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TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

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TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
1. SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO 
 
 É um pressuposto para o controle de constitucionalidade. Só tem sentido ter uma fiscalização dos 
atos em face da Constituição se esta estiver acima desses atos, daí decorre tal supremacia. 
 
1.1 Supremacia material: está relacionado à matéria, ao conteúdo, à substância. A Constituição trata 
de assuntos que por seu caráter de fundamentalidade são considerados superiores aos demais, ou 
seja, a matéria tratada pela Constituição é mais importante do que os demais assuntos. As matérias 
típicas de uma Constituição são: os direitos fundamentais, a estrutura do Estado e a organização 
dos poderes. 
 
1.2 Supremacia formal: a preocupação é com a forma, ou seja, com o procedimento que foi utilizado 
para criação do ato. A supremacia que interessa para o controle é a supremacia formal. Para que 
uma Constituição tenha supremacia formal é necessário que ela seja rígida, ou seja, que tenha um 
processo de elaboração mais solene que o ordinário. A supremacia formal é uma característica de 
toda constituição. 
 
 
2. PARÂMETRO (normas de referência) 
 
 O parâmetro é a norma constitucional, diferenciando-se, assim, do objeto do controle que é o ato 
normativo infraconstitucional. 
 Na CF/88 existe uma parte que não serve como parâmetro, qual seja, o preâmbulo. (Visão 
do STF) 
 Não são somente as normas expressas que podem servir de parâmetro, mas o princípio implícito 
também pode. Ex.: princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. 
 Além da CF/88, há outros textos que estão fora do texto constitucional, mas que podem servir 
como parâmetro. Ex.: EC 45/04 que inseriu o § 3º, do art. 5º, CF - tratados e convenções internacionais 
de direitos humanos (T.C.I.D.H) que são equivalentes às emendas constitucionais. Só há um tratado de 
direitos humanos no Brasil com status de emenda constitucional, qual seja, o que diz respeito a pessoas 
com deficiência. 
 
 
 
 
 
 
 CF/88- T.C.I.D.H (aprovados por 3/5 em dois turnos). RE 466.343/SP 
 T.C.I.D.H - status infraconstitucional, mas 
 supralegal. Ex.: Pacto de são José da Costa Rica. 
 Leis- T.C.I = LO 
 
 
 Somente os que estão no topo servem de parâmetro. (Controle de Convencionalidade - Valério 
Mazzuoli, termo utilizado para os tratados que servem como parâmetro). 
 
2.1 Bloco de Constitucionalidade 
 
 É utilizado pelo autor francês Louis Favoreu. Trata-se de um termo utilizado para se referir às 
normas com status constitucional. Na Constituição Francesa fazem parte do bloco: CF 1958; D.U.D.H.C; 
Preâmbulo da CF/1946; princípios extraídos da jurisprudência do Conselho Constitucional; outras normas 
de status constitucional. 
 O ministro Celso de Melo utiliza a expressão bloco de constitucionalidade na ADI 595/ES e ADI 
514/PI. 
 Sentidos utilizados, no Brasil, de bloco de constitucionalidade: 
 
a) Sentido estrito: utilizado como sinônimo de parâmetro constitucional (usado por Celso de Melo). 
Geralmente, é o mais utilizado. 
 
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem 
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três 
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas 
constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) 
b) Sentido amplo: abrange não só aquelas normas que servem como parâmetro para o controle, mas 
também as que têm conteúdo constitucional (apenas) e inclusive as normas vocacionadas a conferir 
eficácia às normas constitucionais. Ex1.: o Pacto de São José da Costa Rica (tem apenas conteúdo 
constitucional, não sendo formalmente constitucional); Ex.2: norma infraconstitucional- direito 
de greve do servidor público que exige uma lei que a regulamente, ou seja, confira eficácia a uma 
norma da constituição. 
 
3. FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADE 
 
3.1. Quanto ao tipo de conduta praticada pelo poder público (Leva em consideração o objeto e não o 
parâmetro) 
 
a) Inconstitucionalidade por ação 
 
 Ocorre quando o poder público pratica uma conduta incompatível com a Constituição. Ex.: HC 
82959/SP – Lei de crimes hediondos que proibia a progressão de regime. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
b) Inconstitucionalidade por omissão 
 
 Ocorre quando o poder público deixa de praticar uma conduta exigida pela Constituição. Ex.: MI 
712- O Supremo tratou do direito de greve do servidor. 
 Para esses casos, há duas ações específicas: ADO (Ação Direta de Inconstitucionalidade por 
omissão) e o Mandado de Injunção. 
PENA - REGIME DE CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - RAZÃO DE SER. A 
progressão no regime de cumprimento da pena, nas espécies fechado, semi-aberto e 
aberto, tem como razão maior a ressocialização do preso que, mais dia ou menos dia, 
voltará ao convívio social. PENA - CRIMES HEDIONDOS - REGIME DE 
CUMPRIMENTO - PROGRESSÃO - ÓBICE - ARTIGO 2º, § 1º, DA LEI Nº 8.072/90 
- INCONSTITUCIONALIDADE - EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL. Conflita 
com a garantia da individualização da pena - artigo 5º, inciso XLVI, da 
Constituição Federal - a imposição, mediante norma, do cumprimento da pena em 
regime integralmente fechado. Nova inteligência do princípio da individualização 
da pena, em evolução jurisprudencial, assentada a inconstitucionalidade do artigo 
2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90. 
 
(HC 82959, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 
23/02/2006, DJ 01-09-2006 PP-00018 EMENT VOL-02245-03 PP-00510 RTJ VOL-
00200-02 PP-00795) 
 
EMENTA: MANDADO DE INJUNÇÃO. ART. 5º, LXXI DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. CONCESSÃO DE EFETIVIDADE 
À NORMA VEICULADA PELO ARTIGO 37, INCISO VII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. LEGITIMIDADE ATIVA DE 
ENTIDADE SINDICAL. GREVE DOS TRABALHADORES EM GERAL [ART. 9º DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL]. 
APLICAÇÃO DA LEI FEDERAL N. 7.783/89 À GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO ATÉ QUE SOBREVENHA LEI 
REGULAMENTADORA. PARÂMETROS CONCERNENTES AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE PELOS 
SERVIDORES PÚBLICOS DEFINIDOS POR ESTA CORTE. CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO. GREVE NO 
SERVIÇO PÚBLICO. ALTERAÇÃO DE ENTENDIMENTO ANTERIOR QUANTO À SUBSTÂNCIA DO MANDADO DE 
INJUNÇÃO. PREVALÊNCIA DO INTERESSE SOCIAL. INSUBSSISTÊNCIA DO ARGUMENTO SEGUNDO O QUAL DAR-
SE-IA OFENSA À INDEPENDÊNCIA E HARMONIA ENTRE OS PODERES [ART. 2O DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL] E 
À SEPARAÇÃO DOS PODERES [art. 60, § 4o, III, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL]. INCUMBE AO PODER JUDICIÁRIO 
PRODUZIR A NORMA SUFICIENTE PARA TORNAR VIÁVEL O EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE DOS SERVIDORES 
PÚBLICOS, CONSAGRADO NO ARTIGO 37, VII, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. O acesso de entidades de classe à via 
do mandado de injunção coletivo é processualmente admissível, desde que legalmente constituídas e em funcionamento há pelo 
menos um ano. 2. A Constituição do Brasil reconhece expressamente possam os servidores públicos civis exercer o direito de greve 
--- artigo 37, inciso VII. A Lei n. 7.783/89 dispõe sobre o exercício do direito de greve dos trabalhadores em geral, afirmado pelo 
artigo 9º da Constituição do Brasil. Ato normativo de início inaplicável aos servidores públicos civis. 3. O preceito veiculado pelo 
artigo 37, inciso VII, da CB/88 exige a edição de ato normativo que integre sua eficácia. Reclama-se, para fins de plena incidência 
do preceito, atuação legislativa que dê concreção ao comando positivado no texto da Constituição. 4. Reconhecimento, por esta 
Corte, em diversas oportunidades, de omissão do Congresso Nacional no que respeita ao dever, que lhe incumbe, de dar concreção 
ao preceito constitucional. Precedentes. 5. Diante de mora legislativa, cumpre ao Supremo TribunalFederal decidir no sentido de 
suprir omissão dessa ordem. Esta Corte não se presta, quando se trate da apreciação de mandados de injunção, a emitir decisões 
desnutridas de eficácia. 6. A greve, poder de fato, é a arma mais eficaz de que dispõem os trabalhadores visando à conquista de 
melhores condições de vida. Sua auto-aplicabilidade é inquestionável; trata-se de direito fundamental de caráter instrumental. 7. A 
Constituição, ao dispor sobre os trabalhadores em geral, não prevê limitação do direito de greve: a eles compete decidir sobre a 
oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dela defender. Por isso a lei não pode restringi-lo, senão protegê-
lo, sendo constitucionalmente admissíveis todos os tipos de greve. 8. Na relação estatutária do emprego público não se manifesta 
tensão entre trabalho e capital, tal como se realiza no campo da exploração da atividade econômica pelos particulares. Neste, o 
exercício do poder de fato, a greve, coloca em risco os interesses egoísticos do sujeito detentor de capital --- indivíduo ou empresa -
-- que, em face dela, suporta, em tese, potencial ou efetivamente redução de sua capacidade de acumulação de capital. Verifica-se, 
então, oposição direta entre os interesses dos trabalhadores e os interesses dos capitalistas. Como a 
greve pode conduzir à diminuição de ganhos do titular de capital, os trabalhadores podem 
em tese vir a obter, efetiva ou potencialmente, algumas vantagens mercê do seu 
exercício. O mesmo não se dá na relação estatutária, no âmbito da qual, em tese, aos 
interesses dos trabalhadores não correspondem, antagonicamente, interesses individuais, 
senão o interesse social. assegurada a coesão social. 10. A regulamentação do exercício 
do direito de greve pelos servidores públicos há de ser peculiar, mesmo porque "serviços 
ou atividades essenciais" e "necessidades inadiáveis da coletividade" não se superpõem 
a "serviços públicos"; e vice-versa. 11. Daí porque não deve ser aplicado ao exercício do 
direito de greve no âmbito da Administração tão-somente o disposto na Lei n. 7.783/89. 
A esta Corte impõe-se traçar os parâmetros atinentes a esse exercício. 12. O que deve ser 
regulado, na hipótese dos autos, é a coerência entre o exercício do direito de greve pelo 
servidor público e as condições necessárias à coesão e interdependência social, que a 
prestação continuada dos serviços públicos assegura. 13. O argumento de que a Corte 
estaria então a legislar --- o que se afiguraria inconcebível, por ferir a independência e 
harmonia entre os poderes [art. 2o da Constituição do Brasil] e a separação dos poderes 
[art. 60, § 4o, III] --- é insubsistente. 14. O Poder Judiciário está vinculado pelo dever-
poder de, no mandado de injunção, formular supletivamente a norma regulamentadora 
de que carece o ordenamento jurídico. 15. No mandado de injunção o Poder Judiciário 
não define norma de decisão, mas enuncia o texto normativo que faltava para, no caso, 
tornar viável o exercício do direito de greve dos servidores públicos. 16. Mandado de 
injunção julgado procedente, para remover o obstáculo decorrente da omissão 
legislativa e, supletivamente, tornar viável o exercício do direito consagrado no 
artigo 37, VII, da Constituição do Brasil. 
 
(MI 712, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 25/10/2007, DJe-
206 DIVULG 30-10-2008 PUBLIC 31-10-2008 EMENT VOL-02339-03 PP-00384) 
 
 
3.2. Quanto à norma constitucional ofendida 
 
a) Inconstitucionalidade formal (ou nomodinâmica) 
 
 Relaciona-se ao processo de criação da norma. Costuma ser dividida em três espécies: 
 
 Inconstitucionalidade formal propriamente dita - ocorre nos casos de violação de norma 
constitucional referente ao processo legislativo. É dividida em duas subespécies: 
 
* subjetiva (sujeito competente): outro sujeito que não tinha competência 
elaborou a norma. Ex.: art. 61, § 1º; ADI 3739. Obs.: Quando a iniciativa é do 
Presidente, mas ele não o faz e acaba sancionando o projeto de lei, o vício era 
suprido pela sanção (antes da CF/88, súmula 5). Contudo, o entendimento atual é 
de que o vício de iniciativa é insanável e, portanto, não pode ser suprido pela 
sanção do Poder Executivo. 
 
* objetiva (demais fases do processo legislativo): Ex.: art. 69, CF- uma LC só 
pode ser aprovada por maioria absoluta. Se uma matéria própria de LC for 
aprovada por maioria simples/relativa ocorrerá a inconstitucionalidade formal 
objetiva. 
 
 Inconstitucionalidade formal orgânica: ocorre quando há violação de norma constitucional 
que estabelece competência legislativa para tratar da matéria. Refere-se a qual ente 
federativo será competente. Ex.: ADI 2220/SP. O STF não fala em constitucionalidade 
orgânica, apenas refere-se ao termo inconstitucionalidade formal. 
 
 Inconstitucionalidade formal por violação a pressupostos objetivos: Ex.: a medida 
provisória que possui dois pressupostos, se eles não forem observados haverá tal 
inconstitucionalidade – art. 62, CF. 
 
b) Inconstitucionalidade material (nomoestática) 
 
 Ocorre quando há uma incompatibilidade entre o conteúdo do ato infraconstitucional e o conteúdo 
da Constituição. Ex.: quando a norma constitucional ofendida trata de um direito fundamental – art. 5º. 
 O princípio da unidade do ordenamento jurídico tem como finalidade impedir que existam normas 
contraditórias. 
 
 
3.3 Quanto à extensão da inconstitucionalidade 
 
a) Total: ocorre quando o vício atinge toda a lei ou todos dispositivos de uma determinada lei. 
Depende do objeto ao qual está se referindo. Geralmente, ocorre quando há 
inconstitucionalidade formal. 
 
b) Parcial: apenas uma parte da lei ou do dispositivo é declarada inconstitucional. Pode haver 
inconstitucionalidade de apenas uma palavra ou expressão de um dispositivo? Algumas 
pessoas confundem a inconstitucionalidade parcial com o veto parcial (art. 66, §§ 1º, 2º). 
Quanto ao veto parcial, isso não é possível, contudo, no que se refere à inconstitucionalidade 
parcial admite-se a declaração de apenas uma palavra ou expressão, desde que autônoma e não 
modifique o sentido do restante do dispositivo. Ex.: ADI 347/SP- art. 125, § 2º,CF. 
 
 
 
 
3.4 Quanto ao momento em que ocorre a inconstitucionalidade 
 
a) Originária: ocorre quando o objeto é incompatível com a Constituição desde a sua origem, 
ou seja, quando o objeto surge depois do parâmetro violado. Ex.: ADI 347/SP- dispositivo 
já surgiu inconstitucional. 
 
b) Superveniente: ocorre quando o objeto nasce constitucional, mas em razão de uma 
mudança no parâmetro torna-se incompatível com a norma constitucional. Ex.: ADPF 130 
– teve como objeto a lei de imprensa, que quando foi feita era compatível com a 
constituição da época (1967), mas acabou sendo incompatível com a CF/88. No Brasil, o 
STF trata essa inconstitucionalidade superveniente como uma hipótese de não recepção. 
Chamava-se, antigamente, de revogação (termo tecnicamente errado). O STF utiliza a 
lógica de Hans Kelsen que diz que a inconstitucionalidade só ocorre quando os 
poderes públicos praticam uma conduta violadora da constituição. 
 
 Alguns autores admitem a inconstitucionalidade superveniente em dois casos: 
- Mutação Constitucional: 
 Nesse caso, é importante distinguir enunciado normativo (texto) de norma: 
 A norma é o resultado da interpretação do texto. A mudança na interpretação é 
chamada de mutação constitucional. Ex.: HC 82959/SP- o texto não foi alterado, houve 
apenas modificação quanto à interpretação ao princípio da individualização da pena. 
 
- Inconstitucionalidade Progressiva: são situações intermediárias entre a 
inconstitucionalidade absoluta e a constitucionalidadeplena nas quais as circunstâncias 
fáticas justificam a manutenção da norma durante um determinado período de tempo. Ex1.: 
art. 134, CF c/c o CPP em seu art. 68 que diz que quando a vítima for pobre a ação de 
reparação pode ser proposta pelo Ministério Público, este questionou a constitucionalidade 
perante o STF, contudo quando a CF foi feita muitos estados brasileiros não tinham 
Defensoria Pública, então o STF não decretou tal dispositivo inconstitucional; Ex2.: Lei 
1060/50- A lei de assistência gratuita teve um dispositivo alterado que passou a dar prazo 
em dobro para a Defensoria Pública, nesse caso, o MP questionou ao STF, este não 
declarou inconstitucional por existir diferença de estrutura entre as duas instituições. 
 
3.5. Quanto ao prisma de apuração 
 
a) Direta ou antecedente: Ocorre quando o ato impugnado, ou seja, o objeto está ligado 
diretamente à Constituição. 
 
b) Indireta: Ocorre quando há um ato interposto entre o objeto impugnado e o parâmetro violado. 
Ex.: o decreto que regulamenta a lei. Pode ser: 
 
 Consequente – Ocorre quando a inconstitucionalidade do objeto é uma 
consequência da inconstitucionalidade de um outro ato intermediário. 
Ex1.: uma lei estadual tratou de uma matéria que era de competência da 
União, então esta lei possui uma inconstitucionalidade direta; o 
governador expede um decreto regulamentando a lei estadual, sendo 
assim, como a lei estadual é inconstitucionalidade por consequência o 
decreto também será. Ex.2: ADI 4451- MC-Ref: trata da proibição de 
programas humorísticos com montagens as vésperas da eleição. 
 Reflexa (oblíqua)- Ocorre quando um ato viola diretamente uma lei e 
apenas indiretamente a Constituição. Ex.1: Na inconstitucionalidade 
consequente, tomando como exemplo o citado acima, a lei estadual é 
inconstitucional, já na reflexa a lei não é inconstitucional, contudo o 
decreto é incompatível com esta lei (ilegal), reflexamente ele estará 
atingindo a Constituição. Ex.2: Art. 84, IV, da CF. Nesse caso, o decreto 
não poderá ser objeto de ADI, pois ele não viola diretamente a 
Constituição. ADI 3132; ADI 996-MC. 
Chamada por alguns autores de mediata. 
 
 
 
 
4. FORMAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
 
4.1. Quanto à natureza do órgão 
 
a) Controle Jurisdicional: É aquele exercido por órgãos do Poder Judiciário. 
 
b) Controle Político: É um conceito dado por exclusão; é aquele exercido por órgãos sem poder 
jurisdicional. Ex.: controle exercido pelo Presidente, Governador. 
 
 A doutrina costuma fazer a classificação de alguns sistemas constitucionais: 
 
1) Sistema Jurisdicional: É aquele adotado nos países em que a função principal de exercer o 
controle é atribuída ao Judiciário. Ex.: Brasil, EUA (precursor desse sistema). 
 
2) Sistema Político: É aquele adotado nos países em que o controle de constitucionalidade não é 
atribuído a um órgão do Poder Judiciário. Ex.: França (quem exerce o controle é o Conselho 
Constitucional). 
 
Esse sistema francês possui a jurisdição administrativa (matéria de direito público) e a jurisdição 
comum. A administrativa não faz parte do poder judiciário. Acima dessas jurisdições, existe o 
Conselho Constitucional que não integra o Poder Judiciário. Até 2010, na França, não existia 
controle repressivo. 
 
3) Sistema Misto: É aquele em que determinados tipos de lei se submetem a um controle 
jurisdicional e outros tipos de lei se submetem a um controle político. Ex.: Suíça. Na Suíça, o 
controle das leis locais é feito pelos órgãos jurisdicionais; com relação às leis nacionais o cotrole 
é exercido pelo Parlamento. 
 
 
 
4.2. Quanto ao momento em que o controle é exercido 
 
a) CONTROLE PREVENTIVO: É aquele exercido durante o processo legislativo com o intuito de 
evitar uma violação da Constituição. No Brasil, esse controle pode ser exercido pelos três poderes: 
 
a.1) Poder Legislativo: O principal órgão encarregado de fazer o controle é a CCJ (Comissão de 
Constituição e Justiça). Todo Poder Legislativo, seja ele federal, estadual ou municipal, possui a 
CCJ. Essa Comissão existe na Câmara e no Senado. O Plenário também pode exercer o controle 
preventivo. 
 
a.2) Poder Executivo: O instrumento é o veto (art. 66, §1º, CF). Utiliza-se o veto jurídico. Há 
duas modalidades de veto: veto contrário ao interesse público e veto por inconstitucionalidade. 
O veto jurídico é aquele que analisa a inconstitucionalidade. Quando for contrário ao interesse 
público, o veto será político. O veto só existe para projeto de lei, não sendo cabível para emenda 
constitucional. 
 
 
 
 
 
 
Art. 66. A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao 
Presidente da República, que, aquiescendo, o sancionará. 
§ 1º - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, 
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, 
no prazo de quinze dias úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro 
de quarenta e oito horas, ao Presidente do Senado Federal os motivos do veto. 
 
 
a.3) Poder Judiciário: Raramente o controle preventivo é feito pelo Poder Judiciário. A única 
hipótese no Direito Brasileiro é a impetração de mandado de segurança por parlamentar da 
respectiva casa, por inobservância do devido processo legislativo constitucional. Não é qualquer 
parlamentar que deve provocar o Supremo, tem que ser da respectiva casa. Nesse caso, o objetivo 
principal é assegurar o direito subjetivo líquido e certo do parlamentar, sendo, portanto, um 
controle concreto. Ex.: MS 31816-MC. 
 
 
b) CONTROLE REPRESSIVO: É aquele exercido após a publicação da lei. Ex.: RE 346084. 
 
b.1) Poder Legislativo: Art. 49, V, CF- Controle realizado quanto a decretos e regulamentos; bem 
como quanto a lei delegada (art. 68, § 2º). 
- Outra hipótese diz respeito à Medida Provisória (art. 62) na qual poderá ser feito um controle 
formal que se refere aos pressupostos constitucionais (relevância e urgência), além disso, o CN 
pode fazer uma análise material da Medida Provisória que diz respeito ao conteúdo tratado por 
ela. 
- Ademais, há ainda outro caso de controle feito pelo Poder Legislativo que é a Súmula 347 do 
STF, que diz respeito ao Tribunal de Contas que auxilia o Poder Legislativo na função 
fiscalizatória. A cláusula da reserva de plenário não se aplica ao Tribunal de Contas (pois não é 
órgão do Judiciário). 
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: 
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar 
ou dos limites de delegação legislativa; 
Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá 
solicitar a delegação ao Congresso Nacional. 
§ 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso 
Nacional, os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, 
a matéria reservada à lei complementar, nem a legislação sobre: 
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de 
seus membros; 
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais; 
III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos. 
§ 2º - A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do 
Congresso Nacional, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício. 
§ 3º - Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a 
fará em votação única, vedada qualquer emenda. 
 
 
b.2) Poder Executivo: O chefe do Poder Executivo pode negar cumprimento a um ato normativo 
que entenda ser inconstitucionaldesde que essa negativa seja motivada e lhe seja dada publicidade. 
O descumprimento só é admitido enquanto não houver uma decisão do STF com efeito vinculante. 
 
 Posicionamentos doutrinários 
 
1) Mesmo após a CF/88, esta possibilidade do chefe negar cumprimento a um ato que entenda ser 
constitucional continua existindo. (entendimento majoritário). Ex.: STF: ADI 221-MC; REsp 
23121. 
 
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA PROVISORIA. 
REVOGAÇÃO. PEDIDO DE LIMINAR. - POR SER A MEDIDA PROVISORIA ATO 
NORMATIVO COM FORÇA DE LEI, NÃO E ADMISSIVEL SEJA RETIRADA DO 
CONGRESSO NACIONAL A QUE FOI REMETIDA PARA O EFEITO DE SER, OU 
NÃO, CONVERTIDA EM LEI. - EM NOSSO SISTEMA JURÍDICO, NÃO SE 
ADMITE DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU DE ATO 
NORMATIVO COM FORÇA DE LEI POR LEI OU POR ATO NORMATIVO COM 
FORÇA DE LEI POSTERIORES. O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
DA LEI OU DOS ATOS NORMATIVOS E DA COMPETÊNCIA EXCLUSIVA 
DO PODER JUDICIARIO. OS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO, POR 
SUA CHEFIA - E ISSO MESMO TEM SIDO QUESTIONADO COM O 
ALARGAMENTO DA LEGITIMAÇÃO ATIVA NA AÇÃO DIRETA DE 
INCONSTITUCIONALIDADE -, PODEM TÃO-SÓ DETERMINAR AOS SEUS 
ÓRGÃOS SUBORDINADOS QUE DEIXEM DE APLICAR 
ADMINISTRATIVAMENTE AS LEIS OU ATOS COM FORÇA DE LEI QUE 
CONSIDEREM INCONSTITUCIONAIS. - A MEDIDA PROVISORIA N. 175, 
POREM, PODE SER INTERPRETADA (INTERPRETAÇÃO CONFORME A 
CONSTITUIÇÃO) COMO AB-ROGATÓRIA DAS MEDIDAS PROVISORIAS N.S. 
153 E 156. SISTEMA DE AB-ROGAÇÃO DAS MEDIDAS PROVISORIAS DO 
DIREITO BRASILEIRO. - REJEIÇÃO, EM FACE DESSE SISTEMA DE AB-
ROGAÇÃO, DA PRELIMINAR DE QUE A PRESENTE AÇÃO DIRETA DE 
INCONSTITUCIONALIDADE ESTA PREJUDICADA, POIS AS MEDIDAS 
PROVISORIAS N.S. 153 E 156, NESTE MOMENTO, SÓ ESTAO SUSPENSAS 
PELA AB-ROGAÇÃO SOB CONDIÇÃO RESOLUTIVA, AB-ROGAÇÃO QUE SÓ 
SE TORNARA DEFINITIVA SE A MEDIDA PROVISORIA N. 175 VIER A SER 
CONVERTIDA EM LEI. E ESSA SUSPENSÃO, PORTANTO, NÃO IMPEDE QUE 
AS MEDIDAS PROVISORIAS SUSPENSAS SE REVIGOREM, NO CASO DE NÃO 
CONVERSAO DA AB-ROGANTE. - O QUE ESTA PREJUDICADO, NESTE 
MOMENTO EM QUE A AB-ROGAÇÃO ESTA EM VIGOR, E O PEDIDO DE 
CONCESSÃO DE LIMINAR, CERTO COMO E QUE ESSA CONCESSÃO SÓ TEM 
EFICACIA DE SUSPENDER "EX NUNC" A LEI OU ATO NORMATIVO 
IMPUGNADO. E, EVIDENTEMENTE, NÃO HÁ QUE SE EXAMINAR, NESTE 
INSTANTE, A SUSPENSÃO DO QUE JA ESTA SUSPENSO PELA AB-ROGAÇÃO 
DECORRENTE DE OUTRA MEDIDA PROVISORIA EM VIGOR. PEDIDO DE 
LIMINAR JULGADO PREJUDICADO "SI ET IN QUANTUM". 
 
(ADI 221 MC, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Tribunal Pleno, julgado em 
29/03/1990, DJ 22-10-1993 PP-22251 EMENT VOL-01722-01 PP-00028) 
 
LEI INCONSTITUCIONAL - PODER EXECUTIVO - NEGATIVA DE EFICACIA. 
O PODER EXECUTIVO DEVE NEGAR EXECUÇÃO A ATO NORMATIVO 
QUE LHE PAREÇA INCONSTITUCIONAL. 
(REsp 23121/GO, Rel. Ministro HUMBERTO GOMES DE BARROS, PRIMEIRA 
TURMA, julgado em 06/10/1993, DJ 08/11/1993, p. 23521) 
 
 
 
 
 
Súmula 347: O TRIBUNAL DE CONTAS, NO EXERCÍCIO DE SUAS ATRIBUIÇÕES, 
PODE APRECIAR A CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS E DOS ATOS DO PODER 
PÚBLICO. 
2) Há autores que sustentam que após a CF/88, esta hipótese não seria mais admitida pelo fato de a 
Constituição atribuir legitimidade ativa ao Presidente e ao Governador para propor ADI (art. 103, 
CF). 
3) Há autores que sustentam que a possibilidade de negativa permanece, mas que deve ser 
acompanhada da propositura da respectiva ADI. 
 
b.3) Poder Judiciário: Exercerá através do controle difuso e do controle concentrado. 
Obs.: O Brasil adota o sistema jurisdicional de controle combinado ou misto, porque combina o 
controle difuso com o controle concentrado. 
 
4.3. Quanto à competência jurisdicional 
 
a) Controle Difuso 
 
 É aquele que pode ser exercido por qualquer juiz ou tribunal. Também é chamado, na doutrina, de 
controle aberto porque não existe uma restrição quanto ao órgão do judiciário que exercerá esse controle. 
 Também é conhecido como sistema norte americano, pois o surgimento desse controle é conferido 
àquela decisão proferida por Marshall, em 1803, no caso Marbury versus Madison. Há dois precedentes 
anteriores a essa decisão onde o controle de constitucionalidade teria sido exercido: Hayburn’s case 
(1792)- não foi uma decisão da Suprema Corte, mas sim da Corte de Circuito que disse que a lei era 
inconstitucional; Hyltons’s case (1796)- decisão da Suprema Corte, mas não disse que a lei era 
inconstitucional. Há outro precedente citado por Marshall, em 1610, na Inglaterra, Sir Edward Coke. 
 No Brasil, a primeira Constituição a consagrar o controle difuso foi a de 1891 (1ª 
Constituição Republicana). 
 
b) Controle Concentrado 
 
 Também é chamado de reservado ou sistema austríaco ou sistema europeu. 
 É aquele atribuído a apenas um determinado órgão do Poder Judiciário. 
 No Brasil, ele é reservado ao STF quando o parâmetro é a CF/88 e é reservado ao TJ quando o 
parâmetro é a Constituição Estadual. 
 Trata-se de um sistema criado na Áustria (1920) por Hans Kelsen. Esse tipo de controle é adotado 
em vários países europeus (Alemanha, Itália, etc.). 
 No Brasil, ele foi introduzido por uma EC 16/65, que na época estava em vigor a Constituição 
Federal 1946. 
 Instrumentos de controle concentrado: 
 - ADI; 
 - ADC; 
 - ADO; 
 - ADPF; 
 - ADI interventiva. 
 
4.4. Quanto à finalidade do controle jurisdicional 
 
a) Controle concreto / incidental / por via de exceção / por via de defesa 
 
 É aquele que tem por finalidade principal assegurar a proteção de direitos subjetivos. Pode ser 
exercido, inclusive, de ofício pelo juiz, mesmo que sem provocação da parte. 
 A pretensão é deduzida em juízo através de um processo constitucional subjetivo. Não existe 
nenhum processo específico. 
 
b) Controle abstrato / por via direta / por via de ação/ por via principal 
 É aquele cuja finalidade precípua consiste em assegurar a supremacia da Constituição, evitar que 
esta seja violada, protegendo, assim, indiretamente os direitos subjetivos. 
 A pretensão é deduzida em juízo através de um processo constitucional objetivo. Aqui não se fala 
em contraditório, ampla defesa, duplo grau de jurisdição. 
 
 A regra, no Brasil, é que controle difuso é concreto. 
Obs.: Há quem entenda que o controle exercido pelo Plenário ou pelo órgão especial de um 
tribunal (cláusula da reserva de plenário – art. 97, CF) seria uma espécie de controle difuso e, ao 
mesmo tempo, abstrato. 
 
 Geralmente, o controle concentrado é um controle abstrato. Essa regra não é absoluta. Exceções: 
ações de controle concentrado concreto: ADI interventiva (representação interventiva); ADPF 
incidental (Lei 9882/99- art. 1º, parágrafo único); Mandado de Segurança impetrado por 
parlamentar no caso de inobservância do devido processo legislativo constitucional.

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