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BONETTI, C. e RIBARIC, A. – Introdução às Ciências Sociais (no Prelo).
Crítica a Modernidade.
Objetivos: Apresentar as origens, contexto e principais pensadores que sustentam as críticas à modernidade surgidas no início do século XX.
Introdução à Unidade.
Apesar da hegemonia das ideologias modernistas, expressas mais evidentemente nas perspectivas evolucionistas, o final do século XIX é marcado pela emergência de visões de mundo que criticam a sociedade moderna, como expressão concreta do fracasso do racionalismo e da ilustração.
O pensamento do século XIX é marcado pelo espírito positivo, compreendido em seu sentido mais amplo, ou seja, pelo otimismo em relação aos efeitos civilizatórios do desenvolvimento da sociedade moderna. Ciência, tecnologia, Estado e indústria haviam possibilitado finalmente o triunfo do Homem sobre a Natureza, inclusive a sua própria, na construção de uma civilidade urbana.
Para esta concepção, o avanço da sociabilidade moderna se assenta, ao mesmo tempo em que promove, o domínio da natureza humana, o egoísmo, a competitividade violenta e associal, direcionando-a rumo à liberdade e à vida em comum. A história da humanidade é a história do processo de libertação do homem dos seus instintos mais fundantes através do desenvolvimento da razão e da cultura. 
Uma das primeiras reações à hegemonia do pensamento racional-científico foi o Romantismo, tendência estética e filosófica que exalta a natureza e prega o espírito de rebeldia e liberdade. Surgido na Europa em meados do século XVIII, o Romantismo se expressa em todas as áreas do pensamento e das artes.
Privilegiando a subjetividade individual, coloca em xeque a estética racionalista clássica, rejeitando a idéia de que o mundo, isto é, a natureza, os homens e os pensamentos, se reduziriam ao que a razão deles é capaz de apreender. Para Hegel, um dos principais filósofos racionalistas, somente o que fosse racional poderia ser considerado real e portanto seria real tudo aquilo que fosse racional.
O Romantismo se rebela contra esta concepção, propondo descortinar o misterioso, o irracional e o imaginativo da vida humana, explorando domínios desconhecidos capazes de libertar a fantasia e a emoção, reencontrar a natureza e o passado.
O alemão Johann Wolfgang Goethe (1749-1832) um dos maiores poetas e dramaturgos, desenvolveu um sistema de pensamento fundado nos pressupostos românticos, elaborando formulações científicas a respeito de óptica (sobre a qual elaborou uma doutrina das cores alternativa a teoria de Isaac Newton (1642-1727), geologia, mineralogia, botânica (criticando a classificação de Carl von Linée, (1707-1778), por se basear exclusivamente nas características exteriores, e não em algum princípio unificador.) e zoologia.
A natureza para Goethe era uma totalidade viva, espiritual e orgânica, oposta a metáfora mecânica da ciência clássica, na qual a natureza re resume ao conjunto inorgânico de recursos naturais postos a disposição do desenvolvimento humano. Sua obra se apóia em dois conceitos básicos: arquétipo, ou idéia universal que conferem coerência à natureza, e metamorfose, espécie de potência espiritual produtora de diversidade e novidade. 
Apesar da influência que marcou o pensamento do século XIX, foram poucos seus desdobramentos diretos, talvez o mais evidente sejam as correntes ligadas ao pensador Rudolf Steiner (1861-1925), o criador da antroposofia. Nas últimas décadas, no bojo das críticas pós-modernas e aos movimentos culturais de crítica a sociedade industrial, as teses românticas retomaram vigor e influência na proposição de novos paradigmas para o conhecimento e a sociabilidade.
À medida em que as reivindicações do romantismo se materializam na liberdade criadora e de expressão; a idéia da "arte pela arte", da figura do artista como portador de verdades que deveriam ser preservadas da degradação promovida pelos interesses econômicos, políticos ou sociais; o desprezo pelas conveniências, utilitarismo, da vida cotidiana, sedimentam sua vocação de crítica burguesa à estética da vida burguesa.
Com o declínio do Romantismo no final do século XIX, as ideologias progressistas haviam se tornado praticamente unânimes. Hegemonia desafiada apenas por alguns pensadores heterodoxos dos quais Nietzsche é sem dúvida o mais importante e influente.
Repertório 1: Nietzsche, a crítica moral e a transmutação dos valores.
Os caminhos percorridos pela civilização ocidental, suas bases, e as conseqüências do desenvolvimento urbano-indusrial, foram radicalmente criticados pelo filósofo, Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900).
Crítico mordaz de temas como a moral, a religião, ciência e artes, Nietzsche refere-se ao filósofo dessa civilização como a “má consciência de seu tempo”, pois pra ele a missão da filosofia é “a educação superior da humanidade”. Considera a história da civilização ocidental como sendo a das metamorfoses do espírito, contidas em sua principal obra, Assim falava Zaratustra: a transformação do espírito em camelo, depois em leão e finalmente em criança.
Essa representação significa as fases do ocidente, o período do “tu deves”, correspondente ao predomínio da moral e da religião, passando para o do “eu quero”, o dever e a liberação da vontade, para finalmente atingir a fase do “eu sou”, na qual inaugura-se um novo momento da relação do indivíduo com sua existência.
Para Nietzsche, na mentalidade do europeu do século XIX, já vive a morte de Deus, o momento em que se finda e se desvalorizam os valores vinculados ao supremo e seus desdobramentos morais. Tal constatação, a morte de Deus, está dentro de um processo que se iniciou com a morte do “mundo-verdade” (Platão), portanto, nada é verdadeiro e tudo é permitido (niilismo).
Existe então, apenas interpretações. O cristianismo não é mais verdade, apenas mais uma interpretação frente outras, e é dentro desta perspectiva que deve ser analisado. Antes de lamentar a morte das nossas idéias, para Nietzsche, deve-se perguntar acerca da pertinência destes valores.
Suas idéias confrontam com as imagens que se construíram sobre o homem moderno ser pleno, senhor de si e finalmente livre das paixões humanas. Um super-homem, fruto da racionalidade e da liberdade.
Para Nietzsche existem apenas dois mundos: o dos senhores e dos escravos. Sua contradição é antes de tudo moral, entre ideais e modos de existência. A moral burguesa, reflete ele, é como a dos escravos e seus valores assentam-se em torno de um ideal de convivência pacífica, sem conflitos em seu imaginário. Essa é a “moral do rebanho”, se não há conflitos, é porque os indivíduos não aspiram mais nada e não há mais vontade. Crenças e religiões pregam um estado de repouso legitimada por um sistema de verdades, o dever (“tu deves”) é uma submissão consciente, o homem burguês é um escravo de seu conformismo e apatia, mais um animal domesticado no rebanho em direção ao matadouro.
Na Grécia Antiga, a prática de expulsão de um cidadão que ameaçasse a democracia por um período determinado (ostracismo), era visto por Nietzsche, como um estímulo, pois expulssava-se o grande, aquele que não se submetia à maioria e que se sobressaía, para que os mecanismos de luta se reestabelecessem, para que outros pudessem também contestar e não se submeterem pois, refletia Nietzsche, o ideal de felicidade grego só é alcançado com luta. Essa é a essência do “super-homem” de Nietzsche, aquele que não se submete ao rebanho.
“Amo todos os que se assemelham a gotas pesadas que deslizam uma a uma da sombria nuvem suspensa sobre os homens, prenunciam o relâmpago próximo e desaparecem como vaticinadores.
Vejam: eu sou um prenúncio do raio e uma pesada gota procedente da nuvem; contudo este raio chama-se o super-homem.”
(Nietzsche, F. Assim falava Zaratustra. SP. Ed. Hemus, 1985).
O super-homem é aquele que se supera e se destaca, aquele que não teme a dor, mas a falta de sentido para a dor, e isto que atormentou os fracos, que para encontrar sentido, inventaramseus ideais. Assim, dirá ele na Genealogia da Moral: “toda civilização cristã será um anestésico ideológico para uma existência sofredora”. (Apud: ABRÃO, B. S., 2004) 
Nietzsche foi profético em suas previsões à respeito do futuro da civilização ocidental. Em inúmeras passagens de sua obra, ele prenunciou o advir da catástrofe que se abateria na Europa com a eclosão das duas grandes guerras, o surgimento das ideologias totalitárias, a ascensão do nazismo e o horror do holocausto.
"A civilização européia agita-se desde muito sob uma pressão que vai até a tortura, uma angústia que cresce em cada década, como se quisesse provocar uma catástrofe: inquieta, violenta, arrebatada, semelhante a um rio que quer alcançar o término do seu curso, que não reflete mais, que teme até refletir." 
(Nietzsche Wille zur Macht -Vontade de potência):
Premonitório em seus aforismas, chegou a afirmar que "haverão guerras como jamais se viu no passado", uma vez que "o tempo para a pequena política tinha passado, o próximo século trará consigo uma luta pelo poder em escala mundial – será a compulsão pela grande política." (idem).
Ao contrário dos ideólogos do progresso e do desenvolvimento, tão em moda no século XIX, Nietzsche assim como Schopenhauer, não depositava esperanças na ascensão da civilização propiciada pela tecnologia ou pelo progresso social. A prosperidade alcançada pela industrialização não passava de uma fina pele, uma máscara, incapaz de transformar a miserável condição humana e de sua existência.
Repertório 2: Freud, o mal estar da civilização 
No plano do discurso científico ocorre uma importante ruptura no paradigma clássico com a obra de Sigmund Freud (1856-1939), sobre a psique e as culturas humanas, cujo significado ainda está para ser devidamente avaliado e apropriado.
Em 1900, é publicado seu livro Interpretação dos sonhos, marco desta ruptura metodológica, no qual é apresentado pela primeira vez a noção de inconsciente. Ao contrário do que imaginavam os ideólogos da racionalidade moderna, para os quais a razão pouco à pouco destruiria todas as manifestações de nossa origem animal (medo, superstição, violência...), Freud demonstrava que o irracional, o desracional, o arracional, são constitutivos de nosso aparelho mental e parte integrante de nossa personalidade.
Neste livro, é relatado a “Injeção de Irmã”, ocorrido quando Freud estava em Bellevue, em julho de 1895, que serve de pedra de toque para a elaboração de uma nova Antropologia que rompe radicalmente com as concepções de Homem, Natureza e Cultura que existiam até então. O sonho tem um sentido que está escondido e não decorre das figuras utilizadas pelo sonho, mas de um conjunto de elementos pertencentes ao próprio sonhador, fazendo com que a descoberta do sentido oculto dependa das “associações” produzidas pelo sujeito. 
O sonho é constituído principalmente de imagens, mas o acesso a elas só pode ser obtido pela narrativa do sonhador, que constitui seu “conteúdo manifesto”, que é preciso decifrar para alcançar o seu “conteúdo latente”. “Restos diurnos”, afetados pelas representações de desejo, assegura, de uma forma camuflada, algum tipo de “realização do desejo”
A elaboração do sonho é feita por técnicas estranhas ao pensamento consciente:
condensação (um mesmo elemento representava vários pensamentos do sonho)
deslocamento (um elemento do sonho é colocado no lugar de um pensamento latente). 
No ano seguinte publica “A psicopatologia da vida cotidiana” (Zur Psychopathologie dês Alltagslebens) no qual aborda uma série de pequenos acidentes cotidianos como lembranças encobridoras, passam a ser consideradas manifestações do inconsciente.
Como ele próprio admite, ao colocar os lapsos da palavra ou escrita, os erros de leitura e escrita, os equívocos, os atos falhos, etc, na mesma categoria das psiconeuroses, Freud desconstrói as fronteiras entre o estado nervoso normal e o funcionamento nervoso anormal.
“ Todos os fenômenos em questão, sem nenhuma exceção, permitem que se chegue aos materiais psíquicos reprimidos incompletamente e que, embora recalcados pela consciência, não perderam toda a possibilidade de se manifestar e se exprimir”.
(FREUD, S. Psicopatologia da vida cotidiana)
Em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie), apresenta um esquema para a compreensão da evolução da libido que parte da descoberta da sexualidade infantil, caracterizada pela sucessiva dominância das zonas erógenas bucal, anal e genital. A criança é definida como um ser perverso poliformo, isto é, que ainda não definiu seu locus de sexualidade.
O impacto destas formulações vão muito além de haver abalado as imagens reservadas à infância e às crianças, uma vez que este estado permaneceria latente em regiões inconscientes operando como impulso estruturante da modelação do psiquismo.
Desta maneira é concebida uma estrutura particular do aparelho psíquico em três instâncias, consciente, pré-consciente e inconsciente (formulação que é conhecida como primeira tópica) que obedecem a leis de natureza diferente, e separados por uma fronteira que só pode ser ultrapassada em determinadas situações.
A consciência deixa de ser construção do sujeito e da cultura, que atua na decifração do real e no estabelecimento de um sistema racional de escolhas (liberdade), para se tornar em um pequeno pedaço de nossa atividade psíquica, atormentado pelos apelos do aparato instintivo e pelas vicissitudes da vida coletiva.
 “O inconsciente é o próprio psíquico e sua realidade essencial. Sua natureza íntima nos é tão desconhecida como a realidade do mundo exterior, e a consciência nos ensina sobre ela de uma maneira tão incompleta como nossos órgãos dos sentidos sobre o mundo exterior”.
(FREUD, S. Projeto de uma Psicologia)
A partir destes princípios norteadores, que guiaram suas formulações teóricas a respeito dos instintos, da origem e natureza das neuroses e da prática psicanalítica, elaborará uma Filosofia da História e uma Teoria da Cultura que se tornarão fundamentais para as críticas modernas e pós-modernas a sociedade industrial.
Em obras como Moisés e o Monoteísmo e principalmente, O mal-estar da civilização, Freud concebe o inconsciente como reservatório de desejos que necessitam ser reprimidos pela cultura para que a vida coletiva possa emergir. Sem esta repressão não pode haver sociedade e portanto, a própria humanidade teria sucumbido ao Homem lobo do Homem.
Neste sentido a civilização se baseia na permanente subjugação dos instintos. A livre e absoluta gratificação das necessidades instintivas é incompatível com a sociedade civilizada. Para Freud a felicidade não é um valor cultural. A cultura impõe o sacrifício metódico da libido, sua sujeição as atividades e expressões úteis e necessárias à sociedade. 
Este é o fundamento de uma teoria da história negativa. Ao contrário dos otimistas que concebiam a história como o desenvolvimento da liberdade, para Freud quanto maior progresso da cultura e da civilização maior a repressão aos indivíduos.
Em Eros e civilização, Herbert Marcuse elabora uma leitura filosófica da teoria freudiana dos instintos como base para ler as categorias psicanalíticas como categorias políticas, uma vez que a fronteira entre elas tornou-se obsoleta em virtude da condição do homem contemporâneo. Os processo psíquicos autônomos e identificáveis estão sendo absorvidos pela existência pública do indivíduo.
A história do homem é a história de sua repressão, a cultura coage tanto a sua existência social como a biológica, sua própria estrutura instintiva, como precondição do progresso. Se tivessem liberdade de perseguir seus objetivos naturais, os instintos básicos do homem seriam incompatíveis com toda a associação e preservação duradoura: destruiriam até aquilo a que se unem ou em que se conjugam. 
O Eros incontrolado é tão funesto quanto seu contrário Thanatos ou instinto de morte. Sua força destrutiva deriva do fato de lutarpor uma gratificação que a cultura não pode consentir: a gratificação como tal e como um fim em si mesma, a qualquer momento. 
“A civilização começa quando o objetivo primário – isto é, a satisfação integral de necessidades – é abandonado”
(MARCUSE, H. Eros e civilização).
O homem instintivo converte-se em ser cultural, isto é em humano, somente através de uma transformação fundamental da sua natureza, que afeta não apenas seus anseios, mas também os valores – isto é, os princípios que governam a realização dos anseios. A transformação no sistema dominante e definida como a passagem:
	De
	Para
	satisfação imediata
	satisfação adiada
	Prazer
	restrição do prazer
	júbilo (atividade lúdica)
	esforço (trabalho)
	Receptividade
	Produtividade
	ausência de repressão
	Segurança
A repressão é um fenômeno histórico, uma vez que a subjugação dos instintos, é imposta pelo homem. A luta contra a liberdade reproduz-se na psique do homem, como a auto-repressão do indivíduo reprimido, e a sua auto-repressão apóia, por seu turno, os senhores e suas instituições. O motivo da sociedade para manter esta estrutura instintiva, é econômico; uma vez que não tem meios suficientes para sustentar a vida de seus membros, procura restringir o número de seus membros desviando suas energias sexuais para o trabalho. 
A plena satisfação de necessidades é felicidade, neste sentido a liberdade na civilização é essencialmente antagônica da felicidade, pois envolve a modificação repressiva da felicidade". De acordo com a concepção de Freud, a equação de liberdade e felicidade, é sustentada pelo inconsciente. 
“A sua verdade, embora repelida pela consciência, continua assediando a mente; preserva a memória de estágios passados do desenvolvimento individual nos quais a gratificação imediata era obtida. E o passado continua a reclamar o futuro: gera o desejo de que o paraíso seja recriado na base das realizações da civilização” .
(MARCUSE, H.Idem,Ibidem)
A Análise de Freud ocorre em dois planos:
	Ontogenético
	a evolução do indivíduo reprimido, desde a mais remota infância até a sua existência social consciente.
	Filogenético
	a evolução da civilização repressiva, desde a horda primordial até o estado civilizado plenamente constituído.
Isso permite que a teoria dos Instintos seja relacionada ao sei complemento lógico, isto é uma Teoria da Cultura ou da Civilização. Aqui pode-se observar com mais clareza que a própria teoria de Freud fornece os fundamentos da identificação de civilização com repressão. A relação entre liberdade e repressão resulta de uma organização histórica específica da existência humana. O conflito entre princípio de prazer e princípio de realidade permitiria a idéia de uma civilização não repressiva, baseada numa experiência fundamentalmente diferente entre homem e natureza, e das relações existenciais.
Repertório 2: Frankfurt e a dialética negativa. 
O século XX desnuda a face opressora e a miséria humana gerada por décadas de desigualdade social propiciada por um sistema excludente e concentrador de renda que, através da defesa extrema da racionalidade durante o século XIX como forma de emancipação do homem e construção de uma sociedade harmônica e feliz, produziu como resultado a primeira grande guerra mundial, “a guerra para acabar com todas as guerras” bradava-se na época num eco a sobrevalorização da razão que, não apenas não acabou com todos os conflitos, mas que instrumentalizou a emergência de ideologias e regimes totalitários.
Foi preciso a constatação desse caos social para o abalo da crença no reino da razão tecnológica que já não buscava, como nas suas origens, a felicidade do gênero humano e uma sociedade mais justa, mas que lutava agora por fontes de matéria-prima e mercados consumidores.
É nesse contexto dramático que surgiu o movimento conhecido com Escola de Frankfurt, cujos membros, ao se posicionarem contra a barbárie ideológica que se avizinhava em solo alemão, logo tornaram-se vítimas da violência, perseguições e atrocidades do nazi-fascismo.
Fundado com o nome de Instituto para a Pesquisa Social em 1923 na cidade de Frankfurt pelo economista Carl Grumberg, tinha por objetivo inicial estudar a história do movimento operário e do socialismo. Juntam-se ao Instituto um grupo de intelectuais dos quais destacam-se Max Horkheimer (1895-1973), Theodor W. Adorno (1903-1969), Walter Benjamin (1892-1940), Hebert Marcuse (1898-1979) e Eric Fromm (1900-1980).
Este grupo de intelectuais, através da “Revista para a Pesquisa Social”, elaboram uma releitura da filosofia social que recebeu o nome de Teoria Crítica da Sociedade. A revista, publicada em alemão, procurava demonstrar uma posição crítica e contrária à ascensão do nazismo na Alemanha.
Walter Benjamin autor heterodoxo que embora não pertença diretamente aos círculos da Escola de Frankfurt, é sob vários aspectos antecipador e guia de suas formulações mais contundentes.
Pensador, filósofo e ensaísta, Benjamin empreendeu com textos como Alguns temas de Baudelaire (1938), A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica (1936) e o inacabado Paris, a capital do século XIX, uma verdadeira arqueologia da época moderna fundada no triunfo da burguesia, no culto a mercadoria e na fé no progresso.
A crença no progresso sustentada na idéia de que a tecnologia independe de seu uso e é necessariamente um avanço na direção da libertação. O desenvolvimento das forças produtivas conduziria a um aperfeiçoamento das condições de vida dos produtores.
A “marcha da história” seguiria as mesmas leis que a evolução das espécies naturais:
Simples 					 Complexo
monocelulares 				 Homo sapiens
caçador-coletor 				 Capitalista/Comunista
Sob este ponto de vista o progresso e a revolução eram inevitáveis, pouco dependia dos sujeitos concretos que vivem a história como seus agentes. Segundo Benjamim este fatalismo histórico provocou tanto o anti-comunismo como a ausência de preparação para compreender a emergência do fascismo.
Comunista, de origem judaica, Benjamin viveu na pele as conseqüências da ascenção do nazismo, perseguido tentou fugir da Europa, mas acabou se suicidando em 1942. Escrito sob o impacto do tratado de não-agressão entre Stalin e Hitler em 1939, as Teses sobre filosofia da história, é uma tentativa de elaborar uma concepção de história afastada da historiografia tradicional e da historiografia materialista triunfalista expressa nas programas dos partidos comunistas europeus. A crítica de Benjamim se dirige a toda concepção de história que propaga um determinismo ingenuamente otimista.
Publicado pela primeira vez em 1942, em um número especial em homenagem a Benjamin da Revista do Instituto de Pesquisa Social,as "teses" não têm nenhum caráter definitivo, não são um credo dogmático, mas oferecem, à ocasião, um balanço de pensamento e, mais ainda, umas "hipóteses" de pensamento, para não desesperar.
Para não desesperar numa situação de urgência política e histórica que representavam a vitória do nazismo na Alemanha. Exilado em Paris desde 1933 Benjamin se encontra, de repente, privado da esperança que podia significar a existência da União Soviética para os oponentes ao fascismo. A redação das "teses" se dá provavelmente entre setembro de 1939 e abril de 1940, um dos momentos mais negros da história européia. Não é um texto escrito na serenidade de um gabinete, mas em um quarto de exílio: ele pede aos leitores que não procurem por soluções ou respostas, mas que aceitem o fim de suas certezas sobre o curso da história e a formulações de questões novas, mesmo que continuem sem resposta.
Benjamin não visa uma descrição exaustiva mas uma história "a contrapelo": não aquela dos vencedores, mas aquela que poderia ter sido outra, que foi sufocada, mas deixou interrogações, lacunas, brancos. Cabe ao presente reconhecer os sinais de alteridade e de resistência e, quem sabe, retomá-los na luta histórica e política atual.Essa relação do presente ao passado deve desconstruir a narrativa da "história dos vencedores" e indicar outras possibilidades narrativas e históricas, silenciadas, esquecidas ou recalcadas. Essa busca de uma outra história possível leva Benjamin a lançar mão de paradigmas teóricos pouco usados até aí, a saber o paradigma psicanalítico de Freud e estético de Proust. Procura por uma nova relação da memória e da identidade subjetiva, transpondo o território estético para o político.
No âmbito das pesquisas do Instituto, Theodor Adorno, publica “Filosofia da nova música”, no qual tece considerações a respeito da dialética do progresso musical e do domínio da natureza nas obras de Schöemberg, importante compositor e teórico de harmonia musical. Max Horkheimer pesquisa as raízes históricas e ideológicas do anti-semitismo e propõe uma crítica ao positivismo e à Antropologia burguesa. Estes trabalhos servem de base conceitual da crítica ao próprio conceito de razão que será explicitado em ”A dialética do esclarecimento”, publicado por ambos. 
Nesta obra apresentam uma reflexão contundente sobre as questões mais importantes da época e que clamavam por explicações: os horrores do nazismo, a ascensão do stalinismo e do totalitarismo da cultura de massa do capitalismo monopolista, movimentos claramente reacionários que fomentam a reprodução da personalidade autoritária.
“Por que a humanidade, em vez de entrar em um estado verdadeiramente humano, está se afundando em uma espécie de barbárie?”
(ADORNO,HORKHEIMER. Dialética do esclarecimento)
Não era mais possível culpar somente o declínio da cultura pela barbárie reinante, ao contrário, os autores procuraram encontrar na própria cultura e no conceito de razão, os fundamentos para a ascensão da barbárie, tema já levantado por Benjamin em suas teses.
Para os autores o esclarecimento (ou iluminismo), serviu para livrar os homens do medo (do desconhecido) e investí-los na produção de senhores da natureza. Este era o confronto primordial que retirou a humanidade do âmbito da natureza dando início ao processo de desencantamento do mundo, buscando assegurar a conservação da espécie.
A progressiva dominação da natureza a faz perder suas qualidades para se tornar exclusivamente em objeto de dominação, submetida ao primado da calculabilidade, o mundo torna-se uma incógnita que deve ser deduzida, o conhecimento é reduzido à técnica e ao método científico.
Neste livro é cunhado o conceito de “industria cultural”. Adorno e Horkheimer são os primeiros na década de 40 do século passado a usarem o conceito em seu sentido atual, ou seja, que essa indústria exerce e desempenha as mesmas funções de um Estado fascista, sendo a base dos regimes totalitários modernos pois, segundo os autores, ela promove a alienação do homem, fazendo-o não meditar sobre si mesmo e sobre a realidade social que o circunda, transformando-o em um simples espectador, consumidor de mercadorias culturais, e, no final do processo, em um ser alienado reprodutor do sistema capitalista.
A indústria cultural não é propriamente uma indústria uma vez que não transforma a natureza, e também não é cultura, uma vez que não produz nem verdade estética (cultura erudita), nem tampouco verdade identitária (cultura popular). 
O que ela faz é produzir entretenimento (popular, refrescante, acessível), administrada pela razão instrumental e mercantil para divertimento das massas, servindo assim como instrumento social de repressão. A repressão é um processo que visa controlar e frustrar manifestações de algum tipo de desordem (ordem não autorizada). Quanto mais desenvolvida a sociedade, mais sutis e inconscientes serão esses mecanismos.
O consumidor não é sujeito da industria cultural, é o seu objeto. As mercadorias culturais se orientam em função de sua comercialização e não segundo suas qualidades ou conteúdos.
A Escola de Frankfurt, de um modo geral, considera a indústria cultural como sendo uma indústria de diversão compreendida como instrumento de alienação, propiciando a massa um “falso-prazer”.
As idéias de Marcuse, Benjamin, Adorno e Horkheimer, foram retomadas por Jürgen Habermas, numa tentativa de prolongamento e superação das idéia originais, sem desfigurar a teoria crítica, através de reflexões acerca da legitimação do Estado moderno, elaborando uma teoria da ação comunicativa. 
Outros autores procuraram desdobrar as propostas frankfurtianas, retendo dela o seu potencial crítico e transformador, entre os quais destaca-se Robert Kurz, autor de importante obra de crítica civilizacional e da corrente de estudiosos que se debruçaram sobre a cultura de massa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, T.; HORKEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. 
ADORNO, Theodor W. Teoria estética. Trad. Artur Morão. Lisboa: Edições 70; São Paulo: Martins Fontes, 1970. 
________ . A indústria cultural. In. Sociologia. São Paulo: Ática, 1994. 
BENJAMIN, W. Obras escolhidas, v. III, Chrales Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo, trad. de J.C.M. Barbosa e H.A. Baptista, São Paulo: Brasiliense, 1989. 
________ Sobre o conceito de História, in LÖWY, Michael. Walter Benjamin: Aviso de incêndio, São Paulo:Ed. Boitempo, 2005
FREUD, S. Psicopatologia da vida cotidiana. SP. Imago, 2006.
______ . Interpretação dos sonhos. SP. Imago, 1999.
______ . Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. SP. Livros do Brasil, 1982.
______ . . Projeto de uma Psicologia. SP. Imago, 1995.
______ . Moisés e o Monoteísmo. SP. Imago, 1997.
_____ . O mal-estar da civilização. SP. Imago, 1997.
MARCUSE, H. Eros e Civilização, Zahar Editores, Rio de Janeiro.
_____ Contra-revolução e revolução, Zahar, RJ, 1973
NIETZSCHE, F. Assim falava Zaratustra. SP. Ed. Hemus, 1985.
______ Vontade de potência. SP. Ediouro, 1982.

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