Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM UNIASSELVI-PÓS Autoria: Valéria Becher Trentin Indaial - 2019 1ª Edição CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol Ilana Gunilda Gerber Cavichioli Jóice Gadotti Consatti Norberto Siegel Julia dos Santos Ariana Monique Dalri Marcelo Bucci Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Copyright © UNIASSELVI 2019 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. T795d Trentin, Valéria Becher Dificuldades de aprendizagem. / Valéria Becher Trentin. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 122 p.; il. ISBN 978-85-7141-396-2 ISBN Digital 978-85-7141-397-9 1. Aprendizagem. - Brasil. 2. Distúrbios da aprendizagem. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 370.152 Impresso por: Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................7 CAPÍTULO 1 Aprendizagem e o Contexto Escolar ........................................9 CAPÍTULO 2 Dificuldades de Aprendizagem na Escola ...............................45 CAPÍTULO 3 Dificuldades De Aprendizagem e a Intervenção Pedagógica ..................................................................................81 APRESENTAÇÃO Neste livro, daremos continuidade à trajetória de estudos, tendo como foco as Dificuldades de Aprendizagem. O conteúdo aqui apresentado visa subsidiar a construção de conhecimentos sobre como ocorre a aprendizagem, bem como sobre as Dificuldades de Aprendizagem que, muitas vezes, assolam nossos alunos, deixando-os à margem do processo de construção de conhecimento. A abordagem apresentada pretende trazer reflexões sobre uma educação para todos. Educação esta, em que a aprendizagem ocorre a partir da interação e do desenvolvimento de práticas pedagógicas que contemplem as singularidades existentes em sala de aula, pois na escola o professor precisa trabalhar com todos os alunos em suas diferenças, propiciando oportunidades de aprendizagens, utilizando-se de recursos e estratégias que viabilizem o processo de construção do conhecimento. Com base nesta abordagem, o livro está organizado em três capítulos. No Capítulo 1, você conhecerá as diferentes perspectivas que explicam a aprendizagem e compreenderá a relação existente entre a aprendizagem e desenvolvimento. Após esta compreensão você analisará a teoria que explica a aprendizagem enquanto processo do desenvolvimento do ser humano e identificará a importância da perspectiva histórico-cultural no processo de aprendizagem. No Capítulo 2, você compreenderá os conceitos e analisará as causas que abarcam as dificuldades de aprendizagem no contexto escolar. Mediante está compreensão e análise você identificará as dificuldades de aprendizagem como uma forma diferente de se aprender e não uma impossibilidade de aprendizagem. A partir dessa reflexão você irá reconhecer as dificuldades de aprendizagem na leitura e na escrita e a importância do diagnóstico. No Capítulo 3, você compreenderá o papel do professor frente às dificuldades de aprendizagem e conhecerá algumas estratégias de intervenção que podem ser desenvolvidas na escola. A partir dessa compreensão você analisará os possíveis efeitos da intervenção no processo de desenvolvimento do aluno com dificuldades de aprendizagem. Leia, reflita, mergulhe no universo que envolve a compreensão da Aprendizagem e das Dificuldades de Aprendizagem, pois estamos inseridos em uma sociedade diversificada, heterogênea e que caminha constantemente com a inclusão. Bons estudos! Professora Valéria Becher Trentin CAPÍTULO 1 Aprendizagem e o Contexto Escolar A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender a relação existente entre o conceito de aprendizagem e desenvolvimento. � Analisar a teoria que explica a aprendizagem enquanto processo do desenvolvimento do ser humano. � Identificar a importância da perspectiva histórico-cultural no processo de aprendizagem. 10 Dificuldades de Aprendizagem 11 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 1 CONTEXTUALIZAÇÃO Certamente você já se deparou com uma sala de aula repleta de alunos. Ao observá-los possivelmente emergiu uma certeza: a diversidade no desenvolvimento humano é fato! Essa diversidade pode ser constatada por meio de simples observações, sendo elas: os alunos se vestem de maneiras diferentes, apresentam características físicas diferenciadas. Enfim, pensam, analisam, respondem e aprendem de maneiras diferentes. É por meio dessas observações que se torna perceptível a singularidade de cada sujeito. Assim, compreendemos que cada sujeito se torna singular por ser constituído por experiências próprias; por ser resultado de sua interação com a história e a cultura que o cerca; e por ser capaz de construir novos sentidos a partir das experiências vivenciadas. Mediante essa reflexão, emerge a questão: você já parou para pensar como acontece a aprendizagem? Você consegue explicar como aprendeu todas as coisas que sabe hoje? Para apreendermos como ocorre o processo de aprendizagem, buscaremos nesse capítulo analisar a teoria que explica processo do desenvolvimento do ser humano, identificando a importância desta teoria no processo de aprendizagem. 2 APRENDIZAGEM: CONCEITO Aprender é uma habilidade inerente do ser vivo! Observe os cachorros, os gatos! Estes são alguns dos diversos animais capazes de aprender. No entanto, ao nos remetermos à aprendizagem do ser humano podemos destacar que este, evolui progressivamente de geração em geração, elaborando formas de interação com o mundo. Sobre a aprendizagem, podemos evidenciar que esta ocupa lugar de destaque no cotidiano de nossas vidas, pois aprendemos a andar, aprendemos a comer, aprendemos a falar, aprendemos a ler, a escrever etc. 12 Dificuldades de Aprendizagem FIGURA 1 - APRENDIZAGEM FONTE: <https://bit.ly/2HtUlPq>. Acesso em: 11 maio 2019. Assim, a aprendizagem, segundo Nunes e Silveira (2009) pode ser definida como um processo no qual a pessoa “apropria-se de” conhecimentos e habilidades. Deste modo, compreendemos que o processo que envolve a aprendizagem possibilita a elaboração de novos conhecimentos, os quais passam a constituir o sujeito. Neste contexto que envolve a aprendizagem, vale destacarmos que para Leontiev (1978) esta é um processo extremamente importante, pois possibilita a apropriação da experiência produzida pela humanidade por meio dos tempos, permitindo ao homem a criação de novas aptidões e funções psicológicas. Mediante o conceito destacado por Leontiev (1978), podemos ainda inferir que a aprendizagem vem sendo estudada desde a antiguidade, tornando-se um conceito histórico e complexo. Conceito histórico, devido ao fato de a aprendizagem ser investigada e discutida pelos filósofos e seus discípulos desde o início dos tempos. Podemos destacar como filósofos que discutiram o conceito de aprendizagem, Platão e Aristóteles. Platão, nascido em Atenas (427-347 a.C.), discípulo de Sócrates, afirmava que aprender é recordar. Segundo Platão, o ser humano precisava ser entendido como corpo (ou coisa) e alma (ideias). Na alma, o ser humano pode “contemplar a solução verdadeira, a qual ele já possuía antes mesmo de nascer, e que, agora, através do método maiêutico, passa então a se recordar” (ARAÚJO; FILHO, 2004,p. 354). 13 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 Maiêutica (palavra derivada do grego. Maieutikos vem de maieuesthai e significa “agir como parteira”) ou método maiêutico é uma contribuição do filósofo Sócrates para a educação. O método maiêutico consistia em provocar o interlocutor por meio do diálogo alimentado por várias perguntas até o interlocutor descobrir seus próprios conhecimentos e verdades. Aristóteles (384-322 a.C.) evidenciava a aprendizagem como um processo que possibilita a transformação do homem. Ele afirmava ainda, que todo conhecimento se inicia nos sentidos, rejeitando a teoria de Platão e lançando bases para o ensino intuitivo. Segundo Valdemarin (2004), o ensino intuitivo utilizava os objetos como suporte didático e os sentidos possibilitavam a produção de ideias, iniciando do concreto e ascendendo à abstração. Os sentidos deveriam ser educados para obter o conhecimento, passando da intuição dos sentidos para a intuição intelectual. Diante da explicação da aprendizagem enquanto conceito histórico, onde entendemos os conceitos de Platão e Aristóteles, nos remeteremos a aprendizagem enquanto conceito complexo. Entendemos que a complexidade que envolve o processo de aprendizagem se dá pela singularidade. Singularidade a qual está atrelada ao interesse de cada sujeito, bem como as relações estabelecidas por este sujeito com o meio em que está inserido. A partir deste entendimento, podemos destacar González (2004), o qual ressalta que a aprendizagem ocorre de forma contínua e diversa, pois ocorre o tempo todo, ao longo da vida e nos mais variados contextos e situações. Mediante as palavras de González (2004) entendemos que o conceito de aprendizagem se remete diretamente as concepções de sujeito, de mundo e de desenvolvimento humano. A investigação entorno da aprendizagem torna-se um desafio pode ser resumido em duas perguntas: Como o ser humano aprende? E como criar as melhores condições possíveis para que o aprendizado ocorra na escola? A partir destes questionamentos iremos iniciar nossa busca por respostas as teorias que tratam da aprendizagem. 14 Dificuldades de Aprendizagem 2.1 EMPIRISMO O empirismo defende que a aprendizagem tem origem a partir da experiência. As sensações, então, seriam a primeira fonte de todas as ideias, sendo o ambiente fator fundamental para a aquisição de conhecimentos. Segundo Nunes e Silveira (2009) na concepção empirista a aprendizagem ocorre por meio do ambiente externo. Este ambiente por sua vez exerce ação sobre o sujeito em seu processo de aprendizagem. A aprendizagem neste contexto ocorre por meio da absorção passiva de conteúdos e atividades. FIGURA 2 - ABSORÇÃO PASSIVA DE CONTEÚDOS E ATIVIDADES FONTE: <https://bit.ly/2ZwI72y>. Acesso em: 11 maio 2019. John Locke foi considerado o principal propulsor do empirismo. John Locke no século XVII, modificou as doutrinas vigentes sobre a mente humana e suas funções com sua corrente denominada “tabula rasa”, destacando que o comportamento é produto do ambiente, o qual possibilita experiências. Assim, as experiências passam a serem vistas como fonte de ideias, o que resultaria em experiência sensorial. FIGURA 3 - JOHN LOCKE FONTE: <https://www.google.com.br/search?q=John+Locke&source=l nms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwj_9-7L-sfgAhVzIbkGHdb2DywQ_ AUIDigB&biw=1242&bih=597#imgrc=fD47yxZbzvSeWM>. Acesso em: 11 maio 2019. 15 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 Resumidamente, sobre o empirismo, “não há nada no intelecto que não tenha passado primeiro pelos sentidos ... a não ser o próprio intelecto” (LEIBNIZ, 1979, p. 9). 2.2 INATISMO O inatismo considera que as condições para a aprendizagem do sujeito são pré-determinadas. Nessa concepção o sujeito traz consigo uma espécie de herança genética, a qual o predispõe para a aprendizagem (NUNES; SILVEIRA, 2009). Assim, podemos compreender que para a teoria inatista, o conhecimento do sujeito é uma característica inata, ou seja, nasce com ele. Por meio desta compreensão, podemos visualizar na figura a seguir algumas posturas inatistas. FIGURA 4 - POSTURAS DA CONCEPÇÃO INATISTA FONTE: <https://bit.ly/2LgLz8k>. Acesso em: 11 maio 2019. Assim, compreendemos que a teoria inatista gera a ideia de uma educação pessimista para crianças e adolescentes, pois como o ser humano já nasce “pronto”, poder-se apenas aprimorar um pouco daquilo que ele é ou, inevitavelmente, viria a ser. Isso geraria enormes preconceitos enrijecendo o processo de desenvolvimento. 16 Dificuldades de Aprendizagem Mediante o que estudamos sobre o empirismo e o inatismo, podemos inferir que estas teorias apontam para lados opostos, pois: Para o inatismo o saber está no sujeito. Para o empirismo o saber se encontra na realidade exterior. Em continuidade ao processo que envolveu investigações sobre a aprendizagem, podemos destacar que no século XX emergiu uma tentativa de explicação sobre a aprendizagem: o construtivismo. 2.3 CONSTRUTIVISMO A Teoria Construtivista surgiu no século XX, a partir das experiências do biólogo, filósofo e epistemólogo suíço Jean Piaget (1896-1980), o qual observando crianças desde o nascimento até a adolescência percebeu que o conhecimento se constrói na interação do sujeito com o meio em que ele vive. Para Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado nem nas estruturas internas do sujeito, porquanto estas resultam de uma construção efetiva e contínua, nem nas características preexistentes do objeto, uma vez que elas só são conhecidas graças á mediação necessária dessas estruturas, e que essas, ao enquadrá-las, enriquecem-nas (PIAGET, 2007, p.1). Assim, podemos destacar que a aprendizagem, sob a ótica piagetiana, é constituída de vários subprocessos importantes. Tais subprocessos levam a criança a se adaptar ao mundo em que vive. Bee (1996, p. 195-196) esclarece que, para se adaptar ao mundo, a criança precisa passar (no sentido ativo da palavra) progressivamente pelos seguintes subprocessos: Esquemas: é uma ação de categorizar. Ex: a criança pega uma bola e olha para ela. A criança está usando seu ‘esquema de olhar’, seu ‘esquema de pegar’ e seu ‘esquema de segurar’ (BEE, 1996). Assimilação: Quando o bebê olha para um móbile acima de seu berço e depois estende a mão para ele. Para Piaget o bebê assimilou o móbile nos esquemas de olhar e alcançar; [...] a assimilação é um processo ativo (BEE, 1996). Acomodação: É quando o indivíduo tem o primeiro contato ou conhece algo novo. A acomodação se realiza quando esse novo conhecimento assimilado desestrutura e reorganiza nossos esquemas mentais já formulados ou cria novos esquemas. O processo de acomodação é a chave para o desenvolvimento. Por meio da acomodação nós reorganizamos nossas ideias, melhoramos nossas habilidades, mudamos nossas estratégias. 17 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 Ex: Quando aprendo novas palavras, eu gradualmente modifico (acomodo) meus conceitos e categorias (BEE, 1996). Equilibração: refere-se ao processo de acomodar os novos conhecimentos aos antigos ou formular novos esquemas mentais. Ex: uma criança conhecendo os animais. Uma criança pequena vê um gato (animal de estimação da família), percebe que o animal tem quatro patas, anda de quatro, tem pêlos, bigodes e rabo. Ela brinca com o gato, toca nele, sente seus pelos e unhas. Cria um esquema para esse conhecimento – esquema “gato”. Um dia, essa criança é levada ao zoológico e vê um cavalo. Ora, o cavalo tem quatro patas, anda de quatro, tem pelos, rabo etc. Mas o cavalo não é um gato. Esse novo conhecimento exige que a criança assimile a informação que nem todo animal de quatropatas é gato (BEE, 1996). Diante da apresentação dos subprocessos de aprendizagem, para visualização e melhor compreensão, observe a figura a seguir: FIGURA 5 - SUBPROCESSOS DE APRENDIZAGEM FONTE: A autora. Segundo Piaget (2007) a criança busca a equilibração por meio dos subprocessos explicados anteriormente. Assim, quando a criança atinge o nível de equilibração em um determinado aspecto, passa para outro nível (ou estágio) e assim sucessivamente. Piaget (2007) denominou os níveis de desenvolvimento e estabeleceu três pontos significativos de equilibração para iniciar um novo nível (ou estágio). Como base em Bee (1996, p. 196) observe esses níveis: 18 Dificuldades de Aprendizagem O primeiro nível ocorre aproximadamente aos 18 meses, quando a criança passa da dominância dos esquemas sensórios e motores para o uso dos primeiros símbolos. O segundo ocorre entre os 5 e 7 anos, quando a criança acrescenta uma série toda nova de poderosos esquemas, os quais são denominados de operações. Estas são ações mentais muito mais abstratas e gerais, como a adição e subtração mental. A terceira maior equilibração entende como ‘operar’ ideias, assim como eventos ou objetos (BEE, 1996, p.196). A partir desses três aspectos de equilibração, Piaget (2007) estabeleceu quatro estágios de desenvolvimento. Para que você estude com objetividade, os quatro estágios do desenvolvimento, estes se encontram dispostos no quadro a seguir. QUADRO 1 - OS QUATRO ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO Do nascimento até os 24 meses de vida Sensório-motor A partir dos esquemas inatos de preender e sugar, a criança busca adquirir controle motor e aprender sobre os objetos físicos que a ro- deiam. Esse estágio tem esse nome porque é a fase em que o bebê passa a conhecer o mundo que a cerca por meio de suas próprias ações que são controladas por informações sensoriais imediatas. Segundo Bee (1996, p. 196), nesse estágio, a criança “funciona no presente imediato, respondendo aos estímulos presentes, não planeja nem intenciona, e não tem nenhuma representação interna de obje- tos.” Assim por volta dos dois anos, a criança já é capaz de formar e manipular imagens mentais e utilizar símbolos. Do 24º mês de vida a seis anos de vida Pré-operatório As crianças com essa idade começam a brincar de faz-de-conta, ou seja, a criança é capaz de modificar mentalmente os objetos que a ro- deiam. Por exemplo: um cabo de vassoura pode se tornar um cavalo. Nessa fase uma criança enxerga a vida somente a partir de sua própria estrutura de referência, ou seja, é egocêntrica. O egocentrismo é diferente de egoísmo. O egocentrismo faz com que a criança pense que todos enxergam o mundo da sua maneira. Nesse estágio, a criança busca adquirir a habilidade verbal. Ela pode até nomear objetos, classificar e raciocinar figurativamente, mas ainda não consegue coordenar operações fundamentais. 19 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 Entre os seis e doze anos de vida Operatório concreto É nesse estágio que a criança descobre uma série de regras e estraté- gias que ela passa a utilizar para examinar e interagir com o mundo. É nesse estágio, segundo Bee (1996), que a criança consegue man- ter esquemas eficazes como o da reversibilidade e ordenação serial. Essa criança é capaz de utilizar a lógica indutiva (ou seja, consegue ir de sua própria experiência para um princípio geral), mas não con- segue ir de um princípio geral para predizer um resultado específico (lógica dedutiva). A criança, nesse estágio, consegue lidar com coisas que experimen- tou, que conhece ou que pode ver e mexer, mas ainda não consegue manipular ideias abstratas ou possibilidades. Dos doze aos dezesseis anos Operatório formal Nesse estágio, a criança tem capacidade de utilizar o raciocínio ab- strato e sistemático. As deduções lógicas podem ser feitas sem o apo- io de objetos concretos, significando que o pensamento dedutivo é muito presente na vida da criança nessa fase. FONTE: Adaptado de Bee (1996) Diante dos estágios de desenvolvimentos apresentados, vale destacarmos que segundo Piaget (2007), cada estágio apresenta características distintas, mas que se complementam ao longo do processo de desenvolvimento. Ainda segundo Piaget (2007) os estágios de desenvolvimento cognitivo se relacionam com a faixa etária do sujeito. Assim traremos como exemplo: um adolescente de, aproximadamente, 14 anos, só terá alcançado as características do estágio operatório-formal se tiver experimentado todas as sensações sensório- motoras, vivenciado seu egocentrismo, enfim vivenciado todas as etapas. O exemplo destacado nos permite evidenciar que o desenvolvimento humano, segundo Piaget (2007), ocorre em forma espiral (figura a seguir), estabelecendo uma interdependência entre os níveis de aprendizagem. 20 Dificuldades de Aprendizagem FIGURA 6 - DESENVOLVIMENTO HUMANO EM ESPIRAL FONTE: <https://bit.ly/2NCdS48>. Acesso em: 11 maio 2019. Frente a observação da figura anterior, podemos constatar que em cada um dos estágios do desenvolvimento estabelecidos por Piaget (2007), o sujeito necessita de novos aprendizados para passar para o estágio seguinte.Por meio dessa constatação podemos entender que a teoria de Piaget (2007) evidencia como as crianças constroem as noções fundamentais de conhecimento lógico, como percebem a realidade e explicam os objetos e fatos com os quais se deparam no meio em que vivem. Neste contexto, Nunes e Silveira (2009) anunciam que na visão construtivista a aprendizagem é um processo contínuo, construído por meio da interação ativa do sujeito com o meio (físico e social), a qual ocorre através de sucessivas assimilações, acomodações e equilibrações, ou seja, o conhecimento é construído pelo sujeito por meio de sua ação e interação com o meio. Podemos inferir que, segundo Piaget (2007), a aprendizagem envolve o assimilar e o acomodar conceitos novos, equilibrando esses novos conceitos aos esquemas internos já existentes ou criando novos esquemas. Neste processo, o sujeito passa de um estágio ao outro, desenvolvendo-se. Podemos inferir que, segundo Piaget (2007), a aprendizagem envolve o assimilar e o acomodar conceitos novos, equilibrando esses novos conceitos aos esquemas internos já existentes ou criando novos esquemas. Neste processo, o sujeito passa de um estágio ao outro, desenvolvendo-se. 21 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 PULASKI, Mary Ann Spencer. Compreendendo Piaget: uma introdução ao desenvolvimento cognitivo da criança. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1986. 1 Disserte sobre as principais teorias estudadas, descrevendo como elas compreendem a aprendizagem. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________ Para iniciarmos nossos estudos sobre aprendizagem e desenvolvimento responda a seguinte questão: 1 Uma criança de 4 anos, com desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social normal, conseguirá aprender conteúdos 3 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO Mediante os conceitos de aprendizagem que estudamos na seção anterior, iremos iniciar nesta seção a compreensão da relação existente entre a aprendizagem e desenvolvimento. 22 Dificuldades de Aprendizagem avançados de química? Justifique sua resposta. R.:____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________ Sabemos que uma criança de 4 anos não conseguirá aprender os conteúdos avançados de química. No entanto a explicação para esse não aprendizado dos conteúdos de química pela criança de 4 anos se difere conforme o entendimento sobre a aprendizagem e desenvolvimento. Para compreendermos os conceitos de aprendizagem e desenvolvimento e a relação existente entre esses conceitos, buscaremos aporte teórico na abordagem histórico-cultural. Abordagem esta que tem como precursor Vygotsky (2007; 2008), o qual anuncia o desenvolvimento humano como produto da atividade social do homem. FIGURA 7 - LEV SEMYONOVICH VYGOTSKY FONTE: <https://www.google.com.br/ search?q=vygotsky&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwiB99W5tNfgAh WuDbkGHRVUD6AQ_AUIDygC&cshid=1551115754429706&biw=1095&bih=487# imgrc=SYyTZX63Wef8uM>. Acesso em: 11 maio 2019. 23 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 Segundo a perspectiva histórico-cultural, a vivência em sociedade é essencial para a transformação do homem biológico em ser humano. Em outras palavras, para Vygotsky (2008), o ser humano só adquire as características humanas quando convive em sociedade. Assim, Vygotsky (2008) destaca que o processo de desenvolvimento do pensamento humano resulta do movimento entre as funções psicológicas elementares e as funções psicológicas superiores. Podemos entender por funções psicológicas elementares os reflexos, a atenção involuntária e as associações simples. As funções psicológicas superiores referem-se a mecanismos de ação, como: a capacidade de planejamento, a criatividade, a memória voluntária, a imaginação e a deliberação sobre si e sobre os outros. Com base no pensamento vygotskyano, as funções psicológicas elementares, como a memória involuntária, o pensamento não verbal e os aspectos mais primitivos da atenção e do desejo estão relacionados às características inatas da espécie humana (TRENTIN, 2018) No entanto, o que permite o desenvolvimento das funções psicológicas superiores é a mediação. Sobre a mediação cabe destacarmos que a relação do homem com o mundo físico e social é sempre mediada (TRENTIN, 2018). Assista ao filme: Tarzan. Direção: Kevin Lima, Chris Buck,1999. Ao assistir você perceberá que Tarzan por ser criado por macacos, não teve mediação com o meio social e cultural e, consequentemente, não desenvolveu as funções psicológicas superiores. 24 Dificuldades de Aprendizagem FIGURA 8 - FUNÇÕES PSICOLÓGICAS ELEMENTARES E FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES FONTE: <https://bit.ly/2ZmKbLw>. Acesso em: 11 maio 2019. A figura anterior nos faz entender que a mediação se torna fundamental para o desenvolvimento humano, pois as funções psicológicas superiores se formam a partir dela. Neste contexto, vale destacar que ao nascer o ser humano possui apenas as funções psicológicas elementares. No entanto, por meio da interação e mediação com o meio social e cultural a criança aprende e consequentemente desenvolve as funções psicológicas superiores. Sobre as funções psicológicas superiores Oliveira (1997) destaca que o sujeito só desenvolve as funções psicológicas superiores quando interage socialmente com o meio em que vive. Ou seja, as habilidades do sujeito se desenvolvem à medida que ocorrem relações sociais mediadas por instrumentos e signos. Os Instrumentos são resultados da ação do homem sobre o mundo. Os instrumentos ampliam as possibilidades de transformação da natureza Exemplo: o computador é um instrumento, pois é uma máquina construída pelo homem para facilitar a comunicação e a pesquisa. O automóvel é um instrumento construído para facilitar a locomoção. O machado permite um corte mais afiado e preciso, uma vasilha facilita o armazenamento de água etc. 25 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 Os Signos são construídos culturalmente, sendo ele exclusivamente humano. Exemplo: a linguagem oral e escrita. A linguagem, por exemplo, é toda composta de signos A partir do anunciado sobre instrumentos e signos, podemos evidenciar que segundo Vygotsky (2008), os instrumentos são externos e permitem ao homem agir sobre os objetos. Por sua vez, os signos são internos e não concretos. Assim, podemos compreender que os instrumentos e signos são construídos social e culturalmente, razão pela qual os processos de desenvolvimento e de aprendizagem têm sua gênese na sociedade, como esclarecem Cole e Scribner (2001): Os sistemas de signos (a linguagem, a escrita, o sistema de números), assim como o sistema de instrumentos, são criados pelas sociedades ao longo do curso da história humana e mudam a forma social e o nível de seu desenvolvimento cultural. Vygotsky acreditava que a internalização dos sistemas de signos produzidos culturalmente provoca transformações comportamentais e estabelece um elo entre as formas iniciais e tardias do desenvolvimento individual (COLE; SCRIBNER, 2001, p. 11). A linguagem por sua vez é composta por signos. Sobre a linguagem, cabe destacar que está se caracteriza como um importante signo mediador, uma vez que possibilita a organização do pensamento em categorias conceituais. De acordo com Oliveira (2002), a linguagem é o sistema simbólico mais utilizado pela humanidade. A linguagem sendo construída socialmente e responsável pela mediação entre o sujeito e o meio, configura-se como um princípio que representa a realidade. Como exemplo podemos destacar: a palavra cadeira remete ao objeto concreto cadeira. Perceba que você certamente pode imaginar uma cadeira sem a necessidade de vê-la. A representação mental que você fez ao imaginar a cadeira substituiu o objeto. Essa representação torna-se um traço evolutivo importante, pois possibilita relações mentais na ausência do objeto, ou seja, a abstração. Mediante o exemplo de representação mental apresentando, podemos 26 Dificuldades de Aprendizagem destacar Vygotsky (2008), o qual anuncia que o desenvolvimento do sujeito se concretiza do social para o individual, ou seja, das experiências do meio sociocultural dos indivíduos (processo interpsicológico) para o nível individual de cada sujeito (processo intrapsicológico). Em convergência às concepções de Vygotsky (2008), Oliveira (2002) anuncia que a cultura é essencial para a constituição do ser humano e que, por meio dela, o homem biológico transforma-se em homem sócio-histórico, pois o desenvolvimento psicológico ancora-se nos modos construídos culturalmente em um processo histórico. Livro: A formação social da mente, de L. S. Vygotsky. Editora: Martins Fontes Ano: 2007. Oliveira (2002) ainda acrescenta que Vygotsky propõe quatro planos históricos, sendo eles: • o desenvolvimento da espécie humana (filogênese); • a história cultural da sociedade humana (sociogênese); • a história individual do ser humano (ontogênese) e • as experiências singulares vividas por cada ser humano (microgênese). A filogênese corresponde à história da espécie humana, o que faz do homem resultado parcial da história de sua espécie (SILVA, 2017). A sociogênese se aplica às relações sociais, enquanto fomentadoras das funções psicológicas superiores, uma vez estas têm sua existência na relação mediada com o mundo exterior (SILVA, 2017). A ontogênese diz respeito à evolução de cada ser humano, ao longo da sua vida, em sua trajetória pessoal (SILVA, 2017). A microgênese corresponde à relação que se estabelece entre o psiquismo individual com os demais aspectos:biológico, 27 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 histórico e cultural. Neste plano se encontra a subjetividade, o que possibilita que cada sujeito tenha uma experiência ímpar mesmo diante de situações igualmente vivenciadas. Devido a singularidade de cada sujeito em seu processo psicológico, torna-se impossível que duas pessoas apresentem a mesma trajetória no processo de desenvolvimento e aprendizagem (SILVA, 2017). Vale destacarmos que embora haja uma inter-relação entre os quatro planos (filogênese, sociogênese, ontogênese e microgênese), a mediação se evidencia no plano social e cultural, ou seja, na sociogênese e microgênese. FIGURA 9 - LINGUAGEM FONTE: <https://bit.ly/2L3GNfP>. Acesso em: 11 maio 2019. No contexto que envolve a sociogênese e a microgênese, Schroeder (2007) evidencia que os indivíduos, ao longo da história, se constituíram humanos por meio das relações sociais de produção do conhecimento mediadas pela linguagem. Sobre a linguagem Luria (1986) destaca a importância desta e do pensamento nos processos de elaboração dos conceitos, o que ocorre por meio das relações que o indivíduo estabelece com o mundo, mediadas pelo adulto. Os conceitos, segundo Vygotsky (2008), são instrumentos da cultura, elaborados na relação entre o sujeito e o mundo, ou seja, elaborados em um contexto social e cultural que a eles atribui significados (REGO, 2000). 28 Dificuldades de Aprendizagem Neste contexto emerge as funções psicológicas superiores, ou seja, as formas abstratas de pensamento, que segundo Vygotsky (2007, p. 58), “[...] originam-se das relações reais entre os indivíduos humanos”. No que se refere as formas abstratas de pensamento, evidenciamos a elaboração de conceitos, a qual é destacada por Fontana (2005, p. 12) “como um modo culturalmente desenvolvido dos indivíduos refletirem cognitivamente suas experiências”. Assim, no contexto de elaborações de conceitos, torna-se importante considerar os conteúdos das experiências de cada indivíduo, contemplando “o acesso ao conjunto da cultura humana nas mais variadas situações de aprendizagem” (HOSTINS; SILVA; MENDES, 2016, p. 22), pois a elaboração de conceitos advém das possibilidades que os sujeitos têm, por meio das interações, de se apropriarem do conhecimento historicamente desenvolvido. No entanto, nesse processo, surge a função da linguagem do outro, pois a conceitualização decorre do “processo de incorporação da experiência geral da humanidade, mediada pela prática social, pela palavra (também ela uma prática social), na interação como o(s) outro (s)” (FONTANA, 2005, p. 14). De tal modo, compreende-se que, na elaboração de conceitos, torna-se essencial a mediação do outro fundamentada na palavra (signo) a qual integra o sujeito às formas de atividades consolidadas da cultura, envolto em um processo em que o pensamento e a linguagem se articulam constantemente (TRENTIN, 2018). No contexto que envolve a importância da mediação no desenvolvimento das funções psicológicas superiores, vale destacarmos a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Segundo Vygotsky (2007), a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) É a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VIGOTSKY, 2007, p. 97). O anunciado por Vygotsky (2007) pode ser observado na figura a seguir. 29 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 FIGURA 10 - ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL (ZDP) FONTE: <https://educacaoinfantil.aix.com.br/zona-desenvolvimento-proximal/ zona_desenvolvimento_profissional/>. Acesso em: 11 maio 2019. Conforme exposto na figura anterior, podemos compreender que a Zona de Desenvolvimento Proximal é caracterizada pela distância estabelecida entre os níveis de desenvolvimento “real” e “potencial”. O nível de desenvolvimento real indica o desenvolvimento já alcançado pela criança. O desenvolvimento potencial é o conjunto de atividades que a criança realiza com a ajuda de alguém mais experiente, que possa lhe dar orientações (TRENTIN, 2011). A distância entre esses níveis permite ao professor pontuar o nível potencial apresentado pela criança e, então, reorganizar suas ações pedagógicas, para que o aluno avance do nível potencial para o real. No sentido apontado por Vygotsky (2007), a mediação é primordial na educação escolar no que se refere à Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), pois é por meio dela que ocorre a transformação do processo interpessoal (social), para o processo intrapessoal (individual), ou seja, o sujeito vivencia a atividade no âmbito social, para, depois, internalizá-la, assim ocorrendo o processo de aprendizagem e de desenvolvimento. Assim, com o conceito de ZDP, Vygotsky (2007) anuncia que: [...] uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que 30 Dificuldades de Aprendizagem se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente (VYGOTSKY, 2007, p. 115). Mediante o apresentado sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) ressaltamos a importância da compreensão dos conceitos de aprendizagem e desenvolvimento. A compreensão destes conceitos favorece alterações na prática pedagógica do professor, pois, nos postulados de Vygotsky (2007; 2008), ocorre uma inter-relação entre os dois processos, sendo que o desenvolvimento é posterior a aprendizagem (TRENTIN, 2011). O aprendizado possibilita o desenvolvimento, tornando real o que antes era potencial. 1 Com base na relação existente entre aprendizagem e desenvolvimento, complete o quadro a seguir, apontando o que você compreende por Nível de desenvolvimento real e Nível de desenvolvimento potencial. Nível de desenvolvimento real Nível de desenvolvimento potencial Agora que você já compreendeu a importância da zona de desenvolvimento proximal (ZDP) para a aprendizagem e desenvolvimento da criança, estudaremos na próxima seção as implicações da Perspectivas Histórico-Cultural à aprendizagem escolar. 31 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 4 IMPLICAÇÕES DA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL À APRENDIZAGEM ESCOLAR Aprendemos na seção 2 a relação existente entre aprendizagem e desenvolvimento. No contexto que envolve está relação emergiu Vygotsky (2007; 2008), o qual quebrou paradigmas e postulou a perspectiva histórico-cultural. Segundo González (2006) a perspectiva histórico-cultural traz a aprendizagem como uma produção subjetiva cuja qualidade não está definida apenas pelas operações lógicas que estão na base desse processo, mas sim por todo o processo que abarca a aprendizagem. Assim mediante o que estudamos podemos inferir que a compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento tornam-se de extrema importância para a área educacional, promovendo reflexões significativas para o contexto de sala de aula. FIGURA 11 - APRENDIZAGEM DESDE O NASCIMENTO FONTE: <https://bit.ly/2znAWey>. Acesso em: 11 maio 2019. Reflexões que devem trazer à tona a compreensão de que a aprendizagem e o desenvolvimento ocorrem desde o início de nossas vidas. Ou seja, a aprendizagem e o desenvolvimento, ocorrem desde que nascemos. Assim, podemos entender que não aprendemos e nos desenvolvemos 32 Dificuldades de Aprendizagem somente no momentoem que entramos em contato com a escola, pois quando iniciamos na vida escolar trazemos conosco uma pré-história que precisa ser considerada. Para entendermos melhor este posicionamento, Vygotsky (2008), expõem um exemplo: A criança começa a estudar aritmética, mas já muito antes de ir à escola adquiriu determinada experiência referente a quantidade, encontrou várias operações de divisão e adição, complexas e simples; portanto, a criança teve uma pré-escola de aritmética (VYGOTSKY, 2008 p. 109). Diante do anunciado por Vygotsky (2008), podemos compreender que a criança já chega na escola com conhecimentos e experiências. A escola promove o desenvolvimento da criança, ao orientar e estimular os processos internos por meio das interações sociais, na qual estarão implicados os conceitos científicos. Assim, apreendemos que a escola, enquanto espaço social e cultural, precisa possibilitara criança avanços para estágios de desenvolvimento ainda não trilhados, impulsionando-a a novos conhecimentos e conquistas. Neste contexto, o processo de ensino deve partir do que a criança já sabe, ensinando o que ainda não sabe, mas que é capaz de fazer com a ajuda de outro, ou seja, a zona de desenvolvimento proximal. Conceito este que já estudamos na seção 2. FIGURA 12 - ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL FONTE: <https://www.google.com.br/ search?q=zdp&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwizst 7BttzgAhUOIbkGHWXJBNMQ_ AUIDigB&biw=1093&bih=532#imgrc=IOAqvMsGcgGyWM>. Acesso em: 11 maio 2019. 33 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 Segundo Nunes e Silveira (2009) o conceito de zona de desenvolvimento proximal traz à tona o processo de aprendizagem vinculado ao reconhecimento das possibilidades e singularidades dos alunos, a ação do sujeito frente aos desafios lançados pela situação de ensino e a mediação com o outro. Ao compreendermos o anunciado por Nunes e Silveira (2009) podemos destacar a aprendizagem como um processo dinâmico, contínuo e ligado às interações sociais. FIGURA 13 - INTERAÇÃO ENTRE PROFESSOR E ALUNO FONTE: <https://bit.ly/344buc1>. Acesso em: 11 maio 2019. Neste contexto de interações, o papel do professor é redimensionado. O professor, como sujeito, passa a ser entendido como o “outro social”. Este “outro social” segundo González (2004), passa a ter uma significação no desenvolvimento da criança. Tacca (2004) evidencia que o professor é o outro social essencial para o desenvolvimento intelectual, afetivo, social e de todas as outras dimensões e aspectos que integram a criança como ser humano. Nesta perspectiva, podemos compreender que o professor não pode mais ser considerado o detentor do saber, mas sim um sujeito ativo no processo de aprendizagem. Pois, o professor apresenta papel central no desenvolvimento da criança, visto que ele pode proporcionar novas formas de construção do conhecimento, superando os conceitos espontâneos ou elementares e chegando a conceitos científicos, que se constituem nas interações sociais (TRENTIN, 2011). 34 Dificuldades de Aprendizagem Conceitos espontâneos são construídos no dia-a-dia, fora da sala de aula. Estes conceitos espontâneos carregam na sua estrutura determinantes de origens diversas: sensorial, emocional e afetiva e até mesmo moral, pois são construídos nas relações mediadas pelos familiares, grupos de amizade ou por outros grupos significativos (SCHROEDER, 2007). Conceitos científicos são processos de ensino organizados e sistemáticos, ou seja, os conceitos que aprendemos na escola (SCHROEDER, 2007). As interações sociais no ambiente escolar, em junção com o processo de ensino e de aprendizagem, podem levar os alunos ao desenvolvimento. Vygotsky (2008), ao ressaltar a importância educacional no desenvolvimento, reforça que a Aprendizagem não é em si mesma, desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem. Por isso, a aprendizagem é um momento intrinsecamente necessário e universal para que se desenvolvam na criança essas características humanas não naturais, mas formadas historicamente (VYGOTSKY, 2008, p. 115). Ao compreendermos a importância das relações sociais para a aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos, podemos destacar a necessidade de se lançar novos olhares para as práticas pedagógicas, respeitando as singularidades e as diferenças presentes em cada sujeito (TRENTIN, 2011). No entanto entendemos que a compreensão das singularidades que compõem o processo de aprendizagem exige estudos teóricos e o entendimento do professor sobre a aprendizagem que lhe é proporcionada ao vivenciar essas experiências. Sobre a compreensão das singularidades no processo de aprender se destaca que: O reconhecimento de que os alunos aprendem segundo suas capacidades não surge de uma hora para a outra, só porque as teorias assim afirmam. Acolher as diferenças terá sentido para o professor e fará com que ele rompa com seus posicionamentos sobre o desempenho escolar padronizado e homogêneo dos alunos, se ele tiver percebido e compreendido por si mesmo essas variações, ao se submeter a uma experiência que lhe perpassa a existência. O professor, então, desempenhará o seu papel 35 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 formador, que não se restringe a ensinar somente a uma parcela dos alunos que conseguem atingir o desempenho exemplar esperado pela escola. Ele ensina a todos, indistintamente (ROPOLI et al, 2010, p. 14). Apreendemos que o professor, ao compreender as diferenças, deixa de exigir agilidade de seus alunos, pois a compreensão de que cada sujeito é singular na forma que aprende, atribui menos importância ao “ritmo” de aprendizagem, mas a aprendizagem em si (TRENTIN, 2011). Acrescentamos que a exigência dos professores sobre o ritmo de aprendizagem dos alunos pode impedir a aprendizagem significativa. O tempo de ensino que se desenvolve em uma escola pode originar ou intensificar as dificuldades dos alunos. Quanto mais for a rigidez nos objetivos educativos, mais a homogeneidade nos conteúdos que os alunos devem aprender e menos a flexibilidade organizacional, havendo mais possibilidades de que um maior número de alunos se sinta desvinculado dos processos de aprendizagem e manifeste por isso, mais dificuldades (COLL et al., 2004, p. 20). Coll et al. (2004) ainda permitem entendermos que a prática pedagógica é determinada na forma como os alunos são compreendidos e o professor, por meio dessa compreensão, poderá contribuir com a aprendizagem. O professor, ao objetivar um ensino que vise à homogeneidade na forma de aprender, tentando enquadrar todos os alunos em padrões pré-estabelecidos, pode fazer com que esse comportamento repercuta negativamente nos ritmos de aprendizagem. FIGURA 14 - DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM FONTE: Disponível em: < https://bit.ly/2ZBgm90 >. Acesso em: 11 maio 2019. 36 Dificuldades de Aprendizagem Assim, destacamos que a compreensão das singularidades no processo de aprendizagem possibilita o entendimento sobre as dificuldades de aprendizagem. Mediante este entendimento, as dificuldades de aprendizagem passam a ser entendidas como uma forma diferente de se aprender e não uma impossibilidade de aprender (PEREIRA, 2011). Ao nos remetermos as dificuldades de aprendizagem, podemos destacar Vygotsky (1997) que postulou os fundamentos da Defectologia. A Defectologia foi utilizada para designar a ciência que estudava crianças com defeitos mentais e físicos, introduzindo uma abordagem sobre deficiência. Abordagem esta, a qual traz elementos significativos para a compreensão do sujeitoque por algum motivo apresenta uma forma diferenciada de aprender. Vygotsky (1997) esclarece que a deficiência, ou a dificuldade de aprendizagem, que é o foco de nosso estudo, não deve ser compreendida somente como primária (biológica), mas, principalmente, como secundária (social) (TRENTIN, 2011). Esses conceitos contribuem para o entendimento de como ocorre a aprendizagem. Tais contribuições, vinculadas à prática pedagógica, podem promover a inclusão de todos os alunos no processo de aprender. Ainda sobre a Defectologia, vale destacarmos que Vygotsky (1997) parte do pressuposto de que as leis que regem o desenvolvimento são as mesmas, aplicando-se o mesmo teor ao processo de ensino e de aprendizagem. Para o Vygotsky (1997) a criança comprometida por algum “defeito” não é menos desenvolvida do que as outras crianças, porém ela se desenvolve de maneira peculiar, aspecto que o professor precisa compreender. Assim, podemos ressaltar que as diferenças percebidas na forma de desenvolvimento, estão na maioria das vezes relacionadas à mediação do contexto social (secundária) e não aos aspectos biológicos (primária) (TRENTIN, 2011). Neste contexto, emerge o entendimento de que o desenvolvimento das funções psicológicas superiores se desenvolve mediante as relações estabelecidas com o meio. Assim, as tentativas de generalizar o processo de desenvolvimento não se justificam, uma vez que esse processo não é linear e tampouco igual para todos, pois ele depende das experiências vivenciadas e dos sentidos a elas aplicadas (PEREIRA, 2011). Diante do destacado por Pereira (2011) podemos inferir que, a criança, independente de ter ou não algum “defeito”, tem um desenvolvimento peculiar e 37 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 por isso precisa ter o seu processo de aprendizagem investigado, pois segundo Vygotsky (1997): Para a educação da criança [...], o importante é conhecer como ela se desenvolve, não é importante a insuficiência em si, a carência, o déficit, o defeito em si, mas a reação que nasce na personalidade da criança durante o processo de desenvolvimento em resposta à dificuldade com a qual tropeça e que deriva dessa insuficiência. A criança não está constituída apenas de defeito e carências, seu organismo se reestrutura como um todo único. Sua personalidade vai se equilibrando como um todo, vai sendo compensada pelos seus processos de desenvolvimento (VIGOTSKI, 1997, p. 134). Ao analisarmos as palavras de Vygotsky (1997), entendemos que o professor se torna central no desenvolvimento da criança, visto que ele pode proporcionar novas formas de construção do conhecimento, por meio das interações sociais. Frente ao que estudamos até o momento, podemos entender que as dificuldades encontradas no processo de aprendizagem precisam impulsionar nos professores a reflexão e a transformação da prática pedagógica, por meio de diferentes metodologias e estratégias de ensino visando à superação e buscando, por meio dessa, um ensino de qualidade para todos (TRENTIN, 2011). Para Beyer (2006, p. 109), “não custa lembrar a máxima vygotskyana, que afirma que a pedagogia deve buscar conectar o amanhã e o hoje evolutivo da criança, ou conforme outra formulação vygotskyana, que o bom ensino deve sempre se adiantar ao desenvolvimento”, possibilitando novos olhares, buscando uma educação para a diversidade. Assim inferimos que a aprendizagem ocorre a partir da interação e do desenvolvimento de práticas pedagógicas que contemplem as singularidades existentes em sala de aula. Neste sentido, compreendemos a escola como “um espaço de todos, no qual os alunos constroem o conhecimento segundo suas capacidades, expressam suas ideias livremente, participam ativamente das tarefas de ensino e se desenvolvem como cidadãos, nas suas diferenças” (ROPOLI et al., 2010, p. 9). Na escola o professor precisa trabalhar com todos os alunos em suas diferenças, propiciando oportunidades de aprendizagens, utilizando-se de recursos e estratégias que viabilizem o processo de construção do conhecimento. Isso porque, “para a educação, não é tão importante ensinar certo volume de conhecimento quanto educar a habilidade para adquirir esses conhecimentos e utilizá-los” (VYGOTSKY, 2004, p. 448). 38 Dificuldades de Aprendizagem Vygotsky (2004) ainda ressalta que ao professor: cabe-lhe tornar-se o organizador do meio social, onde ele desempenha o papel de simples bomba que inunda os alunos com conhecimentos não podendo ser substituído com êxito por um manual, um dicionário, um mapa, uma excursão. Quando o professor faz uma conferência ou explica uma aula, apenas em parte está no papel do professor, exatamente naquele que estabelece a relação da criança com os elementos do meio que agem sobre ela (VYGOTSKY, 2004, p. 448). Assim, torna-se fundamental que o professor assuma o papel de mediador, estabelecendo as relações do aluno com o meio, proporcionando a construção de conhecimentos. No processo que envolve a construção de conhecimentos, a perspectiva histórico-cultural apresenta a avaliação como um processo de aproximação entre o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP). Na avaliação não basta verificar condições atuais do desempenho escolar da criança. Sua condição intelectual somente poderá ser devidamente avaliada quando ocorrerem situações de mediações, em que conceitos e informações venham a provocar a consolidação, pela criança, da sua Zona de Desenvolvimento Proximal (BEYER, 2006, p. 94). FIGURA 15 - AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM FONTE: <https://bit.ly/2VdoQ0>. Acesso em: 11 maio 2019. Entendemos que a mediação se torna primordial na realização de atividades para que o professor consiga visualizar o potencial de cada aluno, proporcionando novas situações de aprendizagem e a elaboração de práticas pedagógicas que vislumbrem as necessidades de cada aluno (TRENTIN, 2011). A avaliação voltada para a compreensão das necessidades educacionais dos 39 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 alunos, aponta para ações que se distanciam dos procedimentos tradicionais, os quais se preocupam em classificar os alunos no processo de aprendizagem, pois a avaliação de caráter classificatório, a qual ocorre por meio de notas, provas e outros instrumentos similares, mantém a repetência e a exclusão nas escolas. “No entanto a avaliação contínua e qualitativa da aprendizagem, com a participação do aluno, tendo, inclusive, a intenção de avaliar o ensino oferecido e torná-lo cada vez mais adequado à aprendizagem de todos os alunos conduz a outros resultados” (ROPOLI et al, 2010, p. 15). Resultados estes, os quais envolvem a compreensão de que a aprendizagem é mais que a reprodução. Sobre a avaliação, Hoffmann (2001, p. 41) afirma que: “a finalidade primeira da avaliação é sempre promover a melhoria da realidade educacional e não descrevê-la ou classificá-la”. Nesse sentido, avaliar significa questionar, promover experiências que instiguem provocações intelectuais para o desenvolvimento do aluno. Sempre que a avaliação levar em conta parâmetros comparativos, descartando as singularidades de cada aluno e o princípio de favorecer-lhe a oportunidade de aprendizagem, ela será excludente. Sobre essa exclusão, Beyer (2006) destaca que “os preconceitos derivados de processos de avaliação mal elaborados são particularmente nocivos, porque atingem a criança na formação de sua auto imagem, o que pode vir a se constituir num prejuízo ainda maior para a superação das dificuldades no âmbito escolar” (BEYER, 2006, p. 96). Nesse sentido, vale destacar que o avaliar significa questionar e promover experiências que instiguem provocações intelectuais para o desenvolvimento do aluno. O professor neste contexto priorizaráa avaliação do desenvolvimento das “competências dos alunos diante de situações-problema em detrimento da memorização de informações e da reprodução de conhecimentos sem compreensão, cujo objetivo é apenas tirar boas notas e ser promovido” (MANTOAN, 2003, p. 39). Frente às reflexões realizadas sobre as implicações da Perspectiva Histórico-Cultural à Aprendizagem Escolar, consideramos que a prática pedagógica necessita possibilitar estratégias para auxiliar no desenvolvimento das potencialidades de todos os alunos no processo de aprendizagem. 40 Dificuldades de Aprendizagem 1 Faça uma reflexão sobre as implicações da Perspectiva Histórico- Cultural à Aprendizagem Escolar e com base em suas próprias experiências como professor ou aluno, disserte sobre o papel do professor frente a aprendizagem. R.:____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________ ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Neste primeiro capítulo, aprendemos que a aprendizagem vem sendo estudada desde a antiguidade, tornando-se um conceito histórico e complexo, compreendendo, assim, que o conceito de aprendizagem se remete diretamente às concepções de sujeito, de mundo e de desenvolvimento humano. Vimos ainda que neste contexto de concepções sobre a aprendizagem emergiram teorias, como o Empirismo, o qual defende que a aprendizagem tem origem a partir da experiência; o Inatismo, que considera que as condições para a aprendizagem do sujeito são pré-determinadas; e o Construtivismo, o qual anuncia a aprendizagem como um processo contínuo, construído por meio da interação ativa do sujeito com o meio (físico e social), a qual ocorre através de sucessivas assimilações, acomodações e equilibrações. A partir da compreensão das teorias supracitadas, buscamos nos estudos de Vygotsky (2007; 2008) a relação entre os processos de aprendizagem e desenvolvimento, descobrindo que a aprendizagem e o desenvolvimento estão alicerçados nas funções psicológicas elementares e nas funções psicológicas superiores, que se tornam essenciais a mediação com o mundo físico e social. No contexto que envolve a importância da mediação no desenvolvimento das funções psicológicas superiores, encontramos a Zona de Desenvolvimento 41 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 Proximal (ZDP), a qual torna-se essencial para o processo de aprendizagem e desenvolvimento. A partir do contexto vivenciado sobre a aprendizagem e desenvolvimento, iremos ao próximo capítulo estabelecer discussões sobre as Dificuldades de Aprendizagem na Escola. 42 Dificuldades de Aprendizagem REFERÊNCIAS ARAÚJO FILHO, T. Gestão da Extensão: meios para interação universidade- sociedade. In: 5º Fórum de extensão universitária da acafe, Blumenau. Anais. Blumenau: EDIFURB, 2004. BEE, H. A criança em desenvolvimento. 7. ed. Porto Alegre: Artemed, 1996. BEYER, H. O. Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educacionais especiais. Porto Alegre: Mediação, 2006. COLE, M., SCRIBNER, S. Introdução. In: VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: transtorno de desenvolvimento e necessidades educativas especiais. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. COLL, C.; MARCHESI, A.; PALACIOS, J. Desenvolvimento psicológico e educação: necessidades educativas especiais e a aprendizagem escolar. v.3. Porto Alegre: Artmed, 1995. FONTANA, R. A. C. Mediação pedagógica na sala de aula. Campinas, SP: Autores Associados, 2005. HOFFMANN, J. M. L. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré- escola à universidade. 26. ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. HOFFMANN, J. M. L. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2001. GONZÁLEZ R, F. O sujeito, a subjetividade e o outro na dialética complexa do desenvolvimento humano. In: SIMÃO e MARTÍNEZ (orgs). O outro no desenvolvimento humano. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. GONZÁLEZ R, F. O sujeito que aprende: desafios do desenvolvimento do tema da aprendizagem na psicologia e na prática pedagógica. In: TACCA, Maria Carmen V. R. (org). Aprendizagem e trabalho pedagógico. Campinas, SP: Alínea, 2006. HOSTINS, R. C. L.; SILVA, C.; MENDES, R. O lugar do Atendimento Educacional Especializado nas práticas culturais de escolarização em 43 Aprendizagem e o Contexto Escolar Capítulo 1 contextos de inclusão escolar. Revista Linhas. Florianópolis, v. 17, n. 35, p. 10-29, set./dez. 2016. LEIBNIZ, G. W. Novos ensaios sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1979. LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. Lisboa: Livros Horizonte, 1978. LURIA, A. R. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Tradução Diana Myriam Lichtenstein. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. MANTOAN, M.T. E. Inclusão escolar: O que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003. NUNES, Ana I. B. L.; SILVEIRA, Rosemary do N. Psicologia da aprendizagem: processos, teorias e contextos. Brasíia: Líber Livro, 2009. OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio- histórico. São Paulo: Scipione, 1997. OLIVEIRA, B. I. Reflexões acerca da organização curricular e das práticas pedagógicas. Revista Educar. Curitiba, n.29, p. 83-100, 2002. PIAGET, J. Para onde vai à educação? Rio de Janeiro: José Olímpio, 2007. REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000. PEREIRA, C. R. K. Diagnóstico de dificuldade de aprendizagem: construção, concepção e expectativas. Dissertação. Mestrado em Educação. UNB, 2011. ROPOLI, E. A. et al. A educação especial na perspectiva da Inclusão Escolar: a escola comum inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial; Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, 2010. RUBINSTEIN, Edith. A psicopedagogia e a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo. In: SCOZ, Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991. SCHROEDER, E. Conceitos espontâneos e conceitos científicos: o processo da construção conceitual em Vygotsky. Atos de pesquisa em educação – FURB. 44 Dificuldades de Aprendizagem v. 2, nº 2, maio/ago. 2007. SILVA, C. J. A invenção da dificuldade de aprendizagem pela escola. Dissertação. Mestrado em Educação. PUC-GO, 2017. TACCA, Maria Carmen V. R. Além de professor e de aluno: a alteridade nos processos de aprendizagem e desenvolvimento. In: SIMÃO e MARTÍNEZ (orgs). O outro no desenvolvimento humano. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004. TRENTIN, B. V. Escolarização de jovens com deficiência intelectual na EJA. Tese. Doutorado em Educação. UNIVALI, 2018. TRENTIN, B. V. Às vezes parece que eles entendem...: a compreensão dos educadores sobre a inclusão escolar. Dissertação mestrado em educação. FURB, 2011. VALDEMARIN, Vera Teresa. Os sentidos e a experiência: professores, alunos e métodos de ensino. In: SAVIANI, Dermeval (et al.). O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2004. VYGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2004. VYGOTSKY, L. S. Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In: LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2003. VYGOTSKY, L. S. A formação socialda mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2008. VYGOTSKY, L. S. Obras escogidas V: fundamentos de defectologia. Madrid: Visor, 1997. CAPÍTULO 2 Dificuldades de Aprendizagem na Escola A partir da perspectiva do saber-fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender o conceito do termo dificuldades de aprendizagem. � Analisar as necessidades dos alunos com dificuldade de aprendizagem no contexto escolar. � Identificar as possíveis causas das dificuldades de aprendizagem. � Reconhecer as causas da dificuldade de aprendizagem na leitura e escrita. � Reconhecer a importância do diagnóstico. 46 Dificuldades de Aprendizagem 47 Dificuldades de Aprendizagem na Escola Capítulo 2 1 CONTEXTUALIZAÇÃO No capítulo anterior, compreendemos que a escola inclusiva necessita estar atenta para singularidade no processo de aprendizagem. Sobre a compreensão das singularidades no processo de aprender, destacamos que o reconhecimento de que os alunos aprendem segundo suas capacidades não surge de uma hora para a outra, só porque as teorias assim afirmam. Acolher as diferenças terá sentido para o professor e fará com que ele rompa com seus posicionamentos sobre o desempenho escolar padronizado e homogêneo dos alunos, se ele tiver percebido e compreendido por si mesmo essas variações, ao se submeter a uma experiência que lhe perpassa a existência. O professor, então, desempenhará o seu papel formador, que não se restringe a ensinar somente a uma parcela dos alunos que conseguem atingir o desempenho exemplar esperado pela escola. Ele ensina a todos, indistintamente (ROPOLI et al., 2010). Partindo do que estudamos, podemos inferir, que em uma escola inclusiva, o professor precisa trabalhar com todos os alunos em suas diferenças, propiciando oportunidades de aprendizagens, utilizando-se de recursos e estratégias que viabilizem o processo de construção do conhecimento. Assim, destacamos que a compreensão das singularidades no processo de aprendizagem possibilita o entendimento sobre as dificuldades de aprendizagem. Mediante este entendimento, as dificuldades de aprendizagem passam a ser entendidas como uma forma diferente de se aprender e não uma impossibilidade de aprender (PEREIRA, 2011). Para apreendermos o que é a dificuldade de aprendizagem, buscaremos nesse capítulo compreender o conceito, identificar as possíveis causas das dificuldades de aprendizagem e reconhecer a importância do diagnóstico. 2 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: CONCEITO Ao compreendermos o conceito de aprendizagem e as singularidades que envolvem este processo, podemos evidenciar que toda criança tem possibilidades para aprender. No entanto, quando a aprendizagem não acontece, mesmo com a transformação da prática pedagógica, por meio de diferentes metodologias e 48 Dificuldades de Aprendizagem estratégias de ensino, devemos compreender este não aprendizado como sinal de alerta para que ocorram investigações. Investigações as quais, devem abarcar questionamentos acerca dos fatores que possam estar contribuindo para que a criança não consiga aprender. Entretanto apenas a identificação das dificuldades não é suficiente, torna-se essencial um estudo teórico sobre como superar os problemas que causam obstáculos à aprendizagem. É neste contexto que emerge a necessidade de se compreender as dificuldades de aprendizagem. As dificuldades de aprendizagem tem sido tema de investigações de diversos profissionais, os quais preocupados com a aprendizagem procuram desvelar as causas das dificuldades de aprendizagem escolar. No entanto, Fonseca (1995, p. 72) denota que “não se conseguiu ainda neste campo de pesquisa, um consenso na definição das dificuldades de aprendizagem, porque as definições têm surgido das necessidades sociais e políticas, mais do que dos pressupostos empíricos e científicos”. Assim para iniciarmos discussões sobre as dificuldades de aprendizagem, podemos destacar a National Joint Commitee of Learning Desabilities (NJCLD), a qual, em 1988, buscou promover uma definição sobre o termo, publicando que as dificuldades de aprendizagem estão ligadas a um conjunto de transtornos que se manifestam por meio de problemas, trazendo como exemplo a escrita e as operações matemáticas. Mediante a definição apresentada pela National Joint Commitee of Learning Desabilities (NJCLD, 1988) compreende-se que o conceito de dificuldade de aprendizagem está ligado diretamente às dificuldades de caráter pedagógico. Sendo que esta dificuldade de caráter pedagógico é temporária e ocorre devido a diversos fatores que podem estar relacionados ao indivíduo, à escola ou ao ambiente (CAPELLINI, 2004). Ou seja, a dificuldade de aprendizagem pode estar relacionada a algum acontecimento ou situação: mudança de escola, troca de professor, chegada de um irmão, separação dos pais etc. No entanto, o termo Learning Desabilities, cuja tradução relaciona-se com “incapacidades de aprendizagem” foi traduzido e interpretado no Brasil como distúrbios de aprendizagem (MANO; MARCHELLO, 2015). Ao tentarmos descrever a diferença entre dificuldades de aprendizagem e distúrbios de aprendizagem nos deparamos com equívocos na literatura, pois muitas vezes o termo distúrbio de aprendizagem aparece como sinônimo de dificuldade de aprendizagem, problema de aprendizagem e dificuldade na escola. Isto ocorre, principalmente, pela tradução errônea do termo proposto pela NJCLD, 49 Dificuldades de Aprendizagem na Escola Capítulo 2 ou seja, o termo Learning Desabilities (CIASCA, 2008; MANO; MARCHELLO, 2015). Apesar dos equívocos referentes ao conceito, emerge um questionamento: O que significa dificuldade de aprendizagem? Segundo Capellini (2011) as dificuldades de aprendizagem se caracterizam por um grupo heterogêneo de manifestações que ocasionam rendimento acadêmico insuficiente nas tarefas de leitura, escrita e cálculo-matemático. Apesar da definição apontada, Capellini (2011), ressalta que não existe um consenso sobre a definição do conceito, nem como, porque ou quando elas se manifestam. É interessante destacar que a maior parte dos problemas que envolvem a Dificuldade de Aprendizagem podem ser resolvidos no ambiente escolar, pois se trata de questões pedagógicas. Frente ao conceito apontado, vale destacarmos que as dificuldades de aprendizagem podem ser categorizadas como transitórias e podem ocorrer em qualquer momento no processo de ensino e aprendizagem. Sob esta ótica, também pode ser considerada como uma dificuldade específica da atividade escolar e diz respeito à discrepância entre o que se presume que a criança seja potencialmente capaz de aprender em sala de aula e o que ela realmente realiza (CAPELLINI, 2011; MANO; MARCHELLO, 2015). Considerando o que apresentamos sobre a dificuldade de aprendizagem, buscaremos conhecer o termo Distúrbios de Aprendizagem. Você sabe o que significa esse termo? Vamos compreender qual é a diferença entre Dificuldades de Aprendizagem e Distúrbios de Aprendizagem? FIGURA 1 - DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM OU DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM? QUAL A DIFERENÇA? FONTE: <https://bit.ly/2w2f19b>. Acesso em: 12 maio 2019. 50 Dificuldades de Aprendizagem Pesquisadores como (MARTINELLI, 2007; GURGEL, 2011) são categóricos em afirmar que as dificuldades de aprendizagem não estão ligadas a questão de caráter orgânico. Mas que os distúrbios de aprendizagem incidem da questão orgânica (MANO e MARCHELLO, 2015). Na perspectiva apresentada, Mano e Marchello (2015) ressaltam que as dificuldades de aprendizagem são diferentes dos distúrbios de aprendizagem. As dificuldades de aprendizagempodem ocorrer em crianças que não apresentam nenhum destes problemas citados (comprometimento físico, emocional e intelectual), mas apresentaram algum atraso no desempenho acadêmico (MANO; MARCHELLO, 2015). A dificuldade de aprendizagem, muitas vezes, é confundida com distúrbios de aprendizagem. No entanto, devemos compreender que quando falamos em distúrbio de aprendizagem, trata-se de um quadro de disfunção neurológica. Distúrbios de aprendizagem são de ordem neurológica, com comprometimentos físicos, sensoriais e intelectuais (MANO; MARCHELLO, 2015). Sobre os distúrbios de aprendizagem Nutti (2002), ressalta que estes se constituem em uma anormalidade ou patologia que prejudica de maneira violenta o processo ou curso normal da aprendizagem, na qual se vincula o problema ao ponto de vista orgânico. Nutti (2002) ainda destaca a análise etimológica da palavra distúrbio: Etimologicamente, a palavra distúrbio compõe-se do radical turbare e do prefixo dis. O radical turbare significa “alteração violenta na ordem natural” e pode ser identificado também nas palavras turvo, turbilhão, perturbar e conturbar. O prefixo dis tem como significado “alteração com sentido anormal, patológico” e possui valor negativo. O prefixo dis é muito utilizado na terminologia médica (por exemplo: distensão, distrofia). Em síntese, do ponto de vista etimológico, a palavra distúrbio pode ser traduzida como “anormalidade patológica por alteração violenta na ordem natural (NUTTI, 2002, p. 2). Segundo Ciasca (2008), em meados do século passado, instituições iniciaram investigações no campo que envolve os problemas de aprendizagem. Neste cenário a National Joint Committee of Learning Disabilities (NJCLD, 1988) propôs uma definição de Distúrbios de Aprendizagem. Distúrbio de Aprendizagem (DA) como um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades significativas na aquisição e uso da escrita, fala, leitura, raciocínio ou habilidade matemática. Estes transtornos são intrínsecos ao indivíduo, supondo-se ocorrerem devido à disfunção do sistema 51 Dificuldades de Aprendizagem na Escola Capítulo 2 nervoso central, e que podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto ao distúrbio de aprendizagem problemas nas condutas de autorregulação, percepção e interação social, mas não constituem, por si só um distúrbio de aprendizagem (CIASCA, 2008, p. 24). Frente ao anunciado, Ciasca (2008) traz uma válida diferenciação entre os termos dificuldade e distúrbios de aprendizagem. Segundo Ciasca (2008) a dificuldade de aprendizagem está associada a questões psicopedagógicas ou socioculturais, não se centrando a dificuldade apenas no aluno. Já os distúrbios de aprendizagem estão vinculados diretamente ao aluno, uma vez que pressupõem a existência de comprometimentos orgânicos, sendo desta maneira mais direcionado ao contexto clínico. As causas dos distúrbios de aprendizagem são orgânicas, biológicas e neurológicas. Assim, torna-se importante nunca confundir o distúrbio com a dificuldade de aprendizagem, pois ambos apresentam causas completamente diferentes, além de soluções distintas para os casos apresentados pelos alunos. A partir dos autores citados anteriormente, a respeito dos distúrbios de aprendizagem, podemos entender que as causas desses distúrbios, diferentemente do que ocorre com as dificuldades de aprendizagem, são orgânicas, biológicas e neurológicas. Assim, seguindo este entendimento, apreenderemos a seguir a definição apresentada para este termo, segundo a DSM-5. Atualmente, a descrição para os distúrbios de aprendizagem é encontrada em manuais internacionais de diagnóstico, tanto no CID-10, elaborado pela Organização Mundial de Saúde (1992), como no DSM-V, organizado pela Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2014). Esses manuais não utilizam o termo “distúrbio”, mas sim, “transtorno”. Ambos os manuais reconhecem a falta de exatidão do termo "transtorno", justificando seu emprego para evitar problemas ainda maiores, inerentes ao uso das expressões "doença" ou "enfermidade" (APA, 2014). 52 Dificuldades de Aprendizagem FIGURA 2 - MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DOS TRANSTORNOS MENTAIS (DSM-5) FONTE: Disponível em: <https://bit.ly/2HeOA8h>. Acesso: 13 maio 2019. Os transtornos de aprendizagem, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-5) fazem parte dos Transtornos do Neurodesenvolvimento. O DSM é regulado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA). Nele se contemplam os aspectos clínicos, estatísticos e epidemiológicos dos transtornos mentais (APA, 2014). Os Transtornos do Neurodesenvolvimento trata-se de um conjunto de condições que se iniciam no período de desenvolvimento do sujeito, geralmente antes do ingresso na escola. Assim, vale destacar que os déficits característicos desses transtornos vão de limitações especificas na aprendizagem ou no controle de funções executivas à prejuízos em habilidades sociais (APA. 2014). No Quadro 1, a seguir, são apresentados os Transtornos do Neurodesenvol- vimento que compõem o capítulo da DSM-5. QUADRO 1- TRANSTORNOS DO NEURODESENVOLVIMENTO TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO DSM-5 Deficiências Intelectuais Transtornos de Comunicação Transtorno do Espectro Autismo Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade Transtorno Específico da Aprendizagem Transtornos Motores Outros Transtornos do Neurodesenvolvimento FONTE: APA (2014). 53 Dificuldades de Aprendizagem na Escola Capítulo 2 Mediante a compreensão aqui elucidada sobre o que significa o Transtorno do Neurodesenvolvimento iniciaremos discussões sobre o transtorno específico da aprendizagem. Segundo o DSM-5, o transtorno específico da aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento com uma origem biológica que é a base das anormalidades no nível cognitivo as quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais com eficiência e exatidão (APA, 2014). Epigenética consiste nas modificações das funções genéticas que são herdadas, mas que por sua vez não alteram a sequência do DNA do indivíduo (APA, 2014). Segundo o DSM-5, o transtorno específico da aprendizagem, como o nome implica, é diagnosticado diante de déficits específicos na capacidade individual para perceber ou processar informações com eficiência e precisão (APA, 2014). Esse transtorno manifesta-se, inicialmente, durante os anos de escolaridade formal, caracterizando-se por dificuldades persistentes e prejudiciais nas habilidades básicas acadêmicas de leitura, escrita e/ou matemática (APA, 2014). Crianças com um transtorno específico da aprendizagem podem parecer desatentas devido a frustração, falta de interesse ou capacidade limitada (APA, 2014). Uma característica essencial do transtorno específico da aprendizagem são as dificuldades persistentes para aprender habilidades acadêmicas fundamentais. As habilidades acadêmicas fundamentais incluem: • a leitura exata e fluente de palavras isoladas; • a compreensão da leitura; • a expressão escrita e ortografia; • os cálculos aritméticos e raciocínio matemático (solução de problemas matemáticos) (APA, 2014). No entanto, a criança com transtorno específico da aprendizagem apresenta: • Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (p. ex., lê palavras isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente adivinha palavras, tem dificuldade de soletrá-las) (APA, 2014); 54 Dificuldades de Aprendizagem • Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (p. ex.,
Compartilhar