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Emergências Médicas no Consultório Odontológico

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Maria Eduarda de Alencar – Odontologia 2019.2 
Emergências Médicas no Consultório Odontológico 
Introdução 
→ Emergência x Urgência 
- Emergência: Situação mórbida que requer um 
tratamento imediato, pois existe risco de morte 
eminente; 
- Urgência: Situação mórbida – sem risco de 
morte eminente – que requer um tratamento 
precoce; 
 
→ Fatores Que Contribuem 
- Há uma maior frequência de emergências em 
procedimentos cirúrgicos, pois eles estão 
associados à aumento do estresse e ansiedade 
– gera a liberação de catecolaminas endógenas 
que aumentarão a frequência cardíaca e a PA – 
ao uso de uma grande variedade de drogas – 
benzodiazepínicos, anestésicos – a um maior 
tempo de trabalho – induzem níveis mais 
elevados de ansiedade e estresse; 
- Idade do paciente: Pacientes nos extremos de 
idade são mais pré-dispostos a desenvolver 
situações de emergência → crianças – menor 
peso corporal, fazendo com que quantidades 
mínimas de uma medicação para um adulto, se 
administradas na criança, induzam reações 
negativas – e idosos – processos fisiológicos 
como distribuição, metabolização e excreção, 
comprometidos na maioria desses indivíduos; 
- Portadores de Patologias Sistêmicas: Muitas 
vezes interferem nos processos de distribuição, 
metabolização e excreção da droga, apresentam 
pré-disposição a desenvolver reações adversas 
ao utilizar alguns tipos de medicamentos; 
- Aumento do Arsenal Terapêutico: Pacientes 
que fazem uso crônico de certas medicações tem 
uma maior probabilidade de desenvolver reações 
adversas por interações medicamentosas; 
!!! É de extrema importância realizar uma 
anamnese detalhada, visando conhecer melhor o 
paciente – se apresenta complicações sistêmicas 
e quais são os sinais e sintomas – e assim poder 
utilizar estratégias para minimizar – fármacos e 
equipamentos – a possibilidade de ocorrência 
de situações emergenciais ou realizar o manejo 
necessário de forma rápida – o tempo está 
relacionado com o agravamento e o surgimento de 
sequelas, por isso é tão importante a rápida 
resolução ou suporte – caso ocorra algo; 
→ Emergências 
- Distúrbios do Sistema Cardiovascular; 
- Distúrbios do Sistema Respiratório; 
- Distúrbios Metabólicos; 
- Distúrbios de Consciência; 
- Distúrbios do Sistema Nervoso; 
- Reações de Hipersensibilidade. 
Crise Hipertensiva 
- É caracterizada pelo aumento súbito dos níveis 
pressóricos; 
- Etiologia: Dor – deve-se realizar uma anestesia 
eficaz – ansiedade – deve-se tomar cuidado nas 
palavras que serão ditas ao paciente, no manejo 
realizado, pois são coisas que podem induzir uma 
ansiedade – injeção intravascular acidental de 
anestésico, hipertensão prévia sem medicação 
– deve-se aferir a pressão arterial dos pacientes 
antes do atendimento; 
- Achados Clínicos: Dores de cabeça, tontura, 
mal-estar, confusão mental; 
!!! Conduta 
- Interrupção do atendimento; 
- Colocar o paciente numa posição confortável – 
supina; 
- Aferição da pressão arterial e da frequência 
cardíaca → Leve – < 180/110 mmHg, deve-se 
encaminhar o paciente para a avaliação médica – 
grave – > 180/110 mmHg, deve-se contactar o 
serviço móvel (SAMU) de urgência e solicitar 
avaliação médica imediata, pois esse paciente é 
um forte candidato para infarto ou AVE. 
Doença Cardíaca Isquêmica 
- As principais são a angina pectoris – pode 
evoluir para um IAM – e o infarto agudo do 
miocárdio. Nas duas situações, o paciente sente 
uma dor aguda no peito do lado esquerdo; 
- Etiologia: Aterosclerose – acúmulo de gordura 
nos vasos sanguíneos gerado por uma dieta rica 
em gordura e carboidratos, falta de exercícios 
físicos regularmente e situações de extremo 
estresse, em alguns casos essa placa de gordura 
pode chegar a obliterar o vaso sanguíneo gerando 
IAM; 
OBS.: Indivíduos que possuem hábitos 
alimentares ruins e não fazem atividade física 
regularmente, fazendo apenas esporadicamente 
e de forma intensa, como jogar futebol no fim de 
semana, por exemplo, aumentam o risco de 
deslocamento de placas de aterosclerose – se 
presentes – e a obliteração de vasos sanguíneos. 
!!! Angina Pectoris 
- Diminuição temporária do fluxo sanguíneo nas 
artérias coronárias; 
- Achados Clínicos: Dor subesternal, propagação 
da dor para braço esquerdo, pescoço, mandíbula 
e dentes, aumento da PA e da FC, dispneia, 
sudorese e palidez; 
!!! Infarto Agudo do Miocárdio 
- Necrose – infarto anêmico ou branco – de parte 
do músculo cardíaco devido insuficiência do 
suprimento sanguíneo na região; 
- Achados Clínicos: Dor subesternal mais 
intensa, palpitações e arritmias – devido a 
isquemia – cianose, podendo evoluir para uma 
parada cardiorrespiratória; 
!!! Conduta 
- Interromper o tratamento; 
- Colocar o paciente em posição confortável – 
supina; 
- Administrar vasodilatador coronariano – isordil 5 
mg, via sublingual ou sprays de nitroglicerina; 
- Administrar oxigênio 2-4 L/min e monitorizar os 
sinais vitais – PA, FC, saturação de oxigênio e 
frequência respiratória; 
- Após 10 min, se ainda persistir a dor, deve-se 
repetir o vasodilatador coronariano; 
- 10 min pós a segunda administração, se os 
sintomas persistirem, solicitar um serviço médico 
de urgência. 
Crise Asmática 
- Broncoconstricção gerando uma dificuldade 
respiratória; 
- Etiologia: Ansiedade, hipersensibilidade, 
mudanças bruscas de temperatura e interações 
medicamentosas; 
- Achados Clínicos: Dispneia em repouso – é 
muito comum o paciente colocar a mão no 
pescoço, indicando que não está conseguindo 
ventilar da forma correta – sibilo – assobio agudo 
durante a respiração – dilatação do tórax – 
reflexo do organismo usado para tentar captar a 
maior quantidade de oxigênio possível – tosse 
com ou sem secreção, ansiedade – pode gerar 
ou ser gerada pela crise asmática – angústia, 
pânico, taquipneia – respiração acelerada – 
hipertensão leve, sensação de aperto no peito; 
!!! Conduta 
- Interromper o tratamento; 
- Tranquilizar o paciente; 
- Colocar o paciente numa posição confortável; 
- Administrar um broncodilatador – salbutamol – 
em aerossol; 
- Se o broncodilatador não reverter o caso, 
administrar 0,5 mL, por via intramuscular, ou 0,3 
mL, por via subcutânea, de adrenalina 1:1000. 
Obstrução por Corpos Estranhos 
- Achados Clínicos: Dispneia, tosse forçada, 
face ruborizada, cianose – casos mais 
avançados – e em casos de obstrução das vias 
aéreas > 3 min = parada respiratória – se não for 
revertido o quadro, o paciente pode evoluir para 
uma parada cardiorrespiratória; 
!!! Conduta 
- Remoção do corpo estranho → inspeção com 
os dedos – se o paciente estiver inconsciente e o 
corpo estranho estiver acima da epiglote; 
- Manobra de Heimlich: Em casos de pacientes 
conscientes e onde o corpo estranho não está 
acima da epiglote. 
Síndrome de Hiperventilação 
- Ocasionada pelo excesso de ventilação, com 
entrada excessiva de ar nos alvéolos pulmonares, 
gerando uma falta de CO2 no sangue associada 
à alcalose respiratória; 
- Etiologia: Situação de medo, ansiedade, pânico 
e estresse; 
- Achados Clínicos: Aumento da frequência 
respiratória – 25-30 inspirações por min – 
sensação de sufocamento ou aperto no peito, 
distúrbios visuais, tontura, vertigem, palpitações, 
taquicardia e dormência nas extremidades; 
!!! Conduta 
- Interromper o tratamento; 
- Tranquilizar o paciente; 
- Colocar o paciente numa posição confortável; 
- Fornecer um saco de papel – não utilizar plástico 
– ou orientar o paciente a utilizar as mãos em 
forma de concha para que ele possa respirar um 
ar rico em CO2; 
- Em caso de não melhora, administrar diazepam 
10 mg por via oral ou endovenosa – lentamente. 
Hipoglicemia 
- Ocorre quando os níveis de glicose no sangue 
ficam abaixo de 60 mg/dL; 
- Etiologia: Pacientes diabéticos mal alimentados 
– antes do atendimento, ou que não fazem o uso 
da medicação corretamente – ou pacientes 
normais em jejum prolongado, ansiedade, pânico, 
estresse, cansaço físico ou mental; 
- Achados Clínicos:Sudorese intensa, pele fria, 
pulso rápido e fraco, bradipneia – respiração lenta 
– vertigem, confusão mental, perda da 
consciência, fome, visão turva e cefaléia; 
!!! Conduta 
- Interromper o tratamento; 
- Tranquilizar o paciente; 
- Colocar o paciente numa posição confortável; 
- Fornecer carboidratos de baixa absorção, como 
mel, refrigerantes, doces, para aumentar os níveis 
glicêmicos; 
- Em caso de não melhora, administrar uma 
ampola com 10 mL de glicose à 25% por via 
endovenosa ou glucagon 1 mg por via 
intramuscular. 
Distúrbios de Consciência 
- São dois: lipotimia – tontura e sonolência – e 
síncope – desmaio; 
- Achados Clínicos: Sensação iminente de 
desfalecimento, palidez e sudorese, zumbidos, 
visão turva e perda de consciência – síncope; 
!!! Lipotimia 
- Mal estar passageiro sem perda total da 
consciência; 
!!! Síncope 
- Perda repentina e momentânea da consciência; 
!!! Conduta 
- Interromper o tratamento e retirar todo material 
da boca do paciente; 
- Avaliar o grau de consciência; 
- Colocar o paciente numa posição supina com os 
pés levemente elevados – para aumentar o aporte 
sanguíneo na porção superior do corpo; 
- Monitorar os sinais vitais – principalmente 
saturação de O2; 
- Em caso de não melhora, solicitar socorro 
médico e administrar O2 3 L/min; 
!!! Hipotensão Ortostática 
- Redução acentuada da PA associada a sintomas 
de baixa perfusão cerebral quando o paciente 
assume a posição ereta – abruptamente; 
- Achados Clínicos: Redução da pressão 
sanguínea, tontura e perda da consciência – 
podendo, em alguns casos, desmaiar; 
!!! Conduta 
- Avaliar o grau de consciência; 
- Colocar o paciente numa posição supina com os 
pés levemente elevados – para aumentar o aporte 
sanguíneo na porção superior do corpo; 
- Monitorar os sinais vitais; 
- Administrar O2 3-4 L/min. 
Convulsão 
- Caracterizada por reações físicas ou mudanças 
no comportamento, temporárias e reversíveis, que 
ocorrem após um episódio de atividade elétrica 
anormal do cérebro; 
 
- Etiologia: 65% dos casos apresentam 
convulsão idiopática, dentre os que possuem 
causa, a literatura cita hipoglicemia prolongada, 
paciente descompensado – paciente com febre 
alta, hipertenso e diabético não controlado – 
iluminação ambiental exagerada – isso vale 
para pacientes com pré-disposição – e síndrome 
de abstinência; 
- Fases Clínicas: Pré-convulsiva → ansiedade 
aguda – pacientes que já tiverem episódios 
costumam sentir isso, o que aumenta ainda mais 
a ansiedade – e depressão. Fase convulsiva → 
subdividida em fase tônica – extensão rígida da 
musculatura, dificuldade respiratória e cianose – e 
fase clônica – movimentos rápidos e alternados 
de contração e relaxamento muscular, respiração 
ruidosa e presença de secreção bucal (gerada 
devido aos movimentos rápidos e alternados de 
contração e relaxamento). Fase pós-convulsiva 
→ recuperação lenta da consciência, cefaléia, 
dores musculares, confusão mental e flacidez 
muscular – também devido aos movimentos 
alternados de contração e relaxamento da 
musculatura; 
!!! Conduta 
- Interromper o tratamento e abaixar a cadeira 
odontológica o mais próximo do chão possível; 
- Não colocar nada entre as arcadas e não limitar 
os movimentos do paciente – isso pode gerar 
fratura ou lesão neurológica; 
- Remover objetos cortantes ou pontiagudos que 
estejam ao redor; 
- Remover adornos que atrapalhem a respiração – 
abrir a camisa, retirar colar; 
- Girar o paciente cuidadosamente para o lado 
esquerdo – pois favorece o retorno venoso e é 
uma posição mais confortável para o trato 
gastrointestinal; 
- Em casos onde a crise dure + de 3 min ou de 
cianose, solicitar o SAMU; 
- Em crises prolongadas pode-se administrar 
midazolam 15 mg por via oral ou diazepam 10 mg 
– mais utilizado – por via intramuscular ou 
intravenosa; 
- Cessada a convulsão, repouso e observação do 
paciente por 10-15 min + administração de O2 6-8 
L/min; 
- Avaliar o nível de consciência. 
Reações de Hipersensibilidade 
- Produzida por uma resposta exagerada do 
sistema imune do paciente. Elas não são dose-
dependentes – a mínima exposição já pode gerar 
uma reação. Podem ocorrer reações leves e 
retardadas que ocorrem imediatamente ou até 48 
h após a exposição ao antígeno; 
- Achados Clínicos: As mais leves/brandas são 
as manifestações dermatológicas – eritema, 
urticária e angioedema – as reações mais graves 
são as manifestações no trato respiratório – 
broncoespasmo (gerando dispneia e cianose), 
angioedema de laringe ou edema de glote 
(gerando obstrução total ou parcial de vias aéreas, 
com risco eminente de morte); 
 
!!! Conduta 
- Reações Brandas: Interromper o tratamento, 
colocar o paciente numa posição confortável, 
monitorar os sinais vitais, administrar uma ampola 
de prometazina – anti-histamínico – 50 mg por via 
intramuscular, estabilizando o quadro, prescrever 
anti-histamínico por via oral por três dias e solicitar 
avaliação médica para determinar a causa; 
- Reações Severas: Interromper o tratamento, 
colocar o paciente numa posição confortável, 
solicitar um serviço de emergência, administrar O2, 
0,3 mL de adrenalina 1:1000 por via subcutânea, 
administrar uma ampola de prometazina 50 mg 
por via intramuscular ou endovenosa + 
hidrocortisona – corticoide – 100 mg por via 
endovenosa, realizar manobras de suporte básico 
de vida e caso seja habilitado, considerar via 
aérea cirúrgica – cricotireoidostomia – em caso 
de necessidade; 
OBS.: Cricotireoidostomia → Realização de 
incisão na região da membrana cricotireóidea – 
está entre a proeminência da cartilagem tireóidea 
e a cartilagem cricoide. É mais fácil realizar esse 
procedimento em homens. 
!!! PREPARO PARA INTERCORRÊNCIAS 
- É muito importante a instrução adequada do 
Cirurgião-Dentista, o treinamento da equipe do 
consultório, a existência de um sistema para 
encaminhamento do paciente ao tratamento 
hospitalar e a presença de equipamentos e 
suprimentos – oxímetro de pulso, balão de 
oxigênio, cateter de O2 e ambu, maleta com os 
fármacos mais utilizados em situações de 
emergência e seringas e agulhas para acesso – 
de fácil acesso no consultório; 
- Suporte Básico de Vida: Avaliar o nível de 
consciência do paciente, observar se ele está 
expandindo o tórax e ventilando – caso não esteja, 
instituir a RCP – contactar o seviço de emergência 
e encaminhar o paciente para atendimento 
hospitalar.

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