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1 Direito Civil O que é Direito Civil? O Direito Civil constitui um dos muitos ramos do Direito. No Direito Civil encontram-se todas as normas que formam o conjunto de leis que bus- cam dar conta de regular a vida dos cidadãos em sociedade em todos os seus aspectos. Todos os nossos direitos e obrigações que sob o ponto de vista jurídico garantem ao cidadão comum uma vida segura, harmoniosa e justa estão contidos no Direito Civil. Podemos dizer que o Direito Civil constitui-se por todas as leis do código civil brasileiro. Vigorando desde o dia 11 de janeiro de 2003 e contendo mais de 2000 artigos o Código Civil brasileiro divide-se em três partes. Na primeira parte, chamada Parte Geral, encon- tramos o Livro I, o Livro II e o Livro III, respecti- vamente chamados “Das Pessoas”, “Dos Bens” e “Dos Fatos Jurídicos”. A segunda parte, chamada Parte Especial, se divide em seis livros do Livro I ao livro VI e cada livro tem como título: “Do Direito das Obrigações”, “Do Direito das Empresas”, “Do Direito das Coi- sas”, “Do Direito da Família”, “Direito da Suces- são” e “Do Direito dos Contratos”. Na terceira e última parte encontramos o título “Parte Final ou Das Disposições Finais e Transitó- rias”. Princípios básicos do Direito Civil 1 - Princípio da Personalidade - esse princípio garante que todos os seres humanos tem direito a existir; e vivendo em sociedade possuem tanto direitos como obrigações; 2 - Princípio da Autonomia da Vontade - esse princípio garante que os seres humanos sejam livres para agir de acordo com usa vontade desde que não firam outros princípios; 3 - Princípio da Liberdade de Estipulação Ne- gocial - esse princípio garante aos cidadãos a liberdade de fazer negócios de compra e venda ou abrir empresas; 4 - Princípio da Propriedade Individual - esse princípio garante ao cidadão o direito de comprar e ter a posse de qualquer bem que lhe aprouver; 5 - Princípio da Intangibilidade Familiar - esse princípio garante os direitos e deveres das famí- lias e estabelece esta como um dos elementos centrais da sociedade; 6 - Princípio da Legitimidade da Herança e do Direito de Testar - esse princípio garante que as pessoas podem transmitir a herança a seus her- deiros da forma que entender ser a melhor; 7 - Princípio da Igualdade Social – esse princí- pio garante que todos os cidadão são iguais e possuem os mesmos direitos e deveres; 8 - Princípio da Solidariedade Social – esse princípio versa sobre a importância de que os interesses particulares e os da coletividade não entrem em choque. Público e Direito Privado O Direito é dividido de forma clássica em Direito Público e Direito Privado. Tal classificação é con- siderada equívoca por alguns doutrinadores. Ana- lisando que em muitos casos não é possível iden- tificar a natureza jurídica do interesse em ques- tão, uma vez que todos estão interligados. Para entender melhor o que significa essa classi- ficação e qual é o seu alcance vamos verificar a seguir a definição de Direito Público e de Direito Privado. O Que é Direito Público? O Direito Público é o ramo do direito composto pelas normas que tem por matéria interesse do Estado, tais como a função e organização, a or- dem e segurança, a paz social, etc. Tais normas regulam as relações entre o Estado e os particulares, visando sempre a concretização do interesse público, conforme as previsões da lei. O interesse público se concretiza por meio da atuação da Administração Pública, com a organi- zação e prestação dos serviços públicos e utiliza- ção de recursos financeiros públicos. Na definição de Celso Ribeiro Bastos Direito Pú- blico é: “conjunto de normas e princípios que regem a atividade do Estado, a relação deste com os par- ticulares, assim como o atuar recíproco dos cida- dãos.” O Direito Público se divide em: O Direito Público Interno O Direito Público Interno rege os interesses esta- tais e sociais. Suas normas encontram-se no direito constitucional, administrativo, processual, tributário, penal e eleitoral. Direito Público Externo Tem a função de tratar das relações internacio- 2 nais entre Estados soberanos, as normas utiliza- das para tanto são as de Direito Internacional Público, ou seja, convenções e tratados que os chefes de estado firmam com organizações inter- nacionais. O Que é Direito Privado? O Direito Privado é formado por normas que tem por matéria as relações existentes entre os parti- culares relativas à vida privada, e as relações patrimoniais ou extrapatrimoniais. As normas de direito privado encontram-se no direito civil e no direito comercial. Ramos do Direito Como vimos a divisão do Direito em direito públi- co e direito privado é uma questão polemica que não possui consenso entre os estudiosos e dou- trinadores, uma vez que não há critério satisfató- rio para essa distinção. Dessa forma vamos identificar os principais ra- mos do Direito Público e do Direito Privado, sen- do que em outras classificações podemos encon- trar de forma diversa, algumas podem incluir uma classe de normas a um ramo do Direito ou mes- mo destinar a outro. Os critérios de classificação mais aceitos são o critério referente ao sujeito e o critério do interes- se. Com relação ao sujeito é considerado que o Estado faz parte da relação jurídica no direito público, e os particulares são regidos pelo direito privado. O critério do interesse considera o interesse em questão, se o interesse for público faz parte do direito público, da mesma forma que os interes- ses particulares são regulados pelo direito priva- do. Ramos Do Direito Público Direito Constitucional O Direito Constitucional é a lei maior do Estado, subordinando todas as demais normas aos seus comandos e aos seus princípios. A constituição federal de 1988, denominada cons- tituição cidadã, instituiu o regime democrático de direito, com o objetivo de assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, liberdade, segu- rança, igualdade, entre outros direitos assegura- dos conforme o expresso no preâmbulo constitu- cional. Direito Processual As normas processuais regulam a organização do judiciário e do processo judicial, é, portanto, ins- trumento que o titular do direito subjetivo utiliza para obtenção do direito material. As normas processuais são de direito civil, penal, trabalho, entre outros procedimentos disponíveis. Direito Administrativo O direito administrativo é relativo às relações entre a Administração Pública e os cidadãos, denominados respectivamente de administrador e administrados. Seus assuntos são relacionados com o interesse público, tais como responsabili- dade civil, poder de polícia, processos administra- tivos, fiscalização, conservação de bens públicos, etc. Direito Penal O direito penal tem por finalidade tutelar os bens jurídicos mais importantes para a sociedade. A tutela dos bens jurídicos é função do Estado, portanto interesse público. Vigência Em sendo válida, esta pode ser vigente, isto é, ter capacidade de produzir seus efeitos no mundo jurídico e fático. Segundo KELSEN, “com a palavra ‘vigência’ designamos a existência específica de uma nor- ma” Assim, o artigo 1° da Lei de Introdução às Nor- mas do Direito Brasileiro institui que “salvo dispo- sição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada”. Dessa forma, compreendemos que a vigên- cia/existência de uma lei válida se inicia após o período de vacatio legis, ou seja, o lapso temporal entre sua publicação e sua interseção no sistema jurídico, conforme ditames acima. Nesse ponto, Paulo de Barros Carvalho ensina que: Viger é ter força para disciplinar,para reger, cum- prindo a norma seus objetivos finais. A vigência é propriedade das regras jurídicas que estão pron- tas para propagar efeitos, tão logo aconteçam, no mundo fático, os eventos que elas descrevem. Há normas que existem e que, por conseguinte, são válidas no sistema, mas não dispõem dessa apti- dão. A despeito de ocorrerem os fatos previstos em sua hipótese, não se desencadeiam as con- sequências estipuladas no mandamento. Dize- mos que tais regras não têm vigor, seja porque já o perderam, seja porque ainda não o adquiriram. 3 Com efeito, não podemos confundir vigência com validade, uma vez que esta é sinônimo de inte- gração com ordenamento jurídico seja formal, seja materialmente, enquanto àquela é a própria existência fática da norma no universo jurídico que ocorre após o transcurso do período de vaca- tion legis. Ademais, uma norma pode ser válida e não ser vigente, uma vez que pode está submetida a uma condição suspensiva ou de vacância, ou, ainda, ter tido sua vigência encerrada. Por outro lado, a validade sempre será pressuposta para a vigên- cia, consequentemente todas as normas vigentes terão que ser necessariamente válidas. Por sua vez, o artigo 2° da LICC permitiu ao legis- lador elaborar norma jurídica com vigência tempo- rária ou indeterminada, sendo esta última a regra caso não haja previsão expressa, ou seja, a ca- pacidade de provocar efeitos no mundo jurídico e fático está condicionado ao período que ela está vigente. Assim, se fixado um período delimitado de vigência, a norma jurídica cessará os seus efeitos no termo final do lapso temporal. De outra sorte, as indeterminadas só podem ter a vigência cessada, em respeito ao princípio da continuidade normativa, por meio do instituto da revogação, que consiste na entrada em vigor de uma nova norma jurídica que fulmine com o a antiga, expressa ou tacitamente (incompatibilida- de da lei revogada com a lei nova), salientando que para tanto a nova norma deve ter, ao menos, a mesma hierarquia da norma revogada. A revogação da norma pode ser parcial ou total, respectivamente denominadas de derrogação ou ab-rogação, onde a primeira só alcança parte da norma revogada, quanto a segunda a revoga por inteiro, conforme leciona Caio Mário da Silva Pe- reira: Ab-rogada uma lei, desaparece e é inteiramente substituída pela lei revogadora, ou simplesmente se anula, perdendo o vigor de norma jurídica a partir do momento em que entra em vigor a que a ab-rogou. Derrogada, a lei não fenece, não sai de circulação jurídica, mas é amputada nas partes ou dispositivos atingidos, que apenas estes per- dem a obrigatoriedade. Ressalta-se que, em regra, por força do §2° do artigo 3° da LICC, não ocorre o efeito repristinató- rio normativo, ou seja, a lei revogada não retorna- rá seus efeitos, automaticamente, no caso de a lei que a revogou ser revogada por outra lei. Para tanto é necessário que seja previsto na novel norma. Assim, Maria Helena Diniz, amparada por Kelsen, afirma que; “Dizer que uma norma vale, na teoria Kelseniana significa afirmar que ela vigora para um determi- nado espaço ou para um certo período de tempo, ou seja, que se refere a um comportamento que apenas pode verificar-se num dado lugar ou num certo momento”. Com efeito, resta evidente que a norma jurídica vigente possui força em um determinado espaço (Município, Estado, Distrito Federal e União) e durante certo tempo, até ser revogada por outra norma ou expirar o prazo previsto nela. Para tan- to, os doutrinadores denominam por vigência no âmbito espacial e no âmbito temporal, respecti- vamente. Outro ponto importante a se abordar acerca da vigência da norma jurídica é que, em regra, esta só poderá atingir os fatos jurídicos posteriores a sua vigência, em respeito ao princípio da irretroa- tividade da norma jurídica, o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, conforme o artigo 6° da LICC e o inciso XXXVI do artigo 5 da Constituição Federal. Salienta-se que, em alguns casos, o sistema jurí- dico pátrio permite a retroatividade da norma no- va para regulamentar condutas passadas, por exemplo, as normas interpretativas, e, de certa forma, as processuais que possuem aplicação imediata aos atos processuais não finalizados, independente do fato discutido ter ocorrido antes da vigência. Eficácia Já por Eficácia da Norma Jurídica, seguimos os ensinamentos do professor Paulo de Barros Car- valho que divide este instituto em Eficácia Técni- ca, Eficácia Jurídica e Eficácia Social. ‘Eficácia técnica’ é a qualidade que a norma os- tenta, no sentido de descrever fatos que, uma vez ocorridos, tenham aptidão de irradiar efeitos jurí- dicos, já removidos os obstáculos materiais ou as impossibilidades sintáticas (na terminologia da Tércio). ‘Eficácia jurídica’ é o predicado dos fatos jurídicos de desencadearem as consequências que o ordenamento prevê. E, por fim, a ‘eficácia social’, como a produção concreta de resultados na ordem dos fatos sociais. Conflitos de Leis no Tempo Considerações Iniciais É possível uma lei retroagir para alcançar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa jul- gada? Antes de adentrarmos na análise dos con- 4 flitos de normas no tempo, devemos analisar e compreender um pouco da lei que regula a referi- da questão. Inicialmente, o Decreto-Lei n. 4.657/1942, em sua redação original, tinha como ementa: “Lei de In- trodução ao Código Civil Brasileiro” (LICC). Po- rém, com a entrada em vigor da Lei n. 12.376/2010, o título do referido decreto-lei foi alterado para “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro” (LINDB). Essa mudança ocor- reu em virtude de a LINDB não ser parte integran- te do Código Civil, e sim uma lei autônoma. As normas previstas na LINDB não regulam ape- nas as partes integrantes do Código Civil, mas todas as normas previstas no ordenamento jurídi- co. Ela não rege a vida das pessoas, como é o caso do Código Civil, mas sim as próprias normas jurídicas, alcançando tanto o direito privado, quanto o direito público. Segundo Tartuce, a LINDB: “[...] é um conjunto de normas sobre normas, ou uma norma de sobredi- reito (lex legum), eis que disciplina as próprias normas jurídicas, prevendo a maneira de sua aplicação no tempo e no espaço, bem como a sua compreensão e o entendimento do seu senti- do lógico, determinando também quais são as fontes do direito, em complemento ao que consta na Constituição Federal.” Feita as devidas considerações sobre a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, pas- semos a análise da celeuma que envolve o insti- tuto “conflito de leis no tempo”, regulado pela referida lei, em especial sobre a possibilidade ou não de uma lei retroagir para alcançar o ato jurí- dico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Conflitos de Leis no Tempo Como é de conhecimento de todos, a lei, em re- gra, é feita para valer para o futuro. Segundo Maria Helena Diniz, quando uma lei modifica ou regula, de forma diferente, a matéria versada pela lei anterior, seja em decorrência da ab-rogação (revogação total da lei anterior) ou pela derrogação (revogação parcial da lei anteri- or), podem surgir conflitos entre as novas disposi- ções e as relações jurídicas já consolidadas sob a égide da velha norma revogada. Sendo assim, o doutrinador Carlos Roberto Gon- çalves faz o seguinte questionamento: Será que é possível a aplicação da lei nova às situações anteriormente constituídas? Para solucionar tal questão, a doutrina utiliza dois critérios. O primeiro critério diz respeito às dispo- sições transitórias, às quais são elaboradas pelo legislador, no próprio texto normativo, destinadas a evitar e a solucionar conflitosque poderão sur- gir do confronto da nova lei com a antiga lei. Tais normas são temporárias e conciliam a nova lei com as relações já definidas pela norma anterior. O segundo critério, como bem explica Maria He- lena Diniz, diz respeito ao princípio da retroativi- dade e da irretroatividade das normas. A regra adotada pelo ordenamento jurídico é de que a norma não poderá retroagir, ou seja, a lei nova não será aplicada às situações constituídas sobre a vigência da lei revogada ou modificada (princípio da irretroatividade). Este princípio obje- tiva assegurar a segurança, a certeza e a estabi- lidade do ordenamento jurídico. É possível afirmar, ainda, que o referido princípio apresenta duplo fundamento, sendo um de ordem constitucional e outro de ordem infraconstitucio- nal. Vejamos: O art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal prevê que: “A lei não prejudicará o direito adquiri- do, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.” Já o art. 6º, da LINDB diz o seguinte: “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitando o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.” Sendo assim, tendo como parâmetro estes dois fundamentos, é possível observar que a regra da irretroatividade não é absoluta, tendo em vista que convive com outro preceito de direito inter- temporal, que é o da eficácia imediata e geral da lei nova. Ou seja, em alguns casos a lei nova poderá retroagir. Além disso, Carlos Roberto Gonçalves afirma que a irretroatividade das leis não possui caráter absoluto, por razões de políti- cas legislativas, que por sua vez podem reco- mendar que, em determinadas situações, a lei seja retroativa, atingindo os efeitos dos atos jurí- dicos praticados sob o império da norma antiga. Nessa perspectiva, é possível se olvidar que a lei nova alcance os casos pendentes e futuros de- correntes de situações pretéritas que se realizem sob a égide da lei revogada, não abrangendo os fatos passados, nos quais se incluem o ato jurídi- co perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Em meio a essas explanações, vale aduzir o que venha ser ato jurídico perfeito, direito adquirido e coisa julgada. Sobre o assunto, Flávio Tartuce assevera que: “Direito adquirido: é o direito material ou imaterial já incorporado ao patrimônio de uma pessoa na- tural, jurídica ou ente despersonalizado.” 5 Pela previsão do § 2º do art. 6º da LINDB: “consi- deram-se adquiridos assim os direitos que seu titular, ou alguém por ela, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha tempo prefixo ou condição preestabelecida inalterável, a arbítrio de outrem”. Isso quer dizer que o direito adquirido não se restringe apenas ao direito que já se incorporou ao patrimônio de seu titular, mais também o exer- cício de um direito que depende de um termo prefixo ou condição preestabelecida e que seja inalterável, pelo arbítrio de outrem. Com relação ao ato jurídico perfeito, Maria Hele- na Diniz diz que é o ato: “[...] já consumado, se- guindo a norma vigente ao tempo em que se efe- tuou. Já se tornou apto para produzir os seus efeitos.” Por fim, a coisa julgada, também chamada de caso julgado, consiste na imutabilidade de uma sentença, ou seja, é a decisão prolatada da qual não caiba mais recurso. Dessa forma, é possível perceber que a Consti- tuição Federal, como a LINDB, adotaram a Teoria de Francesco Gabba, que se apoia em total res- peito ao direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, no intuito de preservação da se- gurança jurídica. Desta maneira, é possível concluir que a regra é a irretroatividade no que diga respeito ao direito adquirido, ao ato jurídico perfeito e a coisa julga- da, e a possibilidade da retroatividade no que diga respeito a casos pendentes e futuros. Logo, a regra é que a lei só pode retroagir, para atingir fatos consumados quando não ofender o ato jurí- dico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, e quando o legislador, expressamente, mandar aplicá-la a casos passados, mesmo que a palavra “retroatividade” não seja usada. Diante disso, a doutrina reconhece três tipos de retroatividade, quais sejam: Retroatividade máxima, também chamada de restitutória, que é aquela em que a lei nova ataca fatos pretéritos, ou seja, fatos já consumados sob a vigência da lei revogada, prejudicando assim o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Retroatividade média, que é aquela em que a lei nova atinge efeitos pendentes de atos jurídicos verificados antes da nova lei, como por exemplo, um contrato, em que uma prestação esteja venci- da, mas ainda não foi paga. Retroatividade mínima, também chamada de temperada ou mitigada, na qual a lei nova alcan- ça e atinge os efeitos futuros de situações passa- das consolidadas sob a vigência da lei anterior, como por exemplo, uma prestação decorrente de um contrato que não venceu e ainda não foi paga. Inclusive, existem alguns autores que defendem que neste aspecto não seria nem caso de retroa- tividade. Com isso, não se verifica propriamente a retroatividade, o que ocorre é tão somente a apli- cação imediata da lei nova, que por sua vez seria uma situação intermediária entre a retroatividade e a irretroatividade. Na ADI 439, o Ministro Moreia Alves, em seu voto, citando Matos Peixoto, diz que tais conside- rações são equivocadas, já que: “[...] dúvidas não há de que, se uma lei alcança efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela, será essa lei retroativa porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato ocorrido no passado. Nesse caso, a aplicação imediata se faz, mas com efeito retroativo. [14] Para o ex-ministro do STF, norma irretroativa não alcança efeitos pendentes e futu- ros de atos constituídos sob o império da lei ve- lha. Em que pese a retroatividade de grau máximo, esta não é aceita pela doutrina majoritária. No entanto, em relação a retroatividade de graus médio e mínimo, estas são aceitas pela maioria da doutrina. A contrario sensu, o doutrinador Flávio Tartuce, em seu Manual de Direito Civil, levanta uma questão contemporânea das mais relevantes, qual seja: será que a proteção dos institutos do ato jurídico perfeito, do direito adquirido e da coi- sa julgada são absolutos? A resposta, segundo o ilustre doutrinador, é negativa, diante de uma forte tendência de relativizar princípios e regras em sede de Direito. Nessa esteira, é possível observar a relativização da coisa julgada. Vejamos o entendimento do STJ a esse respeito: “É possível a flexibilização da coisa julgada mate- rial nas ações de investigação de paternidade, na situação em que o pedido foi julgado improceden- te por falta de prova. Contudo, não se admite o ajuizamento de nova ação para comprovar a pa- ternidade mediante a utilização de exame de DNA em caso no qual o pedido anterior foi julgado improcedente com base em prova pericial produ- zida de acordo com a tecnologia então disponí- vel.” Seguindo a mesma linha de raciocínio, temos o Supremo Tribunal Federal, que no informativo n. 622, confirma a mitigação da coisa julgada. Se- não vejamos: 6 “Ação de investigação de paternidade e coisa julgada – 1 O Plenário iniciou julgamento de recurso extraor- dinário em que se discute a possibilidade, ou não, de superação da coisa julgada em ação de inves- tigação de paternidade cuja sentença tenha de- cretado a extinção do processo, sem julgamento do mérito, por insuficiência probatória. Na situa- ção dos autos, a genitora do autor não possuía, à época, condições financeiras para custear exame de DNA. Reconheceu-se a repercussão geral da questão discutida, haja vista o conflito entre o princípio da segurança jurídica, consubstanciado na coisa julgada(CF, art. 5º, XXXVI), de um lado; e a dignidade humana, concretizada no direito à assistência jurídica gratuita (CF, art. 5º, LXXIV) e no dever de paternidade responsável (CF, art. 226, § 7º), de outro. O Min. Luiz Fux salientou o aspecto de carência material da parte — para produção da prova extraída a partir do exame de DNA — como intrínseco à repercussão geral da matéria, tendo em vista a possibilidade, em de- terminados casos, de o proponente optar por não satisfazer o ônus da prova, independentemente de sua condição socioeconômica, considerado entendimento jurisprudencial no sentido de se presumir a paternidade do réu nas hipóteses de não realização da prova pericial. RE 363889/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2011. Ação de investigação de paternidade e coisa jul- gada – 2 Em seguida, o Min. Dias Toffoli, relator, proveu o recurso para decretar a extinção do processo original sem julgamento do mérito e permitir o trâmite da atual ação de investigação de paterni- dade. Inicialmente, discorreu sobre o retrospecto histórico que culminara na norma contida no art. 226, § 7º, da CF (“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial prote- ção do Estado. ... § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre deci- são do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercí- cio desse direito, vedada qualquer forma coerciti- va por parte de instituições oficiais ou privadas.”), dispositivo que teria consagrado a igualdade en- tre as diversas categorias de filhos, outrora exis- tentes, de modo a vedar qualquer designação discriminatória que fizesse menção à sua origem. A seguir, destacou a paternidade responsável como elemento a pautar a tomada de decisões em matérias envolvendo relações familiares. Nesse sentido, salientou o caráter personalíssi- mo, indisponível e imprescritível do reconheci- mento do estado de filiação, considerada a pree- minência do direito geral da personalidade. Adu- ziu existir um paralelo entre esse direito e o direito fundamental à informação genética, garantido por meio do exame de DNA. No ponto, asseverou haver precedentes da Corte no sentido de caber ao Estado providenciar aos necessitados acesso a esse meio de prova, em ações de investigação de paternidade. Reputou necessária a superação da coisa julgada em casos tais, cuja decisão ter- minativa se dera por insuficiência de provas. En- tendeu que, a rigor, a demanda deveria ter sido extinta nos termos do art. 267, IV, do CPC (“Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: IV - quando se verificar a ausência de pressupos- tos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;”), porque se teria mostrado impossível a formação de um juízo de certeza sobre o fato. Aduziu, assim, que se deveria pos- sibilitar a repropositura da ação, de modo a con- cluir-se sobre a suposta relação de paternidade discutida. Afirmou que o princípio da segurança jurídica não seria, portanto, absoluto, e que não poderia prevalecer em detrimento da dignidade da pessoa humana, sob o prisma do acesso à informação genética e da personalidade do indi- víduo. Assinalou não se poder mais tolerar a prevalên- cia, em relações de vínculo paterno-filial, do fictí- cio critério da verdade legal, calcado em presun- ção absoluta, tampouco a negativa de respostas acerca da origem biológica do ser humano, uma vez constatada a evolução nos meios de prova voltados para esse fim. Após, pediu vista dos autos o Min. Luiz Fux. RE 363889/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2011.” Segundo Tartuce, essa relativização da coisa julgada é solucionada pela técnica de ponderação desenvolvida por Robert Alexy. Segundo o autor, o caso em comento traz um conflito entre a prote- ção da coisa julgada e a dignidade do suposto filho de saber quem é seu pai. Nessa colisão en- tre direitos tidos por fundamentais, tanto o Supe- rior Tribunal de Justiça, quanto o Supremo Tribu- nal Federal, sabiamente privilegiaram o direito à verdade biológica (dignidade da pessoa humana) sobre a proteção da coisa julgada (segurança jurídica). Segundo Barroso, atual ministro do Supremo Tribunal Federal: “a previsão dos relatos se dá de maneira mais abstrata, sem se determinar a con- duta correta, já que cada caso concreto deverá ser analisado para que o intérprete dê o exato peso entre eventuais princípios em choque (coli- são). Assim, a aplicação dos princípios “não será no esquema tudo ou nada, mas graduada à vista das circunstâncias representadas por outras nor- 7 mas ou por situações de fato”. Destaca-se assim, a técnica da ponderação e do balanceamento, sendo, portanto, os princípios valorativos ou fina- lísticos.” Com relação ao direito adquirido, Tartuce de- monstra um caso de relativização da proteção desse instituto. O doutrinador afirma que o Códi- go Civil de 2002 contraria a regra de proteção absoluta ao instituto do direito adquirido, quando em seu art. 2.035 determina que: “Nenhuma con- venção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.” O art. 2.035 do Código Civil de 2002 consagra o princípio da retroatividade motivada, pela qual as normas de ordem pública relacionadas à função social da propriedade e dos contratos podem retroagir. Tartuce afirma que não há qualquer inconstitucionalidade na referida norma, eis que a função social da propriedade é amparada pela própria Constituição Federal em seu art. 5º, inci- sos XXII e XXIII. O ilustre doutrinador ainda afir- ma que a expressão “convenção” constante no art. 2.035 do Código Civil de 2002 abrange qual- quer ato jurídico celebrado, incluindo nesse rol os negócios jurídicos celebrados antes da entrada em vigor da nova lei geral privada. Vejamos um julgado do Tribunal de Justiça de Sergipe, ilustrado pelo doutrinador Tartuce: “Civil. Ações declaratória de inexigibilidade de títulos e cautelares de sustação de protestos. Intempestividade. Não configurada. Litispendên- cia. Extinção do feito. Rescisão contratual. Atraso. Cláusula Penal. Alegação de prejuízo. Desneces- sidade. Redução da multa convencional. Cabi- mento. Incidência sobre o montante não excetua- do do pacto. Compensação de dívidas. Liquidez. Simples cálculos aritméticos. Exigibilidade das duplicatas. Inocorrência. Contrato realizado na vigência do CC/1916. Regra de transição. Art. 2.035 do NCC. Matéria de ordem pública. Retroa- tividade da norma. Protestos indevidos. Distribui- ção do ônus sucumbencial. Procedência das ações cautelares (...). VIII. Tendo o contrato sido celebrado na vigência do Código Civil/1916, apli- cam-se, em princípio, as regras deste. Todavia, em se tratando de normas de ordem pública, é perfeitamente possível a retroatividade da Lei nova, consoante regra de transição disposta no art. 2.035, parágrafo único, do CC/2002. IX. Em se tratando a redução a cláusula penal de matéria de ordem pública, impondo a nova Lei, através do art. 413 do CC, uma obrigação ao magistrado em reduzir o montante da multa cominatória sempre que verificar excesso na fixação, a fim de que seja resguardada a função social dos contratos, impõem-se a manutenção do decisum que ape- nas fez incidir a norma cogente ao caso em apre- ço; (...) (TJSE, Apelação Cível 2006212091, Acórdão 10.214/2008, 2ª Câmara Cível, Rel.ª Des.ª Marilza Maynard Salgado de Carvalho, DJSE 13.01.2009, p. 16).” No referido julgado, o Tribunal entendeu que mesmo o contrato tendo se constituído sob a égide do Código Civil de 1916, e portanto, pre- sente os institutos do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, por conter cláusulapenal com parâmetros abusivo, isso por si só viola a função social dos contratos. Além disso, existe uma pre- visão no novo Código Civil, mais precisamente no art. 413, que diz que o juiz deve verificar se há penalidade excessiva e, caso a identifique, deve reduzi-la. Segundo o Tribunal, cláusula penal é matéria de ordem pública, e sendo matéria de ordem pública, deve retroagir a fatos pretéritos, como reza o art. 2.035 do Código Civil de 2002. Segundo Tartuce, a proteção do direito adquirido, que por sua vez é um dos pilares da segurança jurídica, não pode ser protegido ao extremo, ten- do em vista que se essa proteção for absoluta, o sistema jurídico restará engessado, não possibili- tando assim a evolução da ciência e da socieda- de. Deve entrar em cena a ponderação de valo- res, em especial quando se tratar de valores de ordem pública com amparo constitucional. Sobre o assunto, Daniel Santos diz o seguinte: “A segurança jurídica – ideia que nutre, informa e justifica a proteção constitucional do direito adqui- rido – é, como já se destacou, um valor de grande relevância no Estado Democrático do Direito. Mas não é o único valor, e talvez não seja nem mesmo o mais importante dentre aqueles em que se esteia a ordem constitucional brasileira. Justiça e igualdade material, só para ficar com dois exemplos, são valores também caríssimos à nos- sa Constituição, e que, não raro, conflitam com a proteção da segurança jurídica. Se a segurança jurídica for protegida ao máximo, provavelmente o preço que se terá de pagar será um comprometi- mento na tutela da justiça e da igualdade subs- tancial, e vice-versa. O correto equacionamento da questão hermenêu- tica ora enfrentada não pode, na nossa opinião, desprezar esta dimensão do problema, refugian- do-se na assepsia de uma interpretação jurídica fechada para o universo dos valores. Ademais no Estado Democrático de Direito, o próprio valor da segurança jurídica ganha um novo colorido, apro- ximando-se da ideia de Justiça. Ele passa a in- corporar uma dimensão social importantíssima. 8 A segurança jurídica, mais identificada no Estado Liberal com a proteção da propriedade e dos di- reitos patrimoniais em face do arbítrio estatal, caminha para a segurança contra infortúnios e incertezas da vida; para a segurança como garan- tia de direitos sociais básicos para os excluídos, e até para a segurança em face das novas tecnolo- gias e riscos ecológicos na chamada “sociedade de riscos”. Reynaldo Porchat afirma que em relação às nor- mas de ordem pública, que dizem respeito ao interesse público ou político, estas se aplicam imediatamente e não há direito adquirido contra elas, tendo em vista que o interesse coletivo se sobrepõe aos interesses particulares do indivíduo. Diante disso, pode-se afirmar que há uma ten- dência entre doutrinadores e jurisprudências de Tribunais Estaduais, no sentido de uma lei nova poder retroagir alcançando o direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada, em especial em relação a normas de ordem públicas consagradas pela nova lei. Diversamente desse pensamento, o STF parece ter acolhido a Teoria de Gabba, mesmo que em alguns de seus julgados tenha relativizado a pro- teção sobre o instituto da coisa julgada. No RE 362.584/DF, este órgão se posicionou no sentido de mesmo diante de norma de ordem pública, esta não pode retroagir para atingir efeitos jurídi- cos futuros de contrato celebrado anteriormente à sua edição, tendo em vista a regra do art. 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal. Ou seja, a Suprema Corte, mesmo diante de efei- tos futuros que corresponderiam a retroatividade mínima, uma norma, ainda que de ordem pública, não poderia retroagir. Se este é o entendimento para efeitos futuros, muito provavelmente fatos pretéritos, que inclui o direito adquirido, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito, jamais poderão ser alcançados por tais normas. (RE 362.584/DF. Rel. Ministra Ellen Gracie. Primeira Turma. Jul- gamento: 02/12/2002. DJ 14.03.2003). [26] Roberto Gonçalves diz o seguinte: “Pode-se resumidamente dizer que o sistema jurídico brasileiro contém as seguintes regras sobre a matéria: a) são de ordem constitucional os princípios da irretroatividade da lei nova e do respeito ao direito adquirido; b) esses dois princípios obrigam ao legislador e ao juiz; c) a regra, no silêncio da lei, é a irretroatividade; d) pode haver retroatividade expressa desde que não atinja direito adquirido; e) a lei nova tem efeito imediato, não se aplicando aos fatos anteriores. Tendo o Supremo Tribunal Federal proclamado que “não há direito adquirido contra a Constitui- ção” e que, “sendo constitucional o princípio que a lei não pode prejudicar o ato jurídico perfeito, ele se aplica também às leis de ordem pública.” “Na doutrina, diz-se que é justa a retroatividade quando não se depara, na sua aplicação, qual- quer ofensa ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada; e injusta, quando ocorre tal ofensa. A retroatividade pode ser má- xima, média e mínima. A primeira atinge o direito adquirido e afeta os negócios jurídicos perfeitos; a segunda faz com que a lei nova alcance os fatos pendentes, os direitos já existentes, mas ainda não integrados no patrimônio do titular; a terceira se confunde com o efeito imediato da lei e sujeita à lei na vi- gência da lei anterior. Todas essas situações são de retroatividade injusta, porque com ela se verifi- ca lesão, maior ou menor, a direitos individuais. ” Conflitos de Leis no Espaço. O conflito de leis no espaço decorre de dois fato- res: adversidade legislativa (cada sistema jurídi- co, autônomo e soberano, dá tratamento diferente a aspectos sociais) e a existência de uma socie- dade transnacional (relações entre indivíduos vinculados a sistemas jurídicos diferentes). Se existisse um direito absolutamente uniforme ou sociedades herméticas, não existiria o “fato anormal” (fato jurídico vinculado, por qualquer de seus elementos, a mais de um ordenamento), que gera o conflito de leis. A regra geral é a aplicação do direito pátrio, apli- ca-se o direito estrangeiro por exceção, quando expressamente determinado pela legislação in- terna. Nesses casos, o juiz deve aplicá-lo de ofí- cio e do modo mais completo possível. Só não deve aplicar o direito estrangeiro, deter- minado pela norma de direito internacional priva- do (“norma colisional”), quando verificar que fe- re a ordem pública, a soberania ou os bons cos- tumes ou quando os interessados estiverem ten- tando fraudar a legislação interna (como no caso de divórcios realizados no exterior, para burlar a lei nacional, que não os permitia na época). Normalmente os sistemas normativos utilizam como critério para determinar a aplicação do direi- to estrangeiro a nacionalidade dos interessados 9 ou o seu domicílio. No caso brasileiro, utiliza-se predominantemente o domicílio, pelo seu caráter voluntário (a nacionalidade originária é, de regra, circunstancial) e por provocar maior integração do estrangeiro com o sistema nacional. Tendo o Brasil recebido um grande fluxo de imigrantes, permitir a aplicação da lei de nacionalidade impe- diria essa integração dos estrangeiros com o sis- tema brasileiro. O domicílio, para efeitos de direito internacional privado, é analisado sobre o prisma do direito interno, ou seja, seus requisitos são os do direito interno (residência com animus definitivo). Caso a pessoa não tenha domicílio ou este seja desco- nhecido, a LICC manda aplicar a lei do país onde tenha residência ou, por fim, do local onde a pes- soa se encontre. Ao lado da LICC, há o Código de Bustamante, que traz diversas normas de direito internacionalprivado. Em sendo um conjunto de normas espe- ciais (aplicáveis apenas aos nacionais dos países signatários), não foi revogado pela LICC. As nor- mas do Código de Bustamante, inclusive, em sua maioria, são compatíveis com as da LICC. Personalidade A primeira questão a ser enfrentada em direito internacional privado diz respeito à personalidade. Vários sistemas existem para fixar o momento de seu início, bem como de seu fim (sobretudo em termos de presunções). Segue-se a regra geral: aplicar o ordenamento do país do domicílio, inclusive para determinar a capacidade. Com relação ao início da personalidade, aplica-se a lei do domicílio dos pais no momento do nasci- mento, não importando o país onde a criança nasça (ex: se os pais moram na França, mas a criança nasce na Inglaterra, o início da personali- dade é determinado pela lei francesa). No caso de os pais terem domicílios internacio- nais diferentes, a LICC determina que se aplique a lei do domicílio do pai (para todos os efeitos, salvo em casos de abandono), porém, em face da isonomia determinada pela Constituição Federal, essa norma é discutível. Observe-se que, em se tratando de verificação do início da personalidade para fins de sucessão, aplica-se a lei de regência desta (último domicílio do “de cujus”ou do desaparecido). Outra ressalva a ser feita diz respeito à ordem pública: o direito brasileiro não admite penas co- mo a de morte civil, de modo que a extinção da personalidade derivada deste tipo de sanção não será levada em consideração no Brasil. Com relação às pessoas jurídicas, o início e o fim de sua personalidade são regidos pela lei do local de constituição. O direito brasileiro, portanto, reconhece a exis- tência de qualquer pessoa jurídica constituída regularmente segundo as leis do seu país de origem. Contudo, uma coisa é reconhecer sua personalidade, outra coisa (bem diversa) é permi- tir oexercício de suas atividades no Brasil. Para este fim, exige-se que o governo brasileiro te- nha aprovado os seus atos constitutivos, fican- do sujeitas à legislação brasileira. Casamento Embora a doutrina sempre defenda que cada ato deve ficar sujeito a apenas uma legislação, em diversas hipóteses mais de um ordenamento irá reger determinado ato. No caso do casamento, por exemplo, há a possibilidade de sujeição a diversos ordenamentos jurídicos, cada qual re- gendo alguns aspectos do instituto. A capacidade para casar segue a regra geral: o domicílio de cada um dos nubentes (podem ser domicílios distintos, sujeitando a ordenamentos distintos. Ex: se a noiva for domiciliada no Brasil e o noivo na Argentina, a capacidade dela estará sujeita às leis brasileiras e a dele às argentinas). Justamente pela possibilidade de os nubentes terem domicílios diferentes, o procedimento para o casamento (os requisitos formais ou extrínse- cos) não podem estar sujeitos concomitantemen- te a dois regimes diferentes. Deste modo, aplica- se a lei do local da celebração (“jus loci celebrati- onis”), independentemente do domicílio dos nu- bentes. A autoridade celebrante também deve ter capaci- dade, a qual é aferida pela lei de seu domicílio. Como essa capacidade também é um requisito formal para a celebração, concomitantemente deve ser reconhecida pela lei do local da celebra- ção. Essa lei também é aplicável aos dirimentes abso- lutos ou relativos, de modo que a validade ou invalidade do casamento em virtude desses fato- res há de levar em consideração, primordialmen- te, a lei do local de celebração. Deste modo, na opinião de Oscar Tenório, no caso de casamento realizado no Brasil não se devem analisar os impedimentos e dirimentes existentes na lei domiciliar de cada um dos nu- bentes, mas apenas os da lei brasileira (lei do local de celebração). Outros autores, por cautela, 10 consideram necessária a análise da lei domiciliar, para evitar fraude à lei. O art. 7º, §3º, da LICC, estabelece a necessidade de se aferir a validade do casamento em função da lei do primeiro domicílio conjugal, se os nuben- tes tiverem domicílios diferentes. O STF não apli- ca esse dispositivo com relação aos impedimen- tos e dirimentes, vez que, como mencionado, devem obedecer à lei que regulou a celebração do casamento. Apenas as nulidades posteriores ao casamento (p. ex., “ausência da consumação do casamento”) devem ser observadas segundo a lei do domicílio conjugal. Esta lei também indicará se o casal tem direito ou não ao divórcio. Há um princípio geral de preservação da família, de modo que o casamento se presume válido e eficaz, independentemente do seu local de cele- bração. Quem tiver interesse em sua anulação ou desconsideração tem o ônus de provar a nulida- de. No caso do divórcio, há de se observar o disposto na Constituição Federal (art. 226, §6º). Apenas se pode homologar a sentença estrangeira de divór- cio se atendido o pressuposto de um ano de se- paração judicial ou dois anos de separação de fato. Caso contrário, apenas é possível a homolo- gação após um ano (Maria Helena Diniz). Quanto ao regime de bens, legal ou convencional, aplica-se o vigente no local onde os nubentes tenham domicílio, ou caso sejam domiciliados em países diferentes, o ordenamento vigente no pri- meiro domicílio conjugal. Se ambos os nubentes forem da mesma naciona- lidade, o direito brasileiro permite que se casem no Brasil perante as autoridades diplomáticas ou consulares, utilizando-se o procedimento e de- mais requisitos formais do seu país de origem. É uma exceção à regra pela qual as formalidades se regem pela lei do local de celebração. Por fim, a LICC excepciona o princípio da imutabi- lidade do regime de bens, permitindo que o es- trangeiro casado, ao se naturalizar brasileiro, opte (com expressa anuência do cônjuge), pelo regime da comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros. Filiação E Outros Aspectos De Direito De Fa- mília Aplica-se à filiação a lei vigente no domicílio con- jugal à época do nascimento. Em defesa da or- dem pública, porém, o direito brasileiro não reco- nhecerá distinções entre a filiação legítima e a ilegítima, vez que a Constituição atribui valor fun- damental a igualdade da filiação. No caso de ações de reconhecimento de paterni- dade ou maternidade, Amílcar de Castro indica como lei aplicável a vigente, à época do nasci- mento, no domicílio do pai ou da mãe, respecti- vamente. O Código de Bustamante, porém, man- da aplicar a lei do domicílio do filho, considerando que ainda não se sabe se, de fato, a pessoa indi- cada é o pai ou a mãe. É necessário também verificar se a lei do local onde vai ser ajuizado o processo admite o remédio jurídico (há sistemas que impõem limitações às ações de reconheci- mento de paternidade). No caso da adoção, há o chamado princípio pro- tetivo, de modo que se aplica de um modo geral a lei do domicílio do adotando até o momento da formalização do ato e daí em diante pela lei do domicílio do adotante, vez que o domicílio do adotado passa a ser o do adotante. A capacidade para adotar rege-se, porém, pela lei do domicílio do adotante (capacidade para ado- tar) e do adotando (capacidade para ser adota- do). As formalidades da adoção, por sua vez, regem-se pela lei do local de celebração (“locus regit actum”). O mesmo se aplica aos demais institutos que dizem respeito à proteção dos menores e dos incapazes, como a tutela ou a curatela. Observe-se que, em prol da ordem pública, ainda que a lei aplicável permita, por exemplo, castigos severos aos menores ou incapazes, por parte de seus pais, tutores ou curadores, a lei brasileira não reconhecerá este direito. Sob o mesmo argumento de preservação da or- dem pública, em casos de abandono moral oumaterial, aplica-se a lei protetiva brasileira, salvo se a lei domiciliar for mais favorável ao abando- nado. Bens A LICC é clara: para qualificar os bens (p. ex., saber se são móveis ou imóveis) e para discipli- ná-los, aplica-se a lei do local onde estão situa- dos (“lex rei sitae”). Há, porém, algumas exceções: - no caso de bens móveis em deslocamento (re- metidos para determinado local ou acompanhan- do o seu dono em viagens, p. ex.), aplica-se a lei do domicílio do proprietário; 11 - no tocante aos navios e aeronaves, a doutrina predominante afirma que se aplica a lei do local da matrícula; - em se tratando de apólices da dívida públi- ca aplica-se a lei do emitente; - caso a discussão sobre determinado bem se fundamente em direito sucessório (“mortis cau- sa”), aplica-se a lei que rege a sucessão (lei do último domicílio do “de cujus”); - segundo Oscar Tenório, “na matéria da capacidade para adquirir, vender e doar bens, observamos a lei que rege a capacidade em geral (domicílio).” Segundo Amílcar de Castro, os casos de direitos reais de garantia devem ser regulados pela lei do local de celebração do contrato, não pela lei da situação dos bens. O Código de Bustamante, porém, expressamente aplica a “lex rei sitae” para regular a constituição, os efeitos e a extinção de direitos reais sobre a coisa alheia, quer de frui- ção, quer de garantia. Observe-se que, no caso do penhor, a LICC de- termina a aplicação da lei do domicílio da pessoa em cuja posse se encontre a coisa empenhada. Deste modo, em penhores realizados por nacio- nais de países signatários do Código de Busta- mante, aplica-se a lei de situação da coisa empe- nhada; nos demais penhores, aplica-se a lei do- miciliar do possuidor. Obrigações No caso de obrigações legais, devem-se observar as normas geralmente aplicáveis àquele ramo jurídico (ex: obrigações alimentares regem-se pela lei domiciliar da família) ou pelas leis do local do dano, caso sejam “ex delicto”. No caso de obrigações voluntárias, sobretudo as de índole contratual, fica difícil aplicar a lei domici- liar, vez que os contratantes podem ter domicílios diferentes. Também não vale à pena utilizar a lei do local de execução, vez que se pode pactuar execuções em vários países diferentes (ex: exibi- ção mundial de determinado filme). A solução dada pela legislação brasileira é a apli- cação do direito vigente no local de constituição da obrigação. Em caso de contratos celebrados à distância, a LICC acolhe a lei do local onde esteja o proponente (observe-se que a lei fala em local onde “residir o proponente”, mas a doutrina e a jurisprudência entendem que se trata do local onde ele esteja, para compatibilizar aquele dispo- sitivo com o Código Civil). Há algumas exceções: - a lei de regência dos contratos de trabalho é a vigente no local da execução, salvo se as do local de contratação forem mais favoráveis ao traba- lhador; - nos contratos de transferência de tecnologia, a lei brasileira não admite a aplicação de outros sistemas, reservando para si a regência de todos os negócios, em virtude da ordem pública (Maria Helena Diniz); - os negócios relativos às Bolsas e Mercados se subordinam ao local de execução (onde funciona a Bolsa ou Mercado). Além desses casos, observe-se que nas hipóte- ses em que a lei brasileira exijaforma essenci- al (p. ex., escritura pública), esta terá que ser observada para que a obrigação possa ser execu- tada no Brasil, admitidas as peculiaridades da lei do local da celebração. Discute-se se o direito brasileiro permite que as partes escolham a lei aplicável aos negócios jurídicos, em face do art. 9º, da LICC. O art. 13 da antiga lei de introdução, ao determinar a aplica- ção da lei do lugar de constituição aos negócios jurídicos, expressamente ressalvava as estipula- ções em contrário. Maria Helena Diniz afirma que o direito brasileiro é taxativo quando remete a matéria para a lei do local de constituição, de modo a não acolher a autonomia da vontade. Sucessões A sucessão pode ser “inter vivos” ou “mortis cau- sa”, interessando mais, na presente sede, a “mor- tis causa”, já que a “inter vivos” se rege pelas normas aplicáveis às obrigações em geral. Pela teoria universalista, a sucessão, sendo ana- lisada como uma unidade, deveria ser submetida a apenas uma lei. É uma teoria idealista, não sendo aceita sobretudo quando houver bens imó- veis localizados em diversos sistemas. Com a teoria pluralista não se deixa de cogitar de uma única lei, mas se admite o fracionamento da su- cessão, existindo uma lei para cada fração. Via de regra, a lei aplicável é a do último domicílio do “de cujus”. Transcrevam-se as palavras de Oscar Tenório: “em face do art. 10 da Lei de In- trodução ao Código Civil, a lei domiciliar do ‘de cujus’ é preponderante. Exceções têm de ser admitidas. Os direitos dos herdeiros, por exemplo, se regem pela lei do ‘de cujus’. A capacidade segue a lei pessoal do herdeiro.” 12 Deste modo, por exemplo, no caso de herdeiro domiciliado no Brasil, o direito à sucessão será analisado com vistas à lei do último domicílio do “de cujus”, mas a existência de indignidade ou de deserdação rege-se pelas leis brasileiras. No caso das presunções de sobrevivência ou de morte simultânea (p. ex., presunção de comoriên- cia), segundo o Código de Bustamante se apli- cam as leis domiciliares de cada um dos faleci- dos, em relação à sua respectiva sucessão. Quanto aos testamentos, via de regra a sua for- ma se rege pela lei do domicílio do testador à época da constituição do ato e seu conteúdo pe- las regras vigentes no domicílio que o testador tinha quando faleceu (último domicílio conhecido). No caso brasileiro, porém, a ordem pública impõe limitações tanto ao conteúdo, quanto à forma do testamento. Assim, por exemplo, na sucessão realizada no Brasil não se admitem testamentos hológrafos ou que disponham de todo o acervo, quando houver herdeiros necessários, ainda que a lei domiciliar do “de cujus” permita essas práti- cas. Como afirma Oscar Tenório, “a lei domiciliar do testador regula a capacidade para testar. (...) As limitações à capacidade de testar são deter- minadas pela lei das sucessões. Estabelecendo a lei da sucessão a reserva e, portanto, a cota dis- ponível, o testador fica adstrito a respeitar àquela e a usar desta como melhor lhe convier. (...) Im- pondo-se a lei do ‘de cujus’, isto é, a sua lei pes- soal, não influi na cota-reserva o domicílio dos herdeiros.” Em termos de ordem pública, por fim, observe-se que a Constituição brasileira expressamente de- termina que a sucessão em bens de estrangeiro, situados no Brasil, será regida pela lei brasileira, sempre que for mais favorável ao cônjuge sobre- vivente ou aos filhos brasileiros, que a lei do do- micílio do “de cujus”. Quebra, deste modo, o prin- cípio da unidade da sucessão, determinando o fracionamento da lei aplicável em proteção aos brasileiros. É o caso, por exemplo, do falecimento de um cidadão mexicano casado com uma brasileira e cujos pais ainda fossem vivos. Pela lei brasileira, a cônjuge sobrevivente não tem direito à herança, pois os ascendentes do falecido detêm a prefe- rência; pela lei mexicana, porém, ela tem direito a cinquenta por cento da herança, repartindo-a com os ascendentes. Em face da Constituição Fede- ral, seria aplicável a lei mexicana, em relação aos bens situados no Brasil, pois é mais favorável à cônjuge brasileira. Hermenêutica De origem grega, a Hermenêutica (hermeneuein) é tida como filosofia da interpretação, sendo as- sociada ao deus grego Hermes, que traduzia tudo o que a mente humana não compreendesse, sendo chamado de “deus-intérprete”. Possui al-guns significados diferentes de acordo com o tempo, passando de “compreender o significado do mundo” e chegando “ é a teoria científica da arte de interpretar”. No campo jurídico ela é usa- da para a interpretação fidedigna da idéia do au- tor para que seja adequada a norma ao fato ocor- rido e assim proporcione uma responsável aplica- ção do Direito. Tendo em vista que a Hermenêuti- ca Jurídica em lato sensu divide-se em interpreta- ção, integração e aplicação do Direito. Dessa forma é imensurável a importância da Hermenêu- tica para todos os campos de atuação ressaltan- do o campo jurídico, pra que possamos entender melhor o Direito e sua aplicação. Hermenêutica Origem De origem etimológica grega, hermeneuein, é percebida modernamente como a teoria ou a filosofia da interpretação viabilizando a percepção do texto além de suas palavras, de sua simples aparência. Sua origem grega expressa à compre- ensão do fato não perceptível.2 A palavra hermeios de origem grega referia-se ao sacerdote do oráculo de Delfos. Na mitologia grega hermeios simbolizava um deus- mensageiro-alado tido como o descobridor da linguagem e da escrita. O deus grego Hermes era respeitado pelos demais como sendo aquele que descobriu o meio de compreensão humana no sentido de alcançar o significado das coisas e para transmiti-lo aos demais seres. Assim, Her- mes seria um "deus intérprete", considerado a entidade sobrenatural dotada de capacidade de traduzir, decifrar o incompreensível, ou seja, vin- culava-se a sua figura a função de transmutação, de transformação de tudo aquilo que a compre- ensão humana não alcançava em algo que esta conseguisse compreender. Histórico do Significado A expressão latina ars interpretando (a arte da interpretação), foi substituída na teologia protes- tante, pelo termo hermenêutico. Na Antiguidade grega, a hermenêutica relacionava-se com à gramática, à retórica e à dialética e sobretudo com o método alegórico, para permitir a concilia- ção da tradição (os mitos) com a consciência filosoficamente esclarecida. Mais tarde, a arte da interpretação foi assumida por teólogos judeus, 13 cristãos e islâmicos, além de ser aplicada a inter- pretação do Corpus iuris canonici na tradição da jurisprudência. Isso mostra que a hermenêutica, já entendida como a arte da interpretação, se tornava presente cada vez que a tradição entrava em crise, sobretudo na época da Reforma Protes- tante.4 Na filosofia contemporânea, a hermenêutica é um dos temas polêmicos, uma vez que tradicional- mente a filosofia se ocupa com a descoberta das essências, entendendo-se aqui essência como verdade, como aquilo que pode ser cognoscível. Hans-Georg Gadamer, em sua obra Verdade e Método, assegura que a hermenêutica não é um método para se chegar à verdade e que o pro- blema hermenêutico não é, por sua vez, um pro- blema de método. Segundo Gadamer a herme- nêutica não seria uma metodologia das ciências humanas, mas uma tentativa de compreender as ciências humanas. Em Verdade e Método, Gadamer afirma que a compreensão das coisas e a correta interpretação não se restringe à ciência, mas à experiência humana, principalmente no que se refere ao fe- nômeno da linguagem como experiência humana de mundo. Assim, no que se refere à hermenêuti- ca jurídica, Gadamer procurou descobrir a dife- rença entre o comportamento do historiador jurí- dico e do jurista diante de um texto. Seu interesse estava em saber se a diferença entre o interesse dogmático e o interesse histórico se constituía numa diferença unívoca. Conclui que há uma diferença:5 "O jurista toma o sentido da lei a partir de e em virtude de um determinado caso dado. O historia- dor jurídico, pelo contrário, não tem nenhum caso de que partir, mas procura determinar o sentido da lei na medida em que coloca construtivamente a totalidade do âmbito de aplicação da lei diante dos olhos. Somente no conjunto dessas aplica- ções torna-se concreto o sentido de uma lei.” Para Heidegger, hermenêutica significa: “compre- ender o significado do mundo”. Já Maximiliano fala que “é a teoria científica da arte de interpre- tar” Atuação: Hermenêutica Jurídica A hermenêutica no campo jurídico é empregada para dizer o meio e o modo por que se devem interpretar as leis, para que dessa forma se obte- nham o exato sentido ou o fiel pensamento do legislador. Dessa forma, ela está encarregada de elucidar a respeito da compreensão exata da regra jurídica a ser aplicada aos fatos concretos, ou seja, é responsável pelo estudo e sistematiza- ção dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito, como explica Maximiliano. 8 Para realizar efetivamente a interpretação, que é uma arte, faz-se necessário seguir princípios e regras, que ao passar dos tempos e com o de- senvolvimento da sociedade fizeram desabrochar as doutrinas jurídicas. Passando a hermenêutica, pelos três aspectos: científico, filosófico e social. Desse modo, Maximiliano relata que a arte ficou subordinada ao Direito obediente, este por sua vez à Sociologia, aproveitando então a herme- nêutica das conclusões filosóficas e com elas desenvolvendo novos processos de interpretação, enfeixando-os num sistema e assim promovendo um modernismo à arte. Ao falar das regras de hermenêutica, são classifi- cadas em legais, de jurisprudência e científicas. 10 As legais encontradas nos art. 5º, 6º e 7º da LICC dispõem: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins soci- ais a que ela se dirige e às exigências do bem comum” (art. 5º) 11 “A lei em vigor terá efeito imediato e geral, respei- tados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada” (art. 6º) “A lei do país em que for domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direi- tos de família” (art. 7º) As regras de jurisprudência citadas por Washing- ton de Barros Monteiro são: na interpretação de- ve-se preferir a inteligência que faz sentido e que melhor atenda a tradição do direito; deve ser afastada a exegese que conduz ao contraditório; deve-se ter em vista o que ocorre no meio social; onde a lei não distingue, o intérprete não deve distinguir; todas as leis especiais ou excepcionais devem ser interpretadas restritivamente; tratando- se de interpretar leis sociais, faz-se necessário incutir à alma do jurista uma certa dose de espíri- to social, para não correr o risco de sacrificar a verdade à lógica. Olhando a hermenêutica no âmbito lato sen- su podemos encontrá-la nas seguintes divisões: interpretação (determinar o sentido da lei), inte- gração (suprimento das lacunas dos sistemas jurídicos) e aplicação do Direito (adaptação das normas aos fatos). Considerações Finais Observamos que, desde a antiguidade grega até os dias atuais e utilizada em qualquer campo, a 14 Hermenêutica é a grande arte de interpretar. Dessa forma, podemos tocar na essencial e ne- cessária importância para o Direito, onde é classi- ficada de Hermenêutica Jurídica e responsável pela leal e fidedigna transmissão do que propõem as leis e jurisprudências, para facilitar a aplicação do Direito na sociedade, obtendo dessa forma a harmonia geral. PESSOAS NATURAIS DA PERSONALIDADE Personalidade jurídica é a aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações. É o atri- buto necessário para ser sujeito de direito. No que cerne à pessoa natural, o Código Civil estabelece que a personalidade é atributo de toda e qualquer pessoa, natural ou jurídica. Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. A pessoa natural para o direito é, portanto, o ser humano, enquanto sujeito ou destinatário de direi- tos e obrigações.2. AQUISIÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDI- CA. O ordenamento civil pátrio adotou a teoria natalis- ta, que leciona que a aquisição da personalidade jurídica se dá com o nascimento com vida, ou seja, no instante em que o aparelho cardiorrespi- ratório inicia seu funcionamento[1], o recém- nascido adquire personalidade jurídica, tornando- se sujeito de direito. Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Importante lembrar que, diferente da concepção romanista e do Código Civil Espanhol, a generali- dade das civilizações contemporâneas não exige forma humana para que conceda ao recém- nascido a qualidade de pessoa. 3. NASCITURO. Cuida-se do ente concebido, embora não nasci- do, ou como Limongi França define, é o que está por nascer, mas já concebido no ventre materno. O Direito Civil põe a salvo os direitos do nascitu- ro, desde a concepção. Art. 2o A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, des- de a concepção, os direitos do nascituro. Ora, em sendo adotada a teoria natalistas, seria razoável o entendimento de que o nascituro, ain- da não nascido, teria apenas mera expectativa de direito. Contudo, a questão não é pacífica na dou- trina. Arnold Wald, Miguel Maria de Serpa Lopes entre outros, são adeptos da teoria da personalidade condicional, que sufraga o entendimento de que o nascituro possui direitos sob condição suspensi- va, vinculado ao nascimento com vida. Já Teixeira de Freitas, Clóvis Beviláqua, Limongi França, entre outros, adotam a teoria concepcio- nista, cuja vertente de pensamento é de que o nascituro adquire a personalidade jurídica desde a concepção, sendo considerado pessoa, com personalidade jurídica formal, sem cunho patri- monial. A despeito de toda controvérsia doutrinária, o fato é que, nos termos da lei, o nascituro não é consi- derado pessoa, mas tem a proteção legal dos seus direitos desde a concepção. Essa proteção estende-se ao natimorto. 4. CAPACIDADE DE DIREITO E DE FATO. LE- GITIMIDADE. Adquirida a personalidade, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e obrigações, possuindo, portanto, capacidade de direito e de fato. Capacidade de direito corresponde ao atributo inerente à pessoa, natural ou jurídica, com aquisi- ção de personalidade, para ser titular de uma relação jurídica. Se puder exercer pessoalmente esse direito, tem-se a capacidade de fato ou de exercício. Reunidos os dois atributos, fala-se em capacidade civil plena. Diferencia-se capacidade de legitimidade, visto que esta última corresponde à capacidade espe- cífica para a prática de uma determinada relação jurídica. São impedimentos circunstanciais, con- siderando-se a situação especial da pessoa. Entretanto, em razão de limitações orgânicas ou psicológicas, nem toda pessoa possui aptidão para exercer pessoalmente seus direitos. Essa impossibilidade de exercício denomina-se incapa- cidade. 4.1. Incapacidade absoluta Traduz-se na falta de aptidão para praticar pes- soalmente os atos da vida civil. Falta total capaci- dade de direito e de fato para a pessoa nessa situação. Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; 15 II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; Essa incapacidade deve ser oficialmente reco- nhecida por meio de interdição (CPC, arts.1177 a 1186). Parte da doutrina, entre eles Orlando Gomes, reconhece, ainda, uma incapacidade natural, em casos de não declarada a enfermidade ou defici- ência, anulando-se os atos por ele praticados. Em sentido contrário, Silvio Rodrigues entende que a anulação do ato não se daria pela incapacidade, posto que a lei civil não admite, mas sim pela falta da boa-fé objetiva no pacto. III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. 4.2. Incapacidade relativa Figura entre a capacidade civil plena e a absoluta incapacidade. Corresponde às pessoas que se localizam em zona intermediária, por não possuí- rem total capacidade de discernimento e autode- terminação. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; Importante lembrar que não há correlação entre maioridade civil e maioridade penal. A coincidên- cia do marco temporário (dezoito anos) é aciden- tal. II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discer- nimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento men- tal completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Interessante notar que, segundo determinação legal, a capacidade dos índios deve ser regulada por legislação especial. A Lei nº 5.371/1967, que instituiu a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), exerce poderes de representação e apoio ao in- dígena. A Lei nº 6.001/1973 (Estatuto do Índio) considera o indígena agente absolutamente inca- paz, reputando nulos os atos por ele praticados sem a devida representação. No caso de o índio apresentar discernimento, aliado à inexistência de prejuízo, excepcionalmente, a lei permite que ele seja considerado capaz. Pablo Stolze entende que a constante inserção social do índio na sociedade brasileira, com a conseqüente absorção de valores e hábitos da civilização ocidental firma a idéia de que, excep- cionalmente, o índio deveria ter reconhecida a falta de discernimento, sendo a capacidade regra geral, e a incapacidade, relativa e eventual. 4.3. Suprimento da incapacidade: Representa- ção e Assistência. O suprimento da incapacidade absoluta se dá através de representação. O representante prati- ca o ato no interesse do incapaz, em seu lugar. Esta é a chamada representação legal. Art. 115. Os poderes de representação conferem- se por lei ou pelo interessado. De outra banda, existe a representação voluntá- ria ou convencional. Trata-se da representação onde há acerto das próprias partes contratantes, podendo haver mandato, com poderes genéricos ou específicos na representação. Já o suprimento da incapacidade relativa ocorre por meio da assistência. O relativamente incapaz pratica efetivamente o ato, juntamente com seu assistente, sob pena de anulabilidade. 5. EMANCIPAÇÃO. A menoridade, à luz do Código Civil, cessa aos dezoito (18) anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Ocorre que é possível a antecipação da capaci- dade plena, em virtude da autorização dos repre- sentantes legais do menor ou do juiz, pela super- veniência de fato que a lei atribui força para tanto. Cuida-se do instituto chamado e mancipação. A emancipação poderá ser voluntária (art. 5º, parágrafo único, I, primeira parte), judicial (se- gunda parte) ou legal (incisos II, III, IV e V). Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, in- dependentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; 16 II - pelo casamento; A capacidade para o casamento se dá a partir dos dezesseis anos, conforme CC, art. 1517. Havendo divergência entre os pais, nos termos do art. 1631, o embate poderá ser levado ao juiz, a quem caberá decidir. Excepcionalmente, menor de dezesseis poderácontrair núpcias, nos termos do art. 1520. Mesmo havendo dissolução da sociedade conju- gal, o emancipado não retorna à incapacidade. Somente em casos de anulação ou nulidade, e não havendo boa-fé no ato, aí poderia o emanci- pado retomar a condição de menor. III - pelo exercício de emprego público efetivo; Essa regra diz respeito às causas de provimento efetivo em cargo ou emprego público. IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 6. NOME CIVIL. O nome da pessoa natural é o sinal exterior mais visível da sua individualidade, tornando-se identi- ficável em seu âmbito familiar e no meio social. Acerca da natureza jurídica do nome, surgem algumas teorias. Uma primeira tese entende o nome como direito de propriedade, cujo titular, seria a família ou o próprio indivíduo. Não prospera, uma vez que não se pode alienar o nome ou abandoná-lo, portanto, não tem cunho patrimonial. Pode ser aceita com relação ao nome comercial. Já um segundo entendimento, vê o nome como uma questão de estado, um fato protegido pelo ordenamento jurídico. Essa não satisfaz mediante a possibilidade de mudança de um nome, ates- tando a sua artificiosidade. O terceiro pensamento, adotado pelo Código Civil, visualiza o nome como um dos direitos da personalidade, conferindo-lhe tutela específica. Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. 6.1. Esclarecimentos terminológicos Cumpre esclarecer algumas terminologias acerca do nome. Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. O nome compreende o prenome (primeiro nome ou nome de batismo, ex: Ronaldo, João) e o so- brenome (nome de família, ex: Pereira, Silva). A expressão apelido, por seu turno, é utilizada co- mo sinônimo de patronímico (apelidos de família, ex: Barbosa, Pereira) ou de cognome (designa- ção dada a alguém devido uma particularidade pessoal, ex: Pelé, Xuxa). Num terceiro elemento, embora sem previsão legal, temos o agnome (sinal distintivo que se acrescenta ao nome para diferenciá-lo de paren- tes, ex: filho, neto). Por fim, destaca-se o pseudônimo ou codinome (nome escolhido para o exercício de uma ativida- de, ex: Lima Duarte). Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. 6.2. Possibilidades de alteração Diante da característica pessoal de atributo da personalidade, não se autoriza com facilidade a mudança do nome. Tomando como parâmetro, temos a motivação da iniciativa necessária e vo- luntária para a alteração do nome. Lei nº 6.015/73. Art. 58. O prenome será definiti- vo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios. (Redação dada pela Lei nº 9.708, de 1998) Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apura- ção de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Públi- co.(Redação dada pela Lei nº 9.807, de 1999) Causas necessárias decorrem da modificação de estado de filiação, como alteração do nome dos pais, etc. As causas voluntárias dependem de autorização judicial, ressalvado o casamento, cuja modificação encontra expressa previsão legal. Art. 1.565. § 1o Qualquer dos nubentes, queren- do, poderá acrescer ao seu o sobrenome do ou- tro. 6.3. Tutela jurídica do nome 17 A designação do nome civil da pessoa natural é de livre escolha do declarante, ressalvado o regis- tro obrigatório do patronímico, inexistindo exclusi- vidade para sua concessão. O Código Civil protege a sua utilização indevida, conforme se verifica nos arts. 17 e18. Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empre- gado por outrem em publicações ou representa- ções que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. 7. ESTADO DA PESSOA NATURAL. O estado da pessoa natural indica a sua situação jurídica nos contextos político, familiar e individu- al. Segundo Orlando Gomes, estado político leva em conta a posição do indivíduo com relação ao Es- tado, ou seja, sua classificação como nacional ou estrangeiro. Estado familiar considera as situa- ções do cônjuge e parentesco, levando em conta as posições do indivíduo no seio familiar. Já estado individual baseia-se na condição física do indivíduo em seu poder de agir, levando em conta a idade, sexo, saúde, sendo maior, menor, capaz, mulher, etc. Estes atributos caracterizam-se pela irrenunciabi- lidade, imprescritibilidade e inalienabilidade. Todas as ações judiciais referentes ao estado da pessoa natural são denominadas ações prejudici- ais, tendo por fim criar, modificar ou extinguir estado. 8. REGISTRO CIVIL. O registro civil é, segundo Francisco Amaral, a instituição administrativa que tem por objetivo imediato a publicidade dos fatos jurídicos de inte- resse das pessoas e da sociedade. Sua função é dar autenticidade, segurança e eficácia aos fatos jurídicos de maior relevância para a vida e os interesses dos sujeitos de direito. Lei nº 6.015/73. Art. 1º Os serviços concernentes aos Registros Públicos, estabelecidos pela legis- lação civil para autenticidade, segurança e eficá- cia dos atos jurídicos, ficam sujeitos ao regime estabelecido nesta Lei. § 1º Os Registros referidos neste artigo são os seguintes: I - o registro civil de pessoas naturais; II - o registro civil de pessoas jurídicas; III - o registro de títulos e documentos; IV - o registro de imóveis. § 2º Os demais registros reger-se-ão por leis próprias. No que tange à pessoa natural, criou-se o siste- ma brasileiro de registro civil, organizado pela mesma lei. Art. 29. Serão registrados no registro civil de pes- soas naturais: I - os nascimentos; II - os casamentos; III - os óbitos; IV - as emancipações; V - as interdições; VI - as sentenças declaratórias de ausência; VII - as opções de nacionalidade; VIII - as sentenças que deferirem a legitimação adotiva. § 1º Serão averbados: a) as sentenças que decidirem a nulidade ou anulação do casamento, o desquite e o restabe- lecimento da sociedade conjugal; b) as sentenças que julgarem ilegítimos os filhos concebidos na constância do casamento e as que declararem a filiação legítima; c) os casamentos de que resultar a legitimação de filhos havidos ou concebidos anteriormente; d) os atos judiciais ou extrajudiciais de reconhe- cimento de filhos ilegítimos; e) as escrituras de adoção e os atos que a dis- solverem; f) as alterações ou abreviaturas de nomes. § 2º É competente para a inscrição da opção de nacionalidade o cartório da residência do optante, ou de seus pais. Se forem residentes no estran- geiro, far-se-á o registro no Distrito Federal. Os episódios mais importantes da vida do homem refletem-se no registro civil: nascimento, casa- mento, separação, divórcio e morte. 18 O Código Civil estabelece, em seu art. 9º, os atos que deverão ser registrados e averbados em re- gistro público: Art. 9o Serão registrados em registro público: I - os nascimentos, casamentos e óbitos; II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida. Art.
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