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1 ANA PAULA – MED UNIMES XXII INFECTOLOGIA Tuberculose pulmonar Caso clínico Identificação: Paciente de 27 anos, sexo mas- culino, natural de São Paulo, procedente de São Vicente, auxiliar administrativo QD: tosse há 1 mês HPMA: Paciente refere que a cerca de 1 mês iniciou com tosse seca que evoluiu para tosse produtiva, associado a febre principalmente à noite e sudorese. Na última semana abriu quadro de dispneia progressiva. ISDA: perda de 7 Kg nos últimos 2 meses AP: Tabagista 5 anos-maço. Uso esporádico de maconha Sinais vitais: FC 90 bpm, FR 28 rpm, PA 120x80, Saturação de O2 93%, temperatura 37,5°C EF: REG, descorado 2+/4, desidratado 2+/4, emagrecido, consciente e orientado em tempo e espaço BRNF em 2T s/as MV+ diminuídos em HTX superior direito Abdome flácido, indolor, RH+, s/visceromega- lias, DB – Extremidades quentes, tempo de enchimento capilar > 2 segundos, sem edemas Hipótese diagnóstica: Tuberculose. A diferença desse caso para o caso da pneu- monia é o tempo de evolução da doença, emagrecimento, idade do paciente (27 anos, não é comum de ter pneumonia), febre e su- dorese noturna. Diagnóstico diferencial: Neoplasia pulmonar (também é um quadro arrastado que apresenta emagrecimento) Histórico • Tuberculose (TB) – conhecida como tísica • Século XIX – peste branca Dizimou centenas de milhares de pes- soas no mundo todo • Século XX – queda na incidência e mor- talidade relacionadas as melhores condi- ções de vida (com o aumento da urbani- zação) • Várias personalidades importantes morre- ram de tuberculose, portanto, tinha um grande impacto na sociedade • Anos 80 – recrudescimento global da TB HIV Urbanização descontrolada Desestruturação dos serviços de sa- úde e dos programas de controle de TB “A TB é uma doença que pode ser preve- nida e curada, mas ainda prevalece em condições de pobreza e contribui para per- petuação da desigualdade social” No mundo • Em 2015 – 10,4 milhões de pessoas desen- volveram TB • 1,4 milhões de óbitos • Doença de sub-notificação (esses núme- ros são subestimados) • Brasil, Índia, China, África do sul e Rússia – juntos somam > 50% dos casos de tuber- culose de todo o mundo 2 ANA PAULA – MED UNIMES XXII INFECTOLOGIA No Brasil • O Brasil está entre os 30 países de alta carga para TB e TB-HIV (co-infecção de tuberculose com HIV) • 71 mil casos novos em 2017 • Redução de 20% na incidência nos últi- mos 10 anos Amazonas e RJ são os estados brasileiros que contêm mais casos de tuberculose. O Brasil não possui uma epidemia generali- zada, mas concentrada em algumas popula- ções: Pessoas vivendo com HIV Em situação de rua Privadas de liberdade População indígena Pessoas que vivem em aglomerados e em situação de pobreza extrema (por isso que não se consegue erradicar, porque está relacionado com o qua- dro socioeconômico) Mas não se pode limitar a tuberculose como doença que acomete APENAS pessoas com condições socioeconômicas mais baixas. Quadro clínico O quadro clínico depende muito do tipo de apresentação. • PRIMÁRIA (CLÁSSICA): ✓ Ocorre logo após a infecção. ✓ Mais comum em crianças, insidiosa, febre baixa, sudorese noturna, nem sempre tosse. ✓ Forma grave, mas pouco transmissível. • PÓS-PRIMÁRIA: ✓ Ocorre apenas um período de latência – é uma reativação ✓ Tosse crônica (seca ou produtiva), febre vespertina, sudorese noturna e anorexia ✓ 80% forma pulmonar se apresenta com cavidade ✓ O adoecimento não confere imunidade, então pode-se ter vários casos de tuber- culose • MILIAR: ✓ É um quadro radiológico específico – pode acontecer na fase primária ou pós- primária. ✓ É uma disseminação hematogênica da tuberculose (para os 2 pulmões) ✓ Forma grave – característica em imunos- suprimidos Forma miliar no exame de imagem. Agente etiológico A TB pode ser causada por qualquer uma das sete espécies que integram o complexo Mycobacterium tuberculosis. ✓ M. tuberculosis – Bacilo de Koch (BK) M. bovis M. africanum M. canetti M. microti M. pinnipedi M. caprae Transmissão • Via aérea: pessoa com TB pulmonar / la- ríngea que elimina bacilos no ambiente (caso fonte) • Tosse, fala ou espirro • Bacilífero → baciloscopia positiva no es- carro 3 ANA PAULA – MED UNIMES XXII INFECTOLOGIA Uma pessoa com tuberculose é chamada de caso fonte. Essa pessoa elimina a bactéria através da tosse, fala ou espirro no ambiente. Essa pessoa é chamada de bacilífera (porque elimina a bactéria pela via aérea, através da tosse, fala e espirro). Essas gotículas liberadas, são chamadas de gotículas de Pflüger. Essas gotículas, no ambi- entem, tendem a evaporar e se transformam em núcleos de Wells em suspensão no ar. Outra pessoa pode inalar esses núcleos de Wells, alcança os alvéolos. Caso essa pessoa seja imunocompetente, irá conseguir controlar a infecção (por um nó- dulo). TB PRIMÁRIA: Se for imunossuprimido ou uma criança (que ainda está em fase de desenvolvimento da imunidade), não irão ter capacidade imuno- lógica para combater a infecção. Nesse caso, terá uma infecção primária. TB PÓS-PRIMÁRIA: Ocorre quando o paciente que teve contato com a micobacteria, nunca teve sintomas, porque o sistema imune conseguiu controlar. Mas quando, por algum motivo, se torna um imunossuprimido (ex: quando vai realizar um transplante de rim), irá ter reativação da in- fecção. TB MILIAR: Paciente entra em contato com a micobac- teria, mas é tão imunossuprimido que não tem sistema imunológico para controlar. Nesse caso, a infecção atinge a corrente sanguínea e pode causar a forma miliar da tuberculose. A forma latente pode ficar para sempre. Forma pós-primária: quando ocorre uma reativação da infecção ATENÇÃO: infecção por tuberculose é dife- rente de tuberculose doença (forma clínica). A probabilidade de uma pessoa ser infectada depende de fatores exógenos: ✓ Infectividade do caso fonte ✓ Duração do contato (pessoas que mo- ram com o caso fonte apresentam maior risco) ✓ Tipo de ambiente partilhado (ambi- ente fechado, frio, úmido, sem luz – ambiente propício para a infecção) Contudo, se o paciente irá ficar doente ou não, depende de fatores endógenos: ✓ Integridade do sistema imune – HIV ✓ < 2 anos (sistema imune imaturo) ou > 60 anos (imuno-senescência) O risco de transmissão normalmente é de até 15 dias após início do tratamento – importante saber esse dado para ver o tempo necessário de isolamento do paciente. Crianças tem baciloscopia geralmente nega- tiva, portanto, pouca importância na cadeia de transmissão – é difícil fazer diagnóstico em crianças, porque não conseguem escarrar. Outras formas • TB pleural • TB ganglionar • TB meningoencefálica • TB pericárdica • TB óssea Diagnóstico microbiológico • BACILOSCOPIA NO ESCARRO: ✓ Pesquisa do bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) pelo método de Ziehl-Nielsen no escarro – colhe 3 amostras em dias corri- dos para fazer a análise. ✓ O bom desse exame é que além de ver se o paciente tem ou não a doença (quali- tativa), também é quantitativo (fornece o número de bacilos por campo). ✓ É o exame mais utilizado hoje para o di- agnóstico de tuberculose. • TESTE MOLECULAR - GENEXPERT®: ✓ Também olha se tem bactéria no escarro, mas avalia o PCR nesse escarro (detecta o DNA) ✓ Sensibilidade superior à baciloscopia ✓ Capaz de detectar resistência ou sensibi- lidade à rifampicina (um dos tratamentos) 4 ANA PAULA – MED UNIMES XXII INFECTOLOGIA ✓ Reservado para adultos e adolescentes – menor sensibilidade em crianças (porque crianças não são bacilíferas)✓ Não deve ser usado em casos de retrata- mento – detecta bacilos mortos ou inviá- veis (porque irá captar o DNA da bactéria morta, pode perdurar por anos). • CULTURA PARA MICOBACTÉRIA: ✓ Pega o escarro e manda para cultura em um meio específico para micobactéria – ver se a micobacteria irá crescer nesse material. ✓ Fornece o perfil de sensibilidade para a bactéria (como se fosse um antibio- grama) ✓ Nos casos com baciloscopia negativa au- menta em até 30% o diagnóstico bacteri- ológico da doença ✓ Possibilidade de identificação de resistên- cia aos fármacos. • PPD: O PPD NÃO serve para diagnóstico de tuber- culose) É um exame em que se injeta a proteína tu- berculose na pele e, depois de 2 dias volta para medir a reação. O PPD serve apenas para saber se o paciente tem infecção pela tuberculose, mas não in- dica que a pessoa tenha a doença. Exemplo: um médico que frequenta muito o hospital pode apresentar PPD positivo, mesmo não tendo a doença, porque já teve muito contato com a bactéria. Em que caso se faz o PPD? Antes de transplantes por exemplo, para ava- liar o risco de que o paciente tenha a bacté- ria latente – nesse caso é feito uma profilaxia antes de imunossuprimir o paciente. Diagnóstico por imagem • RX DE TÓRAX: É o principal exame complementar para fazer o diagnóstico de TB. Deve ser realizado em todo paciente com suspeita clínica de TB pulmonar O que encontrará: cavidades, nódulos, con- solidações, massas, processo intersticial (mi- liar), derrame pleural e alargamento de medi- astino. Normalmente essas imagens são encontradas no ápice do pulmão. Nessa imagem, parece uma pneumonia, mas nesse caso não é na base, é no ápice. Caverna Miliar • TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DE TÓRAX: Realizada quando: ✓ Clínica de tuberculose, mas a radiografia é normal ✓ Imunossuprimidos (existem outras doenças em imunossuprimidos que a clínica é igual à tuberculose, mas a imagem é diferente). Árvore em brotamento: são brônquios ex- pandindo e no final está cheio de condensa- ção (destacado em amarelo). 5 ANA PAULA – MED UNIMES XXII INFECTOLOGIA O brônquio está espessado e possui uma ca- verna (em vermelho). Também apresenta uma bronquiectasia (brônquio dilatado). Padrão ouro para diagnóstico Padrão ouro é o exame que tem maior espe- cificidade, ou seja, se vier negativo, tem cer- teza de que não é a doença. O exame padrão ouro para diagnóstico de tuberculose é a análise histopatológica (bi- ópsia, quando feito de maneira correta). PADRÃO HISTOPATOLÓGICO: granuloma com necrose caseosa. CUIDADO: nem todo granuloma é tubercu- lose, pode-se ter outras doenças com granu- loma sem necrose no meio. Atentar para outros diagnósticos se não hou- ver necrose (como sarcoidose, silicose). Como é feito o diagnóstico na prática Mesmo sendo o padrão ouro, o anatomopa- tológico não é o primeiro exame. Primeiro é realizado a coleta do escarro. Esse escarro vai para a bacterioscopia (precisa de 3 amostras em 3 dias corridos, preferencial- mente em jejum) e também para o teste mo- lecular (apenas uma amostra é suficiente). Cultura: Demora muito tempo, por isso que é reser- vada para 2 casos: Diagnóstico difícil de fechar (cultura tem maior sensibilidade) Pacientes com histórico de tratamento prévio para tuberculose (porque como essa micobactéria já foi exposta a tra- tamentos anteriores pode ser resistente a determinados tratamentos, por isso que a cultura é feita, para mostrar a sensibilidade a antibióticos). Posteriormente, pode-se realizar exames de imagem, como RX e TC de tórax. O histopatológico é o último exame a ser re- alizado, apenas em casos de clínica seme- lhante com tuberculose, mas outros testes ne- gativos: Caso venha negativo → pesquisar ou- tras doenças (porque é o padrão ouro, ou seja, quando negativo, pode-se afirmar que com certeza a pessoa não tem a doença) Caso seja visto um granuloma com ne- crose caseosa → tratar tuberculose. A tuberculose miliar é pouco transmissível. Isso porque, para um paciente ser bacilífero é necessário ter uma resposta do sistema imune, através de citocinas inflamatórias e polimorfo- nucleares. Se o paciente não tem imunidade (imunossu- primidos), não vão ter uma resposta imune e, consequentemente, não irão reagir com tosse, espirro etc, portanto, não será bacilífero. Nesse caso, nenhum teste diagnóstico microbioló- gico será positivo. Dessa forma, o diagnóstico desse paciente é difícil (será feito com exames de imagem e amatomopatológico). Na maioria dos casos de TB miliar, ocorre em pacientes com HIV.
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