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AULA 4 - REPUBLICA WEIMAR

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HIS 1308 - História do Mundo Contemporâneo - Leonardo de Carvalho Augusto 
 
Aula 4 – A República de Weimar: revolução e crise. 
Objetivo: 
 
Apresentar a situação da Alemanha no período entre as duas guerras mundiais. A República 
alemã sintetizou, de forma crítica, as tensões políticas e culturais que antecederam a guerra 
de 1939. 
 
1. Uma república e duas revoluções 
 
Era sábado. 15h do dia 9 de novembro de 1918. Em meio a uma multidão de 
operários e soldados reunidos no Portão de Brandenburgo, centro de Berlim, os membros 
do Partido Social-Democrata Alemão (SPD), iniciaram a “revolução” que levaria à 
proclamação da República e confirmaria o fim do Império. Duas horas depois, na 
prefeitura de Berlim, os comunistas, organizados em um grupo denominado Liga 
Espartaquista e apoiados pela ala esquerda do SPD, também deram início à sua revolução, 
proclamando a sua república. 
 [Foto: Phillip Scheidemann proclama a República da sacada 
do Reischtag. Sob os olhares atentos e ouvidos confusos da multidão em frente ao prédio do 
Parlamento.] 
 
A república da esquerda revolucionária alemã foi brutalmente atacada pelos 
republicanos do SPD. Com a ajuda dos restos do exército imperial alemão e as milícias 
chamadas de Freikorps, Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo - líderes do movimento 
Espartaquista - foram capturados. Em 15 de janeiro de 1919, ambos foram interrogados e 
mortos. 
Assim sendo, o modelo republicano resultou muito mais do fracasso do império do 
que uma consistente luta em defesa de uma causa democrática ou revolucionária. A 
aristocracia alemã, os grandes proprietários, o clero e os militares viam com desconfiança 
esse novo arranjo político, mas sabiam que essa seria a única solução capaz de aplacar as 
massas que se manifestavam nas ruas. Assim, a revolução republicana alemã foi, 
paradoxalmente, conduzida por grupos sociais que desconfiavam da forma republicana de 
governo. 
O Estado que se originou dessa “revolução” se tornou conhecido pelo nome de 
República de Weimar. Embora conservadora em muitos aspectos, a república deu origem a 
diversas pequenas e verdadeiras revoluções: nas artes, nas ciências, na educação e no 
direito; e floresceu uma geração de intelectuais brilhantes que muito contribuíram para a 
redefinição dos paradigmas de conhecimento em suas áreas. 
 
 
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2. Alicerces frágeis (novembro de 1918/agosto de 1919) 
 
No dia seguinte ao da proclamação da República, foi constituído um governo 
provisório com a finalidade de organizar as eleições para elaborar uma nova constituição. 
Dois meses depois, já em 1919, a primeira eleição republicana ocorreu e marcou a vitória 
do Partido Social Democrata com 38% dos votos. 
A Assembleia Nacional reuniu-se em uma pequena cidade chamada Weimar. Por um 
lado, o novo governo queria evitar as pressões populares que ocorriam na capital Berlim, e, 
por outro, a cidade evocava a tradição humanista alemã, uma vez que seu nome estava 
associado às obras de Goethe e Schiller. 
Em Weimar, a Assembléia se reuniu em 6 de fevereiro. Dias depois, Friedrich Ebert foi 
eleito presidente, tendo como chanceler Philipp Scheidemann. Em 23 de junho, após 
longos debates, o governo ratificou o Tratado de Versalhes. Em 11 de agosto a 
Constituição de Weimar, foi assinada pelo presidente Friedrich Ebert. Enquanto 
transcorriam os debates em Weimar, embates perduravam pelas demais províncias da 
Alemanha. Uma outra república, dessa vez inspirada no modelo soviético foi proclamada 
em Munique em 6 de abril. Rapidamente esse movimento foi abafado pelas unidades 
paramilitares do Freikorps e pelos remanescentes do exército regular. A queda da República 
Soviética de Munique radicalizou as posições políticas na região e contribuiu para o 
crescimento dos movimentos de extrema-direita na Baviera, incluindo a fundação - em 
1920- do Partido Nazista (NSDAP). 
 
A assinatura do Tratado de Versalhes selou o destino da república alemã. 
Idiossincraticamente, foi a certidão de nascimento e o pecado original de uma república 
sem republicanos. 
 
A concordância com os termos da paz punitiva colocados no Diktat serviu para 
alimentar uma constante propaganda antidemocrática e antiliberal que nutriu por anos o 
discurso da “punhalada pelas costas”, isto é, da traição dos representantes civis do governo, 
entre os membros da extrema-direita alemã. 
 
3. Tempos de Crise (agosto de 1923/dezembro de 1923) 
 
A República ficou sob ataque tanto da esquerda quanto da direita. A esquerda radical 
acusou o governo socialdemocrata de ter traído os ideais do movimento dos trabalhadores, 
impedindo uma revolução comunista. Vários grupos de extrema-direita se opuseram a 
qualquer sistema democrático, preferindo um Estado autoritário, como solução política 
para a nova Alemanha. 
 
A instabilidade política se manifestava especialmente através de tentativas de golpes e 
levantes militares que sinalizavam a perda do monopólio da violência por parte do 
Estado republicano. 
 
No início de 1919, a força da Reichswehr, o exército regular, foi estimada em 350.000. 
Sob os termos do Tratado de Versalhes, a Alemanha seria obrigada a reduzir suas forças 
armadas a um máximo de 100.000. 
Em março de 1920 foram emitidas ordens para a dissolução de diversas unidades 
militares. No entanto, seus comandantes estavam determinados a resistir à dissolução. O 
general Walther von Lüttwitz, comandante do Reichswehr Berlim, um fervoroso 
monarquista, solicitou ao Presidente Friedrich Ebert e ao ministro da Defesa, Gustav 
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Noske parar todo o programa de redução de tropas. Quando Ebert recusou, Lüttwitz 
ordenou uma marcha em direção a Berlim. 
Cerca de 5 mil homens da segunda brigada da Marinha ocuparam a capital nas 
primeiras horas da manhã de 13 de Março e Wolfgang Kapp (um jornalista de direita) foi 
nomeado chanceler. Os quarteirões das repartições governamentais foram interditados 
pelas tropas rebeldes que, sob o comando do capitão Hermann Ehrhardt, marcharam 
desde Doberitz até a sede do poder republicano. 
 
 
 
[Alto! Quem passar será baleado] 
 
 
Diante do episódio do Putsch Kapp, o governo nacional fugiu para Stuttgart. Com a 
finalidade de derrotar o golpe, o Conselho de Ministros emitiu uma proclamação 
convidando os trabalhadores da Alemanha a fazer uma greve geral. O chamado recebeu 
apoio maciço. Com o país paralisado, o golpe desmoronou. 
Nos anos seguintes o principal foco de crise estava na economia. Em abril de 1921 a 
pressão dos países vencedores da guerra para que a Alemanha pagasse pelas reparações 
acordadas no Tratado de Versalhes se tornou mais enfática. 
Em maio 1921, o governo inglês exigiu reparações em ouro ou moeda estrangeira a ser 
pago em prestações anuais de 2 milhões de marcos-ouro. O primeiro pagamento foi pago 
em agosto de 1921. No entanto, como o valor da moeda alemã estava ancorado nas 
reservas em ouro esse pagamento deu início a um processo crescente de desvalorização 
cambial. 
A indenização total exigida era 132.000.000.000 marcos-ouro o que era muito mais do 
que o total das reservas de ouro ou de reservas cambiais disponíveis no país. A inflação foi 
de 41 % em junho de 1922 e 685 % em dezembro, um aumento de mais de 16 vezes. Em 
janeiro de 1923, as tropas francesas e belgas ocuparam a região industrial da Alemanha, no 
vale do Ruhr, para assegurar o pagamento das indenizações em mercadorias. A inflação 
atingiu o seu pico em novembro de 1923, mas terminou quando uma nova moeda (o 
Rentenmark) foi introduzida.
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 [Notas servindo como papel de parede: 
Alemanha 1923] 
 
[A hiperinflação de 1923: esta senhoraalimenta o fogo com cédulas porque o valor 
delas não é suficiente para comprar o mínimo 
de lenha] 
 
 
 
 
 
 
O Rentenmark substituiu a antiga moeda e 12 zeros foram cortados do valor de face 
da nova moeda. Ao mesmo tempo, o governo alemão abandonou o padrão-ouro e optou 
por lastrear sua moeda em títulos indexados a preços de mercado; por fim, a reforma 
monetária criou um novo banco, o Rentenbank, que controlava as emissões de Rentenmark. 
Nesse período de extrema turbulência mais um golpe (Putsch) ocorreu. Em 
novembro de 1923, o governo da Baviera, sediado em Munique, apresentava claras 
discordâncias com o regime republicano. Após a ocupação do vale do Ruhr, um conjunto 
heterogêneo de forças políticas se reuniu em Munique com a intenção de iniciar uma 
rebelião contra Berlim. Na noite do dia 8 estava marcado um pronunciamento político do 
governo bávaro. Nessa oportunidade, membros do Partido Nacional-Socialista dos 
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Trabalhadores Alemães (NSDAP), armados e infiltrados na platéia, aprisionaram os 
membros do governo e convocaram uma marcha sobre Berlim. 
Devido à oposição da polícia e das forças armadas o Golpe da Cervejaria foi um 
fracasso. Tropas entraram em conflito com os golpistas, matando cerca de 16 pessoas e 
prendendo parte da cúpula do partido, inclusive Hitler. Indo a julgamento, o futuro Führer 
foi condenado e cumpriu alguns meses na prisão. No ócio prisional escreveu o livro Mein 
Kampf. 
 
 
4. Os anos dourados (1923 – 1929) 
 
Gustav Stresemann foi a figura emblemática do período de estabilização da 
República de Weimar. Chanceler durante 100 dias no ano de 1923 e, em seguida, ministro 
das Relações Exteriores de 1923 até 1929, Stresemann representou as forças da moderação 
e da estabilidade. Ele trouxe a Alemanha de volta à comunidade internacional e através da 
diplomacia garantiu condições que fizeram desses anos uma fase de ouro para a república. 
Como ministro das relações exteriores. Stresemann contribuiu para a criação do Plano 
Dawes (1924). Segundo este acordo entre os bancos americanos e o governo alemão, 
empréstimos americanos em dinheiro seriam feitos para que a Alemanha pudesse pagar 
pelas reparações de guerra. 
Em 1926 a Alemanha foi admitida na Liga das Nações, como membro permanente, 
melhorando sua posição internacional. As reformas promovidas por Stresemann não 
aliviaram as deficiências fundamentais de Weimar, mas deram a aparência de uma 
democracia estável. 
A década de 1920 viu o renascimento cultural da Alemanha. O cabaré e a banda de 
jazz se tornaram populares. Mulheres passaram a usar maquiagem forte, cabelos curtos e a 
fumar. Um novo tipo de arquitetura e de arte passaram a ser ensinadas em escolas 
experimentais como a Bauhaus. O expressionismo marcou o elemento visual dessa 
“renascença“ alemã. 
Nem todos, porém, estavam felizes com as mudanças. Muitos setores da sociedade 
alemã sentiam uma “perda” de valores tradicionais na adoção de estilos populares ou de 
costumes estrangeiros, nomeadamente aqueles trazidos pela indústria cinematográfica 
americana. Esse sentimento de “perda” alimentava uma intransigente retórica nacionalista. 
No entanto, o grande problema alemão não estava na forte presença cultural 
americana no país, mas sim na crescente dependência financeira de Wall Street. A morte de 
Stresemannn em outubro de 1929 foi, junto com a quebra da bolsa de Nova York, a marca 
do retorno para a crise. 
 
 
Questões para debate: 
 
George Grosz foi um dos mais importantes artistas do movimento dadaísta, ativo 
em Berlim entre 1917 e 1920. Junto com Max Beckman e Otto Dix formou o núcleo do 
grupo expressionista Nova Objetividade. Em suas obras analisa criticamente a situação 
política e social da República de Weimar. 
Considerando a leitura da aula e a imagem abaixo identifique e discuta com seus 
colegas elementos que caracterizam a turbulenta vida da Alemanha do entreguerras. 
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 [Georg Grosz. Os pilares da sociedade.] 
 
Bibliografia: 
AARÃO REIS, Daniel.(org.) O século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 
2000. 
ELIAS, Norbert. Os alemães: a luta pelo poder e a evolução do habitus nos séculos XIX e XX. 
Editado por Michael Schröter; tradução, Álvaro Cabral; revisão técnica, Andréa Daher. – 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. 
GAY, Peter. A Cultura de Weimar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978. 
HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos. São Paulo: Cia das Letras. 1995. 
LOUREIRO, Isabel Maria. A Revolução Alemã 1918-1923. São Paulo: Editora UNESP, 
2005. 
TEIXEIRA, Francisco Carlos. “Cultura operária e resistência antifascista no ocaso da 
República de Weimar (1919-1933)”. In: Fascismos: conceitos e experiências. PARADA 
Maurício.(org) Rio de Janeiro: Mauad X, 2008. Pp. 125-169. 
THALMANN, Rita. A república de Weimar. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.1988. 
 
Para saber mais: 
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,890198_page_2,00.html 
http://www.tatsachen-ueber-deutschland.de/pt/historia-e-presente/maincontent- 
03/1919-1933-a-republica-de-weimar.html

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