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T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 1 � T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) LAVA E PASSA, LAVA E PASSA... Rosinalva, 58 anos, trabalha como lavadeira e passadeira desde os 20 anos de idade, profissão que aprendeu com sua avó materna e com sua mãe. Orgulha-se muito disto, mas nos últimos dois anos não tem conseguido trabalhar muito bem, por dor, o que lhe tem ocasionado diminuição do número de trouxas lavadas e passadas durante a semana. Refere dor nos ombros, nos cotovelos, nos punhos, e em toda a coluna, principalmente durante os períodos de realização de sua tarefa laboral. Já procurou assistência médica, sendo diagnosticada com “tendinite”, medicada com AINH, e encaminhada para fisioterapia. Relata que melhora enquanto está fazendo, mas depois volta a doer tudo de novo. Preocupada com as mudanças da aposentadoria, Rosinalva resolve procurar um ortopedista, para “encostar” pelo INSS, pois ouviu dizer que toda a sua dor tem a ver com o seu trabalho. OBJETIVOS: (DORT 2012; Cartilha SBR 2011) 1. Caracterizar DORT/ antigo LER (conceito e epidemiologia). 2. Identificar os principais fatores de risco. 3. Descrever a investigação diagnóstica. 4. Reconhecer as situações que podem ser enquadradas como DORT, de acordo com a legislação. 5. Caracterizar as principais entidades relacionadas (síndrome miofascial; fibromialgia; síndrome complexa de dor regional). 6. Identificar a conduta na Atenção Básica de Saúde. 7. Descrever as medidas terapêuticas. 1. Caracterizar DORT (conceito e epidemiologia). CONCEITO DORT significa "Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho" (antigamente chamada de LER= "Lesões por esforços repetitivos"), sendo um T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 2 termo mais correto e amplo, envolvendo não apenas esforços repetitvos, mas outros tipos de sobrecargas no trabalho. Além disso, o antigo termo "lesão" significa dano bioquímico, celular ou tecidual que, muitas x, não pode ser demonstrado, apesar do pcte referir desconforto. São danos decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema musculoesquelético, e da falta de tempo para recuperação. LER/DORT não é considerada uma doença, mas um grupo de afecções do sistema musculoesquelético. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas de aparecimento insidioso, geralmente nos MMSS, tais como dor, parestesia, sensação de peso e fadiga. Sintomas semelhantes podem decorrentes de diversas condições não relacionadas às sobrecargas biomecânicas no trabalho, sendo resultantes de distúrbios reumáticos, hormonais, imunológicos, ortopédicos, metabólicos, infecciosos e neurológicos ⇒ Importante ajuda médica para dx preciso e tto adequado!!! Modelo biopsicossocial: afirma que os DORT não estão envolvidos apenas com fatores mecânicos (repetição, força, posturas), mas tbm a outros fatores (insatisfação no trabalho, depressão, ansiedade ou problemas pessoais). Tanto é que o termo LER/DORT é considerado inapropriado por algumas entidades médicas, pois sofre forte influência de fatores sociais, culturais e disputas trabalhistas (LER/DORT SBR, 2011). Recomenda-se que doenças antes agrupadas em uma única sigla LER/DORT sejam melhor identificadas, analisadas e tratadas, o que inclui como exemplos as tendinites, sd do túnel do carpo, sds miofasciais, fibromialgia, cervicalgias, cervicobraquialgias, lombalgias, lombociatalgias ⇒ De forma a garantir adequação científica da interpretação pericial, de uma Justiça atualizada e do melhor tto e da recuperação dos trabalhadores afetados (LER/DORT SBR, 2011). EPIDEMIOLOGIA Atualmente existe grande limitação no tto dos dados, tanto pela falta de padronização quanto pela subnotificação, principalmente nos países em desenvolvimento (como Brasil) (Tratado CM - Lopes). Alguns estudos apontam algumas atividades que estão mais relacionadas aos DORT: Soldadores e chapeadores de estaleiros; Trabalhadores industriais; T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 3 de linhas de montagem de embalagens; de manufatura; de entrada de dados; de abatedouros; de lavanderias; Digitadores; Costureiras; Passadeiras; Cozinheiras; Auxiliares de odontologia; Pedreiros; etc.. (Dor relacionada ao trabalho, MS, 2012). Dados 2002 INSS: 72% trabalhadores que receberam benefícios por incapacidade com sd cervicobraquial relacionada ao trabalho foram bancários. Distúrbios osteomusculares ocupacionais mais frequentes: Tendinites (particularmente do ombro, cotovelo e punho); Lombalgias; Mialgias (LER/DORT SBR, 2011). 2. Identificar os principais fatores de risco. Além das predisposições individuais/constitucional da pessoa (variações congênitas aparelho locomotor, enfermidades associadas, estresse, distúrbios psicológicos, estido vida), existem fatores organizacionais no ambiente trabalho não respeitados, que estão envolvidos com distúrbio osteomuscular: Treinamento e condicionamento (técnicas p/ execução tarefas) Local de trabalho adequado (piso, superfície, barulho, umidade, ventilação, temperatura, iluminação, distanciamentos, angulações, etc) Ferramentas, utensílios, acessórios e mobiliários adequados Duração das jornadas de trabalho Intervalos apropriados Posturas adequadas Respeito aos limites biomecânicos (força, repetitividade, manutenção de posturas específicas por períodos prolongados) ⁉ Portanto, quais são os trabalhadores mais vulneráveis? Qqr pessoa que realize trabalho mal executado ou que NÃO respeita os limites biomecânicos, juntamente com a predisposição constitucional (LER/DORT SBR, 2011). Segundo o livro Tratado de CM, LOPES: FATORES INDIVIDUAIS: Gênero (M>H); Idade (abaixo 40 anos, pois após essa idade há maior prevalência de doenças degenerativas); IMC e outros fatores individuais (↑ IMC e hábito fumar, p ex, estão associados a um maior desenvolvimento de DORT). T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 4 FATORES PSICOSSOCIAIS, ORGANIZACIONAIS E FÍSICOS DO TRABALHO: alto nível de estresse, falta suporte social, relações interpessoais e levantamento cargas pesadas no trabalho, p ex., associam-se a um maior desenvolvimento de DORT. Segundo "Dor relacionada ao trabalho, MS, 2012": Lembrar que: FRs não são independentes ⇒ Interagem entre si e devem ser sempre analisados de forma integrada, pois envolvem aspectos biomecênicos, cognitivos, sensoriais, afetivos e de organização do trabalho. 4 elementos se destacam na caracterização da exposição aos fatores "físicos" não organizacionais: Regiões anatômicas submetidas aos FR: Punho, cotovelo, ombro, mão, pescoço... Magnitude ou intensidade dos FR: Para carga musculoesqueletica, p ex., pode ser o peso do objeto levantado. Para características psicossociais do trabalho, pode ser percepção do ↑ carga de trabalho. Variação de tempo dos FR: Duração ciclo de trabalho, distribuição pausas, estrutura horários... Tempo de exposição aos FR: O tempo de latência das lesões e dos distúrbios pode variar de dias a décadas. Portanto, os grupos de FR para LER/DORT são: Posto de trabalho: pode forçar o trabalhador a adotar posturas, a suportar certas cargas e a se comportar de forma a causar ou agravar as afecções musculoesqueléticas. Ex.: mouse com fio curto demais, obrigando o trabalhador a manter o tronco para frente sem encosto e o membro superior estendido. Exposição a vibrações: podem causar efeitos vasculares, musculares e neurológicos. Exposição ao frio: pode ter efeito direto sobre o tecido exposto e indireto pelo uso de EPIs contra baixas temperaturas (ex.: luvas). Exposição a ruído elevado: pode produzir mudanças de comportamento. Pressão mecânica localizada: gera compressões de estruturas moles do sistema musculoesquelético. Posturas: possuem 3 carcaterísticas que podem estar presentes simultaneamente: T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 5 Posturas extremas: força limites da amplitude das articulações Força da gravidade: impõe ↑ carga Posturas que modificama geometria musculoesquelética e podem gerar estresse sobre tendões, músculos e outros tecidos e/ou ↓ tolerância dos tecidos Carga mecânica musculoesquelética**: inclui tensão, pressão, fricção, irritação. Carga estática**: presente quando um membro é mantido numa posição que vai contra a gravidade Invariabilidade da tarefa: implica monotonia fisiológica e/ou psicológica Exigências cognitivas: gera, p ex., ↑ tensão muscular Fatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho: são as percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de organização do trabalho. 3. Descrever a investigação diagnóstica. "Dor relacionada ao trabalho, MS, 2012", pág 4: Dx: como identificar um caso de LER/DORT 3.1 - Na Rede Assistencial da Atenção Básica: Coletar dados fornecidos pelo pcte, realizar EF, integrá-los com dados epidemiológicos e fazer uma hipóstese dx. A sequência a ser obedecida na anamnese é: História das queixas atuais Indagação sobre os diversos aparelhos Comportamentos e hábitos relevantes Antecedentes pessoais Antecedentes familiares Anamnese ocupacional (lembrar que não é atribuição exclusivamente médica) EF geral e específico (até aqui, muitas x já é possível determinar o dx) T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 6 Exames complementares e/ou avaliação especializada, se necessário Investigação do posto e/ou da atividade de trabalho in loco, se necessário 3.1.1 - História das queixas atuais Queixas + comuns: dor localizada, irradiada ou generalizada, desconforto, fadiga, sensação de peso, formigamento, dormência, sensação de ↓ força, edema e enrijecimento muscular, choque e falta firmeza mãos. Casos mais graves: sudorese excessiva mãos e alodínea (dor em resposta a estímulo não nocivo). Investigar: tempo de duração, localização, intensidade, tipo ou padrão, momentos e formas de instalação, fatores melhora e piora e variações no tempo. 3.1.2 - Indagação sobre os diversos aparelhos Atenção para: traumas, esforços musculares agudos, doenças tecido conjuntivo, artrites, DM, hipotireoidismo, anemia megaloblástica, neoplasias, AR, EA, esclerose sistêmica, polimiosite, gravidez e menopausa. Sempre indagar se a existência da doença explica o QC. 3.1.3 - Comportamentos e hábitos relevantes Para terem significado como causa, os fatores não ocupacionais devem ter intensidade e frequência similares às dos fatores ocupacionais ⇒ O que é raro!!! 3.1.4 - Antecedentes pessoais Considerar: traumas, fraturas e outras formas de adoecimento pregresso ⇒ pois podem desencadear ou agravar processos de dor crônica!! 3.1.5 - Antecedentes familiares Considerar: DM, distúrbios hormonais e “reumatismos”. 3.1.6 - Anamnese ocupacional*** Chamar atenção para: atividade que envolvam movimentos repetitivos, jornadas prolongadas, ausência de pausas periódicas, exigência de posturas desconfortáveis por tempo prolongado, exigência de produtividade, exigência de força muscular, identificação de segmentos do corpo com sobrecarga e maior grau de exigência, ritmo intenso de trabalho, ambiente estressante de cobranças de metas e falta de reconhecimento profissional, além da T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 7 constatação da existência de equipamentos e instrumentos de trabalho inadequados. Aqui é quando eu procuro os fatores de risco!!! Considerar tbm postos de trabalhos ocupados anteriormente. 3.1.7 - Exame físico do sistema musculoesquelético*** 1ª ETAPA: Inspeção Quando pcte está entrando, já podemos começar a inspecioná-lo. Avaliamos: formas de caminhar, de se sentar e se posicionar. Atentar-se para posições antálgicas ou cuidados especiais com certos segmentos afetador por dor. Objetivo inspeção: identificar posturas anormais, assimetrias, edemas, alterações cor da pele, deformidades, características de anexos (unhas e pelos). 2ª ETAPA: Palpação Objetivo: sentir consistência pele e tecidos moles (músculos). Alterações encontradas: nodulações (císticas ou não), zonas de contraturas em grupos musculares afetados, e o paciente pode referir sensibilidade dolorosa excessiva ao simples toque (alodínea). 3ª ETAPA: Manobras clínicas ⇒ Tenossinovite estenosante (“dedo em gatilho”): Ocorre nos tendões flexores superficiais dos quirodáctilos, geralmente na região da cabeça do metacarpo, que contém uma polia contensora. Um espessamento no tendão o leva a ficar encarcerado em flexão. Manobra: o destravamento ocorre com um esforço ativo ou passivo, produzindo um movimento súbito e um estalido acompanhado de dor. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 8 ⇒ Tenossinovite de De Quervain: Ocorre nos tendões abdutor longo e extensor curto do polegar. Manobra de Finkelstein: a mão deve ser fechada com os dedos envolvendo o polegar. A flexão radial do carpo provoca dor intensa na base do polegar, na altura do processo estiloide radial. ⇒ Epicondilite lateral (“cotovelo de tenista”): Decorre do envolvimento da origem dos tendões extensores do carpo. Teste de Cozen: manobra com o cotovelo fletido em 90º com a mão posicionada em pronação. A extensão do punho contra resistência provoca dor no epicôndilo lateral. ⇒ Epicondilite medial (“cotovelo de golfista”): Decorre do envolvimento da origem dos tendões flexores do carpo. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 9 Manobra: cotovelo fletido em 90º com a mão posicionada em supinação. A flexão do punho contra resistência provoca dor no epicôndilo medial. ⇒ Síndrome do pronador redondo: É a compressão do nervo mediano no antebraço pelo músculo pronador. Manobras: dor à palpação do músculo pronador. A percussão da região (manobra do Tinel) provoca parestesia na área do nervo mediano, isto é, do 1º à face radial do 4º quirodáctilo. ⇒ Tendinopatia do supra-espinhoso: No teste de Jobe, é feita a abdução dos braços em rotação interna com os antebraços estirados contra resistência, provocando dor no ombro no caso de lesão do tendão supraespinhoso. O examinador deve também observar a redução da força do membro afetado. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 10 ⇒ Síndrome do impacto: É a compressão do tendão supraespinhoso entre a cabeça do úmero e o arco acromial quando o braço é abduzido acima de 60º. Manobra: no teste do impacto ou teste de Neer, é feita a abdução passiva rápida do braço, estabilizando-se a escápula, o que produz dor no ombro. ⇒ Tendinopatia biciptal: Manifesta-se como dor na região anterior do ombro. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 11 Manobra de Yergason: cotovelos em flexão de 90º. A supinação contra resistência provoca dor na região anterior do ombro. ⇒ Síndrome do túnel do carpo: Na face ventral do punho, o nervo mediano e os tendões flexores dos dedos atravessam um túnel formado posteriormente pelos ossos do carpo e anteriormente pelo ligamento volar do carpo. Na tendinopatia dos tendões flexores ocorre compressão do nervo mediano. Manobra de Tinel: a percussão do ligamento volar provoca dor e parestesias na área do nervo mediano, isto é, do 1º à face radial do 4º quirodáctilo. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 12 ⇒ Tendinopatia do subescapular: No teste de Gerber, o cotovelo deve ser posicionado em flexão e o ombro em rotação interna, com o dorso da mão atrás da região lombar. O paciente refere dor e dificuldade para afastar a mão posteriormente. ⇒ Tendinopatia do infraespinhal: Manobra com o ombro abduzido em 90º e rodado externamente com a palma da mão voltada anteriormente, com o cotovelo fletido em 90º. A rotação externa contrarresistência provoca dor no ombro. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 13 ⇒ Tendinopatia biciptal: Na manobra de Speed, a flexão do braço contra resistência, com o antebraço totalmente estendido e a mão em posição supinada, provoca dor na região anterior do ombro. ⇒ Síndrome do desfiladeiro torácico: Decorre da compressão do plexo braquial, da artéria e da veia subcláviaquando da passagem pela fenda entre a clavícula e o gradeado costal (costela cervical) e entre as porções anterior e média do músculo escaleno. Teste de Adson: deve-se abduzir o braço com o cotovelo em extensão, promovendo leve rotação externa do ombro. A cabeça deve voltar-se para o lado examinado. No caso de compressão vascular, ocorre uma redução na impulsão do pulso radial. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 14 ⇒ Síndrome do túnel do carpo: No teste de Phalen, os punhos são posicionados em flexão e os dedos ficam estendidos. As mãos devem ser colocadas em oposição com as faces dorsais. Ocorrem dor e parestesias na área inervada pelo mediano. ⇒ Síndrome do túnel de Guyon: É diagnosticada com a compressão do nervo ulnar na passagem pelo carpo, entre os ossos pisiforme e o hámulo do hamato. A compressão ou a percussão (Tinel) da região provoca dor e parestesias na área inervada pelo ulnar, ou seja, o 5º e a face ulnar do 4º quirodáctilo. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 15 💡 NESTE MOMENTO DA CONSULTA, O MÉDICO JÁ PODE TER UMA HIPÓTESE DIAGNÓSTICA CONSISTENTE. SE HOUVER DÚVIDAS, O MÉDICO DEVE RECORRER AOS RECURSOS DA ATENÇÃO SECUNDÁRIA. � Percutir = Manobra de Tinel ⇒ Usada tanto na sd do pronador redondo quanto na sd túnel carpo, o que vai mudar é a localização da percussão. Precisa saber pra prova a descrição de cada manobra, o nome da manobra e a doença associada (Tutora Mariana). 3.1.8 - Exames complementares e/ou avaliação especializada, se necessário Os exames complementares serão pouco importantes na definição diagnóstica e, na grande maioria das vezes, utilizados para descartar dxs diferenciais e não p/ confirmação da hipótese. Antes de solicitar os exames, o médico deve se fazer as seguintes perguntas: qual é a hipótese diagnóstica? qual é o objetivo dos exames ou da avaliação especializada? Após a realização dos exames, o médico deve se fazer as seguintes perguntas: os achados dos exames complementares são compatíveis com os achados da história clínica e do EF? as alterações encontradas explicam todo o QC do paciente? qual é o significado da ausência de alterações nos exames? Descarta minha hipótese diagnóstica? T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 16 Ignorar alterações de exames complementares sem correspondência clínica. Ausência de alterações de exames complementares não descarta presença sintomas incapacitantes. NÃO solicitar provas de atividades inflamatórias, exceto nos casos em que há QC e EF compatíveis com doença reumática 4. Reconhecer as situações que podem ser enquadradas como DORT, de acordo com a legislação. "Dor relacionada ao trabalho, MS, 2012" Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho do MS (BRASIL, 1999b) e do Ministério da Previdência Social: • Síndrome cervicobraquial (M53.1); • Dorsalgia (M54.); • Cervicalgia (M54.2); • Ciática (M54.3); • Lumbago com ciática (M54.4); • Sinovites e tenossinovites (M65.); • Dedo em gatilho (M65.3); • Tenossinovite do estiloide radial (De Quervain) (M65.4); • Outras sinovites e tenossinovites (M65.8); • Sinovites e tenossinovites não especificadas (M65.9); • Transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso, o uso excessivo e a pressão, de origem ocupacional (M70.); • Sinovite crepitante crônica da mão e do punho (M70.0); • Bursite da mão (M70.1); • Bursite do olecrano (M70.2); • Outras bursites do cotovelo (M70.3); • Outros transtornos dos tecidos moles relacionados com o uso, o uso excessivo e a pressão (M70.8); • Transtorno não especificado dos tecidos moles relacionados com o uso, o uso excessivo e a pressão (M70.9); • Fibromatose da fáscia palmar: contratura ou moléstia de Dupuytren (M72.0); • Lesões do ombro (M75.); • Capsulite adesiva do ombro (ombro congelado, periartrite do ombro) (M75.0); • Síndrome do manguito rotador ou síndrome do supra espinhoso (M75.1); • Tendinite bicipital (M75.2); T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 17 • Tendinite calcificante do ombro (M75.3); • Bursite do ombro (M75.5); • Outras lesões do ombro (M75.8); • Lesões do ombro não especificadas (M75.9); • Outras entesopatias (M77.); • Epicondilite medial (M77.0); • Epicondilite lateral (cotovelo do tenista) (M77.1); • Outros transtornos especificados dos tecidos moles não classificados em outra parte (inclui mialgia) (M79.). Outras entidades não citadas nesse documento, mas muito frequentes: • Síndrome do impacto; • Síndrome do desfiladeiro torácico; • Síndrome do supinador; • Síndrome do pronador redondo; • Síndrome do interósseo posterior; • Síndrome do túnel do carpo; • Síndrome do túnel ulnar; • Síndrome do canal de Guyon; • Tenossinovite dos extensores e/ou dos flexores dos dedos e do carpo; • Tendinite do tendão de Aquiles; • Mialgias, distúrbio multitissular ou sintomas musculoesqueléticos inespecíficos; • Osteoartrite da articulação cromioclavicular, do punho, das articulações interfalangianas distais e/ou proximais, metacarpofalangiana, carpometacarpiana, do cotovelo, coxartrose, artrite do joelho (tibiofemoral ou gonartrose); • Síndrome do dedo branco, enfermidade da vibração. 3 entidades nosológicas relacionadas ao LER/DORT refletem processos crônicos de difícil controle sintomático: Síndrome dolorosa miofascial Fibromialgia Síndrome complexa de dor regional 5. Caracterizar as principais entidades relacionadas (síndrome miofascial; fibromialgia; síndrome complexa de dor regional). T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 18 5.1 - Síndrome dolorosa miofascial Definição: afecção álgica do aparelho músculo-tendíneo-ligamentar que acomete músculos, tendões, fáscias e ligamentos. Sintomas: dor e ↑ tensão dos músculos afetados. Presença de pontos dolorosos (pontos-gatilho) e bandas musculares. Quando estimulados ou pressionados, tais pontos reproduzem o padrão da dor referida. São considerados ativos quando presentes na área de referência da dor e latentes quando em áreas assintomáticas. Dependendo do grau de estímulo, os pontos-gatilho latentes podem tornar-se ativos. Os sintomas dolorosos crônicos são resistentes a várias formas de tto e frequentemente persistem mesmo quando os pacientes são afastados dos fatores que ocasionaram o QC. Etiologia e fisiopatologia: fadiga e isquemia muscular localizada devido à contração estática, repetições, posturas inadequadas e estresses emocionais parecem estar envolvidos em sua gênese. O desequilíbrio entre a demanda e a necessidade metabólica predispõe o aparelho à fadiga muscular e ao comprometimento de seu desempenho funcional. O espasmo é caracterizado pelo deslizamento concêntrico das fibras musculares, das extremidades tendíneas, em direção ao ventre muscular. Há desenvolvimento da tensão contínua sem relaxamento. Nos pacientes com LER/Dort, músculos acessórios são frequentemente solicitados para auxiliar a realização das atividades laborais. Ocorrendo fadiga e dor, o membro contralateral muitas vezes é utilizado na tentativa de compensar as disfunções do membro acometido. A fraqueza muscular está relacionada ao desbalanço entre a atividade que é requerida e a capacidade anatomo funcional dos músculos que estão envolvidos no movimento. As ações musculares compensatórias podem justificar a ampliação da área acometida ou mesmo do segmento primariamente não envolvido. As alterações no mecanismo de controle motor central resultam em desbalanço entre a atividade motora de contração e relaxamento dos músculos agonistas e antagonistas, podendo justificar o acometimento das cadeias musculares anterior e posterior, principalmente nos pacientes de maior gravidade e nos lesados crônicos. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 19 A síndrome dolorosa miofascial pode estar associada ou ser secundária a outras afecções musculoesqueléticas e metabólicas, como DM e o hipotireoidismo, inflamatórias e/ou infecciosas. Localização: os músculos cervicais, escapulares e osdo membro superior – como o trapézio, o bíceps braquial, os extensores e flexores do punho, os dedos da mão e os intrínsecos da mão – frequentemente são afetados. 5.2 - Fibromialgia É uma sd dolorosa crônica que afeta, preferencialmente, mulheres. Manifesta-se por dor nos 4 quadrantes, com sensibilidade dolorosa em determinados pontos (tender points), além de alterações do sono, rigidez muscular, fadiga crônica e sintomas autonômicos. Seu dx é de exclusao ⇒ Procurei tudo e não achei causa, daí eu dou dx!! A dor é considerada disseminada nas seguintes condições: quando atinge os lados esquerdo e direito do corpo OU quando atinge os segmentos acima e abaixo da cintura OU quando há dor axial (coluna cervical, tórax anterior, coluna torácica ou coluna lombar) OU quando há dor em pelo menos 11 dos 18 tender points à palpação digital com força de aproximadamente 4kg: occipitais, cervicais, trapézios, supra espinhais, segundas costelas, epicôndilos laterais, glúteos, grandes trocanteres, joelhos (lembrar que são dos dois lados). � Saber os critérios para dx de fibromialgia. Geralmente o pcte é poliqueixoso, sendo até, muitas vezes, discriminado pelo médico, o qual diz que isso é "problema psicológico" (tutora Mariana). 5.3 - Síndrome complexa de dor regional (SCDR) Conceito e etiologia: são condições álgicas associadas a anormalidades neurovegetativas. Sua etiologia é ainda polêmica. Sobre a etiologia: Há diferentes processos neuropáticos, centrais, periféricos e psicogênicos que podem produzir sinais e sintomas similares em diferentes doentes e que vários mecanismos fisiopatogênicos podem interagir no mesmo doente. Além disso, o papel da disfunção do SNAs na gênese da dor é questionável. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 20 Sintomas e sinais: dor, alodínea, hiperestesia, hiperpatia, hiperalgesia, alterações vasomotoras e sudomotoras, comprometimento da função muscular, amiotrofia, atrofia de pele, anexos, ossos e articulações, retrações músculo- tendíneas e articulares. A adoção do padrão autoalimentador de dor-imobilização-edema- alterações neurovegetativas-desuso-dor, quando cronificado, limita a função motora, causa alterações tróficas irreversíveis, compromete o humor, o sono, o apetite, as atividades familiares, sociais e profissionais. As variadas apresentações clínicas, a incerta fisiopatologia e a imprevisão quanto ao padrão evolutivo tornam o tto dessas entidades um desafio!! Classificação: distrofia simpático-reflexa ou síndrome complexa de dor regional tipo I, quando não há lesão nervosa, e síndrome complexa de dor regional tipo II, quando há lesão nervosa. A distrofia simpático-reflexa/ síndrome complexa de dor regional do tipo I é encontrada com frequência em pacientes com LER/Dort e é de difícil remissão. 6. Identificar a conduta na Atenção Básica de Saúde. � A conduta na atenção básica foi descrita com detalhes no objetivo 3! Dando continuidade: 6.1 - Conclusão diagnóstica T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 21 1ª hipótese: o paciente tem LER/Dort, apresentando determinadas formas clínicas. 2ª hipótese: o paciente tem LER/Dort e concomitantemente tem outro QC com sintomas musculoesqueléticos. 3ª hipótese: o paciente tem sintomas musculoesqueléticos não relacionados com o trabalho. 6.2 - Conclusão e encaminhamento Situação 1: Se pcte apresentar QC característico, com FR na anamnese ocupacional e o ramo de atividade é conhecido como de risco ⇒ CD: Notificar como LER/DORT ao Sistema de Informações de Agravos de Notificação (Sinan) e à Previdência Social, por meio da emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Situação 2: Se pcte apresentar QC característico, com FR na anamnese ocupacional e o ramo de atividade NÃO é conhecido como de risco ⇒ CD: Notificar como LER/DORT ao Sinan e à Previdência Social, por meio da emissão da CAT + Notificar aos órgãos de vigilância sanitária, p/ análise das condições de trabalho. Situação 3: Se pcte apresentar QC característico, sem FR na anamnese ocupacional e o ramo de atividade é conhecido como de risco ⇒ CD: Notificar como LER/DORT ao Sinan e à Previdência Social + Notificar aos órgãos de vigilância sanitária, p/ confirmar dx de LER/DORT. Situação 4: Se pcte apresentar QC característico, sem FR na anamnese ocupacional e o ramo de atividade NÃO é conhecido como de risco ⇒ CD: Apenas encaminhar o pcte p/ tto clínico e acompanhamento. Situação 5: Se pcte apresentar QC característico, dúvidas se há ou não FR na anamnese ocupacional e ausência de informação sobre o ramo de atividade ⇒ CD: Encaminhar o caso p/ Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (p/ elucidação da relação do QC com o trabalho). Situação 6: Se pcte apresentar QC característico, dúvidas se há ou não FR na anamnese ocupacional e o ramo de atividade é conhecido como de risco ⇒ CD: Notificar ao Sinan e à Previdência Social como LER/Dort. Situação 7: Se pcte NÃO apresentar QC característico ou se houver dúvidas e necessidade de avaliação especializada e/ou exames complementares ⇒ CD: Encaminhar pcte p/ referências de especialidades clínicas necessárias e/ou exames T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 22 complementares, conforme o Plano Diretor Regional (PDR) e a Pactuação Programada Integrada (PPI). Dependendo dos resultados dessa investigação mais aprofundada, investiga-se a etiologia ocupacional. � Lembrar que AR, EA, polimiosite e esclerose sistêmica podem produzir sintomas que podem exarcebar aqueles causados por LER/DORT!! Importante: • Estabelecer a causa e/ou o agravo entre trabalho e quadro clínico é uma tarefa multidisciplinar • Realizar uma boa e completa anamnese ocupacional não é papel apenas do médico • Os casos que forem notificados do SINAM devem ter a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) emitida, caso o paciente tenha vínculo empregatício vigente, regido pela CLT • O paciente, nesse caso acima, deve ser assegurado do Seguro de Acidente de Trabalho do INSS • O médico ou o serviço de saúde por abrir a Comunicação de Acidente de Trabalho ou fazer essa solicitação ao empregador, mesmo quando só suspeitar ⁉ Quem pode abrir o CAT (tutora Mariana)? O médico assistente ou qualquer profissional da área de saúde que esteja trabalhando no local. Tutora Mariana disse que precisa saber o seguinte sobre o tempo de afastamento e concessão auxílio doença: Previdência Social. Neste caso, há consequências diretas para o paciente, pois – a partir do reconhecimento de uma doença ocupacional pela Previdência Social e da incapacidade para o trabalho – ocorre a concessão de auxílio- doença por acidente de trabalho para os trabalhadores com necessidade de afastamentos por mais de 15 dias (auxílio-doença de espécie 91 – B91). A concessão de auxílio-doença por acidente de trabalho implica manutenção do recolhimento do fundo de garantia durante o afastamento do trabalho e estabilidade durante um ano após o retorno ao serviço. 7. Descrever as medidas terapêuticas. LER/DORT SBR, 2011: O tto depende sempre do diagnóstico preciso, de corrigir as causas no ambiente de trabalho e de instituir um plano terapêutico adequado. T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 23 Diversas são as modalidades terapêuticas: fisioterapia (eletroterapia e cinesioterapia), medicamentos, infiltrações, órteses (acessórios para fins terapêuticos tais como talas, protetores, cintas, coletes, etc) e reabilitação. A boa relação médico-paciente, a satisfação com a vida, a motivação pelo trabalho e as convicções do indivíduo são ingredientes essenciais para o sucesso terapêutico. Dor relacionada ao trabalho, MS, 2012: O tto não é exclusividade médica!! Deve ter uma equipe multiprofissional (fisioterapeuta, TO, enfermeiro, assistente social, psicólogo, profissional de terapias complementares e terapeuta corporal). Casos iniciais ⇒ tto menos complexo e abrangente; Casos crônicos ⇒ definir um programa de tto. Em qqr caso ⇒ prevenirrecidivas e/ou agravamentos. Os medicamentos devem ser prescritos de maneira cautelosa. Importante considerar o tempo de tto (principalmente quando as drogas são de alto custo). AINEs e analgésicos ⇒ Dor aguda e inflamação. MAS... se isolados, não são efetivos contra dor crônica. Nesses casos, devemos associar psicotrópicos (ADT e fenotiazínicos) ⇒ Efeitos analgésico e ansiolítico (estabilizando tbm o humor). Fisioterapia é primordial, tendo como objetivos o alívio dor, relaxamento muscular e prevenção de deformidades Recursos usados: eletrotermofototerapia, massoterapia e cinesioterapia (conjunto de exercícios terapêuticos que ajudam na reabilitação). A psicoterapia individual ou em grupo é essencial ⇒ Traz sentimento de amparo em suas insegurançasrelacionadas às consequências do adoecimento e às perspectivas de futuro e reinserção profissional. Terapia ocupacional (TO): e útil na conquista da autonomia dos pctes ⇒ Faz a avaliação, a indicação e a confecção de órteses de posicionamento, para a prevenção de deformidades. Terapias complementares: acupuntura, do-in, shiatsu. Atividades em grupo: permitem a reflexão do processo de adoecimento, a discussão sobre as dúvidas e as dificuldades enfrentadas no estabelecimento T6M2P3 - DORT e MEDICINA DO TRABALHO (Thaís Garcia) 24 do dx e do tto, proporcionando o estabelecimento dos limites e o resgate da cidadania. Procedimentos cirúrgicos: não têm se mostrado úteis nos casos de LER/Dort, pois podem evoluir para dor crônica de difícil controle.
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