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Metodos Alternativos de Resolução de Conflitos

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Unidade 0: Apresentação da Disciplina 
 
 
Primeiras palavras: 
 
 Em primeiro lugar, algumas considerações sobre o método de abordagem desta 
disciplina. 
 É comum os autores jurídicos justificarem a adoção de práticas legais baseados em 
proposições altamente abstratas. Cita-se, de regra, baseado em princípios constitucionais, 
a necessidade de tornar efetiva a justiça e manter a pacificação social. Embora a 
proposição seja verdadeira, dá-se por conhecido, da maioria das vezes de forma acrítica, 
os significados de “efetivar a justiça” e “manter a pacificação social”. 
 
 O método adotado nesta disciplina difere dessa abordagem. Sempre que possível, as 
práticas jurídicas serão interdisciplinarmente contextualizadas. Por exemplo, a adoção da 
Arbitragem, método alternativo de resolução de conflitos, penetrou o universo legal 
brasileiro em decorrência do processo de globalização. Necessidades, principalmente de 
ordem econômico, enfrentadas pelo Brasil a partir dos anos 80 do século passado, 
pressionaram o país a uma maior integração ao comércio e investimentos internacionais 
e a Lei da Arbitragem foi condição “sine qua non” para essa integração. Mas tal fato 
parece nunca ser mencionado na literatura jurídica. 
 
 Em segundo lugar, recomenda-se fortemente que o aluno acesse a biblioteca virtual 
online à sua disposição. Ao longo dos textos, hiperlinks, indicados pela mudança de cor 
nas palavras (como em "princípios constitucionais" acima e aqui referidos), estão 
inseridos em conceitos chaves mas, além disso, o aluno deve exercer sua autonomia e 
pesquisar sobre quaisquer temas que lhe despertem a curiosidade. A biblioteca representa 
parte da infraestrutura necessária ao desenvolvimento das habilidades requeridas do 
futuro profissional que prima pela excelência na formação. 
 
 A disciplina “Métodos alternativos de resolução de conflitos” foca as abordagens 
para soluções de controvérsias que apresentam características diferentes do processo 
judicial praticado nos tribunais. 
 O processo judicial (ou método heterocompositivo) é baseado no confronto de 
interesses, em que uma parte ganha na exata proporção em que a parte adversária perde. 
Este tipo de solução é chamada resultado de soma zero, em alusão à teoria dos jogos. 
Simplificadamente, seja “x” a representação financeira do resultado de uma demanda 
estabelecida na sentença. Então x – x = 0. O vencedor da demanda ganha “x”, pago pelo 
vencido. 
 Os métodos alternativos de resolução de conflitos adotam posicionamento diferente, 
em que o resultado final apresenta soma maior que 0 (ou x + y > 0, onde x corresponde à 
parte da sentença que beneficia uma parte e y o benefício da outra parte). Nesta visão, as 
partes atendem, pela decisão final, seus interesses no maior grau possível. Por isso, é dito 
que o conflito não é adversarial, mas autocompositivo, pois as partes procuram 
cooperativamente uma solução adequada para suas pretensões e que não impeça 
relacionamentos futuros. 
 O método que é expressamente proibido de adoção é autotutela, em que uma das partes 
toma para si a responsabilidade de fazer justiça, não raro, com emprego da violência física 
(predominância da vontade do mais forte sobre o mais fraco). 
 
 Dos métodos alternativos de resolução de conflitos (ou métodos autocompositivos), a 
negociação é o método mais simples, podendo ocorrer diretamente entre as partes 
envolvidas sem necessidade de atuação ou sequer conhecimento do Poder Judiciário. Um 
acidente de trânsito simples e sem gravidade pode ser resolvido de imediato se as partes 
assumem seus prejuízos de pequena monta ou se o seguro de uma cobre os danos da outra. 
Não ocorrendo consenso, pode-se apelar, então, para conciliação, classificado como 
método rápido e eficaz para solução de conflitos. Exemplo típico de conciliação são 
as reclamações efetuadas no e resolvidas pela intermediação dos PROCON´s. 
 A mediação apresenta características mais complexas frente à conciliação, pois inclui 
a ideia subjacente de desenvolvimento da noção de cidadania. Aqui, não existe a 
necessidade de solução da controvérsia; o objetivo primário é estimular o sujeito a 
desenvolver habilidades para solução de conflitos de modo geral, vistos que estes não são 
valorados como totalmente negativos, mas como elementos inerentes e necessários ao 
desenvolvimento social. 
 Tanto a conciliação quanto a mediação encontram forte incentivo do Ministério da 
Justiça e do Conselho Nacional de Justiça para que sejam integrados às funções cotidianas 
dos Tribunais e sejam sistematicamente empregados na solução de conflitos que 
envolvem direitos disponíveis ou infrações penais de menor potencial ofensivo (penas de 
até dois anos). 
 A arbitragem é um método alternativo de resolução de conflitos típico do mundo 
globalizado contemporâneo. Representa a privatização da justiça e pode atuar totalmente 
alheio ao poder judiciário ou à OAB (o árbitro necessita demonstrar habilidade técnica 
sobre o objeto da controvérsia em detrimento da formação jurídica). Por motivos de 
ordem econômica, é o único dos métodos alternativos inteiramente regulado por uma lei 
específica, a Lei de Arbitragem. 
 
 
Organização do curso 
 
 
 O curso está dividido em oito unidades, quais sejam (os títulos são autoexplicativos): 
 
 Unidade 1: Breve Histórico dos Métodos Alternativos de Resolução de Conflitos 
 Unidade 2: Conceito e Classificação dos Métodos Alternativos de Resolução de 
Conflitos 
 Unidade 3: Negociação 
 Unidade 4: Conciliação 
 Unidade 5: Mediação 
 Unidade 6: Arbitragem 
 Unidade 7: Arbitragem, Direito e Globalização 
 Unidade 8: Encerramento e bibliografia para estudos 
 
 Todas as unidades abordam os assuntos de modo sistemático e contém referências 
bibliográficas que servem como sugestão para estudos. Sempre que possível, a referência 
remete à textos que podem ser gratuitamente (e de modo legal) baixados pela Web. 
 
 
Forma de avaliação 
 
 
 O modo de avaliação da disciplina segue o padrão das avaliações presenciais. Consulte 
o calendário de provas. 
 Além do conteudo das unidades, você pode (e deve) utilizar a biblioteca virtual online. 
 
Avaliações Assuntos Exercícios relacionados 
NP1 Do módulo 1 até 4 Exercícios do módulo 1 a 4 
NP2 Do módulo 5 até 8 Exercícios do módulo 5 a 8 
Substitutiva Toda a matéria Todos os exercícios 
Exame Toda a matéria Todos os exercícios 
 
 
Palavras finais 
 
 
 Este é um curso na modalidade a distância. Para que você tenha sucesso e atinja os 
objetivos propostos, constituindo-se como profissional com habilidades técnicas 
reconhecidas pela comunidade jurídica, observe os seguintes procedimentos: 
 
 - mantenha-se motivado; 
 - seja organizado; 
 - saiba estudar de forma independente e autônoma; 
 - pesquise conteúdos correlatos aos temas abordados; 
 - desenvolva novas ideais e questionamentos e os discuta com professores e colegas; 
 - aprenda a entender as ideias e posicionamentos de outras pessoas, habilidade que 
facilita a participação em grupos. 
 
 
Referências bibliográficas disponíveis na biblioteca virtual online 
 
 
Coleção ADRS - Mediação Judicial - Análise da Realidade Brasileira. 
 
Mediação e solução de conflitos: teoria e prática. 
 
Negociação, Mediação e Arbitragem - Curso Básico para Programas de Graduação em 
Direito 
 
Mediação e gerenciamento do processo: revolução na prestação juridicional 
 
 
Unidade 1: Apresentação da disciplina 
 
Sumário 
 
 1.1 Objetivos1.2 O quê são os “Métodos alternativos de resolução de conflitos 
 1.3 Sugestão para estudos 
 1.4 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
1.1 Objetivos 
 
 Ao final da unidade você estará apto a: 
 
 - conceituar os métodos (ou meios) alternativos de resolução de conflitos; 
 - identificar os principais métodos alternativos de resolução de conflitos; 
 - diferenciar métodos alternativos de resolução de conflitos da estrutura jurisdicional 
estatal 
 
1.2 O quê são os métodos alternativos de resolução de conflitos 
 
 "Faz parte da tradição do pensamento jurídico ocidental que, em uma disputa de 
interesses, “inexiste critério do justo e do injusto fora da lei positiva”. (expressão atribuída 
ao filósofo inglês do século XVII Thomas Hobbes). 
 Contemporaneamente, tal concepção sofre alterações significativas. Sistematicamente, 
firma-se a percepção que aquilo que se considera “justo” pode e deve ser estabelecido 
pelas partes consensualmente. A intervenção de um terceiro, auxiliando-os na busca de 
solução para o caso concreto, com base na lei, restringe-se aos casos em que o consenso 
não tenha sido possível. 
 Pelo emprego dos métodos alternativos de resolução de conflitos, o conceito de 
Justiça concretiza-se por meio de procedimento equânime na produção de resultados 
satisfatórios, com as partes dispondo de pleno conhecimento quanto ao contexto fático e 
jurídico em que se situam. 
 Pelos métodos alternativos de resolução de conflitos, a justiça se concretiza na 
proporção que as partes são estimuladas à produção da solução de forma consensual e, 
tanto pela forma como pelo resultado, encontram-se satisfeitas" (Conselho Nacional de 
Justiça, 2013, p 10). 
 
 Imagine duas pessoas em disputa por um interesse comum. O interesse de uma pode 
prevalecer sobre o interesse de outra por emprego da força bruta. Mas também pode, 
pacificamente, ocorrer uma composição de interesses pelo diálogo e consequente 
obtenção de uma solução que seja satisfatória para ambas. Tal processo é a negociação. 
 Se as duas pessoas não conseguem obter um consenso sobre a disputa, elas podem 
recorrer a uma terceira pessoa para intermediar o conflito e comprometerem-se a aceitar 
a solução proposta por esta. A decisão desta terceira pessoa, racionalmente obtida e aceita 
pelos contendores, origina a mediação e representa o método alternativo de resolução de 
conflitos. Entre suas utilidades estão a liberação do Judiciário para solução de 
contenciosos, redução de custos para as partes e flexibilização na necessidade de 
produção de provas, muitas vezes caras e demoradas. 
 
 Historicamente, os métodos alternativos de resolução de conflitos remontam às 
primeiras civilizações. O relato sobre Salomão, rei de Israel em 960 Antes de Cristo, é 
conhecido. 
 
 Embora detivesse o poder de dizer a lei, a passagem a seguir narrada está mais próxima 
da arbitragem do que do processo jurídico. 
 
 Certa feita, duas mulheres, mães de duas crianças recém-nascidas e com a mesma 
idade, pediram ao rei para resolver uma disputa. Uma das crianças morrera e a mãe da 
outra acusava a mãe daquela de ter raptado seu filho e deixado, em seu lugar, a criança 
morta. 
 Salomão decidiu matar a criança sobrevivente, de modo que ambas as mães 
lamentassem os filhos perdidos. Uma das mães concordou com a proposta. A outra, 
preferiu abdicar ao filho do que vê-lo morto, deixando que ele permanecesse com a 
mulher acusada de rapto. Salomão decidiu, então, que a mãe verdadeira era a que optara 
por deixá-lo viver e determinou que permanecesse com a criança. 
 
 No Brasil, a Constituição de 1824, a primeira do país independente, nos artigos 160 e 
161, determina a obrigatoriedade do processo de conciliação (arbitragem) antes da 
instauração do processo judicial estatal. 
 Na Constituição vigente, o artigo 114, §1, sobre os tribunais e juízes do trabalho, 
estabelece que “ frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros”. 
 
Métodos alternativos de resolução de conflitos são meios para soluções de disputas em 
que as partes não são conceituadas como adversárias, mas apenas com interesses 
conflitantes. A litigância, característica do processo judicial, está ausente. 
Têm seus requisitos e exigências determinadas pelo Estado. 
Sua razão de ser repousa na celeridade da solução e na possibilidade do processo 
permanecer restrito às partes, sem publicidade. 
 
 Principais métodos alternativos de resolução de conflitos (MASC): 
 
 - Negociação; 
 - Mediação; 
 - Conciliação; 
 - Arbitragem. 
 
 A característica principal dos MASCs consiste no fato de que, pelo diálogo, as partes 
buscam uma solução consensual e duradoura para a disputa. Para facilitar o diálogo, é 
escolhido pelas partes um terceiro personagem, que é pessoa estranha e imparcial ao 
litígio, além de dominar técnicas de negociação. 
 É comum advogados, psicólogos e assistentes sociais desempenharem a função 
mediadora. 
 O projeto de lei 4827/1988 “institucionaliza e disciplina a mediação como método de 
prevenção e solução consensual de conflitos.”. 
 
 A conciliação se distingue da mediação pela atuação do mediador. Nela, a solução 
exige maior celeridade na sua definição e o mediador pode propor o resultado que 
considerar mais adequado e justo. Além disso, a conciliação é empregada nos processos 
judiciais de primeira e segunda instâncias. O artigo 331 do Código de Processo 
Civil vigente determina ao Juiz chamar as partes para tentativa de conciliação. 
 
 O Tribunal de Justiça de São Paulo possui setor específico de conciliação e mediação 
para o segundo grau, sob a seguinte justificativa (somente aplicável aos direitos 
disponíveis): 
 
 Segundo, Kazuo Watanabe, desembargador aposentado do TJSP: “o princípio de 
acesso à justiça, inscrito na Constituição Federal, não assegura apenas acesso formal 
aos órgãos judiciários, e sim um acesso qualificado que propicie aos indivíduos o acesso 
à ordem jurídica justa, no sentido de que cabe a todos que tenham qualquer problema 
jurídico, não necessariamente um conflito de interesses, uma atenção por parte do Poder 
Público, em especial do Poder Judiciário. Assim, cabe ao Judiciário não somente 
organizar os serviços que são prestados por meio de processos judiciais, como também 
aqueles que socorram os cidadãos de modo mais abrangente, de solução por vezes de 
simples problemas jurídicos, como a obtenção de documentos essenciais para o exercício 
da cidadania e até mesmo de simples palavras de orientação jurídica. Mas é, certamente, 
na solução dos conflitos de interesses que reside a sua função primordial, e para 
desempenhá-la cabe-lhe organizar não apenas os serviços processuais como também, e 
com grande ênfase, os serviços de solução dos conflitos pelos mecanismos alternativos à 
solução adjudicada por meio de sentença, em especial dos meios consensuais, isto é, da 
mediação e da conciliação”. 
(http://www.tjsp.jus.br/Egov/Conciliacao/Default.aspx?f=2 consulta em 24/07/2013). 
 
 A Arbitragem está disciplinada na Lei 9.307/1996 e é de origem contratual, sendo 
expressamente proibido às partes que subscrevem o contrato recorrerem à outros métodos 
para solução de seus conflitos, inclusive o judicial O árbitro é uma pessoa conhecedora 
do assunto foco da arbitragem, podendo ou não ser advogado, mas não Juiz togado, e não 
depende de aprovação da Justiça Estatal para exercício de suas atividades. 
 A lei das sociedades anônimas (Lei 10.303/2001), no art. 109,§ 3º, diz que “O estatuto 
da sociedade pode estabelecer que as divergências entre os acionistas e a companhia, ou 
entre os acionistas controladores e os acionistas minoritários, poderão ser solucionadas 
mediante arbitragem, nos termos em que especificar." 
 
 Na arbitragem, o árbitro desempenha papel semelhante ao do juiz togado, inquirindo 
as partes, requerendo e examinando documentos, ouvindo testemunhas e requerendo 
perícias, com auxílio ou não do Poder Judiciário. A sentença arbitral possui força de coisa 
julgada e constitui título executivo (art. 31 da lei de arbitragem – 9.307/1996). 
 Por ser formalmente semelhante ao processo judicial, a conciliação é admitida, ocasião 
em cabe ao árbitro apenas homologar ao acordo. 
 Resumindo: a arbitragem é método de resolução de conflitos entre duas ou mais pessoas 
físicas ou jurídicas em questões que versam sobre direitos patrimoniais. É exercício 
processual em que o julgador utiliza mecanismos como realizar audiências, ouvir 
testemunhas e determinar levantamento de provas com a finalidade de encontrar a 
verdade dos fatos e prolatar sentença sobre a questão. 
 
1.3 Sugestões para estudo 
 
 Esta disciplina é oferecida na modalidade EAD (Educação a distância). Nesta 
modalidade, você dispõe de total liberdade para determinar seu horário e dias de estudo. 
Mas, ao contrário da modalidade presencial, o nível de responsabilidade para o estudo a 
distância é maior, pois exige disciplina, motivação, organização, saber estudar de forma 
independente e autônoma, além de saber pesquisar conteúdos. 
 Não deixe para estudar e resolver os exercícios no limite dos prazos, pois você poderá 
perceber, de modo desagradável, que a falta de rigor e disciplina são os principais 
elementos no fracasso escolar. 
 
1.4 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
CNJ. Caderno de exercícios em Mediação Judicial, disponível 
em http://www.cnj.jus.br/images/programas/conciliacao/caderno_de_exercicios.pdf. 
Data da consulta: 25/07/2013. 
 
Conselho Nacional de Justiça. Manual de Mediação Judicial, disponível 
em http://www.cnj.jus.br/images/programas/conciliacao/manual_mediacao_judicial_4e
d.pdf. Data da consulta: 25/07/2013. 
Lei 9.307/1996 (Lei de 
Arbitragem). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm Data de consulta: 
25/07/2013. 
 
Tribunal de Justiça de SP, setor de Conciliação e 
Mediação. http://www.tjsp.jus.br/Egov/Conciliacao. Data a de consulta: 25/07/2013 
 
Unidade 2: Conflito de Interesses: origem, elementos, fatos e percepções. 
 
Sumário 
 2.1 Objetivos 
 2.2 Definição de “conflitos de interesses” 
 2.3 Origem 
 2.4 Elementos, fatos e percepções 
 2.5 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
2.1 Objetivos 
 
 Ao final da unidade você estará apto a: 
 
 - conceituar “conflitos de interesses”; 
 - situar a noção de conflito de interesses no âmbito do processo judicial e no âmbito 
dos métodos alternativos de resolução de conflitos; 
 - descrever historicamente a utilização dos métodos alternativos de resolução de 
conflitos. 
2.2 Definição de “conflitos de interesses” 
 
 Inicialmente, alguns conceitos devem ser explicitados, para melhor entendimento dos 
termos que serão empregados neste módulo e nos seguintes. 
 
 A jurisdição é o poder, função e atividade exclusiva do Estado para que diga o Direito, 
“dizer” esse configurado na apreciação e julgamento de conflitos e emissão de 
correspondente solução na forma de uma sentença, que pode ser declaratória, constitutiva 
ou condenatória, de natureza impositiva e vinculante. Tem como característica a 
segurança subjacente à credibilidade e imparcialidade do Juiz, além de combater a 
autotutela, fenômeno pelo qual as partes decidem individualmente e baseadas em 
interesses próprios as disputas, com base na violência. 
 
 Autocomposição é forma pacífica de solução de controvérsias pelas partes envolvidas, 
podendo estas serem auxiliadas por um terceiro participante, que tem como características 
principais a imparcialidade e independência em relação às partes. A autocomposição dos 
conflitos faz-se na forma de transação, por métodos alternativos de resolução de conflitos. 
 
 A heterocomposição ocorre quando a solução do conflito é entregue ao personagem 
Juiz ou, no caso de emprego dos métodos alternativos de resolução de conflitos, ao 
Árbitro, elemento este livremente escolhido pelas partes conflitantes e que tem como 
requisito a aceitação do veredito final por ele emitido. 
 
 
Conflitos de interesses são percepções sobre a realidade em que uma ou mais pessoas 
avaliam que objetivos e metas particulares estão sendo obstacularizadas por outra(s) 
pessoa(s), pelas seguintes razões: 
(a) as partes concorrem pelos mesmos objetivos e metas que podem satisfazer apenas 
uma delas; 
(b) as partes possuem objetivos e metas conflitantes em que a satisfação de uma implica 
em prejuízo à outra. 
 
 Os conflitos de interesses são pretensões resistidas por que implicam em resultados 
de soma zero: ao ganho de uma das partes corresponde uma perda em mesmo nível da 
outra. O pressuposto subjacente é que pretensões dizem respeito à recursos, que são 
intrinsecamente limitados e finitos. Para alguém obter recursos, alguém deve perdê-los. 
 Entretanto, os métodos alternativos de resolução de conflitos buscam atenuar o 
alcance dos conflitos de interesses, concebendo-os como não adversariais, isto é, as partes 
atuam cooperativamente na busca da melhor e mais duradoura solução. Neste contexto, 
os conflitos deixam de apresentar resultados de soma zero, pois as partes podem revisar 
suas pretensões e alcançar um consenso que atenda aos interesses de todos os envolvidos. 
 
 Daniela Monteito de Gabbay (Gabbay, 2011), em tese de doutorado, expõe de 
maneira clara a pedagógica a definição de “conflito de interesses”, relacionado-a com o 
processo judicial e os métodos alternativos de resolução de conflitos: 
 “No processo judicial, através da demanda, o autor apresenta o pedido em relação 
ao qual o réu se defende, havendo um conflito de interesses qualificado pela pretensão 
de um dos litigantes e pela resistência do outro. 
(…) o jurista, e de modo especial o processualista, só pode cuidar dos processos 
efetivamente propostos e das lides que forem realmente levantadas perante os Juízes, e 
na exata medida em que o forem. O objeto do processo não seria o conflito de interesses 
em sua simples e natural realidade. Só em face do pedido do autor é que o juiz pode 
interferir, examinar o caso e julgar, de acordo com a lei, se esse pedido é ou não 
procedente, concedendo ou negando em consequência a providência pedida. A lei dá ao 
autor a liberdade, a iniciativa e a responsabilidade da escolha no modo de resolver a 
controvérsia, exigindo dele a indicação da forma concreta e determinada de tutela que 
pretende conseguir para a satisfação de seu interesse. A tarefa do juiz é unicamente 
decidir se a solução proposta é conforme ou não com o direito vigente. (…) 
 Já para a mediação o conflito é definido de forma diferente, sem as mesmas 
molduras e separações entre o âmbito processual e o substancial. A mediação parte da 
premissa de que o conflito é parte normal da interação humana, e pode ser construtivo. 
 Enquanto o processo judicial visa a eliminar e pacificar os conflitos (seu escopo 
social) nos moldes do que foi levado ao Judiciário através do objeto litigioso, a mediação 
trata os conflitos sob ótica diferenciada, vendo ao mesmo tempo aspectos de perigoe 
oportunidade” (Gabbay, 2011, pp 29-30 – sem grifos no original). 
2.3 Origem 
 Em 2003, na Universidade de Florença na Itália, um seminário internacional sobre 
os métodos alternativos de resolução de conflitos chegou às seguintes conclusões: 
 “Observa-se uma crescente incapacidade dos sistemas institucionais de 
administração da justiça civil para fazer frente à demanda de justiça proveniente dos 
mais diversos sujeitos, sobre matérias diversificadas e novas, incapacidade essa devida 
aos limites da justiça estatal, normalmente ineficiente, custosa e incerta, e talvez não 
apta, em alguns setores, a garantir uma satisfatória composição das lides” (Neto, 2011). 
 Nos Estados Unidos os métodos (ou meios) alternativos de resolução de conflitos 
(ADR – Alternative Dispute Resolution) iniciaram timidamente a serem implementados 
na década de 1970, por intermédio de iniciativas pontuais. 
 Em 1985, o Congresso Americano decidiu pelo financiamento de alguns programas 
experimentais de arbitragem. Em 1988, a Lei sobre o aperfeiçoamento judicial e acesso à 
justiça (“Judicial Improvements and Access to Justice Act”) começou a incentivar e 
ampliar o alcance dos métodos alternativos de resolução de conflitos. Finalmente, em 
1990, a Lei de reforma da justiça civil (“Civil Justice Reform Act”) adotou amplamente 
as ADR´s no âmbito da justiça Federal Norte-americana. 
 Todas as Constituições brasileiras, com exceções das de 1891 e 1937, contém algum 
dispositivo que, em maior ou menor grau, estimula a arbitragem como método para a 
solução de controvérsias. A primeira Constituição, de 1824, nos artigos 160 e 161, 
determinava a necessidade das partes utilizarem a arbitragem na solução de seus conflitos 
e, somente no insucesso desta, ingressassem em Juízo. 
 A atual Constituição prevê, no art. 114, a utilização coletiva e a arbitragem na 
solução de conflitos coletivos do trabalho. 
 A Lei dos Juizados Especiais Cíveis (Lei 9.099/1995), no art. 2°, determina “sempre 
que possível, a conciliação e a transação” e, no art. 24, sugere a possibilidade de emprego 
de dois métodos alternativos de resolução de conflitos: “Não obtida a conciliação, as 
partes poderão optar, de comum acordo, pelo juízo arbitral, na forma prevista nesta Lei.” 
 Por fim cabe destacar a existência de uma lei específica sobre os métodos alternativos 
de resolução de conflitos: a Lei de Arbitragem (Lei 9.307/1996). 
 
 
2.4 Elementos, fatos e percepções 
 
 Inicialmente, uma conceituação: direitos patrimoniais disponívies são bens 
corpóreos e incorpóreos passíves de avaliação monetária e de propriedade de pessoas que 
podem livremente deles desfazerem-se. 
 A adesão aos métodos alternativos de resolução de conflitos assume feições 
contratuais derivadas do direito privado e limita-se ao âmbito dos direitos disponíveis. 
Tais feições se materializam na autonomia da vontade, na boa-fé e no respeito aos 
contratos. A autonomia da vontade significa a liberdade na escolha do método de solução 
de conflitos julgado mais adequado. A boa-fé significa a honestidade e lealdade das 
partes. O respeito aos contratos simboliza a responsabilidade pelo cumprimento das 
condições livremente acordadas, que determinam os limites e alcances das ações 
individuais. 
 Os métodos alternativos de resolução de conflitos, pelo menos idealmente, são meios 
eficientes e eficazes de solução de conflitos. São eficientes por que atingem os objetivos 
a que se propõem: apontar soluções concretas e aceitáveis pelas partes. São eficazes por 
que objetivos e demandam períodos menores de tempo quando comparados ao processo 
judicial. Exigem, entretanto, disposição pelas partes para comportamentos pacíficos e 
baseados na não-confrontação. Requerem menores volumes recursos materiais, humanos 
e financeiros quando comparados ao processo judicial por que dispensam a forma 
ritualista e conservadora deste, além do complexo aparato logístico que o cerca. 
2.5 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação & Judiciário. Condições necessárias para a 
institucionalização dos meios autocompositivos de solução de conflitos. São Paulo: 
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, tese de doutorado, 2011. Disponível 
emhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2137/tde-24042012-141447/pt-br.php. 
Consulta em 25/07/2013. 
NETO, Eugênio Facchini. ADR (Alternative Dispute Resolution) – Meios alternativos de 
resolução de conflitos: solução ou problema? in Direitos Fundamentais & Justiça, n 17, 
ano 5, out/dez 2011, p 118-141. Disponível 
em www.trt9.jus.br/internet_base/arquivo_download.do?evento=Baixar. Consulta em 
25/07/2013. 
 
PISKE, Oriana. Formas alternativas de resolução de conflito. Disponível 
em http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/artigos/2010/formas-alternativas-de-
resolucao-de-conflito-juiza-oriana-piske. Consulta em 25/07/2013. 
 
Unidade 3: Negociação 
 
 
Sumário 
 
 3.1 Objetivos 
 3.2 Origem e conceituação 
 3.3 Paradigmas 
 3.4 Princípios da Negociação 
 3.5 Atitudes do Negociador 
 3.6 Aplicabilidade da Negociação 
 3.7 Procedimentos de Negociação 
 3.8 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
3.1 Objetivos 
 
 Ao final da unidade você estará apto a 
 
 - conceituar a Negociação; 
 - diferenciar a negociação baseada em posições da negociação baseada em interesses; 
 - identificar as técnicas de negociação; 
 - conhecer os procedimentos de negociação; 
 - conhecer as situações às quias a Negociação se aplica. 
 
3.2 Origem e conceituação 
 
Negociação é o processo pela qual duas ou mais partes com interesses divergentes e 
conflitantes que, reciprocamente, criam obstáculos para suas ações buscam 
uma solução que as satisfaçam. 
 
 A negociação é prática corriqueira nos relacionamentos sociais e emerge sempre que 
interesses opostos e conflitantes obstaculariam as ações de duas ou mais pessoas. Dessa 
oposição, psicologicamente as pessoas passam a considerarem-se como adversárias e 
julgam que suas ações são impedidas reciprocamente, com prejuízos para seus interesses 
e objetivos. Daí surgir a necessidade de resolução dos impasses percebidos, sejam eles 
reais ou imaginados. 
 O modelo mais simples de negociação é o da composição direta, de natureza bilateral, 
em que as partes envolvidas procuram pelo estabelecimento de um acordo que atenda 
seus interesses. Mas pode ocorrer que as partes não consigam produzir sozinhas o acordo, 
quando surge a necessidade da figura de um terceiro elemento, um negociador 
independente e imparcial. Nesta hipótese, a negociação passa a ser assistida e 
características como a forma de atuação e capacitação do medidador, a natureza do 
conflito e a qualidade das relações entre as partes passam a desempenhar papeis 
importantíssimos na solução da controvérsia. 
 
3.3 Paradigmas 
 
 As conceituações teóricas sobre a negociação depositam grande ênfase nas 
predisposições psicológicas dos envolvidos. Dois posicionamentos são enfatizados: 
 a) o comportamento posicional, em que os envolvidos se visualizam como oponentes 
e o objetivo é o resultado de soma zero, em os ganhos de um correspondem na mesma 
magnitude às perdas do outro. Neste contexto, questões privadas e sem necessariamente 
diretamente relacionadas com a disputa, como a honra, o orgulho e a preservação da 
imagem pessoal, assumem papéis preponderantes entre as condições para 
estabelecimentode um acordo. Tais elementos obstacularizam o entendimento, 
favorecem a intransigência, induzem ao erro e acentuam elementos emocionais como 
raiva e ressentimentos mútuos entre os envolvidos. 
 b) negociação baseada em princípios ou méritos. O foco nesta abordagem é a obtenção 
de uma solução que não seja de soma zero (uma parte perde e a outra ganha), nem de 
soma negativa (as partes perdem indistintamente), mas a obtenção de uma solução de 
soma maior que zero, em que as partes percebam que a negociação foi justa e a solução 
encontrada a melhor possível. Este tipo de abordagem incentiva a confiança entre as 
partes e evita a deterioração de relacionamentos. 
 
 De acordo com Willian Ury, Bruce Patton e Roger Fisher (Ury, Patton & Fisher, 
2005), quatro princípios caracterizam este tipo de negociação: 
 a) as características psicológicas das pessoas, como honra e imagem pessoal, devem 
ser separados da caracterização dos problemas; 
 b) o foco da negociação deve centrar-se na identificação e solução dos interesses reais; 
 c) o requisito da negociação deve ser soma maior que zero (ganhos para todos); 
 d) os critérios de negociação devem ser objetivos e utilitaristas. 
 
3.4 Princípios da Negociação 
 
 Antes do início de qualquer negociação, o negociador deve procurar conhecer os 
comportamentos típicos das partes, ouvindo atentamente suas exposições sobre as causas 
do conflito e qual, sob seu ponto de vista, a melhor solução. 
 Tais comportamentos revestem-se de fatores pessoais, sociais, culturais e situacionais 
e exigem do negociador habilidade e experiência em suas abordagens. Assim, os 
seguintes princípios procuram mitigar os efeitos de tais comportamentos sobre o processo 
de negociação. 
 a) As características psicológicas das pessoas, como honra e imagem pessoal, 
devem ser separados da caracterização dos problemas. 
 Os confrontos entre as partes dificultam o exame de soluções possíveis. Uma clara 
diferenciação entre emoções, de cunho particular e, portanto, obstáculos para o 
entendimento, e méritos das soluções devem ser estabelecidas. Uma determinada 
solução pode não ser a mais adequada, mas pode ser a melhor possível. Nem sempre a 
solução ideal é concretizável, por que ser ideal para uma das partes pode ser péssima 
para a outra e, neste caso, o critério da solução de soma zero predominará (uma parte 
ganha na exata medida em que a outra perde). Tal cenário é difícil de aceitar sob 
influência emocional, mas pode ser compreendido sob o ângulo da racionalidade e do 
bom senso, cabendo ao negociador destacar tais fatores. Se as soluções em apreço são 
inadequadas, os méritos das soluções devem ser debatidos e não as características 
pessoais ou qualidades dos contendores. 
 b) o foco da negociação deve centrar-se na identificação e solução dos interesses 
reais. 
 Muitas vezes as pessoas não tem uma clara percepção de seus interesses, confundindo-
os com posições pessoais. Um exemplo corriqueiro pode auxiliar na melhor compreensão 
deste princípio. 
 Suponha um acidente de trânsito com danos apenas materiais, algo comum no cenário 
brasileiro. 
 Sob contexto de predomínio emocional, não é incomum as pessoas partirem para as 
acusações e ofensas mútuas e até para agressões físicas. 
 Tais comportamentos não demonstram o real interesse de ambas as partes: encontrar 
uma solução satisfatória para minimizar os danos sofridos. O fato objetivo (o acidente) 
está dado e não pode ser revertido. Agressões e ofensas podem tão somente aumentar o 
alcance do fato, inicialmente na esfera dos danos materiais, e o extrapolar para a esfera 
dos danos morais. Esta é a situação a ser compreendida: a negociação deve transcorrer 
em ambiente pacífico e baseado no respeito mútuo, com a identificação do interesse real 
das partes (minimizar prejuízos). A solução procurada deve ter por como requisito ser a 
melhor possível e não necessariamente a ideal, mas com satisfação por igual das partes. 
 c) o requisito da negociação deve ser soma maior que zero (ganhos para todos). 
 
 Nem sempre a primeira solução encontrada para um conflito de interesses é a de 
melhor resultados. O ideal é a procura e elaboração de soluções alternativas, mas todas 
atendendo ao requisito de ganho mútuo. Tal processo não deve ser elaborado em 
condições de pressão intensa pelas partes, cabendo ao negociador administrar 
adequadamente os fatores negativos e destacar a importância de uma solução que aborde 
os interesses comuns e concilie os divergentes. 
 
 d) os critérios de negociação devem ser objetivos e utilitaristas. 
 
 A solução procurada deve focar critérios objetivos e utilitarista em detrimento do 
debate de posições (a crença natural e enraizada na cultura de que a culpa sempre é do 
outro). 
 No exemplo citado, do acidente trânsito, o critério de negociação deve ser 
objetivo (determinar a extensão e montante dos canos) e utilitarista(determinar o menor 
custo necessário ao retorno das condições dos veículos ao período anterior ao acidente). 
 
3.5 Atitudes do Negociador 
 
 Comportamentos éticos não são simplesmente aqueles que apontam para o predomínio 
de ações e atitudes valoradas como corretas e adequadas (“certas”) em detrimento de 
ações e atitudes valoradas como incorretas ou inadequadas (“erradas”). Comportamentos 
éticos são, principalmente, normas de condutas que objetivam maximar a qualidade nos 
relacionamentos sociais (o código de ética da advocacia, por exemplo, busca desenvolver 
no profissional do direito a responsabilidade de agir com honestidade, lealdade e 
adequação moral nos mais diversos cenários de atuação, sejam eles nos âmbitos públicos 
ou privado). 
 Do mesmo modo, é obrigação profissional do negociador agir com imparcialidade e 
honestidade, buscando soluções que atendam ao requisito de soma maior que zero. 
Possibilidades de barganhas em função de interesses estranhos à solução do conflito ou 
soluções baseadas nos interesses pessoais do negociador são fatores que podem 
desestabilizar sua atuação e atentam contra os princípios da negociação enquanto método 
alternativo de resolução de conflitos. 
 
3.6 Aplicabilidade da Negociação 
 
 A negociação é uma forma conjunta de resolução de problemas (CNJ, 2013, p. 80) e 
exige um mínimo de condições para sua aplicabilidade, qual sejam a imparcialidade do 
negociador, escolha voluntários das partes do negociador e disposição para resolver o 
conflito de modo não contencioso e adversarial e existência do contraditório (debater os 
méritos e fraquezas das soluções disponíveis). 
 
 Já o papel do negociador não é o decidir o conflito, mas tão somente atuar como 
facilitador da comunicação e solução do conflito entre as partes. A imparcialidade e a 
independência são requisitos indispensáveis, pois são eles que garantem o tratamento 
igualitário das partes. Se o negociador assumir o papel de juiz da negociação, esta perde 
sua características de composição de interesses e assume a forma de heterocomposição 
(Gabbay, 2011, p 33). 
 
 
3.7 Procedimentos da Negociação 
 
 Quatro condições definem os procedimentos da Negociação. São eles: 
 
 a) identificar corretamente o motivo da disputa; 
 b) identificar as necessidades das partes; 
 c) buscar e apresentar soluções alternativos que sejam de soma maior que zero; 
 d) avaliação das alternativas e escolha da mais adequada. 
 Embora intuitivas, as condições que definem os procedimentos da negociação estão 
expostos de maneira clara e precisa nos seguintes trechos, extraídosdo Manual de 
Mediação (CNJ, 2013, pp 80-81): 
 “A negociação bem conduzida transforma-se em momento com estrutura adequada 
para negociação integrativa e oportuna às partes. Desde a abertura até a organização 
dos debates, passando pelas fases de coleta de informações e identificação de questões, 
interesses e sentimentos, a negociação proporciona momentos de aprendizados para os 
envolvidos na controvérsia. Com a ajuda do negociador, as partes podem seguir 
minimamente uma sequência negocial que gere opções focadas nos interesses dos dois 
lados. 
 A primeira e fundamental tarefa do negociador consiste em identificar corretamente 
o problema ou questão a ser resolvida. Esta seria uma atividade aparentemente simples, 
não fosse o fato de cada parte definir o problema a partir de seu próprio ponto de vista. 
As partes enquadram a questão ou problema a partir de sua perspectiva ou entendimento 
do que está acontecendo. Nesse momento, é frequente a atribuição de culpa ao outro lado 
e questões importantes tornam-se secundárias. 
 Uma solução eficaz está no exercício de reenquadrar a(s) questão(ões) abrangendo 
as percepções de ambos os lados da forma mais neutra possível. Essa atividade nem 
sempre é fácil de ser realizada devido à resistência das partes em se colocar no lugar 
uma da outra e observar a questão da perspectiva contrária. A perspectiva privilegiada 
de observação do negociador sobre o que ocorre permite a ele reenquadrar as questões 
de forma produtiva, oferecendo significativo marco referencial a ser seguido durante 
todo o percurso da negociação.” 
 
 
3.8 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
CNJ. Manual de Mediação Judicial, disponível 
em http://www.cnj.jus.br/images/programas/conciliacao/manual_mediacao_judicial_4e
d.pdf. Data da consulta: 25/07/2013. 
GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação & Judiciário. Condições necessárias para a 
institucionalização dos meios autocompositivos de solução de conflitos. São Paulo: 
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, tese de doutorado, 2011. Disponível 
emhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2137/tde-24042012-141447/pt-br.php. 
Consulta em 25/07/2013. 
URY, Willian; PATTON, Bruce; FISHER, Roger. Como chegar ao sim: a negociação de 
acordos sem concessões. Rio de Janeiro: Imago, 2005, 2ª ed. 
 
Unidade 4: Conciliação 
 
Sumário 
 
 
 4.1 Objetivos 
 4.2 Origem e conceituação 
 4.3 Paradigmas 
 4.4 Princípios da Conciliação 
 4.5 Atitudes do Conciliador 
 4.6 Aplicabilidade da Conciliação 
 4.7 Procedimentos de Conciliação 
 4.8 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
 
4.1 Objetivos 
 
 Ao final da unidade você estará apto a 
 
 - conceituar a Conciliação; 
 - diferenciar a Conciliação de outros métodos alternativos de resolução de conflitos; 
 - identificar as técnicas de Conciliação; 
 - conhecer os procedimentos de conciliação; 
 - conhecer as situações às quias a Conciliação se aplica. 
 
 
4.2 Origem e conceituação 
 
 A conciliação é um procedimento de solução rápida para os conflitos e, normalmente, 
configura-se como reunião entre as partes e o conciliador. Sua origem parece confundir-
se com a existência da civilização ocidental (Lopez & Miranda, 2010) 
 É mecanismo eficaz quando as partes relacionam-se apenas contingencialmente em 
razão de conflito fortuito, e priorizam acordo rápido e eficaz para pôr fim à controvérsia 
ou processo judicial. Exemplo significativo de órgão de conciliação reside nos Juizados 
Especiais Cíveis e Criminais, como lê-se no Art. 2° da Lei 9.099/1995: “O processo 
orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia 
processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação” 
(sem grifos no original). 
 Outro exemplo situa-se na atuação dos Procons no Brasil que, amparados na Lei 
8.078/1990 (Código de defesa do consumidor), utiliza amplamente a conciliação como 
método de solução de conflitos entre consumidores e produtores. 
Conciliação é o procedimento autocompositivo, judicial ou extrajudicial, pelo qual duas 
ou mais partes buscam solução, de forma rápida e efetiva, para um conflito que não 
decorre de relações sistemáticas e repetidas ao longo do tempo. 
 
 Dentro do quadro geral de formas de tutela de interesses, a conciliação é considerada 
método autocompositivo de resolução de disputas (a mediação também é concebida de 
forma semelhante). 
 A autocomposição pode ser direta (ou bipolar), como na negociação sem a presença de 
um negociador imparcial e independente, ou indireta (triangular) como na conciliação e 
na mediação. 
 Na autocomposição indireta (ou autocomposição assistida) a mediação é definida como 
processo em que se aplicam integralmente todas as técnicas autocompositivas e, 
predominantemente, sem restrições de tempo no planejamento sistematizado pelo qual o 
mediador exerce sua tarefa. Já na conciliação, existe limitação de tempo para sua 
realização, fato que muitas vezes a classifica como processo autocompositivo ou fase 
de processo heterocompositivo no qual se aplicam técnicas autocompositivas. 
 Na doutrina faz-se, às vezes, a distinção entre conciliação e mediação enfatizando que, 
na conciliação, o conciliador pode apresentar apreciação do mérito ou recomendação de 
uma solução valorizada como “justa”. Na mediação, tal apreciação ou recomendação não 
são cabíveis (CNJ, 2013, p 86). 
 
 
4.3 Paradigmas 
 
 
 No contexto judicial, a conciliação pode ser facultativa ou obrigatória. Na facultativa, 
as partes tomam a iniciativa de formular um acordo, que o Juiz simplesmente homologa. 
Na obrigatória, o Juiz fica vinculado à sua proposição, de acordo com os Artigos 447 
(“Quando o litígio versar sobre direitos patrimoniais de caráter privado, o juiz, de ofício, 
determinará o comparecimento das partes ao início da audiência de instrução e 
julgamento. Parágrafo único. Em causas relativas à família, terá lugar igualmente a 
conciliação, nos casos e para os fins em que a lei consente a transação.”), 448 (“Antes de 
iniciar a instrução, o juiz tentará conciliar as partes. Chegando a acordo, o juiz mandará 
tomá-lo por termo.”) e 449 (“O termo de conciliação, assinado pelas partes e homologado 
pelo juiz, terá valor de sentença.”) do atual Código de Processo Civil. Os Artigos 227 e 
740 também destacam a obrigatoriedade de tentativa de conciliação nos Procedimento 
Sumário e Embargos do Devedor. 
 
 Quanto ao momento da ocorrência, a conciliação será preventiva (Art. 331 do CPC) 
quando designada em audiência preliminar, implicando na renúncia à demanda (Art. 331, 
§1° - “Obtida a conciliação, será reduzida a termo e homologada por sentença”) 
ou celebrada no decorrer do processo (Audiência inicial no Procedimento Sumário - 
Art. 277. “O juiz designará a audiência de conciliação a ser realizada no prazo de trinta 
dias, citando-se o réu com a antecedência mínima de dez dias e sob advertência prevista 
no § 2º deste artigo, determinando o comparecimento das partes”, antes de iniciar a 
instrução no Procedimento ordinário – Art. 488 – ou, opcionalmente, no recebimento de 
embargos – Art. 740). 
 
 Em contexto não judicial, a conciliação é um processo autocompositivo, informal e 
estruturado (iniciativa e participação ativa das partes, observação do contraditório e 
cumprimento da solução acordada) em que um conciliador parcial e independente auxilia 
no estabelecimento de uma solução consensual. 
 
 
4.4 Princípios da ConciliaçãoDiversos órgãos públicos adotam a conciliação como método de resolução de conflitos. 
Em São Paulo, o Provimento do Conselho Superior da Magistratura do Estado de São 
Paulo, de n° 806/2003, e, a exemplo de iniciativas de outros Estados da Federação, 
regulamenta o funcionamento do Juizado Informal de Conciliação (JIC) no estado. Em 
outro exemplo significativo, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, por exemplo, 
publicou “Roteiro teorico-prático dos Juizados Informais de Conciliação” (Moreira, 
2011) onde descreve, detalhadamente e de modo didático, a implementação e 
funcionamento desses órgãos no Estado de Santa Catarina. 
 
 A Constituição Federal vigente estabelece, no Art. 98, a criação e funcionamento de: 
 
 I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes 
para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade 
e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e 
sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de 
recursos por turmas de juízes de primeiro grau; 
 
 II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal 
e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar 
casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de 
habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de 
outras previstas na legislação. (sem grifo no original) 
 
 Esses órgãos são habilitados para atividades conciliatórias e apontam para dois 
contextos distintos em que a conciliação pode ocorrer: extraprocessual ou 
endoprocessual. 
 A conciliação é extraprocessual quando não está inserida na atividade judicial. É 
endoprocessual quando ocorre no interior do processo judicial. Em ambos casos o 
objetivo é induzir as partes a encontrarem, por seus próprios meios e análises, uma 
solução duradoura para o conflito. 
 
 Sem considerações pelos tipos classificatórios da conciliação, os elementos básicos de 
qualquer procedimento voltada para concretização da justiça devem estar presentes: 
autonomia de vontade das partes, exercício do contraditório e terceiro ator imparcial e 
independente. Além disso, outros princípios, como a oralidade, gratuidade, brevidade e 
economia processual, norteiam as Instituições que tem na conciliação seu método de 
concretização de objetivos (Moreira, 2011). 
 
 
4.5 Atitudes do Conciliador 
 
 
 Em São Paulo, o provimento nº 806/2003 do Conselho Superior da Magistratura regula 
a atuação do conciliador. Na Seção III, consta que “Os conciliadores, inclusive dos 
anexos, serão recrutados mediante portaria pelo Juiz Diretor, preferencialmente entre os 
bacharéis ou estudantes de direito, com reputação ilibada, após a verificação dos 
antecedentes e a expedição de edital para eventual impugnação, com o prazo de dez (10) 
dias, a ser afixado na sede do Juizado e, se for o caso, do Anexo. (…) No caso de violência 
doméstica, o recrutamento dará preferência aos conciliadores de formação 
sociopsicológica”. 
 
 A função do conciliador é buscar o entendimento e a composição entre as partes. Pode 
sugerir opções e opinar sobre as soluções alternativas até a eleição da julgada mais 
adequada ao caso. Psicologicamente, deve apresentar comportamento educado e 
disposição para ouvir e entender os questionamentos e interesses das partes. 
Profissionalmente, deve ser imparcial, independente, agir com equidade e não impor suas 
convicções pessoais às soluções disponíveis, buscando e destacando nelas objetividade e 
utilitarismo (adequação ao caso com maximização de resultados). 
 
 
4.6 Aplicabilidade da Conciliação 
 
 
 A conciliação refere-se a direitos disponíveis (Art. 331 da Lei 8.952/1994, que altera 
dispositivos do Código de Processo Civil sobre o processo de conhecimento e o processo 
cautelar) e aos crimes de menor potencial ofensivo, que são aqueles com penas de até dois 
anos (Juizados Especiais Criminais – Lei 9.099/2995 – Art. 3°). 
 
 Como já destacado em várias passagens deste texto, a indicação da conciliação como 
método alternativo de resolução de conflitos está presente na Constituição Federal de 
1988 e em diversos textos infraconstitucionais. Seu princípio primeiro é a 
autocomposição das partes em uma solução rápida, eficaz, de baixo custo, com reduzidos 
trâmites burocráticos e, principalmente, justa para as partes. 
 Entre os objetivos da conciliação encontram-se o incentivo à formação de uma 
mentalidade voltada para solução pacífica dos conflitos, minimizar o tempo de procura 
da solução mais adequada e viabilizar a solução dos conflitos por meio de procedimentos 
informais e simplificados, com desafogo de processos no Poder Judiciário (Lopez & 
Miranda, 2010, p 18). 
 
 
4.7 Procedimentos da Conciliação 
 
 
 De acordo com a Lei 8.952/1994, no âmbito judicial a tentativa de conciliação deve ser 
proposta em estágio anterior à fase de instrução. 
 
 Em termos de procedimentos, aplicáveis tanto às conciliações extraprocessual quanto 
endoprocessual, Lopez & Miranda (Lopez & Miranda, 2010, p 20) apresentam o seguinte 
roteiro, cujas descrições são autoexplicativas e dispensam maiores comentários: 
 
 a) inicio da conciliação –apresentação; 
 b) informações sobre o conflito – (técnica de resumo); 
 c) identificação de questões, interesses e sentimentos; 
 d) esclarecimentos das controvérsias e dos interesses; 
 e) resolução de questões; 
 f) registro das soluções encontradas (elaboração do acordo). 
 
 
4.8 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
 
CNJ. Manual de Mediação Judicial, disponível 
em http://www.cnj.jus.br/images/programas/conciliacao/manual_mediacao_judicial_4e
d.pdf. Data da consulta: 25/07/2013. 
 
LOPEZ, Ilza de Fátima Wagner; MIRANDA, Fernando Silveira Melo Plentz. A 
Conciliação nos Juizados Especiais Cíveis in Revista Eletrônica Direito, Justiça e 
Cidadania, v 1, n 1, 2010. Disponível 
em http://www.facsaoroque.br/novo/publicacoes/pdfs/ilza.pdf. Consulta em 27/07/2013. 
 
MOREIRA, Elisabet Valero. Roteiro teórico-prático dos Juizados Informais de 
Conciliação. TJSC, 2011. Disponível 
emhttp://www.tjsc.jus.br/institucional/casadacidadania/Roteiro%20te%C3%B3rico-
pr%C3%A1tico%20dos%20Juizados%20Informais%20de%20Concilia%C3%A7%C3
%A3o.pdf. Consulta em 27/07/2013. 
 
Conselho Superior de Magistratura do Estado de São Paulo. Provimento 806/2003. 
Disponível 
emhttp://www.biblioteca.tj.sp.gov.br/acervo/normas.nsf/0/1DAB9C96A6EFBF1A0325
6D7F0051B07E?OpenDocument. Consulta em 27/07/2013. 
 
 Unidade 5: Mediação 
 
Sumário 
 
 5.1 Objetivos 
 5.2 Origem e conceituação 
 5.3 Paradigmas 
 5.4 Princípios da Mediação 
 5.5 Atitudes do Mediador 
 5.6 Aplicabilidade da Mediação 
 5.7 Procedimentos de Mediação 
 5.8 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
5.1 Objetivos 
 
 Ao final da unidade você estará apto a 
 
 - conceituar a Mediação; 
 - diferenciar a Mediação de outros métodos alternativos de resolução de conflitos; 
 - identificar as técnicas de Mediação; 
 - conhecer os procedimentos de Mediação; 
 - conhecer as situações às quias a Mediação se aplica. 
 
5.2 Origem e conceituação 
 
 A mediação, junto com os demais métodos alternativos de resolução de conflitos, parte 
do pressuposto que existe um interesse genuíno das partes em resolver suas controvérsias 
demodo pacífico, rápido e efetivo, decidindo livremente da adequação da presente ou 
não de um terceiro personagem na figura de um facilitador. Esse “interesse genuíno” 
configura a “autonomia da vontade”. 
 A mediação apresenta características semelhantes à conciliação, com a diferença 
situada nas atribuições do facilitador – o mediador ou conciliador, respectivamente. 
Omediador não deve propor às partes a solução para conflito, apenas intermediando 
o diálogo na busca de uma solução consensual, enquanto o conciliador pode propor a 
solução, o que não significa que a proposta seja obrigatoriamente aceita (nesta hipótese, 
a autonomia da vontade seria lesada). 
 
 A institucionalização da mediação no âmbito do Judiciário, que se configura quando a 
solução do conflito é para ela direcionada, seja antes da instauração do processo judicial, 
seja após seu início, depende da criação de uma estrutura adequada. Essa estrutura é 
constituída pela definição de parâmetros de funcionamento, regulação e disponibilidade 
de recursos financeiros e materiais que possibilitem sua implementação. 
 No Brasil contemporâneo, a institucionalização da mediação, juntamente com a 
conciliação, ocorreu de modo sistemático com a criação da “Política Nacional de 
Tratamento adequado dos Conflitos de Interesses no âmbito do Judiciário” em novembro 
de 2010 pela resolução n° 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Por essa resolução, 
oJudiciário é protagonista na efetiva e eficaz implementação da mediação como método 
alternativo de resolução de conflitos. 
 
Mediação é o procedimento autocompositivo pelo qual duas ou mais partes, com auxilio 
de um terceiro personagem (o mediador) treinado para a função, imparcial, 
independente e livremente aceito, explicam as razões reais ou imaginadas do conflito, 
são ouvidas e questionadas, dialogam e buscam identificar interesses comuns no 
objetivo de adotarem uma solução adequada e duradoura para o conflito. O mediador 
não tem poder de decisão e nem ascendência hierárquica sobre as partes. 
 
 
5.3 Paradigmas 
 
 
 “Num processo formal, instaurado sob a garantia do contraditório, o autor deve expor 
todos os argumentos que sustentam o seu direito na petição inicial, bem como indicar as 
provas que pretende produzir. Depois de constituída a relação processual não pode, sem 
a concordância do réu, formular novos pedidos. Da mesma forma, na peça de bloqueio 
deve o réu rechaçar todas as alegações do autor, e indicar as provas que contraporá. 
Isso leva a que se formule pedidos além do necessário e se formule resposta acima do 
razoável, para, no processo dialético, se chegar a uma solução mais satisfatória. 
 Como consequência lógica de tal princípio tem-se o acirramento de posições, pedidos 
excessivos, atribuição de culpa, descolamento de reais interesses.É o conceito legal 
trazido no CPC no art. 219: “A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência 
e faz litigiosa a coisa”. 
 Já na justiça autocompositiva, a fluidez do meio empregado favorece a construção 
continuada do objeto da disputa, sob o aspecto objetivo e sob o aspecto subjetivo. O foco 
se faz nos interesses, que podem ser alterados e descobertos pelas partes durante o 
processo de construção da solução pactuada” (Neto, 2011, pp 3-4). 
 
 A mediação, juntamente com a conciliação, é reconhecida como atividade 
jurisdicional pelo Conselho Nacional de Justiça e, para induzir sua adoção como método 
alternativo de resolução de conflitos, o art. 6º, III, da Resolução 125/2010, determina que 
“as atividades relacionadas à conciliação,mediação e outros métodos consensuais de 
solução de conflitos sejam consideradas nas promoções e remoções de magistrados pelo 
critério do merecimento”. Além disso, na mesma resolução (art. 6º, V), o CNJ incentiva 
a “cooperação dos órgãos públicos competentes e das instituições públicas e privadas da 
área de ensino, para a criação de disciplinas que propiciem o surgimento da cultura da 
solução pacífica dos conflitos, de modo a assegurar que, nas Escolas da Magistratura, 
haja módulo voltado aos métodos consensuais de solução de conflitos, no curso de 
iniciação funcional e no curso de aperfeiçoamento” (sem grifo no original). 
 
 
5.4 Princípios da Mediação 
 
 
 Talvez residam nos princípios intrínsecos (ou filosóficos) da mediação sua 
diferenciação em relação aos demais métodos alternativos de resolução de conflitos. Em 
tese de doutorado, Gabbay assim escreve (Gabbay, 2011, pp 57-58): 
 “O mediador deve ter em mente que toda relação humana é plena de tensões e que nem 
o conflito pode ser definitivamente resolvido, nem isso é desejável, pois a conflituosidade 
(mantida, é claro, dentro de certos limites) é requisito e não empecilho a uma convivência 
saudável. Por isso, a função da mediação é transformar o modo como as partes 
percebem os seus conflitos, de forma a criar uma solução em que as partes sejam capazes 
de lidar autonomamente com a conflituosidade inerente à sua relação, no presente e no 
futuro. 
 (…) A mediação transformativa ajuda as partes a decidirem por elas mesmas, e a terem 
suas próprias vozes, com base no empoderamento de si e no reconhecimento do outro, 
ainda que precisem aprender a viver com o conflito e não com a sua solução (…). O 
acordo não é o único bom resultado possível. Esta é uma escolha que as partes podem 
ou não fazer” (sem grifos no original). 
 
 “Notou-se que a conciliação tende a lidar com um volume maior de casos do que a 
mediação, podendo atuar na esfera das disputas e nos limites do objeto do processo 
judicial, com um procedimento mais simples, voltado ao acordo, e sem que a relação entre 
as partes tenha que ser continuada. Já a mediação trabalha mais profundamente as facetas 
do conflito e os interesses das partes que estão por trás das disputas, estando voltada a 
relações continuadas, com um processo que demanda mais tempo e que não tem o acordo 
como meta, mas apenas como um dos resultados possíveis.” (Gabbay, 2011, p 82 – sem 
grifo no original). 
 
 
5.5 Atitudes do Mediador 
 
 
 A relevância da mediação, juntamente com a conciliação, e da figura do mediador (e 
do conciliador) adquiriu uma importância de tal envergadura entre os métodos 
alternativos de resolução de conflitos que o Conselho Nacional de Justiça editou a 
resolução 125/2010 que estabelece o Código de Ética de Conciliadores e Mediadores 
Judiciais, a seguir reproduzido na íntegra 
(fonte: http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1077812/cod-etica-mediador-
conciliador.pdf - consulta em 27/07/2013): 
 
 
 ANEXO III – RESOLUÇÃO 125/2010 
– CNJ 
 
 CÓDIGO DE ÉTICA DE CONCILIADORES E 
MEDIADORES JUDICIAIS 
 
 INTRODUÇÃO 
 
 O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, a fim de assegurar o desenvolvimento 
da Política Pública de tratamento adequado dos conflitos e a qualidade dos serviços de 
conciliação e mediação enquanto instrumentos efetivos de pacificação social e de 
prevenção de litígios, institui o Código de Ética, norteado por princípios que formam a 
consciência dos terceiros facilitadores, como profissionais, e representam imperativos de 
sua conduta. 
 
 Dos princípios e garantias da conciliação e 
mediação judiciais 
 
Artigo 1º - São princípios fundamentais que regem a atuação de conciliadores e 
mediadores judiciais:confidencialidade, competência, imparcialidade, neutralidade, 
independência e autonomia, respeito à ordem pública e às leis vigentes. 
 
§1º. Confidencialidade – Dever de manter sigilo sobre todas as informações obtidas na 
sessão, salvo autorização expressa das partes, violação à ordem pública ou às leis 
vigentes, não podendo ser testemunha do caso, nem atuar como advogado dos envolvidos, 
em qualquer hipótese; 
 
§2º. Competência – Dever de possuir qualificação que o habilite à atuação judicial, com 
capacitação na forma desta Resolução, observada a reciclagem periódica obrigatória para 
formação continuada; 
 
§3º. Imparcialidade – Dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou 
preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no resultado do 
trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e jamais aceitando 
qualquer espécie de favor ou presente; 
 
§4º. Neutralidade – Dever de manter equidistância das partes, respeitando seus pontos de 
vista, com atribuição de igual valor a cada um deles; 
 
§5º. Independência e autonomia - Dever de atuar com liberdade, sem sofrer qualquer 
pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou interromper a sessão 
se ausentes as condições necessárias para seu bom desenvolvimento, tampouco havendo 
obrigação de redigir acordo ilegal ou inexequível; 
 
§6º. Respeito à ordem pública e às leis vigentes – Dever de velar para que eventual acordo 
entre os envolvidos não viole a ordem pública, nem contrarie as leis vigentes. 
 
 Das regras que regem o procedimento de 
conciliação/mediação 
 
Art. 2º. As regras que regem o procedimento da conciliação/mediação são normas de 
conduta a serem observadas pelos conciliadores/mediadores para seu bom 
desenvolvimento, permitindo que haja o engajamento dos envolvidos, com vistas à sua 
pacificação e ao comprometimento com eventual acordo obtido, sendo elas: 
 
§1º. Informação - Dever de esclarecer os envolvidos sobre o método de trabalho a ser 
empregado, apresentando-o de forma completa, clara e precisa, informando sobre os 
princípios deontológicos referidos no capítulo I, as regras de conduta e as etapas do 
processo. 
 
§2º. Autonomia da vontade – Dever de respeitar os diferentes pontos de vista dos 
envolvidos, assegurando-lhes que cheguem a uma decisão voluntária e não coercitiva, 
com liberdade para tomar as próprias decisões durante ou ao final do processo, podendo 
inclusive interrompê-lo a qualquer momento. 
 
§3º. Ausência de obrigação de resultado – Dever de não forçar um acordo e de não tomar 
decisões pelos envolvidos, podendo, quando muito, no caso da conciliação, criar opções, 
que podem ou não ser acolhidas por eles. 
 
§4º. Desvinculação da profissão de origem – Dever de esclarecer aos envolvidos que atua 
desvinculado de sua profissão de origem, informando que, caso seja necessária orientação 
ou aconselhamento afetos a qualquer área do conhecimento poderá ser convocado para a 
sessão o profissional respectivo, desde que com o consentimento de todos. 
 
§4º. Teste de realidade – Dever de assegurar que os envolvidos, ao chegarem a um acordo, 
compreendam perfeitamente suas disposições, que devem ser exeqüíveis, gerando o 
comprometimento com seu cumprimento. 
 
 Das responsabilidades e sanções do 
conciliador/mediador 
 
Art. 3º. Apenas poderão exercer suas funções perante o Poder Judiciário conciliadores e 
mediadores devidamente capacitados e cadastrados pelos tribunais, aos quais competirá 
regulamentar o processo de inclusão e exclusão no respectivo cadastro. 
 
Art. 4º. O conciliador/mediador deve exercer sua função com lisura, respeitando os 
princípios e regras deste Código, assinando, para tanto, no início do exercício, termo de 
compromisso e submetendo-se às orientações do juiz coordenador da unidade a que 
vinculado; 
 
Art. 5º. Aplicam-se aos conciliadores/mediadores os mesmos motivos de impedimento e 
suspeição dos juízes, devendo, quando constatados, serem informados aos envolvidos, 
com a interrupção da sessão e sua substituição. 
 
Art. 6º. No caso de impossibilidade temporária do exercício da função, o 
conciliador/mediador deverá informar com antecedência ao responsável para que seja 
providenciada sua substituição na condução das sessões. 
 
Art. 7º. O conciliador/mediador fica absolutamente impedido de prestar serviços 
profissionais, de qualquer natureza, pelo prazo de dois anos, aos envolvidos em processo 
de conciliação/mediação sob sua condução. 
 
Art. 8º. O descumprimento dos princípios e regras estabelecidos neste Código, bem como 
a condenação definitiva em processo criminal, resultará na exclusão do 
conciliador/mediador do respectivo cadastro e no impedimento para atuar nesta função 
em qualquer outro órgão do Poder Judiciário nacional. 
 
Parágrafo único – Qualquer pessoa que venha a ter conhecimento de conduta inadequada 
por parte do conciliador/mediador poderá representar ao Juiz Coordenador a fim de que 
sejam adotadas as providências cabíveis. 
 
 
5.6 Aplicabilidade da Mediação 
 
 
 A Resolução n° 125, de 29 de novembro d 2010, do Conselho Nacional de Justiça, 
determina, no Art. 7°, IV, a criação de Centros Judiciários de Solução de Conflitos e 
Cidadania que “concentrarão a realização das sessões de conciliação e mediação que 
estejam a cargo de conciliadores e mediadores dos órgãos por eles abrangidos” e indica 
os tipos de conflitos abordados pela mediação, divididos em conflitos pré processuais e 
processuais: 
 
 1) Setor de Solução de Conflitos Pré Processual: O setor pré processual poderá 
recepcionar casos que versem sobre direitos disponíveis em matéria cível, de família, 
previdenciária e da competência dos Juizados Especiais, que serão encaminhados para a 
conciliação, a mediação ou outro método de solução consensual de conflitos disponível. 
 O interessado poderá comparecer pessoalmente ou enviar pretensão via e-mail com os 
dados essenciais e carta convite será enviada à parte contrária, informando a data, hora e 
local da sessão de conciliação ou mediação. 
 
 2) Setor de Solução de Conflitos Processual: Este setor receberá processos já 
distribuídos e despachados pelos magistrados, que indicarão o método de solução de 
conflitos a ser seguido, retornando sempre ao órgão de origem, após a sessão, obtido ou 
não o acordo, para extinção do processo ou prosseguimento dos trâmites processuais 
normais. 
 
 Na página sobre mediação do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do 
Sul (http://www.tjrs.jus.br/site/processos/conciliacao/mediacao.html - consulta em 
27/07/2013), em resposta a uma indagação sobre a identificação dos conflitos passíveis 
de mediação, lê-se: 
 
 Qualquer conflito ou desentendimento pode ser mediado, desde que não haja perigo 
iminente e nem ameaças sérias entre as partes. 
 A mediação, por restabelecer um canal de diálogo, é recomendada em conflitos de 
duração continuada. Assim, são passíveis de mediação processos que envolvam : 
 
 - Guarda e visita de filhos 
 - pensão alimentícia, divórcio, divisão de bens 
 - sucessão 
 - dificuldade de convivência entre parentes 
 - cuidados com idosos 
 - questões de vizinhança e condomínios 
 - ações possessórias 
 
 Eventualmente, podem ser objeto de mediação relações envolvendo direitos do 
consumidor, negócios e contratos entre particulares e ações de indenização. 
 
 
5.7 Procedimentos da Mediação 
 
 
 A Resolução n°125, de 29 de novembro d 2010, do Conselho Nacional de Justiça, 
apresenta seção própria sobre as regras de procedimentos para a conciliação e mediação, 
que são a seguir transcritas: 
 
Das regras que regem o procedimento de conciliação/mediação 
 
Art. 2º. As regras que regem o procedimento da conciliação/mediação são normas de 
conduta a serem observadas pelos conciliadores/mediadores para seu bom 
desenvolvimento, permitindo que haja o engajamento dos envolvidos, com vistas à sua 
pacificação e ao comprometimento com eventual acordo obtido, sendo elas: 
 
§1º. Informação - Dever de esclarecer os envolvidos sobre o método de trabalho a ser 
empregado, apresentando-o de forma completa, clara e precisa, informando sobre os 
princípios deontológicos referidos no capítulo I, as regras de conduta e as etapas do 
processo. 
 
§2º. Autonomia da vontade – Dever de respeitar os diferentes pontos de vista dos 
envolvidos, assegurando-lhes que cheguem a uma decisão voluntária e não coercitiva, 
com liberdade para tomar as próprias decisões durante ou ao final do processo, podendo 
inclusive interrompê-lo a qualquer momento. 
 
§3º. Ausência de obrigação de resultado – Dever de não forçar um acordo e de não 
tomar decisões pelos envolvidos, podendo, quando muito, no caso da conciliação, criar 
opções, que podem ou não ser acolhidas por eles. 
 
§4º. Desvinculação da profissão de origem – Dever de esclarecer aos envolvidos que 
atua desvinculado de sua profissão de origem, informando que, caso seja necessária 
orientação ou aconselhamento afetos a qualquer área do conhecimento poderá ser 
convocado para a sessão o profissional respectivo, desde que com o consentimento de 
todos. 
 
§5º. Teste de realidade – Dever de assegurar que os envolvidos, ao chegarem a um 
acordo, compreendam perfeitamente suas disposições, que devem ser exequíveis, gerando 
o comprometimento com seu cumprimento. 
 
 
5.8 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
 
GABBAY, Daniela Monteiro. Mediação & Judiciário. Condições necessárias para a 
institucionalização dos meios autocompositivos de solução de conflitos. São Paulo: 
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, tese de doutorado, 2011. Disponível 
em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/2/2137/tde-24042012-141447/pt-br.php. 
Consulta em 25/07/2013. 
 
NETO, Joaquim Domingos Almeida. A prática da Mediação em contexto Judiciário: 
Busca de Meios Adequados de Resolução de Disputas. Rio de Janeiro: TJRJ, 2011. 
Disponível em http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1077863/a-pratica-da-mediacao-
em-contexto-judiciario.pdf. Consulta em 27/07/2013. 
 
RESOLUÇÃO 125/2010 do CNJ. Disponível 
em http://portaltj.tjrj.jus.br/documents/10136/1b991fa1-3a3c-494b-809b-6745aad6209c. 
Consulta em 27/07/2013. 
 
VASCONCELOS, Carlos Eduardo. Mediação de conflitos e práticas restaurativas. São 
Paulo: Método, 2008. Disponível 
emhttp://www.tjrj.jus.br/documents/10136/1077863/livro-mediacao-conflitos.pdf. 
Consulta em 27/07/2013. 
 
Unidade 6: Arbitragem 
 
 
Sumário 
 
 
 6.1 Objetivos 
 6.2 Origem e conceituação 
 6.3 Paradigmas 
 6.4 Princípios da Arbitragem 
 6.5 Atitudes do Árbitro 
 6.6 Aplicabilidade da Arbitragem 
 6.7 Procedimentos de Arbitragem 
 6.8 Referências bibliográficas & sugestões de leitura 
 
 
6.1 Objetivos 
 
 
 Ao final da unidade você estará apto a 
 
 - conceituar a Arbitragem; 
 - diferenciar a Arbitragem de outros métodos alternativos de resolução de conflitos; 
 - identificar as técnicas de Arbitragem; 
 - conhecer os procedimentos de Arbitragem; 
 - conhecer as situações às quias a Arbitragem se aplica. 
 
 
6.2 Origem e conceituação 
 
 
 Inicialmente, convém relembrar dois conceitos importantes no contexto dos métodos 
alternativos de resolução de conflitos, que são as técnicas autocompositivas e 
heterocompositivas na 
identificação de uma solução racional e adequada para a disputa. Adicionalmente, a 
diferenciação entre “regras de direito” e “regras de equidade” torna-se necessária. 
 
 As técnicas autocompositivas fundamentam-se na participação espontânea e ativa das 
partes, cabendo a elas, em primeiro lugar, buscar o entendimento e solução para o 
conflito. A figura de um terceiro elemento visa facilitar esse entendimento e elaboração 
de soluções possíveis, sendo dispensável, como no caso de negociação direta entre as 
partes. 
 As técnicas heterocompositivas podem se apoiar na participação espontânea e ativa das 
partes que, idealmente, é o comportamento desejável, em especial na arbitragem, ou na 
participação coercitiva (a ocorrência de revelia, no processo judicial, é exemplo de 
participação coercitiva do demandado. Para a arbitragem, ver observações ao final deste 
tópico). 
 Na técnica heterocompositiva, um terceiro ator, livremente escolhido pelas partes no 
caso da arbitragem ou imposto pelo Estado no caso de processos judiciais, conduz o 
conflito e detém o poder de decidir e sua decisão vincula as partes ao cumprimento dos 
termos expostos na sentença. 
 Regras de direito são os regramentos explicitamente expressos na legislação ordinária, 
que determinam formas, tempo e lugar dos procedimentos judiciais. Apresentam 
resultados de soma zero, em que, nos contenciosos judiciais, a parte vencedora ganha na 
exata medida em que a parte derrotada perde. 
 Regras de equidade são princípios que suplementam os regramentos explicitamente 
expressos na legislação ordinária e que procuram corrigir possíveis efeitos nocivos 
derivados da imediata aplicação dessas regras. Apresentam resultados de soma maior que 
zero em que, nas disputas, a sentença exprime resultados que atendem equilibradamente 
os interesses das partes. 
 
 Enquanto a negociação, a conciliação e a mediação baseiam-se na autocomposição 
como técnica para definição de uma solução para o conflito de interesses, a arbitragem é 
técnica heterocompositiva em que a sentença proferida pelo árbitro é tão vinculante 
quanto a sentença proferida por um Juiz. A particularidade da sentença arbitral é que, se 
não cumprida, é necessário apelar aos tribunais para a implementação de atos que 
resultem em constrição no patrimônio da parte inadimplente (cumprimento da sentença). 
 
 A Lei de Arbitragem, n° 9.307/96, estabelece as condições e requisitos para a 
arbitragem no Brasil e equipara a sentença arbitral à sentença judicial, como tacitamente 
explícito nos seguintes artigos: 
 
 Art. 17. Os árbitros, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, ficam 
equiparados aos funcionários públicos, para os efeitos da legislação penal. 
 Art. 18. O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita 
a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário 
 
 Algumas brechas para postergar o cumprimento da sentença presentes na Lei 9.307/96 
foram sanadas pela Lei 11.232/2005, afastando a possibilidade das sentenças arbitrais 
serem consideradas como parciais ao ajustá-las ao devido processo legal (para uma visão 
completa das alterações promovidas pela Lei 11.232/2005, ver Lei 11.232/05 
comentada (Lopes, 2013)) 
 
 Um forte incentivo à adoção da arbitragem no Brasil decorre da maior inserção do País 
no intercâmbio econômico internacional, em que esse método se define como preferencial 
na resolução de possíveis controvérsias por, em larga escala, evitar particulares das 
legislações de cada país. Tal argumento está claro nos primeiros artigos da Lei de

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