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DINÂMICA DEMOGRÁFICA E SUA RELEVÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL NO BRASIL: 
 
IMPLICAÇÕES PARA O PROGRAMA UNFPA 2011-2015 
 
18 fevereiro, 2011 
 
(Versão Preliminar) 
 
 
George Martine 
José Eustáquio Diniz Alves 
 
 
1 
 
ÍNDICE 
 
 
1) Introdução .......................................................................................................................2 
 
2) Panorama econômico e político......................................................................................2 
 
3) Panorama Sócio-Demográfico........................................................................................3 
 
a. Fecundidade, Saúde Sexual e Reprodutiva...........................................................5 
b. Mudanças na estrutura etária, bônus demográfico e mudanças nos arranjos 
familiares.................................................................................................................10 
c. Migração, urbanização e desenvolvimento regional...........................................14 
 
4) Panorama social: redução da pobreza e da desigualdade de renda...........................19 
a. Pobreza e Desigualdade..........................................................................................19 
b. Mercado de trabalho e renda.................................................................................21 
c. Crescimento da classe média..................................................................................22 
 
5) A dinâmica demográfica e as desigualdades de gênero no Brasil...............................25 
a. Saúde........................................................................................................................25 
b. Educação..................................................................................................................29 
c. Mercado de trabalho..............................................................................................30 
d. Uso do tempo...........................................................................................................35 
e. Espaços de poder.....................................................................................................36 
 
6) População, desenvolvimento e ambiente........................................................................37 
 
7) Considerações Finais e Sugestões...................................................................................41 
 
8) BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................45 
 
 
 
 
2 
 
1) Introdução 
 
O Brasil passou por grandes transformações demográficas, econômicas, sociais, ambientais e culturais 
nas últimas décadas. Depois do fracasso da década perdida e do baixo dinamismo da década de 1990, o 
país voltou a apresentar crescimento econômico na primeira década do século XXI, desta vez com 
redução da pobreza e diminuição das desigualdades sociais. A atual década se inicia com um novo 
governo, inserido num contexto favorável, mas que também enfrenta novos e velhos reptos. O objetivo 
deste texto é de situar o programa do UNFPA dentro do contexto destas transformações, enfocando os 
desafios e as oportunidades que delas decorrem para o terreno de população e desenvolvimento. 
 
O texto começa traçando um breve panorama da economia internacional e de como o Brasil se posiciona 
atualmente diante da conjuntura mundial. Em seguida, aborda a dinâmica demográfica – crescimento, 
composição e distribuição – assim como suas influências sobre o processo de desenvolvimento. Analisa 
a evolução das políticas de saúde sexual e reprodutiva e o quadro de mudanças nas relações de gênero 
no país. Apresenta o quadro de redução da pobreza no Brasil e de melhoria do mercado de trabalho. 
Discute as principais políticas sociais de proteção social. Trata dos desafios colocados ao meio 
ambiente. Apresenta algumas considerações sobre os avanços e desafios para a próxima década, em 
especial para o quinquênio 2011-2015. 
 
Por fim, o texto sugere algumas iniciativas para a programação do UNFPA nos próximos quatro anos no 
que se refere ao seu diálogo político e às suas ações dentro do contexto dos temas colocados na CIPD do 
Cairo, de 1994, e da metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Em síntese, considera-se que 
o Brasil apresenta condições demográficas e econômicas favoráveis para a redução do peso da sua 
tradicional pobreza e desigualdade e para melhorar a qualidade de vida das pessoas e a sustentabilidade 
ambiental. A compreensão da trajetória dos fenômenos demográficos é crucial para a orientação das 
políticas sociais e econômicas que possam contribuir para a contínua elevação dessa qualidade de vida 
dos segmentos desfavorecidos da população brasileira. 
 
2) Panorama econômico e político 
 
Depois da crise econômica e social da década perdida (anos 1980) e do baixo crescimento da década de 
1990, a economia brasileira voltou a apresentar um ritmo mais acelerado de aumento do PIB na primeira 
década do século XXI, particularmente na média dos anos 2004-2010, quando cresceu a 4,5% ao ano. O 
novo cenário da economia internacional tende a reduzir as disparidades internacionais de renda entre as 
nações. Essa nova dinâmica tem impacto nas taxas de crescimento interna, na reconfiguração da 
estrutura produtiva do país e na capacidade do Estado brasileiro de manter suas políticas sociais. Ao 
contrário das anteriores, a crise econômica de 2008-2009 teve efeitos diferenciados, atingindo com mais 
severidade as economias mais ricas. As projeções para o Brasil são positivas, no que se refere à próxima 
década. Do ponto de vista populacional, o país terá, nos próximos anos, as menores taxas de 
dependência demográfica da sua história. O desempenho econômico favorável cria sinergia com os 
avanços políticos e sociais, possibilitando a superação dos principais entraves ao desenvolvimento 
sustentável e inclusivo. 
 
Se, por um lado, as perspectivas econômicas brasileiras geram um otimismo moderado, por outro, 
persistem problemas preocupantes relacionados, por exemplo, com a dimensão da dívida interna, as 
deficiências de infraestrutura, o peso das desigualdades sociais e as mazelas do processo democrático. 
3 
 
Paralelamente, o aumento do mercado interno tem atraído capitais externos, o que provoca valorização 
cambial e agrava os problemas da chamada “desindustrialização”. Também traz desafios maiores para a 
proteção do meio ambiente e da biodiversidade. A persistência de grandes bolsões de pobreza, 
conjugado com a persistência de altos níveis de desigualdade, constituem uma obstáculo formidável para 
o takeoff do desenvolvimento sustentável. Apesar de avanços recentes, o Brasil ainda tinha 39,6 milhões 
de pessoas com renda domiciliar per capita inferior às linhas de pobreza em 2009. Isto é um montante 
equivalente a toda população da Argentina. O país também contabilizava 13,5 milhões de pessoas 
indigentes, um montante equivalente a toda a população do Equador. Recentemente, celebrou-se, pela 
primeira vez, uma redução nos níveis de desigualdade no país, mas o Índice de Gini de 0.543, calculado 
em 2009, ainda coloca o Brasil como um dos mais desiguais do mundo. O crescimento econômico só 
traz benefícios para o país se vier acompanhado de desenvolvimento social e ambiental, numa 
perspectiva de direitos. 
 
A partir de 1994, o Brasil entrou em uma rota de consolidação da democracia com desenvolvimento 
econômico e redução da pobreza e das desigualdades sociais. As eleições de 2010 consolidaram os 25 
anos de democracia formal do país. Mas, se é inegável que houve melhorias quantitativas na 
administração democrática do país, o mesmo nãoaconteceu em termos qualitativos. Os constantes casos 
de corrupção, a multiplicação de partidos sem ideologia ou programa e a consequente rifa de cargos 
administrativos essenciais, sem priorização da competência executiva, mostram que o Brasil ainda tem 
um longo caminho para aperfeiçoar a democracia. Porém, não resta dúvida de que a atual situação de 
estabilidade política e econômica é rara na história do Brasil. A principal promessa do novo governo é 
dar prosseguimento ao processo democrático, com ampliação das políticas sociais e erradicação da 
pobreza extrema. A consideração das diversas dinâmicas demográficas é crucial no planejamento e na 
realização destas propostas. 
 
3) Panorama Sócio-Demográfico 
 
A dimensão, assim como o estagio atual da trajetória de crescimento da população brasileira, 
conjuntamente com a sua composição e sua distribuição espacial, representa um trunfo potencial 
importante para o país no momento histórico atual. O Brasil é, sem dúvida, um pais grande, não somente 
em sua dimensão física e seus recursos naturais, mas também em termos demográficos. O Gráfico 1 
mostra que a população brasileira passou de 52 milhões de habitantes em 1950, para 191 milhões em 
2010. Ou seja, a população quase quadruplicou em 60 anos, devido à disparidade entre suas Taxas 
Brutas de Natalidade (TBN) e suas Taxas Brutas de Mortalidade (TBM). 
 
Na década de 40, o incremento decenal de população era em torno de 10 milhões. No período entre 1970 
a 2000, esse número girava em torno de um aumento de 26 milhões de pessoas a cada década. Mas, 
entre 2000 e 2010, esse incremento intercensitário diminuiu para 20 milhões de habitantes. Nas 
próximas duas décadas, esse número tende a diminuir rapidamente e deve passar a ser negativo a partir 
de 2030. A população rural tem diminuído em termos absolutos desde 1970. A população urbana teve, 
na última década, o seu crescimento menor desde a década de 70. 
 
As regiões Sudeste, Nordeste e Sul, as três mais populosas, perderam ligeira participação relativa entre 
1970 e 2010, enquanto as regiões Norte e Centro-Oeste, as duas com menores densidades demográficas, 
ganharam participação relativa. O censo 2010 também mostrou que foram as cidades entre 100 mil e 2 
milhões de habitantes que apresentaram os maiores ganhos relativos, enquanto as cidades com menos de 
4 
 
100 mil habitantes e as megacidades do Rio de Janeiro e São Paulo perderam participação relativa na 
população total. Ou seja, detecta-se certa tendência ao reequilíbrio das tendências anteriores marcadas 
pela concentração progressiva nas maiores cidades do Sudeste. 
 
Gráfico 1: Evolução da população, por situação de domicílio, e das Taxas Brutas de Natalidade (TBN) e Taxas 
Brutas de Mortalidade (TBM), Brasil, 1950-2010 
 
Fonte: Censos demográficos do IBGE e UN/ESA. World Population Prospects: The 2008 Revision 
 
Em retrospecto, ainda se discute o peso relativo dos efeitos dinamizadores e das conseqüências 
negativas do crescimento demográfico acelerado experimentado durante o século XX. Nesse momento, 
entretanto, o que mais interessa é o seguinte: 
1) O Brasil é atualmente o quinto maior país do mundo em termos populacionais, o que lhe 
proporciona dimensões invejáveis de mercado interno, base tributária, força de trabalho, etc.. Por 
outro lado, a persistência de altos níveis de pobreza e desigualdade reduz essa vantagem 
potencial; 
2) O ritmo de crescimento vegetativo da população total já caiu de maneira extraordinária e deve 
ficar negativo a partir de mais duas décadas, devido à rápida queda da fecundidade. No passado, 
o crescimento populacional elevado temperava as taxas de crescimento econômico; na corrente 
década, porém, a população deve crescer a apenas 0,8% ao ano. Entretanto, a redução da 
fecundidade é apenas parte da história: persistem problemas significativos de acesso à saúde 
reprodutiva de qualidade para uma parcela significativa da população; 
3) A atual fase de maior estabilidade populacional apresenta novos desafios, nos quais a 
preocupação com quantidade cede espaço a considerações de composição e qualidade; 
4) A estrutura da população por sexo e idade encontra-se atualmente em condições muito 
favoráveis. Bem aproveitada essa conjuntura, pode facilitar o takeoff do desenvolvimento, mas a 
falta de políticas adequadas para aproveitar esse momento histórico único pode, na realidade, ter 
efeitos contrários; 
5) O país experimentou um processo de urbanização precoce, acelerado e doloroso. Entretanto, 
nesta etapa, o país se encontra numa situação privilegiada frente à maioria dos outros países em 
desenvolvimento, os quais estão apenas iniciando sua transição urbana. Entretanto, na prática, as 
condições sociais e ambientais urbanas das cidades brasileiras, produto de políticas inadequadas 
no passado e no presente, reduzem essa vantagem comparativa. 
5 
 
 
Em suma, o país está sendo, pelo menos em potencial, beneficiado de diversas maneiras pelo momento 
demográfico. A combinação dessas dinâmicas já foi elemento essencial das melhorias sócio-econômicas 
experimentadas pelo país nos últimos anos e poderia representar uma contribuição extraordinária para os 
esforços de desenvolvimento atualmente em curso no país. Entretanto, para aproveitar plenamente essas 
conjunturas, é necessário entender as dinâmicas em jogo e ajustar algumas políticas estratégicas. Os 
próximos segmentos oferecem maiores detalhes a respeito das tendências demográficas e suas interfaces 
com processos sócio-econômicos. Também apontam para lacunas remanescentes nas políticas públicas 
que obstaculizam o pleno aproveitamento das tendências demográficas. 
 
a. Fecundidade, Reprodução e Políticas de Saúde Sexual e Reprodutiva 
 
As transformações econômicas e sociais ocorridas no Brasil, especialmente durante as décadas 50 e 60 
do século XX, provocaram o início de um rápido declínio na Taxa de Fecundidade Total (TFT). O 
processo de desenvolvimento foi consubstanciado na urbanização, industrialização, assalariamento em 
substituição à economia de subsistência, monetarização da economia, ampliação da cesta de consumo, 
redução da pobreza, diminuição da mortalidade infantil, inserção da mulher no mercado de trabalho, 
aumento dos níveis de educação formal e maiores exigências de qualificação da força de trabalho. Todos 
esses processos estão entre as transformações estruturais que possibilitaram a reversão do fluxo 
intergeracional de riqueza e induziram a redução do número médio de filhos por mulher. 
 
Entre as transformações institucionais que contribuíram para a queda das taxas de fecundidade 
encontram-se também os seguintes: a ampliação das políticas públicas na área da saúde e da 
medicalização da sociedade, a extensão da educação e da previdência (inclusive BPC e aposentadoria 
rural), a expansão do crédito, o desenvolvimento das telecomunicações, a ampliação do processo de 
secularização, a diversificação dos arranjos domiciliares, o progresso na legislação familiar e as 
mudanças nas relações de gênero e o empoderamento das mulheres. Por sua vez, a redução da 
fecundidade possibilitou a maior inserção feminina nos níveis superiores de educação e no mercado de 
trabalho, além de viabilizar a arrancada do desenvolvimento e a redução da pobreza, ao reduzir a razão 
de dependência demográfica em nível micro e macroeconômico. 
 
O Gráfico 2 mostra que a TFT passou de 6,3 filhos por mulher, em 1960, para 2,4 filhos no ano 2000, 
chegando ao nível de reposição (2,1 filhos por mulher) em 2005 e ficando em torno de 1,9 filhos por 
mulher no final da década. Como aponta a linha de tendência (exponencial), pode-se prever a 
continuidade dessa queda. O Gráfico também mostra que o número anualde bebês (nascidos vivos) 
havia aumentado até atingir o máximo de pouco mais de 4 milhões de nascimentos em1984, quando se 
iniciou uma redução do número anual de nascidos vivos no Brasil. Na segunda metade da primeira 
década do século XXI, esse número é menor do que aquele referente a 1960. 
 
A redução na quantidade de nascidos vivos no Brasil é ainda mais significativa se considerarmos que o 
número de mulheres em período reprodutivo continua aumentado ano a ano, devido às altas taxas de 
fecundidade do passado; essa coorte de mulheres em idades reprodutivas só deve apresentar redução a 
partir de 2025. As estimativas apontam para o início do declínio absoluto da população brasileira para a 
década de 2030, a menos que houver um fluxo de migração internacional que compense a reversão das 
taxas brutas de mortalidade e natalidade. 
 
6 
 
Gráfico 2: Taxa de Fecundidade Total (TFT) e número anual de nascidos vivos Brasil, 1960-2009 
 
 
Fonte: Censos demográficos, PNADs e projeção da população do IBGE, revisão 2008 
 
Embora a taxa de fecundidade média esteja em torno de 1,9 filhos por mulher, como indicou a 
PNAD/2009, os diferenciais no padrão de fecundidade por nível sócio-econômico ainda são muito 
grandes. O Gráfico 3 mostra que a fecundidade é mais elevada nas parcelas da população de baixa 
renda, embora os diferenciais estejam se reduzindo à medida que a fecundidade atinge taxas reduzidas. 
O quintil mais baixo de renda apresentava fecundidade de 4,9 filhos por mulher em 1992, passando para 
3,4 filhos por mulher em 2009. Já o quintil mais alto de renda, apresentava fecundidade de 1,5 filhos por 
mulher em 1992, caindo ainda mais para 1,0 filho por mulher em 2009. 
 
Gráfico 3: Taxa de Fecundidade Total (TFT) por quintil de renda (com correção), Brasil, 2009 
 
Fonte: IPEA, Comunicado da Presidência nº 64. PNAD 2009 – 13 de outubro de 2010 
 
Mesmo com fecundidade abaixo do nível de reposição, o padrão da fecundidade brasileira segue uma 
estrutura rejuvenescida. Ou seja, enquanto as mulheres com maiores níveis educacionais apresentam 
fecundidade mais tardia, as mulheres com menores níveis de escolaridade apresentam fecundidade 
7 
 
bastante precoce. Assim, ao contrário da “segunda transição demográfica” da Europa, a transição no 
Brasil se deu com um grande rejuvenescimento das taxas de fecundidade. No país nasciam em média 
mais de 600 mil crianças (20% do total) de mães menores de 20 anos (Berquó e Cavenaghi, 2005). 
Entretanto, a tendência de aumento da fecundidade destas mulheres, apresentada na década de 90, se 
inverteu na primeira década do século XXI, segundo os dados de várias fontes (PNAD, SINASC e 
Registro Civil). 
 
Embora os diferenciais de fecundidade tenham se reduzido, ainda existem diferenças significativas entre 
grupos sociais, e a fecundidade desejada não coincide com a fecundidade observada. O Gráfico 4 mostra 
que, em 2006, o número ideal de filhos para o total de mulheres em período reprodutivo era de 2,1 filhos 
por mulher. Para as mulheres com zero ou um filho, o número ideal estava abaixo de dois filhos e para 
as mulheres com dois ou mais filhos nascidos vivos, entre 2 e 3 filhos. A comparação dos Gráficos 3 e 4 
sugere que a fecundidade observada das mulheres dos quintís mais altos de renda está abaixo da 
fecundidade desejada; enquanto isso, a fecundidade observada das mulheres do quintil mais baixo de 
renda está acima da fecundidade desejada. Portanto, o caso do Brasil apresenta fecundidade indesejada, 
não somente por excesso, mas também por falta. 
 
Gráfico 4: Número ideal de filhos para o total de mulheres por número de filhos vivos, Brasil, 2006. 
 
Fonte: Berquó, E., Lima, L.P., PNDS-2006, Relatório final, p. 147. 
 
A mídia e os formuladores de políticas públicas, comumente, têm dado muito destaque à questão da 
gravidez indesejada e da fecundidade em excesso ao número desejado, fato que ocorre com mais 
frequência entre a população pobre e nos grupos com baixos níveis educacionais. Mas pouca atenção 
tem sido dada para a fecundidade indesejada por falta, isto é, o número cada vez maior de mulheres que 
estão tendo menos filhos do que o número desejado. A última projeção do IBGE (2008) mostra que o 
número de mulheres no período reprodutivo vai começar a declinar por volta de 2025 e a TFT deve estar 
em 1,5 filhos por mulher na década de 2020. Este fato coloca a perspectiva de um rápido declínio 
populacional a partir da década de 2030, o que é reforçado por projeções do IPEA (Camarano e Kanso, 
2009). 
 
Diversos autores já mostram preocupação com os supostos efeitos negativos do decréscimo populacional 
a partir de 2030. A validez dessa preocupação é discutível e vai ser afetada, tanto pelo comportamento 
8 
 
da migração internacional em direção ao Brasil – e é legítimo esperar um aumento desses movimentos 
se o Brasil lograr a trajetória econômica e social positiva que as próprias entidades governamentais estão 
projetando – como pela experiência dos países desenvolvidos em lidar com seus processos de 
envelhecimento populacional e crescimento negativo.
1
 Desde agora, os estudos demográficos devem 
jogar um papel essencial, tanto no acompanhamento dos processos em curso naqueles países, como na 
projeção de tendências e na preparação de políticas proativas adequadas ao caso brasileiro. 
 
De qualquer forma, a fecundidade indesejada por falta é um problema de efetivação dos direitos 
reprodutivos. Muitas mulheres passam a ter menos filhos do que o desejado pelas dificuldades de 
garantir uma vida de qualidade para as crianças e pela dificuldade de conciliar o trabalho produtivo e 
reprodutivo. Neste sentido, as políticas sociais em geral e, em particular, as políticas de conciliação 
trabalho e família vão ser cada vez mais importantes para a recuperação da fecundidade, caso chegar a 
níveis muito abaixo da reposição. 
 
Já a fecundidade indesejada por excesso reflete o tradicional problema da falta de acesso aos serviços de 
saúde sexual e reprodutiva e de acesso aos métodos contraceptivos no momento, na quantidade e na 
forma demandada pela população de baixa renda. A falta de acesso aos serviços de saúde sexual e 
reprodutiva é tipicamente um problema de classe social, pois as parcelas mais abastadas da população 
podem suprir suas necessidades nesta área via o mercado privado, que trata este direito como uma 
transação econômica comum, dentro das regras da oferta e procura por serviços. 
 
O Brasil já avançou bastante na legislação que trata do planejamento reprodutivo. O Planejamento 
Familiar passou a ser tratado numa perspectiva de direitos com o lançamento do Programa de 
Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), em 1983, que concebia a questão da saúde da mulher 
de forma integral, não se detendo exclusivamente nas questões de concepção e contracepção. Em 1988, 
foi aprovada a Constituição Federal, em cujo § 7º, do artigo 226 esta escrito que o “planejamento 
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos 
para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou 
privadas”. Em 1996 foi aprovada a Lei n. 9.263, que regulamenta o § 7º do art. 226 da Constituição 
Federal, o qual trata da questão do planejamento familiar no Brasil. Em 1999, foi publicada a Portaria nº 
048, do Ministério da Saúde, para estabelecer normas de funcionamento e mecanismos de fiscalização 
para execução de ações de planejamento familiar pelas instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde. 
 
Em 2005, já no governo Lula, o Ministério da Saúde e a Secretaria Especial de Políticas para as 
Mulheres (SPM) lançaram a “Política Nacional de Direitos Sexuaise Direitos Reprodutivos” cujos 
objetivos eram: a) Ampliação da oferta de métodos anticoncepcionais reversíveis no SUS – o Ministério 
da Saúde se responsabilizando pela compra de 100% dos métodos anticoncepcionais para os usuários do 
SUS (até então, o Ministério era responsável por suprir de 30% a 40% dos contraceptivos - ficando os 
outros 70% a 60% a cargo das secretarias estaduais e municipais de saúde); b) Ampliação do acesso à 
esterilização cirúrgica voluntária no SUS, aumentando o número de serviços de saúde credenciados para 
a realização de laqueadura tubária e vasectomia, em todos os estados brasileiros; c) Introdução de 
 
1 Até 1980, o Brasil era um receptor líquido de migração internacional e passou a ser um país com saldo líquido negativo nas últimas 
décadas. De acordo com dados do Ministério de Relações Exteriores, um total de 3.040.993 brasileiros vivia no exterior em 2009. Porém, a 
redução do ritmo de crescimento da população economicamente ativa e o crescimento da economia e do emprego podem fazer o fluxo 
internacional se inverter mais uma vez. 
 
9 
 
reprodução humana assistida no SUS (Brasil, 2005 e 2006). Em 2007, o governo Federal lançou a 
“Política Nacional de Planejamento Familiar”, que tem como meta a oferta de métodos contraceptivos 
de forma gratuita para homens e mulheres em idade reprodutiva e estabelece também que a compra de 
anticoncepcionais seja disponibilizada na rede Farmácia Popular (UNFPA, 2008). 
 
Segundo balanço do Ministério da Saúde (período 2003-2010), as compras de pílulas anticonceptivas 
passaram de 8,1 milhões de cartelas em 2003 para 50 milhões de cartelas em 2009. A compra de DIU 
passou de 41,7 mil unidades para 300 mil unidades, no mesmo período. O número de vasectomias 
passou de 19,1 mil, em 2003, para 34,1 mil em 2009. A distribuição anual de preservativos passou de 
119,7 milhões de unidades no período 2000-2003 para 465,2 milhões entre 2007-2009. Foram instaladas 
máquinas de preservativos em escolas para oferecer meios de prevenção aos jovens. Em termos de 
valores, o investimento em pílulas e contraceptivos alcançou R$ 72,2 milhões em 2010, comparado com 
R$ 10,2 milhões em 2003. 
 
Inegavelmente, houve avanços na oferta de serviços de saúde sexual e reprodutiva no Brasil. Mas os 
problemas de logística ainda atrapalham a adequada disponibilidade dos meios de regulação da 
fecundidade e de acesso à saúde reprodutiva. A universalização dos serviços de saúde sexual e 
reprodutiva continua sendo tarefa imprescindível para reduzir a gravidez não desejada e não planejada e 
para libertar a sexualidade dos constrangimentos da reprodução intempestiva, especialmente para as 
mulheres mais pobres e das regiões mais distantes dos grandes centros urbanos. O número de 
atendimentos pré-natal no SUS passou de 8,6 milhões em 2003, para 19,4 milhões em 2009. A 
proporção de gestantes que realizaram 7 ou mais consultas de pré-natal passou de 43,7% para 55,8%, 
entre 2000 e 2007. Esta ampliação possibilitou a redução da mortalidade materna, embora 
provavelmente sem conseguir atingir a meta do quinto Objetivo de Desenvolvimento do Milênio 
(ODM), de 35 óbitos por 100 mil nascidos vivos, em 2015. 
 
O Gráfico 5 mostra a razão de mortalidade materna – que estima a frequência de óbitos femininos 
ocorridos até 42 dias após o término da gravidez, atribuídos a causas ligadas à gravidez, ao parto e ao 
puerpério – em relação ao total de nascidos vivos. 
 
Gráfico 5: Razão de mortalidade materna (por 100 mil nascidos vivos) ajustada, Brasil, 1990-2007 
 
Fonte: IPEA. Relatório Nacional de Acompanhamento – ODM, Brasília, março 2010 
10 
 
A razão de mortalidade materna havia sido estimada em 140 óbitos por 100 mil nascidos vivos em 1990 
e para 75 óbitos em 2007. Entretanto, um estudo recente realizado por um consórcio de organismos 
internacionais sugere que a mortalidade materna no Brasil teria caído ainda mais, pois estimou a 
mortalidade materna do Brasil em 58 por 100 mil nascidos vivos em 2008 (WHO, 2010:23). O certo é 
que, no período de 1990 a 2007, houve redução significativa em todas as principais causas de morte 
materna. Os óbitos maternos por hipertensão foram reduzidos em 62,8%; por hemorragia, 58,4%; por 
infecções puerperais, 46,8%; por aborto, 79,5% e por doenças do aparelho circulatório complicadas pela 
gravidez, parto e puerpério, 50,7%. Reduções adicionais da mortalidade materna, a níveis de um dígito 
como nos países desenvolvidos, exigiria não somente melhorias na extensão e qualidade dos serviços de 
saúde, inclusive de saúde reprodutivo, mas também reduções significativas nos níveis de pobreza e 
desigualdade e a melhoria das condições de vida da população, especialmente daqueles setores mais 
pobres concentrados em favelas urbanas. 
 
A questão do aborto legal no Brasil foi bastante discutida na campanha das eleições presidenciais de 
2010. Certamente, o tema da discriminação do aborto e do atendimento ao aborto legal devem voltar à 
discussão pública no próximo quinquênio. Na verdade, existe uma forte relação entre a meta de 
universalização dos serviços de saúde sexual e reprodutiva e a redução do número de abortos, que 
acontecem por conta do alto número de gravidezes não desejadas. A redução da gravidez indesejada 
pode contribuir para a redução do número de abortos, além de reduzir o custo do sistema de saúde com 
as sequelas provocadas pelo aborto inseguro. 
 
b. Mudanças na estrutura etária: bônus demográfico, juventude e arranjos 
familiares 
 
O rápido descenso da fecundidade descrito no item anterior gerou conseqüências que vão muito além da 
redução do ritmo de crescimento populacional. Os impactos desse declínio na estrutura populacional 
mudaram radicalmente a composição da sociedade brasileira, trazendo benefícios potenciais e algumas 
inquietações no curto prazo, assim com responsabilidades adicionais no médio prazo. O Gráfico 6 
apresenta a distribuição por sexo e idade da população brasileira no último Censo Demográfico. 
 
Gráfico 6: Distribuição por sexo e idade da população brasileira, 2010 
 
Fonte: Censo demográfico de 2010, do IBGE 
11 
 
O Gráfico mostra que o Brasil passou de uma população jovem para uma população que está mais 
concentrada nas idades adultas. Inevitavelmente, a estrutura vai evoluir com certa rapidez para uma 
população envelhecida. Essas mudanças na estrutura etária da população, provocadas pela transição 
demográfica do país constituem uma das principais forças que tem atuado no sentido de propiciar um 
ambiente favorável ao crescimento econômico e à redução das desigualdades e da pobreza. 
 
O principal impacto dessa mudança no curto prazo é refletido na razão de dependência. O Gráfico 7 
mostra que a razão de dependência demográfica no Brasil vem caindo desde 1980, enquanto a 
percentagem da população em idade ativa – PIA (população de 15-64 anos) sobre a população total vem 
aumentando. Segundo Alves (2008), o chamado bônus demográfico ocorre no período em que a PIA 
(em percentagem) é maior do que a Razão de Dependência (em percentagem). Desta forma, o que se 
nota é que a diferença entre as duas curvas vem aumentando desde meados da década de 1990 e deve 
continuar aumentando até 2020, abrindo a janela de oportunidade demográfica. 
 
A menor razão de dependência demográfica tem efeitos macroeconômicos e microeconômicos. No 
plano macro, a menor razão de dependência possibilita a melhora da relação entre o número de pessoas 
em idade ativa e pessoas em idades dependentes. Havendo crescimento econômico e geração de 
emprego no país, esta situação favorece o aumento da poupança agregada e a geração de recursos 
disponíveis para o aumentodas taxas de investimento, condição essencial para a decolagem (takeoff) 
econômica. Quanto maior o crescimento econômico e a geração de emprego em termos quantitativos e 
qualitativos (trabalho descente), maior é a formação de capitais e recursos necessários para o 
crescimento econômico, o investimento em infra-estrutura física, social e humana. 
 
Gráfico 7: Razão de dependência demográfica e percentagem da População em Idade Ativa (PIA), Brasil: 1980-
2030 
 
Fonte: Projeção da população do Brasil por sexo e idade: 1980-2050, IBGE, 2008 
 
No plano micro, ocorre algo semelhante, pois a menor razão de dependência no seio da família permite 
que os adultos acumulem recursos para investimento em capital humano, em si próprio e nos filhos, 
melhorando as condições de procura por trabalho produtivo e melhores condições de renda e consumo, 
rompendo com o ciclo intergeracional de pobreza. O crescimento econômico (com geração de emprego) 
12 
 
e o bônus demográfico, quanto ocorrem juntos, formam um círculo virtuoso capaz de romper com o 
círculo vicioso das armadilhas da pobreza (poverty trap). 
 
Existem diversos estudos sobre as mudanças na estrutura etária e o bônus demográfico no Brasil e na 
América Latina, mostrando como os processos demográficos contribuem para o desenvolvimento 
econômico (Martine, Carvalho e Árias, 1994; Carvalho e Wong, 1995; Rios-Neto, 2005; Turra e 
Queiroz, 2005; Hakkert, 2007). Por exemplo, o crescimento da PIA e a redução da Razão de 
Dependência contribuíram para o crescimento dos segmentos de renda média, conforme mostrado mais 
adiante neste texto. 
 
Dentre os fatores que contribuíram para a redução da pobreza e o aumento da classe média estão as 
mudanças na dinâmica familiar e o aumento da entrada da mulher no mercado de trabalho. A diminuição 
do tamanho das famílias, o crescimento do número de casais sem filhos e de casais de dupla renda, como 
a família DINC (Duplo Ingresso, Nenhuma Criança o “Double income, no kids”) fazem com que exista 
maior parcela de renda disponível para o investimento e o consumo das famílias. Na verdade, o Brasil 
está passando por grandes mudanças nas famílias e nos domicílios, que potencializam mudanças sociais 
importantes. 
 
O Gráfico 8 mostra que a família hegemônica, constituída por um casal com filhos, diminuiu de 62,8% 
para 49,9% entre 1992 e 2009. Cresceram as famílias constituídas pelos casais sem filhos – de 11,7% 
para 16,2% - e as monoparentais femininas que passaram de 12,3% para 15,4% no mesmo período. 
Também houve um aumento dos arranjos unipessoais, tanto femininos quanto masculinos. 
 
 
Gráfico 8: Distribuição dos arranjos familiares brasileiros pelo tipo de arranjo, 1992 e 2009 
 
Fonte: PNADs 1992 e 2009, segundo Comunicado da Presidência IPEA Nº 64, outubro de 2010 
 
As transformações nas famílias foram acompanhadas pela redução do número de pessoas por domicílios 
e pelo aumento do número de cômodos nos domicílios (mostrando que existe mais disponibilidade de 
cômodos por pessoa). A percentagem de domicílios com 5 ou mais cômodos passou de 52%, em 1970, 
para cerca de 70%, em 2009. Já o número médio de moradores por domicílio passou de 5,3 pessoas, em 
1970, para 3,8 pessoas, em 2000 e chegou a 3,3 pessoas, segundo o censo 2010. Os dados iniciais do 
13 
 
censo 2010 também indicam que enquanto a população brasileira cresceu 12,3%, na última década, o 
número de domicílios particulares aumentou em 25%, o que deve ter contribuído para a redução do 
déficit habitacional (somente com a divulgação dos resultados da amostra se poderá calcular o tamanho 
do déficit de moradias). O censo 2010 também indicou a existência de mais de 6 milhões de domicílios 
vagos, além de quase 4 milhões de domicílios para uso ocasional. 
 
No curto e médio prazos, portanto, o desafio econômico é investir em recursos humanos e gerar 
atividades produtivas num ritmo compatível com a expansão da PIA durante o período do bono 
demográfico. Por sua vez, essa preocupação com a inclusão produtiva da população jovem se insere 
dentro de um contexto social mais amplo – a transição para a vida adulta. 
 
No Brasil, como no resto da América Latina, observa-se a iniciação de certos comportamentos a uma 
idade mais jovem, junto com o retardamento de diversas etapas da transição da juventude para a vida 
adulta. Por um lado, a iniciação sexual tende a ser mais precoce que em gerações anteriores. Isto tem 
sido acompanhado, no passado, por aumentos significativos na gravidez de adolescentes, fato que 
inevitavelmente alterou a trajetória de muitas jovens na sua transição à vida adulta. Nos últimos anos, a 
maior incidência de gravidez entre adolescentes tem se restringido mais às populações de baixa renda e 
com menos acesso à educação sexual e à saúde reprodutiva. 
 
Por outro lado, os jovens de hoje saem mais tarde da escola, entram mais tarde no mercado de trabalho, 
custam mais a sair da casa dos pais e se casam mais tarde do que as gerações anteriores (Camarano, 
2006). A postergação desses eventos críticos no caminho em direção à vida adulta, assim como o 
crescimento da participação simultânea na escola e no trabalho tornou esse processo de transição mais 
complexo e heterogêneo. A maior escolaridade das mulheres e a maior participação no mercado não as 
liberou completamente dos moldes tradicionais de comportamento. A postergação da vida adulta 
centrada no binômio trabalho/família, e as dificuldades do exercício da cidadania no contexto de grandes 
desigualdades sociais, pode ser um dos fatores que leve os jovens, particularmente do sexo masculino, a 
buscar sua identidade na associação com gangs e com a criminalidade violenta. Estes fatores estariam na 
base das elevadas taxas de mortalidade de jovens analisadas em outro segmento deste texto. 
 
Observa-se, portanto, que o aproveitamento da janela de oportunidade representado pelo bônus 
demográfico não depende apenas de investimentos produtivos e de melhoria da situação educacional, 
mas também de uma re-adequação da transição social para a vida adulta. É fundamental que existam 
oportunidades de trabalho, empregos decentes e inserção produtiva dos jovens. É preciso ter maior 
articulação entre a universidade, a sociedade e as empresas para que os jovens não desperdicem os 
melhores anos da juventude. 
 
A médio e largo prazos, porém, o desafio é outro – como conviver com a expansão acentuada da 
população idosa, a elevação da razão de dependência e as mudanças no perfil da demanda por serviços 
de saúde e de seguridade social? Como mostram os problemas enfrentados pelos países desenvolvidos, 
onde a população idosa já constitui de 15 a 25% da população total, não se pode esperar até que esta 
situação se concretize para começar a tomar as providências necessárias. É preciso ir criando, desde 
agora, os ativos e os mecanismos que vão permitir fazer essa transição etária de maneira harmoniosa. 
Em primeiro lugar é fundamental garantir o pleno emprego para que as pessoas possam ter renda e criar 
ativos na idade produtiva, que possam servir de base para uma vida saudável e ativa na terceira idade. 
14 
 
Em segundo lugar, o sistema de proteção social do país precisa garantir mecanismo de apoio à 
população mais carente que não tem mecanismos de capitalização via mercado. 
 
No atual momento, os recursos transferidos no âmbito da seguridade social no Brasil vêm apresentando 
uma participação crescente na formação da renda das famílias. O crescimento da cobertura e o aumento 
do valor dos benefícios da seguridade social têm tido um papel cada vez mais destacado no sistema de 
proteção social no país, especialmente para a população idosa e para as pessoas portadoras de 
deficiência. Aexpansão da cobertura e o aumento do valor dos benefícios do BPC/LOAS têm um 
impacto considerável sobre a redução da pobreza, pois beneficia pessoas e famílias de baixa renda e 
principalmente dos municípios pequenos das regiões menos desenvolvidas do Brasil. Ao mesmo tempo, 
muitos destes beneficiários do BPC passam a ser arrimos das suas famílias, possibilitando um acesso 
mínimo à renda monetária que também desempenha um papel de dinamizador relevante (via efeito 
multiplicador) da atividade econômica em localidades menos desenvolvidas (Barros, 1999; Beltrão, 
2005; Camarano, 2005). 
 
Entretanto, a médio e longo prazo, o crescimento acelerado do contingente de idosos e de inválidos vai 
inviabilizar esse tipo de ação assistencial na escala requerida se não forem adotadas, desde já, políticas 
visando aumentar a contribuição e não se fizerem os ajustes atuariais necessários no sistema 
previdenciário. Ampliar a base dos contribuintes é um mecanismo essencial para elevar as receitas 
previdenciárias. Mas também é preciso reduzir as fraudes do sistema, a falta de controle das 
aposentadorias especiais e a generosidade que possibilita aposentadorias precoces. 
 
c. Migração, urbanização e desenvolvimento regional 
 
No início do século XX, apenas uma pequena fração da população brasileira residia nas cidades. Mas a 
população urbana chegou aos 50% do total em meados da década de 1960, ultrapassou os 80% no ano 
2000 e chegou a 84,4% no ano 2010. A migração interna e a urbanização representaram alguns dos 
principais componentes e dinamizadores das transformações sociais, econômicas, demográficas, 
culturais e políticas vividas pelo Brasil no século XX. 
 
Durante o período 1930 a 1980, os movimentos migratórios no Brasil foram marcados por duas 
tendências opostas de dimensões diferenciadas. Por um lado, o país experimentou três movimentos 
sucessivos de migração rural-rural em direção às fronteiras agrícolas do momento. Assim, nas décadas 
de 30 e 40, observaram-se movimentos em direção à fronteira do Paraná; nas décadas de 50 e 60, os 
movimentos se dirigiram mais para o Centro-Oeste e o Maranhão enquanto que, nas décadas de 70 e 80, 
a direção preferencial era a fronteira amazônica. Nos três casos, a migração rural-rural era composta por 
uma maioria de homens movidos pela vontade de ter acesso a terras agrícolas. 
 
Enquanto isso, os movimentos rural-urbanos foram estimulados pela adoção de um modelo de 
industrialização via substituição de importações, depois da crise econômica mundial de 1929. Em 
seguida, foram intensificados pelo aumento do crescimento vegetativo que resultou da redução 
progressiva da mortalidade e pelos resultados de outras políticas públicas visando beneficiar o 
crescimento industrial e a melhoria das condições de vida nas cidades. O número de localidades urbanas 
e a proporção da população total residente nelas cresceram rapidamente. Os fluxos se concentraram no 
Sudeste, e particularmente em São Paulo, centro do novo dinamismo industrial. A adoção de um modelo 
de modernização agrícola conservador pelo governo militar que tomou o poder em 1964, visando 
15 
 
aumentar a produtividade sem alterar a estrutura social predominante, utilizando para isso o crédito 
subsidiado, resultou na expulsão massiva do campo de pequenos produtores de todo tipo, provocando 
uma aceleração da migração rural-urbana, conforme mostrado na Tabela 1. Um total de 41 milhões de 
migrantes rural-urbanos foi buscar novas oportunidades de emprego e sobrevivência nas localidades 
urbanas entre 1940-80. Este número equivale a mais da metade do crescimento populacional do país no 
período. 
Tabela 1: Estimativas da migração rural–urbana líquida (em milhões), por sexo, Brasil 1940–2000 
 
Sexo 1940–
1950* 
1950–
1960* 
1960–
1970# 
1970–
1980# 
1980–
1990º 
1990–
2000º 
Homens Na Na 6.6 8.6 4.0 4.3 
Mulheres Na Na 7.0 8.8 5.2 5.2 
Total 3.0 7.0 13.6 17.4 9.2 9.5 
Migrantes rural-urbanos como % da 
população rural no início da década 
10% 21% 35% 42% 24% 27% 
Fonte: Calculado com base nos dados dos diversos Censos Demográficos do IBGE 
* Martine (1987: 60–61); #Carvalho e Garcia (2002), tabelas 92, 185 e 284 ; º Rodriguez e Busso (2009: 120) 
 
Como resultado dessas transformações, conforme pode ser observado no Gráfico 9, o Brasil em 1950 já 
tinha avançado para um nível de urbanização (i.e. - % da população total residindo em áreas urbanas) 
que somente hoje foi conseguido pelos continentes da Ásia e da África. 
 
Gráfico 9 – Evolução do Nível de Urbanização, Brasil, África e Ásia, 1950-2050 
 
Fonte: United Nations, 2010a 
Assim, na segunda metade do século 20, o Brasil experimentou uma das mais aceleradas transições 
urbanas da história mundial. Esta transformou rapidamente um país rural e agrícola em um país urbano e 
metropolitano, no qual grande parte da população passou a morar em cidades grandes. Uma das 
características mais marcantes do processo de urbanização ao longo do período 1930-80 foi justamente a 
concentração progressiva da população urbana em cidades cada vez maiores. Hoje, dois quintos da 
população total residem em uma cidade de pelo menos um milhão de habitantes. 
0%
20%
40%
60%
80%
100%
1
9
5
0
1
9
5
5
1
9
6
0
1
9
6
5
1
9
7
0
1
9
7
5
1
9
8
0
1
9
8
5
1
9
9
0
1
9
9
5
2
0
0
0
2
0
0
5
2
0
1
0
2
0
1
5
2
0
2
0
2
0
2
5
2
0
3
0
2
0
3
5
2
0
4
0
2
0
4
5
2
0
5
0
Brasil
África
Ásia
16 
 
Em suma, o período 1930-80 foi marcado principalmente por um processo constante de crescimento 
urbano e de concentração da população em cidades cada vez maiores. Em termos regionais, esse 
aumento se concentrava na região Sudeste, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo que 
foram ganhando participação relativa na população total do país. Ao longo do período econômico 
marcado pela industrialização via substituição das importações – ou seja, de 1930 até a década de ’80 – 
a migração rural-urbana no Brasil registrou saldos líquidos negativos do Nordeste e saldos positivos da 
região Sudeste, em especial, do estado de São Paulo. As mulheres predominavam nessa migração, 
tornando as áreas urbanas fortemente femininas e as áreas rurais fortemente masculinas. 
 
 Esse processo era movido por diferentes etapas do processo de desenvolvimento nacional e nutrido pelo 
crescimento demográfico que alimentava o estoque de migrantes-em-potencial nas áreas rurais. Nas 
últimas décadas, porém, na medida em que a população urbana vem aumentando de tamanho, o 
crescimento vegetativo da população residente nas próprias cidades passou a representar uma parcela 
maior do aumento demográfica nas localidades urbanas do que a migração rural-urbana. Atualmente, o 
crescimento vegetativo representa mais de dois terços de todo o crescimento urbano. Esse fato é de 
grande importância política, pois realça a futilidade de políticas que, até hoje, pretendem impedir ou 
retrasar o crescimento urbano via medidas que tentam dificultar o assentamento de migrantes. 
 
Depois de meio século de urbanização concentradora, o Censo Demográfico de 1991 revelou uma 
interrupção significativa dessa tendência que parecia, até então, inexorável. Assim, a taxa de 
crescimento urbano caiu de 4,2% a.a. na década de 70 para 2,6% na de 80. Todas as categorias de 
tamanho de cidades sofreram uma redução, mas a queda foi mais significativa nas cidades 
metropolitanas. Na década de 70, as dez maiores aglomerações tinham se responsabilizado por 41% de 
todo o crescimento urbano nacional; na de 80, essa proporção caiu para 30%. O ritmofrenético de 
urbanização e de metropolização que tinha perdurado ao longo de meio século havia finalmente sido 
interrompido, para surpresa de todos. Essa queda na velocidade do crescimento e da concentração 
urbana persistiu também durante a década de 90 e deve continuar no século XXI, embora os dados 
pertinentes ainda não estejam disponíveis. 
 
Ao mesmo tempo, observou-se uma redução da tendência da concentração de atividade econômica e 
população na região Sudeste. A partir dos anos 80, a urbanização passou a apresentar uma tendência de 
desconcentração regional, com o Sudeste perdendo posição para o Centro-Oeste e o Norte. Na 
atualidade, esses fluxos tradicionais se modificaram. Inclusive, observa-se um refluxo importante da 
migração partindo agora do Sudeste para o Nordeste. A região metropolitana de São Paulo perdeu 
participação para o interior do estado de São Paulo e para o resto do país. Entre os diversos fatores que 
podem ter contribuído para essa mudança no padrão de urbanização brasileira, três merecem ser 
destacados: a queda acelerada da fecundidade, a crise econômica que assolou a região na década de 80 e 
em parte da década de 90, e a culminação de um processo natural de desconcentração da atividade 
produtiva (Martine e McGranahan, 2010). 
 
Por outro lado, o processo de desconcentração relativo observado nas décadas de 80 e 90 não deve 
ofuscar a continuação do predomínio das grandes metrópoles no cenário urbano nacional. Mesmo nessas 
duas décadas de crescimento reduzido, as nove Regiões Metropolitanas tiveram um aumento 
populacional absoluto maior que o aumento verificado nas próximas 52 cidades juntas, conforme mostra 
a Tabela 2. 
 
17 
 
Tabela 2: Crescimento absoluto e relativo das Regiões Metropolitanas e outras aglomerações urbanas, Brasil 
1980–1991 e 1991–2000 
Tipo de Grande Concentração Urbana Taxa de crescimento 
Anual 
Incremento absoluto (em 
000s) 
1980–1991 1991–2000 1980–1991 1991–2000 
Regiões Metropolitanas (9) 2,00 1,99 8.387 8.290 
 Núcleos das RMs 1,36 1,10 3.612 2.693 
 Periferia das RMs 2,79 3,68 4.775 5.597 
Outras aglomerações metropolitanas (17) 3,31 2,79 3.942 3.675 
Outras aglomerações não-metropolitanas 
(35) 
3,21 2,33 4.367 3.435 
Fonte: IBGE, Censos Demográficos, apud Baeninger (2004), tabela 2, e Torres, 2002, tabela 1, p. 149 
 
Vale observar também que o arrefecimento do crescimento metropolitano foi basicamente um fenômeno 
de estagnação nos municípios-núcleos, pois as periferias das grandes metrópoles persistiram num ritmo 
acelerado de crescimento. Esses subúrbios continuam atraindo migrantes de baixa renda até hoje, 
inclusive aqueles vindo de outras áreas da própria cidade. Não surpreende o fato de que as periferias 
concentram os maiores problemas de favelização, assentamentos informais, infra-estrutura precária, 
conflitos ambientais, desorganização social e violência. Na média, a população das periferias das nove 
Regiões Metropolitanas tem uma renda equivalente a 56% da renda dos habitantes do município núcleo 
(Torres, 2002). 
 
Julgado em termos do número e tamanho de cidades, do peso das cidades na geração do PIB e do 
desenvolvimento da rede urbana, pode-se dizer que a urbanização brasileira já atingiu um grau elevado 
de maturidade. A maioria da sua população vive em cidades grandes que compõem uma rede urbana 
extensa e diversificada. São cidades que já não crescem a ritmos apressados como no passado, mas que 
geram 90% do PIB nacional. No contexto da economia mundial globalizada, na qual as cidades, 
especialmente as maiores, levam uma vantagem competitiva, essa concentração deveria representar um 
ganho comparativo importante. Entretanto, essa vantagem pode estar sendo prejudicada pelas 
dificuldades sociais e ambientais que caracterizam muitas cidades brasileiras. 
 
A maioria da população urbana de baixa renda no Brasil vive em lugares e moradias inadequados, 
devido à ausência de medidas apropriadas para preparar e acomodar o crescimento urbano. Esse descaso 
caracteriza a expansão urbana das últimas oito décadas e ainda persiste nos dias de hoje. Apesar de 
muitas décadas de crescimento rápido e da proliferação de favelas em quase todas as cidades, os 
assentamentos informais têm sido tratados como problemas transitórios de ordem pública que vão 
desaparecer sozinhos com o “desenvolvimento”, ou que precisam ser eliminados. Na maioria dos casos, 
o poder público somente se intromete para tentar impedir esse crescimento. Muitos anos depois da 
instalação dos assentamentos, porém, são frequentemente geradas pressões para tentar “resolver” esses 
cancros e/ou para angariar os votos da população que vive nele. Essas atitudes negativas em relação aos 
18 
 
assentamentos informais são coerentes com as normas e valores de uma sociedade desigual que, 
historicamente, raramente tem priorizado as necessidades e os problemas de sua população mais pobre. 
 
Parte do problema reside na oposição ideológica e política tradicional ao crescimento urbano. As 
iniciativas governamentais, seja em nível federal, estadual ou local, sempre tenderam a retardar ou 
impedir o crescimento urbano em vez de ordená-lo. Estudos recentes sugerem que, em muitos lugares, a 
ausência de uma atitude proativa em relação às necessidades de moradia dos pobres representa muito 
mais que apatia. Tem sido parte de um esforço explícito e sistemático por parte de tomadores de decisão 
locais para obstruir o assentamento e a permanência de pobres, especialmente migrantes, nas suas 
cidades. Nesta linha, diversos municípios têm adotado a prática de dificultar o acesso à compra de lotes, 
inclusive impondo regulamentos utópicos e irrealistas com relação ao tamanho mínimo do lote, com a 
clara intenção de afastar compradores de baixa renda. Outras medidas, como recusar o acesso à água, 
saneamento, transporte e outros serviços são utilizadas para impedir a vinda de migrantes e o 
crescimento urbano (Feler e Henderson, 2008). 
 
Esse tipo de iniciativa de parte do poder público local tem implicações que extrapolam os seus efeitos 
imediatos sobre a migração. No curto prazo, os pobres têm que “se virar” para encontrar um espaço para 
morar: na melhor das hipóteses, a população de baixa renda é obrigada a comprar terrenos a preços mais 
elevados de provedores “informais.” Os outros menos afortunados estabelecem suas residências 
precárias em lugares ilegais, inadequados ou perigosos, tais como em áreas de proteção ambiental, 
encostas de morros, terrenos contaminados ou à beira de rios, sempre sujeitos à instabilidade ou ao 
despejo e vulnerável às intempéries climáticas. A falta de uma moradia fixa num lugar adequado está na 
raiz da incapacidade de se beneficiar de tudo que a cidade pode oferecer em termos de emprego, 
serviços e bem-estar. 
 
Práticas como essas que limitam a acesso da população mais pobre à cidade infringem os direitos 
básicos desse grupo, mas também têm outras implicações notáveis de maior alcance. Favorecem o 
crescimento de bairros marginalizados e insalubres em qualquer parte da cidade. Isto contribui para a 
vulnerabilidade e para a multiplicação de ambientes insalubres, ao mesmo tempo em que favorece a 
desorganização social e a criminalidade. Também contribui para a degradação ambiental e está na raiz 
das grandes calamidades públicas, como esta que acaba de destruir a região serrana próxima ao Rio de 
Janeiro. Tudo isto afeta a capacidade das cidades para competir por investimentos e, portanto, acaba 
reduzindo a geração de emprego e a base fiscal nessas localidades. 
 
Para reverter as tendências atuais que favorecem a continuada expansão de setores informais, teriam que 
ser adotadas duas iniciativas que sãodifíceis de implementar numa sociedade marcada pelo privilégio e 
pela desigualdade e na qual se trata os bairros pobres como cancros. Primeiro, teriam que ser abolidas 
essas medidas que discriminam explicitamente contra o assentamento de populações mais pobres. Ao 
mesmo tempo, os mercados de terra distorcidos que caracterizam as áreas urbanas teriam que ser 
regulados e a população pobre protegida de maneira positiva contra as práticas abusivas de 
especuladores imobiliários e de empresários do setor informal. Segundo e ainda mais importante, o setor 
público precisaria tomar uma atitude proativa em relação às necessidades futuras de solo urbano para a 
população mais pobre. A maioria das cidades dispõe de terras aptas que estão sendo mantidas em 
reserva por especuladores. Medidas enérgicas teriam que ser tomadas para taxar essas propriedades 
especulativas e viabilizar a sua integração ao mercado formal. 
 
19 
 
Em suma, muitos dos problemas ambientais enfrentados pelas cidades brasileiras são intimamente 
ligados com questões sociais e os dois têm suas origens na falta de uma postura proativa da sociedade 
brasileira e do poder público com relação ao crescimento urbano. Reverter a postura histórica de descaso 
com a situação do contingente mais numeroso no crescimento urbano do país e adotar políticas mais 
adequadas visando a acomodação do crescimento urbano inevitável tornaria as cidades brasileiras mais 
humanas, mais sustentáveis e mais competitivas. Tal reversão exige a realização de um processo de 
conscientização junto a políticos e administradores urbanos para que eles passem a aceitar e aproveitar o 
dinamismo do crescimento. Por sua vez, isto exige análises e informações atualizadas referentes à 
forma, localização e composição do crescimento urbano. No atual momento, a atenção deve ser 
concentrada no ordenamento e na humanização do crescimento nas periferias urbanas das maiores 
cidades. 
 
4) Panorama social: redução da pobreza e da desigualdade de renda 
 
a. Pobreza e Desigualdade 
 
A pobreza sempre fez parte da história brasileira. Sendo um fenômeno multidimensional e complexo, a 
pobreza pode ser medida de diversas maneiras. O Gráfico 10, que mostra o percentual de pessoas com 
renda domiciliar per capita igual ou inferior à linha de pobreza e igual ou inferior à linha de indigência 
ou extrema pobreza, para o Brasil, entre os anos de 1976 e 2009. 
 
Gráfico 10: Percentual de pessoas com renda domiciliar per capita inferior às linhas de pobreza e indigência, 
Brasil: 1976-2009 
 
Fonte: IPEADATA, 2009, com base nos dados das PNADs do IBGE 
Nota: não houve aplicação da PNAD nos anos de 1980, 1991, 1994 e 2000. 
 
Observa-se que o percentual de pobres no país se manteve em torno de 40% até 1993. Somente após o 
Plano Real de 1994 é que houve uma queda mais consistente do nível de pobreza, o qual perdurou com 
níveis pouco abaixo de 35% entre 1995 e 2003. Contudo, a queda mais consistente da pobreza aconteceu 
nos anos recentes, pois o nível caiu para menos de 30% em 2006 e atingiu o recorde de baixa de 21,4%, 
em 2009. Uma queda consistente em relação à proporção de indigentes também aconteceu a partir de 
2004, e, pela primeira vez, o percentual ficou abaixo de 10%, em 2006, chegando a 7,3% em 2009. Ou 
seja, a pobreza e a indigência continuaram caindo, mesmo com os impactos da crise econômica mundial 
20 
 
e com a redução do PIB per capita no Brasil. Em grande, isto se deve às políticas sociais adotadas e 
sugere que esta tendência deva continuar no quinquênio 2011-2015. 
 
Em termos absolutos, o número de pobres no Brasil passou de 49,2 milhões em 1995, para 58,3 milhões 
em 2003, e só a partir desta data passou a apresentar redução absoluta, chegando a 39,6 milhões de 
pessoas em 2009, montante equivalente à população da Argentina. O número absoluto de indigentes era 
de 20,8 milhões em 1995, passou para 24,3 milhões em 2003 e baixou para 13,5 milhões em 2009, 
montante equivalente a toda a população do Equador. Portanto, a pobreza e a indigência estão se 
reduzindo em termos relativos e absolutos, mas os números ainda representam um obstáculo grave para 
o desenvolvimento sustentável no país. 
 
Os avanços econômicos e sociais descritos acima no Brasil também tiveram seu significado prático 
diminuído por um grau muito elevado de desigualdade. Os dados apresentados no Gráfico 11 mostram 
que, pela primeira vez, o país apresentou algum progresso nesse terreno durante os últimos anos. O 
coeficiente de Gini, que mede o grau de concentração da renda, sempre foi muito alto no Brasil, em 
torno de 0,60. Contudo, a partir do ano 2001, observa-se uma queda contínua da desigualdade até atingir 
um coeficiente de 0,543 em 2009, o menor nível desde o início da série. 
 
Gráfico 11: Coeficiente de Gini da renda domiciliar per capita, Brasil: 1976-2008 
 
Fonte: IPEADATA, 2010, com base nos dados das PNADs do IBGE 
 
Os dados referentes à queda da concentração da renda por domicílios apresentam tendências similares. 
A parcela da renda apropriada pelo estrato de 1% mais rico da população (em torno de 14% da renda 
total domiciliar) era superior à parcela apropriada pelos 50% mais pobres (em torno de 12%) na segunda 
metade da década de 1990. Já na atual década, diminuiu um pouco a parcela apropriada pelo estrato 1% 
mais rico – de 13,9% em 2001 para 12,1% em 2009 – enquanto subiu a parcela apropriada pelos 50% 
mais pobres – de 12,6% para 15,5% no mesmo período. Essa queda recente da desigualdade surpreendeu 
os estudiosos do assunto, já que a desigualdade parecia um fato impossível de se mudar no Brasil. 
Entretanto, já surgem estudiosos otimistas com o processo de redução da desigualdade de renda (Soares, 
2008:5). De qualquer forma, a desigualdade brasileira continua sendo uma das mais altas do planeta e o 
desenvolvimento nacional somente poderá ser atingido com uma diminuição drástica deste indicador. 
 
21 
 
b. Mercado de trabalho e renda 
 
O crescimento econômico, juntamente com a transição demográfica, possibilitou um aproveitamento 
maior do potencial produtivo da força de trabalho brasileira. O Gráfico 12 mostra que a População 
Economicamente Ativa (PEA) passou de 43,2 milhões em 1980 (representando 36,3% da população 
total) para 101,1 milhões em 2009 (representando 53% da população total). Nota-se que o percentual de 
pessoas ocupadas ou procurando trabalho (PEA) cresceu bastante nas últimas décadas, representando 
uma elevação do percentual dos “produtores” e uma redução dos “dependentes” no conjunto da 
população. Isto significa que o mercado de trabalho está contribuindo para a geração de riqueza e para a 
redução da pobreza. Segundo o Ministério do Trabalho, com base nas informações do Cadastro Geral de 
Emprego e Desemprego (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), o número de 
empregos formais no Brasil passou de 28,7 milhões, em 2002, para 43,5 milhões, em 2010. Nos últimos 
8 anos, houve a criação de cerca de 15 milhões de empregos com carteira de trabalho. 
 
O crescimento do emprego, especialmente aquele com carteira assinada ou com contribuição à 
previdência, foi responsável pelo aumento da massa salarial que se manteve estagnada entre 1998 a 2002 
(com valor aproximado de R$ 36 bilhões), mas passou a crescer ano a ano a partir de 2003. Sem dúvida, 
a trajetória de crescimento do emprego e da massa salarial foi um dos motivos que contribuiu para a 
redução da pobreza e da desigualdade no chamado “qüinqüênio virtuoso” (2004-2008) brasileiro. Após a 
crise de 2009, o nível de emprego e renda voltou a subir em 2010, reforçando o processo de inclusão 
social. 
 
Gráfico 12: População total e População Economicamente Ativa (PEA) como percentagemda população total, 
Brasil: 1980-2009 
 
Fonte: IBGE, Censos demográficos 1980, 1991 e 2000 e PNAD, 2009 
 
Outras informações complementares indicam uma grande redução da PEA de menor escolaridade 
(analfabetos até 3 anos de estudo) e também uma pequena redução do grupo de 4 a 10 anos de estudo. 
Ao mesmo tempo houve um crescimento significativo da PEA com maior escolaridade (11 anos e mais), 
que passou a ser o maior grupo da PEA a partir de 2009. Sem dúvida, uma força de trabalho mais 
educada é essencial para uma economia mais produtiva e com melhor qualidade de vida para todos. 
Resta, porém, a questão da qualidade da educação brasileira; a posição ocupada pelo Brasil nos testes 
22 
 
internacionais de leitura, ciência e matemática mostra repetidamente o fosso que ainda existe nesse 
particular, em relação a muitos outros países, desenvolvidos ou em desenvolvimento. 
 
Os últimos anos da década passada foram marcados pelo crescimento do emprego formal (ganho de 
direitos legais) e redução do desemprego. Considerando as taxas médias anuais, a queda no desemprego 
foi de 12,3% em 2003, para 7,9% em 2008, e para 6,7% em 2010. Embora o Brasil ainda esteja longe de 
atingir o “pleno emprego decente”, o novo quinquênio (2011-2015) começa com o melhor cenário dos 
últimos 30 anos. Já existem diversos líderes empresariais reclamando da escassez de mão-de-obra (FSP, 
27/12/2010). Porém, embora o Brasil possa apresentar “apagão” de mão-de-obra em alguns setores 
específicos da produção que precisam de alguma força de trabalho mais especializada ou em regiões que 
contam com investimentos elevados para projetos especiais, o país ainda conta com crescimento 
absoluto da PIA e tem uma grande parcela da população fora da PEA ou em situação de informalidade 
(isto é especialmente válido para a força de trabalho feminina). Uma escassez relativa desse fator de 
produção, a mão-de-obra, pode contribuir para a elevação da produtividade do trabalho e melhorar a 
renda média do país. Para administrar o país em situação de pleno emprego, o atual governo precisa 
garantir uma gestão macroeconômica adequada, com responsabilidade fiscal, o que poderia acelerar o 
processo de erradicação da pobreza, sem grandes pressões sobre a inflação. 
 
c. Crescimento da classe média 
 
O crescimento do emprego e da renda, conjugado com a redução do desemprego e das desigualdades 
sociais tem permitido a formação de um mercado de consumo de massas e o crescimento do poder de 
compra de parcelas cada vez maior da população brasileira. A pesquisa “A Nova Classe Média", da 
FGV, coordenada por Néri (2008), mostra a emergência da nova classe média como um fenômeno que 
aconteceu paralelamente à redução da pobreza. Em 1993, a classe média (ou classe C) representava 
pouco menos de um terço da população brasileira (30,9%), ficou em torno de 36,5% entre 1995 e 2003, 
passando, entre 2004 e 2008, de 42,26% para 51,89% do total de famílias. Pela primeira vez, o Brasil 
pode ser definido como um país de “classe média”. 
 
O fato é que houve uma aceleração do processo de mobilidade social ascendente durante os últimos anos 
no Brasil, o que possibilitou o crescimento das classes A, B e C e uma diminuição das classes D e E. A 
ampliação do consumo tem uma relação com a dinâmica demográfica, pois a redução da pobreza e o 
crescimento da classe média contribuem para reduzir o tamanho das famílias. Arranjos familiares 
menores e com menor razão de dependência, por outro lado, contribuem para a maior inserção da 
mulher no mercado de trabalho, o que aumenta o poder de consumo das famílias. Existe, pois, uma 
dupla determinação, com o crescimento do poder de consumo das famílias contribuindo para a redução 
da fecundidade e o menor número de filhos (especialmente aqueles de 0 a 14 anos) colaborando para 
maior renda per capita da família. 
 
Os programas sociais têm sido importantes nesta mobilidade social. Com a crise econômica e a perda de 
dinamismo do mercado de trabalho ocorrida na chamada “década perdida”, e sua prolongação durante a 
década de 1990, os diversos governos brasileiros do período foram ampliando seus programas sociais, 
visando mitigar as condições de pobreza do país. Para unificar os diversos programas existentes e 
responder às questões de segurança alimentar previstas no Programa Fome Zero, foi criado no Brasil, 
em 2003, durante o primeiro governo Lula, o Programa Bolsa Família (PBF). 
 
23 
 
O PBF é um programa de transferência direta de renda com condicionalidades (TRC), desenhado para 
favorecer famílias em situação de pobreza e exclusão social, buscando garantir o direito básico à 
alimentação e o exercício da cidadania, por meio do reforço ao acesso aos direitos elementares à 
educação e à saúde, visando contribuir para que as famílias consigam romper o ciclo da pobreza entre as 
sucessivas gerações. Ao contrário do BPC que beneficia mais as pessoas idosas e as pessoas com 
deficiência, o PBF beneficia mais as famílias com filhos até 17 anos. Contudo o valor do benefício é 
bem menor do que o do BPC e os reajustes não seguem o reajuste do salário mínimo. No ano de 2008, o 
benefício médio mensal do PBF foi de R$ 80,00, o que representa cerca de 20% do valor do salário 
mínimo (R$ 415,00), prevalecente na maior parte do ano. 
 
O Gráfico 13 mostra a evolução do número de famílias beneficiadas pelo PBF e o montante de recursos 
aplicados. Nota-se que já em 2003, ano da unificação dos diversos programas anteriores e de criação do 
PBF, foram beneficiadas 3,6 milhões de famílias. Este número chegou a 12,9 milhões de famílias em 
2010. Os recursos aplicados passaram de R$ 3,4 bilhões, em 2003, para R$ 13,1 bilhões em 2010. O 
crescimento no número de famílias foi de 458% e o crescimento dos recursos de 485%, entre 2003 e 
2010. 
 
Gráfico 13: Número de famílias beneficiadas e recursos aplicados pelo PBF, Brasil: 2003-2010 
 
Fonte: MDS, 2010. http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/balanco-mds-2003-2010/bolsa-familia 
 
Para o Brasil como um todo, 19,5% dos domicílios recebia o benefício. De modo geral, pode-se dizer 
que os Estados menos desenvolvidos são os que apresentam os maiores percentuais de beneficiários do 
PBF, enquanto os Estados mais desenvolvidos apresentavam os menores percentuais, sendo que São 
Paulo tinha 8% dos domicílios com famílias beneficiárias. O Estado de Santa Catarina é o que 
apresentava o menor percentual de domicílios com famílias beneficiárias (6,9%), enquanto o Maranhão 
apresentava um percentual de 47,6%. 
 
Os benefícios do Programa Bolsa Família são transferidos preferencialmente para as mulheres, sejam 
elas as responsáveis pelo domicílio (em famílias monoparentais femininas) ou na condição de cônjuge. 
Segundo avaliação do Cedeplar (2007) a transferência dos recursos para as mulheres aumenta o seu 
“empoderamento”, mais no sentido de maior autonomia decisória quanto à alocação e uso de 
determinados recursos domiciliares do que no sentido de maior igualdade de relações de gênero, com 
24 
 
efeito sobre a alocação dos recursos para os filhos residentes no domicílio. Considera-se que existe uma 
relação positiva entre o poder de barganha das mulheres e uma melhor alocação de recursos para os 
membros mais vulneráveis dos domicílios: as crianças. Segundo Cunha (2007): “Ao optar pela mulher 
como responsável por receber o benefício, o Bolsa Família se transformou num importante instrumento 
de autonomia e ‘empoderamento’ das mulheres. Esse gesto simples representa independência, 
autonomia e cidadania para muitas delas”. 
 
Contudo, diversos estudos sobre programas de transferência de renda mostram que privilegiar a mulher 
como titular do benefício, ao invés de promover a autonomia feminina, podefortalecer o papel 
tradicional da mulher como dona de casa e cuidadora do lar, jogando nas costas da família a principal 
responsabilidade pelo combate à pobreza: “Los programas refuerzan la división social de género en 
donde las mujeres tienen que ser antes de todo buenas madres. La mujer esta considerada de manera 
muy tradicional, sirviendo a su familia, guardiana de los valores de virtud moral, altruismo, sacrificio: 
es un ‘ser para otros’” (Arriagada e Mathivet, 2007, p. 30). 
 
Uma avaliação do Impacto do Programa Bolsa Família feita pelo Cedeplar (2007) considerou que as 
famílias beneficiárias do PBF aumentaram seus gastos com alimentação, vestuários e educação infantil, 
apresentando menor probabilidade de desnutrição infantil. As crianças têm menor evasão escolar e 
maior tempo dedicado ao estudo; entretanto, o estudo não encontrou menores taxas de reprovação. A 
cobertura de vacinação e de atendimento ao pré-natal não apresentou diferenças significativas para o 
Brasil entre beneficiários e não beneficiários. Quanto à participação laboral, os resultados apontaram 
diferenças positivas em termos da proporção de adultos ocupados no domicílio, indicando uma maior 
participação no mercado de trabalho dos beneficiários do Programa, não confirmando a hipótese de 
desincentivo ao trabalho (“efeito preguiça”). Contudo, foi constatada menor participação das mulheres 
beneficiárias na força de trabalho. 
 
Outra avaliação realizada pelo IBASE (2008), teve como foco a Segurança Alimentar e Nutricional das 
Famílias Beneficiadas. A pesquisa confirmou também que os entrevistados declaram que o dinheiro do 
PBF é gasto principalmente com alimentação, material escolar, vestuário e remédios. Na alimentação, 
cresceu principalmente o consumo de proteínas de origem animal, leite e seus derivados, e no geral, 
aumentou a dieta de alimentos de maior densidade calórica e menor poder nutritivo, fato que contribui 
para a prevalência do excesso de peso e a obesidade. 
 
A constatação dos efeitos positivos do PBF é geral, mas a criação de “portas de saída” para a população 
pobre ainda é uma expectativa que não foi contemplada de forma adequada. Para que haja a verdadeira 
erradicação da pobreza é preciso que se articulem as políticas de transferência de renda com a formação 
de capital social e com uma política de pleno emprego produtivo e decente, articuladas com medidas de 
conciliação entre trabalho e família, justiça de gênero e a universalização da educação brasileira. Só 
assim a população pobre deixará de ser tutelada, atingirá a maioridade na vida social e conquistará a 
emancipação individual e familiar, produzindo os seus próprios meios de vida, se construindo como 
sujeito autônomo e solidário (Alves e Cavenaghi, 2009). 
 
 O PBF foi criado e ampliado em uma época marcada por altas taxas de desemprego, na qual a parcela 
da população vivendo em condições de insegurança alimentar era muito alta. Contudo, para o próximo 
quinquênio, a economia brasileira deverá manter níveis de atividade próximos do pleno emprego e o 
problema da fome e da desnutrição tem se tornado menos grave do que o problema da obesidade. Nesta 
25 
 
situação é preciso repensar uma forma de articulação entre o PBF e a qualificação profissional e a 
intermediação do emprego. 
 
5) A dinâmica demográfica e as desigualdades de gênero no Brasil 
 
A transição de uma sociedade patriarcal para uma sociedade pós-patriarcal, caracterizada por mudanças 
significativas nas relações de gênero, assim como pelo crescimento da autonomia e o empoderamento 
das mulheres, se situa entra as maiores transformações ocorridas na história brasileira recente. Durante a 
maior parte do século XX, o país conviveu com os princípios discriminatórios e patriarcais do Código 
Civil de 1916. Somente com a Constituição Federal de 1988 consagrou-se a igualdade entre homens e 
mulheres como um direito fundamental. O princípio da igualdade entre os gêneros foi endossado no 
âmbito da sociedade e da família. Estes avanços possibilitaram não apenas a redução das desigualdades 
de gênero, mas como mostraram Alves e Correa (2009), já se registram no país “desigualdades reversas” 
de gênero, além de crescentes desigualdades intra-gênero. 
 
Para formular políticas adequadas visando a equidade de gênero, é preciso considerar não apenas os 
aspectos que mantém a mulher em situação de desvantagem social, mas também as desigualdades em 
sentido contrário, ou seja, aquelas que desfavorecem o sexo masculino, além das desigualdades entre 
homens e entre mulheres. 
 
a) Desigualdades de gênero na saúde 
 
O aumento da esperança de vida, para ambos os sexos, é uma pré-condição para o desenvolvimento 
econômico e social de qualquer país. A realização do potencial dos indivíduos só poder ocorrer 
plenamente quando se supera a mortalidade precoce que ceifa a vida de homens e mulheres. O Gráfico 
14, mostra os dados sobre a esperança de vida ao nascer, por sexo, no Brasil. Para ambos os sexos, a 
esperança de vida passou de 70,5 anos no ano 2000 para 73,2 anos em 2009. No mesmo período, os 
homens passaram de 66,7 anos para 69,4 anos e as mulheres de 74,4 anos para 77 anos. 
 
Gráfico 14: Esperança de vida ao nascer, por sexo, Brasil – 2000-2009
 
Fonte: Ministério da Saúde/Datasus. IDB 2010 
 
26 
 
Portanto, a diferença de cerca de 7,5 anos a favor das mulheres tem se mantido na última década. Estas 
diferenças de gênero prevalecem também em termos regionais, embora tenha se notado, para ambos os 
sexos, um processo de convergência entre a esperança de vida das diferentes regiões, ainda que o 
Nordeste continue bem abaixo das demais. O Norte segue a média nacional e as regiões Centro-Oeste, 
Sudeste e Sul apresentam as taxas mais elevadas, sendo que esta última mantém a dianteira por todo o 
período. As mulheres do Nordeste, em 2006, mesmo estando atrás das demais mulheres do país, tinham 
esperança de vida maior do que a dos homens de todas as regiões do Brasil (Alves e Correa, 2009). 
 
Segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC – do Ministério da Saúde, a razão 
de sexo dos nascidos vivos no país tem permanecido em torno de 105 meninos para cada 100 meninas. 
Ou seja, nascem 5% a mais de homens do que mulheres. Porém, a sobremortalidade masculina no Brasil 
– diferentemente do que acontece na Ásia – se manifesta desde o primeiro ano de vida. Seria preciso 
realizar estudos mais aprofundados para saber se essas diferenças se devem a fatores biológicos ou a 
fatores sociais, como a negligência no cuidados dos bebês e crianças. O Gráfico 15 mostra que a 
mortalidade infantil, do sexo masculino, em 1995-2000, era de 38,6 mortes no primeiro ano de vida para 
cada 1.000 nascimentos de meninos e, para o sexo feminino, de 29,4 mortes por 1.000 meninas nascidas 
vivas. Estes números caíram, respectivamente, para 26,9 por mil e 19,9 por mil, no quinquênio 2005-10. 
 
Gráfico 15: Mortalidade infantil (0-1 ano) e na infância (0-5 anos), por sexo, Brasil, 1995-00 a 2045-50 
 
Fonte: UN/ESA. World Population Prospects: The 2008 Revision. Visitado em 27/12/2010 
 
A sobremortalidade masculina continua ao longo do ciclo de vida e tem se acentuado, de tal forma que a 
razão de sexo tem se tornado cada vez menor, criando um superávit crescente de mulheres no Brasil. O 
Gráfico 16 mostra que, até 1980, existia certo equilíbrio na razão de sexo no país (próxima de 100). A 
partir dos anos 80, porém, o superávit de mulheres no país iniciou um processo de ampliação, o que 
contrasta com o superávit de homens no mundo (razão de sexo acima de 100). 
 
Em grande parte, a feminização da população brasileira pode ser explicada pelo aumento das mortes por 
causas externas (acidentes de

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