Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Os ecossistemas aquáticos Prof.ª Tauany Aparecida da Silva Santa Rosa Rodrigues Descrição A caracterização da estrutura fundamental dos ecossistemas aquáticos, as propriedades da água e os principais ecossistemas aquáticos do Brasil. Propósito A caracterização dos ecossistemas aquáticos, dulcícolas e marinhos, e seu funcionamento com base nas propriedades físicas e químicas da água, constitui tópico importante para os profissionais da área ambiental que, a partir deste conteúdo, conhecerão um pouco da diversidade desses ecossistemas no Brasil e sua importância para a manutenção da vida no planeta. Objetivos Módulo 1 Características gerais dos ecossistemas aquáticos Identificar as principais características dos ecossistemas aquáticos dulcícolas e marinhos. 14/08/2022 11:48 Página 1 de 46 Módulo 2 Propriedades físicas e químicas da água e sua importância Reconhecer as propriedades físicas e químicas da água. Módulo 3 Principais ecossistemas aquáticos brasileiros Reconhecer os principais ecossistemas aquáticos brasileiros. Introdução Os ecossistemas aquáticos ocupam a maior parte da superfície do planeta e abrigam grande parte de sua biodiversidade. Por conta de suas características, fornecem benefícios essenciais para a manutenção da vida não só dos organismos aquáticos, mas também dos terrestres, incluindo nós, seres humanos. Sua importância inclui desde a provisão de água e alimento até a regulação do clima. Reconhecer as características que definem os ecossistemas aquáticos como uma unidade é fundamental para compreender sua estrutura e seu funcionamento, assim como para dimensionar sua importância. Dessa forma, neste conteúdo, apresentaremos a estrutura básica dos ecossistemas aquáticos (incluindo as particularidades dos ecossistemas dulcícolas e marinhos), os fatores que influenciam seu funcionamento (incluindo aqueles relacionados às características físico-químicas da água), bem como os tipos de ecossistemas aquáticos mais representativos no nosso país. ! 14/08/2022 11:48 Página 2 de 46 1 - Características gerais dos ecossistemas aquáticos Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as principais características dos ecossistemas aquáticos dulcícolas e marinhos. Definindo os ecossistemas aquáticos Os ecossistemas aquáticos são aqueles compostos por água e por organismos adaptados à vida na água. Os ecossistemas aquáticos ocupam cerca de 70% da superfície do planeta Terra, sendo este o único planeta que possui água em seus três estados físicos – sólido, líquido e gasoso. Além de abrigar grande parte da biodiversidade do planeta, os ecossistemas aquáticos fornecem serviços ecossistêmicos essenciais para a manutenção da vida como um todo, tais como provisão de água, recursos alimentares e regulação do clima. 14/08/2022 11:48 Página 3 de 46 Serviços ecossistêmicos relacionados aos ecossistemas aquáticos. Os ecossistemas aquáticos são bastante diversos e sua classificação varia em função da estrutura física e dos parâmetros físico-químicos da água. De maneira geral, podemos classificá-los em: Ecossistemas aquáticos dulcícolas Com água doce ou pouco salina. Ecossistemas aquáticos marinhos Com água salina. Apesar de suas particularidades, os ecossistemas aquáticos possuem características em comum que os definem como uma unidade. E são as propriedades da água que determinam grande parte dessas características em comum, como, por exemplo: a capacidade de absorver grandes quantidades de calor apresentando pouca variação na temperatura. Essa capacidade em particular permite que os ecossistemas aquáticos possuam maior estabilidade térmica quando comparados aos ecossistemas terrestres. De maneira geral, os ecossistemas aquáticos possuem menor variação dos parâmetros físico-químicos em comparação aos ecossistemas terrestres. Outra característica é que o meio aquoso dissolve mais substâncias do que qualquer outro solvente natural 14/08/2022 11:48 Página 4 de 46 Outra característica é que o meio aquoso dissolve mais substâncias do que qualquer outro solvente natural e, por isso, a absorção de nutrientes e consequente transformação da matéria por organismos aquáticos em seus ecossistemas é mais rápida do que nos ecossistemas terrestres. Devido à alta capacidade de solubilização de compostos orgânicos e inorgânicos, o ciclo biogeoquímico de diversos nutrientes é mais rápido nos ecossistemas aquáticos, garantindo alta produtividade primária e rápida decomposição da matéria orgânica. A taxa de produtividade primária nos ecossistemas aquáticos é similar à taxa dos ecossistemas terrestres. Essa equivalência é explicada especialmente pelo fato de os ecossistemas aquáticos marinhos possuírem maior extensão territorial em relação aos terrestres. Apesar de a taxa de produtividade primária ser similar entre os ecossistemas terrestres e aquáticos, os produtores primários aquáticos são mais eficientes. Isso significa que: Atenção! Se compararmos a produtividade de determinada biomassa de produtores primários terrestres (árvores) e aquáticos (fitoplâncton), os aquáticos serão capazes de produzir mais do que os terrestres. Já a decomposição da matéria orgânica ocorre não só no sedimento dos ecossistemas aquáticos, mas também ao longo de toda a coluna d'água, especialmente nos ecossistemas marinhos. Além da presença da cadeia alimentar sustentada por organismos autotróficos (aqueles que produzem o próprio alimento), a cadeia detritívora (sustentada por organismos que se alimentam da matéria orgânica) também possui grande importância nos ecossistemas aquáticos, com destaque para o papel da comunidade microbiana nesse processo. A cadeia trófica aquática possui estrutura similar à dos ecossistemas terrestres – os produtores primários constituem a base da cadeia alimentar, sustentando os demais níveis tróficos (consumidor primário, consumidor secundário e consumidor terciário) –, porém há maior ocorrência de mixotrofia (organismos que são autotróficos e heterotróficos). Outra característica é que os ecossistemas aquáticos não possuem barreiras tão bem definidas quanto os ecossistemas terrestres e, por isso, a dispersão nesses ambientes em geral ocorre de maneira dinâmica por todo o espaço. 14/08/2022 11:48 Página 5 de 46 Fatores abioticos influenciam os ecossistemas aquáticos. Ainda, os ecossistemas aquáticos são influenciados por uma série de fatores abióticos que determinam as condições físico-químicas do ambiente, da mesma forma que os ecossistemas terrestres. Luminosidade, temperatura, salinidade, disponibilidade de nutrientes, oxigênio e gás carbônico são exemplos de parâmetros importantes para o funcionamento dos ecossistemas aquáticos. Parâmetros esses que não agem isoladamente, mas interagem entre si. Mais à frente, vamos nos aprofundar sobre três desses fatores mais importantes: luminosidade, temperatura e salinidade. O metabolismo aquático O metabolismo aquático é definido pela movimentação de nutrientes entre os elementos bióticos (organismos aquáticos) e abióticos (compartimentos aquáticos) do ecossistema, bem como pelo fluxo de energia entre os mesmos. O metabolismo compreende três etapas: " Produção # Consumo $ Decomposição A produção é realizada pelos organismos autotróficos, que produzem a própria energia a partir da luz, da 14/08/2022 11:48 Página 6 de 46 A produção é realizada pelos organismos autotróficos, que produzem a própria energia a partir da luz, da água e do gás carbônico, por meio do processo conhecido como fotossíntese. A fotossíntese é realizada pelos produtores primários dos ecossistemas aquáticos, que são algas, perifíton e macrófitas aquáticas. O princípio geral é que os produtores primários produzem a própria matéria orgânica, sendo uma parte incorporada por eles e utilizada para a manutenção do próprio metabolismo, enquanto outra parte é incorporada em biomassa que servirá como fonte de energia para outros organismos aquáticos ao longo da cadeia alimentar. Saiba mais Nosecossistemas marinhos, há também a ocorrência da quimiossíntese, principalmente nos compartimentos em que não há disponibilidade de luz. Esse processo é realizado por bactérias que usam a energia química presente em determinados compostos inorgânicos, em vez de energia luminosa. Geralmente, as taxas de produção por quimiossíntese são bem menores do que as taxas de produção por fotossíntese. A produção pode ser realizada a partir de recursos fornecidos pelo próprio ecossistema aquático (autóctone) ou por recursos externos ao ecossistema aquático (alóctone). A produção autóctone é a que caracteriza a produção autotrófica, ou seja, é aquela em que a produção de matéria orgânica é maior do que a taxa de respiração no ecossistema aquático. Porém, em alguns ecossistemas aquáticos, há aporte de material alóctone (material que vem de fora, como folhas, galhos e frutos da vegetação do entorno ou vegetação ripária), podendo haver baixa produção autóctone e predominar o metabolismo heterotrófico, ou seja, aquele cuja taxa de respiração é maior que a produção de matéria orgânica no ecossistema, sendo necessário complementar com material alóctone. O consumo nos ecossistemas aquáticos é caracterizado pela atividade dos organismos consumidores, que obtêm sua energia direta ou indiretamente dos produtores primários. Os consumidores primários são aqueles que obtêm sua energia predando diretamente os produtores 14/08/2022 11:48 Página 7 de 46 Os consumidores primários são aqueles que obtêm sua energia predando diretamente os produtores primários, conhecidos como herbívoros, enquanto os consumidores secundários são aqueles que se alimentam dos consumidores primários ou herbívoros. Nessa dinâmica, há transferência de energia ao longo das relações tróficas – da cadeia alimentar. Outra fonte importante de consumo é a cadeia alimentar detritívora, na qual os organismos detritívoros se alimentam de plantas e animais de origem autóctone ou alóctone ao ecossistema aquático. A decomposição ocorre majoritariamente no sedimento dos ecossistemas aquáticos e é pautada na cadeia detritívora, formada pela matéria orgânica autóctone derivada da morte dos organismos aquáticos e alóctone ao ecossistema aquático. Essa é uma via importante de fluxo energético nos ecossistemas aquáticos e pode ser acelerada por diversos fatores que veremos a seguir, tais como luminosidade e temperatura. A decomposição é majoritariamente realizada por fungos e bactérias. Por meio de suas atividades, esses organismos mineralizam a matéria orgânica redisponibilizando os nutrientes e outras substâncias no ambiente que serão novamente incorporadas para a produção dos ecossistemas aquáticos. Outra fonte de energia importante dos ecossistemas aquáticos é a alça microbiana, na qual as bactérias heterotróficas formam uma via alternativa de energia para níveis tróficos superiores por meio do uso da matéria orgânica disponível no ambiente. A produção, o consumo e a decomposição nos ecossistemas aquáticos ocorrem de maneira simultânea e sua integração é fator que caracteriza a estrutura e o funcionamento destes. Fatores que influenciam os ecossistemas aquáticos Diversos são os fatores que influenciam os ecossistemas aquáticos. Vamos conhecer alguns dos mais relevantes, lembrando que nenhum deles atua de forma isolada, mas integrada, pois as mudanças que ocorrem em um têm impacto nos outros. 14/08/2022 11:48 Página 8 de 46 Luminosidade A radiação solar que penetra no ambiente aquático é um dos principais fatores que influenciam os ecossistemas aquáticos, pois determina a ocorrência da fotossíntese – processo pelo qual os organismos autotróficos produzem energia a partir da luz solar, água e dióxido de carbono. Esse processo libera oxigênio como produto residual, sendo a principal fonte desse gás para os ecossistemas aquáticos. Ainda que os corpos d'água apresentem água aparentemente transparente, a água por si só absorve luz e, por isso, em determinada profundidade haverá ausência de luz. A coluna d'água pode ser classificada de acordo com a presença ou ausência de luz: Nos ecossistemas marinhos, a zona eufótica pode ser dividida em zona fótica, que recebe radiação solar suficiente para sustentar a fotossíntese; e zona disfótica, que é iluminada, mas não o suficiente para sustentar a fotossíntese. O fim da zona eufótica corresponde à profundidade na qual a intensidade da radiação solar é 1% daquela na superfície. A profundidade em que a zona fótica se estende vai variar com a quantidade de partículas em suspensão na água que refletem ou absorvem luz (turbidez da água). Por exemplo, uma lagoa rasa tropical pode apresentar zona fótica ocupando toda sua faixa de profundidade, enquanto nos oceanos a zona fótica costuma se estender até 200 metros de profundidade. Zona eufótica A porção que recebe radiação solar. Zona afótica A porção que não recebe radiação solar. 14/08/2022 11:48 Página 9 de 46 Zona fótica e afótica em ecossistemas aquáticos dulcícolas. A produtividade primária nos ecossistemas aquáticos é concentrada na zona eufótica da coluna d'água (zona que recebe luz solar), influenciando a comunidade associada a essa região, bem como seu metabolismo. A zona eufótica é densamente colonizada pelos produtores primários dos ecossistemas aquáticos cujo metabolismo predominante é autotrófico, caracterizado pela produção de energia maior que a taxa de respiração. Em contrapartida, na zona afótica, o metabolismo é heterotrófico, ou seja, a taxa de respiração é maior do que a produção de energia pelos organismos autotróficos e isso implica diferenças na disponibilidade de oxigênio e gás carbônico. De maneira geral, há maior disponibilidade de oxigênio dissolvido na zona eufótica, enquanto há menor disponibilidade de oxigênio dissolvido nas zonas afóticas. Em relação ao gás carbônico, existem outros fatores que influenciam essa dinâmica. Temperatura A mudança na disponibilidade de luz implica mudança da temperatura da água, em relação à profundidade. Em outras palavras, na zona fótica, a água será mais quente do que na zona afótica, principalmente na região tropical do globo terrestre. A temperatura nos ecossistemas aquáticos, portanto, varia de acordo com a profundidade e a latitude. Atenção! A variação na temperatura é importante porque diferentes organismos aquáticos sobrevivem em determinada faixa de temperatura e possuem determinada temperatura ótima para realizar suas reações químicas de maneira eficiente. A taxa metabólica de um organismo se refere às reações químicas que ocorrem liberando energia e essas 14/08/2022 11:48 Página 10 de 46 A taxa metabólica de um organismo se refere às reações químicas que ocorrem liberando energia e essas taxas aumentam proporcionalmente à temperatura. Por exemplo, um peixe que vive em um aquário aquecido terá batimento cardíaco acelerado, nadará mais rápido e reproduzirá mais precocemente do que um peixe da mesma espécie que vive em um aquário não aquecido. Esse fator é especialmente importante para os organismos aquáticos ectotérmicos, ou seja, aqueles que dependem da temperatura do ambiente externo para regular sua temperatura corpórea. A temperatura afeta a densidade da água, o que explica sua variação na coluna d'água em função da profundidade, caracterizando a estratificação térmica. Esse fenômeno também determina a distribuição de outros parâmetros importantes nos ecossistemas aquáticos, que serão abordados em detalhe a seguir. Além disso, a temperatura afeta a solubilidade dos gases, de maneira que a solubilidade é inversamente proporcional à temperatura. Isso significa que na água mais quente, próximo à superfície da coluna d'água, é necessário menos oxigênio dissolvido na água para que se atinja 100% de saturação de oxigênio do que na água fria e profunda. A disponibilidade de luz implica na mudança da temperatura da água nas diversas zonas de profundidade. Salinidade A concentração de íons presentes em um meio é o que determinaa sua salinidade. A água do mar é salina, ou seja, possui alta quantidade de íons dissolvidos (sais). Os organismos marinhos, por viverem imersos nesse meio, possuem uma série de adaptações para lidar com esse ambiente. Por isso, o fator salinidade é especialmente importante nos ecossistemas marinhos. A salinidade tem potencial de alterar o metabolismo dos organismos aquáticos, pois as moléculas orgânicas presentes nas células dos seres vivos são sensíveis à concentração de íons no citoplasma. A água do mar contém mais íons do que o interior das células dos organismos e, por causa disso, os 14/08/2022 11:48 Página 11 de 46 A água do mar contém mais íons do que o interior das células dos organismos e, por causa disso, os organismos contam com diferentes estratégias para manter equilibradas dentro do seu corpo as substâncias essenciais para a manutenção da sua vida. Além da permeabilidade seletiva da membrana celular, os organismos marinhos são osmorreguladores. Veja a diferença entre peixes de água doce e água salgada: Água salgada Peixes marinhos podem ingerir água do mar para balancear a perda de água por osmose ou produzir pequenas quantidades de urina para excretar parte desses sais ativamente. Água doce Peixes de água doce tendem a absorver água por osmose, pois têm maior concentração de sais no interior de suas células em comparação com o ambiente externo. Assim como a temperatura, a salinidade afeta a densidade da água e a solubilidade dos gases de maneira % 14/08/2022 11:48 Página 12 de 46 Assim como a temperatura, a salinidade afeta a densidade da água e a solubilidade dos gases de maneira similar. A solubilidade é inversamente proporcional à salinidade e é por isso que, na mesma pressão e temperatura, a água salgada contém cerca de 20% menos oxigênio dissolvido do que a água doce. Estratificação da coluna d'água A temperatura e a salinidade influenciam diretamente a dinâmica das massas d'água nos ecossistemas aquáticos por meio de seus efeitos na densidade. Nos ecossistemas aquáticos, a diferença de densidade das massas d'água impede sua mistura, gerando gradientes que são importantes para os ecossistemas marinhos e dulcícolas – o que caracteriza a estratificação da coluna d'água. Ou seja, os nutrientes e os gases dissolvidos não são distribuídos de maneira uniforme na coluna d'água e isso influencia diretamente a produtividade primária, a ciclagem de nutrientes, a decomposição e outros processos ecossistêmicos. Vamos entender agora as particularidades da estratificação em cada tipo de ambiente: dulcícola e marinho. Estratificação em ecossistemas aquáticos dulcícolas De maneira geral, a salinidade é baixa nos ecossistemas dulcícolas, sendo a diferença de densidade das massas d'água uma resposta à temperatura e, portanto, denominada estratificação térmica. Podemos classificar as massas d'água como: & Epilímnio ' Metalímnio ( Hipolímnio O epilímnio é a camada mais superficial da coluna d'água, na qual há penetração da radiação solar 14/08/2022 11:48 Página 13 de 46 O epilímnio é a camada mais superficial da coluna d'água, na qual há penetração da radiação solar suficiente para sustentar a fotossíntese. Nessa região, a água é mais quente e, por isso, possui menor densidade. A profundidade do epilímnio vai variar de acordo com a exposição à radiação solar, mas geralmente o epilímnio corresponde à zona eufótica. O metalímnio é a camada de transição entre as massas d'água quente e fria. Esse limite entre o epilímnio e o metalímnio é conhecido como termoclina – ponto em que a temperatura da água é menor do que aquela na região mais superficial da coluna d'água. Já o hipolímnio é a camada mais profunda da coluna d'água onde não há penetração de radiação solar. O hipolímnio ocupa a zona afótica e ali a água é mais fria e densa. Estratificação térmica em um lago profundo. A estratificação vertical em função da temperatura também influencia a disponibilidade de oxigênio dissolvido na coluna d'água. No epilímnio, a concentração de oxigênio dissolvido é maior do que no hipolímnio devido a três fatores: a proximidade entre a superfície da água e o ar atmosférico, a fotossíntese e a aeração causada por ondas e ventos. Ainda, no hipolímnio, há maior consumo de oxigênio devido à respiração dos organismos aquáticos e à decomposição. Nos ecossistemas aquáticos dulcícolas, a estratificação ocorre mais comumente em lagos profundos do que em rios, lagos ou poças rasas. Nos ecossistemas aquáticos dulcícolas rasos, a ação dos ventos ou das ondas pode provocar a mistura das massas d'água, impedindo que ocorra a estratificação. Por isso, a estratificação é mais estudada em lagos profundos. 14/08/2022 11:48 Página 14 de 46 Estratificação em ecossistemas aquáticos marinhos Nos ecossistemas marinhos ocorre a estratificação vertical em função não só da temperatura, mas também da salinidade. A coluna d'água é classificada em três diferentes zonas: camada de mistura, termoclina e camada abissal. A penetração da radiação solar determina a zona fótica e ali a água é quente. No entanto, nos oceanos, há ação das ondas e dos ventos, fazendo com que essa camada mais superficial da água esteja constantemente em mistura, sendo, portanto, denominada camada de mistura. Após essa região, ocorre a termoclina, zona caracterizada pelo rápido decréscimo da temperatura com o aumento da profundidade. A termoclina pode ser sazonal, variando em resposta à radiação solar e à temperatura de acordo com as estações do ano. Já a camada abissal corresponde à zona afótica dos ecossistemas marinhos, portanto, possui temperatura mais fria. Saiba mais Apesar de a constituição de sais na água do mar ser similar, a salinidade dos oceanos pode variar principalmente em função da precipitação ou do aporte fluvial nas regiões costeiras. Geralmente, a camada mais superficial da coluna d'água é menos salina do que a camada mais profunda e a região que separa essas massas d'água é denominada haloclina. A estratificação em função da diferença de densidade entre as massas d'água é similar à estratificação térmica e salina, mas é denominada picnoclina. A termoclina geralmente coincide com a picnoclina, pois a salinidade e temperatura influenciam na densidade da água. A estratificação em função da temperatura e da salinidade também afeta a concentração de oxigênio nos ecossistemas marinhos, que possui o mesmo padrão comentado para os ecossistemas dulcícolas: maior concentração de oxigênio dissolvido na camada mais superficial (camada de mistura) devido à proximidade com o ar atmosférico, às altas taxas de fotossíntese e à aeração por ondas e ventos. No entanto, vale ressaltar que os níveis de oxigênio dissolvido são cerca de 20% menores na água do mar do que na água doce. A importância dos ecossistemas aquáticos Conheça agora a importância dos ecossistemas aquáticos para a sociedade humana. ) 14/08/2022 11:48 Página 15 de 46 Conheça agora a importância dos ecossistemas aquáticos para a sociedade humana. 14/08/2022 11:48 Página 16 de 46 Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! O metabolismo aquático Módulo 1 - Vem que eu te explico! Estratificação da coluna d'água Todos Módulo 1 - Video A importância dos ecossistemas aquáticos Módulo 2 - Video A água dos oceanos Módulo 3 - Video A estrutura trófica dos recifes de corais Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? * + Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 , 14/08/2022 11:48 Página 17 de 46 Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Os ecossistemas aquáticos possuem características diferentes dos ecossistemas terrestres e isso se reflete nos processos ecossistêmicos. Assinale a alternativa que indica duas dessas diferenças corretamente. A Ciclagem de nutriente mais rápida e produtividade maior do que nos ecossistemas terrestres. B Taxa de decomposição maisrápida e maior eficiência dos produtores primários do que nos ecossistemas terrestres. C Produtividade primária menor e ciclagem de nutrientes mais rápida do que nos ecossistemas terrestres. D Ausência de cadeia trófica detritívora e maior eficiência dos produtores primários do que nos ecossistemas terrestres. E Ausência de mixotrofia e cadeia trófica com estrutura similar aos ecossistemas terrestres. Parabéns! A alternativa B está correta. As características do meio aquoso fazem com que os ecossistemas aquáticos apresentem ciclagem de nutrientes mais rápida, que acaba por refletir na maior eficiência na produtividade primária e na rápida taxa de decomposição dos ecossistemas aquáticos. Além de ser mais rápida, a decomposição nos ecossistemas aquáticos é sustentada pela cadeia alimentar detritívora 14/08/2022 11:48 Página 18 de 46 aquática. Ainda, nos ecossistemas aquáticos há maior ocorrência de mixotrofia do que nos ecossistemas terrestres, apesar de a estrutura da cadeia trófica ser similar entre os dois. Questão 2 A estratificação é uma das características mais marcantes dos ecossistemas aquáticos. Sobre esse assunto, responda o que é a termoclina. A É a transição entre as camadas de água quente e fria. B É a transição entre as camadas salinas e densas. C É a transição entre as camadas quentes e frias de ar. D É a transição entre as camadas salinas e não salinas. E É a transição entre as camadas de água densa e não densa. Parabéns! A alternativa A está correta. A termoclina é caracterizada pela mudança rápida na temperatura da água, sendo uma região de transição entre as camadas de água quente e fria. A transição caracterizada pela mudança na salinidade é denominada haloclina, enquanto a transição pela mudança de densidade é denominada picnoclina. Basicamente, a termoclina se refere à estratificação térmica dos ecossistemas aquáticos. 14/08/2022 11:48 Página 19 de 46 2 - Propriedades físicas e químicas da água e sua importância Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer as propriedades físicas e químicas da água. O ciclo hidrológico e a molécula da água ----- 14/08/2022 11:48 Página 20 de 46 A molécula da água A água é a substância de maior distribuição no planeta Terra e suas propriedades físico-químicas possibilitaram o surgimento da vida, bem como a manutenção desta. A molécula da água é formada por um átomo de oxigênio que reparte elétrons com dois átomos de hidrogênio por meio de uma ligação covalente (tipo de ligação formada por pares de elétrons compartilhados). O átomo de oxigênio é parcialmente negativo, enquanto o átomo de hidrogênio é parcialmente positivo. Quando existe essa diferença de eletronegatividade entre os átomos de uma molécula, apresentando um polo positivo e outro polo negativo, ela é denominada molécula polar. Essa característica explica por que a água é um solvente universal, ou seja, por que é capaz de separar os elementos de um composto. Molécula da água e as pontes de hidrogênio. Além da capacidade de dissolução de compostos, as moléculas de água também podem se ligar por meio de pontes de hidrogênio, pois o átomo de hidrogênio (positivo) de uma molécula de água exerce atração sobre o átomo de oxigênio (negativo) de outra molécula de água. As pontes de hidrogênio são ligações fracas quando comparadas a outras ligações, como, por exemplo, as ligações covalentes entre os átomos da molécula de água, mas permitem coesão entre as moléculas devido à atratividade mútua. Tais características nos ajudam a entender as propriedades da molécula de água, tão importante para entendermos a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas aquáticos. Os três estados da água A água é a única substância que ocorre naturalmente na Terra em três estados, são eles: sólido, líquido e gasoso. A seguir, acompanhe o que acontece com as moléculas da água nas mudanças do estado líquido para o gasoso e para o sólido: 14/08/2022 11:48 Página 21 de 46 O gelo é menos denso do que a água líquida e, por isso, flutua. A água se expande quando congela, isso Do líquido para o gasoso: evaporação Na água líquida, as pontes de hidrogênio mantêm as moléculas de água unidas, apesar de estarem em constante movimento. Com o aumento da temperatura, as moléculas de água se movem mais rápido, quebrando as pontes de hidrogênio, mudando do estado líquido para o gasoso ou formando o vapor d'água. Esse processo é importante para manter a evaporação no ciclo hidrológico. Do líquido para o sólido: solidificação A água líquida congela quando as moléculas de água ficam unidas a ponto de ocupar um volume pequeno. Quando o volume diminui sem alterar a massa, a água fica mais densa e congela. Nesse momento, as moléculas de água se movem tão pouco que as pontes de hidrogênio se formam “trancando” as moléculas de água em um determinado padrão. 14/08/2022 11:48 Página 22 de 46 O gelo é menos denso do que a água líquida e, por isso, flutua. A água se expande quando congela, isso significa dizer que a água com mesma massa ocupa um volume maior. O fato de o gelo flutuar é o que garante a sobrevivência de diversos organismos aquáticos em regiões mais frias, principalmente em ecossistemas dulcícolas. A flutuação do gelo faz com que mantenha água líquida no fundo do corpo d'água, garantido a sobrevivência dos organismos adaptados a essa condição, caso contrário, toda a coluna d'água congelaria, levando à morte da maioria dos organismos aquáticos. Ciclo hidrológico A água é mantida na superfície do planeta devido aos processos que ocorrem no ciclo hidrológico, que consiste no transporte contínuo da água entre a superfície terrestre (corpos d'água) e a atmosfera. Os processos básicos que regem o ciclo hidrológico são a evaporação e a precipitação. Evaporação Quando a água passa do estado líquido para o gasoso. Precipitação Quando a água passa do estado gasoso para o líquido. A evaporação é a passagem da água do estado líquido para o estado gasoso ou de vapor d'água para a % 14/08/2022 11:48 Página 23 de 46 A evaporação é a passagem da água do estado líquido para o estado gasoso ou de vapor d'água para a atmosfera. A evaporação da água dos oceanos é a principal fonte de vapor d'água no ciclo hidrológico, mas ecossistemas de água doce – dulcícolas – também contribuem para esse processo, mesmo que em menor intensidade, assim como as calotas de gelo. Nem toda água que evapora retorna aos ecossistemas aquáticos e também contribui para o ciclo hidrológico a evapotranspiração. Na evapotranspiração, há a produção de vapor d'água pela evaporação da água do solo e pela transpiração da vegetação. As plantas absorvem a água do solo por meio de suas raízes, retêm uma fração desta água para suas atividades fisiológicas e liberam o restante sob a forma de vapor d'água através de seus estômatos, pequenas aberturas na superfície das folhas. A energia solar é a fonte de energia que impulsiona a evaporação, mantendo o ciclo hidrológico. Curiosidade A composição química da evaporação dos oceanos é diferente dos ecossistemas dulcícolas, principalmente em relação à presença de alguns íons. A água retorna aos corpos d'água por meio da precipitação – chuva ou neve – e em menor escala por meio do derretimento de geleiras e do gelo polar. Com o auxílio da gravidade, a precipitação (chuva) faz com que o vapor d'água evaporado e condensado nas nuvens retorne diretamente aos ecossistemas aquáticos, majoritariamente aos oceanos. Parte da água das chuvas também retorna aos ecossistemas aquáticos por meio do escoamento superficial na bacia hidrográfica, ou seja, a água da chuva circula através dos corpos d'água que compõem a bacia hidrográfica até atingir os oceanos. Principais processos que regem o ciclo hidrológico. As propriedades da água Vamos conhecer algumas importantes propriedades da água, como: calor específico, densidade, viscosidade e tensão superficial. 14/08/2022 11:48 Página 24 de 46 Calor específico Calor específicoé a medida de energia necessária para aquecer uma substância em 1°C, ou seja, elevar sua temperatura em 1°C. A água possui alto calor específico, o que significa que, para aquecer a temperatura da água em 1°C, é necessária uma grande quantidade de energia. Essa característica da água resulta em uma importante consequência ecológica para os ecossistemas aquáticos: eles apresentam uma alta estabilidade térmica. Em outras palavras, apesar de haver variação térmica diária e sazonal nos ecossistemas aquáticos, a água pode absorver ou liberar grandes quantidades de calor e ainda assim resistir em mudar sua temperatura. Além disso, os ecossistemas aquáticos dissipam grande parte da energia solar que atinge a superfície terrestre, pois necessitam de alto calor de vaporização para que a água seja evaporada. Podemos afirmar, então, que os organismos aquáticos não estão adaptados para lidar com aumento rápido e drástico de temperatura da água. A água age como um termostato global à medida que reflete grande parte da energia solar que atinge a superfície da Terra. Sem essa propriedade térmica da água, a temperatura da superfície terrestre sofreria consequências. Densidade A singularidade dos ecossistemas aquáticos se torna evidente quando percebemos o efeito da densidade da água. Densidade é definida como a relação entre a massa e o volume que uma substância ocupa e é influenciada pela temperatura, salinidade e pressão atmosférica. 14/08/2022 11:48 Página 25 de 46 O Rio Negro e o Solimões, no Amazonas, não se misturam por causa da temperatura e densidade das suas águas. A densidade é inversamente proporcional à temperatura, enquanto aumenta proporcionalmente junto com a salinidade. Por exemplo, a água fria e salina é mais densa do que água quente e doce. A diferença de densidade nas massas d'água impede sua mistura e gera diversos efeitos nos ecossistemas aquáticos, sendo o principal deles a estratificação da coluna d'água, como já estudamos. Viscosidade A atratividade mútua das moléculas de água se deve à diferença de eletronegatividade entre os átomos de oxigênio e nitrogênio. Essa característica da molécula de água se reflete em uma propriedade bastante importante que é a capacidade de criar resistência ao movimento de organismos e partículas – denominada viscosidade. Atenção! A viscosidade varia em função da temperatura e do teor de sais dissolvidos, sendo inversamente proporcional à temperatura, ou seja, conforme a temperatura aumenta, a viscosidade diminui. Essa propriedade da água reflete diversas adaptações morfológicas e fisiológicas dos organismos aquáticos para locomoção no ambiente aquático, especialmente para a comunidade planctônica que habita a coluna d'agua. O plâncton afunda duas vezes mais rápido em condições de baixa viscosidade (e alta temperatura), de forma que a migração vertical, característica dessa comunidade de organismos, pode ser seriamente afetada pela viscosidade. Tensão superficial A alta coesão entre as moléculas de água e seu arranjo, em contato com o ar, gera a tensão superficial – película que se forma dessa coesão criando um filme superficial que suporta pequenos pesos sem se romper. Essa propriedade da água possibilita a interface entre a superfície da água e o ar adjacente, suportando a 14/08/2022 11:48 Página 26 de 46 Essa propriedade da água possibilita a interface entre a superfície da água e o ar adjacente, suportando a comunidade de nêuston e plêuston, principalmente nos ecossistemas aquáticos dulcícolas. A tensão superficial também varia em função da temperatura e de substâncias orgânicas dissolvidas na água. A tensão superficial é inversamente proporcional à temperatura e à concentração de substâncias dissolvidas na água, ou seja, aumenta com a redução desses fatores. Por causa disso, a poluição é um dos principais eventos que reduzem a tensão superficial da água, pois substâncias como as detergentes destroem essa camada. A água dos oceanos Assista ao vídeo e conheça um pouco mais sobre as características da água salina dos ecossistemas aquáticos marinhos. ) 14/08/2022 11:48 Página 27 de 46 Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! A molécula da água Módulo 2 - Vem que eu te explico! Ciclo hidrológico Todos Módulo 1 - Video A importância dos ecossistemas aquáticos Módulo 2 - Video A água dos oceanos Módulo 3 - Video A estrutura trófica dos recifes de corais Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? * + Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 , 14/08/2022 11:48 Página 28 de 46 Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Qual propriedade da água gera gradientes de parâmetros físico-químicos que, por sua vez, resultam em estratificação da coluna d’água? A Tensão superficial. B Viscosidade. C Salinidade. D Calor específico. E Densidade. Parabéns! A alternativa E está correta. A densidade é a propriedade da água que, influenciada pela temperatura e salinidade, gera estratificação da coluna d’água nos ecossistemas aquáticos. A tensão superficial se refere à camada que se forma na linha d’água, enquanto a viscosidade se refere à resistência associada às moléculas de água. O calor específico é a propriedade que justifica a estabilidade térmica dos ecossistemas aquáticos e a salinidade é um dos parâmetros físico-químicos mais importantes para o funcionamento desses ecossistemas. Questão 2 Assinale a alternativa correta sobre a estrutura da molécula da água. 14/08/2022 11:48 Página 29 de 46 A A molécula de água é formada por ligações iônicas. B A molécula de água é apolar. C A molécula de água possui dois átomos de oxigênio. D A molécula de água é formada por ligações covalentes. E A molécula de água é formada por ligação de coesão. Parabéns! A alternativa D está correta. A molécula da água é formada por um átomo de oxigênio e dois átomos de hidrogênio ligados por meio de ligações covalentes, caracterizadas pela partilha de elétrons entre os átomos, e não somente a doação de elétrons, como é o caso da ligação iônica. A água é uma molécula polar com polos eletromagnéticos diferentes. Apesar de haver coesão entre as moléculas de água, essa não é uma característica relacionada à ligação entre átomos. ----- 14/08/2022 11:48 Página 30 de 46 3 - Principais ecossistemas aquáticos brasileiros Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os principais ecossistemas aquáticos brasileiros. Classificação dos ecossistemas aquáticos Como sabemos, os ecossistemas aquáticos ocupam uma grande porção do planeta Terra, no entanto, apenas 2,5% dessa extensão é ocupada por ecossistemas aquáticos compostos por água doce. Os ecossistemas aquáticos que são compostos por água doce são chamados de ecossistemas aquáticos dulcícolas. Esses ambientes são diversos, podendo ser classificados quanto à intensidade de movimentação da água, sendo: 14/08/2022 11:48 Página 31 de 46 Lênticos Os ecossistemas caracterizados por possuírem água parada ou com pouco movimento. Lóticos Os ecossistemas caracterizados por possuírem água em constante movimento. Os ecossistemas marinhos são aqueles que sofrem influência da água salgada, esta, por sua vez, molda sua rica biodiversidade. Esses ecossistemas correspondem aos mares e oceanos e alguns outros ecossistemas de transição entre o ecossistema terrestre e aquático, como os manguezais e costões rochosos, ocupando a maior parte da superfície terrestre. Ainda, abordaremos neste módulo os ambientes aquáticos artificiais, como represas e açudes construídos por meio do represamento dos rios visando atender a demandas humanas, como abastecimento de água ou geração de energia. Ecossistemas aquáticos dulcícolas Os ecossistemas aquáticos dulcícolas também são conhecidos como ecossistemas aquáticos continentais e o estudo desses ambientes é denominado limnologia. Mesmo quando são perenes, esses tiposde ecossistemas não são elementos permanentes na paisagem. Ainda, alguns podem ser denominados temporários, quando estão presentes na paisagem somente por um período. Vamos conhecê-los melhor a seguir. Lagoas São corpos d'água interiores lênticos, sem comunicação direta com o mar e com baixa salinidade em % 14/08/2022 11:48 Página 32 de 46 São corpos d'água interiores lênticos, sem comunicação direta com o mar e com baixa salinidade em comparação com os ecossistemas marinhos. Essa definição também se aplica aos lagos, com a diferença que o lago é mais profundo do que as lagoas. Geralmente, as lagoas são ecossistemas rasos cuja radiação solar é capaz de alcançar toda a coluna d'água até o sedimento do fundo. Uma lagoa rasa, ecossistema comum na região tropical. Por conta dessa característica, as lagoas são densamente colonizadas por macrófitas aquáticas. Algumas lagoas podem apresentar maior teor de sais dissolvidos na água quando se localizam perpendiculares aos ecossistemas marinhos ou em regiões secas. As lagoas brasileiras mais famosas são as lagoas amazônicas e as lagoas do pantanal. Curiosidade No Brasil, não ocorrem lagos de origem natural, sendo a maioria dos lagos naturais localizada no hemisfério norte. Os lagos que encontramos no Brasil são resultado de modificações dos ecossistemas aquáticos brasileiros, sendo classificados como ecossistemas aquáticos artificiais. Rios Os rios são definidos de maneira semelhante às lagoas, exceto pelo fato de serem corpos d'água lóticos. Isso significa que a ação da correnteza é uma característica bastante importante desses ecossistemas. Por causa do movimento constante, os rios fazem o transporte de água da nascente até a foz – final da bacia hidrográfica, desembocando na lagoa ou no oceano. Riachos e córregos nada mais são do que rios mais estreitos, o que reflete na força da correnteza e no volume de água. A produtividade nesses ecossistemas é atribuída ao crescimento de algas em superfícies, tais como rochas e folhas, sendo o fitoplâncton ausente. A presença da vegetação ripária garante o aporte de matéria orgânica e aumenta a 14/08/2022 11:48 Página 33 de 46 A presença da vegetação ripária garante o aporte de matéria orgânica e aumenta a complexidade estrutural dos rios à medida que serve de hábitat para diversos organismos aquáticos. Ao longo da extensão dos rios, suas características físico-químicas mudam e isso reflete no funcionamento desse ecossistema, esta é a conhecida teoria do rio contínuo. Essa teoria explica a mudança no metabolismo dos rios ao longo de sua extensão: na região próxima à nascente do rio, há predominância do metabolismo heterotrófico, devido à baixa incidência luminosa; enquanto em direção à foz do rio o metabolismo se torna autotrófico, devido ao aumento do leito do rio que contribui para maior incidência luminosa. Essa diferença no metabolismo molda as características físicas dos organismos aquáticos e se reflete no funcionamento do ecossistema aquático. Um riacho, ecossistema comum nos biomas brasileiros, incluindo Mata Atlântica e Amazônia. Áreas úmidas Áreas úmidas são corpos d'água rasos formados por áreas periodicamente ou permanentemente alagadas. São ambientes lênticos, com fluxo de água lento, cujas formas de abastecimento de água variam, mas geralmente estão presentes em solos hídricos. Essa denominação é relativamente recente e engloba uma diversidade de ambientes, tais como as poças e os igarapés amazônicos. Uma característica importante desses ecossistemas é a presença de vegetação hidrofílica, formada por plantas angiospermas que possuem raízes no solo capazes de permanecer submersas, apenas com folhas e caules permanecendo na superfície acima da água. Na Amazônia, esse tipo de vegetação é conhecido como igapó. 14/08/2022 11:48 Página 34 de 46 Igarapé, um dos ambientes considerados como área úmida, na Amazônia. Os igarapés são ambientes de grande destaque na região amazônica, caracterizado como um curso d'água constituído por um braço longo de um rio, geralmente de baixa profundidade, os quais são navegáveis por pequenas embarcações. Além de abrigarem alta biodiversidade de animais aquáticos e terrestres, possuem uma diversidade de vegetação hidrófila associada, com águas escuras semelhantes às do Rio Negro. Ecossistemas aquáticos marinhos Os ecossistemas aquáticos marinhos – os mais abundantes da Terra – compreendem os oceanos, mares, estuários e uma diversidade de ambientes incluídos nesses ou sob influência destes. A Biologia Marinha é o ramo da Biologia que se dedica ao estudo dos ecossistemas marinhos e dos seres vivos marinhos. O Brasil apresenta uma área costeira extensa, abrigando importante parcela de manguezais e recifes de corais do mundo, além de extraordinária biodiversidade marinha. Vamos conhecer melhor os ecossistemas marinhos a seguir. Estuários Estuários são ambientes nos quais o rio encontra o oceano. Por isso, possuem água salobra, devido ao aporte tanto de água doce quanto de água salgada. Os estuários abrigam diversos organismos aquáticos em seus estágios iniciais de desenvolvimento, sendo conhecidos como berçários. A variação na salinidade desses ambientes depende do fluxo das suas fontes de água doce e das chuvas sazonais, além da influência das marés. Por causa dessa variação, os organismos que vivem nesse ambiente possuem diversas adaptações. Exemplo As plantas que colonizam os estuários são halófitas, ou seja, toleram condições salinas. O manguezal ocupa a região estuarina, sendo definido como um ecossistema de transição entre os 14/08/2022 11:48 Página 35 de 46 O manguezal ocupa a região estuarina, sendo definido como um ecossistema de transição entre os ecossistemas terrestre e marinho. Geralmente, apresenta água salobra e está sujeito à variação da maré. É caracterizado por uma vegetação típica, também hidrófila, e é conhecido por ser berçário de diversos organismos aquáticos. Os manguezais são os principais representantes dos ecossistemas estuarinos, podendo até ser considerados como um ecossistema à parte. O Brasil possui a segunda maior área de manguezal do mundo. Os mangues (Rhizophora mangle) são as árvores características dos manguezais, adaptadas ao alagamento e à salinidade. Já os pântanos possuem características similares aos manguezais, mas ocorrem majoritariamente na América do Norte. Ambiente estuarino e sua conexão com o mar. Manguezal. 14/08/2022 11:48 Página 36 de 46 Oceanos e mares Os oceanos são ecossistemas marinhos que cercam os continentes e toda a superfície emersa da terra. São ambientes profundos, salinos e relativamente uniformes quanto à sua composição química. Ocupam grande parte da superfície do planeta e são classificados em: Índico, Pacífico, Atlântico, Glacial Ártico e Glacial Antártico. Curiosidade Dentro dos oceanos, estão os recifes de corais, áreas de costão rochoso e áreas costeiras que também são ecossistemas aquáticos marinhos. Já os mares são ambientes cercados pelo continente, ocupando uma pequena extensão do oceano em áreas intercontinentais ou próximas ao continente. Por isso, os mares são bem menores e mais rasos do que os oceanos. Existem três tipos principais de mares: Mares abertos Possuem uma ampla ligação com os oceanos. Mares continentais Possuem uma ligação restrita com os oceanos. Mares fechados Ligam-se às águas oceânicas apenas indiretamente por meio de canais e rios. No Brasil, não ocorrem mares, pois toda sua região litorânea é banhada pelo Oceano Atlântico. 14/08/2022 11:48 Página 37 de 46 Os oceanos e sua distribuição na Terra. Recifes de corais Os recifes de corais são formados por invertebrados marinhos que vivem em águas quentes e rasas dentro da zona fótica do oceano. Mais especificamente, os corais são formados por colônias de pólipos de água salgada que secretam um esqueleto de carbonato de cálcio. Esses esqueletos ricos em cálcio se acumulam lentamente, formando os recifes de corais subaquáticos. Os recifesde corais tropicais ocorrem em águas rasas e quentes e são os maiores e mais diversos do planeta. A estrutura física formada pelos corais propicia hábitat para diversos outros organismos aquáticos, como peixes, crustáceos e moluscos, aumentando a biodiversidade associada aos ecossistemas marinhos. Além disso, são ambientes de alta produtividade, pois esses organismos vivem em simbiose com algas, que são organismos autotróficos, ou seja, produzem seu próprio alimento. Ambiente recifal e a biodiversidade associada. 14/08/2022 11:48 Página 38 de 46 Costão rochoso O costão rochoso é um ambiente de transição entre os ecossistemas terrestre e marinho, formado por substrato rochoso e colonizado por diversos organismos marinhos. Esse substrato rochoso se estende desde o assoalho oceânico até alguns metros acima do nível do mar e está sujeito à variação da maré, ficando exposto ao ar periodicamente. Costão rochoso e a zonação em função da maré. A colonização dos organismos no costão rochoso segue uma zonação em resposta às suas adaptações para lidar com a dessecação no período de exposição ao ar. Os organismos marinhos que colonizam a porção superior do costão rochoso, por exemplo, são bastante resistentes e têm adaptações para sobreviver por longos períodos expostos ao ar. Em contrapartida, os organismos que não suportam longos períodos fora da água colonizam a porção inferior do costão, que fica pouco tempo exposta ao ar, mesmo em maré baixa. Áreas costeiras Um exemplo de ecossistema marinho das áreas costeiras são as praias arenosas. As praias arenosas são influenciadas pelas ondas e sofrem ação da maré. São caracterizadas pela presença de um substrato arenoso, com baixo calor específico e pobre em nutrientes. Por causa disso, inicialmente, as praias eram consideradas “desertos”, no sentido de que se suspeitava que haveria baixa biodiversidade associada a esses ambientes. No entanto, atualmente se sabe que há uma alta biodiversidade associada às praias, conhecida como 14/08/2022 11:48 Página 39 de 46 No entanto, atualmente se sabe que há uma alta biodiversidade associada às praias, conhecida como infauna. A vegetação no seu entorno é adaptada à salinidade elevada e à alta exposição à radiação solar. O conjunto dessa vegetação é conhecido como restinga. A restinga ocupa boa parte do litoral brasileiro. Ecossistema costeiro: a praia e a vegetação característica de restinga. Ecossistemas aquáticos artificiais Os ecossistemas aquáticos dulcícolas são constantemente modificados, originando diversos ambientes aquáticos artificiais. No Brasil, as represas e os açudes são formados pelo represamento de rios cujo principal objetivo é atender a demandas da sociedade, tais como abastecimento de água ou geração de energia. Os açudes são formados a partir da construção de uma barragem que permite o acúmulo de água de rios adjacentes ou da chuva, formando um ambiente com características semelhantes às de um lago. São típicos em regiões secas, nas quais há baixos índices de precipitação na maior parte do ano, pois permitem o armazenamento de água para abastecimento à população e a animais em períodos de secas, sendo bastante comuns no Nordeste do país. Vista aérea da usina hidrelétrica de Itaipu, localizada entre o Brasil e o Paraguai. O reservatório de água formado a partir da construção de uma barragem e que possui abastecimento 14/08/2022 11:48 Página 40 de 46 O reservatório de água formado a partir da construção de uma barragem e que possui abastecimento contínuo de rios é denominado represa. As represas foram construídas no país principalmente em resposta à demanda de energia, consequência do desenvolvimento industrial e socioeconômico brasileiro, sendo comuns na Região Sudeste. A modificação dos ecossistemas aquáticos é tamanha que, atualmente, grande parte dos rios que se encontram em área urbana é retificada, ou seja, teve seus cursos alterados, criando um canal artificial de passagem de água que pode ser revestido ou não por algum material de sustentação, como o concreto. A construção desses ambientes artificiais alterou a estrutura dos ecossistemas aquáticos dulcícolas e gerou/gera uma série de consequências negativas para os organismos aquáticos. Entre as consequências mais comuns, podemos citar a escassez ou o desaparecimento de recursos naturais, a vulnerabilidade à extinção sofrida pela fauna e flora aquática e a redução da qualidade física e química da água. Além disso, essas modificações aumentam substancialmente a possibilidade de ocorrência de enchentes e processos de eutrofização, que geram impacto econômico e social e podem gerar acidentes catastróficos, como os ocorridos no país nas últimas décadas. Eutrofização Eutrofização é o aumento da concentração de nutrientes em um ecossistema aquático, levando ao aumento da produtividade e, consequentemente, a alteração em todo o ecossistema. A estrutura trófica dos recifes de corais Assista ao vídeo e conheça a estrutura trófica dos recifes de corais e sua importância. ) 14/08/2022 11:48 Página 41 de 46 Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam os assuntos mais relevantes do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 3 - Vem que eu te explico! Ecossistemas aquáticos dulcícolas Módulo 3 - Vem que eu te explico! Ecossistemas aquáticos marinhos Todos Módulo 1 - Video A importância dos ecossistemas aquáticos Módulo 2 - Video A água dos oceanos Módulo 3 - Video A estrutura trófica dos recifes de corais Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? * + Todos Módulo 1 Módulo 2 Módulo 3 , 14/08/2022 11:48 Página 42 de 46 Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Quais as principais características que diferem os oceanos dos mares? A Extensão e profundidade. B Salinidade e proximidade ao continente. C Profundidade e conexão com ecossistema terrestre. D Extensão e temperatura. E Proximidade e conexão com continente. Parabéns! A alternativa A está correta. Os mares ocupam uma porção do oceano que está mais próxima da região continental. Com isso, possuem uma extensão menor do que a dos oceanos. Por conta dessa proximidade com o continente, sua profundidade é menor quando comparada à dos oceanos. Essa diferença de profundidade pode se refletir em variações na salinidade e temperatura nos oceanos e nos mares, porém tais variações não constituem principais diferenças entre esses ambientes. Questão 2 Qual organismo aquático está associado aos ecossistemas aquáticos lênticos, mas não aos ecossistemas lóticos? 14/08/2022 11:48 Página 43 de 46 A Peixes. B Organismos fotossintéticos. C Fitoplâncton. D Plantas halófitas. E Vegetação ripária. Parabéns! A alternativa C está correta. Em ecossistemas lóticos, a correnteza constante impede a colonização por fitoplâncton, pois esses organismos não possuem estruturas que lhes permitem lidar com a correnteza. Apesar de não abrigarem fitoplâncton, esses ecossistemas abrigam outros organismos fotossintéticos (capazes de realizar fotossíntese) sendo os representantes mais comuns as algas aderidas em superfícies. Plantas halófitas são bem características de ecossistemas lênticos, como áreas úmidas. Em contrapartida, peixes conseguem colonizar tanto ambientes lênticos quanto lóticos, assim como a presença de vegetação ripária pode ser característica de ambos os ecossistemas. ----- 14/08/2022 11:48 Página 44 de 46 Considerações finais A estrutura fundamental dos ecossistemas aquáticos e seu funcionamento diferem daqueles dos ecossistemas terrestres e são explicados principalmente pelas propriedades da água. Neste estudo, conhecemos tais propriedades, como calor específico, densidade, viscosidade e tensão superficial. Entendemos que processos ecossistêmicos importantes como a produtividade primária, a decomposição e a cadeia alimentar são influenciados pela temperatura, salinidade e radiação solar, além de outros fatores físico-químicos. Tais fatores interagem einfluenciam uns aos outros. Vimos que a estratificação da coluna d'água é uma das características marcantes dos ecossistemas aquáticos com influência direta em seus processos ecossistêmicos. Os ecossistemas dulcícolas e marinhos possuem características em comum que os definem como uma unidade, mas também têm características que os diferenciam. Conhecemos as particularidades dos diferentes tipos de ecossistemas dulcícolas e marinhos, tais como lagoas, rios, costões rochosos, oceanos e mares, assim como conhecemos ecossistemas artificiais como os açudes, muito comuns no Nordeste brasileiro. De modo geral, conhecemos um pouco da diversidade desses ecossistemas aquáticos, bem como sua importância para a manutenção da vida de tantos organismos, inclusive a nossa. Podcast Para encerrar, conheça as principais ameaças aos ecossistemas aquáticos, tais como poluição, eutrofização, mudanças climáticas e invasão biológica. ----- . 14/08/2022 11:48 Página 45 de 46 Referências CASTRO, P.; HUBER, M. E. Biologia marinha. Porto Alegre: AMGH, 2012. ESTEVES, F. de A. Fundamentos de Limnologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2011. GARRISON, T. Fundamentos da Oceanografia. 4. ed. Tradução de Cintia Miajii et al. Norte-americana: Cengage Learning, 2010. 422 p. VAN DER VALK, A. The biology of freshwater wetlands. Oxford: Oxford University Press, 2012. Explore + Para conhecer os efeitos da estratificação nos oceanos e como eles podem ser afetados pelas mudanças climáticas, leia o artigo The role of the thermohaline circulation in abrupt climate change, de Peter U. Clark et al., Nature, v. 415, 2002. Para acompanhar as novidades sobre os ecossistemas dulcícolas, acesse o site do Laboratório de limnologia da UFRJ (Limnonews). Para aprofundar seus conhecimentos sobre os ecossistemas marinhos, assista ao documentário The blue planet collection, disponível no YouTube. / Baixar conteúdo 14/08/2022 11:48 Página 46 de 46
Compartilhar