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INTRODUÇÃO Após a propositura da ação, o réu é citado para vir responder ao pedido de tutela jurisdicional pelo autor. Não implica dizer que o demandado ou o réu tenha o dever ou a obrigação de responder, contudo, para ele haverá apenas o ônus de defesa, pois não o fazendo, sofrerá as consequências da revelia. De forma objetiva, a resposta para o réu é uma faculdade processual, da qual pode livremente dispor. Ocorre, inclusive, a possibilidade de expressão de adesão do réu ao pedido do autor e, neste caso, a lide se compõe pelas próprias partes (art. 269, II, CPC), ocorrendo o reconhecimento jurídico ao pedido do autor, por parte do demandado. No entanto, se a lide versar sobre direito indisponível, o demandado não terá a possibilidade de renunciar a defesa, por meio de inércia ou revelia. 1. REQUISITOS DA CONTESTAÇÃO Os requisitos da contestação são muito semelhantes aos da petição inicial: nome e prenome das partes (qualificação não é necessária, se corretamente já feita na inicial), endereçamento ao juízo da causa, documentos indispensáveis, requerimento de provas, dedução dos fatos e fundamentos jurídicos da defesa. Além disso, ela deve vir em forma escrita, excepcionada a hipóteses de contestação nos Juizados Especiais Cíveis, que admite a forma oral. Mormente, diz-se que a contestação está para o réu como a petição inicial está para o autor. Nesse sentido, trata-se do instrumento da exceção exercida (exercício do direito de defesa), tal como a petição inicial é o instrumento da demanda (ação exercida). Cabe ressaltar que, no procedimento comum, a contestação é escrita e deve ser assinada por quem tenha capacidade postulatória. Prazo De acordo com o artigo 335, caput, do Código de Processo Civil, o prazo para a apresentação da contestação é de quinze dias. Sendo o réu o Ministério Público (art. 180, CPC), ente público (art. 183, CPC), réu representado judicialmente por defensor público (art. 186, CPC) ou litisconsorte com advogado diferente do outro litisconsorte (art. 229, CPC), o prazo é o dobro. Nesse viés, o termo inicial do prazo é a data: A) Da audiência de conciliação ou mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou, comparecendo, não houver autocomposição (art. 335, I, CPC); B) Do protocolo do pedido de cancelamento da audiência de conciliação ou de mediação apresentado pelo réu, quando ocorrer a hipótese do art. 334, § 4°, inciso I (art. 335, II, CPC); C) Prevista no art. 231 do CPC, de acordo com o modo como foi feita a citação, nos demais casos – quando, por exemplo, a audiência preliminar de conciliação ou mediação nem for marcada (art. 335, III, CPC). Caso haja litisconsórcio passivo e um deles manifestar desinteresse na realização da audiência preliminar (art. 334, § 6°, CPC), o termo inicial será, para cada um dos réus, a data de apresentação de seu respectivo pedido de cancelamento da audiência (art. 335, § 1°, CPC). Nesse contexto, se a audiência preliminar não for designada e o autor desistir do processo em relação a um dos réus não citados, o prazo para contestação correrá da data de intimação da decisão que homologar a desistência (art. 335, § 2°, CPC). Regra da eventualidade ou da concentração da defesa Essa regra, na contestação, significa que cabe ao réu formular toda sua defesa na contestação (art. 336, CPC). Isto é, toda defesa deve ser formulada de uma só vez como uma medida de previsão ad eventum, sob pena de preclusão. Nesse sentido, do mesmo modo que o autor pode cumular pedidos, própria ou impropriamente, pode o réu cumular defesas, própria ou impropriamente. Assim, haverá cumulação própria de defesas quando o réu apresentar defesa contra vários pedidos, que também foram apresentados em cumulação própria, e haverá cumulação eventual de defesas quando o réu alega uma defesa para hipótese de a outra, que foi formulada anteriormente, não ser acolhida. Inexistência ou nulidade de citação Se trata de defesa dilatória, visto que o máximo que o réu poderá conseguir com o acolhimento da sua alegação é a renovação do prazo para apresentação da sua resposta. Nesse sentido, o inciso I do § 2° do art. 239 do Código Processual Civil determina que, sendo rejeitada a alegação de nulidade de citação, o réu será considerado revel, no processo de conhecimento. Nesse diapasão, vale ressaltar que essa regra se aplica somente ao caso em que o réu, após o prazo de resposta, pede a nulidade da citação e a devolução desse mesmo prazo. Contudo, se a alegação for produzida no bojo da contestação e apresentada tempestivamente, a sua rejeição não implica revelia, visto que o réu terá apresentado a defesa. Em sendo acolhida a alegação feita na contestação o réu tem novo prazo para apresentar resposta. Incompetência do juízo. Direito de o réu alegar incompetência no foro do seu domicílio A incompetência, seja absoluta ou relativa, será alegada na contestação. Como o réu pode oferecer a contestação no foro de seu domicílio, onde não está tramitando o processo, caso alegue incompetência, é necessário cancelar a audiência preliminar, que está marcada para ocorrer no foro onde o processo está tramitando. Tal contestação é, portanto, apta a adiar a audiência preliminar, pois é possível que o réu tenha interesse na autocomposição, mas apenas não aceita que a audiência preliminar seja realizada no foro que ele, réu, alega ser incompetente para tal. Incorreção do valor da causa Na contestação o réu também pode apresentar a sua impugnação ao valor da causa, atribuído pelo autor. Ela pode basear-se em dois fundamentos: a) o autor atribui à causa valor em desconformidade com o art. 292 do CPC; b) nas hipóteses não reguladas pelo art. 292, cabe ao autor atribuir o valor estimado à causa. Cabe sinalizar que, a não impugnação pelo réu, neste momento, gera preclusão (art. 293, CPC). A decisão do juiz sobre essa alegação é impugnável apenas por ocasião da apelação ou das contrarrazões (art. 1.009, § 1°, CPC). Inépcia da petição inicial A inépcia se relaciona ao pedido ou à causa de pedir, nessa ocasião, o silêncio do réu na defesa, pode dar a entender de que ele conseguiu defender-se do que foi pedido e, desse modo, não seria mais caso de rejeitar a petição inicial por tal defeito. Diante disso, a obscuridade do pedido ou da causa de pedir não inviabiliza a prestação jurisdicional, principalmente se da contestação for possível interpretar o que foi pedido. Alegação de convenção de arbitragem Primeiramente, na contestação, cabe ao réu o ônus de alegar a existência de convenção de arbitragem (art. 337, X, CPC). Dito isso, a existência de convenção de arbitragem é fato jurídico que o órgão jurisdicional não pode conhecer de ofício (art. 337, § 5°, CPC). Além disso, caso haja a ausência de alegação de convenção de arbitragem por parte do réu, na contestação, será considerada como aceitação da jurisdição estatal e consequente renúncia ao juízo arbitral (omissão negocial do réu). Pode, ainda, ocorrer de a convenção de arbitragem já estar presentes nos autos do processo, juntada pelo autor no conjunto de documentos indispensáveis à propositura da ação, cabendo apenas ao réu apontar a existência do documento. Nesse ínterim, antes de examinar a alegação de convenção de arbitragem, o órgão julgador deve examinar a própria competência para fazer isso. Nisso, o art. 8°, parágrafo único, da lei n° 9.307/1996 (Lei de Arbitragem), estabelece que “caberá ao árbitro decidir de ofício, ou por provocação das partes, as questões acerca da existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem e do contrato que contenha a cláusula compromissória”. Ademais, o art. 485, VII, evidencia que o juiz estatal extinguirá o processo quando o juízo arbitral reconhecer a sua competência. Ou seja, tal regra estabelece que existeuma prioridade: na pendência de um processo arbitral, quem primeiro deve analisar questões relativas à competência ou à existência, validade e eficácia da convenção de arbitragem é o próprio árbitro ou tribunal arbitral. Destaca-se que, o art. 20, § 2° da mesma lei, propõe a possibilidade de análise posterior pelo Poder Judiciário. A decisão que rejeita a alegação de convenção de arbitragem é impugnável por agravo de instrumento (art. 1.014, III, CPC). Note, porém, que a decisão que acolher a alegação de convenção de arbitragem é sentença (art. 203, § 1°, CPC) e, portanto, apelável. Ausência de legitimidade ou de interesse processual. O direito de substituição do réu e o dever de o réu indicar o legitimado passivo. Novas hipóteses de intervenção de terceiro. O inciso XII do art. 337 do CPC permite que o réu alegue ilegitimidade ou falta de interesse processual. Contudo, existem duas regras especiais sobre a alegação de ilegitimidade passiva. Mormente, a alegação de ilegitimidade passiva, formulada pelo réu em sua defesa, dá ao autor o direito de, no prazo de quinze dias, pedir a alteração da petição inicial para a substituição do réu (art. 338, caput, CPC). Se a substituição for realizada, o autor reembolsará as despesas e pagará honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre 3% e 5% do valor da causa. Porém, há situações, porém, em que o réu que alegar a sua ilegitimidade tem o dever de indicar o legitimado passivo. Esses são os casos em que, pelas circunstâncias do caso, o réu tem o conhecimento de quem seja o legitimado passivo (art. 339, caput, CPC). Caso o réu não cumprir esse dever, arcará com as despesas processuais e indenizará o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação. Aceita a indicação pelo autor, este, no prazo de quinze dias, procederá à alteração da petição inicial para a substituição réu. O autor pode, ainda, dentro do prazo de quinze dias, alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu: em vez de pedir a substituição do réu, o autor pode pedir a ampliação do polo passivo da demanda. O autor tem o direito de optar por substituir o réu ou ampliar o polo passivo, não havendo a necessidade de consentimento do réu originário. Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar O inciso XII do art. 337 autoriza que o réu alegue, na contestação, a falta de caução ou de outra prestação que a lei exigir como preliminar. Indevida concessão do benefício da gratuidade concedida ao autor O requerimento de revogação da justiça gratuita concedida ao autor tem de ser apresentado pelo réu na própria contestação (art. 337, inciso XIII). Caso a gratuidade da justiça seja concedida após a petição inicial, o pedido de revogação será formulado por petição simples, no prazo de quinze dias (art. 100, caput, CPC). Da indecisão que acolhe esse pedido de revogação da justiça gratuita, cabe agravo de instrumento (art. 101 e art. 1.015, V, CPC). Defesas que têm de ser alegadas fora da contestação e que podem ser alegadas depois da contestação Há, contudo, defesas que a própria lei impõe que sejam alegadas em peça distinta da contestação: arguição de impedimento ou suspeição do juiz, membro do Ministério Público ou auxiliar da justiça. Há também, defesas que podem ser alegadas após a apresentação da contestação (art. 342 do CPC): que se refiram a direito ou a fato superveniente, que se tratem a objeções ou matérias que, por força de lei, podem ser deduzidas a qualquer tempo. Pedido do réu O réu também pode demandar, embora com pedidos bastante peculiares. Pode pedir o réu, em sua peça de defesa: a) a extinção do processo sem exame do mérito; b) a remessa dos autos ao juízo competente ou ao juízo prevento; c) a devolução do prazo de defesa; d) a improcedência do pedido do autor; e) a condenação do autor às verbas da sucumbência; f) condenação do autor por litigância de má-fé; g) a sua pretensão dúplice nos casos de ação de dúplice. Também há pedido quando o réu exerce um contra-direito. Aditamento e indeferimento da contestação A contestação pode ser indeferida se for intempestiva ou se não ficar comprovada a regularidade de representação processual da sua parte. Se o réu se apresenta sem advogado, não deve o juiz indeferir a contestação, deve nomear um advogado dativo, que pode ser um defensor público, para ratificar a peça de defesa. Dado o exposto, o aditamento da contestação somente é possível nas hipóteses que excepcionam a regra da eventualidade que preside o oferecimento da resposta do réu e que já foi examinada. Ou seja, pode-se aditar a contestação para acrescentar as defesas que podem ser alegadas após o prazo de resposta do réu e que estão previstas no art. 342, CPC. 2. QUESTÕES BÁSICAS SOBRE RECONVENÇÃO Em primeiro lugar, a reconvenção é demanda do réu contra o autor no mesmo processo em que está sendo demandado. É tipo um contra-ataque que enseja o processamento simultâneo da ação principal e da ação reconvencional, a fim de que o juiz resolva as duas lides na mesma sentença. Ela pode ser de qualquer natureza: declaratória, condenatória ou constitutiva. Isto é, trata-se de um incidente processual que amplia o objeto litigioso do processo. Não se trata de processo incidente, pois a reconvenção é demanda nova em processo já existente. Assim sendo, a decisão do magistrado que indefere a petição inicial da reconvenção não extingue o processo, pois é decisão interlocutória e, portanto, agravável. A intimação para a resposta (contestação) à reconvenção pode ser feita na pessoa do próprio advogado do autor, que recebe da lei esse poder, e o prazo é de quinze dias (art. 343, § 1°, CPC). A resposta à reconvenção é ampla, podendo inclusive, denunciar a lide ou proceder ao chamamento do processo. Cabe ressaltar que, a reconvenção e ação principal hão de ser julgadas na mesma sentença, embora sejam autônomas. Contra decisão que indeferir liminarmente a petição inicial da reconvenção ou julgá-la liminarmente improcedente, cabe agravo de instrumento (art. 354, parágrafo único, e art. 1.015, II, CPC). Requisitos Além dos pressupostos processuais exigidos em todas as demandas (requisitos da petição inicial), deve o reconvinte obedecer aos seguintes requisitos: A) Haja uma causa pendente A reconvenção pressupõe a existência de uma causa já pendente, visto que não é possível reconvenção autônoma. B) A observância do prazo de resposta A reconvenção deve ser apresentada no mesmo prazo da contestação e na mesma peça em que ela é apresentada, sob pena de preclusão consumativa. Além disso, os prazos especiais de defesa se estendem à reconvenção. Ademais, a reconvenção e contestação são apresentadas em única peça processual (art. 343, caput, CPC). Mas o réu pode reconvir independentemente de contestar, se esta for a sua vontade (art. 343, § 6°, CPC). C) Competência O juízo da causa principal também deve ser competente para julgar a reconvenção. Ou seja, somente é possível ao réu reconvir se o juízo da causa principal, que tem competência funcional para julgar a reconvenção, tiver competência em razão da matéria e da pessoa para julgar a causa. Além disso, se o juízo não tiver competência para a reconvenção, indeferirá a sua petição inicial, não admitindo o seu processamento. D) Compatibilidade entre os procedimentos O procedimento para a demanda reconvencional tem de ser compatível com o procedimento da causa principal, tendo em vista que ambas serão processadas conjuntamente. Nesse caso, aplica-se, por analogia, a regra do inciso III do § 1° do art. 327, do CPC, que impõe a compatibilidade de procedimento como requisito para a cumulação de pedidos. Já no procedimento, vale a regra de que, se tratando de procedimento especial que se converteem ordinário após o prazo de defesa, cabe reconvenção. E) Conexão A reconvenção deve ser demanda conexa à ação principal ou a algum dos fundamentos da defesa (art. 343, caput). A conexão aqui exigida não é a mesma conexão fato gerador de modificação de competência. Nessa ocasião, trata-se de vínculo mais singelo, sendo necessário apenas ter certa afinidade de questões. F) Interesse processual Quando o efeito prático almejado pela reconvenção puder se alcançado com a simples contestação, como nos casos das ações dúplices, não se admite a reconvenção por falta de interesse processual. Contudo, isso não quer dizer que em ações dúplices e em procedimentos que admitam pedido contraposto não seja possível a reconvenção. Um exemplo disso são as ações meramente declaratórias. Nessa vertente, o Supremo Tribunal Federal editou o enunciado n° 258 da súmula da sua jurisprudência, em que admite a reconvenção em ação declaratória. G) Cabimento A reconvenção é cabível no procedimento comum. Mas há procedimentos em que se veda expressamente a reconvenção, como é o caso do procedimento dos Juizados Especiais Cíveis (art. 31 da lei n° 9.099/1995); H) Despesas processuais Duas observações são importantes aqui: a) caberá à lei estadual definir se há ou não pagamento de custas processuais em razão da reconvenção. No caso da Justiça Federal, a reconvenção não se sujeita ao pagamento de custas (lei n° 9.289/1996); b) dispensa-se a caução às custas, na reconvenção (art. 83, § 1°, III, CPC); I) Reconvenção e substituição processual Caso o réu queira reconvir em face do substituto processual, deverá fundar o seu pedido em pretensão que tenha em face do substituído, desde que para tal pretensão o substituto tenha legitimação extraordinária passiva (art. 343, § 5°, CPC). Sendo o réu o substituto processual, apenas poderá reconvir se a sua legitimação extraordinária o habilite à postulação. 3. EFEITOS DA AUSÊNCIA DE CONTESTAÇÃO DO RÉU Em primeiro lugar, a revelia é definida como um ato-fato processual, que consiste na não apresentação tempestiva da contestação (art. 344, CPC). Ou seja, há revelia quando o réu, citado, não comparece em juízo, apresentando a sua resposta, ou, comparecendo ao processo, também não apresenta a sua resposta tempestivamente. Nesse sentido, seus principais efeitos são: A) Presunção de veracidade das alegações de fato feitas pelo demandante (art. 344, CPC); B) Os prazos contra o réu revel que não tenha advogado fluem a partir da publicação da decisão (art. 346, CPC); C) Preclusão em desfavor do réu do poder de alegar algumas matérias de defesa; D) Possibilidade de julgamento antecipado do mérito da causa, caso se produza o efeito material da revelia (art. 355, II, CPC). A presunção de veracidade não é efeito necessário da revelia Contudo, é possível que haja revelia e não se presuma a ocorrência dos fatos deduzidos contra o revel. Sobre isso, o artigo 345 do CPC traz quatro situações em que a presunção de veracidade dos fatos afirmados, em razão da revelia, não se produz: A) Se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação, não haverá presunção de veracidade quanto á alegação de fato que seja comum ao litisconsorte revel e àquele que o contestou; B) Se o direito material em discussão indisponível (art. 345, II, CPC); C) Se a inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere da substância do ato (art. 345, III, CPC); D) O simples fato da revelia não pode tornar verossímil o absurdo (art. 345, IV, CPC). Revelia não implica necessariamente vitória do autor A revelia não quer dizer que o autor venceu automaticamente, visto que os fatos podem não se subsumir à regra de direito invocada. Assim, ao réu revel é permitido, sem impugnar os fatos, tratar apenas do direito. Proibição de alteração de pedidos ou da causa de pedir O autor, diante da revelia, não poderá aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, exceto se promover nova citação ao réu, a quem será assegurado o direito de responder no prazo de 15 dias (art. 329, II, CPC). Intervenção do réu revel O réu revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado em que se encontrar (art. 346, parágrafo único, CPC), passando, assim, a ser intimado dos atos que forem praticados no processo. Poderá, inclusive, produzir provas (art. 349, CPC; enunciado n° 231 da Súmula do STF). Necessidade de intimação do réu revel que tenha advogado constituído nos autos Segundo o artigo 346 do CPC, o réu revel que tenha patrono nos autos deverá ser intimado dos atos processuais. Somente ao réu revel que não tenha patrono nos autos se aplica o efeito da revelia de dispensa de intimação dos atos processuais. Querela Nullitatis O réu revel também tem a possibilidade de impugnar, a qualquer tempo, sentença que tenha sido proferida em seu desfavor, sem que tenha sido citado ou tenha havido citação inválida (art. 525, § 1°, I, e art. 535, I, CPC). Impedimento à extensão da coisa julgada à resolução da questão prejudicial incidental Havendo revelia, não se pode estender a coisa julgada à resolução da questão prejudicial incidental (art. 503, § 1°, II, CPC). Nesse diapasão, há uma regra de proteção ao revel, que estabelece que, com a revelia, não há contraditório suficiente para a extensão da coisa julgada à resolução de questão que não seja a principal. Revelia na reconvenção Se o autor-reconvindo for revel na reconvenção, mas a reconvenção for conexa à ação principal, de modo que o julgamento de ambas passe pela apreciação da existência de fatos comuns, o juiz, com base na regra da comunhão da prova (art. 371, CPC), não poderá presumir existentes, para fins da reconvenção, fatos que foram considerados não- ocorridos por conta da instrução probatória ocorrida na ação originária. 4. AS PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES E O SANEAMENTO Se a resposta do réu for apresentada ou não, inicia-se a fase do procedimento comum que se denomina de fase de saneamento. Nesta fase do processo, o magistrado, se for o caso, deve tomar providências que deixem o processo apto para que nele seja proferida uma decisão chamada de julgamento conforme o estado do processo (art. 347, CPC). Nessa vertente, o dever do magistrado de sanear o processo deve ser exercido ao longo de todo o procedimento, mas é na fase de saneamento que essa situação revela-se mais concentrada. Ressalta-se, aqui, que a fase de saneamento inicia-se após o escoamento do prazo de contestação. Contudo, é possível que, após esse momento, a fase postulatória se prolongue, visto que o réu pode ter reconvindo ou denunciado a lide a um terceiro, por exemplo. Assim, os primeiros atos da fase de saneamento podem coincidir, portanto, com a prática dos últimos atos da fase postulatória. • Rol de providências preliminares: A) Tendo sido apresentada defesa indireta, deve o juiz intimar o autor para apresentar a sua réplica, em 15 dias (arts. 350-351, CPC), que consiste na manifestação do demandante sobre os fatos novos deduzidos pelo réu em sua defesa. Caso a defesa seja direta, não haverá intimação para a réplica. E se o autor trouxer documentos na réplica, o réu deverá ser intimado para manifestar-se sobre eles, em 15 dias, conforme o art. 437, § 1°, do Código de Processo Civil; B) Se o réu apresentar defesa direta, mas trouxer documentos, deve o magistrado intimar o autor para manifestar-se sobre eles, no prazo de 15 dias (art. 437, § 1°, CPC); C) Se há defeitos processuais que possam ser corrigidos, deve o juiz providenciar a sua correção, fixando, para tanto, prazo não superior a trinta dias (art. 352, CPC); D) Se houver revelia, deve o magistrado verificar a regularidade da citação; E) Se, não obstante a revelia, a presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo autor não se tiverproduzido, deve o magistrado intimar o autor para especificar as provas que pretende produzir em audiência (art. 348, CPC). Nesse caso, o prazo para especificação das provas é de 5 dias (art. 218, § 3°, CPC); F) Se a revelia decorrer de citação ficta ou se o réu revel for preso, deve o magistrado designar o curador especial (art. 72, II, CPC); G) Se o réu reconveio, deve o magistrado intimar o autor para contestar a reconvenção, em quinze dias; H) Se o réu promover uma denunciação da lide ou chamamento ao processo, o magistrado tomará as providências inerentes a essas intervenções; I) Se o réu requereu a revogação da justiça gratuita concedida ao autor, o juiz, após ouvi- lo, decidirá a respeito. Se revogar a gratuidade da justiça, caberá agravo de instrumento (art. 101 e art. 1.015, V, CPC); J) Se houver alegação de incompetência, o juiz decidirá sobre a sua competência. Se reconhecer a sua incompetência, determinará a remessa dos autos ao juízo competente; K) O juiz decidirá sobre eventual impugnação ao valor da causa apresentada pelo réu na contestação; L) O magistrado deve verificar se é caso de intervenção do Ministério Público (art. 178, CPC), da Comissão de Valores Imobiliários, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, ou de qualquer outro órgão e entidade cuja presença no processo seja obrigatória, por força de lei. Julgamento conforme o estado do processo Depois de cumpridas as providências preliminares, ou não havendo necessidade delas, o juiz examinará o processo para que tome uma dessas decisões: A) Extingue-o sem resolução de mérito; B) Extingue-o com a resolução do mérito, em razão de autocomposição total; C) Extingue-o com resolução do mérito pela verificação da ocorrência da decadência ou prescrição; D) Julga antecipadamente o mérito da causa; E) Profere decisão de saneamento ou organização do processo, com ou sem audiência para produzi-la em cooperação com as partes. Decisão de saneamento e organização do processo Aqui, não sendo caso de extinção do processo sem resolução de mérito, nem de extinção do processo com resolução do mérito, deverá o magistrado proferir uma decisão de saneamento e organização do processo (art. 357, CPC). Nesse sentido, é uma situação clara em que o órgão jurisdicional terá de resolver o objeto litigioso, mas, como ainda não há elementos probatórios nos autos que lhe permitam fazer isso, terá de se preparar o processo para a atividade instrutória. Nessa decisão, órgão jurisdicional: resolverá as questões processuais pendentes; delimitará as questões de fato sobre as quais recairá a atividade probatória, especificando os meios de prova admitidos; definirá a distribuição do ônus da prova, observado o art. 373; delimitará as questões de direito relevantes para a decisão de mérito; designará, se necessário, audiência de instrução e julgamento. Audiência de saneamento e organização em cooperação com as partes O artigo 357, § 3° do CPC prevê a audiência de saneamento e organização feitos em cooperação com as partes. Nessa vertente, trata-se de uma regra que concretiza o princípio da cooperação. Tal dispositivo prescreve que “se a causa apresentar complexidade e matéria de fato ou de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes”. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Congresso Nacional. Código de Processo Civil, de 15 de março de 2015. Diário Oficial da União, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 1 ago. 2022. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n° 9.307, de 22 de setembro de 1996. Diário Oficial da União, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9307.htm. Acesso em: 15 ago. 2022. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n° 9.099, de 25 de setembro de 1995. Diário Oficial da União, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm. Acesso em: 15 ago. 2022. BRASIL. Congresso Nacional. Lei n° 9.289, de 03 de julho de 1996. Diário Oficial da União, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9289.htm. Acesso em: 15 ago. 2022. BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula 258. Julgamento em 13 de dezembro de 1963. Corte ou Tribunal. Brasília. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/seq-sumula258/false. Acesso em: 15 ago. 2022. DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de Direito Processual Civil. 17ª ed. Juspodivm, Salvador-BA, v. 1, 2015. LEITE, Gisele. As respostas do réu ou os meios de expressão processual do demandado. Âmbito Jurídico. 2008. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/as-respostas-do-reu-ou- os-meios-de-expressao-processual-do demandado/. Acesso em: 14 ago. 2022.
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