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Filosofia e Lógica Filosofia e Lógica Delmo Mattos 2ª e di çã o Filosofia e Lógica DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira Reitora Marlene Salgado de Oliveira Presidente da Mantenedora Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Marcio Barros Dutra DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Diretora Claudia Antunes Ruas Guimarães Assessora Andrea Jardim FICHA TÉCNICA Texto: Delmo Mattos Revisão: Lívia Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos Supervisão de Materiais Instrucionais: Janaina Gonçalves de Jesus Ilustração: Daniel Mattos Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos COORDENAÇÃO GERAL: Departamento de Ensino a Distância Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói M444f Mattos, Delmo . Filosofia e lógica. Delmo Mattos ; revisão de Lívia Antunes Faria Maria e Walter P. Valverde Júnior. – 2.ed. - Niterói, RJ: UNIVERSO, 2010. 218p. ; il. 1. Filosofia. 2. Lógica. I- Maria, Lívia Antunes Faria. II- Valverde Júnior, Walter P. III- Título. CDD 100 Bibliotecária: ANA MARTA TOLEDO PIZA VIANA – CRB/ 7 - 2224 © Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). Filosofia e Lógica Palavra da Reitora Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente. São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria aprendizagem. O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma. Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem- sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, graduação ou pós-graduação. Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual! Professora Marlene Salgado de Oliveira Reitora Filosofia e Lógica Filosofia e Lógica Sumário 1. Apresentação da disciplina ......................................................................................................................................... 06 2. Plano da disciplina .......................................................................................................................................................... 09 3. Unidade 1 – A importância da investigação filosófica ....................................................................................... 13 4. Unidade 2 – As diversas formas de interpretação da realidade: o senso comum, conhecimento científico e o conhecimento filosófico ..................................................................... 29 5. Unidade 3 – A filosofia conta a sua história: os principais períodos da história da filosofia .......................................................................................................................................................... 47 6. Unidade 4 – Os principais campos de investigação do conhecimento filosófico .............................................................................................................................................................................. 63 7. Unidade 5 – O problema do conhecimento e a reflexão acerca da verdade ................................................................................................................................................................................ 81 8. Unidade 6 – A teoria do conhecimento: A explicação filosófica acerca das possibilidades do conhecimento humano ..................................................................................................... 95 9. Unidade 7 - Os conceitos fundamentais da Lógica clássica e a sua aplicabilidade no campo da ........................................................................................................................................ 113 10. Unidade 8 - Matemática e da ciência ...................................................................................................................... 127 11. Unidade 9 - A epistemologia e a filosofia da ciência .......................................................................................... 145 12. Unidade 10 - A filosofia moral: ética, moral e valores humanos .................................................................... 161 13. Unidade 11 - A filosofia política .................................................................................................................................. 177 14. Unidade 12 - A filosofia no Brasil: a questão sobre a existência de uma filosofia genuinamente brasileira .............................................................................................................................. 193 15. Considerações finais ....................................................................................................................................................... 207 16. Conhecendo o autor ....................................................................................................................................................... 208 17. Referências ......................................................................................................................................................................... 209 18. Anexos ......................................................................................................................................................................................211 Filosofia e Lógica Apresentaçãoda Disciplina Você acaba de receber o Livro de Estudo da disciplina Filosofia e Lógica. Este livro foi elaborado página a página pensando em você e nas suas necessidades. Por isso, leia-o sempre e reflita sobre cada assunto. O estudo constante lhe garantirá maior segurança e aprendizado. Você já parou para refletir sobre a sua condição de estudante universitário? Em geral, o que um estudante universitário está procurando é um curso que o transforme em um profissional qualificado. Por isso, este se dispõe a ficar alguns anos por conta de obter o diploma que lhe dará crédito no mercado de trabalho. Neste sentido, a universidade é só um meio para alcançar essa ansiada meta: ser profissional para entrar no mercado de trabalho e ter sucesso na vida. Trata-se, portanto, de uma perspectiva individualista que segue uma lógica bastante evidente: eu passei para a universidade, eu devo passar em cada uma das disciplinas, eu devo passar em cada um dos semestres, eu devo fazer minha monografia, eu devo obter meu título ou a minha graduação. Pensando assim, o terceiro grau é um vago episódio na nossa vida. Ela é somente um “ente” que nos confere um título. Usando a experiência universitária neste sentido, jogamos fora a grande chance que a universidade nos dá: pertencer a uma longínqua tradição. Tradição de pensamento, tradição de conhecimento, tradição de busca, tradição de sentimento. Perdemos a oportunidade de vivenciar a experiência de pertencer a uma teia que tem raízes muito profundas na história humana, pois o conhecimento, em qualquer das áreas de especialização, não é outra coisa que o resultado dos esforços de milhares de homens e mulheres que, ao longo dos milênios, acumularam saber e o transmitiram de geração em geração até o presente e o farão no futuro. Assim, a disciplina de Filosofia será apresentada sob esta forma de ver nosso percurso pela universidade: eu chego à faculdade onde serei iniciado numa tradição de conhecimento que está, por sua vez, conectada intimamente com a história do pensamento e do conhecimento da humanidade. Ao final disso, serei um iniciado capaz de perpetuar essa tradição, transmitindo e ampliando seus conteúdos. Tornar-me-ei um membro legítimo de um grupo de seres humanos que durante milênios perseguiram o seu desejo de conhecer o mundo que os rodeia, a sociedade e a si mesmos. 9 Filosofia e Lógica Como a Filosofia é uma instituição que tem uma tradição e uma história de mais de vinte e cinco séculos, nada mais coerente com o nosso propósito de estudar a disciplina Filosofia é travar um debate com a sua própria história. Assim, a melhor maneira de se estudar Filosofia é refazermos o percurso percorrido pela história da Filosofia desde o seu nascimento. Sem vivenciar o passado filosófico, sem examinar a sua problemática através de uma prévia visão retrospectiva do seu evoluir histórico, é quase impossível compreendê-la. Porque de todos os saberes nenhum é tão comprometido como o seu passado histórico do que a Filosofia. Outros saberes ou ciências aceitam os resultados da sua evolução histórica, bastando apenas o aproveitamento destes sem a necessidade de se reportar a sua própria história. A Filosofia, ao contrário de outras ciências, historicamente se constitui, em parte, em si mesma, porque a construção histórica da Filosofia já é um filosofar e, portanto, é já Filosofia. Por isso, a necessidade de ao estudar a Filosofia tenha necessariamente que iniciar por refazer minuciosamente a sua própria história para compreender a sua problemática, a sua importância e finalidade como também reconhecer que o que somos e o que temos é resultado de uma grande aventura que se chama: história da humanidade. Levando em conta tudo o que foi dito acima, a nossa disciplina tem por finalidade principal: - Capacitação para um modo especificamente filosófico de formular e propor soluções a problemas nos diversos campos do conhecimento; - Capacidade de desenvolver uma consciência crítica sobre conhecimento, razão e realidade sócio-histórico-política; - Estimular a aquisição de competências adequadas ao exercício profissional compromissado com o “aprender a aprender”, possibilitando o crescimento pessoal e o amadurecimento intelectual; - Compreensão da importância das questões acerca do sentido e da significação da própria existência e das produções culturais; - Percepção da integração necessária entre a Filosofia e a produção científica, artística, bem como com o agir pessoal e político; 10 Filosofia e Lógica - Capacidade de relacionar o exercício da crítica filosófica com a promoção integral da cidadania e com o respeito à pessoa, dentro da tradição de defesa dos direitos humanos. - Capacitar o discente a interpretar, discutir e relacionar logicamente os conceitos e dados de cada disciplina específica. Aceite esse desafio que lhe convidamos agora, mergulhe de cabeça neste imenso oceano do pensamento e do raciocínio, e deixe o resto por conta de sua competência e destreza. Bom estudo ! Não esqueça de se organizar! Reserve um horário para leituras complementares, fazer seus exercícios, garantindo assim um ótimo desempenho. Desejamos que você tenha um excelente estudo e alcance o sucesso! 11 Filosofia e Lógica Plano da Disciplina Esta disciplina foi elaborada tendo em vista fornecer um quadro geral de uma determinada questão filosófica, o que facilita o seu estudo em profundidade, pois permite facilmente uma visão segura do campo geral em que está colocada cada questão particular da Filosofia. Desta forma, não se constitui em uma síntese esquemática e sufocante para os estudantes, mas oferece uma exposição que realça o que é de essencial sobre uma determinada questão ou assunto, deixando outras para que você tenha iniciativa de investigá-las por conta própria. Há assim uma unidade que se manifesta no equilíbrio da exposição, na proporção e hierarquia dos assuntos apresentados. Além disso, a elaboração do conteúdo desta disciplina tem por objetivo fazer com que você se contagie pelo gosto do raciocínio e utilização da reflexão crítica, pois veremos que esta disciplina lhe trará satisfação e liberdade. Segue abaixo um pequeno resumo acerca de cada unidade para que você possa ter uma visão global daquilo que irá estudar. UNIDADE 1: A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA. Objetivo: Procuramos através desta unidade mostrar a relevância e a necessidade do estudo da disciplina Filosofia, focando, sobretudo, o seu aspecto questionador como um exercício da liberdade da humana. Por outro lado, faz-se necessário investigar a sua necessidade diante das especificidades da sociedade em que vivemos. UNIDADE 2: AS DIVERSAS FORMAS DE INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE: SENSO COMUM, CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O CONHECIMENTO FILOSÓFICO. Objetivo: Compreender que a interpretação humana da realidade se dá através de várias formas, sendo estas formas as relações que o homem compreende e interpreta o mundo. Caracterizar cada uma dessas formas de interpretação da realidade, Senso Comum, Conhecimento Científico e Conhecimento Filosófico indicando suas características marcantes a fim de problematizar o que as distinguem uma das outras. 12 Filosofia e Lógica UNIDADE 3: O NASCIMENTO DA FILOSOFIA E O SEU ESTABELECIMENTO ENQUANTO CONHECIMENTO RACIONAL. Objetivo: Compreender as condições que permitiram o surgimento de uma nova forma de pensar denominada de Filosofia. Problematizar a discussão, inicialmente, em torno do pensamento mítico, mostrando que a Filosofia se inicia a partir deste pensamento. Mostrar as principais características da Filosofia em seu nascimentona Grécia, e o que especulavam os primeiros filósofos. UNIDADE 4: A FILOSOFIA CONTA A SUA HISTÓRIA: OS PRINCIPAIS PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA. Objetivo: Compreender a evolução da Filosofia através dos principais períodos da sua história. Trata-se, portanto, de percorrer a história da Filosofia através dos seus momentos e dos tipos de abordagem que variam ao longo da história da humanidade. UNIDADE 5: OS PRINCIPAIS CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO DO CONHECIMENTO FILOSÓFICO. Objetivo: Procuramos através desta unidade delinear algumas das principais disciplinas ou ramos da Filosofia. Nosso objetivo principal é mostrar o desdobramento da Filosofia em vários campos de conhecimento. UNIDADE 6: O PROBLEMA DO CONHECIMENTO E A REFLEXÃO ACERCA DA VERDADE. Objetivo: O objetivo desta unidade é fornecer uma introdução ao problema do conhecimento. Procuramos destacar alguns aspectos iniciais acerca deste problema, tais como: o conceito de verdade e a questão da relação entre o sujeito e o objeto, à medida que fornecemos uma preparação para a próxima unidade em que analisaremos a teoria do conhecimento propriamente dita. UNIDADE 7: A TEORIA DO CONHECIMENTO: A EXPLICAÇÃO FILOSÓFICA ACERCA DAS POSSIBILIDADES DO CONHECIMENTO HUMANO. Objetivo: Pretende-se apresentar o desenvolvimento histórico do tema e dos problemas da teoria do conhecimento pelo estudo dos problemas filosóficos relativos ao alcance, limite e origem do conhecimento. 13 Filosofia e Lógica UNIDADE 8: OS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA LÓGICA CLÁSSICA E A SUA APLICABILIDADE NO CAMPO DA MATEMÁTICA E DA CIÊNCIA. Objetivo: Através do exame de um ramo específico da Filosofia denominada de Lógica, iremos analisar os conceitos fundamentais da Lógica Clássica, como também a sua aplicabilidade no campo da matemática e da ciência. Com isto, pretendemos conduzi-lo a uma abordagem que contemple tanto o aspecto da lógica no sentido filosófico, como também a sua aplicabilidade e funcionalidade no âmbito das ciências exatas. UNIDADE 9: A FILOSOFIA DA CIÊNCIA. Objetivo: O objetivo desta unidade é de examinar a constituição da filosofia da ciência e fornecer uma apreciação mais ampla dos argumentos que transformaram o debate sobre a ciência numa discussão sobre os valores e o compromisso do conhecimento científico para com a sociedade. UNIDADE 10: ÉTICA, MORAL E VALORES HUMANOS. Objetivo: Esta unidade constitui uma reflexão sobre o significado dos conceitos de ética e moral. Começaremos por apresentar o significado dos valores morais, para a partir desses, examinarmos os conceitos de moral e de ética. UNIDADE 11: A FILOSOFIA POLÍTICA. Objetivo: Fornecer uma análise dos problemas fundamentais da filosofia política com base em alguns temas e autores relevantes que apresentam problemas que continuam sendo fundamentais na reflexão sobre o poder, o Estado, as instituições sociais e as relações entre os seres humanos. UNIDADE 12: FILOSOFIA NO BRASIL: A QUESTÃO SOBRE A EXISTÊNCIA DE UMA FILOSOFIA GENUINAMENTE BRASILEIRA. Objetivo: Esta unidade possui como objeto apresentar uma reflexão acerca da genuinidade da reflexão de uma filosofia brasileira. Procura mostrar alguns aspectos do debate sobre a originalidade da filosofia no Brasil, como também, delineia a trajetória da formação de um pensamento filosófico no Brasil, seja ele genuíno ou não. 14 Filosofia e Lógica Filosofia e Lógica A Importância da Investigação Filosófica O que é Filosofia e por que é necessário estudá-la? A utilidade da reflexão Filosófica. 1 Filosofia e Lógica 14 Caro aluno, seja bem-vindo a nossa primeira unidade. Ela visa delinear a configuração do pensamento filosófico. Para isso, buscamos compreender a questão acerca da sua utilidade através de uma breve explicação da relevância da Filosofia como atitude de questionamento da realidade. Espero que por intermédio desta explicação você se sinta mais confortável ao se introduzir no espetacular “mundo da Filosofia”. OBJETIVOS DA UNIDADE: Reconhecer a relevância e a necessidade do estudo da disciplina Filosofia, focando, sobretudo, o seu aspecto questionador como um exercício da liberdade humana e investigar a sua necessidade diante das especificidades da sociedade em que vivemos. PLANO DA UNIDADE: • O que é Filosofia e por que é necessário estudá-la? • A utilidade da reflexão Filosófica. Bem-vindo à primeira unidade de estudo. Sucesso! Filosofia e Lógica 15 O que é filosofia e por que é necessário estudá-la? Uma definição precisa do real significado do que é Filosofia é quase impraticável. Difícil se torna entender a definição de Filosofia sem se possuir uma vivência, por mais insignificante que seja, acerca dos seus “problemas” fundamentais. Dessa forma, o significado ou a simples definição do que é Filosofia, formulado no início de qualquer compêndio ou tratado, só passa adquirir pleno sentido e profunda ressonância no entendimento do estudante de Filosofia, quando este, assimiladas certas questões fundamentais, pode aplicá- las a situações concretas e deduzir daí como procede a reflexão filosófica. Pois bem, afinal de contas, por que é necessário estudar Filosofia? Segundo Porta (2002, p. 25), “para quem não se dedicou a um estudo sistemático da filosofia e tem um contato primário com essa disciplina, a impressão de um certo caos é inevitável”. A Filosofia, neste sentido, é compreendida como uma disciplina em que cada Filósofo ou autor pode dizer o que quiser sobre o conteúdo e o discurso filosófico. Porém, esta impressão é falsa, ou seja, a reflexão filosófica não pode ser compreendida assim. Se o estudante de Filosofia não entende o que os Filósofos dizem, acreditando que cada um meramente diz “o que quer”, isso pode ser explicado pelo fato de que não se entende o “problema” que os Filósofos apresentam ou, ainda, porque não constata que existam “problemas”. Esse é um dos motivos principais que nos faz entender o motivo básico da falta de interesse pelo estudo da Filosofia. Compêndio: Estudo introdutório e sintetizado de uma determinada disciplina ou assunto. Filosofia e Lógica 16 IMPORTANTE No entanto, a Filosofia está repleta de “problemas”, e mais, a lista dos “problemas” filosóficos está submetida a uma constante revisão, que nunca tem fim. Ora, pode-se dizer que se a Filosofia se faz com “problemas”, quando este não há, tampouco pode haver Filosofia propriamente dita. Isto é lógico! Bom, se a Filosofia se faz com “problemas”, você já deve estar se perguntando: quais são os “problemas” da Filosofia? Por incrível que pareça os “problemas” fundamentais da Filosofia se originam do “espanto” e da “perplexidade” que temos diante das coisas que parecem ser comuns a nós. Assim, na visão de Garcia Morente (1970, p. 33-34): “Para abordar a Filosofia, para entrar no território da Filosofia, é absolutamente indispensável uma primeira disposição de ânimo. É absolutamente indispensável que o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar a seu estudo uma disposição infantil. Quem quiser ser filósofo necessitará infantilizar-se, transformar-se em menino.” Esta afirmação paradoxal de Garcia Morente nos coloca diante do mais importante ou o ponto de partida de todos os “problemas” que irão permear o estudo da Filosofia, ou seja, o “espanto” ou a “perplexidade” como o início de todo o processo da reflexão filosófica. Espanto - Usa-se o termo “espanto” no sentido de admiração e inquietação dianteda realidade. A primeira virtude do Filósofo, afirmava Platão, é o espanto (em grego: thaumázein) que significa a capacidade de admirar e problematizar as coisas. Filosofia e Lógica 17 O que significa este “espanto” e tal “perplexidade” para com as coisas, com a realidade em que estamos inseridos? Ora, a capacidade de se espantar diante das coisas, de se admirar é uma característica própria de todo ser humano. Do “espanto” e da “perplexidade” surge a nossa capacidade de interrogação, ou seja, de uma busca incessante de uma explicação plausível para os fatos sobre os quais nos deparamos, pelas coisas que vivemos, sentimos, da nossa realidade e das coisas que ainda podemos esperar. Esta atitude é comparada com a de uma criança ou um menino, como vimos na citação de Morente. Doravante, o sentido de que a disposição do ânimo que se faz presente na origem do processo da reflexão filosófica deve consistir necessariamente em perceber e sentir por onde quer que for, tanto no âmbito de nossas vidas, tanto no âmbito da realidade que participamos, um sentimento de admiração, espanto e de uma curiosidade insaciável, como a de uma criança que inicialmente não compreende nada e para quem tudo está repleto de “problemas”. É neste sentido que a etimologia da palavra Filosofia é compreendida. O termo “Filosofia” significava originariamente “amante da sabedoria”, tendo surgido com a famosa réplica de Pitágoras aos que o chamavam de “sábio”. Insistia Pitágoras em que sua sabedoria consistia unicamente em reconhecer sua ignorância, não devendo, portanto, ser chamado de “sábio”, mas apenas de “amante da sabedoria”. Nesta acepção, a Filosofia apresenta-se como uma busca incessante pelo saber, através do “espanto” originário de todo ser humano. Com efeito, a Filosofia mantém acesa a capacidade humana de espantar-se com tudo, na medida em que chama a nossa atenção de que nada é tão óbvio assim e que todas as coisas são passíveis de “espanto” e “perplexidade”. Nada pode escapar ao olhar crítico de quem se espanta com os fatos. Quem se “espanta” também possui a capacidade de questionar, de duvidar, pois o “espanto” e a “perplexidade” são a base para a atitude questionadora da Filosofia. A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria e dela vem a palavra sophos, sábio. Pitágoras - Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. Filosofia e Lógica 18 Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música, teatro) e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Este terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo. Se você percebeu, através do que apresentamos acima, delineamos a principal característica da Filosofia, talvez o seu postulado fundamental, que é o seu caráter de questionamento. Através desta caracterização, podemos, enfim, entender a importância e a finalidade de se estudar a Filosofia. De acordo com Iglesias (2002, p. 17): “Ora, quando uma sociedade em que as explicações estão prontas, onde as normas são aceitáveis sem discussão, a tendência é estagnar. As alterações, inevitáveis em qualquer comunidade humana, ficam por conta de fatores externos: mudanças climáticas, cataclismas, guerras, invasões... Mas onde há questionamento de tudo existe um princípio interno de transformação, e existe a permanente possibilidade de mudança.” Como se pode notar pela citação da autora acima, na maioria das vezes a sociedade, em seu cotidiano, é repleta de crenças, muitas vezes “silenciosas”, em que as explicações “prontas” nos fazem aceitar as coisas e as ideias como sendo óbvias e naturais. Isso pode ser explicado porque em nossa “experiência cotidiana” na sociedade, surge uma série de concepções que são aceitas de modo que se tornam um consenso entre os seus membros. Ao acharmos como óbvias tais concepções, estas se tornam uma verdade incontestável, mas na verdade elas escondem ideias e valores falsos, parciais e preconceituosos. Filosofia e Lógica 19 Mas por que razão acreditamos nestas crenças e nestes valores? Acreditamos porque não nos espantamos e nem temos uma perplexidade diante deles. Apenas acreditamos, na medida em que fazemos parte de uma sociedade que não estimula aquela curiosidade insaciável tal como a de uma criança. Pois, aquele para quem tudo resulta muito natural e óbvio, nunca poderá compreender que há uma falta de fundamentação, uma ambiguidade e uma incompatibilidade entre os fatos do cotidiano, isto é, da “experiência cotidiana”. Desta forma, a Filosofia pressupõe uma “não-aceitação” às crenças e aos preceitos da “experiência cotidiana”. Quando não aceitamos mais as coisas como óbvias, introduzimos na nossa atitude com a realidade certo distanciamento daquilo que é consenso, daquilo que é aceito por todos. Por esta atitude, somos instigados a questionar as crenças e os valores da “experiência cotidiana” e, ao questionarmos, exigimos respostas e justificações para as crenças e valores que dominam a sociedade. Segundo Chauí (2005, p. 18): “Para Platão, o discípulo de Sócrates, a Filosofia começa com a admiração ou, como escreve seu discípulo Aristóteles, a Filosofia começa com o espanto ‘... pois os homens começam e começaram sempre a filosofar movidos pelo espanto (...) Aquele que se coloca uma dificuldade e se espanta reconhece a sua própria ignorância (...) De sorte que, se filosofaram, foi para fugir da ignorância.” Lembra que dissemos acima que o “espanto” e a “perplexidade” são a base para a atitude questionadora da Filosofia? Pois então, aí está sinalizado o caminho para compreendermos porque precisamos estudar Filosofia. O “espanto” e a “perplexidade” que temos das coisas significam nada mais do que o reconhecimento da nossa ignorância e, ao reconhecê- la, já estamos nos pondo diante de sua superação. Se nos espantamos com algo é porque este nos produz uma inquietação. Tal inquietação, certamente, nos Filosofia e Lógica 20 conduzirá a um amontoado de questionamentos e indagações a respeito de algo, isto, portanto, só é possível na medida em que tomamos distância da “experiência cotidiana”, fugindo assim do consenso, daquilo que é aceito por todos sem uma prévia indagação. Desta forma, esse distanciamento configura-se como uma diferenciação, não aceitar o costumeiro é se distanciar do consenso, do comum, isto é, daquilo que não contém a atitude questionadora da Filosofia. Já vimos que a Filosofia tem como base a função de questionar, de refletir sobre os “fatos do cotidiano”. Assim, através da Filosofia, podemos conhecer a fundo a nossa capacidade de refletir e questionar. Você deve estar se perguntando em que sentido o estudo da Filosofia pode te levar a avaliar a sua capacidade reflexiva. A resposta é que ao utilizarmos a nossacapacidade de questionar e refletir, podemos exercer o poder de transformar a realidade que nos cerca e a nós mesmos, pois ao questionarmos ou nos espantarmos com certas coisas que são tidas como óbvias, estamos praticando nada mais do que o exercício de liberdade. Ora, sem questionarmos as coisas, não poderíamos ser de modo algum livres. Considerar as coisas, a “experiência cotidiana” sem um prévio questionamento é não ser dono de nossas próprias ações na medida em que se é movido por causas que não são as nossas. Essa é a diferença entre quem estuda Filosofia e aqueles que vivem imersos em valores e crenças do cotidiano. Estes não possuem o poder de reflexão e, por isso mesmo, não podem escolher por si mesmo o curso de ação que irão adotar. É neste momento que fica bastante claro a necessidade de se estudar Filosofia. A atitude de questionamento e de indagação é a condição de possibilidade para nos tornarmos livres. Se for assim, então o estudo da Filosofia está muito próximo da liberdade. Assim, se o questionamento e a indagação levam-nos a liberdade, e se a Filosofia nos permite usar essa capacidade de questionar as coisas com mais profundidade tal como a atitude de uma criança, então a Filosofia pode ser compreendida como uma ferramenta primordial para o exercício de nossa liberdade, pois nos leva a refletir sobre as coisas mais claramente, resultando no uso de nossa capacidade de escolha com mais plenitude. Filosofia e Lógica 21 Eis, então, a resposta para a pergunta da necessidade de se estudar Filosofia, ou seja, o exercício e o estudo da Filosofia é a expressão mais profunda e plena da nossa liberdade. Ela representa a liberdade do refletir, do pensar e que, portanto, nos conduz a agirmos livremente. O estudo da Filosofia pressupõe que reflitamos e indagamos o sentido de nossas vidas, nossas ações e a realidade que nos rodeia, a situação do nosso país, os valores e as crenças da nossa sociedade etc. A utilidade da reflexão filosófica Há uma questão que muita gente formula de imediato quando ouve falar da Filosofia: qual a utilidade da Filosofia? Podemos ver acima que a principal característica da Filosofia consiste no caráter questionador e no exercício da liberdade. Será que estas características da Filosofia estão em conformidade com a realidade da nossa sociedade? Qual seria a utilidade da Filosofia em relação a esta realidade? Ora, na nossa sociedade atual é considerado útil aquilo que possui uma finalidade prática e imediata. Tudo se processa ou tem razão de existir se tiver uma aplicação prática que forneça algum resultado imediato, não é isso? Um exemplo deste fato é que todo mundo sabe que todo aquele que estuda engenharia, de uma maneira geral, irá participar da construção de edifícios, ruas, bairros, cidades etc. Todos sabem que a utilidade de se filmar um roteiro cinematográfico é, senão, para que as pessoas vejam o tal enredo sendo encenado e que ao assistirem ao filme pronto se emocionem, que se tal filme for bem aceito pelo público, seja merecedor de um Oscar e que ao ser visto por milhões de telespectadores, ele retorne em dividendos para seus produtores. Tudo hoje em dia é visto sob este aspecto finalístico, em que tudo que é feito possui uma razão de ser. Segundo Chauí (2005, p. 24): “(...) Nossa sociedade considera útil o que nos dá prestígio, poder, fama e riqueza. Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando sua possível utilidade, como na famosa expressão ‘levar vantagem em tudo. ’” Filosofia e Lógica 22 Sobre este aspecto, não há, certamente, expectativa alguma de que a Filosofia contribua para a produção de riqueza material. Contudo, a menos que suponhamos que a riqueza material seja a única coisa de valor, a incapacidade da Filosofia de promover este tipo de riqueza não implica em que não haja sentido prático em filosofar. Ora, se a Filosofia não traz riquezas, em muito menos nos dá prestígio ou poder. Por que, então há pessoas que se dedicam a essa atividade? Para que serve a filosofia? Para respondermos a tal indagação, faz-se necessário, em primeiro lugar, refletir sobre a expressão “para que serve?”. Primeiramente, devemos nos ater que a própria questão acerca do que “para que serve?” já é o começo de toda atitude filosófica, isto é, o ato de refletir. A questão acerca do que “para que serve?”, de antemão, pressupõe uma visão utilitária das coisas. No entanto, no sentido utilitário das coisas, não há como vislumbrar para que serviria a Filosofia. Aí então, poderíamos dizer a célebre expressão: a Filosofia não serve para nada! Mas, tal expressão só poderia fazer sentido se limitássemos a pensar a Filosofia através da possibilidade de que com ela se poderia obter uma utilidade econômica, isto é, obter lucro com a sua utilização. Se for assim, a Filosofia sempre permanecerá no direito de se manter inteiramente inútil. Se ao contrário, pensássemos a utilidade da Filosofia sem a visão utilitária que permeia a nossa sociedade, isto é, sem a visão do que o que é útil pressupõe uma finalidade, uma utilidade prática, poderíamos pensar a utilidade da Filosofia de uma outra forma. Você deve estar ansioso para saber qual seria a utilidade da Filosofia, não é? Então vamos lá! A utilidade da Filosofia se faz presente quando, com e para com ela abandonamos as crenças e os valores pré-concebidos. Ela se faz útil quando através dela exercemos nossa capacidade de ser livre. Ser livre, neste sentido é não aceitar que os valores e as crenças sem fundamentos possam governar nossas vidas. Além disso, a Filosofia está disposta a recuperar a unidade do saber na medida em que em nossos dias, o saber se “pulveriza” em uma gama de Filosofia e Lógica 23 especializações que resulta em uma perda de visão mais ampla do conhecimento humano. Ao recuperar esta visão perdida sobre a visão unitária do conhecimento, a Filosofia procura questionar a validade dos métodos e critérios adotados pelas ciências. A Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade. Por este aspecto, ela torna-se o mais útil de todos os saberes que a humanidade foi capaz de conceber. Enfim, podemos agora com toda a clareza afirmar que a Filosofia possui uma utilidade, mas que a sua utilidade nada tem a ver com o sentido de utilidade que a nossa sociedade é regida. No entanto, ainda pode haver alguém que discorde dessa ideia e nos convença de que a Filosofia é o contrário de tudo o que dissemos, ou seja, “ela é justamente a ciência com a qual, ou sem a qual, o mundo continua tal e qual!”. LEITURA COMPLEMENTAR: JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. 3ª ed. São Paulo: Cultrix, (1980). 188p. BLACKBURN, S. Dicionário Oxford de Filosofia. Trad. Desidério Murcho: Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997. 437p. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Chegamos ao final desta unidade. Esperamos que você tenha compreendido a relevância do estudo da Filosofia através dos argumentos apresentados acima e que a partir desta unidade, você se sinta estimulado a prosseguir com mais confiança e segurança ao exame dos problemas fundamentais da Filosofia. Então, te espero na próxima unidade.Ainda temos muito que estudar! Filosofia e Lógica 24 Exercícios – unidade 1 1. Complete a frase a abaixo. “A __________ da Filosofia se faz presente quando, com e para com ela __________ as crenças e os valores pré-concebidos. Ela se faz útil quando através dela exercemos nossa capacidade de ser livre. _____ , neste sentido, é não aceitar que os valores e as crenças sem __________ possam governar nossas vidas. Além disso, a Filosofia está disposta a __________ do saber na medida em que em nossos dias, o saber se “pulveriza” em uma gama de especializações que resulta em uma perda de visão mais ampla do _______________”. a) Utilidade - abandonamos - ser livre - fundamento - recuperar a unidade - conhecimento humano. b) Inutilidade - abandonamos - ser bom - esquecimento - recuperar a unidade - conhecimento desumano. c) Utilidade - achamos - ser mau - esquecimento - recuperar a inutilidade - conhecimento humano. d) Inutilidade - abandonamos - ser livre - fundamento - enumerar e unidade - conhecimento insano. e) Utilidade - abandonamos - ser bom - esquecimento - recuperar a unidade - conhecimento inato. 2. Marque a única resposta incorreta: a) Uma definição precisa do real significado do que é Filosofia é quase impraticável. b) Do “espanto” e da “perplexidade” surge a nossa capacidade de interrogação. c) A questão acerca do que “para que serve?”, de antemão, pressupõe uma visão não-utilitária das coisas dos princípios. d) A Filosofia pressupõe uma “não-aceitação” às crenças e aos preceitos da “experiência cotidiana”. e) Na nossa sociedade atual é considerado útil aquilo que possui uma finalidade prática e imediata. Filosofia e Lógica 25 3. Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos Olímpicos (a festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música, teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Este terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é o: a) Sofista. b) Hermeneuta. c) Médico. d) Filósofo. e) Atleta. 4. Coloque (V) se a questão for verdadeira ou (F) se for falsa: ( ) A utilidade da filosofia é facilmente perceptível. ( ) A inutilidade da filosofia proclamada pelo senso comum decorre dele não tomar o significado de útil como aquilo que traz vantagem imediata. ( ) A diferença entre ser útil e inútil depende do significado atribuído à palavra “útil”. ( ) Muitas vezes o senso comum só percebe como útil aquilo que é empregado no seu dia-a-dia. ( ) O senso comum só utiliza a filosofia quando esta é atualizada. a) F – F – V - V - F b) V - F - V - V - V c) F - F - F - F - V d) V - V - V - F - F e) V - V - F - V - V Filosofia e Lógica 26 5. Sabemos que os “problemas” fundamentais da Filosofia possuem uma origem bastante precisa. Quais são estes problemas fundamentais pelos quais a Filosofia se principia? a) O inesperado e o absurdo. b) O próprio ato de discordar. c) O “espanto” e a “perplexidade”. d) A dúvida em relação ao existir. e) O espanto e da falta de clareza das coisas. 6. Sabemos que Filosofia se opõe ao pensamento mítico. O que se pode entender por mito? a) Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos físicos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa. b) Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos físicos por intermédio da linguagem matemática. c) Um conjunto de livros e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de obras filosóficas por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa. d) Um conjunto de narrativas e doutrinas, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos racionais por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa. e) Um conjunto de narrativas e doutrinas, ou seja, o mito caracteriza-se por oferecer uma explicação da realidade através de um conjunto de relatos fantasiosos por intermédio de uma linguagem simbólica e misteriosa. 7. Qual o significado da palavra “Filosofia”? a) Amigo dos preconceitos. b) Liberdade de pensamento. c) Amante da sabedoria. d) Questionamento. e) Amante da disputa. Filosofia e Lógica 27 8. Marque a única afirmativa correta: a) Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade. b) Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar porque o consenso é útil para nossas vidas. c) Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da consciência física e de toda a irrealidade. d) Filosofia torna-se útil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade daquilo que não precisa possuir finalidade. e) Filosofia torna-se inútil quando busca compreender e investigar as respostas à finalidade, ao sentido e ao valor da vida e de toda a realidade. 9. Para Garcia Morente (1970, p. 33-34): “Para abordar a Filosofia, para entrar no território da Filosofia, é absolutamente indispensável uma primeira disposição de ânimo. É absolutamente indispensável que o aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar o seu estudo uma disposição infantil. Quem quiser ser filósofo necessitará infantilizar-se, transformar-se em menino”. Comente a afirmação de Morente, procurando evidenciar o aspecto de todo o processo da reflexão filosófica. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Filosofia e Lógica 28 10. Relacione a expressão “para que serve?” com a concepção do que é útil e do que é inútil na sociedade em que vivemos ? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ Filosofia e Lógica 29 ASDIVERSAS FORMAS DE INTERPRETAÇÃO DA REALIDADE:SENSO COMUM, CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O CONHECIMENTO FILOSÓFICO. As formas de interpretação da realidade. O senso comum e sua caracterização. O conhecimento científico e a sua caracterização. O conhecimento filosófico e a sua caracterização. 2 Filosofia e Lógica 30 Na unidade anterior, compreendemos a importância e a utilidade da Filosofia. Vimos que pensar filosoficamente é possível a qualquer um, bastando apenas certo distanciamento do “pensar ingênuo”, comum ao dogmatismo e que sejam colocadas questões fundamentais sobre a realidade. Nesta unidade, veremos quais são as formas humanas de interpretação da realidade. OBJETIVOS DA UNIDADE: • compreender que a interpretação humana da realidade se dá através de várias formas, sendo tais formas as relações que o homem compreende e interpreta o mundo; caracterizar cada uma dessas formas de interpretação da realidade: o senso comum, o conhecimento científico e o conhecimento filosófico, indicando suas características marcantes, a fim de problematizar o que as distinguem. PLANO DA UNIDADE: • As formas de interpretação da realidade. • O senso comum e sua caracterização. • O conhecimento científico e a sua caracterização. • O conhecimento filosófico e a sua caracterização. Bons estudos! Filosofia e Lógica 31 As formas de interpretação da realidade O nosso objetivo nesta disciplina é o estudo da Filosofia em geral. No entanto, devemos ressaltar que a Filosofia não é a única forma de saber ou de conhecimento. Existem outras formas sob as quais interpretamos a realidade e buscamos respostas para nossos problemas. A partir deste momento, iremos conhecer as outras formas de interpretação da realidade, de modo que possamos distingui-las umas das outras e buscar compreender o papel da Filosofia diante de outras formas de interpretação da realidade. Cercado pelas coisas do mundo no convívio com seus semelhantes, o homem é um ser que, diferentemente dos demais, problematiza a realidade que o rodeia, colocando perguntas e investigando possíveis respostas. O homem não se contenta em simplesmente estar ou transitar entre as coisas, mas procura esclarecer o seu significado, seu porquê, ou seja, as causas das coisas. Para Buzzi (1992, p. 73), “A diferença do animal que vive no puro aberto, que não vê espaço e o tempo, o homem vê sempre dentro de uma moldura, define e delimita as coisas. Isso é o seu espaço. As coisas são vistas a partir desse espaço. São colhidas dentro de um determinado horizonte. Surge daí aquilo que chamamos de mundo, história, cultura, sociedade. Não vemos jamais as coisas puras em si, vemos a partir de uma representação, nas malhas de uma interpretação.” IMPORTANTE Todo indivíduo, ao nascer, já se encontra imediatamente inserido em um mundo previamente interpretado. Desde o nascimento, encontramos um “sistema” de coisas com uma significação definida, transmitida pela cultura de uma determinada sociedade. A interpretação da realidade é uma necessidade essencial do ser humano, pois surge da necessidade de resolver certos problemas impulsionados pelos mais variados interesses. Assim, de acordo com certos interesses, o homem interpreta a realidade das mais variadas formas. Filosofia e Lógica 32 Há muitos modos de se conhecer e interpretar a realidade que dependem da postura do homem frente às suas necessidades fundamentais. De acordo com esta postura, a interpretação da realidade pode ser explicada através do mito, do Senso Comum, da Ciência, da Filosofia e da Arte. Todos eles são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, oferece uma resposta para os mais variados interesses do homem, atribuindo-lhes um sentido. Sendo assim, o mito é um modo de interpretação da realidade em que ocorre o apelo ao sagrado na medida em que fornece segurança e conforto ao homem. O Senso Comum ou “conhecimento espontâneo” é a primeira compreensão do mundo resultante da herança do grupo a que pertencemos e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. A ciência procura descobrir o funcionamento da natureza através, principalmente, das relações de causa e efeito, busca o conhecimento objetivo e lógico, através de métodos desenvolvidos para manter a coerência interna de suas afirmações. Dotada de aplicabilidade, pode resultar em tecnologias que permitem ao homem intervir na natureza. A Filosofia, por sua vez, propõe oferecer um tipo de conhecimento que busca, com todo o rigor, a origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana, numa abordagem “totalizante”, e o conhecimento proporcionado pela Arte nos dá não o conhecimento de um objeto, mas de um mundo interpretado pela sensibilidade do artista e traduzido numa obra individual. Como vimos, podemos conhecer e interpretar a realidade de diversas maneiras. A seguir, iremos examinar os três tipos básicos de interpretação da realidade: Senso Comum, Conhecimento Científico e a Filosofia. Deixaremos o mito para uma outra unidade e a Arte, não entraremos no mérito da questão. O senso comum e sua caracterização No seu cotidiano, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e atuar sobre a realidade que o cerca. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque acreditam que dão azar, outras acham que se quebrarem um espelho podem ter sete anos de azar. Algumas confeiteiras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele “sola”, sabem também que determinados pratos, feitos em “banho-maria”, deve-se acrescentar algumas gotas de limão para que a vasilha em que está inserido não Filosofia e Lógica 33 fique escura. Como estas pessoas aprendem tais informações? Elas foram transmitidas de geração para geração. Elas não só foram assimiladas como também transformadas, contribuindo assim para uma compreensão da realidade. Em todos os tempos, o homem se defronta com dificuldades de ordem prática que necessitam de soluções imediatas e imprescindíveis para a sua sobrevivência e seu bem-estar. IMPORTANTE Com efeito, podemos perceber que este tipo de conhecimento é um produto de uma prática que se faz social e historicamente. Todas as explicações para a vida, para as regras de comportamento, para o trabalho, para os fenômenos da natureza etc., passam a fazer parte das explicações para tudo o que observamos e “experimentamos”. Todos estes são elementos assimilados ou transformadosde forma espontânea. Por isso, raramente há questionamento sobre outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamos-nos a uma determinada compreensão de mundo e não mais questionamos, nos tornamos “conformistas de algum conformismo”. Aos que não detêm o conhecimento científico, resta buscar a resolução de seus problemas cotidianos sem a ajuda das construções racionais e metódicas da ciência, sem os instrumentos que a ciência desenvolveu para que se atinja uma melhor compreensão do mundo. Dotados de informações e interpretações que adquirem com a experiência de vida, os “homens comuns” procuram dar respostas às questões e às necessidades de seu mundo baseados num “conhecimento” cujo conjunto de formulações a ciência denomina: senso comum ou conhecimento espontâneo. Portanto, podemos dizer que o senso comum é o modo comum, corrente e espontâneo de conhecer e interpretar a realidade, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos; é o saber que prevalece em nossas vidas diárias, aquele que é sem comprovação ou estudo, sem a aplicação de um estudo (método) mais cuidadoso e sem se haver refletido sobre algo que é afirmado como verdade. Filosofia e Lógica 34 Muitas das concepções do senso comum transformam-se em frases feitas ou ditados populares, como por exemplo: “homem que é homem não chora”, “filho de peixe, peixinho é”, “Deus ajuda a quem cedo madruga”. Frases como estas, repetidas irrefletidamente no cotidiano, na verdade escondem ideias falsas, parciais e preconceituosas. Mas, o que caracteriza basicamente as ideias provenientes do senso comum não é a sua verdade ou falsidade, mas uma falta de fundamentação. Ou seja, não nos preocupamos com o porquê destas ideias. Elas são aceitas, repetidas e até defendidas, mas não sabemos explicá-las. Trata-se, portanto, de um conhecimento adquirido sem uma base crítica ou de questionamento. Isto explica o motivo pelo qual o senso comum apresenta-se como um conhecimento superficial adquirido espontaneamente, sem preocupação com o método, com a crítica ou com a sistematização. Desta forma, o senso comum é indisciplinar e ametódico; não resulta de uma prática especificamente orientada para o produzir, reproduz-se espontaneamente no suceder quotidiano da vida. Por último, o senso comum é retórico e metafórico; não ensina, persuade. As principais características do senso comum são: • Subjetivo: Só exprime sentimentos e opiniões individuais de um determinado grupo, variando de indivíduo para indivíduo, conforme as condições em que se vive; • Natural: Transmitido de “pai para filho” quase da mesma forma como se transmitem as características genéticas - sem qualquer esforço consciente, sem intenção nem intervenção da vontade; • Conservador: O novo, as mudanças, o desconhecido é evitado, pois exigiria maior empenho do pensamento e uma mudança de hábitos; • Preconceituoso: Não há o costume de verificar e checar as informações, os valores e os comportamentos que são repetidos pela maioria. • Fragmentário: Não percebe os fatos relacionados entre si, embora diferentes na aparência. Assim, as ideias desenvolvem-se independentemente umas das outras, opiniões contrárias são submetidas ao mesmo tempo; algo dito agora, pode ser negado por outra coisa dita logo depois; Filosofia e Lógica 35 Espontâneo ou intuitivo: Surge como se não obedecesse a nenhuma determinação da razão, se faz por imitação e da associação por analogias. Porém, é importante assinalar que o senso comum é uma forma válida de conhecimento e explicação da realidade, pois o homem precisa dele para se orientar, resolver ou superar suas necessidades imediatas do cotidiano. Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou pedagogos e nem sempre os filhos de pedagogos ou psicólogos são mais bem educados. Levando em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum como sendo uma visão de mundo, uma explicação precária e fragmentada da realidade. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção e explicação do conhecimento e da realidade, ele deve ser superado por um tipo de explicação que o incorpore, que se estenda a uma concepção crítica e coerente e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como a ciência e a Filosofia. Mostraremos a você, no próximo tópico, o que é e o que caracteriza o conhecimento científico. O conhecimento científico e a sua caracterização Quando nos deparamos com o tema ciência, uma polêmica logo se faz presente quanto ao significado que se quer dar ao termo. Assim, para o senso comum, a ciência significa uma coisa, como significou outra coisa para Aristóteles e Platão. Tem ainda um significado bem específico para os filósofos e cientistas da contemporaneidade. Para o senso comum, a ciência pode significar habilidade na execução de uma tarefa específica ou uma informação mais apurada sobre um determinado assunto. Nos dias atuais, a ciência reveste-se de um caráter especial: não é simplesmente uma habilidade especial, nem um conhecimento obtido com o uso da razão sobre um objeto qualquer, mas sim um conhecimento rigoroso, sistematizado e demonstrado metodicamente. Filosofia e Lógica 36 É neste sentido que trataremos de examinar o conhecimento científico, ou seja, através do seu caráter sistemático, metodológico e do seu rigor. Diferentemente do senso comum que concebia o mundo fragmentado, a ciência ou o conhecimento científico passa a conceber os fatos do mundo através de uma explicação investigativa, cuja causa deve ser explicada e comprovada. Explicar uma causa é resolver um problema sobre o porquê de um fato. No entanto, no caso do conhecimento científico, somente se pode explicar um fato através da utilização de um método adequado. IMPORTANTE A palavra método tem sua origem na língua grega (em grego, ‘meta’ quer dizer ‘através de’, ‘por meio’ de e ‘hodós’, ‘caminho’). O método, portanto, sinaliza para a ciência que suas especulações precisam seguir um caminho para se obter resultados seguros, embora este caminho não lhe traga garantias de que os resultados esperados sejam realmente o que buscamos. É como você ter uma receita e querer fazer um bolo. A receita é o método e o bolo é a solução do problema que você irá resolver. Na ciência, tudo se passa como se alguém perguntasse se o “bolo está bom”, e você respondesse que ele está delicioso porque você seguiu perfeitamente a receita. Ou seja, você não pode aperfeiçoar seu bolo com toques especiais na preparação, não pode pôr seus preconceitos e sentimentos, e muito menos suas crenças pessoais. A ciência quer somente que seu bolo seja conforme a receita diz. Tudo bem que a receita pode, em certos casos, ser omissa, mas neste, você pode fazer o que quiser, sem ficar em desacordo com o método. O método é um estranho caminho que nos leva a um lugar, mas não temos certeza que lugar é este. Assim, o método configura-se como um “roteiro de pesquisa”, ou seja, uma orientação que guia a ciência na busca das explicações sobre os fatos. No entanto, é importante notar que a utilidade do método para a ciência não consiste em A Ciência é um conhecimento racional, metódico, verificável e sistemático que visa estabelecer relações necessárias entre as coisas. Filosofia e Lógica 37 chegar a conclusões dos seus problemas mais gerais, mas, sobretudo, em evitar que a sua atividade se perca enquanto procura resolver seus problemas. Ou seja, o método não garante que se chegue lá aonde se quer chegar, masgarante que não se assumam certos procedimentos em desacordo com o procedimento científico. O método científico pode ser resumido em quatro momentos principais: a observação, a hipótese, a experimentação e a generalização. Veja cada um a seguir: A observação científica: Observar é uma das atitudes mais comuns de todo ser humano. Observarmos o comportamento dos outros, como se vestem, como falam, como comem, observamos o clima, entre outras coisas. Este tipo de observação, normalmente, ocorre de uma forma superficial e aleatória, isto é, observamos por acaso, sem uma preocupação de levarmos isso a diante, pois esta observação é própria de nossa consciência espontânea ou natural. Ao contrário da observação natural, a observação científica só se dá numa consciência anteriormente preparada para a pesquisa científica. Portanto, a observação científica pressupõe um conjunto de conhecimentos e informações prévias daquilo que se está observando. A hipótese científica: A observação científica pode originar uma hipótese científica. Por hipótese, deve-se entender uma explicação provisória que necessita de um amadurecimento maior e uma averiguação posterior. A experimentação científica: A característica da hipótese consiste em não concluir a certeza ou a evidência, pois assim não seria mais considerada uma hipótese, mas um postulado. Uma vez lançada a hipótese, a ciência prepara as condições necessárias para a sua verificação. Enquanto no primeiro momento a observação se dá in loco, aqui a observação se faz a partir de um artifício, pois o cientista forja uma situação em que o objeto de seu estudo pode receber um tratamento mais minucioso. Além disso, a ciência faz uso dos instrumentos que considera adequado para o controle do mesmo. A Generalização: Uma vez confirmada a hipótese, o cientista chega ao momento mais almejado: a generalização da sua hipótese, ou seja, a conclusão obtida em que seja aplicada a situações semelhantes àquela particularmente testada. Filosofia e Lógica 38 As generalizações são, portanto, o ponto de chegada de uma pesquisa científica. No entanto, esta deve proceder de uma linguagem apropriada. Isto quer dizer que a ciência possui uma linguagem extremamente rigorosa cujos conceitos são definidos, a fim de evitar ambiguidades. Desta forma, a linguagem científica torna-se cada vez mais precisa, na medida em que utiliza a matemática como a linguagem específica da ciência. A matematização da ciência se inicia a partir do século XVII com Galileu Galilei. Depois deste, os acontecimentos do mundo são interpretados e representados matematicamente, portanto, experimentados e medidos. As principais características do Conhecimento científico são: • Sistematização: A ciência organiza-se sob a forma sistêmica, isto é, em sistemas. Por sistema entende-se o caráter orgânico e coerente em que as hipóteses e conclusões da ciência estão dispostas; • Verificação: As conclusões científicas são passíveis de verificação. Em certos casos, através destas experiências, uma hipótese é comprovada, tornando-se, por sua vez, uma teoria; • Operatividade: Consiste no postulado de que todo e qualquer conceito científico somente tem valor científico se for definido mediante uma série de operações físicas, experiências e medidas idealmente possíveis; • Objetividade: Capacidade de distanciamento de todo elemento afetivo e subjetivo, isto é, tendência a ser independente dos “sentimentos pessoais”. A objetividade da ciência quer dizer, sobretudo, que o seu conhecimento tem um caráter universal. No próximo tópico mostraremos a você o que é e o que caracteriza o conhecimento filosófico. Filosofia e Lógica 39 O conhecimento filosófico e a sua caracterização A Filosofia é uma forma de interpretação da realidade como a ciência e o senso comum. Diferentemente da ciência, a Filosofia não assenta em experimentações nem em observação, sua especificidade está no pensamento. Ao contrário do senso comum, a Filosofia não surge da necessidade de se enfrentar as circunstâncias imediatas sem a necessidade de uma prévia discussão ou fundamentação. De uma maneira geral, o que diferencia o conhecimento filosófico das outras formas de conhecimento é a maneira como problematiza as coisas. A Filosofia é uma forma de reflexão, ou melhor, uma reflexão crítica acerca dos fundamentos de todas as coisas. Ela pode ser considerada uma ciência, mas uma ciência que possui a pretensão de obter as explicações mais complexas e profundas sobre todas as coisas, a partir de suas causas e seus fins últimos. Não vá pensando que os mesmos problemas da ciência sejam os problemas da Filosofia. A ciência pretende alcançar a determinação constante dos nexos, ou seja, a regularidade dos fenômenos, com a descrição do que acontece na realidade e suas causas próprias, suscetíveis de serem registradas pela experiência. A experiência permite fornecer uma uniformidade às investigações científicas, de modo que esta adquire mais objetividade. Ao contrário, a Filosofia pretende saber as razões últimas de todos os seres, sem a preocupação de uma referência à experiência, pois a Filosofia parte da experiência vivida o que permite ir além da mera constatação científica. IMPORTANTE O conhecimento filosófico é um saber crítico e conceitual. A exigência da crítica é própria do ideal da Filosofia. Trata-se de um conhecimento que se assenta em base crítica, mas não basta apenas a crítica para caracterizar a Filosofia. Esta é uma atividade de investigação e questionamento permanente. A atitude filosófica exige uma insatisfação constante para a abertura de novos horizontes, a fim de solucionar os problemas mais gerais que se impõe aos homens. Enfim, podemos concluir que a Filosofia é uma forma de conhecimento que, a partir da reflexão rigorosa, radical e totalizante sobre o real, procura construir um conhecimento cada vez mais verdadeiro através da sua atitude questionadora, a fim de ultrapassar o caráter finito e óbvio da interpretação superficial que apresenta o saber comum. Filosofia e Lógica 40 As principais características do conhecimento filosófico são: • A Filosofia é uma atividade racional, pois exige a utilização do pensamento. Por sua vez, o uso da razão torna viável a reflexão e a crítica, cuja principal finalidade é a procura da verdade e do sentido da existência humana. O uso da razão permite ainda a autonomia e a independência intelectual, ou seja, pensar por si mesmo; • A Filosofia procura os fundamentos, as causas fundamentais da realidade de modo a encontrar a sua essência. Procura a razão de ser das coisas, o seu sentido geral, a verdade que se encontra por trás das aparências. Esta, portanto, implica em um questionamento e uma problematização constante. Exige uma solução para as perguntas que vai ao “por que” último das coisas; • A Filosofia pressupõe inquietações que interessam a todos os homens. Desta forma, os temas da Filosofia são temas universais, pois exprimem inquietações próprias de toda a humanidade. LEITURA COMPLEMENTAR: GARCIA MORENTE, Manuel. Fundamentos de filosofia. 8ª edição. São Paulo: Mestre Jou, 1980. 324p. CORBISIER, Roland. Introdução à filosofia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1986, 288p. REALE, Miguel. Introdução à Filosofia. 4ª ed. São Paulo, Saraiva, 1994 2002. 322p. É HORA DE SE AVALIAR! Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija as respostas no caderno e depois as envie através do nosso ambientevirtual de aprendizagem (AVA). Interaja conosco! Nesta unidade foram apresentadas as diferentes formas de interpretação da realidade. Cada uma delas é um modo como o homem interpreta a realidade que o cerca. Espero que você tenha compreendido a questão acerca dos modos como interpretamos a realidade. Na próxima unidade, vamos analisar o surgimento da Filosofia, ou seja, o seu nascimento na Grécia antiga. Até lá! Filosofia e Lógica 41 Exercícios – unidade 2 1. Qual das alternativas abaixo é concernente à caracterização do caráter “subjetivo” do senso comum? a) Só exprime sentimentos e opiniões individuais de um determinado grupo, variando de indivíduo para indivíduo, conforme as condições em que se vive. b) Transmitido de “pai para filho” quase da mesma forma como se transmitem as características genéticas - sem qualquer esforço consciente, sem intenção nem intervenção da vontade. c) O novo, as mudanças, o desconhecido é evitado, pois exigiria maior empenho do pensamento e uma mudança de hábitos. d) Não há o costume de verificar e checar as informações, os valores e os comportamentos que são repetidos pela maioria. e) Não percebe os fatos relacionados entre si, embora diferentes na aparência. Assim, as ideias desenvolvem-se independentemente umas das outras, opiniões contrárias são submetidas ao mesmo tempo; algo dito agora, pode ser negado por outra coisa dita logo depois. 2. Complete a frase abaixo. No seu cotidiano, __________ adquire __________ um modo de entender e atuar sobre a _______ que o cerca. a) O animal, criticamente, realidade. b) O homem, criticamente, realidade. c) O homem, espontaneamente, realidade. d) O animal, reflexivamente, realidade. e) O homem, reflexivamente, realidade. Filosofia e Lógica 42 3. Dentre as alternativas abaixo, qual delas caracteriza a “hipótese científica”? a) Deve-se entender como uma “explicação científica” provisória que necessita de um amadurecimento maior e uma averiguação posterior. b) Deve-se entender como uma verificação inconsequente e imprevisível. c) Consiste no postulado de que todo e qualquer conceito científico somente tem valor científico se for definido mediante uma série de operações físicas, experiências e medidas idealmente possíveis. d) Consiste em uma hipótese, ou seja, uma conclusão obtida em que seja aplicada a situações semelhantes àquela particularmente testada. e) Deve-se entender como uma atividade racional que exige a retrospectiva do pensamento. 4. Qual das alternativas a seguir refere-se à caracterização de “generalização”. a) Capacidade de distanciamento de todo elemento afetivo e subjetivo, isto é, tendência a ser independente dos “sentimentos pessoais”. b) Entende-se o caráter orgânico e coerente em que as hipóteses e conclusões da ciência estão dispostas. c) Uma conclusão obtida em que seja aplicada a situações semelhantes àquela particularmente testada. d) Entende-se o caráter orgânico e coerente em que as falácias e conclusões da ciência estão dispostas. e) Capacidade de congestionamento de todo elemento afetivo e objetivo, isto é, tendência a ser independente dos “sentimentos impessoais”. Filosofia e Lógica 43 5. Das alternativas abaixo, qual delas reapresenta uma característica do conhecimento filosófico? a) Espontâneo. b) Fragmentário. c) Impreciso. d) Procura da verdade e do sentido da existência humana. e) Desonesto. 6. Há muitos modos de se conhecer e interpretar a realidade que dependem da postura do homem frente às suas necessidades fundamentais. Quais são eles? a) A hipótese, a lei, a generalização e a memorização. b) O mito, o Senso Comum, a Ciência, a Filosofia e a Arte. c) O mito, o senso comum, a ciência, a memorização e a arte. d) A lei, a regra, a generalização e a arte. e) O mito, a hipótese, a generalização e a ciência. 7. Para Buzzi, o que diferencia o animal do homem? a) Para Buzzi, o animal vive no puro aberto e não vê o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma moldura pela qual define e delimita as coisas. b) Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual estabelece uma relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma moldura pela qual define e delimita as coisas. c) Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual estabelece uma relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, é limitado à estrutura irracional. d) Para Buzzi, o animal vive no puro aberto no qual não estabelece uma relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, vê sempre dentro de uma moldura pela qual define e delimita as coisas. e) Para Buzzi, o animal, apesar de não viver no puro aberto, estabelece uma relação com o espaço e o tempo. O homem, por sua vez, não consegue ver dentro de uma moldura pela qual define e delimita as coisas. Filosofia e Lógica 44 8. Complete a seguinte frase: “O ______ é um estranho caminho que nos leva a um lugar, mas não temos certeza que lugar é este. Assim, o método configura-se como ____________, ou seja, uma orientação que guia _______ na busca das explicações sobre os fatos. No entanto, é importante notar que a utilidade do método para a ciência não consiste em chegar a _________ dos seus problemas mais gerais, mas, sobretudo, em evitar que a sua atividade se perca enquanto procura resolver seus problemas”. a) Método, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões. b) Vocabulário, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões. c) Sentido, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões. d) Método, um “roteiro de pesquisa”, o senso comum, conclusões. e) Vocabulário, um “roteiro de pesquisa”, a ciência, conclusões. 9. Atente ao texto que se segue: “Quando uma pessoa faz um bolo, segue a receita e incorpora uma série de informações para melhor sucesso do seu trabalho. Sabe que ao bater as claras dos ovos, elas crescem e tornam-se esbranquiçadas; sabe que não convém abrir o forno quando o bolo começa a cozinhar senão ele sola: que medida adequada de fermento faz o bolo crescer. Se fizer um pudim em “Banho-Maria”, sabe que uma rodela de limão na água evita o crescimento deste na vasilha, o que facilitará o trabalho posterior. Essa pessoa sabe tudo isso, mas não sabe explicar o porquê e como ocorrem esses fenômenos, não conhecendo as suas causas constitutivas”. (Autor desconhecido). Filosofia e Lógica 45 A) Identifique o tipo de conhecimento a que o texto se refere. _____________________________________________________________________ B) Cite duas características deste tipo de conhecimento. _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 10. O que significa a “operatividade” e a “objetividade” no conhecimento científico? _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _____________________________________________________________________
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