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ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 Encefalites Virais Definida como uma inflamação do encéfalo causada por infecção, geralmente um vírus. Em pacientes não HIV positivos, as causas mais frequentes de encefalite são: (a) o VHS-1; (b) o VHS-2 em recém-nascidos; (c) os arbovírus, incluindo o vírus da dengue, da febre amarela, o vírus da encefalite de St. Louis e o vírus da encefalite B japonesa.*enterovírus MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Além da doença febril aguda com evidências do comprometimento meníngeo típico de meningite, o paciente com encefalite comumente têm alteração do nível de consciência (confusão, anormalidades do comportamento,letargia leve ao coma), bem como evidências de sinais e sintomas neurológicos focais ou difusos. Os pacientes com encefalite podem ter alucinações, agitação, alteração da personalidade e transtornos do comportamento (p.ex. estado francamente psicótico). Os achados focais mais comumente observados são afasia, ataxia, padrões de fraqueza dos neurônios motores superior e inferior, movimentos involuntários (p. ex., abalos mioclônicos, tremor) e déficits de nervos cranianos (p. ex., paralisia ocular, fraqueza facial). O comprometimento do eixo hipotalâmico-hipofisário pode resultar em desregulação da temperatura, diabetes insípido ou desenvolvimento da SIADH. Algumas etiologias apresentam quadros mais específicos, como o VVZ que pode causar ataxia cerebelar em 50% das crianças e aparece entre uma e três semanas após a infecção.O VVZ pode ser o responsável também por paralisia fácil (doença de Ramsay-Hunt) e quadros vasculites com isquemias ou sangramentos cerebrais. OBS: As apresentações clínicas tornam impossível o estabelecimento seguro da etiologia de um caso específico de encefalite, baseando-se apenas em dados clínicos. Diagnóstico LCR. Deve-se realizar um exame do líquido cerebrospinal (LCS) em todos os pacientes com suspeita de encefalite viral, exceto quando contraindicado pela presença de HIC grave. O perfil típico do LCS é indistinguível daquele da meningite viral e consiste em pleocitose linfocitária, ligeira elevação dos níveis de proteína e concentração de glicose normal . Podem-se observar linfócitos atípicos no LCS na infecção pelo EBV e , com menor frequência, em infecções por outros vírus, como o citomegalovírus (CMV), HSV e enterovírus. A presença de hemácias pode levar ao diagnóstico de VHS ou VVZ. A ventriculite pode inferir o diagnóstico de CMV. PCR. A reação em cadeia da polimerase no LCS tornou-se o principal exame diagnóstico nas infecções do SNC causadas por CMV, EBV, VZV, HHV-6 e enterovírus. No caso da infecção do SNC pelo VZV, a PCR do LCS e a detecção da IgM específica do vírus ou da síntese de anticorpos intratecal contribuem de modo significativo para o estabelecimento do diagnóstico. Cultura do LCS. Geralmente possui utilidade limitada no diagnóstico da encefalite viral aguda. Pode não ser sensível! Sorologias.A determinação de anticorpos séricos é menos útil para vírus com altas taxas de soroprevalência na população geral, como o HSV, VZV, CMV e EBV. Para os vírus com baixas taxas de soroprevalência, pode-se definir o diagnóstico de infecção viral aguda pela documentação da soroconversão em amostras séricas da fase aguda e convalescente (coletadas com intervalo de 2 a 4 semanas) ou pela demonstração da presença de anticorpos IgM-específicos contra o vírus. Para vírus com alta soroprevalência, como o VZV e o HSV, a demonstração de síntese de anticorpos antivirais específicos no LCS, com base no índice aumentado de IgG ou na presença de anticorpos IgM no LCS, pode ser útil e pode fornecer uma evidência presuntiva de infecção do SNC. Infelizmente, o intervalo entre o início da infecção e a geração, por parte do hospedeiro, de uma resposta humoral específica contra o vírus significa que, com frequência, os dados sorológicos serão úteis principalmente para o diagnóstico retrospectivo, e não para o diagnóstico ou tratamento urgentes. RM, TC e EEG. Achados focais em um paciente com encefalite sempre devem aventar a possibilidade de encefalite por HSV. Cerca de 10% dos pacientes com encefalite por HSV comprovada por PCR têm RM normal, embora quase 80% tenham anormalidades do lobo temporal e mais 10% em regiões extratemporais. São exemplos de achados focais do HSV: (1) áreas de sinal hiperintenso nas regiões frontotemporal, do cíngulo ou insulares do cérebro nas ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 imagens de ressonância magnética (RM) ponderadas em T2, com fluid attenuated inversion recovery (FLAIR) ou ponderadas em difusão; (2) áreas focais de hipodensidade, efeito de massa e captação de contraste na tomografia computadorizada (TC); (3) pontas periódicas focais no lobo temporal sobre uma atividade de base lenta ou de baixa amplitude (“achatada”) no EEG. → Os pacientes com encefalite por VZV podem mostrar áreas multifocais de infartos hemorrágico e isquêmico, refletindo a tendência desse vírus a produzir vasculopatia do SNC em vez de encefalite verdadeira. → Os pacientes adultos imunocomprometidos com CMV frequentemente apresentam aumento dos ventrículos, com áreas de aumento de sinal em T2 no contorno dos ventrículos na RM e captação subependimária de contraste nas imagens ponderadas em T1. Tratamento 1) O tratamento básico e o de suporte devem incluir a cuidadosa monitoração da pressão intracraniana (PIC), restrição hídrica, evitar o uso de soluções intravenosas hipotônicas e supressão da febre. 2) Crises convulsivas devem ser tratadas com esquemas anticonvulsivantes convencionais 3) Os adultos devem receber uma dose de 10 mg/kg de aciclovir, por via intravenosa, de 8/8 horas (dose total de 30 mg/kg/dia), durante 21 dias. Antes de sua administração intravenosa, o aciclovir deve ser diluído para uma concentração de ≤ 7 mg/mL e infundida lentamente durante 1 hora, evitando a infusão rápida ou em bolus para minorar o risco de disfunção renal.O tratamento deve ser suspenso nos pacientes cujos exames não demonstrem encefalite por HSV, com a possível exceção daqueles com encefalite grave por VZV ou EBV. O HSV, o VZV e o EBV codificam uma enzima, a desoxipirimidina (timidina)-cinase, que fosforila o aciclovir, produzindo aciclovir-5′-monofosfato. As enzimas das células do hospedeiro fosforilam em seguida esse composto, formando um derivado trifosfato, este atua como agente antiviral, inibindo a DNA-polimerase viral e causando o término prematuro das cadeias nascentes de DNA viral. *Ganciclovir → inibe CMV *Foscarnet → inibe todos os HSV e CMV Meningites virais Processo inflamatório das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, causado por vírus. Os vírus são os principais causadores da síndrome da meningite asséptica (não definida inicialmente após a avaliação direta e cultura do LCR) Agentes etiológicos. Os principais são os vírus do gênero Enterovírus. Neste grupo estão incluídos os três tipos de poliovírus, 28 tipos antigênicos do vírus echo, 23 tipos do vírus Coxsackie A , 6 do Coxsackie B e 5 outros Enterovírus. A transmissão fecal-oral é de grande importância em infecções por enterovírus. Sendo as crianças, o grupo mais vulnerável às infecções causadas pelos enterovírus. Período de incubação. Para os enterovírus, situa-se comumente entre 7 e 14 dias, podendo variar de 2 a 35 dias. Período de transmissibilidade. No caso dos enterovírus, podem ser eliminados nas fezes por diversas semanas e pelas vias aéreas superiores por períodos que variam de 10 a 15 dias. Manifestações clínicas Quando se trata de enterovírus, as mais frequentes são: febre, mal-estar geral, náusea e dor abdominal na fase inicial do quadro, seguidas, após cerca de 1 a 2 dias, de ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 sinais de irritação meníngea, com rigidez de nuca geralmente acompanhada de vômitos. Além de: ● Cefaléia ● Fotofobia ● Anorexia ● Rash ● Diarréia ● Tosse ● Faringite ● Mialgia Diagnóstico Os principais exames parao esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite viral dependem do agente etiológico: Tratamento. Em geral, utiliza-se o tratamento de suporte, com avaliação criteriosa e acompanhamento clínico. Tratamentos específicos somente estão preconizados para a meningite herpética (HSV 1 e 2 e VZV) com aciclovir endovenoso. Na caxumba, a gamaglobulina específica hiperimune pode diminuir a incidência de orquite, porém não melhora a síndrome neurológica. Meningoencefalite herpética O VHS-1 é o agente causal da encefalite aguda esporádica mais frequente. A infecção primária acontece habitualmente na mucosa da orofaringe e, na maioria das vezes, é assintomática.Depois da infecção primária, o VHS-1 migra retrogradamente através de ramos do nervo V até atingir o gânglio de Gasser, onde permanece em forma latente. A reativação com replicação maciça do vírus pode levar à encefalite viral, acometendo estruturas do tronco cerebral ou, mais frequentemente, os lobos temporais e o sistema límbico. As lesões são graves e rapidamente progressivas, apresentam aspecto necro-hemorrágico e acometem os lobos temporais médio e inferior, o córtex orbitofrontal e estruturas do sistema límbico, às vezes bilateralmente. Na maioria das vezes, o agente etiológico é o VHS-1; no entanto, entre 6 e 15% das meningoencefalites herpéticas são causadas pelo VHS-2. Quadro clínico: febre, cefaleia, confusão mental e alterações de comportamento. Associam-se crises convulsivas, focais ou generalizadas, e quadros deficitários, como disfasia e hemiparesia. Os sintomas atingem a expressão máxima em duas a três semanas. Diagnóstico. Por neuroimagem, pelo exame do LCR e pelo EEG. A RM, pode mostrar lesões com hipersinal em T2 nos lobos temporais médio e inferior, podendo estender-se até a ínsula; no entanto, na fase inicial da doença, o exame pode ser normal. O exame de LCR pode evidenciar: hipertensão; pleocitose linfomononuclear, variando habitualmente entre 5 e 500 células; aumento discreto ou moderado da concentração proteica; glicose normal; aumento da atividade de adenosina-deaminase (ADA). Ocasionalmente, há hemácias ou xantocromia. Na primeira semana, o diagnóstico de certeza é feito por PCR, que apresenta maior sensibilidade até o quarto ou quinto dia após o início da sintomatologia (cerca de 95%). A especificidade é de quase 100%, de modo que este exame é considerado padrão-ouro para diagnóstico, substituindo a biópsia cerebral. Tratamento. Aciclovir, na dose de 10 mg/kg, cada oito horas, EV, por duas a três semanas. Meningite Fúngica ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 As infecções do SNC causadas por fungos estão associadas a estados de imunossupressão celular e humoral. Resultam de disseminação hematogênica de focos pulmonares, cardíacos ou intestinais, ou então por meio de implantação direta de focos craniofaciais ou por procedimento neurocirúrgico. → Destacam-se os fungos do gênero Cryptococcus, sendo as espécies mais importantes a C. neoformans e a C. gattii. As neuromicoses podem ser disseminadas (criptococose, coccidioidomicose etc.), focais (aspergiloses, zigomicose etc.) ou multifocais (candidíase). Modo de transmissão. Geralmente ocorre devido à inalação das formas leveduriformes do ambiente. Período de incubação. Desconhecido. Casuísticas brasileiras exibem média de surgimento de sinais e sintomas entre 3 semanas e 3 meses antes da admissão, mas individualmente pode variar de 2 dias a 18 meses ou mais. Os fungos causadores de infecções do SNC são encontrados em três diferentes morfologias: 1. Pequenos pseudomicetos (hifas), causadores, principalmente, de leptomeningites. Em virtude do tamanho pequeno, esses fungos ganham a microcirculação cerebral e os espaços liquóricos (criptococose, blastomicose, coc-cidioidomicose). 2. Grandes pseudomicetos, causadores de abscessos e granulomas. Por serem maiores, ocluem arteríolas cerebrais levando a isquemias focais e infartos, com posterior necrose e formação de abcesso (candidíase). 3. Micetos septados (aspergilose) e não septados (zigomicose) são grandes e apresentam múltiplas hifas. Esses fungos podem colonizar regiões cranianas, como seios paranasais, cavidade oral e órbitas. Manifestações clínicas No indivíduo com comprometimento imunológico (aids ou outras condições de imunossupressão), a meningoencefalite é aguda, com ampla variedade de sinais, podendo inclusive não haver sinais de irritação meníngea. Nos pacientes com aids que apresentam cefaleia, febre, demência progressiva e confusão mental, a meningite criptocócica deve ser considerada. No indivíduo imunocompetente, o quadro é exuberante, e os sintomas comumente descritos são: cefaleia, febre, vômitos, alterações visuais, rigidez de nuca. Outros sinais neurológicos, como ataxia, alteração do sensório e afasia, são comuns. Pode ocorrer evolução para torpor ou coma. RM.As lesões abaixo correspondem ao acúmulo de fungos da espécie Cryptococcus neoformans nos espaços de Virchow-Robin em torno das artérias lentículo-estriadas e outras artérias perfurantes da base cerebral, mesencéfalo e cerebelo (neste, afetando os núcleos denteados). Os fungos proliferam nos espaços perivasculares, levando a compressão e destruição do tecido nervoso. Este caso é de excepcional gravidade, com lesões confluentes e de aspecto bolhoso na TC e RM. Diagnóstico laboratorial o diagnóstico de uma infecção micótica do sistema nervoso é difícil.Os principais exames a serem realizados no LCR para o esclarecimento diagnóstico de casos suspeitos de meningite criptocócica são: LCR: Sobre o fungo, o Cryptococcus neoformans é encontrado particularmente no solo e em fezes de aves, especialmente pombos. A via de entrada mais frequente é o trato ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 respiratório e mais raramente, as mucosas e a pele e atinge o SNC por via hematogênica na forma de levedura, com morfologia bastante característica: membrana dupla e birrefringente, cápsula gelatinosa e inclusões também birrefringentes. A neurocriptococose manifesta-se clinicamente por quadros de meningite ou meningoencefalite graves, nos quais a sintomatologia predominante está relacionada à HIC de evolução subaguda ou crônica. O Cryptococcus neoformans cresce com facilidade em meio de Sabouraud, geralmente em menos de 30 dia.Culturas estéreis de três amostras consecutivas de LCR pelo período mínimo de um mês constituem critério satisfatório para suspensão do tratamento, mesmo que esporadicamente o fungo seja encontrado no exame micológico direto. Tratamento da neurocriptococose Deve considerar a presença ou não de imunossupressão e das drogas disponíveis. O tratamento é dividido em três fases: indução, consolidação e manutenção. O término da fase de indução e início da fase de consolidação é recomendado somente quando o paciente apresentar cultura para fungos negativa no LCR após a 2ª semana e/ou melhora dos sinais clínicos. Cabe ressaltar que os pacientes portadores de condições de imunossupressão deverão ser submetidos à fase de manutenção do tratamento por 12 a 24 meses. A anfotericina-B é o principal medicamento disponível até o momento para tratamento da neurocriptococose 0,7 mg/kg/dia. A 5-fluori-citosina, na dose de 100 mg/kg/dia, possui também ação comprovada e potencializa o efeito terapêutico da anfotericina-B. O esquema terapêutico mais utilizado consiste na associação de anfotericina-B e 5-fluorocitosina (esta apenas nas primeiras duas semanas). Neurotoxoplasmose A toxoplasmose é causada pela infecção pelo parasita obrigatoriamente intracelular Toxoplasma gondii. A infecção aguda adquirida depois do nascimento pode ser assintomática, mas acredita-se que resulte na persistência crônica de cistos nos tecidos do hospedeiro por toda a vida. Tanto na toxoplasmose aguda como na crônica, o parasita é responsável por doença clinicamente evidente, incluindo linfadenopatia, encefalite, miocardite e pneumonite.Em indivíduos imunocompetentes, a toxoplasmose também pode se apresentarcomo doença aguda (coriorretinite) associada a fontes veiculadas por alimentos ou água. Ciclo vital do Toxoplasma gondii→O gato é o hospedeiro definitivo no qual a fase sexuada do ciclo é concluída. Oocistos eliminados em fezes de gatos podem infectar uma ampla variedade de animais, inclusive aves, roedores, animais domésticos que pastam e seres humanos. Os bradizoítos encontrados nos músculos de animais que servem de alimento podem infectar humanos que ingerem carnes insuficientemente cozidas, particularmente de ovelha e porco.Após a ingestão pelo hospedeiro de cistos teciduais contendo bradizoítos ou de oocistos contendo esporozoítos, os parasitas são liberados dos cistos por um processo digestivo. Os bradizoítos são resistentes ao efeito da pepsina e invadem o trato gastrointestinal do hospedeiro. Dentro de ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 enterócitos, os parasitas sofrem transformação morfológica, dando origem a taquizoítos invasivos. A partir do TGI, os parasitas disseminam-se para uma variedade de órgãos, particularmente tecido linfático, músculo esquelético, miocárdio, retina, placenta e SNC. Nesses locais, o parasita infecta células do hospedeiro, replica-se e invade as células adjacentes. Dessa maneira, desenvolvem-se as marcas da infecção: morte celular e necrose focal circundada por uma resposta inflamatória aguda. Epidemiologia.As cepas encontradas na América do Sul são mais virulentas que aquelas do Hemisfério Norte e têm mais chances de estar associadas com doença sintomática – geralmente ocular – em pessoas imunocompetentes; Acredita-se que a maioria dos casos de infecção humana por Toxoplasma seja adquirida pela via oral. Transmissão. Pode ser atribuível à ingestão de oocistos esporulados do solo, alimentos ou água contaminados. Durante a infecção felina aguda, um gato pode excretar até 100 milhões de oocistos por dia. Esses oocistos contendo esporozoítos são altamente infecciosos e podem permanecer viáveis por muitos anos no solo ou na água. Seres humanos infectados durante uma infecção transmitida por oocistos desenvolvem anticorpos específicos da fase ao oocisto/esporozoíto.Crianças e adultos também adquirem infecção a partir de cistos teciduais contendo bradizoítos. A subcocção ou o congelamento insuficiente da carne (também frutos do mar) é uma fonte importante de infecção no mundo desenvolvido.Além de ser transmitido por via oral, o T. gondii pode ser transmitido diretamente de um doador soropositivo para um receptor soronegativo em um coração, coração-pulmão, rim, fígado ou pâncreas transplantado. Parasitas viáveis podem ser cultivados de sangue com anticoagulante refrigerado, que pode ser uma fonte de infecção em indivíduos recebendo transfusões sanguíneas. Manifestações clínicas Imunocompetente→ A manifestação mais comum da toxoplasmose aguda é a linfadenopatia cervical. Os gânglios podem ser solitários ou múltiplos, geralmente são indolores, discretos e variam em firmeza. Linfadenopatia também pode ser encontrada nas áreas suboccipital, supraclavicular, inguinal e mediastinal. Linfadenopatia generalizada ocorre em 20 a 30% dos pacientes sintomáticos. Entre 20 a 40% dos pacientes com linfadenopatia também têm cefaleia, mal-estar geral, fadiga e febre (geralmente com uma temperatura < 40°C). Uma proporção menor de indivíduos sintomáticos tem mialgia, dor de garganta, dor abdominal, exantema maculopapular, meningoencefalite e confusão.Se a toxoplasmose for considerada no diagnóstico diferencial, a triagem laboratorial e sorológica de rotina deve preceder a biópsia de gânglio. Imunossuprimidos → A infecção pode ser devido à reativação de infecção latente ou à aquisição de parasitas de fontes exógenas, como sangue ou órgãos transplantados. Em indivíduos com Aids, acredita-se que > 95% dos casos de encefalite (quando a contagem de células T CD4+ cai abaixo de 100/μL) por Toxoplasma (ET) devam-se a infecção recrudescente.s achados do SNC incluem encefalopatia, meningoencefalite e lesões tumorais. Os pacientes podem se apresentar com alteração do estado mental (75%), febre (10-72%), convulsões (33%), cefaleias (56%) e achados neurológicos focais (60%), inclusive déficits motores, paralisias de nervos cranianos, transtornos dos movimentos, dismetria, perda de campo visual e afasia. Neuroimagem. Embora lesões possam ocorrer em qualquer parte do SNC, as áreas mais frequentemente envolvidas parecem ser o pedúnculo cerebral, os núcleos da base, a glândula hipófise e a junção corticomedular. O envolvimento do pedúnculo cerebral dá origem a uma variedade de disfunções neurológicas, inclusive paralisia de nervos cranianos, dismetria e ataxia. Com a infecção dos núcleos da base, os pacientes podem desenvolver hidrocefalia, movimentos coreiformes e coreoatetose. Toxoplasma geralmente causa encefalite, e o envolvimento de meninges é incomum. A resolução das lesões cerebrais pode levar de 3 semanas a 6 meses. “O início da infecção pode variar desde um processo insidioso ao longo de várias semanas, até um estado agudo de confusão, com déficits focais fulminantes, ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 inclusive hemiparesia, hemiplegia, defeitos de campo visual, cefaleia localizada e convulsões focais.” Diagnóstico ● testes sorológicos: .O diagnóstico de infecção aguda com T. gondii pode ser estabelecido por detecção da presença simultânea de anticorpos IgG e IgM contra o Toxoplasma no soro. A presença de IgA circulante favorece o diagnóstico de infecção aguda.Títulos de IgG positivos (> 1:10) podem ser detectados bastante cedo, como 2 a 3 semanas depois da infecção. Esses títulos geralmente alcançam o pico em 6 a 8 semanas e diminuem lentamente a um novo nível de linha de base, que persiste por toda a vida. Imunocompetente→ Para o paciente que se apresenta apenas com linfadenopatia, um título positivo de IgM é uma indicação de infecção aguda – e uma indicação para terapia, se clinicamente justificável. O título sérico de IgM deve ser determinado novamente em 3 semanas. Uma elevação no título de IgG sem um aumento do título de IgM sugere que há infecção, mas não aguda. Se houver aumento limítrofe em IgG ou IgM, os títulos devem ser reavaliados em 3 a 4 semanas. Imunocomprometido → Um diagnóstico clínico presuntivo de ET em pacientes com Aids baseia-se em apresentação clínica, história de exposição (como evidenciada por sorologia positiva) e avaliação radiológica. Para detecção de infecção latente com T. gondii, as pessoas infectadas por HIV devem ser testadas para anticorpo IgG a Toxoplasma logo depois que a infecção por HIV for diagnosticada. ● PCR: abordagens moleculares podem detectar diretamente T. gondii em amostras biológicas, independentemente da resposta sorológica. Resultados obtidos com PCR têm sugerido alta sensibilidade, especificidade e utilidade clínica no diagnóstico de ET. ● Isolamento de T. gondii nos líquidos corporais ● Exame histológico de gânglios linfáticos →.A demonstração de taquizoítos em linfonodos estabelece o diagnóstico de toxoplasmose aguda. Do mesmo modo que a subinoculação em camundongos, a demonstração histológica de cistos contendo bradizoítos confirma a infecção prévia com T. gondii, mas não é diagnóstica para infecção aguda. Tratamento Adultos e crianças maiores imunologicamente competentes, que têm somente linfadenopatia, não necessitam de terapia específica, a menos que tenham sintomas intensos persistentes. Terapia tripla com pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico. Se efeito de massa e risco para HIC, adicionar dexametasona. Esquema por 3-6 semanas. PREVENÇÃO Todas as pessoas infectadas por HIV devem ser aconselhadas com relação a fontes de infecção por Toxoplasma. ● não se ingerir carne mal cozida e evitando-se materiais contaminados com oocistos (p. ex., a caixa de areia de um gato). ● As mãos devem ser lavadas rigorosamente após o trabalho no jardim, e todas as frutas e hortaliças devem ser lavadas. ● Evitar a ingestão de frutos do mar crus ● Se o pacientetiver um gato, a caixa de dejetos deve ser limpa ou trocada diariamente, preferencialmente por uma pessoa negativa para HIV e não gestante; ● Os gatos devem ser alimentados somente com alimentos comerciais enlatados ou ressecados, ou comida bem cozida, e não com carnes cruas ou mal cozidas. ● Os pacientes não precisam ser aconselhados a se separar de seus gatos ou a tê-los testados para toxoplasmose. Complicações das infecções do SNC Abscesso cerebral. É uma infecção supurativa focal no interior do parênquima cerebral, circundada por uma cápsula vascularizada. Os distúrbios predisponentes incluem otite média e mastoidite, rinossinusite paranasal, infecções piogênicas do tórax ou de outras regiões corporais, traumatismo craniano penetrante, procedimentos neurocirúrgicos e infecções dentárias. → Pode desenvolver-se (1) por disseminação direta a partir de infecção contígua do crânio, como rinossinusite paranasal, otite média, mastoidite ou infecção dentária; (2) após traumatismo craniencefálico ou procedimento neurocirúrgico; ou (3) em virtude da disseminação hematogênica a partir de infecção em local remoto. ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 → Em aproximadamente 25% dos casos, não há fonte primária óbvia de infecção (abscesso cerebral criptogênico). Patogênese → O estágio de cerebrite incipiente (dias 1 a 3) caracteriza-se pela infiltração perivascular de células inflamatórias que circundam uma área central de necrose de coagulação. Um edema acentuado circunda a lesão nesse estágio. No estágio de cerebrite tardia (dias 4 a 9), a formação de pus leva a aumento do centro necrótico, circundado por uma borda de infiltrado inflamatório formado por macrófagos e fibroblastos. Uma delgada cápsula de fibroblastos e fibras reticulares surge gradualmente, e a área circundante do edema cerebral torna-se mais distinta do que no estágio prévio. O terceiro estágio, há formação inicial da cápsula (dias 10 a 13), é caracterizado pela formação de uma cápsula que é mais bem desenvolvida no lado cortical que no ventricular da lesão. Esse estágio correlaciona-se com o aparecimento da captação anelar da cápsula nos exames de neuroimagem. O estágio final, o da formação da cápsula tardia (a partir do 14º dia), é definido por um centro necrótico bem-formado, circundado por densa cápsula de colágeno. Quadro clínico: depende de sua localização, natureza da infecção primária, quando presente, e nível da pressão intracraniana (PIC). A tríade clínica de cefaleia, febre e déficit neurológico focal (hemiparesia, afasia ou defeitos dos campos visuais, são parte da apresentação inicial em > 60% dos pacientes) está presente em < 50% dos casos. O sintoma mais comum em pacientes com abscesso cerebral consiste em cefaleia, que ocorre em > 75% dos casos e se caracteriza por uma sensação de dor surda e constante, hemicraniana ou generalizada, que se torna progressivamente mais intensa e refratária ao tratamento. A hemiparesia é o sinal de localização mais comum em um abscesso do lobo frontal. Um abscesso do lobo temporal pode apresentar-se com perturbação da linguagem (disfasia) ou quadrantanopsia homônima superior. Nistagmo e ataxia são sinais de um abscesso cerebelar. Os sinais de PIC elevada – papiledema, náuseas, vômitos, sonolência ou confusão – dominam a apresentação clínica de alguns abscessos, sobretudo os do cerebelo. Não há meningismo, a menos que o abscesso se rompa para dentro do ventrículo ou que a infecção se estenda ao espaço subaracnóideo Diagnóstico. definido por exames neurorradiológicos.Nas RMs contrastadas ponderadas em T1, um abscesso maduro tem uma cápsula que se realça circundando um centro hipodenso, circundada por área hipodensa de edema. Nas imagens de RM em T2, há uma área central hiperintensa de pus, circundada por uma cápsula hipointensa bem-definida e por uma área circundante hiperintensa de edema. Não se deve realizar uma punção lombar (PL) em pacientes com infecções intracranianas focais conhecidas ou suspeitas, como abscesso ou empiema; a análise do líquido cerebrospinal (LCS) não contribui para o diagnóstico ou para o tratamento, e a PL eleva o risco de herniação. Tratamento.O tratamento ideal dos abscessos cerebrais envolve uma combinação de antibióticos parenterais em altas doses e drenagem neurocirúrgica. O tratamento empírico do abscesso cerebral adquirido na comunidade em um paciente imunocompetente normalmente consiste em uma cefalosporina de terceira ou de quarta geração (p. ex., cefotaxima, ceftriaxona ou cefepima) e metronidazol.O tratamento clínico isolado não é suficiente nos abscessos cerebrais, devendo ser reservado para pacientes cujos abscessos sejam inacessíveis neurocirurgicamente, para os pacientes com abscessos pequenos (< 2 a 3 cm) ou não encapsulados (cerebrite) e para aqueles cujo estado clínico seja frági.. Todos os pacientes devem receber antibioticoterapia parenteral por no mínimo 6 a 8 semanas. Além da drenagem cirúrgica e da antibioticoterapia, os pacientes devem receber tratamento anticonvulsivante profilático, devido ao alto risco (cerca de 35%) de crises convulsivas focais ou generalizadas por no mínimo 3 meses após a resolução do abscesso, e as decisões acerca da sua suspensão devem ser baseadas no eletrencefalograma (EEG). Se o EEG for anormal, a terapia anticonvulsivante deve ser continuada. Se for normal, a terapia anticonvulsivante pode ser lentamente retirada, com acompanhamento rigoroso e repetição de EEG após a interrupção da medicação. OBS: Os glicocorticoides não devem ser administrados rotineiramente a pacientes com abscesso cerebral.Avaliar se há muito edema envolta do abscesso. ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 Empiema subdural. Consiste em um acúmulo de pus entre a dura-máter e a aracnóide-máter. A rinossinusite é a causa predisponente mais comum e envolve os seios frontais, tendo como agentes envolvidos: estreptococos aeróbios e anaeróbios, estafilococos, Enterobacteriaceae e bactérias anaeróbias. Fisiopatologia. Decorre da propagação retrógrada da infecção por tromboflebite séptica das veias da mucosa, que drenam os seios paranasais ou propagação contígua da infecção para o cérebro a partir de osteomielite na parede posterior dos seios frontais ou outros seios ou caso haja procedimento neurocirúrgico, pode se desenvolver por introdução direta de bactérias no espaço subdural, como complicação do procedimento. Quadro clínico. Apresenta-se geralmente com febre e cefaléia progressiva. À medida que a infecção avança, geralmente ocorrem déficits neurológicos focais, crises convulsivas, rigidez de nuca e sinais de hipertensão intracraniana. A cefaleia é a queixa mais comum no momento da apresentação; no início, é localizada no lado da infecção subdural, porém depois se torna mais intensa e generalizada. Hemiparesia ou hemiplegia contralateral é o déficit neurológico focal mais comum, podendo ocorrer pelos efeitos diretos do ESD sobre o córtex ou como consequência do infarto venoso. DIAGNÓSTICO. A RM é superior à TC na identificação do ESD e de qualquer infecção intracraniana associada. A administração de gadolínio facilita bastante o diagnóstico devido à captação de contraste pela borda do empiema, permitindo a clara distinção entre o empiema e o parênquima cerebral subjacente. Com frequência, a intensidade do efeito expansivo, traduzido por desvio da linha média, compressão ventricular e apagamento dos sulcos, é desproporcional ao volume do ESD *O pus é hipointenso nas imagens ponderadas em T1 (A, B), porém acentuadamente hiperintenso na imagem em densidade protônica. Tratamento. O ESD é uma emergência médica. A evacuação neurocirúrgica do empiema, seja por craniotomia, craniectomia ou por drenagem através de orifícios de trepanação, constitui a etapa definitiva para o tratamento dessa infecção. O tratamento antimicrobiano empírico para o ESD adquirido na comunidade deve incluir uma combinação de uma cefalosporina de terceira geração (p. ex., cefotaxima ou ceftriaxona),vancomicina e metronidazol.A antibioticoterapia parenteral deve ser mantida no mínimo por 3 a 4 semanas após a drenagem do ESD. Define-se o diagnóstico específico dos agentes etiológicos com base na coloração de Gram e cultura do líquido obtido através dos orifícios de trepanação ou craniotomia; a cobertura com os antibióticos empíricos iniciais pode ser modificada de acordo com os resultados. Tromboflebite intracraniana supurativa. Consiste em trombose venosa séptica das veias e seios corticais. Pode ocorrer como complicação da meningite bacteriana; ESD; abscesso epidural; ou infecção da pele da face, seios paranasais, orelha média ou processo mastoide. Patogenese.As veias cerebrais e os seios venosos não têm valvas(o sangue no seu interior pode fluir em qualquer direção). O seio sagital superior é o maior dos seios venosos e recebe sangue das veias frontais, parietais e cerebrais superiores occipitais, bem como das veias diploicas, que se comunicam com as veias meníngeas. A meningite bacteriana é um distúrbio predisponente comum para a trombose séptica do seio sagital superior. As veias diploicas, que drenam para o seio sagital superior, constituem uma via para a propagação da infecção meníngea, especialmente nos casos em que há exsudato purulento próximo às áreas do seio sagital superior. Quadro clínico. Varia conforme seio venoso que sofreu trombose. →No seio sagital superior apresenta-se com cefaleia, febre, náuseas, vômitos, confusão mental e crises convulsivas focais ou generalizadas. Pode haver evolução rápida para estupor e coma. Com frequência, ocorre fraqueza dos membros inferiores com sinal de Babinski bilateral ou hemiparesia. Quando a trombose do seio sagital superior ocorre como complicação da meningite bacteriana, pode haver rigidez de nuca bem como os sinais de Kernig e Brudzinski. →no seio cavernoso são febre, cefaleia, dor frontal e retro-orbitária e diplopia. Os sinais clássicos são ptose, proptose, quemose e dismotilidade extraocular decorrente de déficits dos nervos cranianos III, IV e VI; podem-se detectar hiperestesia das divisões oftálmica e maxilar do ENCEFALITES E MENINGITES NÃO BACTERIANAS HANNA LEAL 8ºPERIODO | CASO 2 nervo craniano V, bem como redução do reflexo corneopalpebral. Pode haver evidências de dilatação e tortuosidade das veias retinianas e papiledema. → A cefaleia e a otalgia constituem os sintomas mais frequentes da trombose do seio transverso. A trombose do seio transverso também pode manifestar-se com otite média, paralisia do nervo craniano VI e dor retro-orbitária ou facial (síndrome de Gradenigo). →As tromboses do seio sigmoide e da veia jugular interna podem apresentar-se com dor cervical. Diagnóstico. O diagnóstico de trombose séptica de um seio venoso é sugerido quando se observa ausência de sinal normal dentro do seio venoso acometido na RM e confirmado por venorressonância magnética, angio-TC ou pela fase venosa da angiografia cerebral. Tratamento. Trato com antibióticos, hidratação e remoção do tecido infectado e do trombo. A escolha do tratamento antimicrobiano baseia-se nas bactérias responsáveis pelo distúrbio predisponente ou associado. A duração ideal do tratamento é desconhecida, mas, em geral, os antibióticos precisam ser mantidos por 6 semanas ou até que haja evidências radiográficas de resolução da trombose. Recomenda-se a anticoagulação com dose ajustada de heparina IV para a trombose asséptica do seio venoso, bem como para o tratamento da trombose sinusal venosa séptica que complica a meningite bacteriana em pacientes que apresentam deterioração neurológica progressiva a despeito do tratamento antimicrobiano e da hidratação IV. Fontes: GUIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE.2017. Jameson, J., L. et al. Medicina interna de Harrison - 2 volumes. Disponível em: Minha Biblioteca, (20th edição). Grupo A, 2019. Martins, Mílton de, A. et al. Clínica Médica, Volume 6: Doenças dos Olhos, Doenças dos Ouvidos, Nariz e Garganta, Neurologia, Transtornos Mentais. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Editora Manole, 2016 https://anatpat.unicamp.br/radcripto5.html. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_volume_1.pdf
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