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A Doença hipertensiva específica da gestação (DHEG) é um termo genérico que diz respeito as doenças hipertensivas que ocorrem após a segunda metade da gestação oriunda de alterações decorrentes da invasão trofoblástica. Entende-se como hipertensão arterial quando a pressão arterial sistólica atinge valor ≥ 140 mmHg e/ou a pressão arterial diastólica atinge valor ≥ 90 mmHg, em duas medidas com intervalo de pelo menos 4 horas. Desse modo, a gestação pode agravar a hipertensão arterial crônica, ou seja, que já existia antes da gravidez, bem como induzi-la em mulheres normotensas, gerando hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia. DHEG representa a principal complicação gestacional no Brasil, elencada como a maior causa de morte materna no Brasil segundo dados do Ministério da Saúde, sendo responsável por cerca de 30% das mortes maternas diretas e 4% dos óbitos maternos no mundo (dado da OMS). Estima-se que cerca de 5 a 10% de todas as gestantes apresentam um distúrbio hipertensivo, sendo que 70% são provenientes de pré-eclâmpsia e 30% são decorrentes de hipertensão crônica. Essas doenças apresentam alta taxa de morbidade e mortalidade maternas, formando junto com a hemorragia e infecção materna, a chamada “tríade mortal” da gestação. Além disso, a DHEG também eleva a morbimortalidade perinatal, visto que pode ser a gênese de diversas complicações como prematuridade, restrição do crescimento fetal, sofrimento fetal e morte perinatal. Existem várias formas de classificar a DHEG, no entanto, segundo a FEBRASGO, podemos dividir a DHEG em: • Hipertensão gestacional • Pré-eclâmpsia • Eclâmpsia • Hipertensão crônica • Hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia superajuntada/ sobreposta. Sabendo disso, a pré-eclâmpsia e eclâmpsia são potencialmente mais perigosas que as outras síndromes hipertensivas, sendo chamada antigamente de toxemia da gravidez. A pré-eclâmpsia isoladamente ocorre em cerca de 3 a 14% de todas as gestações, sendo que as formas leves representam 75% dos casos e cerca de 10% ocorrem antes da 34a semana de gestação. Diversos fatores estão associados ao maior risco de DHEG. • Idade materna avançada • Diabetes mellitus: o mecanismo fisiopatológico da DHGE está relacionado à intolerância à glicose. Risco de DHEG em pacientes com diabetes pré-gestacional é de cerca de 20%. • Obesidade: grande fator contribuinte para as síndromes hipertensivas, sendo que quanto maior o IMC, maior o risco de DHEG. • Gestação múltipla: tente a ocorrer em idades gestacionais mais baixas quando comparadas a gestações únicas e são mais graves. • Gestação molar: manifestação antes de 20 semanas • Trombofilias • História familiar de DHGE: participação de polimorfismos de alguns genes • Doença trofoblástica gestacional: surge em idades gestacionais mais precoces • DHGE em gestação pregressa / pré-eclâmpsia prévia: risco maior quanto mais precoce no curso da gestação anterior foi o episódio • Doença renal crônica • Doenças do colágeno/ Colagenoses • Primiparidade/ nulíparas: cerca de 75% da doença e observada em nulíparas. • Extremos da v ida reprodutiva (>35 anos ou adolescente): pode ser relacionado a nuliparidade (nas jovens) e a hipertensão arterial essencial (nas mais velhas) • Raça negra: provavelmente relacionada à maior prevalência de hipertensão arterial essencial em indivíduos desta raça. • Longo intervalo interpartal • Síndrome antifosfolipideo H I P E R T E N S A O E G R A V I D E Z • Troca de parceiro e nova gravidez: a exposição ao sêmen do parceiro diminui o risco de pré- eclâmpsia. A troca de parceiro e o uso de preservativo aumentam a probabilidade da doença. Apesar de causar diversas complicações durante a gestação, o tabagismo diminui a incidência de pré- eclâmpsia. Em relação ao nível socioeconômico, não há evidências conclusivas de que isso possa ter relação com a síndrome hipertensiva. Porém, a eclâmpsia e a síndrome HELLP são mais frequentes nas camadas socioeconômicas menos favorecidas. Apesar de não ser consenso, formas mais avançadas da doença hipertensiva pode decorrer do fato de que há falta de assistência pré-natal ou assistência médica precária nas classes menos favorecidas. Apesar da grande evolução da medicina, a etiologia da DHEG não é totalmente esclarecida. Muitas teorias são sugeridas e algumas abandonadas com o passar do tempo. As principais teorias são: O mais aceito é que essas teorias atuem em conjunto, e a DHEG seja resultado de uma invasão trofoblástica inadequada, mediada por fatores imunogenéticos. Como consequência disso, ocorre aumento da resistência vascular, da permeabilidade capilar e a ativação do sistema de coagulação, o que promoverá as alterações multissistêmicas, associadas a menor perfusão generalizada que ocorre nos órgãos, que são frequentemente encontradas nessa patologia. INVASÃO TROFOBLÁSTICA NORMAL Sabe-se que as artérias do endométrio e do terço superficial do miométrio, que formam o suprimento f inal de sangue à placenta, são as artérias espiraladas. As paredes arteriais são compostas por tecido elástico e muscular. Entretanto, as espiraladas para conduzir o aumento do fluxo sanguíneo uterino 10 vezes maior que o normal na gravidez, são transformadas em vasos complacentes, de baixa resistência. Esse fenômeno é fisiológico e ocorre devido a interação entre o trofoblasto extravilositário e os vasos maternos. É função do trofoblasto fazer a destruição da musculatura vascular e membrana elástica do vaso, ou seja, estas células substituem os revestimentos muscular e endotelial vascular, aumentando o diâmetro do vaso. Isso ocorre inicialmente no primeiro trimestre, quando o trofoblasto intersticial promove a desorganização do músculo liso vascular. Depois disso, ocorre a chegada do trofoblasto endovascular, considerada a segunda onda de migração trofoblástica, onde ocorre a invasão da camada muscular média das artérias espiraladas do endométrio pelo sinciciotrofoblasto, diminuindo a resistência vascular e aumentando o fluxo sanguíneo placentário. Esse processo ocorre 4 semanas após a primeiro. Portanto, a primeira onda de migração trofoblástica, iniciada com 8 semanas, completa-se por volta de 10 semanas da gravidez e a segunda onda ocorre a partir 14 semanas, de maneira que o trofoblasto endovascular ativo ainda é visto na vasculatura espiralada até 24 semanas. Após esses processos, a placenta torna-se órgão extremamente vascularizado que permite as trocas materno-fetais. DEFICIÊNCIA NA INVASÃO TROFOBLÁSTICA Na placentação normal, as artérias espiraladas sofrem invasão de trofoblastos endovasculares e são remodeladas. Na DHEG, pouquíssimas artérias espiraladas fazem a transformação completa no seu segmento miometrial, ou seja, a remodelação das artérias espiraladas está ausente ou incompleta, na segunda onda de migração trofoblástica. Sendo assim, as artérias espiraladas não perdem o revestimento endotelial e muscular, mantendo o diâmetro em metade do que os vasos nas placentas normais. Além disso, sabe-se que esse processo de remodelamento arterial está associado a um balanço de fatores angiogênicos, antiangiogênicos, citocinas, metaloproteinases, moléculas do processo principal de histocompatibilidade, antígenos leucocitários e fatores de crescimento. Sendo assim, acredita-se que alterações nesses fatores estão relacionados a deficiência na invasão trofoblástica. Ademais, apesar de apontarem as alterações da segunda onda de invasão trofoblástica, é provável que na fisiopatologia da DHEG a primeira onda também não seja normal. Por conseguinte, alguns estudos revelam que muitas artérias espiraladas miometriais não transformadas exibem lesões obstrutivasde ateromatose aguda, levando a maior estreitamento do lúmen do vaso e a risco aumentado de trombose, com consequente infarto de áreas placentárias. Vale lembrar que todo esse processo de redução do suprimento sanguíneo, diminui a oxigenação e nutrição fetal, podendo se relacionar com o surgimento da restrição do crescimento fetal intraútero (CIUR) e sofrimento fetal. DISFUNÇÃO ENDOTELIAL e ALTERAÇÕES INFLAM. Devido as alterações de perfusão placentária, acredita- se que ocorra a ativação endotelial sistêmica seguida de vasoespasmo. Sabe-se que o vasoespasmo é responsável pela hipertensão e aumento da permeabilidade capilar que pode levar a proteinúria, edema, hemoconcentração e ativação da coagulação, responsável pela plaquetopenia. As convulsões que ocorrem na Eclâmpsia são resultadas de dois fatores: • Primeiro, em resposta à hipertensão grave, ocorreria vasoespasmo com redução do fluxo sanguíneo cerebral, resultando em isquemia, edema citotóxico e eventual infarto tecidual. • Segundo, a elevação brusca da pressão arterial que causaria perda da capacidade de autorregulação vascular cerebral. No capilar, ocorreria rotura da pressão distal causando aumento da pressão hidrostática, hiperperfusão e extravasamento de plasma e hemácias, determinando edema angiogênico. Ainda por conta do edema, sabe-se que ele pode acontecer na célula endotelial glomerular, levando a endoteliose capilar glomerular, considerada por muitos a lesão patognomônica da pré-eclâmpsia. Nessa mesma perspectiva, é devido a ativação endotelial que surge os distúrbios dos fatores da coagulação, resultando em coagulopatias. Enquanto isso, a vasoconstrição e a isquemia da lesão endotelial levam à disfunção hepática e oliguria. Além disso, estudos apontam que o ponto de convergência para diversos fatores potencialmente determinantes da disfunção endotelial, é o estresse oxidativo. Sendo que a placenta é a principal fonte das espécies reativas de oxigênio (ROS) que iniciam os eventos fisiopatológicos. É por conta disso, que após a retirada da placenta inicia a resolução da doença, com melhora dos sintomas. Vale lembrar que perfil lipídico alterado, muito encontrado na obesidade e diabetes, também predispõe ao estresse oxidativo. Por fim, fatores antiangiogênicos placentários, podem estar superexpressos na DHEG. O sFlt-1 é uma variante do Flt-1, que é receptor do fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e do fator de crescimento placentário (PlGF). O sFlt-1, interage com o VEGF e o PlGF na corrente sanguínea, impedindo a ligação desses fatores angiogênicos com os seus receptores de membrana do endotélio. Assim, o sFlt-1 age como antagonista dos fatores do crescimento e sua concentração encontra-se elevada na DHEG. Além disso, ocorre redução no nível de fatores pró- angiogênicos, como VEGF e PIGF. Sendo o VEGF, pró- angiogênico e vasodilatador, pelo aumento de óxido nítrico (NO) e de prostaciclina (PGI2). Na DHEG também pode ocorrer aumento da produção de tromboxano A2 (TxA2), um vasoconstritor potente, que estimula a agregação plaquetária e a contração uterina, reduzindo o fluxo sanguíneo uteroplacentário. FATORES IMUNOLÓGICOS Acredita-se que na DHEG ocorra uma resposta inflamatória exacerbada que impede a placentação adequada. Isso pode ser resultado do excesso de carga antigênica fetal, ausência de anticorpos bloqueadores que teriam um efeito protetor contra a imunidade celular materna, a ativação de polimorfonudeares e do complemento, além da liberação de citocinas citotóxicas e interleucinas. A produção exagerada de citocinas pode ser resultado do desequilíbrio entre a quantidade dos dois tipos de linfócitos T, com predomínio dos linfócitos T helper 2 (Th2) em relação aos linfócitos T helper 1 (Th 1). Desse mesmo modo, acredita-se que a exposição prévia a um mesmo antígeno paterno tenha efeito protetor e um antígeno diferente apresente efeito contrário. Reforçando a hipótese de que a troca de parceiros pode ter relação com o surgimento da DHEG. FATORES GENÉTICOS Embora a maioria dos casos sejam esporádicos, é observado, aumento do risco de doenças hipertensivas em gestantes com histórico familiar e naquelas com parceiro cujas mães ou parceiras anteriores tiveram histórico doenças do espectro da DHEG. Entretanto, o mecanismo exato da herança ainda é desconhecido. Vários polimorfismos gênicos, como do fator de necrose tumoral (TNF), linfotoxina-alfa, interleucina-1 beta, já foram associados, assim como uma variante do gene do angiotensinogênio. A Doença Hipertensiva Especifica da Gestação é um termo amplo que engloba vários tipos de doenças hipertensivas. De acordo com a FEBRASGO, podemos classificar as formas clínicas que compõe a DHEG em: HIPERTENSÃO GESTACIONAL (HG) Essa patologia ocorre quando a mulher apresenta pela primeira vez na vida, níveis pressóricos alterados após metade da gestação, sem presença de proteinúria. Estudos apontam que cerca de metade das pacientes que foram diagnosticadas com hipertensão gestacional podem evoluir para pré-eclâmpsia até o final da gestação e tem maior risco de desenvolver hipertensão crônica futuramente. A hipertensão gestacional é reclassificada como hipertensão transitória quando a evidência de pré- eclâmpsia não se desenvolve, voltando a pressão arterial ao normal em torno de 12 semanas após o parto e ocorre em 80% dos casos nas gestações subsequentes. PRÉ-ECLÂMPSIA Essa patologia, também conhecida como síndrome específica da gestação, pode afetar a gestante em vários sistemas. Se refere ao aparecimento de hipertensão e proteinúria após a 20ª semana de gestação em gestantes previamente normotensas. HIPERTENSÃO Define-se hipertensão durante a gravidez como a pressão arterial sistólica ≥ 140 ou pressão diastólica ≥ 90 mmHg, constatada pelo 5º ruído de Korotkoff com a paciente em repouso, sentada, no braço, com ele ao nível do coração e com duas medidas espaçadas por, pelo menos, quatro horas, não devendo ser espaçadas por mais de sete dias. Também pode ser aferida em decúbito lateral esquerdo para evitar a compressão da veia cava, especialmente em gestações avançadas. PROTEINÚRIA Proteinúria é definida como a presença de 300 mg ou mais de proteína em urina de 24h; ≥ 1+ em amostra isolada de urina (geralmente tardia em relação à hipertensão), o que equivale a 30 mg/dl em amostra urinária única; ou relação proteinúria/creatinúria em amostra urinária > 0,3. FATORES DE RISCO Existem vários fatores de risco específicos para pré- eclâmpsia, podendo ser divididos em fatores de alto risco e moderado risco. Essa doença, costuma ocorrer na segunda metade da gestação, sendo mais frequentes o terceiro trimestre. EXCEÇÃO: Pacientes com doença trofoblástica gestacional, pode apresentar pré-eclâmpsia antes de 20 semanas de gestação. Caracterizada por hipertensão e proteinúria, mas pode cursar com sinais como trombocitopenia, ou sintomas, como cefaleia ou dor epigástrica. A proteinúria representa um maior risco materno-fetal. Entretanto, é possível ter uma pré-eclâmpsia atípica em que a paciente possui vários sintomas, mas sem hipertensão e/ou proteinúria. Quanto mais grave for a hipertensão ou proteinúria, mais acurado será o diagnóstico de pré-eclâmpsia bem como as suas complicações. CLASSIFICAÇÃO A pré-eclâmpsia pode ser classificada em leve ou grave. GRAVE: A presença de fatores como cefaleia ou distúrbios v isuais, como os escotomas, podem ser sintomas de iminência de eclâmpsia, classificando a pré-eclâmpsia como grave. Além disso, dor epigástrica ou no quadrante superior direito está associada a necrose hepatocelular, isquemia e edema que estiram a cápsula de Glisson, sendo frequente o aumento nos níveis séricos de transaminaseshepáticas. A trombocitopenia também é característica da pré- eclâmpsia em agravamento, sendo provavelmente causada pela ativação e agregação das plaquetas bem como por hemólise microangiopática induzida pelo intenso vasoespasmo. Os outros fatores indicativos de pré-eclâmpsia grave são o envolvimento renal ou cardíaco, bem como a evidente restrição do crescimento fetal. LEVE: A ausência dessas complicações. DIAGNÓSTICO Foi publica uma nova diretriz para diagnóstico de pré- eclâmpsia, que inclui pacientes com novo quadro hipertensivo, mas sem proteinúria, desde que seja encontrado um dos seguintes achados: • Trombocitopenia (< 100.000/mm3); • Alteração da função hepática (elevação de transaminases duas vezes o valor normal); • Piora da função renal (creatinina > 1,1 mg/dl ou duplicação do valor normal, na ausência de outras doenças renais); • Edema agudo de pulmão; • Alteração SNC (cefaleia, escotomas, convulsão) ECLÂMPSIA Temos a eclâmpsia quando uma gestante com hipertensão gestacional ou pré-eclâmpsia apresenta acometimento neurológico, como convulsões. No entanto, cabe lembrar que alguns autores colocam que 10% das convulsões eclâmpticas desenvolvem-se antes que a proteinúria. Ou seja, nem sempre a eclâmpsia tem um diagnóstico anterior de pré-eclâmpsia. As crises convulsivas geralmente são do tipo tônico- clônicas generalizadas e podem aparecer antes, durante ou após o parto, sendo mais raras após 48h de puerpério, embora possam ocorrer até o 10º dia. Geralmente as convulsões são autolimitadas, durando de dois a três minutos. É comumente precedida pelos sinais e sintomas de eclâmpsia iminente, isto é: • distúrbios do sistema nervoso central (cefaleia frontal/occipital, torpor, obnubilação e alterações do comportamento) • distúrbios v isuais (escotomas, fosfenas, visão embaçada e até amaurose) • distúrbios gástricos (náuseas, vômitos e dor no hipocôndrio direito ou no epigástrio). São indistinguíveis eletroencefalograficamente de outras convulsões tônico-clônicas. Em exames de ressonância magnética o achado mais comum é o de edema cerebral; na necropsia, hemorragia intracraniana e petéquias podem ser observadas. HIPERTENSÃO CRÔNICA (HC) Define-se como HC a hipertensão que está presente na mulher antes da gravidez ou é diagnosticada antes de 20 semanas de gestação. Esta condição não está associada a edema e proteinúria, salvo se já houver dano renal antes da gravidez, e persiste decorridas 12 semanas de pós- parto. A pressão arterial sofre queda durante a gestação decorrente do relaxamento vascular fisiológico, mais significativamente no segundo trimestre, o que pode tornar normal uma PA antes elevada e comprometer o diagnóstico de hipertensão crônica. Outro ponto, é que durante o terceiro trimestre, quando a pressão arterial volta a seu nível originalmente hipertenso, pode ser difícil determina se a hipertensão é crônica ou induzida pela gravidez. A HC ainda pode ser classificada em essencial ou primária, que corresponde a grande maioria dos casos, ou secundaria, responsável por apenas 10% do total. Isso é importante na medida em que a presença de doenças que levam à hipertensão secundária, também aumentam o risco na gestação independente da hipertensão, como por exemplo a coarctação de aorta e doenças autoimunes, como o lúpus. hipertensão arterial crônica se associa com uma alta taxa de implicações maternas e fetais, principalmente nas hipertensas graves, em pacientes com lesão de órgão-alvo e nas pacientes não aderentes às visitas de pré-natal. Este risco é maior quando há sobreposição de pré-eclâmpsia. HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA COM PRÉ-ECLÂMPIA SUPERAJUNTADA / SOBREPOSTA A hipertensão essencial crônica preexistente se agrava em algumas gestantes, caracteristicamente após 24 semanas. Sabe-se que mulheres com HC há mais de 4 anos ou história de pré-eclâmpsia em outras gestações, apresentam um risco maior de ter essa doença sobreposta. Esta elevação dos níveis tensionais pode ser acompanhada de proteinúria (pré-eclâmpsia sobreposta), o que piora muito o prognóstico materno- fetal. Em comparação com a pré-eclâmpsia “simples”, a pré-eclâmpsia sobreposta normalmente se apresenta mais precocemente, tende a ser mais agressiva e é frequentemente acompanhada de crescimento intrauterino restrito. DIFERENCIAÇÃO Diferenciar entre pré-eclâmpsia; hipertensão essencial ou secundária anterior à gravidez; e hipertensão prévia à gestação, com pré-eclâmpsia sobreposta, é uma das tarefas mais difíceis no manejo da hipertensão na gestação. Uma anamnese bem colhida por vezes é suficiente para esclarecimento dessas dúvidas. Durante o exame clínico, a avaliação da pressão arterial antes de 20 semanas é fundamental para esta diferenciação. A fundoscopia revela, nos casos de hipertensão de longa duração, alterações características, como estreitamento de arteríolas, cruzamentos arteriovenosos, exsudatos etc. Outras evidências sugerem o diagnóstico de pré-eclâmpsia sobreposta, como o aparecimento recente de proteinúria, trombocitopenia e elevação das enzimas hepáticas. O diagnóstico das patologias que compõe a DHEG é feito com base no quadro clínico, e conta com a ajuda complementar de exames laboratoriais. QUADRO CLÍNICO A maioria dos casos de DHEG são assintomáticos ou apresenta sintomas geralmente no final da gestação. Por isso, devemos realizar uma propedêutica rigorosa durante todas as consultas de pré-natal, visando o diagnóstico mais precoce possível para evitar a evolução para formas mais graves da doença. Devemos sempre questionar na anamnese a presença de fatores de risco, como comorbidades previa a gestação e passado obstétrico. Sendo assim, em todas as consultas de pré-natal, durante o exame físico, as gestantes devem ser submetidas a monitorização do ganho de peso e pressão arterial. O primeiro passo para o diagnóstico de qualquer espectro da DHEG é presença de hipertensão. Ela é diagnosticada, quando aferida corretamente, na presença da medida maior ou igual a 140 mmHg de pressão sistólica ou 90 mmHg da diastólica. EXAMES LABORATORIAIS Vários exames laboratoriais servem para fornecer o diagnóstico diferencial e acompanhamento de complicações das síndromes hipertensivas na gravidez. PROTEINÚRIA A presença de proteinúria sempre nos alerta para a possibilidade de DHEG, sendo considerada significativa nas seguintes situações: • Quando igual ou superior a 300 mg em urina coletada durante 24 horas; • Na relação proteína/creatinina > 0,3 em amostra isolada de urina; • Quando se observa a presença de proteinúria em fita indicadora (> 1 +). A pesquisa de proteinúria por meio de fita indicadora em amostra de urina isolada durante a consulta de pré- natal é um método útil e prático para a confirmação momentânea do diagnóstico de DHEG, porém não afasta a necessidade de confirmação em exame de urina, que pode ser feita tanto em amostra isolada (pela relação proteína/ creatinina) quanto em urina de 24 horas (preferível em casos mais graves, com a paciente internada). ÁCIDO ÚRICO A dosagem do ácido úrico sérico é importante, pois sua elevação ocorre precocemente na DHEG e pode estar relacionada à queda da filtração glomerular ou a alterações de reabsorção e excreção tubular. Além disso, os níveis de hiperuricemia correlacionam-se com o grau de hemoconcentração, gravidade da endoteliose glomerular e gravidade da doença hipertensiva. No entanto, a dosagem de ácido úrico não faz parte dos critérios diagnósticos, mas serve para o acompanhamento, sendo o nível sérico superior a 6 mg/dL, em gestante com valores anteriormente normais e sem uso de diuréticos, altamente sugestiva da presença de DHEG. HEMOGRAMA COM CONTAGEM DE PLAQUETAS A plaquetopenia émais frequente em pacientes com quadro clínico mais grave de DHEG. A presença de plaquetopenia inferior a 100.000, associada à elevação de enzimas hepáticas, desidrogenase láctica (DHL) e hemólise fecham o diagnóstico da Síndrome HELLP, que possui elevada mortalidade. Vale salientar que a plaquetopenia isolada pode estar presente na gravidez normal, além de poder ser encontrada em quadros de alterações imunológicas, medicamentosas e idiopática. PESQUISA DE ESQUIZÓCITOS Em formas mais grave de DHEG pode ocorrer anemia microangiopática devido a alterações nos pequenos vasos sanguíneos, e consequentemente, reticulocitose, hemoglobinemia e hemoglobinúria. Nesses casos, além da queda do nível de hemoglobina, surgem alterações morfológicas das hemácias, chamadas de esquizócitose. BILIRRUBINAS E ENZIMAS HEPÁTICAS Devido a hemólise que pode ocorrer em na DHEG grave, pode ocorrer icterícia e/ou o aumento de bilirrubinas associada ao aumento de DHL e das enzimas hepáticas. UREIA E CREATININA Durante a gestação normal, em função do aumento do ritmo de filtração glomerular, ocorre queda dos níveis séricos de ureia e creatinina. No entanto, devido as alterações fisiopatológicas da DHEG grave, pode ocorrer diminuição da filtração glomerular, levando a elevação da ureia e creatinina. EXAMES DE IMAGEM Diante de sintomas específicos, como crises convulsivas reincidentes na eclampsia ou sinais focais, pode ser necessário a avaliação por meio de exames de imagem, como a tomografia ou ressonância nuclear magnética cerebral. Esses exames buscam descartas lesões cerebrais, como a hemorragia intracraniana, que piora o prognóstico materno. HIPERTENSÃO CRÔNICA Teremos o diagnóstico de HC quando a mulher tiver hipertensão documentada antes da gravidez ou antes de 20 semanas de gestação, não atribuível à doença trofoblástica gestacional. Além disso, esse diagnóstico também pode ser dado na presença de hipertensão diagnosticada primeiramente depois de 20 semanas de gestação e que persistente depois de 12 semanas pós-parto. Recomenda-se nas pacientes com HC, o rastreamento de lesões de órgão-alvo, logo na primeira consulta de pré-natal. Para isso, os exames a serem solicitados são: • Eletrocardiograma • Ecocardiograma • Fundoscopia • USG renal • exames laboratoriais (hemograma, função hepática, renal, bilirrubinas, proteinúria, DHL e Ácido úrico). Além disso, em próximas consultas devem ser feito a avaliação da vitalidade fetal com ultrassonografia com dopplervelocimetria de artéria umbilical, Perfil biofísico fetal e Cardiotocografia a partir da 28º semana, por duas vezes no mês e a partir da 34o semana, deverá ser realizado semanalmente. HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA COM PRÉ-ECLÂMPIA SUPERAJUNTADA Daremos esse diagnóstico na presença de uma gestante com hipertensão crônica associado ao aparecimento de proteinúria antes ausente. Esse diagnóstico também pode ser dado quando ocorre aumento súbito na proteinúria ou pressão arterial ou contagem das plaquetas < 1 00.000 nas mulheres com hipertensão e proteinúria antes de 20 semanas de gestação. HIPERTENSÃO GESTACIONAL O diagnóstico de HG é feito quando surge pela primeira vez a hipertensão durante a gravidez. Porém nesses casos, deve ter ausência de proteinúria. Além disso, o diagnóstico de certeza é dado somente após o parto, quando a pressão retorna ao normal antes de 12 semanas pós-parto. Ademais, deve ser solicitado a cada 15 dias exames laboratoriais como: • hemograma • função hepática • função renal • bilirrubinas • proteinúria • DHL • Ácido úrico A cardiotocografia deve ser feito uma vez por semana, a partir de 30 semanas e a USG com Doppler de Artéria Umbilical, a cada 15 dias, a partir de 28 semanas. PRÉ-ECLÂMPSIA O diagnóstico de pré-eclâmpsia é feito na presença de hipertensão arterial e proteinúria > 300 mg/24 h ou > 1 + em fita. Antes o edema era utilizado como critério diagnóstico para pré-eclâmpsia, entretanto, edema leve de mãos, face e membros inferiores é comum na gravidez normal, principalmente no final dela. Sendo por isso, o quadro edematoso muito subjetivo, e portanto, não serve mais para esse diagnóstico. Mas lembre-se, edema generalizado ou ganho exagerado de peso (> 1.000 g/ semana), mesmo que não faça parte dos critérios de diagnóstico, deve ser valorizado e avaliado na gestante. Além disso, assim como na hipertensão gestacional deve ser solicitado a cada 15 dias exames laboratoriais, cardiotocografia deve ser feito uma vez por semana, a partir de 30 semanas e a USG com Doppler de Artéria Umbilical, a cada 15 dias, a partir de 28 semanas. ECLÂMPSIA Faremos o diagnóstico de eclampsia na presença de uma ou mais crises convulsivas tônico-clônicas generalizadas e/ou coma, na ausência de outras causas quer expliquem o quadro em mulher com pré- eclâmpsia ou hipertensão gestacional. As crises convulsivas podem ocorrer na gestação, parto ou puerpério (48 a 72h do pós-parto). Sinais como cefaleia occipital ou frontal persistentes, visão borrada, fotofobia; dor abdominal em epigástrio ou quadrante superior direito e estado mental alterado, são considerados como de iminência de eclâmpsia. Sabemos que devido a alterações vasculares, pode ocorrer a associação de hemólise, plaquetopenia e disfunção hepática. Sendo assim, em 1982 foi instituído o acrônimo “HELLP”, caracterizando uma síndrome multissistêmica grave da DHEG. Esse acrômio, representa a presença de anemia hemolítica microangiopática, disfunção hepática e trombocitopenia (Hemolysis, Elevated Liver enzymes, Low Platelets). A Síndrome HELLP é uma complicação grave, ocorrendo em 10 - 20% das pacientes com pré-eclâmpsia/ hipertensão gestacional graves ou eclâmpsia, e entre 0,1 a 0,8% das gestações no geral. O diagnóstico se baseia em dados clínico-laboratóriais. Ocorre em cerca de 1 a cada 1.000 gestações e, em aproximadamente, 10 a 20% das pacientes com pré- eclâmpsia grave ou eclâmpsia e geralmente em brancas, multíparas e em grávidas com mais de 35 anos. Em 30% dos casos, a síndrome HELLP se expressa ou progride após o parto. A mortalidade da síndrome HELLP é muito maior do que na pré-eclâmpsia isolada, variando de 0 a 24% entre os estudos, geralmente ocorrendo por rotura hepática, falência renal, Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD), edema pulmonar, trombose de carótida e acidente vascular encefálico. A síndrome HELLP apresenta recorrência de 3 a 27%. A morte perinatal ocorre por prematuridade, crescimento intrauterino restrito ou descolamento prematuro de placenta. CLÍNICA As manifestações clínicas encontradas são inespecíficas, como náuseas, vômitos, mal-estar, perda de apetite, cefaleia ou sintomas visuais e dor abdominal. Outros sintomas incluem: • Dor no quadrante superior direito ou epigástrica (80% dos casos); • Aumento excessivo do peso e piora do edema (50 a 60%); • Hipertensão (85%); • Proteinúria (87%); • Náusea e vômito (50%); • Cefaleia (40%); • Alterações visuais (15%); e • Icterícia (5%). LABORATÓRIO Nos exames laboratoriais, encontra-se contagem de plaquetas < 100.000/mm3, alterações eritrocitárias (esquizócitos) com bilirrubina total sérica > 1,2mg% as- sociado a elevação de LDH (> 600UI) e elevação de transaminases hepáticas. O diagnóstico pode ser fornecido por um esfregaço anormal de sangue periférico, que identifica esquizócitos (ou helmet cells), equinócitos e burn cells. DIAGNÓSTICO • Esfregaço periférico com esquizócitos; • LDH > 600 U/L ou BT ≥ 1,2 mg/dl; • TGO ≥ 70 U/L; • Plaquetas < 100.000/mm3. As pacientes que não apresentem todos os critérios são diagnosticadas como portadoras de síndrome HELLP parcial. CONDUTA A conduta imediata deve ser estabilização do quadro e transferênciapara unidade de tratamento intensivo. Além disso, é indicado avaliação materno-fetal, controle hipertensivo, profilaxia para convulsões e avaliação da necessidade de parto imediato. O manejo da DHEG visa inicialmente prevenir o surgimento de formas graves da doença e tratar a elevação da pressão arterial. PREVENÇÃO Não sabemos ao certo qual o fator específico no surgimento da DHEG, por conta disso não é possível fazermos uma prevenção primária da doença. Entretanto, aconselha-se para as gestantes, a ingestão de alimentos com baixo teor de sódio. Pois sabe-se que a redução da oferta de sal, leva a queda nos níveis sé- ricos de sódio, com diminuição da reatividade vascular e queda da pressão arterial. Vale lembrar, que alimentos industrializados como conservas, embutidos e temperos prontos, possuem grande quantidade de sódio em sua composição. Ademais, deve-se orientar quanto ao abandono do tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas, além de repouso físico em decúbito lateral esquerdo e pelo menos 8 horas de sono à noite. Além disso, ara gestantes de alto risco de desenvolver pré-eclâmpsia, é recomendado o uso de antiplaquetários e cálcio (Quadro 3). Geralmente essa prescrição é feita com ácido acetilsalicílico (AAS), 100 mg/dia, com tomada noturna. O início do uso deve ocorrer a partir de 12 semanas de gestação, com suspensão após 36 semanas. Em relação ao carbonato de cálcio, recomenda-se o uso de 1,5 a 2 g/ dia, também a partir de 12 semanas, para pacientes com baixa ingesta de cálcio. Antigas literaturas também recomendavam a ingesta de vitaminas C e E, porém, novos estudos não têm demonstrado benefícios entre os estudos. Por isso, não é recomendada. TERAPIA ANTI-HIPERTENSIVA Diante de pacientes gestantes que apresentam aumento nos níveis tencionais, seja ela classificada como hipertensa crônica, gestacional ou pré-eclâmpsia, deve ser feito o uso de anti-hipertensivo para o controle da pressão arterial. O fármaco deve ser introduzir caso PAS maior ou igual 150 ou PAD maior ou igual 100mg, em duas medidas ou quando não há melhora dos níveis tensionais à mudança de hábitos de vida / ocupacional. A droga mais utilizada é a metildopa na dose de 500 mg a 2g/ dia. Outros fármacos também podem ser utilizados, como o pindolol e nifedipina. Mas vale lembrar que inibidores da enzima de conversão da angiotensina e antagonistas da angiotensina II devem ser substituídos devido a seus efeitos danosos ao feto. Objetiva-se que as hipertensas sem lesão de órgão-alvo a pressão arterial diastólica não deve ser mantida abaixo de 80 mmHg. Já naquelas com lesão de órgão- alvo secundária à hipertensão crônica a terapia anti- hipertensiva tem como meta níveis tensionais inferiores a 140 x 90 mmHg. TERAPIA NA CRISE HIPERTENSIVA AGUDA Pacientes com DHEG pode apresentar aumento dos níveis tensionais com PAS maior ou igual 160 mmHg ou PAD maior ou igual a 110mmHg, classificando-a nesse momento como crise hipertensiva aguda. Diante de situações como essa, devido ao grande risco de desenvolvimento de complicações, a gestante deve ser internada, posicionada em decúbito lateral esquerdo, com a administração de terapia anti- hipertensiva. A droga de escolha para esses casos é a Nifedipina VO, 10mg, sendo que pode ser repetida 10 mg a casa 30 min, caso seja necessário. Diante da não resposta, pode ser administrado hidralazina 5 ml intravenoso. Outras drogas como hidralazina e verapamil também podem ser usadas inicialmente. Outros cuidados necessários são a verificação da pressão arterial materna a cada 5 min por 20 min após a medicação e realização da avaliação fetal com cardiotocografia. TERAPIA NA ECLÂMPIA Diante do diagnóstico de Eclâmpsia, devemos internar imediatamente a gestante para vigilância materno- fetal, terapia convulsiva e prevenção de novas crises. Esse quadro é uma emergência obstétrica e por isso, necessita de atendimento especializado imediato. O tratamento visa a manutenção da função cardiorrespiratória e da oxigenação materna, controle da pressão arterial e correção da hipoxemia e da acidose materna. Inicialmente, o mais importante é proteger a via aérea e oxigenação da paciente, podendo ser usada a cânula de Guedel e oxigenoterapia, ademais podemos colocar a gestante em decúbito lateral esquerdo. Vale lembrar que devemos ter cuidado com a broncoaspiração e quedas durante o quadro convulsivo. Outro ponto essencial é a monitorização materna e fetal, acesso venoso seguro, magnesioterapia imediata para prevenção de novas crises e sondagem vesical de demora para monitorização de possíveis efeitos colaterais da infusão de magnésio. A princípio, o uso de benzodiazepínicos é contraindicado, visto que as convulsões são autolimita- das e essa medicação favorece a depressão respiratória e neurológica da gestante. Diante de níveis tensionais elevados (PAS maior ou igual 160 mmHg ou PAD maior ou igual a 110mmHg), também deve-se fazer a terapia anti-hipertensiva. Além disso, dentro do planejamento terapêutico, deve- se solicitar exames complementares para avaliação dos sistemas que podem ser acometidos por essa patologia, incluindo gasometria arterial, exame de fundo de olho, eletrocardiograma e tomografia computadorizada de crânio (se houver persistência do quadro convulsivo). PROFILAXIA NA PE GRAVE E ECLÂMPSIA Na presença de eclâmpsia ou pré-eclâmpsia grave deve ser feito a profilaxia para ocorrência de convulsões com a magnesioterapia. Existem vários esquemas para administração do magnésio que se dividem em dose de ataque e dose de manutenção. Independente de qual esquema será utilizado, deve-se monitorar a paciente em uso de magnésio devido ao risco de intoxicação. Para isso, é recomendado a verificação frequente dos dados vitais, reflexo tendinoso profundo e da diurese. Além disso, deve-se solicitar exames de laboratório de controle a cada 12 horas. ESQUEMA DE ZUSPAN Administrar em bomba de infusão: ESQUEMA DE ATAQUE: 04 g de MgSO4, IV, em 20 minutos. Se recorrer convulsões, realizar mais 2g IV. ESQUEMA DE MANUTENÇÃO: 1-2 g/h de MgSO4 por 24 h, manter por 24 horas após o parto ou após a última convulsão. ESQUEMA DE SIBAI Administrar em bomba de infusão: ESQUEMA DE ATAQUE: 06 g de MgSO4, IV, em 20 minutos. ESQUEMA DE MANUTENÇÃO: 2-3 g/h de MgSO4, por 24 h, manter por 24 horas após o parto ou após a última convulsão. ESQUEMA DE PRITCHARD Casos especiais: ESQUEMA DE ATAQUE: 04 g de MgSO4, IV, em 20 minutos + 10g IM (5g em cada nádega). ESQUEMA DE MANUTENÇÃO: 5g de MgSO4 IM (alternar nádegas para injeção) a cada 4 horas. Os sinais mais frequentes de intoxicação por magnésio por ordem de aparecimento são: diminuição de reflexos mais profundos, abolição de reflexo, depressão respiratória, parada respiratória e parada cardíaca. Nesses casos, deve-se realizar a administração de10ml de Gluconato de Ca a 10%, IV, lentamente em 2 minutos. INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO Devemos ter em mente que o parto é o tratamento definitivo para pré-eclâmpsia e hipertensão gestacional. Para partos com idade gestacional inferior a 34 semanas deve ser feito o uso de corticoide para ajudar na maturação pulmonar do feto. O crescimento intrauterino restrito é o termo utilizado para descrever um feto que não atingiu seu potencial de crescimento, sendo que esse “impedimento” pode ocorrer por diversos fatores de origem fetal, placentária e/ou materna. A definição mais aceita para um crescimento intrauterino restrito é a ocorrência de peso fetal abaixo do percentil 10 para a idade gestacional, que pode ser evidenciado a partir da ultrassonografia obstétrica na 2ª metade da gravidez, mas só é confirmada após o nascimento, onde o recém-nascido que possui peso inferior ao percentil 10 para a idadeé classificado como pequeno para idade gestacional (PIG), sendo que quando a termo, pode ser definido como um recém- nascido a termo com menos de 2,5kgs ao nível do mar. EPIDEMIOLOGIA O crescimento intrauterino restrito é uma anormalidade fetal comum, ocorrendo em 5 a 10% das gestações. Nos países em desenvolvimento essa taxa tende a ser maior devido a características culturais e socioeconômicas. CRESCIMENTO FETAL NORMAL O crescimento fetal é dividido em três fases simples: FASE DE HIPERPLASIA Ocorre nas primeiras 16 semanas, sendo caracterizada pela multiplicação celular rápido, onde o concepto ganha até 5g/dia. FASE DE HIPERPLASIA E HIPERTROFIA Período entre a 16a e a 32a semana de gestação, onde ocorre um aumento do número de células junto de um aumento do tamanho celular, onde o concepto ganha entre 1 5 a 20g por dia. FASE DE HIPERTROFIA Ocorre a partir da 32a semana até o nascimento, onde ocorre hipertrofia celular, sendo nessa fase a ocorrência do acúmulo de gordura e glicogênio, onde o concepto ganha de 30 a 35g por dia. Esse desenvolvimento normal é determinado pela nutrição materna com substratos transferidos da placenta para o feto associado a fatores de crescimento hormonais que implicam no crescimento fetal, como por exemplo a insulina ou a leptina (hormônio derivado do tecido adiposo) PESO NORMAL AO NASCER: Em geral, a média de peso de fetos a termo é de 3,4 kg, porém isso pode variar conforme o local e a altitude em que a mãe se encontra durante o parto, de forma que em altitudes elevadas, é comum à média de peso ser de 2,9 kg. Obs: O peso ao nascer não define a taxa de crescimento fetal, já que o concepto pode simplesmente ser biologicamente pequeno, tendo um peso menor sem qualquer interferência patológica. CRESCIMENTO FETAL RESTRITO Recém-nascidos com menos de 2,5 kg ao nascer se dividem em duas populações distintas: PRIMEIRO GRUPO Baixo peso ao nascer se relaciona ao tempo de vida intrauterina, sendo representado por recém-nascidos pré-termo com peso menor que 2,5 kgs em função de t erem nascido antes do tempo SEGUNDO GRUPO É representado pelos recém-nascidos com menos de 2,5 kg devido à baixa qualidade da vida uterina, por conta de processos patológicos chamados de restrição de crescimento fetal. O crescimento e o controle do desenvolvimento fetal dependem de diversos fatores (genéticos, endócrinos, imunológicos, nutricionais e vasculares), sendo que qualquer distúrbio em um desses fatores pode ocasionar um atraso no crescimento em geral. COMPLICAÇÕES MORBIDADE E MORTALIDADE PERINATAIS A morbidade perinatal é cerca de cinco vezes maior no CIUR quando comparado ao desenvolvimento normal. Isso ocorre por conta da maior frequência de: • Hipóxia; • Aspiração de Mecônio; • Insuficiência Respiratória, ocasionada pela hiperviscosidade sanguínea e pelo atraso no desenvolvimento pulmonar (surfactante); • Hipoglicemia, se relaciona a redução de estoques de glicogênio hepático e miocárdico; • Hipocalcemia, ocorre por conta da prematuridade e pelo atraso na introdução de leite ao RN; • Policitemia, consequência da elevação da eritropoietina fetal, decorrente da hipóxia crônica intrauterina; • Hipotermia, ocorre pela perda excessiva de calor por conta da escassez de tecido subcutâneo adiposo; • Hemorragia pulmonar; • Prejuízo no Desenvolvimento Neuropsicomotor, consequência da hipóxia e desnutrição celular antes de 34 semanas. Já a mortalidade, gira em torno de oito vezes mais, sendo o óbito fetal súbito diretamente relacionado ao grau de restrição. CONSEQUENCIAS A LONGO PRAZO A maioria dos RN com CIUR a termo recuperam suas medidas de estatura e peso já na primeira infância. Porém em alguns casos, quando não ocorre essa recuperação até os 2 anos, o que pode implicar com uma pequena estatura durante a idade adulta. Além disso, há também uma maior prevalência de doenças crônicas em RN com CIUR, que se acredita ocorrer por conta da deficiência de nutrientes durante a vida fetal, que reduz de maneira irreversível o número de células em alguns órgãos, de forma que ocasiona uma mudança na distribuição de diferentes tipos de células, no feedback hormonal e na atividade metabólica, gerando as doenças crônicas. CLASSIFICAÇÃO CRESCIMENTO RESTRITO SIMÉTRICO Também chamado de tipo I, proporcional ou hipoplásico. Corresponde a cerca de 20 a 30% dos casos, sendo caracterizado por um padrão de crescimento menor em todos os órgãos fetais, mantendo uma proporção de crescimento simétrico. Acredita-se que esse crescimento simétrico ocorra por conta de processos patológicos que se manifestam precocemente na gestação, como infecções, alterações genéticas, drogas ou radiação ionizantes. O prognóstico geralmente é ruim, já que muitas vezes é um quadro associado a malformações fetais. CRESCIMENTO RESTRITO ASSIMÉTRICO Também chamado de tipo II ou desproporcional. Corresponde aos 70-80% dos casos restantes, sendo caracterizado por uma diminuição relativamente maior no tamanho abdominal do que no perímetro cefálico. Acredita-se que ocorre por conta da capacidade do feto de se adaptar a um ambiente patológico no final da gestação, redistribuindo o fluxo sanguíneo para órgãos vitais, como cérebro, coração e placenta, às custas de órgãos não vitais, como vísceras abdominais, pulmões, pele e rins, de forma que esses tenham um menor desenvolvimento. CRESCIMENTO RESTRITO INTERMEDIÁRIO Também chamado de tipo III ou misto. É a consequência de um processo de agressão tanto na fase de hiperplasia quanto na de hipertrofia, geralmente no 2o trimestre da gestação. Acredita-se que ocorra por conta da desnutrição materna e do consumo de determinados fármacos e drogas, como álcool e fumo. FISIOPATOLOGIA O crescimento intrauterino restrito não é uma doença específica e sim uma manifestação de muitos distúrbios fetais e maternos, sendo assim há uma série de fatores associados à doença, sendo dividido em: FATORES FETAIS O potencial de crescimento nesses casos pode ser inibido, alterando ou desviando devido a um conjunto de fatores que atuam sobre o metabolismo fetal, causando uma diminuição de peso e de número celular, ocorrendo geralmente por: ALTERAÇÕES GENÉTICAS: Pode ocorrer pela ação de um único gene de longo efeito (fenilcetonúria por exemplo) ou pela ação de vários genes, definido como multigenético. ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS: Atuam sobre o peso do feto mediante a alterações na duração de algumas fases específicas do ciclo celular. Sendo que os distúrbios cromossômicos são responsáveis por aproximadamente 20% dos fetos com CIUR. Fetos com trissomia do 13, 18 e 21 têm alterações estruturais com crescimento abaixo do esperado. INFECÇÕES FETAIS: Em doenças virais, onde o vírus chega a placenta na fase de viremia, ocasionando uma lesão do endotélio vascular que permite a viremia fetal, é comum a ocorrência da inibição direta da multiplicação celular, ocasionada pelo vírus. Doenças infecciosas são responsáveis por 5-10% dos casos de CIUR, sendo geralmente associado ao citomegalovírus, HIV, rubéola, toxoplasmose aguda e malária. GESTAÇÃO MÚLTIPLA: É comumente associada ao nascimento pré-termo e CIUR. Cerca de 15 a 30% das gestações gemelares cursam com CIUR, que fica evidente após 32 semanas de gestação. FATORES PLACENTÁRIOS O potencial de crescimento nesses casos é inibido por conta de uma placenta deficitária, ocorrendo geralmente por: INSUFICIÊNCIA VASCULAR UTEROPLACENTÁRIA: É caracterizado pela redução do fluxo sanguíneo por conta da diminuição da pressão de perfusão e pelo aumento da resistência vascular placentária, que ocasiona um menor aporte de nutrientes ao feto (pré- eclâmpsia), ocasionando o CIUR. É a causa mais comum em fetos com CIUR não anômalos. ALTERAÇÕESPLACENTÁRIAS: A placenta dos fetos com CIUR frequentemente possui um tamanho diminuído, o que ocasiona uma função anormal, em decorrência da implantação deficiente. Porém outras alterações placentárias e do cordão umbilical, como a placenta circunvalada, os corioangiomas, a inserção velamentosa de cordão e a artéria umbilical única, também costumam ser relacionadas ao CIUR. FATORES MATERNOS Ocorre quando as alterações maternas têm influência direta sobre a nutrição do feto, ocorrendo por: SÍNDROMES HIPERTENSIVAS (HAS OU DHEG): Estão presentes em 30 a 40% dos casos de CIUR, sendo relacionadas ao comprometimento vascular placentário, com consequente queda do fluxo uteroplacentário que diminui o aporte nutricional. CARDIOPATIAS: A presença de cardiopatia materna predispõe o CIUR, sendo explicado pela presença de um baixo débito cardíaco fixo que ocasiona a diminuição da oxigenação materno-fetal. ANEMIAS: Todos os tipos de anemia materna podem comprometer o crescimento fetal por conta da diminuição da oxigenação fetal. TROMBOFILIAS: Estão associadas à predisposição para tromboses e para várias complicações fetais e neonatais, entre elas o CIUR. DESNUTRIÇÃO MATERNA: A desnutrição grave, quando presente no primeiro e segundo trimestre, acomete a fase de hiperplasia celular, resultando em lesão irreversível, especialmente na parte neurológica. Já quando presente no terceiro trimestre, em que ocorre o crescimento celular, a desnutrição compromete sobretudo o peso fetal. USO DE DROGAS: O tabagismo é uma das maiores causas de CIUR e uma das mais preveníveis. Isso ocorre devido à exposição ao monóxido de carbono que diminui a capacidade da Hb fetal de carrear oxigênio, além do efeito da nicotina de liberar catecolaminas que reduzem a perfusão placentária. Cocaína, heroína, álcool, anticonvulsivantes, varfarina, agentes antineoplásicos e antagonistas do ácido fólico também contribuem para a incidência de CIUR. Obs: O consumo exagerado de cafeína durante a gestação pode ter relação com o CIUR. DIAGNÓSTICO E RASTRIO O estabelecimento precoce da idade gestacional, atenção ao ganho de peso materno e medições de crescimento de fundo uterino ao longo da gravidez ajudam a identificar muitos possíveis casos de CIUR, entretanto a confirmação do diagnóstico só se dá após o nascimento. Mesmo assim, é importante identificar os fatores de risco com uma anamnese detalhada, buscando dados da história obstétrica prévia, além de doenças associadas (autoimune, HAS, diabetes), hábitos tóxicos (tabagismo e uso de drogas) e história nutricional. Em casos de suspeita de CIUR, deve ser realizada uma mensuração ultrassonográfica, para que seja possível avaliar a estimativa de peso fetal, além de diversas medidas biométricas fetais, como medida da cabeça, abdome e fêmur. Obs: A suspeita de CIUR inicia-se quando ocorre uma discrepância entre o tamanho uterino e a idade gestacional. MANEJO DO CIUR Quando o USG sugere um crescimento intrauterino restrito, é necessário a realização de um pré-natal diferenciado, buscando determinar a causa e a gravidade do crescimento indevido, buscando uma melhoria do quadro, uma vez que não há tratamento específico, mas que há a possibilidade de realizar medidas que trazem benefícios ao feto. MANEJO ANTEPARTO É realizado um controle da evolução materna durante o pré-natal, sendo feito avaliação de USG do crescimento fetal, junto da monitorização do bem-estar fetal através de um estudo doppler. A gestante deve ser manejada em um atendimento hospitalar, devido a chance de complicações perinatais. Uso de AAS para evitar trombos nas artérias espiraladas TENTATIVAS DE AUMENTO DE CRESCIMENTO FETAL: É realizado um controle dos fatores de risco, em especial ao tabagismo quando presente (fumante passiva ou ativa). Além de realização de uma dieta adequada com 2.100 a 2.300 calorias por dia, sendo que no último trimestre deve-se adicionar mais 300 calorias por dia. AVALIAÇÃO DA SAÚDE FETAL: Além do doppler, pode ser realizado também uma monitorização cardíaca anteparto e perfil biofísico fetal. Perfil biofísico fetal envolve a cardiotocografia basal, movimentos respiratórios fetais, movimentos fetais, tônus fetal e volume de líquido amniótico. Ao integrar os testes de avaliação fetal + estudo doppler + Parâmetros biofísicos fetais pode-se permitir que a gestação prossiga, minimizando o impacto da prematuridade e protegendo contra danos fetais irreversíveis. MANEJO DE FETOS PRÓXIMO DO TERMO (> 34 semanas) QUE APRESENTAM CIUR: Interrupção da gestação é a melhor conduta já que estão próximos do nascimento. Mas só deve ser realizado o parto se houver evidência desfavorável da gestação, como HAS materna, oligoidrâmnio, falha no crescimento fetal e doppler da artéria umbilical que revela ausência de fluxo diastólico ou fluxo reverso. MANEJO DE FETOS DISTANTES DO TERMO (< 34 semanas) QUE APRESENTAM CIUR: Acredita-se que a maturidade pulmonar fetal esteja acelerada na CIUR, porém os fetos com menos de 34 semanas devem receber uso de corticoides para prevenção da síndrome da angústia respiratória e prevenção de hemorragias cerebrais. Mudanças na circulação venosa fetal detectadas pelo doppler são indicativos de grave comprometimento fetal e interrupção imediata da gestação. MANEJO INTRAPARTO O CIUR geralmente é secundário a uma insuficiência placentária, sendo assim há um agravamento do parto na maioria das vezes. Portanto, durante o trabalho de parto, essas gestações devem ser monitorizadas por cardiotocografia para detectar sinais de sofrimento fetal. A via de parto é decidida conforme a etiologia do CIUR, grau de comprometimento fetal, evidência de acidemia, idade gestacional e quantidade de líquido amniótico. PROGNÓSTICO O CIUR aumenta o risco de mortalidade perinatal, sendo responsável por aproximadamente 26% dos casos de natimortos. Quando presente, ocorre um aumento de 7 vezes o risco de mortalidade, sendo que esse risco se torna ainda maior quanto mais prematuro é o recém- nascido.
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