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@poli.canuto K Objetivos 1) Estudar os tipos e estruturas das bactérias 2) Compreender a epidemiologia, etiologia e fisiopatologia da febre reumática 3) Entender as manifestações clínicas, complicações e diagnóstico da febre reumática Bactérias São organismos unicelulares. Podem ser encontrados de forma isolada ou em colônias; são constituídos por uma célula (unicelulares), não possuem núcleo celular definido (procariontes) e não possuem organelas membranosas. (VIEIRA) Morfologia Embora existam milhares de espécies bacterianas, elas podem ser agrupadas em três tipos morfológicos gerais: cocos, bacilos e espiralados. (VIEIRA) Na natureza, raramente existem bactérias como células individuais flutuando em um meio aquoso. Na verdade, elas preferem se unir e colonizar superfícies ambientais, produzindo comunidades estruturadas chamadas biofilmes. A organização e a estrutura dos biofilmes possibilitam o acesso a nutrientes e a eliminação de resíduos metabólicos disponíveis (VIEIRA) A) Formas de cocos (esféricas): é o grupo de bactérias mais homogêneo em relação ao tamanho. Os cocos tomam denominações diferentes de acordo com o seu arranjo Micrococos: cocos Diplococos: cocos aos pares; Tétrades: 4 cocos Sarcina: 8 cocos em forma cúbida Estreptococos: cocos agrupados em cadeia. Estafilococos: cocos agrupados em grupos irregulares, lembrando cachos de uva. B) Forma de bastonete – são células cilíndricas em forma de bastonete; apresentam grande variação na forma e no tamanho entre gêneros e espécies (VIEIRA) OBS: As células bacterianas cilíndricas ou em bastonetes (bacilos) não apresentam a mesma disposição dos cocos, mas podem apresentar-se isolados, aos pares (diplobacilos) e em cadeias (estreptobacilos). Em alguns casos esses arranjos não constituem padrões morfológicos característicos, mas é devido às etapas de crescimento ou às condições de cultivo. (VIEIRA) C) Forma espiralada: células em espirais que se dividem em: (VIEIRA) Espirilos – possuem corpo rígido e movem-se à custa de flagelos externos. Ex.: Gênero Aquaspirillium Espiroquetas – são flexíveis e locomovem-se geralmente por contrações do citoplasma, podendo dar várias voltas completas em torno do próprio eixo. Ex.: Gênero Treponema D) Formas de transição dos tipos morfológicos (VIEIRA) Bacilos muito curtos: cocobacilo Unidades celular que se assemelham a uma vírgula vibrião @poli.canuto Estruturas externas da bactéria Parede celular A parede celular é uma estrutura rígida que está presente em quase todas as bactérias e localiza-se acima da membrana citoplasmática. (VIEIRA) Ela contém polímeros complexos conhecidos como peptidioglicanos, que são responsáveis pela sua rigidez(VIEIRA) . A parede celular impede que a célula estoure em decorrência do grande turgor, atua como uma barreira de proteção contra determinados agentes químicos e físicos externos e funciona como suporte de antígenos somáticos bacterianos. (VIEIRA) As bactérias podem ser divididas em dois grandes grupos, com base na capacidade de suas paredes celulares fixarem o corante violeta cristal: as Gram-positivas (que coram em roxo) e as Gram- negativas (que coram em vermelho). (VIEIRA) MÉTODO: O processo de coloração de Gram consiste basicamente em tratar bactérias sucessivamente com cristal violeta, lugol, álcool e fucsina O cristal violeta e o lugol penetram tanto nas bactérias Gram-positivas quanto nas Gram-negativas, formando um complexo de cor roxa. O tratamento com álcool é a etapa diferencial; nas Gram-positivas, o álcool não retira o complexo cristal violeta+lugol, pois a sua ação desidratante faz com que a espessa camada de peptideoglicano torne-se menos permeável, retendo o corante. Nas Gram-negativas, devido à pequena espessura da camada de peptideoglicano, o complexo corado é extraído pelo álcool, deixando as células descoradas. (VIEIRA) A parede celular de bactérias Gram-positivas é composta basicamente por peptideoglicano, que constitui uma espessa camada ao redor da célula. Outros polímeros, tais como ácidos lipoteicóicos e polissacarídeos, também podem estar presentes nessa camada (VIEIRA) Nas bactérias Gram-negativas o peptideoglicano constitui uma camada basal delgada, sobre a qual se encontra outra camada, denominada membrana externa que é composta por lipoproteínas, fosfolipídios, proteínas e lipopolissacarídeos (VIEIRA) OBS: O processo de coloração de Gram é usado para classificar as bactérias em Gram-positivas ou Gram-negativas, conforme fixam ou não o corante. Essa classificação é importante, pois as bactérias Gram-positivas são mais sensíveis à penicilina e à sulfa (VIEIRA) OBS: Por exemplo, Streptococcus pyogenes, o agente causador da escarlatina e da febre reumática, é um microrganismo gram-positivo de forma esférica, que cresce em cadeias e sua coloração é roxa pelo método de Gram. Legionella pneumophila, a bactéria responsável pela doença do legionário, é um bacilo gram-negativo Flagelos São organelas especiais (apêndices delgados) responsáveis pela locomoção das bactérias. (VIEIRA) De acordo com o número e distribuição dos flagelos, as bactérias podem ser classificadas como: (VIEIRA) Atríquias (sem flagelos) Monotríquias (um único flagelo), Anfitríquias (um flagelo em cada extremidade), Lofotríquias (um tufo de flagelos em uma, ou ambas as extremidades) Peritríquias (apresentando flagelos ao longo de todo o corpo bacteriano) Pêlos (fímbrias) São apêndices finos, retos e curtos que estão presentes em muitas bactérias Gram-negativas. (VIEIRA) São encontrados tanto nas espécies móveis como nas imóveis e, portanto, não desempenham papel relativo à mobilidade. (VIEIRA) Os pêlos originam-se de corpúsculos basais na membrana citoplasmática e sua função parece estar relacionada com a troca de material genético durante a conjugação bacteriana (fímbria sexual) com a aderência às superfícies mucosas. (VIEIRA) Glicocálice É formado por uma substância mucilaginosa ou gelatinosa (viscosa) e fica ligada à parede celular como um revestimento externo. (VIEIRA) O glicocálice pode ser de natureza polissacarídica (um ou vários tipos de açúcares como galactose, ramnose, glicana, etc.) ou polipeptídica (ácido glutâmico). (VIEIRA) O glicocálice desempenha papel importante na infecção, permitindo que a bactéria patogênica se ligue a tecidos específicos do hospedeiro. Acredita-se que o glicocálice possa proteger as bactérias da dessecação (VIEIRA) Membrana plasmática A membrana é o sítio da atividade enzimática específica e do transporte de moléculas para dentro e para fora da célula. (VIEIRA) Ela difere da membrana plasmática das células eucariotas por (VIEIRA) Não apresentar esteróides em sua composição; Ser sede de numerosas enzimas do metabolismo respiratório das bactérias (mesmas funções das cristas mitocondriais); Controlar a divisão bacteriana através dos mesossomos (invaginações da membrana, que pode ser associado as mitocôndrias) @poli.canuto Estruturas internas Citoplasma É composto pela porção fluida e contém substâncias dissolvidas e partículas, tais como ribossomos, e material nuclear ou nucleóide, rico em DNA. (VIEIRA) Inclusões citoplasmáticas As inclusões são formações não vivas existentes no citoplasma, como grãos de amido, gotas de óleo, chamadas de grânulos, e podem servir como fonte de material de reserva ou energia. (VIEIRA) Nucleóide e plasmídeos O cromossomo bacteriano consiste de um cromossomo único e circular e ocupa uma posição próxima ao centro da célula. Pode ser chamado de nucleóide. (VIEIRA) Várias bactérias apresentam também moléculas de DNA extracromossomal, denominadas plasmídeos, as quais são geralmente circulares,contendo muitas vezes genes que conferem características adaptativas vantajosas ao microrganismo (VIEIRA) Às vezes, os plasmídios contêm informações genéticas que aumentam a virulência ou a resistência aos antibióticos. (PORTH) Reprodução bacteriana As bactérias geralmente reproduzem-se assexuadamente por fissão binária ou cissiparidade. A fissão binária não é o único método reprodutivo assexuado entre as bactérias. Também pode ocorrer esporulação e brotamento. (VIEIRA) Embora não ocorra reprodução sexuada, pode ocorrer troca de material genético entre as bactérias. Tal recombinação genética pode ocorrer por transformação, conjugação ou transdução (VIERA) A) Transformação: incorporação de fragmentos de DNA perdidos por outra bactéria que se rompeu. B) Conjugação – duas células bacterianas geneticamente diferentes trocam DNA através de pêlo sexual C) Transdução – moléculas de DNA são transferidas de uma bactéria para outra usando os vírus como vetores (bacteriófagos). Quando o bacteriófago entra numa célula bacteriana, o DNA do vírus mistura-se com uma parte do DNA bacteriano, de modo que o vírus passa a carregar essa parte do DNA. Se o vírus infecta uma segunda bactéria, o DNA da primeira pode misturar-se com o DNA da segunda. Essa nova informação genética é então replicada a cada nova divisão Localização Bactérias são formas de vida extremamente adaptáveis. Podem ser encontradas não só em seres humanos e outros hospedeiros, mas em quase todos os extremos ambientais na Terra. Entretanto, cada espécie bacteriana individual tem um conjunto bem definido de parâmetros de crescimento, incluindo nutrição, temperatura, luz, umidade e atmosfera. (PORTH) Bactérias com necessidades de crescimento extremamente rígidas são chamadas de fastidiosas. Por exemplo, Neisseria gonorrhoeae, bactéria que causa a gonorreia, não consegue viver por longos períodos fora do corpo humano. Respiração Algumas bactérias necessitam de oxigênio para o crescimento e o metabolismo e são chamadas aeróbicas. Outras não conseguem sobreviver em um ambiente com oxigênio e são chamadas de anaeróbicas. Um organismo capaz de adaptar seu metabolismo para condições aeróbicas ou anaeróbicas é chamado de anaeróbico facultativo. (PORTH) Febre reumática Introdução A febre reumática é a principal causa de doença cardíaca adquirida nas crianças e jovens adultos em todo o mundo. Iniciada por uma infecção faríngea aos estreptococos beta-hemolíticos do grupo A (EGA) e seguida de um período latente de aproximadamente 2 a 3 semanas, essa doença caracteriza se por uma inflamação aguda do coração, articulações, pele, tecido subcutâneo e sistema nervoso central. (BRAUNWALD) O processo inflamatório causa lesão nas fibrilas de colágeno e na substância principal do tecido conjuntivo (i. e., degeneração fibrinoide), e, assim, a febre reumática é classificada como uma doença do tecido conjuntivo ou uma doença do colágeno vascular. (BRAUNWALD) É o seu efeito destrutivo nas valvas cardíacas que leva a sequelas crônicas da doença (i. e., doença cardíaca reumática), com distúrbios hemodinâmicos graves que causam insuficiência cardíaca, assim como outras complicações, como o acidente vascular (AVC) e a endocardite infecciosa. (BRAUNWALD) Referindo-se à artrite fugaz e à cardite destrutiva características da febre reumática, o médico francês ErnestCharles Lasègue disse a famosa frase em 1884 “Os patologistas já sabem há muito tempo que a febre reumática lambe as articulações mas morde o coração.” Quase todos os casos de febre reumática e de doença cardíaca reumática e mortes associadas são inteiramente preveníveis. (BRAUNWALD) @poli.canuto Ao longo dos anos, a FR vem sendo considerada uma “doença negligenciada”. A Organização Mundial da Saúde (OMS) se preocupa em desenvolver programas multidisciplinares de prevenção e controle da doença com o objetivo especial de promover o tratamento adequado das faringoamigdalites (profilaxia primária), a perfeita adesão à profilaxia secundária, o controle das lesões residuais e os cuidados relacionados com o bem-estar físico e mental desses pacientes. (CARVALHO) Epidemiologia da febre reumática A faringoamigdalite e o impetigo representam as infecções mais frequentemente causadas pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA), responsável por 15 a 20% das faringoamigdalites e pela quase totalidade daquelas de origem bacteriana. Infecções causadas por EBGA ocorrem em centenas de milhões de pessoas, resultando em mais de 500.000 mortes/ano e contribuindo para problemas de saúde pública em todo o mundo (CARVALHO) A carga de doença da febre reumática e da doença cardíaca reumática foi caracterizada por pelo menos por quatro diferentes padrões ao longo dos últimos 150 anos (BRAUNWALD) O primeiro padrão representa a queda pré-antibiótica na incidência da febre reumática que é típica dos países industrializados A queda na incidência da febre reumática precedeu a introdução dos antibióticos nos anos 1940 e é certamente devido à melhora dos padrões socioeconômicos, com menos pessoas vivendo na mesma casa e melhora do acesso a cuidados médicos. O segundo padrão é caracterizado por uma incidência alta e persistente de febre reumática nas regiões em desenvolvimento que não têm nenhum programa nacional de prevenção primária e secundária Esse padrão hiperendêmico de febre reumática afeta a maior parte da população mundial que vive na África, Oriente Médio, Ásia, Leste Europeu, América do Sul e comunidades indígenas da Australásia. O terceiro padrão, alguns países em desenvolvimento tais como Cuba, Costa Rica e as ilhas francesas da Martinica e de Guadalupe, apresentaram uma queda na incidência de febre reumática após a implantação de programas de saúde pública abrangentes na prevenção primária e secundária da febre reumática Em contraste, os países africanos que não implementaram programas de saúde pública para a prevenção da febre reumática continuam apresentando uma alta incidência de febre reumática e de doença cardíaca reumática Essa é uma doença que está frequentemente associada à pobreza e às más condições de vida. Assim, apesar da reconhecida redução da incidência da FR nas últimas décadas nos países desenvolvidos, com consequente redução na prevalência da CRC, a FR permanece como um grande problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento (DIRETRIZES) A FR afeta especialmente crianças e adultos jovens. A mais temível manifestação é a cardite, que responde pelas sequelas crônicas, muitas vezes incapacitantes, em fases precoces da vida, gerando elevado custo social e econômico (DIRETRIZES) Estatísticas internacionais indicam que o Brasil ainda é um dos países com maior incidência de FR. Os dados que embasam essas análises são resultado de pequenos levantamentos estatísticos, em geral em estados do Sul e do Sudeste, e, portanto, a real incidência deve ser ainda maior. (SOCESP) Seguindo a projeção do modelo epidemiológico da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que anualmente no Brasil ocorram cerca de 10 milhões de faringoamigdalites estreptocócicas, perfazendo o total de 30.000 novos casos de FR, dos quais aproximadamente 15.000 poderiam evoluir com acometimento cardíaco (DIRETRIZES) A frequência da FR aguda no Brasil difere de acordo com a região geográfica, porém em todas as regiões observa-se uma redução progressiva do total de internações por esta doença.. A taxa de mortalidade por CRC em pacientes internados pelo SUS foi de 6,8% em 2005 e de 7,5% em 2007, com gasto aproximado no tratamento clínico de 52 milhões de reais em 2005 e de 55 milhões em 2007 (DIRETRIZES) Além disso, apenas cercade 3% dos indivíduos são predispostos a desenvolver FR após episódio de amigdalite estreptocócica (SOCESP) Em geral, 30% dos pacientes com FR aguda apresentam acometimento cardíaco (37.500 ao ano, aproximadamente). Se 30% destes desenvolvem sequelas valvares graves, um total de pelo menos 11.200 ao ano desenvolve sequela grave decorrente de FR, e em 1 O a 30 anos necessitará de cirurgia cardíaca (SOCESP) Etiologia da febre reumática O desenvolvimento da FR está associado à infecção de orofaringe pelo estreptococo beta-hemolítico principalmente em crianças e adolescentes (DIRETRIZES) A febre reumática é uma doença multifatorial que se segue a uma faringite EGA (o agente) em um indivíduo suscetível (o hospedeiro) que vive, em más condições sociais (o ambiente). A teoria do mimetismo molecular sustenta que a faringite EGA desencadeia uma resposta autoimune contra os epítopos do organismo, que fazem uma reação cruzada com epítopos semelhantes do coração, cérebro, articulações e pele, e que os episódios repetidos de febre reumática levam a doença cardíaca reumática (BOUWNMALD) Para que a FR surja, é preciso haver uma faringoamigdalite pelo EBGA. Todavia, novos estudos de epidemiologia molecular revelam diversidade de cadeias de estreptococo tipo A em comunidades indígenas do Pacífico, onde há risco elevado para o desenvolvimento da FR. Nessas populações, o impetigo se sobrepõe à amigdalite, sugerindo a participação da infecção de pele no desenvolvimento da FR. (CARVALHO) Antígenos Em 1979, identificou se o antígeno denominado 883, presente em linfócitos B de pacientes com FR, que constituiu-se no primeiro @poli.canuto marcador de suscetibilidade descrito para a febre reumática. A partir desses dados, foram produzidos anticorpos monoclonais contra o antígeno 883 e o anticorpo monoclonal denominado D8/17 passou a ser considerado marcador genético. (DIRETIZES) No entanto, esse marcador não foi evidenciado em pacientes de vários países. Posteriormente à descoberta do antígeno 883, na década de 1980, foram descritos os antígenos HLA de classe II e passou-se a pesquisar a associação destes antígenos com FR. Os antígenos HLA de classe II também estão presentes nos linfócitos B, como o antígeno 883. Esse fato pode indicar que o antígeno 883, na realidade, seria uma molécula de classe II (HLA-DR), até então não identificada (DIRETRIZES) Hoje se sabe, por estudos populacionais, que há uma associação da doença com os antígenos de classe II e que cada população tem seu próprio marcador (HLA-DR) para suscetibilidade à FR. É interessante notar que o alelo encontrado com mais frequência, independentemente da origem étnica, é o HLA-DR7 (DIRETRIZES) É possível que diferentes cepas de estreptococos estejam envol- vidas e que as diversas moléculas HLA de classe II reconheçam pep- tídeos antigênicos diferentes. (DIRETRIZES) Fatores ambientais e socioeconômicos Fatores ambientais e socioeconômicos contribuem para o aparecimento da doença, uma vez que alimentação inadequada, habitação em aglomerados e ausência ou carência de atendimento médico constituem fatores importantes para o desenvolvimento da faringoamigdalite estreptocócica. (DIRETRIZES) Genética Paralelamente, fatores genéticos de suscetibilidade à doença estão diretamente relacionados ao desenvolvimento da FR e de suas sequelas (DIRETRIES) Vários sistemas com polimorfismo genético foram e estão sendo estudados com o intuito de elucidar o desencadeamento da FR e, talvez, futuramente, auxiliar sua prevenção em famílias com casos da doença (DIRETRIZES) Patogenia – fisiopatologia Agente O Streptococcus pyogenes, um patógeno Gram-positivo que infecta estritamente humanos, é o agente causador de faringoamigdalite, impetigo e doenças graves, como fasciíte necrosante. (CARVALHO) Pode se adaptar a diversos nichos do corpo humano para obter os nutrientes necessários, aderir aos tecidos, evadir do sistema imune e se replicar. Essa adaptação ao hospedeiro se dá em virtude das alterações no transcriptoma desses microrganismos em resposta aos diversos ambientes encontrados in vivo durante uma infecção. (CARVALHO) A bactéria apresenta uma estrutura bem definida associada à sua virulência e à sua capacidade de desenvolver o mimetismo molecular (CARVALHO) Sua parte mais externa consiste em uma cápsula de ácido hialurônico, que pode não estar presente. Impede a fagocitose e é mais frequente em cepas “epidêmicas”. Confere uma aparência mucoide às colônias na placa de cultura. Junto à cápsula, podem ser encontradas fímbrias, flagelos imóveis responsáveis pela aderência do estreptococo às células epiteliais da faringe e um pré-requisito para que haja infecção. (CARVALHO) A virulência relacionada com as fímbrias é determinada pela presença de ácido lipoteocoico e proteína M em sua estrutura.1 Abaixo da cápsula de ácido hialurônico há uma parede celular rígida formada por três camadas: Camada externa: O componente mais importante é a proteína M, uma proteína fibrilar com desenho helicoidal e estrutura homóloga à das proteínas humanas. Funcionalmente antifagocítica, trata-se do principal antígeno implicado na patogênese da FR. (CARVALHO) Tem propriedades de superantígeno, sendo capaz de provocar uma reação imunológica exagerada. As toxinas produzidas pela proteína M ativam uma grande quantidade de células T, resultando em uma produção maciça de citocinas pró-inflamatórias. (CARVALHO) A proteína M está ancorada na parede celular e estende-se para a superfície celular. Inibe a deposição de complementos, contribui para adesão às mucosas (CARVALHO) A diferença antigênica da proteína M é a responsável pela classificação do estreptococo do grupo A em mais de 200 subtipos, que classificam a proteína M em A, B, C, D e E, (CARVALHO) Os estreptococos com proteína M de padrões A, B e C estão normalmente associados a infecções de orofaringe; aqueles com o padrão D são principalmente recuperados de lesões superficiais de pele (impetigo) e o padrão E representa um grupo “generalista” relacionado com ambos os sítios de isolamento (CARVALHO) Camada média Formada por um carboidrato que possibilitou a classificação sorológica dos estreptococos de A até O. Mais de 90% dos estreptococos beta-hemolíticos patogênicos para o homem pertencem ao grupo A. Somente os estreptococos do grupo A e G conseguem sintetizar a proteína M (CARVALHO) @poli.canuto Camada interna Composta por um peptideoglicano formado por unidades básicas repetitivas de N-acetilglicosamina e ácido N-acetilmurâmico. Confere rigidez e dá forma ao microrganismo como se fosse sua estrutura esquelética. (CARVALHO) A penicilina exerce sua ação letal contra o estreptococo, bloqueando metabolicamente a síntese desse peptideoglicano. (CARVALHO) Resposta imune na doença reumática A existência de processo autoimune na FR foi postulada após a observação de que as lesões no coração estavam associadas a anticorpos que reconheciam tecido cardíaco. (SOCESP) O mecanismo atualmente postulado para o desenvolvimento da FR envolve o mimetismo molecular entre proteínas do hospedeiro e do estreptococo. (SOCESP) Anticorpos do hospedeiro dirigidos contra antígenos estreptocócicos também reconhecem estruturas do hospedeiro, iniciando o processo de autoimunidade. Assim como acontece o reconhecimento cruzado humoral, também acontece (SOCESP) A reação cruzada celular, com linfócitos T ativados com epítopos estreptocócicos passando a reconhecer epítopos próprios, causando uma agressão celular a tecidos próprios. Essa resposta celular parece ser especialmente importante em pacientes que desenvolvem cardite grave. (SOCESP) Existe evidência de que os pacientes com doença cardíaca reumática têm autoanticorpos de reação cruzada contra o epítopo dominante do EGA do grupo A carboidrato N-acetil-beta-d-glucosamina (GlcNAc), assim como contra a laminina e contra a membrana basilar laminar do endotélio valvar cardíaco (BRAUNWALD) Na cardite reumática, anticorpos reativos ao tecido cardíaco, por reação cruzada com antígenos do estreptococo, se fixam à parede do endotélio valvar e aumentam a expressão da molécula de adesão VCAM I, que atrai determinadas quimiocinas e favorecem a infiltração celular por neutrófilos, macrófagos e, principalmente, linfócitos T, ge- rando inflamação local, destruição tecidual e necrose (DIRETRIZES) O papel dos anticorpos na FR parece ser mais importante durante sua fase inicial, causando, entre outros, artrite por depósito de imunocomplexos nas articulações. Assim, as manifestações de artrite e coreia de Sydenham ( CS) da FR estariam mais envolvidas com a resposta humoral, ao passo que a cardite grave estaria mais ligada à resposta celular. (SOCESP) Na cardite reumática não está claro o papel da resposta humoral, sendo possível que cause alguma forma de lesão na fase aguda da doença. (SOCESP) Estudos histológicos de pacientes com doença reumática cardíaca (DRC) mostraram células plasmáticas cercadas por linfócitos T CD4+, próximos a fibroblastos, sugerindo interação entre a célula plasmática (linfócito B) e o linfócito T. (SOCESP) Os nódulos de Aschoff, considerados patognomônicos da doença, são compostos por agregados de células semelhantes a macrófagos e monócitos, que exercem a função de células apresentadoras de antígeno para as células T Dessa maneira, além da reação cruzada inicial tem-se uma apresentação continuada de antígenos no sítio da lesão, contribuindo para uma amplificação da resposta imune e ativação de maior número de clones autorreativos de linfócitos T. (SOCESP) O corpo de Aschoff da febre reumática. Fotomicrografia de um nódulo de Aschoff do coração em um caso de febre reumática aguda. O nódulo é composto por células de Anitschkow; estas têm um núcleo claro com uma barra central de cromatina, semelhante a uma lagarta. Existe uma área central de fibrina. Esta necrose central é depois rodeada por um infiltrado de células mononucleares. As fibras miocárdicas adjacentes aos corpos de Aschoff estão sendo destruídas (BRAUNWALD) .A análise do perfil de citocinas no tecido cardíaco de pacientes com DRC grave mostrou predomínio de células mononucleares secretoras de TNF alfa e IFN (padrão Thl). Postula-se que a produção de citocinas também direcionaria a resposta imune para resposta mais humoral (resposta Th2), que causaria quadro clínico com coreia e artrite ou para celular (resposta Thl), originando cardite grave e sequela valvar. (SOCESP) Com base nesses dados, postula-se que a produção de citocinas direciona para uma resposta celular (Th1), causando quadros de car- dite grave e sequela valvar e, provavelmente, para uma resposta predominantemente humoral (Th2), que causaria quadro clínico com coreia e artrite (SOCESP) Manifestações clínicas A FR pode se manifestar como um distúrbio agudo, recidivante ou crônico. (PORTH) O estágio agudo da FR inclui histórico de uma infecção estreptocócica inicial e subsequente envolvimento de elementos do tecido conjuntivo do coração, dos vasos sanguíneos, das articulações e dos tecidos subcutâneos. Uma lesão comum a todos, denominada corpo de Aschoff, consiste em uma área localizada de necrose tecidual circundada por células imunes. A fase recidivante normalmente envolve a extensão dos efeitos cardíacos da doença. A fase crônica da FR é caracterizada pela deformidade permanente das valvas cardíacas e é causa frequente de estenose da valva mitral. O surgimento de CR crônica geralmente demora no mínimo 10 anos, após a crise inicial, mas pode demorar décadas. @poli.canuto A maior parte das pessoas com FR apresenta histórico de dor de garganta, cefaleia, febre (38,3 a 40°C), dor abdominal, náuseas, vômito, edema de linfonodos (normalmente no ângulo da mandíbula), além de outros sinais e sintomas de infecção estreptocócica. (PORTH) Outras manifestações clínicas associadas a um episódio de FR aguda estão relacionadas ao processo inflamatório agudo e às estruturas envolvidas no processo patológico. A evolução da doença é caracterizada por um conjunto de achados, incluindo poliartrite migratória das grandes articulações, cardite, eritema marginado, nódulos subcutâneos e coreia de Syndenham. (PORTH) Poliatrite Mais comum e, com frequência, a primeira manifestação da FR em 75% dos casos. Pode ser o único critério importante em adolescentes e adultos. (PORTH) A artrite, que pode variar da artralgia até a artrite debilitante, envolve com mais frequência as grandes articulações, em particular os joelhos e tornozelos, e é menos comum nos punhos, cotovelos, ombros e quadril. (PORTH) OBS: A diferenciação entre artrite (critério maior) e artralgia (critério menor) é feita em bases clínicas. Artralgia significa apenas dor articular, enquanto a artrite é definida como a presença de edema na articulação ou, na falta deste, pela associação da dor com a limitação de movimentos (DIRETRIZES) A dor é de grande intensidade e desproporcional aos demais achados da inflamação, levando à incapacidade funcional, uma das características que a diferencia da artrite idiopática juvenil (CARVALHO) Quase sempre é migratória, afetando primeiro uma articulação e depois outra. Se não tratada, a artrite dura aproximadamente 4 semanas. (PORTH) Uma característica marcante da artrite reumática é a resposta drástica (normalmente dentro de 48 h) aos salicilatos. (PORTH) A artrite, na apresentação clássica da FR ou na forma das artrites reativas, evolui para cura em períodos variáveis, sem deixar sequelas. Entretanto, em 5% dessas crianças, a artropatia pode evoluir com deformidade e, eventualmente, até mesmo restrição de movimentos. Recebe o nome de artropatia de Jaccoud e é considerada uma sequela rara de surtos repetidos de FR. Caracteriza- se por desvio ulnar, subluxação e deformidade em flexão das articulações metacarpofalângicas e hiperextensão das interfalângicas proximais (CARVALHO) Cardite A cardite reumática aguda, que complica a fase aguda da FR, pode afetar o endocárdio, miocárdio ou pericárdio. O envolvimento do endocárdio e das estruturas valvares produz os efeitos permanentes e incapacitantes da FR. (PORTH) O acometimento pericárdico não é comum, não ocorre isoladamente e não resulta em constrição. A pericardite está sempre associada à lesão valvar e é diagnosticada pela presença de atrito e/ou derrame pericárdico, abafamento de bulhas, dor ou desconforto precordial. Nos casos leves, o acometimento pericárdico é um achado exclusivo do estudo ecocardiográfico. Grandes derrames pericárdicos e tamponamento cardíaco são raros. (DIRETRIZES) A miocardite tem sido diagnosticada com base no abafamento da primeira bulha, no galope protodiastólico, na cardiomegalia e na insuficiência cardíaca congestiva. Apesar das evidências histológicas e imunológicas do envolvimento do miocárdio, a insuficiência cardíaca é causada pela lesão valvar (valvite) e não pelo acometimento miocárdico. Os índices de função sistólica do ventrículo esquerdo estão geralmente preservados nos surtos iniciais (DIRETRIZES) O acometimento do endocárdio (endocardite/valvite) constitui a marca diagnóstica da cardite, envolvendo com maior frequência as valvas mitral e aórtica. Na fase aguda, a lesão mais frequente é a regurgitação mitral, seguida pela regurgitação aórtica. Por outro lado, as estenoses valvares ocorrem mais tardiamente, na fase crônica. Vale ressaltar que a regurgitação de valva mitral tem maior tendência para regressão total ou parcial do que a regurgitação aórtica. (DIRETRIZES) Os principais sinais clínicos consistem em taquicardia, sopros, cardiomegalia, insuficiênciacardíaca congestiva e atrito pericárdico (CARVALHO) A cardite manifesta-se principalmente como uma regurgitação mitral, e menos comumente como regurgitação aórtica, ainda que todas as quatro valvas possam estar envolvidas. (PORTH) Durante o estágio inflamatório agudo da doença, as estruturas valvares se tornam vermelhas e edemaciadas, e ocorre o desenvolvimento de pequenas lesões vegetativas nos folhetos valvares. (CARVALHO) As alterações inflamatórias agudas progridem gradualmente, até o desenvolvimento de um tecido cicatricial fibroso que tende a contrair e causar deformidade dos folhetos valvares e encurtamento das cordas tendíneas. Em alguns casos, as bordas ou comissuras dos folhetos valvares se fundem, à medida que ocorre a cicatrização. (CARVALHO) As características clínicas da endocardite/valvite, sem histórico de CR, incluem um sopro holossistólico apical decorrente de regurgitação mitral, ou um sopro diastólico precoce basal resultante de regurgitação aórtica. Em pessoas com histórico de CR, uma alteração na característica desses sopros ou um novo sopro são indicativos de cardite reumática aguda. (PORTH) @poli.canuto Classificação tipo Cardite subclínica Exame cardiovascular dentro dos limites normais, associado a exames radiológicos e eletrocardiográficos normais, com exceção do intervalo PR; exame dopplerecocardiográfico identificando regurgitação mitral e/ou aórtica em grau leve, com características patológicas diferenciadas das regurgitações fisiológicas Cardite leve Presença de taquicardia desproporcional à febre, abafamento da primeira bulha, sopro sistólico mitral, área cardíaca normal, exames radiológico e eletrocardiográfico normais, com exceção do prolongamento do intervalo PR; regurgitações leves ou leves/moderadas ao dopplerecocardiograma, com ventrículo esquerdo de dimensões normais Cardite moderada Dados clínicos mais evidentes do que na cardite leve, com taquicardia persistente e sopro de regurgitação mitral mais intenso, porém sem frêmito, associado ou não ao sopro aórtico diastólico; sopro de Carey Coombs pode estar presente; sinais incipientes de insuficiência cardíaca, aumento leve da área cardíaca e congestão pulmonar discreta podem ser encontrados no raiox de tórax; extrassístoles, alterações de ST-T, baixa voltagem, prolongamento dos intervalos do PR e QTc podem estar presentes ao eletrocardiograma; ao dopplerecocardiograma, a regurgitação mitral é leve a moderada, isolada ou associada à regurgitação aórtica de grau leve a moderado e com aumento das câmaras esquerdas em grau leve a moderado. Cardite grave Além dos achados da cardite moderada, encontram-se sinais e sintomas de insuficiência cardíaca; arritmias, pericardite e sopros relacionados a graus mais importantes de regurgitação mitral e/ou aórtica podem ocorrer; no exame radiológico, identificam-se cardiomegalia e sinais de congestão pulmonar significativos; o eletrocardiograma demonstra sobrecarga ventricular esquerda e, às vezes, direita; ao dopplerecocardiograma, estão presentes regurgitação mitral e/ou aórtica de grau moderado/importante, e as câmaras esquerdas mostram, no mínimo, aumento moderado Complicações valvares A função das valvas cardíacas é promover o fluxo unidirecional do sangue pelas câmaras do coração, evitando o sua regurgitação. (PORTH) As valvas mais afetadas são a mitral e aórtica, já a tricúspide e a pulmonar não são tão comuns devido à baixa de pressão no lado esquerdo do coração. (PORTH) Na cardiopatia valvar, ocorrem dois tipos de disfunção mecânica: estreitamento da abertura da valva, que impossibilita a abertura adequada; e distorção da valva, impossibilitando o fechamento adequado. (PORTH) A estenose se refere a um estreitamento do orifício valvar e a incapacidade dos folhetos da valva se abrirem normalmente, causando diversos problemas, deixando a valva menos eficiente, com fluxo turbulento. (PORTH) Isso aumenta o volume e o trabalho de esvaziamento da câmara através da valva com estreitamento – o átrio esquerdo, no caso de estenose de mitral, e o VE, na estenose aórtica. (PORTH) A valva incompetente ou regurgitante possibilita a ocorrência de um fluxo retrógrado, quando ela deveria estar fechada – fluxo de volta para o VE durante a diástole, quando a valva aórtica está afetada, e de volta para o átrio esquerdo durante a sístole, quando a valva mitral apresenta a enfermidade. (PORTH) Os efeitos da cardiopatia valvar sobre a função cardíaca estão relacionados às alterações no fluxo sanguíneo pela valva, e ao resultante aumento nas demandas de trabalho cardíaco. (PORTH) Regurgitação da valva mitral Ocorre quando há o fechamento incompleto da valva mitral, onde o sangue será movimentado em direção a aorta e para o átrio esquerdo durante a sístole. (PORTH) A insuficiência mitral é uma sobrecarga de volume imposta ao ventrículo e ao átrio esquerdo. (PORTH) Em razão desse mecanismo adaptativos, pode ocorrer hipertrofia excêntrica e dilatação do ventrículo e dos átrios esquerdos, o coração consegue acomodar o volume regurgitaste, mantendo o débito cardíaco. (PORTH) Regurgitação da valva aórtica É quando a valva aórtica sofre uma regurgitação, onde há aumento do seu orifício e afastamento dos folhetos valvares, deixando de se tocar. (PORTH Insuficiência aórtica aguda: ocorre quando há o aumento do fluxo sanguíneo, onde o fluxo voltará para o ventrículo esquerdo, porém o VE não ocorreu as devidas mudanças para suportar o grande aumento do fluxo sanguíneo. Insuficiência aórtica crônica: ocorre quando há o aumento do volume sanguíneo e aumento da pressão. Então, conforme ocorre as deformidades na valva, o fluxo regurgitante para o VE aumenta, aumentando o volume do VE.. (PORTH) @poli.canuto Estenose mitral A estenose da valva mitral é caracterizada pela substituição do tecido valvar por um tecido fibroso. (PORTH) Como a resistência do fluxo através da valva aumenta, o átrio esquerdo se dilata e a pressão atrial esquerda aumenta. Esse aumento da PA é transmitido para o sistema venoso pulmonar, causando a congestão pulmonar. (PORTH) Estenose aórtica É caracterizada pelo aumento da resistência da ejeção do sangue para a aorta. (PORTH) Com o aumento da pressão sistólica em consequência da obstrução, a parede ventricular esquerda se torna mais espessa, ou hipertrofia, porém o volume normal da câmara é mantido. (PORTH) Nódulo subcutâneos Os nódulos subcutâneos são rígidos, indolores e livremente móveis, normalmente ocorrendo sobre os músculos extensores das articulações do punho, cotovelo, tornozelo e joelho, com um tamanho que varia de 0,5 a 2 cm. (PORTH) Duram 1 ou 2 semanas, e raramente mais de 1 mês (CARVALHO) Os nódulos subcutâneos raramente ocorrem de modo isolado na FR, mas se manifestam com mais frequência associados à cardite moderada a grave. (PORTH) Eritema marginado As lesões do eritema marginado são áreas maculares semelhantes a um mapa, mais comumente observadas no tronco ou nos aspectos internos dos braços e das coxas, mas nunca na face. (PORTH) Ocorrem no início da evolução de uma crise reumática e tendem a apresentar nódulos subcutâneos, bem como cardite. (PORTH) São transitórias e desaparecem durante a progressão da doença. (PORTH) Coreia A coreia de Sydenham é a principal manifestação da FR no sistema nervoso central. (PORTH) É observada com mais frequência em meninas e raramente ocorre após os 20 anos de idade. (PORTH) Tipicamente, seu início é insidioso de irritabilidade, e existem outros problemas comportamentais. A criança aparenta inquietação, chora facilmente, começa a caminhar desajeitadamente e deixa os objetos caírem. (PORTH) Os movimentos coreiformes são espasmos espontâneos, rápidos e despropositados, que interferemnas atividades voluntárias. É comum haver caretas faciais, e até mesmo a fala pode estar afetada. (PORTH) A coreia é autolimitante e normalmente evolui em questão de semanas ou meses, porém as recidivas não são incomuns. (PORTH) Intervalo PR O intervalo PR pode estar aumentado em pacientes com febre reumática, mesmo na ausência de cardite, assim como em indivíduos normais. O eletrocardiograma deve ser solicitado em todos os pacientes com suspeita de FR e repetido para registrar o retorno à normalidade. (DIRETRIZES) Reagentes de fase aguda As provas de atividade inflamatória ou reagentes de fase aguda não são específicas da FR, porém auxiliam no monitoramento da presença de processo inflamatório (fase aguda) e da sua remissão. (DIRETRIZES) A velocidade de hemossedimentação (VHS) se eleva nas primeiras semanas de doença. Ressalte-se que, na presença de anemia, a VHS pode estar superestimada, bem como subestimada, nos pacientes com insuficiência cardíaca. (DIRETRIZES) A proteína C reativa (PCR) se eleva no início da fase aguda e seus valores diminuem no final da segunda ou da terceira semana. (DIRETRIZES) A alfa-1-glicoproteína ácida apresenta títulos elevados na fase aguda da doença, mantendo-se elevada por tempo mais prolongado. Deve ser utilizada para monitorar a atividade da FR. (DIRETRIZES) Na eletroforese de proteína, a alfa-2-globulina se eleva precocemente na fase aguda e pode ser utilizada também para o seguimento da atividade da doença. (DIRETRIZES) Diagnóstico A FR é doença autoimune sistêmica e inclui manifestações neurológicas, cardiovasculares, osteoarticulares e cutâneas. (SOCESP) Até hoje não há um exame laboratorial ou por imagem que permita fazer com segurança o diagnóstico de FR. Esse diagnóstico, ainda hoje, é baseado no quadro clínico e em exame físico detalhado e assistido por exames laboratoriais inespecíficos que, quando em conjunto com a clínica, permitem o diagnóstico da FR na maior parte dos casos, demonstrando a importância de uma boa história clínica e do exame físico cuidadoso (SOCESP) @poli.canuto O diagnóstico da FR é mais fácil na fase aguda, quando os muitos sinais clínicos e laboratoriais permitem estabelecer o diagnóstico do quadro na maioria dos pacientes. Nessa fase, é importante restringir o uso indiscriminado e precoce de anti-inflamatórios não humorais (SOCESP) É importante notar que, em qualquer população, apenas 3 a 4% dos pacientes com amigdalite estreptocócica podem desenvolver um surto agudo de FR. Dessa forma, para desenvolver FR, o indivíduo tem de, além de ter uma amigdalite não tratada, possuir um substrato genético favorável ao desenvolvimento da FR. Dessa maneira, para o diagnóstico da FR, não basta demonstrar que o paciente apresentou amigdalite estreptocócica; é necessário comprovar as reações não supurativas subsequentes que caracterizam a FR (SOCESP) Critério de Jones Os critérios de Jones foram criados para o diagnóstico da FR aguda. Ocorre que, atualmente, 90% dos pacientes com FR não têm uma fase aguda sintomática, e os pacientes são diagnosticados tardiamente por sequelas valvares características. Dessa forma, os critérios de Jones não são adequados para fazer diagnóstico de 90% dos pacientes com FR. Isso é ainda mais importante porque não existem atualmente critérios para se fazer diagnóstico de FR na fase crônica da doença (SOCESP) Essas manifestações foram agrupadas por Jones em critérios maiores e menores para o diagnóstico da D R em sua fase aguda, sendo que o diagnóstico seria feito se estivessem presentes dois critérios maiores ou um critério maior e dois critérios menores de FR (SOCESP) Apesar da pouca utilidade clínica dos critérios de Jones, não há perspectiva de que sejam modificados, pois são critérios da American Heart Association (AHA), e nos Estados Unidos a incidência de FR é baixa, sendo uma doença desconhecida pela maioria dos médicos norte-americanos. É muito difícil modificar critérios cinquentenários, principalmente se não há experiência clínica pessoal, portanto é pouco provável que os critérios de Jones sejam modificados a curto prazo. (SOCESP) Uma vez que outros diagnósticos sejam excluídos, a coreia, a cardite indolente e as recorrências são três exceções em que os critérios de Jones não têm que ser rigorosamente respeitados: (DIRETRIZ, 2009). Considerando-se a raridade de outras etiologias para a coreia, sua presença implica no diagnóstico de FR, mesmo na ausência dos outros critérios ou da comprovação da infecção estreptocócica anterior; Na cardite indolente, as manifestações clínicas iniciais são pouco expressivas e, quando o paciente procura o médico, as alterações cardíacas podem ser a única manifestação, e os exames de fase aguda, assim como os títulos de anticorpos para o estreptococo, podem estar normais; Nos casos em que o paciente tem história de surto agudo prévio ou de cardiopatia crônica comprovada, o diagnóstico de recorrência pode ser baseado em apenas um sinal maior ou em vários sinais menores ou, simplesmente, em dois sinais menores pelo critério da OMS OBS: Um erro comum no diagnóstico da FR é a supervalorização dos níveis de ASLO. Altos níveis desse anticorpo são um marcador de contato com estreptococos beta-hemolíticos, mas não são altamente sugestivos de FR. Em um paciente com elevados títulos de ASLO, há 97% de chance de que esse paciente não tenha FR, não podendo desenvolvê-la por não possuir substrato imunogenético favorável. A procura de algum quadro clínico de FR após a obtenção de um título elevado de ASLO no sangue é equivocada, já que infecções estreptocócicas são bastante comuns, sobretudo na faixa etária de ocorrência da FR (SOCESP) Diagnóstico da faringoamigdalite O isolamento do estreptococo do grupo A em vias aéreas superiores pode representar uma infecção ou a condição de portador (DIRETRIZES) Ressalte-se que apenas nos casos de infecção ocorre elevação de anticorpos e, consequentemente, risco de desenvolver FR (DIRETRIZES) Por outro lado, aproximadamente 30% dessas infecções pelo EBGA são de manifestações subclínicas. Esse fato pode resultar na não procura de atendimento médico por parte dos pacientes, assim como no subdiagnóstico da doença por parte dos médicos (DIRETRIZES) O diagnóstico da faringoamigdalite estreptocócica permite o adequado tratamento antimicrobiano e, consequentemente, a prevenção primária da FR. (DIRETRIZES) O diagnóstico diferencial da infecção estreptocócica de orofaringe, responsável por aproximadamente 30% dos casos de faringoamigdalites deve ser feito, particularmente, com as infecções virais. As manifestações clínicas podem auxiliar nessa diferenciação. O diagnóstico de faringoamigdalite estreptocócica pode ser sugerido pela presença dos critérios clínicos validados pela OMS, os quais incluem: mal-estar geral, vômitos, febre elevada, hiperemia e edema de orofaringe, bem como petéquias e exsudato purulento, além de gânglios cervicais palpáveis e dolorosos. Por outro lado, presença de coriza, tosse, rouquidão e conjuntivite sugerem infecção viral (DIRETRIZES) Recomenda-se a comprovação laboratorial da infecção pelo EBGA. A cultura de orofaringe é o “padrão ouro” para o diagnóstico da faringoamigdalite estreptocócica e tem sensibilidade entre 90%-95%. Quando comparado à cultura, o teste rápido para a detecção de antígeno tem a vantagem da rapidez do resultado e, também, apresenta sensibilidade de 80% e especificidade de 95%. Diante de quadro clínico sugestivo de faringoamigdalite estreptocócica e teste rápido negativo, recomenda-se a realização de cultura de orofaringe (DIRETRIZES) @poli.canuto Exames sorológicos traduzem uma infecção pregressa e não têm valor para o diagnóstico do quadro agudo da faringoamigdalite estreptocócica. (DIRETRIZES) Os testes mais comumenteutilizados são a antiestreptolisina O (ASLO) e a antidesoxyribonuclease B (anti-DNase). A dosagem dos títulos de ASLO confirma apenas a presença de infecção estreptocócica anterior. A elevação dos títulos se inicia por volta do 7º dia após a infecção e atinge o pico entre a 4a e a 6a semana, mantendo-se elevada por meses, às vezes até por um ano após a infecção. (DIRETRIZES) Exames complementares para avaliação do comprometimento cardíaco Radiografia do tórax e ECG Recomenda-se a realização do exame radiológico do tórax para investigação de cardiomegalia e de sinais de congestão pulmonar. A análise sequencial caracterizando o aumento da área cardíaca fala a favor de atividade reumática, e a presença de congestão pulmonar caracteriza a cardite grave (DIRETRIZES) A respeito do eletrocardiograma, os achados são inespecíficos, geralmente transitórios e representados principalmente por taquicardia sinusal, distúrbios de condução, alterações de ST-T e baixa voltagem do complexo QRS e da onda T no plano frontal (DIRETRIZES) Ecocardiograma Persistência ou agravamento das lesões valvares ao ecocardiograma poderão ocorrer, mesmo com regressão dos achados clínicos. Assim, a OMS recomenda, nas áreas em que a doença é endêmica, a utilização da ecocardiografia para diagnosticar cardite subclínica (DIRETRIZES) Na fase aguda da doença, a regurgitação mitral é a alteração mais frequente. Para se aumentar a especificidade do diagnóstico ecocardiográfico da regurgitação mitral é necessário que alterações valvares morfológicas também estejam presentes. A regurgitação mitral é causada por dilatação ventricular, dilatação do anel mitral e pelo prolapso mitral (DIRETRIZES) A regurgitação aórtica é a segunda lesão mais frequente, e lesões valvares obstrutivas não ocorrem nos episódios iniciais da FR. Espessamento valvar é frequente, e têm sido observados nódulos valvares focais que desaparecem durante a evolução. O diagnóstico da valvite não deve ser baseado em lesões isoladas do lado direito do coração (DIRETRIZES) Referências VIEIRA, Darlene Ana de Paula; FERNANDES, Nayara Cláudia de A. Queiroz. Microbiologia Geral. 2016. PORTH, C.M.; MATFIN, G. Fisiopatologia. 8ª ed. Guanabara Koogan, 2010. CARVALHO et. al. Reumatologia: Diagnóstico e Tratamento, 5ª edição. Guanabara Koogan, 2019 BRAGA et. al. Diretrizes Brasileiras para o Diagnóstico, Tratamento e a Prevenção da Febre Reumática. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2009.
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