos. No diagnóstico, o potássio sérico pode estar elevado em 37% dos casos, secundário à acidose, normal em 58% ou baixo em 5% dos casos, dependendo das reservas prévias nos espaços intra e extracelulares, além de exigir bastante cuidado durante o tratamento, pelo risco de arritmias ou até de parada cardíaca. Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 12 de 20 Os valores de fosfato plasmático podem encontrar-se normais (54% dos casos) ou aumentados (38% dos casos) no diagnóstico e tendem a diminuir com a terapia insulínica. A elevação da ureia e creatinina reflete a depleção de volume intravascular. Outros achados são hipertrigliceridemia e hiperamilasemia, as quais, quando acompanhadas de dor abdominal, podem sugerir o diagnóstico de pancreatite aguda. A seguir, o cálculo bioquímico do ânion-gap: Diagnóstico diferencial A cetose de jejum, a cetoacidose alcoólica, a acidose láctica pelo uso inadequado de fármacos como salicilatos e metformina e outras causas de acidose, com ânion-gap elevado, por exemplo, e insuficiência renal crônica, são facilmente diagnosticadas pela história clínica e avaliação laboratorial. Tratamento As metas do tratamento das crises hiperglicêmicas agudas são: • Manutenção das vias respiratórias pérvias e, em caso de vômitos, indicação de sonda nasogástrica; • Correção da desidratação; • Correção dos distúrbios eletrolíticos e acidobásicos; • Redução da hiperglicemia e da osmolalidade; • Identificação e tratamento do fator precipitante. Reposição de líquidos e de eletrólitos Para a correção da desidratação, na ausência de comprometimento das funções cardíaca e renal, deve-se indicar infusão salina isotônica de cloreto de sódio (NaCl) a 0,9%, em média 15 a 20 mL/kg na primeira hora, buscando-se restabelecer a perfusão periférica. A escolha subsequente de fluidos dependerá da evolução dos eletrólitos séricos e da diurese. Se o paciente evolui com sódio elevado (≥ 150mEq/L), deve-se prescrever solução salina hipotônica de NaCl 0,45%, em média, 10 a 14 mL/kg/h. Caso contrário, pode-se administrar solução isotônica de NaCl 0,9%. Durante a reposição volêmica inicial, alguns posicionamentos oficiais recomendam o uso de solução coloide a pacientes hipotensos. No entanto, a hipotensão ocorre por perda de solução de eletrólitos, então a reposição fisiológica ocorreria com solução cristaloide. Uma revisão da Cochrane não mostrou melhores resultados do uso de fluido coloide em relação à solução cristaloide. Com a função renal normal, ou seja, com débito urinário, inicia-se a infusão de 20 a 30 mEq/L de cloreto de potássio (KCl) 19,1% por hora, com a proposta de manter o potássio sérico entre 4 e 5 mEq/L. É importante comentar que esses pacientes, principalmente se evoluírem com falência cardíaca ou renal, devem ser continuamente monitorados, do ponto de vista hemodinâmico, para prevenir a sobrecarga de líquidos. Na prática, a fim de agilizar a reposição de potássio, um ponto ainda em debate é se a sua dosagem na gasometria venosa pode substituir a do plasma. Em estudo retrospectivo comparando a acurácia da mensuração da concentração de potássio feita na gasometria venosa (KGV) em relação ao potássio plasmático (KP), a diferença entre as médias foi de 1,13 mmol/L (p = 0,0005). Não houve associação significativa entre o pH e as glicemias e a diferença das médias de KGV e KP. Portanto, apesar de a dosagem de potássio na gasometria venosa ser tecnicamente mais rápida e fácil, ela não deve, na prática, substituir a dosagem plasmática. Insulinoterapia Para corrigir a hiperglicemia e a acidose metabólica, inicia-se a terapia com insulina. Os pontos de debate quanto à insulinoterapia são a insulina regular ou análogos de insulina ultrarrápida se a via de administração for subcutânea (SC), intramuscular (IM) ou por infusão intravenosa contínua. A insulina somente deve ser iniciada se o potássio for superior a 3,3mEq/L, devido ao risco de arritmias associado à hipopotassemia. Nos episódios mais graves de CAD, a via de escolha é a infusão intravenosa contínua de insulina regular, e a dose, em média, de 0,1 U/kg/h. Em casos leves ou moderados, pode-se utilizar insulina regular IM, a cada hora, ou análogos ultrarrápidos SC, a cada 1 ou 2 horas. Apesar de muitos estudos demonstrarem a mesma eficácia e segurança das vias SC e IM, estas são Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 13 de 20 recomendadas apenas em casos moderados ou leves. Vários estudos prospectivose aleatorizados após a década de 1970 demonstraram que não há vantagens no uso de altas doses de insulinas se comparadas às baixas doses. A utilização de baixas doses na terapia insulínica, associada à reposição de volemia, à correção de eletrólitos e à administração monitorada de soro glicosado com diminuição da glicemia, com a taxa menor que 50 mg/dL/h, têm apresentado excelentes resultados no tratamento de episódios graves de CAD em adultos. Em crianças, o uso de baixas doses de insulina (0,1 U/kg/h) nos protocolos de tratamento da CAD também demonstraram eficácia em relação às altas doses, com menor potencial de hipoglicemia e hipopotassemia. A dose de 0,1 U/kg/h vem sendo utilizada amplamente em crianças e adolescentes, contudo um recente estudo demostrou que o uso de doses muito baixas (0,03 e 0,05 U/kg/h) no tratamento inicial normaliza adequadamente os valores do ácido beta-hidroxibutírico. Em estudos prospectivos e aleatorizados, nos quais se compararam a eficácia e a segurança dos análogos lispro e asparte SC a cada hora ou a cada 2 horas e a glulisina IV, não houve diferenças significativas entre os grupos, inclusive no que diz respeito a doses totais de análogos utilizados, ao tempo de internação e de episódios de hipoglicemias. Uma metanálise avaliou o tratamento de CAD leve e moderada com análogo de insulina lispro SC de 1 a 2 horas em comparação ao grupo controle com infusão intravenosa de insulina regular em um total de 156 pacientes em quatro estudos. A média de duração para a resolução da hiperglicemia, a dose requerida, o número de dias de hospitalização e a quantidade de episódios de hipoglicemias foram similares, porém houve redução de 39% nos custos em um estudo que utilizou a lispro. Outro aspecto importante e a favor do uso de baixas doses de insulina é que, com a correção gradual da glicemia e, portanto, da osmolalidade, pode-se prevenir o edema cerebral clínico, sobretudo em jovens. Em um estudo com crianças em média de idade de 11 anos, com DM1, a infusão contínua intravenosa de insulina regular na dose padrão de 0,1 UI/kg/h foi comparada com a dose de 0,05 UI/kg/h. Não houve diferenças nas correções de glicemia e de pH sanguíneo entre os dois grupos nas 6 primeiras horas de admissão. De acordo com a ADA, o uso de bolus intravenoso de insulina regular no início do tratamento é desnecessário e não recomendado para crianças, em razão do aumento de risco de edema cerebral (A). Em adultos, há necessidade de mais estudos controlados e aleatorizados para que esse procedimento seja implementado de rotina. Com a evolução do tratamento, quando a concentração de glicose na CAD atingir 200 a 250 mg/dL, deve-se iniciar o soro glicosado a 5% associado à insulina regular intravenosa contínua ou SC a cada 4 horas até a resolução da CAD. Na prática, os critérios utilizados para definir o controle laboratorial da CAD incluem glicemias ≤ 200 mg/ dL, bicarbonato sérico ≥ 15 mEq/L e pH ≥ 7,3. Assim que o paciente conseguir alimentar-se e estiver bem controlado dos pontos de vista clínico e laboratorial, inicia-se a insulinoterapia basal com insulina humana de ação intermediária ou com análogos de insulina de longa ação, associada a múltiplas injeções de insulina regular ou análogos de insulina ultrarrápida antes das refeições. Bicarbonato A administração de bicarbonato de sódio intravenoso de rotina não demonstrou melhora clínica na resolução da acidose, duração do plano de tratamento e mortalidade em pacientes com CAD1, e geralmente não é recomendada, essencialmente em crianças. A recomendação do uso de bicarbonato de sódio se reserva a casos graves de pacientes adultos com acidose com pH < 6,9. Caso seja indicado, a dose preconizada em adultos é de 50 a 100 mmol, diluídos em solução isotônica de 400 mL para reduzir o potencial risco de hipocontratilidade cardíaca e arritmias. Atenta-se para a chance de hipocalemia durante a administração do bicarbonato de sódio. O uso de bicarbonato de sódio com pH > 6,9 não melhora o prognóstico. Os riscos de uso inapropriado são alcalose metabólica, acidose liquórica paradoxal, edema cerebral e anóxia tecidual. Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 14 de 20 Fosfato A hipofosfatemia leve é um achado comum e geralmente assintomático durante a terapia da CAD. Não está indicada a reposição de sais de fosfato de rotina, em parte devido ao risco de hipocalcemia, não havendo evidências suficientes que demonstrem a melhora do prognóstico quando em comparação com o não uso. Em raras situações de extrema depleção de fosfato, que podem evoluir com manifestações clínicas graves, como insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência respiratória aguda e outras condições clínicas associadas à hipóxia, a reposição adequada de fosfato torna-se imperiosa e geralmente evolui com bom prognóstico. Complicações As complicações mais comuns da CAD são hipoglicemia secundária ao uso inapropriado de insulina; hipopotassemia, devida à administração de doses inadequadas de insulina e/ou de bicarbonato de sódio; hiperglicemia secundária à interrupção de infusão de insulina sem cobertura correta de insulina subcutânea; hipoxemia; edema agudo de pulmão e hipercloremia por infusão excessiva de fluidos. O edema cerebral é uma complicação rara no adulto, mas pode evoluir com herniação de tronco cerebral e parada cardiorrespiratória; portanto, deve ser tratado prontamente com infusão intravascular de manitol a 20%. A correção gradual da glicemia e da osmolalidade pode prevenir o edema cerebral clínico. As doenças agudas rinocerebrais, denominadas de mucormicoses, também podem ocorrer, principalmente em imunossuprimidos. Insuficiência renal aguda, rabdomiólise e fenômenos tromboembólicos são incomuns, e, quando presentes, são secundários a desidratação grave. Em crianças, as complicações de CAD são raras, sendo o edema cerebral responsável por aproximadamente 0,5 a 1% nesse grupo. Os fatores de risco para o seu desenvolvimento durante a CAD são: paciente com DM1 recém- diagnosticado, bicarbonato baixo, baixa pressão parcial de CO2 e valores aumentados de ureia sanguínea. Outras complicações raras em crianças incluem trombose venosa profunda, trombose venosa cerebral, acidente vascular encefálico, rabdomiólise, pneumomediastino, edema pulmonar, pancreatite, sangramento digestivo alto e complicações cognitivas. Fonte: Diretrizes Sociedade Brasileira de Diabetes 2019-2020. 6. Conhecer os tipos de insulina e suas características farmacológicas; DM1 Os esquemas de insulinoterapia para pessoas com DM1 devem mimetizar a secreção fisiológica de insulina que ocorre em indivíduos sem diabetes. A estratégia de eleição é a terapia basal-bolus, que deve ser instituída precocemente, com múltiplas aplicações diárias de insulina (múltiplas doses de insulina – MDI) ou com a bomba de infusão de insulina (sistema de infusão contínua de insulina – SICI). Ao diagnóstico do DM1, os indivíduos apresentam insulinopenia e, portanto, encontram-se altamente propensos a evoluírem para a cetoacidose diabética (CAD), uma condição potencialmente grave, caracterizada por aumento de corpos cetônicos, acidose metabólica, hiperglicemia e distúrbios hidroeletrolíticos que resultam da diminuição acentuada da insulinemia e do subsequente aumento de substâncias contrarreguladoras, como catecolaminas, glucagon, cortisol e hormônio do crescimento. A insulinoterapia em esquema intensivo, seja por MDI ou SICI, constitui a terapêutica fundamental desde as fases iniciais da doença, em todas as idades. A estratégia de reposição de insulina, para pessoas com DM1, deve mimetizar a secreção fisiológica de insulina. Tradicionalmente, assume-se 50% da secreção comocomponente basal, ao longo de todo o dia, e os 50% restantes como componente prandial, em resposta às refeições. Deve-se usar insulinas basais para o componente basal, e insulinas prandiais para o componente prandial, preferentemente análogos de rápida ou ultrarrápida ação, com MDI ou SICI (ver tabela 1). Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 15 de 20 As necessidades diárias de insulina no DM1 podem ser estimadas a partir do peso corporal, tipicamente variando entre 0,4 U/kg/dia a 1,0 U/kg/dia. Doses maiores podem ser requeridas durante a puberdade, gestação ou infecções. Habitualmente, o componente prandial é dividido em três a quatro bolus pré- prandiais por dia, com aplicação 30 minutos antes do início da refeição para a insulina humana regular, 20 min antes do início da refeição para os análogos rápidos e imediatamente antes da refeição para os análogos ultrarrápidos. R1. Em pacientes com DM1 É RECOMENDADO iniciar o tratamento com insulina imediatamente após o diagnóstico clínico, para prevenir a descompensação metabólica e a cetoacidose diabética. Em situações de deficiência absoluta de insulina, como o DM1, a CAD pode se instalar de maneira rápida, especialmente na vigência de processos infecciosos, e o óbito pode ocorrer em poucas horas, mesmo após a admissão hospitalar. Portanto, visando à prevenção da CAD, a insulinoterapia deve ser instituída o mais rapidamente possível após o diagnóstico de DM1. Se a CAD já estiver instalada, a insulinoterapia deverá seguir um protocolo que priorize a correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos. R2. É RECOMENDADO utilizar esquemas de insulinoterapia que mimetizem a secreção de insulina, com o objetivo de atingir metas de controle glicêmico estabelecidas para a faixa etária. Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 16 de 20 R3. É RECOMENDADO que, em indivíduos com DM1, seja utilizado o tratamento intensivo com insulina basal e prandial, com múltiplas aplicações ou infusão subcutânea contínua de insulina. R4. Os análogos de insulina de ação longa DEVEM SER CONSIDERADOS para insulinização basal, por apresentarem menor variabilidade glicêmica e menor incidência de hipoglicemia noturna, em comparação com a insulina NPH. R5. Os análogos de ação ultralonga PODEM SER CONSIDERADOS para insulinização basal de pessoas com risco aumentado para hipoglicemia, por estarem associados à menor incidência de hipoglicemia e à maior flexibilidade. R6. Para a maioria dos indivíduos com DM1, É RECOMENDADO o uso de análogos de insulina de ação rápida ou ultrarrápida no esquema basal-bolus para reduzir o risco de hipoglicemia. R7. É RECOMENDADO que a insulina prandial seja administrada antes de cada refeição por ser superior à injeção após o início da refeição para o melhor controle da glicemia pós-prandial. R8. Quando houver incerteza em relação à ingestão alimentar e necessidade de flexibilização de horário, as insulinas ultrarrápidas PODEM SER CONSIDERADAS para aplicação após a refeição, por oferecerem vantagens em relação aos análogos de ação rápida. R9. É RECOMENDADO o sistema de infusão subcutânea contínua de insulina como opção terapêutica efetiva para a obtenção de controle glicêmico adequado, quando este não for possível de ser obtido com a terapia de múltiplas aplicações de insulina. R10. A reavaliação periódica das doses de insulina É RECOMENDADA para evitar a inércia clínica no tratamento. • O uso de insulina no DM2 deve ser considerado preferencial em situações clínicas agudas quando o paciente estiver internado. Em adultos não gestantes com diagnóstico recente de DM2, sem doença cardiovascular ou renal, assintomáticas, onde a HbA1c é > 9,0%, a terapia dupla com metformina associada à INSULINA deve SER CONSIDERADA para melhorar o controle glicêmico. Em adultos com DM2 sintomáticos (poliúria, polidipsia, perda de peso) e que apresentem HbA1c > 9% ou glicemia de jejum ≥ 250 mg/dl, a terapia à base de insulina é RECOMENDADA para melhorar o controle glicêmico, mesmo que de forma transitória. Em adultos com DM2 sem doença cardiovascular ou renal, em que a HbA1c permaneça acima da meta apesar da terapia tripla, a terapia quádrupla ou a terapia baseada em insulina estão RECOMENDADAS para melhorar o controle glicêmico. Em adultos com DM2 e doença cardiovascular estabelecida, com HbA1c acima do alvo apesar da terapia tripla, é RECOMENDADO o uso da terapia quádrupla com metformina, inibidor do SGLT2, GLP-1 RA e outro antidiabético ou terapia à base de insulina, para melhorar o controle glicêmico. Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 17 de 20 Fonte: https://diretriz.diabetes.org.br/insulinoterapia-no-diabetes-mellitus-tipo-1-dm1/ Definição A insulina é um hormônio anabólico sintetizado pelas células Beta (β), localizadas no interior das ilhotas de Langerhan do pâncreas endócrino. Sendo um hormônio polipeptídico, a insulina consiste em duas cadeias peptídicas (A e B) unidas por pontes dissulfeto, contendo 51 aminoácidos. Ela é produzida como um pró- hormônio, o qual é armazenado em grânulos no interior do aparelho de Golgi, onde sofre hidrólise proteolítica a fim de formar insulina e peptídeo C, sendo ambos secretados pelas células β de forma equimolar. A secreção de insulina, geralmente, é iniciada pelo aumento da concentração de glicose no sangue, mas pode, também, ser regulada pela presença de aminoácidos, outros hormônios e mediadores autônomos. Para ocorrer a secreção, a glicose é captada pelo transportador GLUT 2, presente na membrana das células β. Dentro das células β, a glicose sofre fosforilação por ação da glicocinase, e os produtos metabólicos resultantes desse processo entram na cadeia respiratória mitocondrial e sintetizam trifosfato de adenosina (ATP). Essa descarga de ATP nas células β, provoca um bloqueio dos canais de potássio e consequente despolarização celular adicionado ao influxo de cálcio. Tal aumento de cálcio intracelular, estimula a exocitose da insulina de forma pulsátil. Apresentação da insulina exógena As preparações de insulina injetáveis são divididas em quatro grupo, sendo elas de ação rápida, curta, intermediária e longa. As insulinas de ação curta e de ação rápida, como a insulina regular, são disponibilizadas em soluções transparentes, de pH neutro, podendo conter quantidades de zinco que visam aumentar o prazo de validade e melhorar a estabilidade do produto. A insulina NPH, também chamada de isófana, é de ação intermediária, sendo apresentada de forma combinada com a protamina (proteína isolada do esperma da truta arco-íris) em uma suspenção de zinco. Essa combinação permite o prolongamento do tempo necessário para a absorção da insulina e também confere certa turbidez. As insulinas de ação longa são transparentes e solúveis, sendo representadas pela glargina e pela detemir. Mecanismos de ação Depois que a insulina entra na corrente sanguínea, ela é difundida para os tecidos e se liga a receptores de membrana especializados, presentes nos tecidos insulino-dependentes, principalmente o fígado, o tecido adiposo e os músculos. Os receptores de insulina são altamente específicos, sendo o receptor integral composto por dois heterodímeros ligados de forma covalente, contendo uma subunidade alfa (α) totalmente extracelular e uma subunidade β, que contém uma tirosinocinase, em cada heterodímero. Quando uma molécula de insulina se liga às subunidades α, o receptor é ativado, mudando sua conformação, o que provoca uma aproximação das alças catalíticas das subunidades β opostas. Tal processo desencadeia a fosforilação dos resíduos de tirosina nas subunidades β e a consequente atividade proteica da tirosina cinase. Essa cinase fosforila diversasproteínas, sendo as primeiras, as de atracagem, os substratos do receptor de insulina (IRS). As moléculas de IRS ligam-se a outras cinases (como a fosfatidilinusitol-3-cinase) e as ativam, o que resulta em mais fosforilações. As IRS também podem se ligar a proteínas adaptadoras, como a de ligação do receptor de fatores de crescimento 2. A rede de fosforilações que ocorre na célula atua como segundo mensageiro da insulina, desencadeando diversos efeitos, sendo um deles, o deslocamento de transportadores de glicose, como o GLUT 4, para a membrana celular. Por meio desses processos, a insulina promove a síntese e o armazenamento de glicogênio, triglicerídeos e aminoácidos no fígado, músculos e tecido adiposo, os quais constituem os principais tecidos-alvos da insulina. Sendo assim, a insulina é extremamente importante para o crescimento celular e para o bom desempenho das funções metabólicas de amplos tecidos. Farmacocinética e Farmacodinâmica https://diretriz.diabetes.org.br/insulinoterapia-no-diabetes-mellitus-tipo-1-dm1/ Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 18 de 20 A insulina circulante exógena, a qual é semelhante a insulina regular exógena, tem meia- vida 3 a 5 min. As insulinas de efeito intermediário, como a NPH possuem meia-vida de cerca de 12 h e as de efeito longo, como a glargina, possuem meia-vida média de 24h. Existe várias associações de insulinas humanas pré-misturadas disponíveis a utilização, como 70% insulina NPH mais 30% de insulina regular ou 50% de cada uma. O uso de tais associações visa reduzir o número de injeções diárias e propiciar um efeito mais semelhante ao da insulina endógena no organismo. Porém, essas associações dificultam o processo de ajustar as doses individuais do regime de insulina. Os rins e o fígado representam os principais órgãos responsáveis pelo metabolismo e pela excreção da insulina, sendo, geralmente, o fígado responsável pela depuração de 60% da insulina circulante, visto que é o sítio terminal da veia porta. Já os rins, removem cerca de 35 a 40% do hormônio endógeno do sangue. Contudo, em pacientes com Diabetes Mellitus tratados com insulina por meio de injeções subcutâneas, a relação é invertida e os rins ficam responsáveis pela depuração de até 60% do hormônio exógeno. Indicações O diabetes mellitus tipo 1 caracteriza-se por uma destruição seletiva das células β do pâncreas e consequente deficiência grave ou total da produção de insulina. Nos pacientes com esse tipo de diabetes, o uso de insulina exógena é necessário para a manutenção da vida. O diabetes mellitus tipo 2 é caracterizado por uma resistência dos tecidos à ação da insulina, podendo ocorrer uma relativa deficiência na secreção do hormônio. O uso da insulina por esses pacientes não é essencial à sobrevivência, porém 30% ou mais dos indivíduos se beneficiam da insulinoterapia para o controle da glicemia. O padrão de tratamento com a utilização da insulina envolve duas injeções diárias. Porém, em alguns casos, é necessário um tratamento intensivo, no qual é necessária a monitorização frequente da glicemia e a utilização de três ou mais injeções diárias. O tratamento intensivo facilita alcançar o nível glicêmico médio recomendado pela ADA (American Diabetes Association) de 154 mg/dL ou menos (HbA1C ≤ 7%), visto que a glicemia média normal é de 115 mg/dL ou menos [HbA1C < 5,7%]. A insulina farmacológica pode ser administrada através de injeção subcutânea ou por meio de uma bomba de insulina que difunde de forma contínua o hormônio sob a pele. A utilização do tratamento intensivo tem mostrado significativa diminuição nas complicações microvasculares do diabetes, comparado aos indivíduos que recebem tratamento-padrão, a exemplo das retinopatias, nefropatias e neuropatias. Contraindicações Pacientes que apresentam: diabetes crônica, complicações microvasculares elevadas, idade avançada e inconsciência hipoglicêmica; estes pacientes não possuem recomendação para o tratamento intensivo. Vale ressaltar que o tratamento intensivo não diminui de forma significativa as complicações macrovasculares do diabetes. Efeitos adversos • Hipoglicemia: consiste na complicação mais comum da insulinoterapia. Geralmente é decorrente de um consumo inadequado de carboidratos, de esforço físico exacerbado ou de uma dose extremamente elevada de insulina. Os sinais e sintomas são representados por taquicardia, sudorese, tremor, fome e náuseas, o que pode evoluir para convulsões e coma. Por isso, é essencial que o paciente tratado com insulina, realize o consumo de pequenas quantidades de carboidrato entre os intervalos das doses do fármaco. • Cetoacidose diabética: é causada por reposição insuficiente ou inadequada de insulina em pacientes com diabetes tipo 1, principalmente, tendo como sinais e sintomas náuseas, vômitos, dor abdominal respiração profunda e lenta. É importante salientar que a cetoacidose diabética é uma emergência medica potencialmente fatal. • Alergia e resistência da insulina: são raras em pacientes que fazem uso da insulinoterapia. Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 19 de 20 • Lipodistrofia nos locais de injeção: atrofia do tecido adiposo subcutâneo no local de injeção, podendo ser prevenido ao variar os locais de injeção e corrigido por lipoaspiração. • Risco aumentado de câncer: relatado um aumento do risco de câncer em pacientes com resistência à insulina, pré-diabetes e diabetes tipo 2, associado à resistência a insulina e à hiperinsulinemia. Fonte: https://www.sanarmed.com/resumo- insulinoterapia-ligas 7. Elucidar os impactos da DM no ambiente familiar e a linha de cuidado da DM no SUS; O DM representa um desafio constante para muitas pessoas com dificuldade em aderir ao estilo de vida e às mudanças comportamentais necessárias para promover o controle eficaz da glicemia e prevenção de suas complicações. A comunicação centrada na pessoa tem sido associada à melhora no conhecimento a respeito da doença, no autocuidado, no controle glicêmico e na qualidade de vida. É importante incorporar uma avaliação psicossocial no atendimento de rotina e fazer os encaminhamentos necessários, em vez de esperar que ocorra uma deterioração do estado metabólico ou psicológico. Escalas de avaliação Escalas foram elaboradas para avaliar os comportamentos relacionados ao automanejo e os aspectos psicossociais do DM, algumas já traduzidas para o português e adaptadas para a população brasileira. https://www.sanarmed.com/resumo-insulinoterapia-ligas https://www.sanarmed.com/resumo-insulinoterapia-ligas Desordens nutricionais e metabólicas SP 1.1 – JÁ PODE NASCER ASSIM? Página 20 de 20 Rastreamento de comorbidades psiquiátricas A presença de comorbidades psiquiátricas, tais como depressão, ansiedade e desordens alimentares, tem sido associada consistentemente à não adesão ao tratamento medicamentoso, ao controle glicêmico inadequado e ao desenvolvimento de complicações relacionadas ao DM. O rastreamento de comorbidades psiquiátricas deve ser encorajado na atenção primária pela equipe de saúde, e precisa ser capaz de reconhecer quadros de depressão, ansiedade, diabetes distress e transtornos alimentares, diferenciando-os das dificuldades rotineiras relacionadas ao manejo do diabetes. O diabetes distress (DD) é uma resposta emocional à convivência com o DM, às preocupações específicas da experiência de lidar com uma doença crônica grave, complicada e exigente. Também pode surgir do impacto social do diabetes relacionados ao estigma, à discriminação ou à falta de entendimento das pessoas. Identifica-se a presença de DD quando os critérios para o diagnóstico dos transtornos psiquiátricosnão são atingidos. O impacto do DD não deve ser subestimado e precisa ser diferenciado dos transtornos psiquiátricos clássicos, por serem mais prevalentes. Intervenções psicossociais As intervenções psicossociais em pessoas com DM devem ser aplicadas por psicólogos com o objetivo de ajudá-las a melhorar sua condição de saúde. Geralmente abrangem áreas relacionadas às crenças, às estruturas cognitivas, aos problemas emocionais que impactam o bem- estar, além de comportamentos de autocuidado e estratégias de enfrentamento do estresse. R1 – É RECOMENDADO aos profissionais de saúde que façam um acolhimento colaborativo, com empatia e isenção de julgamento, centrado na pessoa com DM, para que esta possa desempenhar papel ativo no planejamento, no monitoramento e na avaliação das dificuldades e nos cuidados com sua condição metabólica. R2 – É RECOMENDADO que pessoas com DM, seus familiares e cuidadores, recebam atenção psicossocial quando identificados problemas que interfiram no controle da glicemia, na autogestão do cuidado e no estresse familiar, para promover a melhora da adesão ao tratamento e da qualidade de vida. R3 – DEVEM SER CONSIDERADAS a identificação e a intervenção no Diabetes Distress (DD) para melhorar o automanejo, o controle glicêmico e a adesão ao tratamento. R4 – Em pessoas com DM É RECOMENDADO diagnosticar e tratar a depressão, a ansiedade e o diabetes distress para melhorar o controle glicêmico. R5 – É RECOMENDADA a identificação do medo de hipoglicemia nas pessoas com diabetes, seus cuidadores, e nos pais de crianças com DM1 por interferir nas atividades diárias, no autogerenciamento do diabetes, no controle glicêmico e na qualidade de vida. R6 – É RECOMENDADO aconselhar os pais de jovens com DM1 a participarem do tratamento de seus filhos de forma corresponsável e oferecerem suporte, encorajamento e monitoramento do autocuidado, de modo que a transição da responsabilidade pelo tratamento do DM1 ocorra de maneira gradual e contínua no início da vida adulta.
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