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Direito Civil - Domina Concursos

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Direito Civil 
O que é Direito Civil? 
O Direito Civil constitui um dos muitos ramos do 
Direito. No Direito Civil encontram-se todas as 
normas que formam o conjunto de leis que bus-
cam dar conta de regular a vida dos cidadãos em 
sociedade em todos os seus aspectos. Todos os 
nossos direitos e obrigações que sob o ponto de 
vista jurídico garantem ao cidadão comum uma 
vida segura, harmoniosa e justa estão contidos no 
Direito Civil. 
Podemos dizer que o Direito Civil constitui-se por 
todas as leis do código civil brasileiro. Vigorando 
desde o dia 11 de janeiro de 2003 e contendo 
mais de 2000 artigos o Código Civil brasileiro 
divide-se em três partes. 
Na primeira parte, chamada Parte Geral, encon-
tramos o Livro I, o Livro II e o Livro III, respecti-
vamente chamados “Das Pessoas”, “Dos Bens” e 
“Dos Fatos Jurídicos”. 
A segunda parte, chamada Parte Especial, se 
divide em seis livros do Livro I ao livro VI e cada 
livro tem como título: “Do Direito das Obrigações”, 
“Do Direito das Empresas”, “Do Direito das Coi-
sas”, “Do Direito da Família”, “Direito da Suces-
são” e “Do Direito dos Contratos”. 
Na terceira e última parte encontramos o título 
“Parte Final ou Das Disposições Finais e Transitó-
rias”. 
Princípios básicos do Direito Civil 
1 - Princípio da Personalidade - esse princípio 
garante que todos os seres humanos tem direito a 
existir; e vivendo em sociedade possuem tanto 
direitos como obrigações; 
2 - Princípio da Autonomia da Vontade - esse 
princípio garante que os seres humanos sejam 
livres para agir de acordo com usa vontade desde 
que não firam outros princípios; 
3 - Princípio da Liberdade de Estipulação Ne-
gocial - esse princípio garante aos cidadãos a 
liberdade de fazer negócios de compra e venda 
ou abrir empresas; 
4 - Princípio da Propriedade Individual - esse 
princípio garante ao cidadão o direito de comprar 
e ter a posse de qualquer bem que lhe aprouver; 
5 - Princípio da Intangibilidade Familiar - esse 
princípio garante os direitos e deveres das famí-
lias e estabelece esta como um dos elementos 
centrais da sociedade; 
6 - Princípio da Legitimidade da Herança e do 
Direito de Testar - esse princípio garante que as 
pessoas podem transmitir a herança a seus her-
deiros da forma que entender ser a melhor; 
7 - Princípio da Igualdade Social – esse princí-
pio garante que todos os cidadão são iguais e 
possuem os mesmos direitos e deveres; 
8 - Princípio da Solidariedade Social – esse 
princípio versa sobre a importância de que os 
interesses particulares e os da coletividade não 
entrem em choque. 
Público e Direito Privado 
O Direito é dividido de forma clássica em Direito 
Público e Direito Privado. Tal classificação é con-
siderada equívoca por alguns doutrinadores. Ana-
lisando que em muitos casos não é possível iden-
tificar a natureza jurídica do interesse em ques-
tão, uma vez que todos estão interligados. 
Para entender melhor o que significa essa classi-
ficação e qual é o seu alcance vamos verificar a 
seguir a definição de Direito Público e de Direito 
Privado. 
O Que é Direito Público? 
O Direito Público é o ramo do direito composto 
pelas normas que tem por matéria interesse do 
Estado, tais como a função e organização, a or-
dem e segurança, a paz social, etc. 
Tais normas regulam as relações entre o Estado 
e os particulares, visando sempre a concretização 
do interesse público, conforme as previsões da 
lei. 
O interesse público se concretiza por meio da 
atuação da Administração Pública, com a organi-
zação e prestação dos serviços públicos e utiliza-
ção de recursos financeiros públicos. 
Na definição de Celso Ribeiro Bastos Direito Pú-
blico é: 
“conjunto de normas e princípios que regem a 
atividade do Estado, a relação deste com os par-
ticulares, assim como o atuar recíproco dos cida-
dãos.” 
O Direito Público se divide em: 
 O Direito Público Interno 
O Direito Público Interno rege os interesses esta-
tais e sociais. Suas normas encontram-se no 
direito constitucional, administrativo, processual, 
tributário, penal e eleitoral. 
 Direito Público Externo 
Tem a função de tratar das relações internacio-
 
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nais entre Estados soberanos, as normas utiliza-
das para tanto são as de Direito Internacional 
Público, ou seja, convenções e tratados que os 
chefes de estado firmam com organizações inter-
nacionais. 
O Que é Direito Privado? 
O Direito Privado é formado por normas que tem 
por matéria as relações existentes entre os parti-
culares relativas à vida privada, e as relações 
patrimoniais ou extrapatrimoniais. As normas de 
direito privado encontram-se no direito civil e no 
direito comercial. 
Ramos do Direito 
Como vimos a divisão do Direito em direito públi-
co e direito privado é uma questão polemica que 
não possui consenso entre os estudiosos e dou-
trinadores, uma vez que não há critério satisfató-
rio para essa distinção. 
Dessa forma vamos identificar os principais ra-
mos do Direito Público e do Direito Privado, sen-
do que em outras classificações podemos encon-
trar de forma diversa, algumas podem incluir uma 
classe de normas a um ramo do Direito ou mes-
mo destinar a outro. 
Os critérios de classificação mais aceitos são o 
critério referente ao sujeito e o critério do interes-
se. Com relação ao sujeito é considerado que o 
Estado faz parte da relação jurídica no direito 
público, e os particulares são regidos pelo direito 
privado. 
O critério do interesse considera o interesse em 
questão, se o interesse for público faz parte do 
direito público, da mesma forma que os interes-
ses particulares são regulados pelo direito priva-
do. 
Ramos Do Direito Público 
Direito Constitucional 
O Direito Constitucional é a lei maior do Estado, 
subordinando todas as demais normas aos seus 
comandos e aos seus princípios. 
A constituição federal de 1988, denominada cons-
tituição cidadã, instituiu o regime democrático de 
direito, com o objetivo de assegurar o exercício 
dos direitos sociais e individuais, liberdade, segu-
rança, igualdade, entre outros direitos assegura-
dos conforme o expresso no preâmbulo constitu-
cional. 
Direito Processual 
As normas processuais regulam a organização do 
judiciário e do processo judicial, é, portanto, ins-
trumento que o titular do direito subjetivo utiliza 
para obtenção do direito material. As normas 
processuais são de direito civil, penal, trabalho, 
entre outros procedimentos disponíveis. 
Direito Administrativo 
O direito administrativo é relativo às relações 
entre a Administração Pública e os cidadãos, 
denominados respectivamente de administrador e 
administrados. Seus assuntos são relacionados 
com o interesse público, tais como responsabili-
dade civil, poder de polícia, processos administra-
tivos, fiscalização, conservação de bens públicos, 
etc. 
Direito Penal 
O direito penal tem por finalidade tutelar os bens 
jurídicos mais importantes para a sociedade. A 
tutela dos bens jurídicos é função do Estado, 
portanto interesse público. 
Vigência 
Em sendo válida, esta pode ser vigente, isto é, ter 
capacidade de produzir seus efeitos no mundo 
jurídico e fático. 
 Segundo KELSEN, “com a palavra ‘vigência’ 
designamos a existência específica de uma nor-
ma” 
 Assim, o artigo 1° da Lei de Introdução às Nor-
mas do Direito Brasileiro institui que “salvo dispo-
sição contrária, a lei começa a vigorar em todo o 
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente 
publicada”. 
 Dessa forma, compreendemos que a vigên-
cia/existência de uma lei válida se inicia após o 
período de vacatio legis, ou seja, o lapso temporal 
entre sua publicação e sua interseção no sistema 
jurídico, conforme ditames acima. 
 Nesse ponto, Paulo de Barros Carvalho ensina 
que: 
Viger é ter força para disciplinar,para reger, cum-
prindo a norma seus objetivos finais. A vigência é 
propriedade das regras jurídicas que estão pron-
tas para propagar efeitos, tão logo aconteçam, no 
mundo fático, os eventos que elas descrevem. Há 
normas que existem e que, por conseguinte, são 
válidas no sistema, mas não dispõem dessa apti-
dão. A despeito de ocorrerem os fatos previstos 
em sua hipótese, não se desencadeiam as con-
sequências estipuladas no mandamento. Dize-
mos que tais regras não têm vigor, seja porque já 
o perderam, seja porque ainda não o adquiriram. 
 
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Com efeito, não podemos confundir vigência com 
validade, uma vez que esta é sinônimo de inte-
gração com ordenamento jurídico seja formal, 
seja materialmente, enquanto àquela é a própria 
existência fática da norma no universo jurídico 
que ocorre após o transcurso do período de vaca-
tion legis. 
Ademais, uma norma pode ser válida e não ser 
vigente, uma vez que pode está submetida a uma 
condição suspensiva ou de vacância, ou, ainda, 
ter tido sua vigência encerrada. Por outro lado, a 
validade sempre será pressuposta para a vigên-
cia, consequentemente todas as normas vigentes 
terão que ser necessariamente válidas. 
Por sua vez, o artigo 2° da LICC permitiu ao legis-
lador elaborar norma jurídica com vigência tempo-
rária ou indeterminada, sendo esta última a regra 
caso não haja previsão expressa, ou seja, a ca-
pacidade de provocar efeitos no mundo jurídico e 
fático está condicionado ao período que ela está 
vigente. Assim, se fixado um período delimitado 
de vigência, a norma jurídica cessará os seus 
efeitos no termo final do lapso temporal. 
De outra sorte, as indeterminadas só podem ter a 
vigência cessada, em respeito ao princípio da 
continuidade normativa, por meio do instituto da 
revogação, que consiste na entrada em vigor de 
uma nova norma jurídica que fulmine com o a 
antiga, expressa ou tacitamente (incompatibilida-
de da lei revogada com a lei nova), salientando 
que para tanto a nova norma deve ter, ao menos, 
a mesma hierarquia da norma revogada. 
A revogação da norma pode ser parcial ou total, 
respectivamente denominadas de derrogação ou 
ab-rogação, onde a primeira só alcança parte da 
norma revogada, quanto a segunda a revoga por 
inteiro, conforme leciona Caio Mário da Silva Pe-
reira: 
Ab-rogada uma lei, desaparece e é inteiramente 
substituída pela lei revogadora, ou simplesmente 
se anula, perdendo o vigor de norma jurídica a 
partir do momento em que entra em vigor a que a 
ab-rogou. Derrogada, a lei não fenece, não sai de 
circulação jurídica, mas é amputada nas partes 
ou dispositivos atingidos, que apenas estes per-
dem a obrigatoriedade. 
Ressalta-se que, em regra, por força do §2° do 
artigo 3° da LICC, não ocorre o efeito repristinató-
rio normativo, ou seja, a lei revogada não retorna-
rá seus efeitos, automaticamente, no caso de a lei 
que a revogou ser revogada por outra lei. Para 
tanto é necessário que seja previsto na novel 
norma. 
Assim, Maria Helena Diniz, amparada por Kelsen, 
afirma que; 
“Dizer que uma norma vale, na teoria Kelseniana 
significa afirmar que ela vigora para um determi-
nado espaço ou para um certo período de tempo, 
ou seja, que se refere a um comportamento que 
apenas pode verificar-se num dado lugar ou num 
certo momento”. 
Com efeito, resta evidente que a norma jurídica 
vigente possui força em um determinado espaço 
(Município, Estado, Distrito Federal e União) e 
durante certo tempo, até ser revogada por outra 
norma ou expirar o prazo previsto nela. Para tan-
to, os doutrinadores denominam por vigência no 
âmbito espacial e no âmbito temporal, respecti-
vamente. 
Outro ponto importante a se abordar acerca da 
vigência da norma jurídica é que, em regra, esta 
só poderá atingir os fatos jurídicos posteriores a 
sua vigência, em respeito ao princípio da irretroa-
tividade da norma jurídica, o ato jurídico perfeito, 
o direito adquirido e a coisa julgada, conforme o 
artigo 6° da LICC e o inciso XXXVI do artigo 5 da 
Constituição Federal. 
Salienta-se que, em alguns casos, o sistema jurí-
dico pátrio permite a retroatividade da norma no-
va para regulamentar condutas passadas, por 
exemplo, as normas interpretativas, e, de certa 
forma, as processuais que possuem aplicação 
imediata aos atos processuais não finalizados, 
independente do fato discutido ter ocorrido antes 
da vigência. 
Eficácia 
Já por Eficácia da Norma Jurídica, seguimos os 
ensinamentos do professor Paulo de Barros Car-
valho que divide este instituto em Eficácia Técni-
ca, Eficácia Jurídica e Eficácia Social. 
‘Eficácia técnica’ é a qualidade que a norma os-
tenta, no sentido de descrever fatos que, uma vez 
ocorridos, tenham aptidão de irradiar efeitos jurí-
dicos, já removidos os obstáculos materiais ou as 
impossibilidades sintáticas (na terminologia da 
Tércio). ‘Eficácia jurídica’ é o predicado dos fatos 
jurídicos de desencadearem as consequências 
que o ordenamento prevê. E, por fim, a ‘eficácia 
social’, como a produção concreta de resultados 
na ordem dos fatos sociais. 
Conflitos de Leis no Tempo 
Considerações Iniciais 
É possível uma lei retroagir para alcançar o ato 
jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa jul-
gada? Antes de adentrarmos na análise dos con-
 
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flitos de normas no tempo, devemos analisar e 
compreender um pouco da lei que regula a referi-
da questão. 
Inicialmente, o Decreto-Lei n. 4.657/1942, em sua 
redação original, tinha como ementa: “Lei de In-
trodução ao Código Civil Brasileiro” (LICC). Po-
rém, com a entrada em vigor da Lei n. 
12.376/2010, o título do referido decreto-lei foi 
alterado para “Lei de Introdução às Normas do 
Direito Brasileiro” (LINDB). Essa mudança ocor-
reu em virtude de a LINDB não ser parte integran-
te do Código Civil, e sim uma lei autônoma. 
As normas previstas na LINDB não regulam ape-
nas as partes integrantes do Código Civil, mas 
todas as normas previstas no ordenamento jurídi-
co. Ela não rege a vida das pessoas, como é o 
caso do Código Civil, mas sim as próprias normas 
jurídicas, alcançando tanto o direito privado, 
quanto o direito público. 
Segundo Tartuce, a LINDB: “[...] é um conjunto de 
normas sobre normas, ou uma norma de sobredi-
reito (lex legum), eis que disciplina as próprias 
normas jurídicas, prevendo a maneira de sua 
aplicação no tempo e no espaço, bem como a 
sua compreensão e o entendimento do seu senti-
do lógico, determinando também quais são as 
fontes do direito, em complemento ao que consta 
na Constituição Federal.” 
Feita as devidas considerações sobre a Lei de 
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pas-
semos a análise da celeuma que envolve o insti-
tuto “conflito de leis no tempo”, regulado pela 
referida lei, em especial sobre a possibilidade ou 
não de uma lei retroagir para alcançar o ato jurí-
dico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
Conflitos de Leis no Tempo 
Como é de conhecimento de todos, a lei, em re-
gra, é feita para valer para o futuro. 
Segundo Maria Helena Diniz, quando uma lei 
modifica ou regula, de forma diferente, a matéria 
versada pela lei anterior, seja em decorrência da 
ab-rogação (revogação total da lei anterior) ou 
pela derrogação (revogação parcial da lei anteri-
or), podem surgir conflitos entre as novas disposi-
ções e as relações jurídicas já consolidadas sob a 
égide da velha norma revogada. 
Sendo assim, o doutrinador Carlos Roberto Gon-
çalves faz o seguinte questionamento: Será que é 
possível a aplicação da lei nova às situações 
anteriormente constituídas? 
Para solucionar tal questão, a doutrina utiliza dois 
critérios. O primeiro critério diz respeito às dispo-
sições transitórias, às quais são elaboradas pelo 
legislador, no próprio texto normativo, destinadas 
a evitar e a solucionar conflitosque poderão sur-
gir do confronto da nova lei com a antiga lei. Tais 
normas são temporárias e conciliam a nova lei 
com as relações já definidas pela norma anterior. 
O segundo critério, como bem explica Maria He-
lena Diniz, diz respeito ao princípio da retroativi-
dade e da irretroatividade das normas. 
A regra adotada pelo ordenamento jurídico é de 
que a norma não poderá retroagir, ou seja, a lei 
nova não será aplicada às situações constituídas 
sobre a vigência da lei revogada ou modificada 
(princípio da irretroatividade). Este princípio obje-
tiva assegurar a segurança, a certeza e a estabi-
lidade do ordenamento jurídico. 
É possível afirmar, ainda, que o referido princípio 
apresenta duplo fundamento, sendo um de ordem 
constitucional e outro de ordem infraconstitucio-
nal. Vejamos: 
O art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal 
prevê que: “A lei não prejudicará o direito adquiri-
do, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.” 
Já o art. 6º, da LINDB diz o seguinte: “A lei em 
vigor terá efeito imediato e geral, respeitando o 
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa 
julgada.” 
Sendo assim, tendo como parâmetro estes dois 
fundamentos, é possível observar que a regra da 
irretroatividade não é absoluta, tendo em vista 
que convive com outro preceito de direito inter-
temporal, que é o da eficácia imediata e geral da 
lei nova. Ou seja, em alguns casos a lei nova 
poderá retroagir. Além disso, Carlos Roberto 
Gonçalves afirma que a irretroatividade das leis 
não possui caráter absoluto, por razões de políti-
cas legislativas, que por sua vez podem reco-
mendar que, em determinadas situações, a lei 
seja retroativa, atingindo os efeitos dos atos jurí-
dicos praticados sob o império da norma antiga. 
Nessa perspectiva, é possível se olvidar que a lei 
nova alcance os casos pendentes e futuros de-
correntes de situações pretéritas que se realizem 
sob a égide da lei revogada, não abrangendo os 
fatos passados, nos quais se incluem o ato jurídi-
co perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. 
Em meio a essas explanações, vale aduzir o que 
venha ser ato jurídico perfeito, direito adquirido e 
coisa julgada. 
Sobre o assunto, Flávio Tartuce assevera que: 
“Direito adquirido: é o direito material ou imaterial 
já incorporado ao patrimônio de uma pessoa na-
tural, jurídica ou ente despersonalizado.” 
 
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Pela previsão do § 2º do art. 6º da LINDB: “consi-
deram-se adquiridos assim os direitos que seu 
titular, ou alguém por ela, possa exercer, como 
aqueles cujo começo do exercício tenha tempo 
prefixo ou condição preestabelecida inalterável, a 
arbítrio de outrem”. 
Isso quer dizer que o direito adquirido não se 
restringe apenas ao direito que já se incorporou 
ao patrimônio de seu titular, mais também o exer-
cício de um direito que depende de um termo 
prefixo ou condição preestabelecida e que seja 
inalterável, pelo arbítrio de outrem. 
Com relação ao ato jurídico perfeito, Maria Hele-
na Diniz diz que é o ato: “[...] já consumado, se-
guindo a norma vigente ao tempo em que se efe-
tuou. Já se tornou apto para produzir os seus 
efeitos.” 
Por fim, a coisa julgada, também chamada de 
caso julgado, consiste na imutabilidade de uma 
sentença, ou seja, é a decisão prolatada da qual 
não caiba mais recurso. 
Dessa forma, é possível perceber que a Consti-
tuição Federal, como a LINDB, adotaram a Teoria 
de Francesco Gabba, que se apoia em total res-
peito ao direito adquirido, o ato jurídico perfeito e 
a coisa julgada, no intuito de preservação da se-
gurança jurídica. 
Desta maneira, é possível concluir que a regra é 
a irretroatividade no que diga respeito ao direito 
adquirido, ao ato jurídico perfeito e a coisa julga-
da, e a possibilidade da retroatividade no que 
diga respeito a casos pendentes e futuros. Logo, 
a regra é que a lei só pode retroagir, para atingir 
fatos consumados quando não ofender o ato jurí-
dico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, 
e quando o legislador, expressamente, mandar 
aplicá-la a casos passados, mesmo que a palavra 
“retroatividade” não seja usada. 
Diante disso, a doutrina reconhece três tipos de 
retroatividade, quais sejam: 
Retroatividade máxima, também chamada de 
restitutória, que é aquela em que a lei nova ataca 
fatos pretéritos, ou seja, fatos já consumados sob 
a vigência da lei revogada, prejudicando assim o 
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa 
julgada. 
Retroatividade média, que é aquela em que a lei 
nova atinge efeitos pendentes de atos jurídicos 
verificados antes da nova lei, como por exemplo, 
um contrato, em que uma prestação esteja venci-
da, mas ainda não foi paga. 
Retroatividade mínima, também chamada de 
temperada ou mitigada, na qual a lei nova alcan-
ça e atinge os efeitos futuros de situações passa-
das consolidadas sob a vigência da lei anterior, 
como por exemplo, uma prestação decorrente de 
um contrato que não venceu e ainda não foi paga. 
Inclusive, existem alguns autores que defendem 
que neste aspecto não seria nem caso de retroa-
tividade. Com isso, não se verifica propriamente a 
retroatividade, o que ocorre é tão somente a apli-
cação imediata da lei nova, que por sua vez seria 
uma situação intermediária entre a retroatividade 
e a irretroatividade. 
Na ADI 439, o Ministro Moreia Alves, em seu 
voto, citando Matos Peixoto, diz que tais conside-
rações são equivocadas, já que: “[...] dúvidas não 
há de que, se uma lei alcança efeitos futuros de 
contratos celebrados anteriormente a ela, será 
essa lei retroativa porque vai interferir na causa, 
que é um ato ou fato ocorrido no passado. Nesse 
caso, a aplicação imediata se faz, mas com efeito 
retroativo. [14] Para o ex-ministro do STF, norma 
irretroativa não alcança efeitos pendentes e futu-
ros de atos constituídos sob o império da lei ve-
lha. 
Em que pese a retroatividade de grau máximo, 
esta não é aceita pela doutrina majoritária. No 
entanto, em relação a retroatividade de graus 
médio e mínimo, estas são aceitas pela maioria 
da doutrina. 
A contrario sensu, o doutrinador Flávio Tartuce, 
em seu Manual de Direito Civil, levanta uma 
questão contemporânea das mais relevantes, 
qual seja: será que a proteção dos institutos do 
ato jurídico perfeito, do direito adquirido e da coi-
sa julgada são absolutos? A resposta, segundo o 
ilustre doutrinador, é negativa, diante de uma 
forte tendência de relativizar princípios e regras 
em sede de Direito. 
Nessa esteira, é possível observar a relativização 
da coisa julgada. Vejamos o entendimento do STJ 
a esse respeito: 
“É possível a flexibilização da coisa julgada mate-
rial nas ações de investigação de paternidade, na 
situação em que o pedido foi julgado improceden-
te por falta de prova. Contudo, não se admite o 
ajuizamento de nova ação para comprovar a pa-
ternidade mediante a utilização de exame de DNA 
em caso no qual o pedido anterior foi julgado 
improcedente com base em prova pericial produ-
zida de acordo com a tecnologia então disponí-
vel.” 
Seguindo a mesma linha de raciocínio, temos o 
Supremo Tribunal Federal, que no informativo n. 
622, confirma a mitigação da coisa julgada. Se-
não vejamos: 
 
 6 
 
“Ação de investigação de paternidade e coisa 
julgada – 1 
O Plenário iniciou julgamento de recurso extraor-
dinário em que se discute a possibilidade, ou não, 
de superação da coisa julgada em ação de inves-
tigação de paternidade cuja sentença tenha de-
cretado a extinção do processo, sem julgamento 
do mérito, por insuficiência probatória. Na situa-
ção dos autos, a genitora do autor não possuía, à 
época, condições financeiras para custear exame 
de DNA. Reconheceu-se a repercussão geral da 
questão discutida, haja vista o conflito entre o 
princípio da segurança jurídica, consubstanciado 
na coisa julgada(CF, art. 5º, XXXVI), de um lado; 
e a dignidade humana, concretizada no direito à 
assistência jurídica gratuita (CF, art. 5º, LXXIV) e 
no dever de paternidade responsável (CF, art. 
226, § 7º), de outro. O Min. Luiz Fux salientou o 
aspecto de carência material da parte — para 
produção da prova extraída a partir do exame de 
DNA — como intrínseco à repercussão geral da 
matéria, tendo em vista a possibilidade, em de-
terminados casos, de o proponente optar por não 
satisfazer o ônus da prova, independentemente 
de sua condição socioeconômica, considerado 
entendimento jurisprudencial no sentido de se 
presumir a paternidade do réu nas hipóteses de 
não realização da prova pericial. RE 363889/DF, 
rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2011. 
Ação de investigação de paternidade e coisa jul-
gada – 2 
Em seguida, o Min. Dias Toffoli, relator, proveu o 
recurso para decretar a extinção do processo 
original sem julgamento do mérito e permitir o 
trâmite da atual ação de investigação de paterni-
dade. Inicialmente, discorreu sobre o retrospecto 
histórico que culminara na norma contida no art. 
226, § 7º, da CF (“Art. 226. 
A família, base da sociedade, tem especial prote-
ção do Estado. ... § 7º - Fundado nos princípios 
da dignidade da pessoa humana e da paternidade 
responsável, o planejamento familiar é livre deci-
são do casal, competindo ao Estado propiciar 
recursos educacionais e científicos para o exercí-
cio desse direito, vedada qualquer forma coerciti-
va por parte de instituições oficiais ou privadas.”), 
dispositivo que teria consagrado a igualdade en-
tre as diversas categorias de filhos, outrora exis-
tentes, de modo a vedar qualquer designação 
discriminatória que fizesse menção à sua origem. 
A seguir, destacou a paternidade responsável 
como elemento a pautar a tomada de decisões 
em matérias envolvendo relações familiares. 
Nesse sentido, salientou o caráter personalíssi-
mo, indisponível e imprescritível do reconheci-
mento do estado de filiação, considerada a pree-
minência do direito geral da personalidade. Adu-
ziu existir um paralelo entre esse direito e o direito 
fundamental à informação genética, garantido por 
meio do exame de DNA. No ponto, asseverou 
haver precedentes da Corte no sentido de caber 
ao Estado providenciar aos necessitados acesso 
a esse meio de prova, em ações de investigação 
de paternidade. Reputou necessária a superação 
da coisa julgada em casos tais, cuja decisão ter-
minativa se dera por insuficiência de provas. En-
tendeu que, a rigor, a demanda deveria ter sido 
extinta nos termos do art. 267, IV, do CPC (“Art. 
267. 
Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: 
IV - quando se verificar a ausência de pressupos-
tos de constituição e de desenvolvimento válido e 
regular do processo;”), porque se teria mostrado 
impossível a formação de um juízo de certeza 
sobre o fato. Aduziu, assim, que se deveria pos-
sibilitar a repropositura da ação, de modo a con-
cluir-se sobre a suposta relação de paternidade 
discutida. Afirmou que o princípio da segurança 
jurídica não seria, portanto, absoluto, e que não 
poderia prevalecer em detrimento da dignidade 
da pessoa humana, sob o prisma do acesso à 
informação genética e da personalidade do indi-
víduo. 
Assinalou não se poder mais tolerar a prevalên-
cia, em relações de vínculo paterno-filial, do fictí-
cio critério da verdade legal, calcado em presun-
ção absoluta, tampouco a negativa de respostas 
acerca da origem biológica do ser humano, uma 
vez constatada a evolução nos meios de prova 
voltados para esse fim. Após, pediu vista dos 
autos o Min. Luiz Fux. RE 363889/DF, rel. Min. 
Dias Toffoli, 7.4.2011.” 
Segundo Tartuce, essa relativização da coisa 
julgada é solucionada pela técnica de ponderação 
desenvolvida por Robert Alexy. Segundo o autor, 
o caso em comento traz um conflito entre a prote-
ção da coisa julgada e a dignidade do suposto 
filho de saber quem é seu pai. Nessa colisão en-
tre direitos tidos por fundamentais, tanto o Supe-
rior Tribunal de Justiça, quanto o Supremo Tribu-
nal Federal, sabiamente privilegiaram o direito à 
verdade biológica (dignidade da pessoa humana) 
sobre a proteção da coisa julgada (segurança 
jurídica). 
Segundo Barroso, atual ministro do Supremo 
Tribunal Federal: “a previsão dos relatos se dá de 
maneira mais abstrata, sem se determinar a con-
duta correta, já que cada caso concreto deverá 
ser analisado para que o intérprete dê o exato 
peso entre eventuais princípios em choque (coli-
são). Assim, a aplicação dos princípios “não será 
no esquema tudo ou nada, mas graduada à vista 
das circunstâncias representadas por outras nor-
 
 7 
 
mas ou por situações de fato”. Destaca-se assim, 
a técnica da ponderação e do balanceamento, 
sendo, portanto, os princípios valorativos ou fina-
lísticos.” 
Com relação ao direito adquirido, Tartuce de-
monstra um caso de relativização da proteção 
desse instituto. O doutrinador afirma que o Códi-
go Civil de 2002 contraria a regra de proteção 
absoluta ao instituto do direito adquirido, quando 
em seu art. 2.035 determina que: “Nenhuma con-
venção prevalecerá se contrariar preceitos de 
ordem pública, tais como os estabelecidos por 
este Código para assegurar a função social da 
propriedade e dos contratos.” 
O art. 2.035 do Código Civil de 2002 consagra o 
princípio da retroatividade motivada, pela qual as 
normas de ordem pública relacionadas à função 
social da propriedade e dos contratos podem 
retroagir. Tartuce afirma que não há qualquer 
inconstitucionalidade na referida norma, eis que a 
função social da propriedade é amparada pela 
própria Constituição Federal em seu art. 5º, inci-
sos XXII e XXIII. O ilustre doutrinador ainda afir-
ma que a expressão “convenção” constante no 
art. 2.035 do Código Civil de 2002 abrange qual-
quer ato jurídico celebrado, incluindo nesse rol os 
negócios jurídicos celebrados antes da entrada 
em vigor da nova lei geral privada. 
Vejamos um julgado do Tribunal de Justiça de 
Sergipe, ilustrado pelo doutrinador Tartuce: 
“Civil. Ações declaratória de inexigibilidade de 
títulos e cautelares de sustação de protestos. 
Intempestividade. Não configurada. Litispendên-
cia. Extinção do feito. Rescisão contratual. Atraso. 
Cláusula Penal. Alegação de prejuízo. Desneces-
sidade. Redução da multa convencional. Cabi-
mento. Incidência sobre o montante não excetua-
do do pacto. Compensação de dívidas. Liquidez. 
Simples cálculos aritméticos. Exigibilidade das 
duplicatas. Inocorrência. Contrato realizado na 
vigência do CC/1916. Regra de transição. Art. 
2.035 do NCC. Matéria de ordem pública. Retroa-
tividade da norma. Protestos indevidos. Distribui-
ção do ônus sucumbencial. Procedência das 
ações cautelares (...). VIII. Tendo o contrato sido 
celebrado na vigência do Código Civil/1916, apli-
cam-se, em princípio, as regras deste. Todavia, 
em se tratando de normas de ordem pública, é 
perfeitamente possível a retroatividade da Lei 
nova, consoante regra de transição disposta no 
art. 2.035, parágrafo único, do CC/2002. IX. Em 
se tratando a redução a cláusula penal de matéria 
de ordem pública, impondo a nova Lei, através do 
art. 413 do CC, uma obrigação ao magistrado em 
reduzir o montante da multa cominatória sempre 
que verificar excesso na fixação, a fim de que 
seja resguardada a função social dos contratos, 
impõem-se a manutenção do decisum que ape-
nas fez incidir a norma cogente ao caso em apre-
ço; (...) (TJSE, Apelação Cível 2006212091, 
Acórdão 10.214/2008, 2ª Câmara Cível, Rel.ª 
Des.ª Marilza Maynard Salgado de Carvalho, 
DJSE 13.01.2009, p. 16).” 
No referido julgado, o Tribunal entendeu que 
mesmo o contrato tendo se constituído sob a 
égide do Código Civil de 1916, e portanto, pre-
sente os institutos do direito adquirido e do ato 
jurídico perfeito, por conter cláusulapenal com 
parâmetros abusivo, isso por si só viola a função 
social dos contratos. Além disso, existe uma pre-
visão no novo Código Civil, mais precisamente no 
art. 413, que diz que o juiz deve verificar se há 
penalidade excessiva e, caso a identifique, deve 
reduzi-la. Segundo o Tribunal, cláusula penal é 
matéria de ordem pública, e sendo matéria de 
ordem pública, deve retroagir a fatos pretéritos, 
como reza o art. 2.035 do Código Civil de 2002. 
Segundo Tartuce, a proteção do direito adquirido, 
que por sua vez é um dos pilares da segurança 
jurídica, não pode ser protegido ao extremo, ten-
do em vista que se essa proteção for absoluta, o 
sistema jurídico restará engessado, não possibili-
tando assim a evolução da ciência e da socieda-
de. Deve entrar em cena a ponderação de valo-
res, em especial quando se tratar de valores de 
ordem pública com amparo constitucional. 
Sobre o assunto, Daniel Santos diz o seguinte: 
“A segurança jurídica – ideia que nutre, informa e 
justifica a proteção constitucional do direito adqui-
rido – é, como já se destacou, um valor de grande 
relevância no Estado Democrático do Direito. 
Mas não é o único valor, e talvez não seja nem 
mesmo o mais importante dentre aqueles em que 
se esteia a ordem constitucional brasileira. Justiça 
e igualdade material, só para ficar com dois 
exemplos, são valores também caríssimos à nos-
sa Constituição, e que, não raro, conflitam com a 
proteção da segurança jurídica. Se a segurança 
jurídica for protegida ao máximo, provavelmente o 
preço que se terá de pagar será um comprometi-
mento na tutela da justiça e da igualdade subs-
tancial, e vice-versa. 
O correto equacionamento da questão hermenêu-
tica ora enfrentada não pode, na nossa opinião, 
desprezar esta dimensão do problema, refugian-
do-se na assepsia de uma interpretação jurídica 
fechada para o universo dos valores. Ademais no 
Estado Democrático de Direito, o próprio valor da 
segurança jurídica ganha um novo colorido, apro-
ximando-se da ideia de Justiça. Ele passa a in-
corporar uma dimensão social importantíssima. 
 
 8 
 
A segurança jurídica, mais identificada no Estado 
Liberal com a proteção da propriedade e dos di-
reitos patrimoniais em face do arbítrio estatal, 
caminha para a segurança contra infortúnios e 
incertezas da vida; para a segurança como garan-
tia de direitos sociais básicos para os excluídos, e 
até para a segurança em face das novas tecnolo-
gias e riscos ecológicos na chamada “sociedade 
de riscos”. 
Reynaldo Porchat afirma que em relação às nor-
mas de ordem pública, que dizem respeito ao 
interesse público ou político, estas se aplicam 
imediatamente e não há direito adquirido contra 
elas, tendo em vista que o interesse coletivo se 
sobrepõe aos interesses particulares do indivíduo. 
Diante disso, pode-se afirmar que há uma ten-
dência entre doutrinadores e jurisprudências de 
Tribunais Estaduais, no sentido de uma lei nova 
poder retroagir alcançando o direito adquirido, ato 
jurídico perfeito e coisa julgada, em especial em 
relação a normas de ordem públicas consagradas 
pela nova lei. 
Diversamente desse pensamento, o STF parece 
ter acolhido a Teoria de Gabba, mesmo que em 
alguns de seus julgados tenha relativizado a pro-
teção sobre o instituto da coisa julgada. No RE 
362.584/DF, este órgão se posicionou no sentido 
de mesmo diante de norma de ordem pública, 
esta não pode retroagir para atingir efeitos jurídi-
cos futuros de contrato celebrado anteriormente à 
sua edição, tendo em vista a regra do art. 5º, 
inciso XXXVI, da Constituição Federal. 
Ou seja, a Suprema Corte, mesmo diante de efei-
tos futuros que corresponderiam a retroatividade 
mínima, uma norma, ainda que de ordem pública, 
não poderia retroagir. Se este é o entendimento 
para efeitos futuros, muito provavelmente fatos 
pretéritos, que inclui o direito adquirido, a coisa 
julgada e o ato jurídico perfeito, jamais poderão 
ser alcançados por tais normas. (RE 362.584/DF. 
Rel. Ministra Ellen Gracie. Primeira Turma. Jul-
gamento: 02/12/2002. DJ 14.03.2003). [26] 
Roberto Gonçalves diz o seguinte: 
“Pode-se resumidamente dizer que o sistema 
jurídico brasileiro contém as seguintes regras 
sobre a matéria: 
a) são de ordem constitucional os princípios da 
irretroatividade da lei nova e do respeito ao direito 
adquirido; 
b) esses dois princípios obrigam ao legislador e 
ao juiz; 
c) a regra, no silêncio da lei, é a irretroatividade; 
d) pode haver retroatividade expressa desde que 
não atinja direito adquirido; 
e) a lei nova tem efeito imediato, não se aplicando 
aos fatos anteriores. 
Tendo o Supremo Tribunal Federal proclamado 
que “não há direito adquirido contra a Constitui-
ção” e que, “sendo constitucional o princípio que 
a lei não pode prejudicar o ato jurídico perfeito, 
ele se aplica também às leis de ordem pública.” 
“Na doutrina, diz-se que é justa a retroatividade 
quando não se depara, na sua aplicação, qual-
quer ofensa ao ato jurídico perfeito, ao direito 
adquirido e à coisa julgada; e injusta, quando 
ocorre tal ofensa. A retroatividade pode ser má-
xima, média e mínima. 
A primeira atinge o direito adquirido e afeta os 
negócios jurídicos perfeitos; a segunda faz com 
que a lei nova alcance os fatos pendentes, os 
direitos já existentes, mas ainda não integrados 
no patrimônio do titular; a terceira se confunde 
com o efeito imediato da lei e sujeita à lei na vi-
gência da lei anterior. Todas essas situações são 
de retroatividade injusta, porque com ela se verifi-
ca lesão, maior ou menor, a direitos individuais. ” 
Conflitos de Leis no Espaço. 
O conflito de leis no espaço decorre de dois fato-
res: adversidade legislativa (cada sistema jurídi-
co, autônomo e soberano, dá tratamento diferente 
a aspectos sociais) e a existência de uma socie-
dade transnacional (relações entre indivíduos 
vinculados a sistemas jurídicos diferentes). 
Se existisse um direito absolutamente uniforme 
ou sociedades herméticas, não existiria o “fato 
anormal” (fato jurídico vinculado, por qualquer de 
seus elementos, a mais de um ordenamento), que 
gera o conflito de leis. 
A regra geral é a aplicação do direito pátrio, apli-
ca-se o direito estrangeiro por exceção, quando 
expressamente determinado pela legislação in-
terna. Nesses casos, o juiz deve aplicá-lo de ofí-
cio e do modo mais completo possível. 
Só não deve aplicar o direito estrangeiro, deter-
minado pela norma de direito internacional priva-
do (“norma colisional”), quando verificar que fe-
re a ordem pública, a soberania ou os bons cos-
tumes ou quando os interessados estiverem ten-
tando fraudar a legislação interna (como no caso 
de divórcios realizados no exterior, para burlar a 
lei nacional, que não os permitia na época). 
Normalmente os sistemas normativos utilizam 
como critério para determinar a aplicação do direi-
to estrangeiro a nacionalidade dos interessados 
 
 9 
 
ou o seu domicílio. No caso brasileiro, utiliza-se 
predominantemente o domicílio, pelo seu caráter 
voluntário (a nacionalidade originária é, de regra, 
circunstancial) e por provocar maior integração do 
estrangeiro com o sistema nacional. Tendo o 
Brasil recebido um grande fluxo de imigrantes, 
permitir a aplicação da lei de nacionalidade impe-
diria essa integração dos estrangeiros com o sis-
tema brasileiro. 
O domicílio, para efeitos de direito internacional 
privado, é analisado sobre o prisma do direito 
interno, ou seja, seus requisitos são os do direito 
interno (residência com animus definitivo). Caso a 
pessoa não tenha domicílio ou este seja desco-
nhecido, a LICC manda aplicar a lei do país onde 
tenha residência ou, por fim, do local onde a pes-
soa se encontre. 
Ao lado da LICC, há o Código de Bustamante, 
que traz diversas normas de direito internacionalprivado. Em sendo um conjunto de normas espe-
ciais (aplicáveis apenas aos nacionais dos países 
signatários), não foi revogado pela LICC. As nor-
mas do Código de Bustamante, inclusive, em sua 
maioria, são compatíveis com as da LICC. 
Personalidade 
A primeira questão a ser enfrentada em direito 
internacional privado diz respeito à personalidade. 
Vários sistemas existem para fixar o momento de 
seu início, bem como de seu fim (sobretudo em 
termos de presunções). 
Segue-se a regra geral: aplicar o ordenamento do 
país do domicílio, inclusive para determinar a 
capacidade. 
Com relação ao início da personalidade, aplica-se 
a lei do domicílio dos pais no momento do nasci-
mento, não importando o país onde a criança 
nasça (ex: se os pais moram na França, mas a 
criança nasce na Inglaterra, o início da personali-
dade é determinado pela lei francesa). 
No caso de os pais terem domicílios internacio-
nais diferentes, a LICC determina que se aplique 
a lei do domicílio do pai (para todos os efeitos, 
salvo em casos de abandono), porém, em face da 
isonomia determinada pela Constituição Federal, 
essa norma é discutível. 
Observe-se que, em se tratando de verificação do 
início da personalidade para fins de sucessão, 
aplica-se a lei de regência desta (último domicílio 
do “de cujus”ou do desaparecido). 
Outra ressalva a ser feita diz respeito à ordem 
pública: o direito brasileiro não admite penas co-
mo a de morte civil, de modo que a extinção da 
personalidade derivada deste tipo de sanção não 
será levada em consideração no Brasil. 
Com relação às pessoas jurídicas, o início e o fim 
de sua personalidade são regidos pela lei do local 
de constituição. 
O direito brasileiro, portanto, reconhece a exis-
tência de qualquer pessoa jurídica constituída 
regularmente segundo as leis do seu país de 
origem. Contudo, uma coisa é reconhecer sua 
personalidade, outra coisa (bem diversa) é permi-
tir oexercício de suas atividades no Brasil. Para 
este fim, exige-se que o governo brasileiro te-
nha aprovado os seus atos constitutivos, fican-
do sujeitas à legislação brasileira. 
Casamento 
Embora a doutrina sempre defenda que cada ato 
deve ficar sujeito a apenas uma legislação, em 
diversas hipóteses mais de um ordenamento irá 
reger determinado ato. No caso do casamento, 
por exemplo, há a possibilidade de sujeição a 
diversos ordenamentos jurídicos, cada qual re-
gendo alguns aspectos do instituto. 
A capacidade para casar segue a regra geral: 
o domicílio de cada um dos nubentes (podem ser 
domicílios distintos, sujeitando a ordenamentos 
distintos. Ex: se a noiva for domiciliada no Brasil e 
o noivo na Argentina, a capacidade dela estará 
sujeita às leis brasileiras e a dele às argentinas). 
Justamente pela possibilidade de os nubentes 
terem domicílios diferentes, o procedimento para 
o casamento (os requisitos formais ou extrínse-
cos) não podem estar sujeitos concomitantemen-
te a dois regimes diferentes. Deste modo, aplica-
se a lei do local da celebração (“jus loci celebrati-
onis”), independentemente do domicílio dos nu-
bentes. 
A autoridade celebrante também deve ter capaci-
dade, a qual é aferida pela lei de seu domicílio. 
Como essa capacidade também é um requisito 
formal para a celebração, concomitantemente 
deve ser reconhecida pela lei do local da celebra-
ção. 
Essa lei também é aplicável aos dirimentes abso-
lutos ou relativos, de modo que a validade ou 
invalidade do casamento em virtude desses fato-
res há de levar em consideração, primordialmen-
te, a lei do local de celebração. 
Deste modo, na opinião de Oscar Tenório, no 
caso de casamento realizado no Brasil não se 
devem analisar os impedimentos e dirimentes 
existentes na lei domiciliar de cada um dos nu-
bentes, mas apenas os da lei brasileira (lei do 
local de celebração). Outros autores, por cautela, 
 
 10 
 
consideram necessária a análise da lei domiciliar, 
para evitar fraude à lei. 
O art. 7º, §3º, da LICC, estabelece a necessidade 
de se aferir a validade do casamento em função 
da lei do primeiro domicílio conjugal, se os nuben-
tes tiverem domicílios diferentes. O STF não apli-
ca esse dispositivo com relação aos impedimen-
tos e dirimentes, vez que, como mencionado, 
devem obedecer à lei que regulou a celebração 
do casamento. 
Apenas as nulidades posteriores ao casamento 
(p. ex., “ausência da consumação do casamento”) 
devem ser observadas segundo a lei do domicílio 
conjugal. Esta lei também indicará se o casal tem 
direito ou não ao divórcio. 
Há um princípio geral de preservação da família, 
de modo que o casamento se presume válido e 
eficaz, independentemente do seu local de cele-
bração. Quem tiver interesse em sua anulação ou 
desconsideração tem o ônus de provar a nulida-
de. 
No caso do divórcio, há de se observar o disposto 
na Constituição Federal (art. 226, §6º). Apenas se 
pode homologar a sentença estrangeira de divór-
cio se atendido o pressuposto de um ano de se-
paração judicial ou dois anos de separação de 
fato. Caso contrário, apenas é possível a homolo-
gação após um ano (Maria Helena Diniz). 
Quanto ao regime de bens, legal ou convencional, 
aplica-se o vigente no local onde os nubentes 
tenham domicílio, ou caso sejam domiciliados em 
países diferentes, o ordenamento vigente no pri-
meiro domicílio conjugal. 
Se ambos os nubentes forem da mesma naciona-
lidade, o direito brasileiro permite que se casem 
no Brasil perante as autoridades diplomáticas ou 
consulares, utilizando-se o procedimento e de-
mais requisitos formais do seu país de origem. É 
uma exceção à regra pela qual as formalidades 
se regem pela lei do local de celebração. 
Por fim, a LICC excepciona o princípio da imutabi-
lidade do regime de bens, permitindo que o es-
trangeiro casado, ao se naturalizar brasileiro, opte 
(com expressa anuência do cônjuge), pelo regime 
da comunhão parcial de bens, respeitados os 
direitos de terceiros. 
Filiação E Outros Aspectos De Direito De Fa-
mília 
Aplica-se à filiação a lei vigente no domicílio con-
jugal à época do nascimento. Em defesa da or-
dem pública, porém, o direito brasileiro não reco-
nhecerá distinções entre a filiação legítima e a 
ilegítima, vez que a Constituição atribui valor fun-
damental a igualdade da filiação. 
No caso de ações de reconhecimento de paterni-
dade ou maternidade, Amílcar de Castro indica 
como lei aplicável a vigente, à época do nasci-
mento, no domicílio do pai ou da mãe, respecti-
vamente. O Código de Bustamante, porém, man-
da aplicar a lei do domicílio do filho, considerando 
que ainda não se sabe se, de fato, a pessoa indi-
cada é o pai ou a mãe. É necessário também 
verificar se a lei do local onde vai ser ajuizado o 
processo admite o remédio jurídico (há sistemas 
que impõem limitações às ações de reconheci-
mento de paternidade). 
No caso da adoção, há o chamado princípio pro-
tetivo, de modo que se aplica de um modo geral 
a lei do domicílio do adotando até o momento da 
formalização do ato e daí em diante pela lei 
do domicílio do adotante, vez que o domicílio do 
adotado passa a ser o do adotante. 
A capacidade para adotar rege-se, porém, pela lei 
do domicílio do adotante (capacidade para ado-
tar) e do adotando (capacidade para ser adota-
do). As formalidades da adoção, por sua vez, 
regem-se pela lei do local de celebração (“locus 
regit actum”). 
O mesmo se aplica aos demais institutos que 
dizem respeito à proteção dos menores e dos 
incapazes, como a tutela ou a curatela. 
Observe-se que, em prol da ordem pública, ainda 
que a lei aplicável permita, por exemplo, castigos 
severos aos menores ou incapazes, por parte de 
seus pais, tutores ou curadores, a lei brasileira 
não reconhecerá este direito. 
Sob o mesmo argumento de preservação da or-
dem pública, em casos de abandono moral oumaterial, aplica-se a lei protetiva brasileira, salvo 
se a lei domiciliar for mais favorável ao abando-
nado. 
Bens 
A LICC é clara: para qualificar os bens (p. ex., 
saber se são móveis ou imóveis) e para discipli-
ná-los, aplica-se a lei do local onde estão situa-
dos (“lex rei sitae”). 
Há, porém, algumas exceções: 
- no caso de bens móveis em deslocamento (re-
metidos para determinado local ou acompanhan-
do o seu dono em viagens, p. ex.), aplica-se a lei 
do domicílio do proprietário; 
 
 11 
 
- no tocante aos navios e aeronaves, a doutrina 
predominante afirma que se aplica a lei do local 
da matrícula; 
- em se tratando de apólices da dívida públi-
ca aplica-se a lei do emitente; 
- caso a discussão sobre determinado bem se 
fundamente em direito sucessório (“mortis cau-
sa”), aplica-se a lei que rege a sucessão (lei do 
último domicílio do “de cujus”); 
- segundo Oscar Tenório, “na matéria 
da capacidade para adquirir, vender e doar bens, 
observamos a lei que rege a capacidade em geral 
(domicílio).” 
Segundo Amílcar de Castro, os casos de direitos 
reais de garantia devem ser regulados pela lei do 
local de celebração do contrato, não pela lei da 
situação dos bens. O Código de Bustamante, 
porém, expressamente aplica a “lex rei sitae” para 
regular a constituição, os efeitos e a extinção de 
direitos reais sobre a coisa alheia, quer de frui-
ção, quer de garantia. 
Observe-se que, no caso do penhor, a LICC de-
termina a aplicação da lei do domicílio da pessoa 
em cuja posse se encontre a coisa empenhada. 
Deste modo, em penhores realizados por nacio-
nais de países signatários do Código de Busta-
mante, aplica-se a lei de situação da coisa empe-
nhada; nos demais penhores, aplica-se a lei do-
miciliar do possuidor. 
Obrigações 
No caso de obrigações legais, devem-se observar 
as normas geralmente aplicáveis àquele ramo 
jurídico (ex: obrigações alimentares regem-se 
pela lei domiciliar da família) ou pelas leis do local 
do dano, caso sejam “ex delicto”. 
No caso de obrigações voluntárias, sobretudo as 
de índole contratual, fica difícil aplicar a lei domici-
liar, vez que os contratantes podem ter domicílios 
diferentes. Também não vale à pena utilizar a lei 
do local de execução, vez que se pode pactuar 
execuções em vários países diferentes (ex: exibi-
ção mundial de determinado filme). 
A solução dada pela legislação brasileira é a apli-
cação do direito vigente no local de constituição 
da obrigação. Em caso de contratos celebrados à 
distância, a LICC acolhe a lei do local onde esteja 
o proponente (observe-se que a lei fala em local 
onde “residir o proponente”, mas a doutrina e a 
jurisprudência entendem que se trata do local 
onde ele esteja, para compatibilizar aquele dispo-
sitivo com o Código Civil). 
Há algumas exceções: 
- a lei de regência dos contratos de trabalho é a 
vigente no local da execução, salvo se as do local 
de contratação forem mais favoráveis ao traba-
lhador; 
- nos contratos de transferência de tecnologia, 
a lei brasileira não admite a aplicação de outros 
sistemas, reservando para si a regência de todos 
os negócios, em virtude da ordem pública (Maria 
Helena Diniz); 
- os negócios relativos às Bolsas e Mercados se 
subordinam ao local de execução (onde funciona 
a Bolsa ou Mercado). 
Além desses casos, observe-se que nas hipóte-
ses em que a lei brasileira exijaforma essenci-
al (p. ex., escritura pública), esta terá que ser 
observada para que a obrigação possa ser execu-
tada no Brasil, admitidas as peculiaridades da lei 
do local da celebração. 
Discute-se se o direito brasileiro permite que 
as partes escolham a lei aplicável aos negócios 
jurídicos, em face do art. 9º, da LICC. O art. 13 da 
antiga lei de introdução, ao determinar a aplica-
ção da lei do lugar de constituição aos negócios 
jurídicos, expressamente ressalvava as estipula-
ções em contrário. 
Maria Helena Diniz afirma que o direito brasileiro 
é taxativo quando remete a matéria para a lei do 
local de constituição, de modo a não acolher a 
autonomia da vontade. 
Sucessões 
A sucessão pode ser “inter vivos” ou “mortis cau-
sa”, interessando mais, na presente sede, a “mor-
tis causa”, já que a “inter vivos” se rege pelas 
normas aplicáveis às obrigações em geral. 
Pela teoria universalista, a sucessão, sendo ana-
lisada como uma unidade, deveria ser submetida 
a apenas uma lei. É uma teoria idealista, não 
sendo aceita sobretudo quando houver bens imó-
veis localizados em diversos sistemas. Com a 
teoria pluralista não se deixa de cogitar de uma 
única lei, mas se admite o fracionamento da su-
cessão, existindo uma lei para cada fração. 
Via de regra, a lei aplicável é a do último domicílio 
do “de cujus”. Transcrevam-se as palavras de 
Oscar Tenório: “em face do art. 10 da Lei de In-
trodução ao Código Civil, a lei domiciliar do ‘de 
cujus’ é preponderante. Exceções têm de ser 
admitidas. Os direitos dos herdeiros, por exemplo, 
se regem pela lei do ‘de cujus’. 
A capacidade segue a lei pessoal do herdeiro.” 
 
 12 
 
Deste modo, por exemplo, no caso de herdeiro 
domiciliado no Brasil, o direito à sucessão será 
analisado com vistas à lei do último domicílio do 
“de cujus”, mas a existência de indignidade ou de 
deserdação rege-se pelas leis brasileiras. 
No caso das presunções de sobrevivência ou de 
morte simultânea (p. ex., presunção de comoriên-
cia), segundo o Código de Bustamante se apli-
cam as leis domiciliares de cada um dos faleci-
dos, em relação à sua respectiva sucessão. 
Quanto aos testamentos, via de regra a sua for-
ma se rege pela lei do domicílio do testador à 
época da constituição do ato e seu conteúdo pe-
las regras vigentes no domicílio que o testador 
tinha quando faleceu (último domicílio conhecido). 
No caso brasileiro, porém, a ordem pública impõe 
limitações tanto ao conteúdo, quanto à forma do 
testamento. Assim, por exemplo, na sucessão 
realizada no Brasil não se admitem testamentos 
hológrafos ou que disponham de todo o acervo, 
quando houver herdeiros necessários, ainda que 
a lei domiciliar do “de cujus” permita essas práti-
cas. 
Como afirma Oscar Tenório, “a lei domiciliar do 
testador regula a capacidade para testar. (...) 
As limitações à capacidade de testar são deter-
minadas pela lei das sucessões. Estabelecendo a 
lei da sucessão a reserva e, portanto, a cota dis-
ponível, o testador fica adstrito a respeitar àquela 
e a usar desta como melhor lhe convier. (...) Im-
pondo-se a lei do ‘de cujus’, isto é, a sua lei pes-
soal, não influi na cota-reserva o domicílio dos 
herdeiros.” 
Em termos de ordem pública, por fim, observe-se 
que a Constituição brasileira expressamente de-
termina que a sucessão em bens de estrangeiro, 
situados no Brasil, será regida pela lei brasileira, 
sempre que for mais favorável ao cônjuge sobre-
vivente ou aos filhos brasileiros, que a lei do do-
micílio do “de cujus”. Quebra, deste modo, o prin-
cípio da unidade da sucessão, determinando o 
fracionamento da lei aplicável em proteção aos 
brasileiros. 
É o caso, por exemplo, do falecimento de um 
cidadão mexicano casado com uma brasileira e 
cujos pais ainda fossem vivos. Pela lei brasileira, 
a cônjuge sobrevivente não tem direito à herança, 
pois os ascendentes do falecido detêm a prefe-
rência; pela lei mexicana, porém, ela tem direito a 
cinquenta por cento da herança, repartindo-a com 
os ascendentes. Em face da Constituição Fede-
ral, seria aplicável a lei mexicana, em relação aos 
bens situados no Brasil, pois é mais favorável à 
cônjuge brasileira. 
Hermenêutica 
De origem grega, a Hermenêutica (hermeneuein) 
é tida como filosofia da interpretação, sendo as-
sociada ao deus grego Hermes, que traduzia tudo 
o que a mente humana não compreendesse, 
sendo chamado de “deus-intérprete”. Possui al-guns significados diferentes de acordo com o 
tempo, passando de “compreender o significado 
do mundo” e chegando “ é a teoria científica da 
arte de interpretar”. No campo jurídico ela é usa-
da para a interpretação fidedigna da idéia do au-
tor para que seja adequada a norma ao fato ocor-
rido e assim proporcione uma responsável aplica-
ção do Direito. Tendo em vista que a Hermenêuti-
ca Jurídica em lato sensu divide-se em interpreta-
ção, integração e aplicação do Direito. Dessa 
forma é imensurável a importância da Hermenêu-
tica para todos os campos de atuação ressaltan-
do o campo jurídico, pra que possamos entender 
melhor o Direito e sua aplicação. 
Hermenêutica 
Origem 
De origem etimológica grega, hermeneuein, é 
percebida modernamente como a teoria ou a 
filosofia da interpretação viabilizando a percepção 
do texto além de suas palavras, de sua simples 
aparência. Sua origem grega expressa à compre-
ensão do fato não perceptível.2 
A palavra hermeios de origem grega referia-se ao 
sacerdote do oráculo de Delfos. Na mitologia 
grega hermeios simbolizava um deus-
mensageiro-alado tido como o descobridor da 
linguagem e da escrita. O deus grego Hermes era 
respeitado pelos demais como sendo aquele que 
descobriu o meio de compreensão humana no 
sentido de alcançar o significado das coisas e 
para transmiti-lo aos demais seres. Assim, Her-
mes seria um "deus intérprete", considerado a 
entidade sobrenatural dotada de capacidade de 
traduzir, decifrar o incompreensível, ou seja, vin-
culava-se a sua figura a função de transmutação, 
de transformação de tudo aquilo que a compre-
ensão humana não alcançava em algo que esta 
conseguisse compreender. 
Histórico do Significado 
A expressão latina ars interpretando (a arte da 
interpretação), foi substituída na teologia protes-
tante, pelo termo hermenêutico. Na Antiguidade 
grega, a hermenêutica relacionava-se com à 
gramática, à retórica e à dialética e sobretudo 
com o método alegórico, para permitir a concilia-
ção da tradição (os mitos) com a consciência 
filosoficamente esclarecida. Mais tarde, a arte da 
interpretação foi assumida por teólogos judeus, 
 
 13 
 
cristãos e islâmicos, além de ser aplicada a inter-
pretação do Corpus iuris canonici na tradição da 
jurisprudência. Isso mostra que a hermenêutica, 
já entendida como a arte da interpretação, se 
tornava presente cada vez que a tradição entrava 
em crise, sobretudo na época da Reforma Protes-
tante.4 
Na filosofia contemporânea, a hermenêutica é um 
dos temas polêmicos, uma vez que tradicional-
mente a filosofia se ocupa com a descoberta das 
essências, entendendo-se aqui essência como 
verdade, como aquilo que pode ser cognoscível. 
Hans-Georg Gadamer, em sua obra Verdade e 
Método, assegura que a hermenêutica não é um 
método para se chegar à verdade e que o pro-
blema hermenêutico não é, por sua vez, um pro-
blema de método. Segundo Gadamer a herme-
nêutica não seria uma metodologia das ciências 
humanas, mas uma tentativa de compreender as 
ciências humanas. 
Em Verdade e Método, Gadamer afirma que a 
compreensão das coisas e a correta interpretação 
não se restringe à ciência, mas à experiência 
humana, principalmente no que se refere ao fe-
nômeno da linguagem como experiência humana 
de mundo. Assim, no que se refere à hermenêuti-
ca jurídica, Gadamer procurou descobrir a dife-
rença entre o comportamento do historiador jurí-
dico e do jurista diante de um texto. Seu interesse 
estava em saber se a diferença entre o interesse 
dogmático e o interesse histórico se constituía 
numa diferença unívoca. Conclui que há uma 
diferença:5 
"O jurista toma o sentido da lei a partir de e em 
virtude de um determinado caso dado. O historia-
dor jurídico, pelo contrário, não tem nenhum caso 
de que partir, mas procura determinar o sentido 
da lei na medida em que coloca construtivamente 
a totalidade do âmbito de aplicação da lei diante 
dos olhos. Somente no conjunto dessas aplica-
ções torna-se concreto o sentido de uma lei.” 
Para Heidegger, hermenêutica significa: “compre-
ender o significado do mundo”. Já Maximiliano 
fala que “é a teoria científica da arte de interpre-
tar” 
Atuação: Hermenêutica Jurídica 
A hermenêutica no campo jurídico é empregada 
para dizer o meio e o modo por que se devem 
interpretar as leis, para que dessa forma se obte-
nham o exato sentido ou o fiel pensamento do 
legislador. Dessa forma, ela está encarregada de 
elucidar a respeito da compreensão exata da 
regra jurídica a ser aplicada aos fatos concretos, 
ou seja, é responsável pelo estudo e sistematiza-
ção dos processos aplicáveis para determinar o 
sentido e o alcance das expressões do Direito, 
como explica Maximiliano. 8 
Para realizar efetivamente a interpretação, que é 
uma arte, faz-se necessário seguir princípios e 
regras, que ao passar dos tempos e com o de-
senvolvimento da sociedade fizeram desabrochar 
as doutrinas jurídicas. Passando a hermenêutica, 
pelos três aspectos: científico, filosófico e social. 
Desse modo, Maximiliano relata que a arte ficou 
subordinada ao Direito obediente, este por sua 
vez à Sociologia, aproveitando então a herme-
nêutica das conclusões filosóficas e com elas 
desenvolvendo novos processos de interpretação, 
enfeixando-os num sistema e assim promovendo 
um modernismo à arte. 
Ao falar das regras de hermenêutica, são classifi-
cadas em legais, de jurisprudência e científicas. 10 
As legais encontradas nos art. 5º, 6º e 7º da LICC 
dispõem: 
“Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins soci-
ais a que ela se dirige e às exigências do bem 
comum” (art. 5º) 11 
“A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respei-
tados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a 
coisa julgada” (art. 6º) 
“A lei do país em que for domiciliada a pessoa 
determina as regras sobre o começo e o fim da 
personalidade, o nome, a capacidade e os direi-
tos de família” (art. 7º) 
As regras de jurisprudência citadas por Washing-
ton de Barros Monteiro são: na interpretação de-
ve-se preferir a inteligência que faz sentido e que 
melhor atenda a tradição do direito; deve ser 
afastada a exegese que conduz ao contraditório; 
deve-se ter em vista o que ocorre no meio social; 
onde a lei não distingue, o intérprete não deve 
distinguir; todas as leis especiais ou excepcionais 
devem ser interpretadas restritivamente; tratando-
se de interpretar leis sociais, faz-se necessário 
incutir à alma do jurista uma certa dose de espíri-
to social, para não correr o risco de sacrificar a 
verdade à lógica. 
Olhando a hermenêutica no âmbito lato sen-
su podemos encontrá-la nas seguintes divisões: 
interpretação (determinar o sentido da lei), inte-
gração (suprimento das lacunas dos sistemas 
jurídicos) e aplicação do Direito (adaptação das 
normas aos fatos). 
Considerações Finais 
Observamos que, desde a antiguidade grega até 
os dias atuais e utilizada em qualquer campo, a 
 
 14 
 
Hermenêutica é a grande arte de interpretar. 
Dessa forma, podemos tocar na essencial e ne-
cessária importância para o Direito, onde é classi-
ficada de Hermenêutica Jurídica e responsável 
pela leal e fidedigna transmissão do que propõem 
as leis e jurisprudências, para facilitar a aplicação 
do Direito na sociedade, obtendo dessa forma a 
harmonia geral. 
PESSOAS NATURAIS DA PERSONALIDADE 
Personalidade jurídica é a aptidão genérica para 
titularizar direitos e contrair obrigações. É o atri-
buto necessário para ser sujeito de direito. 
No que cerne à pessoa natural, o Código Civil 
estabelece que a personalidade é atributo de toda 
e qualquer pessoa, natural ou jurídica. 
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres 
na ordem civil. 
A pessoa natural para o direito é, portanto, o ser 
humano, enquanto sujeito ou destinatário de direi-
tos e obrigações.2. AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDI-
CA. 
O ordenamento civil pátrio adotou a teoria natalis-
ta, que leciona que a aquisição da personalidade 
jurídica se dá com o nascimento com vida, ou 
seja, no instante em que o aparelho cardiorrespi-
ratório inicia seu funcionamento[1], o recém-
nascido adquire personalidade jurídica, tornando-
se sujeito de direito. 
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa 
do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, 
desde a concepção, os direitos do nascituro. 
Importante lembrar que, diferente da concepção 
romanista e do Código Civil Espanhol, a generali-
dade das civilizações contemporâneas não exige 
forma humana para que conceda ao recém-
nascido a qualidade de pessoa. 
3. NASCITURO. 
Cuida-se do ente concebido, embora não nasci-
do, ou como Limongi França define, é o que está 
por nascer, mas já concebido no ventre materno. 
O Direito Civil põe a salvo os direitos do nascitu-
ro, desde a concepção. 
Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do 
nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, des-
de a concepção, os direitos do nascituro. 
Ora, em sendo adotada a teoria natalistas, seria 
razoável o entendimento de que o nascituro, ain-
da não nascido, teria apenas mera expectativa de 
direito. Contudo, a questão não é pacífica na dou-
trina. 
Arnold Wald, Miguel Maria de Serpa Lopes entre 
outros, são adeptos da teoria da personalidade 
condicional, que sufraga o entendimento de que o 
nascituro possui direitos sob condição suspensi-
va, vinculado ao nascimento com vida. 
Já Teixeira de Freitas, Clóvis Beviláqua, Limongi 
França, entre outros, adotam a teoria concepcio-
nista, cuja vertente de pensamento é de que o 
nascituro adquire a personalidade jurídica desde 
a concepção, sendo considerado pessoa, com 
personalidade jurídica formal, sem cunho patri-
monial. 
A despeito de toda controvérsia doutrinária, o fato 
é que, nos termos da lei, o nascituro não é consi-
derado pessoa, mas tem a proteção legal dos 
seus direitos desde a concepção. Essa proteção 
estende-se ao natimorto. 
4. CAPACIDADE DE DIREITO E DE FATO. LE-
GITIMIDADE. 
Adquirida a personalidade, toda pessoa passa a 
ser capaz de direitos e obrigações, possuindo, 
portanto, capacidade de direito e de fato. 
Capacidade de direito corresponde ao atributo 
inerente à pessoa, natural ou jurídica, com aquisi-
ção de personalidade, para ser titular de uma 
relação jurídica. Se puder exercer pessoalmente 
esse direito, tem-se a capacidade de fato ou de 
exercício. Reunidos os dois atributos, fala-se 
em capacidade civil plena. 
Diferencia-se capacidade de legitimidade, visto 
que esta última corresponde à capacidade espe-
cífica para a prática de uma determinada relação 
jurídica. São impedimentos circunstanciais, con-
siderando-se a situação especial da pessoa. 
Entretanto, em razão de limitações orgânicas ou 
psicológicas, nem toda pessoa possui aptidão 
para exercer pessoalmente seus direitos. Essa 
impossibilidade de exercício denomina-se incapa-
cidade. 
4.1. Incapacidade absoluta 
Traduz-se na falta de aptidão para praticar pes-
soalmente os atos da vida civil. Falta total capaci-
dade de direito e de fato para a pessoa nessa 
situação. 
Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer 
pessoalmente os atos da vida civil: 
I - os menores de dezesseis anos; 
 
 15 
 
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, 
não tiverem o necessário discernimento para a 
prática desses atos; 
Essa incapacidade deve ser oficialmente reco-
nhecida por meio de interdição (CPC, arts.1177 
a 1186). 
Parte da doutrina, entre eles Orlando Gomes, 
reconhece, ainda, uma incapacidade natural, em 
casos de não declarada a enfermidade ou defici-
ência, anulando-se os atos por ele praticados. Em 
sentido contrário, Silvio Rodrigues entende que a 
anulação do ato não se daria pela incapacidade, 
posto que a lei civil não admite, mas sim pela falta 
da boa-fé objetiva no pacto. 
III - os que, mesmo por causa transitória, não 
puderem exprimir sua vontade. 
4.2. Incapacidade relativa 
Figura entre a capacidade civil plena e a absoluta 
incapacidade. Corresponde às pessoas que se 
localizam em zona intermediária, por não possuí-
rem total capacidade de discernimento e autode-
terminação. 
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos 
atos, ou à maneira de os exercer: 
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito 
anos; 
Importante lembrar que não há correlação entre 
maioridade civil e maioridade penal. A coincidên-
cia do marco temporário (dezoito anos) é aciden-
tal. 
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e 
os que, por deficiência mental, tenham o discer-
nimento reduzido; 
III - os excepcionais, sem desenvolvimento men-
tal completo; 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos índios será 
regulada por legislação especial. 
Interessante notar que, segundo determinação 
legal, a capacidade dos índios deve ser regulada 
por legislação especial. A Lei nº 5.371/1967, que 
instituiu a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), 
exerce poderes de representação e apoio ao in-
dígena. A Lei nº 6.001/1973 (Estatuto do Índio) 
considera o indígena agente absolutamente inca-
paz, reputando nulos os atos por ele praticados 
sem a devida representação. No caso de o índio 
apresentar discernimento, aliado à inexistência de 
prejuízo, excepcionalmente, a lei permite que ele 
seja considerado capaz. 
Pablo Stolze entende que a constante inserção 
social do índio na sociedade brasileira, com a 
conseqüente absorção de valores e hábitos da 
civilização ocidental firma a idéia de que, excep-
cionalmente, o índio deveria ter reconhecida a 
falta de discernimento, sendo a capacidade regra 
geral, e a incapacidade, relativa e eventual. 
4.3. Suprimento da incapacidade: Representa-
ção e Assistência. 
O suprimento da incapacidade absoluta se dá 
através de representação. O representante prati-
ca o ato no interesse do incapaz, em seu lugar. 
Esta é a chamada representação legal. 
Art. 115. Os poderes de representação conferem-
se por lei ou pelo interessado. 
De outra banda, existe a representação voluntá-
ria ou convencional. Trata-se da representação 
onde há acerto das próprias partes contratantes, 
podendo haver mandato, com poderes genéricos 
ou específicos na representação. 
Já o suprimento da incapacidade relativa ocorre 
por meio da assistência. O relativamente incapaz 
pratica efetivamente o ato, juntamente com seu 
assistente, sob pena de anulabilidade. 
5. EMANCIPAÇÃO. 
A menoridade, à luz do Código Civil, cessa aos 
dezoito (18) anos completos, quando a pessoa 
fica habilitada à prática de todos os atos da vida 
civil. 
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos 
completos, quando a pessoa fica habilitada à 
prática de todos os atos da vida civil. 
Ocorre que é possível a antecipação da capaci-
dade plena, em virtude da autorização dos repre-
sentantes legais do menor ou do juiz, pela super-
veniência de fato que a lei atribui força para tanto. 
Cuida-se do instituto chamado e mancipação. 
A emancipação poderá ser voluntária (art. 5º, 
parágrafo único, I, primeira parte), judicial (se-
gunda parte) ou legal (incisos II, III, IV e V). 
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a 
incapacidade: 
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na 
falta do outro, mediante instrumento público, in-
dependentemente de homologação judicial, ou 
por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor 
tiver dezesseis anos completos; 
 
 16 
 
II - pelo casamento; 
A capacidade para o casamento se dá a partir 
dos dezesseis anos, conforme CC, art. 1517. 
Havendo divergência entre os pais, nos termos do 
art. 1631, o embate poderá ser levado ao juiz, a 
quem caberá decidir. Excepcionalmente, menor 
de dezesseis poderácontrair núpcias, nos termos 
do art. 1520. 
Mesmo havendo dissolução da sociedade conju-
gal, o emancipado não retorna à incapacidade. 
Somente em casos de anulação ou nulidade, e 
não havendo boa-fé no ato, aí poderia o emanci-
pado retomar a condição de menor. 
III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
Essa regra diz respeito às causas de provimento 
efetivo em cargo ou emprego público. 
IV - pela colação de grau em curso de ensino 
superior; 
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou 
pela existência de relação de emprego, desde 
que, em função deles, o menor com dezesseis 
anos completos tenha economia própria. 
6. NOME CIVIL. 
O nome da pessoa natural é o sinal exterior mais 
visível da sua individualidade, tornando-se identi-
ficável em seu âmbito familiar e no meio social. 
Acerca da natureza jurídica do nome, surgem 
algumas teorias. 
Uma primeira tese entende o nome como direito 
de propriedade, cujo titular, seria a família ou o 
próprio indivíduo. Não prospera, uma vez que não 
se pode alienar o nome ou abandoná-lo, portanto, 
não tem cunho patrimonial. Pode ser aceita com 
relação ao nome comercial. 
Já um segundo entendimento, vê o nome como 
uma questão de estado, um fato protegido pelo 
ordenamento jurídico. Essa não satisfaz mediante 
a possibilidade de mudança de um nome, ates-
tando a sua artificiosidade. 
O terceiro pensamento, adotado pelo Código 
Civil, visualiza o nome como um dos direitos da 
personalidade, conferindo-lhe tutela específica. 
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, 
os direitos da personalidade são intransmissíveis 
e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício 
sofrer limitação voluntária. 
 
6.1. Esclarecimentos terminológicos 
Cumpre esclarecer algumas terminologias acerca 
do nome. 
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele 
compreendidos o prenome e o sobrenome. 
O nome compreende o prenome (primeiro nome 
ou nome de batismo, ex: Ronaldo, João) e o so-
brenome (nome de família, ex: Pereira, Silva). A 
expressão apelido, por seu turno, é utilizada co-
mo sinônimo de patronímico (apelidos de família, 
ex: Barbosa, Pereira) ou de cognome (designa-
ção dada a alguém devido uma particularidade 
pessoal, ex: Pelé, Xuxa). 
Num terceiro elemento, embora sem previsão 
legal, temos o agnome (sinal distintivo que se 
acrescenta ao nome para diferenciá-lo de paren-
tes, ex: filho, neto). 
Por fim, destaca-se o pseudônimo ou codinome 
(nome escolhido para o exercício de uma ativida-
de, ex: Lima Duarte). 
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades 
lícitas goza da proteção que se dá ao nome. 
6.2. Possibilidades de alteração 
Diante da característica pessoal de atributo da 
personalidade, não se autoriza com facilidade a 
mudança do nome. Tomando como parâmetro, 
temos a motivação da iniciativa necessária e vo-
luntária para a alteração do nome. 
Lei nº 6.015/73. Art. 58. O prenome será definiti-
vo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por 
apelidos públicos notórios. (Redação dada pela 
Lei nº 9.708, de 1998) 
 Parágrafo único. A substituição do prenome será 
ainda admitida em razão de fundada coação ou 
ameaça decorrente da colaboração com a apura-
ção de crime, por determinação, em sentença, de 
juiz competente, ouvido o Ministério Públi-
co.(Redação dada pela Lei nº 9.807, de 1999) 
Causas necessárias decorrem da modificação de 
estado de filiação, como alteração do nome dos 
pais, etc. As causas voluntárias dependem de 
autorização judicial, ressalvado o casamento, cuja 
modificação encontra expressa previsão legal. 
Art. 1.565. § 1o Qualquer dos nubentes, queren-
do, poderá acrescer ao seu o sobrenome do ou-
tro. 
6.3. Tutela jurídica do nome 
 
 17 
 
A designação do nome civil da pessoa natural é 
de livre escolha do declarante, ressalvado o regis-
tro obrigatório do patronímico, inexistindo exclusi-
vidade para sua concessão. 
O Código Civil protege a sua utilização indevida, 
conforme se verifica nos arts. 17 e18. 
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empre-
gado por outrem em publicações ou representa-
ções que a exponham ao desprezo público, ainda 
quando não haja intenção difamatória. 
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o 
nome alheio em propaganda comercial. 
7. ESTADO DA PESSOA NATURAL. 
O estado da pessoa natural indica a sua situação 
jurídica nos contextos político, familiar e individu-
al. 
Segundo Orlando Gomes, estado político leva em 
conta a posição do indivíduo com relação ao Es-
tado, ou seja, sua classificação como nacional ou 
estrangeiro. Estado familiar considera as situa-
ções do cônjuge e parentesco, levando em conta 
as posições do indivíduo no seio familiar. 
Já estado individual baseia-se na condição física 
do indivíduo em seu poder de agir, levando em 
conta a idade, sexo, saúde, sendo maior, menor, 
capaz, mulher, etc. 
Estes atributos caracterizam-se pela irrenunciabi-
lidade, imprescritibilidade e inalienabilidade. 
Todas as ações judiciais referentes ao estado da 
pessoa natural são denominadas ações prejudici-
ais, tendo por fim criar, modificar ou extinguir 
estado. 
8. REGISTRO CIVIL. 
O registro civil é, segundo Francisco Amaral, a 
instituição administrativa que tem por objetivo 
imediato a publicidade dos fatos jurídicos de inte-
resse das pessoas e da sociedade. Sua função é 
dar autenticidade, segurança e eficácia aos fatos 
jurídicos de maior relevância para a vida e os 
interesses dos sujeitos de direito. 
Lei nº 6.015/73. Art. 1º Os serviços concernentes 
aos Registros Públicos, estabelecidos pela legis-
lação civil para autenticidade, segurança e eficá-
cia dos atos jurídicos, ficam sujeitos ao regime 
estabelecido nesta Lei. 
 § 1º Os Registros referidos neste artigo são os 
seguintes: 
 I - o registro civil de pessoas naturais; 
 II - o registro civil de pessoas jurídicas; 
 III - o registro de títulos e documentos; 
 IV - o registro de imóveis. 
 § 2º Os demais registros reger-se-ão por leis 
próprias. 
No que tange à pessoa natural, criou-se o siste-
ma brasileiro de registro civil, organizado pela 
mesma lei. 
Art. 29. Serão registrados no registro civil de pes-
soas naturais: 
 I - os nascimentos; 
 II - os casamentos; 
 III - os óbitos; 
 IV - as emancipações; 
 V - as interdições; 
 VI - as sentenças declaratórias de ausência; 
 VII - as opções de nacionalidade; 
 VIII - as sentenças que deferirem a legitimação 
adotiva. 
 § 1º Serão averbados: 
 a) as sentenças que decidirem a nulidade ou 
anulação do casamento, o desquite e o restabe-
lecimento da sociedade conjugal; 
 b) as sentenças que julgarem ilegítimos os filhos 
concebidos na constância do casamento e as que 
declararem a filiação legítima; 
 c) os casamentos de que resultar a legitimação 
de filhos havidos ou concebidos anteriormente; 
 d) os atos judiciais ou extrajudiciais de reconhe-
cimento de filhos ilegítimos; 
 e) as escrituras de adoção e os atos que a dis-
solverem; 
 f) as alterações ou abreviaturas de nomes. 
 § 2º É competente para a inscrição da opção de 
nacionalidade o cartório da residência do optante, 
ou de seus pais. Se forem residentes no estran-
geiro, far-se-á o registro no Distrito Federal. 
Os episódios mais importantes da vida do homem 
refletem-se no registro civil: nascimento, casa-
mento, separação, divórcio e morte. 
 
 18 
 
O Código Civil estabelece, em seu art. 9º, os atos 
que deverão ser registrados e averbados em re-
gistro público: 
Art. 9o Serão registrados em registro público: 
I - os nascimentos, casamentos e óbitos; 
II - a emancipação por outorga dos pais ou por 
sentença do juiz; 
III - a interdição por incapacidade absoluta ou 
relativa; 
IV - a sentença declaratória de ausência e de 
morte presumida. 
Art.

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