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TEORIA GERAL DA PENA Professor: KITA MACIEL Gurupi-TO Fevereiro de 2013 SANÇÃO PENAL : é a resposta estatal, no exercício do ius puniendi e após o devido processo legal, ao responsável pela prática de um crime ou de uma contravenção penal. Divide-se em duas espécies: - PENAS: têm como pressuposto a culpabilidade. Com efeito, crime é o fato típico e ilícito, e a culpabilidade funciona como pressuposto de aplicação da pena. Destinam-se aos imputáveis e aos semi-imputáveis. - MEDIDAS DE SEGURANÇA: têm como pressuposto a periculosidade, e dirigem-se aos inimputáveis e aos semi- imputáveis dotados de periculosidade, pois necessitam, no lugar de punição, de especial tratamento curativo. PENAS - CONCEITO: Pena é a consequência jurídica do crime. A prática de qualquer ato ilícito, em nosso ordenamento jurídico, deve gerar uma sanção, sob pena de nenhuma pessoa ser desestimulada a delinquir. Consiste a pena na privação ou restrição de determinados bens jurídicos do condenado, aplicada pelo Estado em decorrência do cometimento de uma infração penal, com as finalidades de castigar seu responsável, readaptá-lo ao convívio em comunidade e, mediante a intimidação endereçada à sociedade, evitar a prática de novos crimes. FINALIDADES DAS PENAS: - Retributiva: a pena é a retribuição do mal injusto, praticado pelo criminoso, pelo mal justo previsto no ordenamento jurídico. - Preventiva: a cominação abstrata de uma pena impõe à coletividade um temor (prevenção geral) e sua efetiva aplicação ao agente delitivo tem por escopo impedir que venha a praticar novos delitos (prevenção especial). - Ressocializadora: o escopo da pena é a ressocialização do condenado, isto é, reeducá-lo pra que, no futuro, possa reingressar ao convívio social, prevenindo, assim, a prática de novos crimes. PRINCÍPIOS INFORMADORES DA PENA: - Princípio da legalidade: não há pena sem prévia cominação legal (CP, art. 1º, e CF, art. 5º, XXXIX). - Princípio da personalidade: a pena não passa da pessoa do condenado (CF, art. 5º, XLV). - Princípio da individualização: a pena deve ser individualizada considerando-se o fato e seu agente (CF, art. 5º, XLVI). - Princípio da inderrogabilidade: desde que presentes os seus pressupostos, a pena deve ser aplicada e executada (exceções: sursis, livramento condicional, perdão judicial...). - Princípio da proporcionalidade: a pena deve ser proporcional ao mal gerado (CF, art. 5º, XLVI e XLVII). - Princípio da humanidade: a pena não pode atentar contra a dignidade da pessoa humana, vedando-se tratamento desumano, cruel ou degradante ( CF, art. 5º, XLVII). CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS De acordo com o art. 32 do CP, as penas podem ser: - Privativas de liberdade: restringem a plena liberdade de locomoção do condenado. São três espécies: reclusão, detenção e prisão simples. - Restritivas de direitos: são sanções autônomas que substituem as penas privativas de liberdade. Não são, como regra, cominadas abstratamente em um tipo penal incriminador. - Multa: consiste no pagamento ao FUNPEN de quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa (art. 49 do CP). Sanção Penal Penas Privativas de liberdade - Reclusão - Detenção - Prisão simples Restritivas de direitos Prestação Pecuniária Perda de bens e valores Prestação de serviços à comunidade Interdição temporária de direitos Limitação de final de semana Multa Medida de Segurança Detentiva (internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico) Restritiva (sujeição a tratamento ambulatorial) DAS PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE - Pena privativa de liberdade é a modalidade de sanção penal que retira do condenado seu direito de locomoção, em razão da prisão por tempo determinado. - O direito penal brasileiro admite três espécies de penas privativas de liberdade: a) Reclusão (apenas para os crimes); b) Detenção (apenas para os crimes); c) Prisão simples (apenas para as contravenções penais). - Regimes penitenciários: a) Fechado: cumpre a pena em estabelecimento penal de segurança máxima ou média. b) Semi-aberto: cumpre a pena em colônia penal agrícola, industrial ou em estabelecimento similar. c) Aberto: trabalha ou frequenta cursos em liberdade, durante o dia, e recolhe-se em Casa de Albergado ou estabelecimento similar à noite e nos dias de folga. - Regime inicial de cumprimento de pena: de acordo com o art. 110 da Lei de Execução Penal, o juiz deverá estabelecer na sentença o regime inicial de cumprimento de pena, com observância do art. 33 do CP, o qual estabelece distinção quanto à pena de reclusão e de detenção. - Regimes penitenciários da pena de reclusão: a) Se a pena imposta for superior a 8 anos: inicia o seu cumprimento em regime fechado. b) Se a pena imposta for superior a 4, mas não exceder a 8 anos: inicia em regime semi-aberto. c) Se a pena for igual ou inferior a 4 anos: inicia em regime aberto. d) Se o condenado for reincidente: inicia em regime fechado, não importando a quantidade da pena imposta. Todavia o STF permitiu que, embora reincidente, o sentenciado anteriormente condenado a pena de multa pudesse iniciar o cumprimento da pena em regime aberto, desde que sua pena fosse inferior ou igual a 4 anos. O STJ também flexibilizou o rigor dessa regra ao editar a súmula 269, estabelecendo que, mesmo no caso de reincidente , o juiz poderá fixar o regime semi-aberto, e não o fechado, quando a pena privativa de liberdade imposta na sentença penal condenatória não exceder a 4 anos. e) Se as circunstancias do art. 59 do CP forem desfavoráveis ao condenado: inicia em regime fechado. Não se tratando de pena superior a 8 anos, a imposição de regime inicial fechado depende de fundamentação adequada em face do que dispõem as alíneas b, c e d do parágrafo 2º do art. 33 do CP, e também do §3º c/c com art. 59. Nesse sentido é o teor da Súmula 719 do STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”. - Gravidade do delito: por si só não basta para determinar a imposição do regime inicial fechado, sendo imprescindível verificar o conjunto das circunstancias do art. 59 do CP. Conforme Súmula 718 do STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada. - Regimes penitenciários iniciais da pena de detenção: a) Se a pena for superior a 4 anos: inicia em regime semi-aberto. b) Se a pena for igual ou inferior a 4 anos: inicia em regime aberto. c) Se o condenado for reincidente: inicia no regime mais gravoso existente, ou seja, no semi-aberto. d) Se as circunstancias do art. 59 do CP forem desfavoráveis ao condenado: inicia no regime mais gravoso existente, ou seja, no semi-aberto. - IMPORTANTE: não existe regime inicial fechado na pena de detenção (CP, art. 33, caput), a qual começa obrigatoriamente em regime semi-aberto ou aberto. O STJ já decidiu que o regime inicial de cumprimento da pena de detenção deve ser o aberto ou semi-aberto, admitindo o regime fechado apenas em caso de regressão. - Regime inicial na pena de prisão simples: Também não existe regime inicial fechado, devendo a pena ser cumprida em semi-aberto ou aberto, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, sem rigor penitenciário (LCP, art. 6º). A diferença, em relação à pena de detenção, é que a lei não permite o regime fechado nem mesmo em caso de regressão, ao contrário do que acontece na pena de detenção. A regressão,quanto à pena de prisão simples, só ocorre do aberto para o semi-aberto. Diferenças entre Reclusão e Detenção: a) A reclusão pode ser cumprida nos regimes fechado, semi- aberto ou aberto. Já a detenção, somente nos regimes semi- aberto e aberto. b) No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e detenção, executa-se aquela por primeiro e, posteriormente será cumprida a pena de detenção. c) A reclusão pode ter como efeito da condenação a incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela, nos crimes dolosos cometidos contra filho, tutelado ou curatelado. Esse efeito não é possível na pena de detenção. d) A reclusão acarreta na internação em caso de imposição de medida de segurança, enquanto na detenção o juiz pode aplicar o tratamento ambulatorial. PROGRESSÃO DE REGIMES - A legislação brasileira adota o sistema inglês ou progressivo, materializado no art. 112 da LEP e art. 33, §2º, do CP. Assim, a pessoa condenada a cumprir sua pena em determinado regime, desde que preenchidos alguns requisitos, poderá migrar para o mais benigno, até que, com o cumprimento total da pena, esta restará extinta. - Para que se admita a progressão de regime, é necessária a satisfação de dois requisitos: a) Objetivo – cumprimento de parte da pena privativa de liberdade; b) Subjetivo – mérito do condenado. - O requisito objetivo, a depender da natureza do crime praticado, poderá variar. Assim, tem-se a seguinte situação: I) Para os crimes “comuns”, o condenado deverá cumprir 1/6 (um sexto) da pena para poder migrar para o regime mais benigno; II) Para os crimes hediondos (assim definidos no art. 1º da Lei 8.072/90) e equiparados (tráfico de drogas, tortura e terrorismo), o condenado deverá cumprir 2/5 (dois quintos) da pena, se primário, ou 3/5 (três quintos) da pena, se reincidente. - Ao lado disso, é indispensável que o condenado satisfaça o requisito subjetivo, qual seja, o bom comportamento carcerário, assim consignado em atestado emitido pela autoridade administrativa competente (diretor do estabelecimento penal). - Exige-se, para a progressão de regime, que o condenado obtenha parecer favorável em exame criminológico? Desde a edição da lei 10.792/03, o exame criminológico, mencionado no art. 112 da LEP, deixou de ser requisito indispensável à progressão de regime. Contudo, mais recentemente, o STF, após editar a súmula vinculante nº 26, passou a admitir a exigência de exame criminológico àqueles condenados por crimes hediondos, desde que as peculiaridades do caso indiquem que a medida é necessária. O mesmo se deu no âmbito do STJ, que editou a Súmula 439, que, em suma, prevê ser admissível o exame criminológico, desde que as peculiaridades do caso indiquem que seja necessário, e desde que haja decisão motivada nesse sentido. - Crimes cometidos contra a administração pública: a progressão de regime, consoante determina o art. 33, §4º, do CP, somente será admissível após o condenado haver reparado o dano causado ao erário ou devolvido o produto do ilícito cometido, com os devidos acréscimos legais. - Crimes hediondos ou equiparados: após o advento da lei 11.464/07, inspirada no julgamento pelo STF do HC 82.959- SP, no qual se declarou incidentalmente a inconstitucionalidade do regime integralmente fechado previsto, àquela ocasião, no art. 2º, §1º, da lei 8.072/90, não mais se pode falar em vedação à progressão de regime. Apenas se imporá ao condenado o regime inicialmente fechado, admitindo-se a progressão após o cumprimento de 2/5 ou 3/5 da pena, a depender, respectivamente, de ser primário ou reincidente.
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