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1 INTELIGÊNCIA POLICIAL 1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 2 2. HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO BRASIL ........................... 4 3. O CRIME ORGANIZADO E A INTEGRAÇÃO DE SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA NA ITÁLIA ........................................................................................ 5 4. COMO FUNCIONA A ÁREA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA FEDERAL ........ 6 4.1 As fontes normativas da inteligência da Polícia Federal ................................ 6 5. CONCEITO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL FEDERAL ....................................... 8 5.1 Fundamentos e princípios da inteligência da Polícia Federal ........................ 8 6. CONTRAINTELIGÊNCIA DA POLÍCIA FEDERAL ............................................ 10 6.1 Influência da Inteligência na Tomada de Decisões ...................................... 10 7. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA .............................. 12 8. ESPÉCIES DE CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA ..................................... 13 9. CONTROLE DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL ........................... 14 10. ESPÉCIES DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA ........................ 16 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 23 2 1. INTRODUÇÃO A Atividade de Inteligência de Polícia Judiciária, espécie do gênero Inteligência de Segurança Pública, possui como missão central a produção de conhecimentos a fim de subsidiar a decisão nos diversos níveis de atuação da Polícia Judiciária. No nível operacional, assessora a investigação policial com foco na criminalidade organizada, realizando coletas e busca de dados para apontar caminhos, padrões e assessorar com um conhecimento especializado as investigações policiais. O crime organizado possui complexidades e características, que podem fazer os métodos tradicionais de investigação perder a eficiência, razão pela qual se vale da Inteligência Policial Judiciária com as suas ações especializadas para aumentar a efetividade das investigações. A proximidade da investigação policial com a Inteligência Policial Judiciária gera pontos de intersecção que quando não observados os limites doutrinários podem enfraquecer a eficácia da atividade de inteligência. A utilização extraordinária dos elementos de prova captados pela Inteligência de Policial Judiciária pode ser aplicada nas investigações com focos nas organizações criminosas desde que de forma excepcional, obedecendo a parâmetros doutrinários e legais, haja vista a sua compatibilidade com os princípios e normas do ordenamento brasileiro. A criminalidade organizada no Brasil tem avançado de forma significativa, e o foco da segurança pública é, principalmente, o combate a organizações criminosas dentro de unidades prisionais, sendo conhecida a propalada origem e idealização dessas facções no Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, Rio de Janeiro, em torno do ano de 1979. 3 Nos últimos cinco anos, com inúmeras rebeliões de presos coordenadas simultaneamente e assassinatos de policiais, o crime organizado mostrou de onde surgem os comandos criminosos: dos presídios. É alarmante a quantidade de informações e ordens trocadas dentro de unidades prisionais, enviadas e recebidas do perímetro externo. Por meio de salves, comandam, matam, traficam, roubam, corrompem (policiais e militares ou recrutam ex-policiais para treinamentos), fazem leasing de armamento pesado, escambam drogas por armas, criam sites criptografados, portam minas, granadas e metralhadoras antiaéreas, constroem muralhas, fossos, casamatas, bunkers e levantam barricadas, tanto com o objetivo de obter vantagem econômica ou material indevido como para demonstrar controle e domínio pela difusão do medo, com fechamento de comércio local, eliminação de agentes públicos e seus familiares e facções rivais. A gestão de conhecimento pelos criminosos é tolerada pelo Estado. A omissão e a ineficácia estatais, muitas vezes compradas, quando combinadas com a leniente legislação prisional, carente de regulamentação, permitem a perigosos criminosos o uso irrestrito de meios de comunicação, acesso à telefonia móvel celular, computadores, e-mail, livros, jornais, televisões, através dos quais a network da organização criminosa estabelece seus vínculos e se fortalece. Nesse contexto, vislumbra-se a imperiosidade do aperfeiçoamento de diplomas legislativos, da melhoria da gestão de conhecimento, da rede de comunicação e difusão de bancos de dados entres as instituições encarregadas da aplicação da lei, para que o Estado disponha de instrumentos apropriados para a reversão do grave quadro de segurança pública delineado. Urge a adoção de medidas compatíveis com o Estado democrático de Direito que preservem a vida do cidadão, garantam sua liberdade e segurança, o que é factível com a recepção de um modelo de gestão do conhecimento e de inteligência policial que faça frente à network do crime. 4 2. HISTÓRICO DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO BRASIL Em 1927, no governo do Presidente Washington Luís, foi criado o Conselho de Defesa Nacional, primeiro órgão “não-militar” que exerceu as atividades de inteligência no Brasil. O Conselho de Defesa Nacional consistia em órgão de assessoramento imediato do Presidente da República, provendo-lhe de informações estratégicas necessárias ao cumprimento de suas tarefas. Em 1946, logo após a Segunda Guerra Mundial, foi criado o SFICI (Serviço Federal de Informações e Contra-Informações) pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra. No papel, ele foi criado em 1946; no entanto, sua estruturação ocorreu mesmo no governo de Juscelino Kubitschek, que enviou alguns brasileiros ao exterior para realizar cursos de inteligência com a CIA e FBI. Sobre o SFICI, vale ainda destacar que ele foi criado antes mesmo da CIA. Na década de 60, em meio a toda turbulência política vivenciada pelo Brasil, foi criado o Serviço Nacional de Informações (SNI), este o mais conhecido e criticado órgão de inteligência na história brasileiro. O SNI foi, durante os governos militares, o órgão responsável pela supervisão e coordenação das atividades de informação e contrainformação no Brasil. Ao mesmo tempo, era o órgão central do Sistema Nacional de Informações, o qual era composto por todos os órgãos de inteligência dos ministérios civis e militares. Em 1990, durante o governo de Fernando Collor de Mello, o SNI foi extinto, ficando a atividade de inteligência no Brasil nas mãos da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Finalmente, em dezembro de 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso, foi criada a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). 5 3. O CRIME ORGANIZADO E A INTEGRAÇÃO DE SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA NA ITÁLIA Há vários instrumentos elencados, como a ação controlada ou entrega vigiada (controlled delivery), o acesso a dados fiscais, bancários, financeiros e eleitorais, a captação e a interceptação ambiental e a infiltração por agentes de polícia ou de inteligência em tarefas de investigação. Na Itália, de onde foi adaptado o regime disciplinar diferenciado, há a Polícia Penitenciária (Corpo dei Polizia Penitenziaria), antes vinculada ao Ministério do Interior, hoje ligada ao Ministério da Justiça italiano, pelo Departamento de Administração Penitenciária e criada pela Lei n. 395, de 15.12.90. Posteriormente, em 1997, foi criado um grupo especializado, na estrutura citada, o “Gruppo Operativo Mobile” (GOM) da “Polizia Penitenziaria”, com atribuições definidas quanto à prospecção de ações de detentos integrantes de organizações criminosas. As questõesque envolvem crime organizado são resolvidas por um pool de magistrados italianos, especializados no tema, criado na década de 80. Outro exemplo italiano de integração e uso de inteligência como técnica especial de mineração de dados, operacional e investigativa, ocorre desde o mês de dezembro de 1991. É a experiência de integração entre as diversas polícias que compõem uma central de serviços de inteligência, cuja direção é revezada entre integrantes indicados de cada uma das corporações que integram a Direção de Investigação Antimáfia (DIA), sob a supervisão do Ministério do Interior italiano. Da experiência italiana, cujos precedentes de crime organizado muito se assemelham a escândalos no Brasil, como a máfia do apito, superfaturamento de licitações, exigência de vantagem indevida, corrupção, extorsão e financiamento de campanhas eleitorais, tiramos a conclusão da necessidade não apenas de especialização de estrutura no Poder Judiciário, Ministério Público e Polícia, no combate ao crime organizado, como, também, de utilização de meios eficazes à sua repressão, como a “ação controlada”, delação premiada, sistemas de inteligência interligados entre os diversos órgãos estatais competentes, entre outros. 6 4. COMO FUNCIONA A ÁREA DE INTELIGÊNCIA DA POLÍCIA FEDERAL Todas as vezes em que Operações da Polícia Federal são deflagradas e são expostas práticas delitivas escandalosas, milionárias e extremamente complexas, muito se questiona como esquemas arquitetados para nunca serem revelados são desarticulados, havendo, inclusive, a prisão dos infratores que se consideravam inalcançáveis. A persecução penal tradicional revela-se insuficiente para o enfrentamento das poderosas organizações criminosas contemporâneas, com suas ramificações internacionais, poderio econômico e capacidade de corromper e de se infiltrar no aparato estatal. De toda forma, a constatação acima não responde o questionamento inicial. Como se sabia que havia a prática disseminada de corrupção e lavagem de capitais no seio de estatais federais? O mero senso comum, de que existe desvio em todo lugar, não é suficiente para orientar as investigações bem-sucedidas, que viabilizaram as exitosas operações da Polícia Federal, que estão a mudar a história do Brasil. 4.1 As Fontes Normativas da Inteligência da Polícia Federal A temática da inteligência policial é pouco explorada pela doutrina, de modo que, ainda persiste uma fantasiosa ideia, baseada em filmes e séries de TV, de como isso funciona. 7 De toda forma, a estrutura conceitual, doutrinária e jurídica da inteligência policial não são secretas ou sigilosas, pelo contrário, estão dispostas na legislação, notadamente na conceitual Lei 9883/99, que, juntamente com os Decretos nº 3695/00 e 4376/02, instituíram o Sistema Brasileiro de Inteligência, o SISBIN e o Subsistema de Inteligência de Segurança Pública, o SSISP. A Polícia Federal é componente tanto do SISBIN, como do SSISP. É evidente a necessidade de uma contundente resposta do sistema de justiça criminal a tão rumorosos desvios de conduta, que afetam negativamente o Brasil e a maioria dos brasileiros, porém, diante de audazes, poderosos e astutos criminosos, não se trata de uma questão de força, mas de inteligência. 8 5. CONCEITO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL FEDERAL Como já visto, a Lei 9883/99 é conceitual, tanto que seu Art. 1º, § 2º, assim define inteligência: § 2o Para os efeitos de aplicação desta Lei, entende-se como inteligência a atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. A partir desse conceito geral, é possível inferir inteligência da policial federal como a atividade que busca, obtém e analisa informações, produz e difunde conhecimentos relativos a fatos ocorridos dentro e fora do Brasil, de modo a fornecer subsídios na tomada de decisões, para o exercício das atribuições constitucionais e legais da Polícia Federal. 5.1 Fundamentos e Princípios da Inteligência da Polícia Federal A Lei 9883/99 institui como fundamentos do Sistema Brasileiro de Inteligência: A preservação da soberania nacional; A defesa do Estado Democrático de Direito; A defesa da dignidade da pessoa humana; O cumprimento e a preservação dos direitos e garantias individuais. A partir dessa constatação legal, muitas das ilusões oriundas de filmes e séries de ação, cuja temática é a inteligência policial, se desfazem, pois o policial designado para o trabalho de inteligência não pode, de nenhuma forma, violar princípios e normas constitucionais e legais. Outrossim, ainda nessa temática, a doutrina delineou princípios para a atividade de inteligência policial, a saber: Legalidade, com o estrito cumprimento das normas; Eficiência, baseada no planejamento, de modo a conseguir os melhores resultados, com os menores custos; 9 Oportunidade, que revela a necessidade de especial atenção e sensibilidade dos membros dos sistemas de inteligência, que precisam estar sempre aptos, no lugar e no momento certo para a coleta das informações; Impessoalidade, onde é vedada qualquer promoção pessoal, partidária ou institucional no trabalho de inteligência, que deve, sempre, buscar o interesse público; Veracidade, as informações obtidas e analisadas devem ser fidedignas, de modo a propiciar a necessária credibilidade do sistema de inteligência; Imparcialidade, o produto da atividade de inteligência deve buscar a verdade e não a comprovação de convicções pessoais ou institucionais; e Sigilo, o produto da atividade de inteligência deve ser protegido e preservado, de modo a evitar vazamentos ou infiltrações indevidas. 10 6. CONTRAINTELIGÊNCIA DA POLÍCIA FEDERAL Se de um lado existe o labor da atividade de inteligência policial, com o dever de obter, difundir e preservar informações fundamentais para o combate ao crime organizado, seria demasiadamente ingênuo acreditar que esses criminosos ficariam inertes. É característica do crime organizado a capacidade de reorganização e de infiltração no aparato estatal, até mesmo com o desenvolvimento de atividade de inteligência criminosa. Com isso, verificou-se ser necessária a existência de órgão voltado a coibir essa inteligência adversa, a denominada contrainteligência. A contrainteligência tem como objetivos prevenir, detectar, obstruir e neutralizar atividades e membros da inteligência adversa. Trata-se de atividade fundamental à inteligência policial federal, sendo impossível a desenvoltura de seus trabalhos, sem que haja a necessária segurança e proteção da contrainteligência. Enquanto a inteligência preocupa-se em produzir o conhecimento, a contrainteligência encarrega-se de protegê-lo. A atividade da contrainteligência pode se desenvolver por meio da contraespionagem, contrassabotagem, antiterrorismo, dentre outras atividades congêneres. 6.1 Influência da Inteligência na Tomada de Decisões O conhecimento auferido com a inteligência não deve e não pode servir como elemento de prova em uma persecução penal, pois isso colocaria em risco a própria existência dela, que demanda rigoroso sigilo em seu funcionamento. Sua área de abrangência é outra, qual seja, a capacidade de influir na tomada de decisões estratégicas. Ocorre que essas decisões podem se dar em diferentes níveis: Político-estratégico, relativo ao desenvolvimento de planos e políticas gerais da Polícia Federal, como, por exemplo, a necessidade em se combatera pedofilia na internet; Tático, relaciona-se a setores específicos, eleitos conforme os planos e políticas gerais, seguindo-se o exemplo acima, revelando-se em quais estados existe maior incidência de pedofilia na internet; 11 Operacional, referente à execução de procedimentos e rotinas, para servir de base a ações pontuais e específicas, seguindo-se o exemplo, como quais as pessoas suspeitas dessa prática delitiva, as quais devem ser investigadas. 12 7. A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA Existe toda uma metodologia própria e sigilosa de como a Polícia Federal produz seus conhecimentos de inteligência. Em que pese o natural sigilo do trabalho em si, é possível delinear os conceitos básicos desse ramo. Uma comunicação, notícia, fotografia ou documento não configura um conhecimento, são na verdade dados, que serão submetidos ao profissional de inteligência. Esses dados podem advir de fontes abertas, onde há a coleta, ou de fontes protegidas, onde há a busca. Essa coleta ou busca podem derivar de diversas fontes, por exemplo: Humanas, com entrevistas dissimuladas, informantes, colaboradores; Tecnológicas, com a análise: de sinais, como radares, dados de telefonia, sistemas de informática; imagens, com o uso de fotografias e filmadoras; e bancos de dados, com o monitoramento da mídia e de sistemas de instituições informações públicas e privadas, nacionais e estrangeiras. A partir da análise e da interpretação do profissional de inteligência, os dados coligidos ganham coesão e coerência, de modo que podem ser conceituados como conhecimento. Esse labor do profissional de inteligência envolve um trabalho intelectual eminentemente humano, que pode resultar em certos estados da mente, a saber: Certeza - Trata-se da plena convicção pessoal entre os dados coligidos e as conclusões obtidas a partir de sua análise; Opinião - Tratam-se de indicadores de probabilidades entre os dados e as conclusões decorrentes da análise; Dúvida - É o estado de equilíbrio entre negar e aceitar as conclusões decorrentes da análise dos dados; Ignorância - É a situação onde a análise dos dados não leva à nenhuma conclusão lógica, de modo a não gerar conhecimento. 13 8. ESPÉCIES DE CONHECIMENTO DE INTELIGÊNCIA Segundo a doutrina, os conhecimentos de inteligência dividem-se em: Informe: resulta de juízos pessoais e podem gerar certeza ou opinião referente aos dados; Informação: decorre do raciocínio aplicado aos dados, sendo mais do que uma narrativa dos fatos, pois abrange uma interpretação dos mesmos, que resulta em uma certeza; Apreciação: similar à informação, porém, resulta em uma opinião relativa a um futuro próximo; Estimativa: similar à informação, porém, resulta em uma opinião relativa a um futuro imediato; Via de regra, o conhecimento de inteligência deve constar em um documento denominado de Relatório de Inteligência. 14 9. CONTROLE DA ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA POLICIAL Trata-se de tema controvertido, haja vista que as normativas da contemporânea inteligência brasileira são novas. Em período não muito distante, órgãos da inteligência brasileira, inclusive os policiais, serviam primordialmente para finalidades políticas, porém, tratava-se de outra época, sujeita a diferentes elementos de pressão, de modo que se opta, eticamente, por evitar emitir juízos de valor a esse respeito. Uma crítica formal ao antigo regime de inteligência nacional era sua opacidade, pois não se sabia o que, o porquê, bem como os motivos de suas atividades. De toda forma, os desafios atuais são outros, de modo que os elementos de pressão atuais consistem em organizações criminosas voltadas à corrupção endêmica, ao tráfico de drogas, armas e pessoas, ao terrorismo, a fraudes financeiras, dentre outras. Com isso, percebe-se que a atividade de inteligência policial atual não tem por condão de produzir conhecimento voltado aos detentores do poder político, até porque, em uma democracia, eles são passageiros. Visa-se, atualmente, uma atividade de inteligência de caráter institucional e público. Vale rememorar, como dado importante para a compreensão desse tema, que a atividade de inteligência policial não tem como finalidade produzir provas em uma persecução penal. É fato notório a importância da atividade de inteligência policial, tão importante que merece ser vigiada e preservada hígida. Para tanto, vê-se como necessário a adoção de mecanismos de controle dessa atividade. Há o costume, em especial no âmbito da atividade de polícia judiciária e na persecução penal em si, ponderar sobre o controle do Ministério Público em sua face de fiscal da lei. Porém, como já mencionado, a atividade de inteligência policial não se confunde com as atividades de polícia judiciária, que visa coligir elementos de prova para a persecução penal e modernamente para a adoção de mecanismos de compliance. Daí porque, desde o prisma lógico-doutrinário, conclui-se não ser atribuição do Ministério Público controlar e/ou fiscalizar a atividade de inteligência, a qual não se insere no âmbito do controle externo da atividade policial. 15 Não bastassem esses fundamentos, a própria Lei 9883/99, verbis: Art. 6o O controle e fiscalização externos da atividade de inteligência serão exercidos pelo Poder Legislativo na forma a ser estabelecida em ato do Congresso Nacional. § 1o Integrarão o órgão de controle externo da atividade de inteligência os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, assim como os Presidentes das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. § 2o O ato a que se refere o caput deste artigo definirá o funcionamento do órgão de controle e a forma de desenvolvimento dos seus trabalhos com vistas ao controle e fiscalização dos atos decorrentes da execução da Política Nacional de Inteligência. Dessa forma, percebe-se que o controle das atividades de inteligência, inclusive a policial, dá-se de maneira democrática, pois no mais plural dos poderes, o Parlamento. Cabe o destaque de que os líderes da maioria e da minoria do parlamento farão parte desse sistema, o que termina por afastar temores de uso político dos órgãos de inteligência. Ainda nesse aspecto, também há controle interno exercido pela própria Polícia Federal com relação aos seus órgãos de inteligência, tanto com a própria contra inteligência, como com a corregedoria policial. 16 10. ESPÉCIES DE INTELIGÊNCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA Em face dos diversos campos de atuação da Segurança Pública e das peculiaridades de cada Instituição, podem-se citar como espécies de ISP: Inteligência Policial Judiciária: A atividade de Inteligência Policial Judiciária é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para assessorar o processo decisório no planejamento, execução e acompanhamento de uma política de Segurança Pública; nas investigações policiais; e nas ações para prever, prevenir, neutralizar e reprimir atos criminosos de qualquer natureza que atentem à ordem pública e à incolumidade das pessoas e do patrimônio, sendo exercida pelas agências de inteligência (AIs) no âmbito das Polícias Civis e Federal. Inteligência Policial Militar: A atividade de Inteligência Policial Militar é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera deSegurança Pública, orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para assessorar o processo decisório; para o planejamento, execução e acompanhamento de assuntos de Segurança Pública e da Polícia Ostensiva, subsidiando ações para prever, prevenir 17 e neutralizar ilícitos e ameaças de qualquer natureza, que possam afetar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, sendo exercida pelas AIs das Polícias Militares. Inteligência Policial Rodoviária: A Atividade de Inteligência Policial Rodoviária Federal é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera da Segurança Pública e da Segurança Nacional, no âmbito das rodovias e estradas federais. Orientadas para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para assessorar o processo decisório, para o planejamento, a execução e o acompanhamento de assuntos pertinentes à segurança da sociedade e do Estado, essas ações visam prevenir e neutralizar ilícitos e ameaças de qualquer natureza, buscando se antecipar aos fatos que possam afetar a ordem pública e a incolumidade das pessoas e do patrimônio, e são exercidas pelas AI’s da Polícia Rodoviária Federal. Inteligência Penitenciária: A atividade de Inteligência Penitenciária é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para a identificação, acompanhamento e avaliação de ameaças reais ou potenciais na esfera do Sistema Penitenciário. Estas são basicamente orientadas para a produção e salvaguarda de conhecimentos necessários à decisão, ao planejamento e à execução de uma política penitenciária e, também, para prevenir, obstruir, detectar e neutralizar ações adversas de qualquer natureza dentro do Sistema Penitenciário e atentatórias à ordem pública. Inteligência Bombeiro Militar: A atividade de Inteligência Bombeiro Militar é o exercício permanente e sistemático de ações especializadas para identificar, avaliar e acompanhar ameaças reais ou potenciais na esfera de Segurança Pública, orientadas para produção e salvaguarda de conhecimentos necessários para subsidiar o processo decisório; para o planejamento, execução e acompanhamento de uma política de Segurança Pública e das ações para prever, prevenir e neutralizar riscos referentes a desastres naturais e de causa humana, calamidades, a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio; assuntos de interesse institucional e a proteção dos seus ativos corporativo, sendo exercida pelas AI's dos Corpos de Bombeiros Militares. Finalmente, a Inteligência no Brasil está regulada também pela Lei 9983/1999 que trata do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) e da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). 18 Define-se Inteligência como atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos, dentro e fora do território nacional, sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. Pode-se afirmar que inteligência é informação descoberta, discriminada, destilada e difundida para um decisor a fim de responder uma questão específica. Cepik (2003 apud LEONARDO SINGER AFONSO, 2006), um dos principais pesquisadores brasileiros na área de Inteligência, reconhece a existência de duas correntes: Uma define Inteligência como conhecimento ou informação analisada; A outra, mais restrita, como o mesmo que segredo ou informação secreta, pois se refere à “coleta de informações sem o consentimento.” Faz-se de grande importância a observação de que o principal mérito da atividade de Inteligência – aquilo que a torna imprescindível para qualquer governo – é a competência de pôr em prática um conjunto de métodos materializado ao longo do “ciclo de inteligência” (demanda – planejamento – reunião – coleta – busca – análise – avaliação – produção – difusão – feedback), além de fazê-lo com oportunidade, amplitude otimizada, o máximo de imparcialidade, clareza e concisão. Se adequadamente executada, a Inteligência pode se tornar explicativa e preditiva, qualidade que a diferencia da informação crua – o dado selecionado, mas não trabalhado. Para ROBSON GONÇALVES (apud RODRIGO CARNEIRO GOMES, 2006), a natureza secreta das atividades de Inteligência permite que muitas vezes sua missão seja desvirtuada. Estados totalitários utilizam-se das ferramentas de Inteligência, dos conhecimentos obtidos e dos cenários projetados para "jogos de poder" e para auferir vantagens pessoais para seus governantes. Nas democracias, mecanismos de controle são criados para impedir o uso político dos serviços de Inteligência, porém nem sempre estes controles são efetivos e a frágil barreira ética que impede seu mau uso é constantemente rompida. No ramo policial, a atividade de Inteligência de Segurança Pública se apresenta como instrumento de resposta e apoio ao combate à violência em geral e, principalmente aos crimes de alta complexidade, procurando identificar, entender e revelar os aspectos ocultos da atuação criminosa que seriam de difícil detecção pelos meios tradicionais de investigação policial servindo, ainda, para 19 assessorar as autoridades governamentais na elaboração de Planos e Políticas de Segurança Pública. Inteligência Policial é um dos campos de interesse das atividades de Inteligência. Serve-se dos dados estatísticos e outros buscados ou coletados e que não estejam disponibilizados nos mapas e gráficos estatísticos. Estes dados são sistematicamente agrupados por uma Gerencia de Inteligência de forma que a análise do conjunto destes dados e fatos conhecidos possa produzir o conhecimento científico dos fatos sociais produzidos pelos integrantes dos grupos sociais do crime organizado. A missão maior da Gerência de Inteligência é produzir conhecimentos que possam provocar uma tomada de consciência sobre o que é um fenômeno criminal, como podemos e até que ponto podemos conviver com ele e, o que fazer diante dele. Saber decidir por ações proativas ou reativas conforme se apresentem os conhecimentos produzidos. Uma questão tema de inúmeras discussões entre os estudiosos da área é o conceito de Inteligência e Investigação Policial. Sem dúvidas, pode-se afirmar que é sutil a diferenciação entre as duas formas de serviço, uma vez que ambas lidam, quase sempre, com os mesmos objetos, dentre eles: crime, criminosos e questões conexas, etc. Enquanto a Investigação policial tem como propósito direto instrumentar a persecução penal, a Inteligência Policial é um suporte básico para a execução das atividades de segurança pública, em seu esforço investigativo inclusive. Ou seja, Inteligência é produção de conhecimento para auxiliar a decisão. É quase como uma assessoria administrativa. Ela não é uma instância executora. Levanta dados, informes, produz um conhecimento e para. Alguém, em nível mais elevado de hierarquia, tomará, ou não, determinada decisão ou ação. Ela possui um ciclo próprio: Demanda Planejamento Reunião Coleta Busca Análise Avaliação 20 Produção Difusão Feedback. Pode-se encontrar variações deste ciclo, que pode ser entendido, grosso modo, como: demanda – o decisor quer saber algo; busca – a Inteligência vai atrás da informação; produção – a Inteligência transforma a informação em conhecimento e feedback – o decisor diz se o conhecimento é suficiente para a sua decisão ou se necessita de um maior aprofundamento ou mesmo de redirecionamento. Enquanto que, Investigação é levantamento de indícios e provas que levem ao esclarecimento de um fato delituoso. Tem a sua atuação restrita a um único evento criminal (ou a mais de um evento se houverem crimes relacionados!) Independe de uma vontadedo administrador, pois está voltada para um fato consumado sobre o qual é (o administrador) totalmente impotente! Poderíamos propor um ciclo para a Investigação: delito – a autoridade sabe de algo; levantamento – os investigadores buscam indícios, provas, testemunhos; análise – a autoridade avalia quais levantamentos são pertinentes ao caso; captura – os investigadores prendem os suspeitos ou infratores e produção – a autoridade produz peça acusatória. Enquanto o ciclo da Inteligência é linear, o ciclo da Investigação pode sofrer variação de etapas; podendo, por exemplo, a captura ocorrer em qualquer das fases. Como se pode ver, a Inteligência visa antecipar-se ao fato, agindo sobre elementos que possam conter o futuro. Já a Investigação surge após o fato, agindo sobre elementos que possam dizer o passado. Na atividade de Inteligência há clara distinção entre o trabalho do Decisor e o trabalho do Operador de Inteligência. O Decisor tem uma posição inteiramente passiva durante o processo. Na Investigação, Autoridade Policial e Agentes precisam estar constantemente em interação. A Autoridade é totalmente ativa durante todo o processo. Não é raro que a própria Autoridade participe de todas as fases. A Inteligência contém a Investigação. Quase sempre a Inteligência utiliza-se de técnicas operacionais próprias da Investigação; como disfarce, vigilância, interceptação, escuta, gravação, fotografia etc. Isto contribui para a confusão entre os conceitos, levando as pessoas a pensarem que são a mesma coisa. Então, como é que se pode falar em Inteligência Criminal ou Inteligência Policial, já que 21 os conceitos não são cambiantes? Isto ocorre porque, por falta de esclarecimento e pelo uso continuado, os conceitos vão se cristalizando nas mentes das pessoas. E, até mesmo, dos especialistas mais bem intencionados. Mas, uma vez que eles existem e são usados, deveríamos colocá-los em seu devido lugar. Assim, Inteligência Criminal ou Policial deve ser toda a ação proativa da Polícia. Todo o trabalho que ela desenvolve, ou que deveria desenvolver, no sentido de antecipar-se ao delito para que possa impedi-lo. Infelizmente, o que ocorre na realidade é que o mesmo Agente proativo vira ativo e reativo. Ou seja, não consegue apenas trabalhar como operador de Inteligência, tornando-se, invariavelmente, Investigador (inclusive participando da captura). Em tese, não se pode afirmar que a Investigação contém a Inteligência, porque Inteligência é fim e Investigação é meio. Inteligência Criminal é espécie do gênero Inteligência. A Inteligência, vista desta forma teórica, conceitual, servirá para quase todo o tipo de atividade humana; enquanto que a Investigação tem a sua área de atuação restrita a apuração de irregularidades. É incontestável a importância do Serviço de Inteligência, assim como sua atuação em resposta a soberania do País. Tratar sobre inteligência é, acima de tudo, coletar, analisar e sugerir soluções que garantam a paz, segurança e sigilo do sistema organizacional em que se esteja inserido. Conhecer realmente o significado de Serviço de Inteligência e compreender sua função são os fatores decisivos para uma mudança de pensamento a muito distorcida, onde confunde-se Inteligência com o serviço de Investigação executado pela polícia, uma vez que a segunda é um ramo de seguimento da primeira, mas não a mesma coisa, ou seja, a Inteligência contém a Investigação e usa suas técnicas em seus trabalhos. No entanto, tais funções ainda ganham rumos divergentes, na medida em que se observa uma inversão de papeis, quando Funcionários do serviço de Inteligência policial além de buscarem informações, muitas vezes fazem a captura e até prisão dos referidos infratores. Serviço esse atribuído a Investigação. Contudo, diante de tal situação, faz-se de grande importância a divulgação e compreensão dos verdadeiros fundamentos, atribuições e funções dos Serviços de Inteligência para nação. 22 As atividades de inteligência policial consistem em atividade vital para a materialização do Estado Democrático de Direito e para o efetivo respeito à dignidade da pessoa humana. Comunidades dominadas por milícias, traficantes e criminosos não serão libertadas somente com o uso da força. A inteligência policial mostra-se como elemento fundamental para a minimização do uso da força e da violência, por isso, sua valorização e fortalecimento são elementos fundamentais tanto de políticas públicas, como de anseios sociais. 23 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. Revista brasileira de inteligência. Vol. 1, nº. 1. Brasília, 2005; 5. AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. Revista brasileira de inteligência. Vol. 2, nº. 2. Brasília, 2006. DANTAS, George Felipe de Lima e outro. As bases introdutórias da análise criminal na inteligência policial. Acesso em: 12-01-2006. GOMES, Rodrigo Carneiro. A repressão à criminalidade organizada e os instrumentos legais: sistemas de inteligência. Jus Navigandi, Teresina, ano 10, n. 1114, 20 jul. 2006. Disponível em: . Acesso em: 01 fev. 2007; 3. D’AVILA, Aldo Prates. Inteligência. Secretaria de Estado e Segurança Pública de Santa Catarina, 2005. Disponível em: www.ssp.sc.gov.br/dini/Inteligencia.htm. Acesso em: 20 jan. 2007; 4. LIMA, Antônio Vandir de Freitas. O Papel da Inteligência na Atualidade. 2004. 47 f. Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” Especialização em Inteligência Estratégica realizado pela Faculdade Albert Einstein – FALBE. Brasília. 2004. 24
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