Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
,J INTRODUÇÃO O sistema respiratório é constituído pelo nariz, pela faringe, pela laringe, pela traqueia, pelos brônquios e pelos pulmões. (TORTORA) Suas partes podem ser classificadas de acordo com sua estrutura ou função. (TORTORA) Estruturalmente, o aparelho respiratório é constituído por duas partes: (TORTORA) 1) O sistema respiratório superior inclui o nariz, a cavidade nasal, a faringe e estruturas associadas; 2) O sistema respiratório inferior inclui a laringe, a traqueia, os brônquios e os pulmões. Funcionalmente, o sistema respiratório também é formado por duas partes: (TORTORA) 1) A zona condutora consiste em várias cavidades e tubos interconectados (intrapulmonares e extrapulmonares). Estes incluem o nariz, a cavidade nasal, a faringe, a laringe, a traqueia, os brônquios, os bronquíolos e os bronquíolos terminais; sua função é filtrar, aquecer e umedecer o ar e conduzi-lo para os pulmões. 2) A zona respiratória consiste em tubos e tecidos nos pulmões onde ocorrem as trocas gasosas. Estes incluem os bronquíolos respiratórios, os ductos alveolares, os sacos alveolares e os alvéolos e são os principais locais de trocas gasosas entre o ar e o sangue. Laringe A laringe é uma pequena conexão entre a parte laríngea da faringe e a traqueia. Encontra-se na linha média do pescoço anteriormente ao esôfago e às vértebras cervicais IV a VI (C IV a C VI). (TORTORA) A parede da laringe é composta por nove fragmentos de cartilagem. (TORTORA) Três ocorrem isoladamente (cartilagem tireóidea, epiglote e cartilagem cricóidea) e três ocorrem em pares (cartilagens aritenóidea, cuneiforme e corniculada). (TORTORA) Das cartilagens pares, as cartilagens aritenóideas são as mais importantes, porque influenciam as mudanças na posição e na tensão das pregas vocais (cordas vocais verdadeiras para a fala). (TORTORA) Os músculos extrínsecos da laringe conectam as cartilagens a outras estruturas na garganta; os músculos intrínsecos conectam as cartilagens entre si. (TORTORA) A cavidade da laringe é o espaço que se estende desde a entrada da laringe até a margem inferior da cartilagem cricóidea. (TORTORA) A parte da cavidade da laringe acima das pregas vestibulares (cordas vocais falsas) é chamada de vestíbulo da laringe. (TORTORA) A parte da cavidade da laringe abaixo das pregas vocais é chamada de cavidade infraglótica(TORTORA) A cartilagem tireóidea (pomo de Adão) consiste em duas lâminas fundidas de cartilagem hialina que formam a parede anterior da laringe e conferem a ela um formato triangular. (TORTORA) Ela é encontrada tanto em homens quanto em mulheres, mas geralmente é maior no sexo masculino em decorrência da influência dos hormônios sexuais Broncoaspiração TUTORIA 12 @juliaasoare_ 3º período de Medicina masculinos em seu crescimento durante a puberdade. O ligamento que liga a cartilagem tireóidea ao hioide é chamado membrana tíreo-hióidea. (TORTORA) A epiglote é um segmento grande de cartilagem elástica em forma de folha que é recoberta por epitélio. (TORTORA) Existe uma parte inferior afilada (pecíolo epiglótico) que está conectada à margem anterior da cartilagem tireóidea. A parte superior ampla em forma de “folha” da epiglote (cartilagem epiglótica) não está presa a nenhuma estrutura e se move para cima e para baixo como um alçapão. (TORTORA) Durante a deglutição, a faringe e a laringe se movem para cima. A elevação da faringe amplia-a para receber alimentos ou bebidas; a elevação da laringe faz com que a epiglote se mova para baixo e cubra a glote, fechando- a. (TORTORA) A glote é composta por um par de pregas de túnica mucosa, as pregas vocais (cordas vocais verdadeiras) na laringe, e o espaço entre elas é chamado de rima da glote. (TORTORA) O fechamento da laringe desta maneira durante a deglutição desvia líquidos e alimentos para o esôfago e os mantêm fora da laringe e das vias respiratórias. (TORTORA) Quando pequenas partículas de poeira, fumaça, alimentos ou líquidos passam para a laringe, ocorre um reflexo de tosse, geralmente expelindo o material. (TORTORA) A cartilagem cricóidea é um anel de cartilagem hialina que forma a parede inferior da laringe. Ela se insere ao primeiro anel de cartilagem da traqueia pelo ligamento cricotraqueal. A cartilagem tireóidea está ligada à cartilagem cricóidea pelo ligamento cricotireóideo. (TORTORA) A cartilagem cricóidea é o marco para fazer um acesso de emergência às vias respiratórias chamado de traqueotomia. (TORTORA) O par de cartilagens aritenóideas são segmentos triangulares formados principalmente por cartilagem hialina localizados na margem posterior superior da cartilagem cricóidea. Eles formam articulações sinoviais com a cartilagem cricóidea e têm uma ampla gama de mobilidade. (TORTORA) O par de cartilagens corniculadas, peças em forma de chifre de cartilagem elástica, está localizado no ápice de cada cartilagem aritenóidea. (TORTORA) O par de cartilagens cuneiformes, cartilagens elásticas em forma de taco anteriores às cartilagens corniculadas, apoia as pregas vocais e as faces laterais da epiglote. (TORTORA) O revestimento da laringe superiormente às pregas vocais é de epitélio escamoso estratificado não queratinizado. (TORTORA) O revestimento da laringe inferiormente às pregas vocais é de epitélio colunar pseudoestratificado ciliado, constituído por células colunares ciliadas, células caliciformes e células basais. (TORTORA) O muco produzido pelas células caliciformes ajuda a reter a poeira que não foi removida nas vias superiores. (TORTORA) Os cílios da parte superior do sistema respiratório movem o muco e as partículas aprisionadas para baixo em direção à faringe; os cílios da parte inferior do sistema respiratório os movem para cima em direção à faringe. (TORTORA) @juliaasoare_ 3º período de Medicina Produção da voz: A fala ocorre por meio da liberação intermitente do ar expirado e da abertura e fechamento da glote. (MARIEB) Nesse processo, o comprimento das pregas vocais e o tamanho da rima da glote variam de acordo com os músculos intrínsecos da laringe, a maioria deles movimentando as cartilagens aritenóideas. (MARIEB) À medida que o comprimento e a tensão das pregas vocais se modificam, a altura do som produzido também se altera. Geralmente, quanto mais tensas as pregas vocais, mais rápido o ar expirado as faz vibrar e maior é a altura do som. (MARIEB) À medida que a laringe dos meninos aumenta durante a puberdade, a proeminência laríngea cresce na direção anterior e se transforma em um grande pomo de Adão, tornando as pregas vocais mais longas. (MARIEB) Como as pregas vocais longas vibram mais lentamente do que as pregas curtas, a voz fica mais profunda, assim como um violoncelo tem um tom mais baixo do que um violino. (MARIEB) Por essa razão, a maioria dos homens tem a voz mais baixa do que as mulheres ou os meninos. (MARIEB) A voz dos meninos adolescentes quase sempre “racha”, alternando- -se entre sons de alta e baixa frequência, já que eles ainda não aprenderam a controlar a ação de suas pregas vocais mais longas. (MARIEB) A intensidade da voz depende da força com que o ar passa pelas pregas vocais. (MARIEB) Quanto maior a força, mais fortes as vibrações e mais intenso o som. As pregas vocais não se movem quando sussurramos, mas vibram vigorosamente quando gritamos. (MARIEB) Embora as pregas vocais produzam os sons básicos da fala, toda a extensão da faringe age na amplificação da qualidade do som. (MARIEB) A cavidade oral, a cavidade nasal e os seios paranasais também contribuem para a ressonância vocal. Além disso, a fala normal e a boa enunciação dependem da “formatação” dos sons em consoantes e vogais reconhecíveis pela faringe, língua, palato mole e lábios. (MARIEB) Funções deesfíncter da laringe Em certas condições, as pregas vocais agem como um esfíncter que impede a passagem do ar. (MARIEB) Durante o esforço abdominal, como acontece quando fazemos força para defecar, os músculos abdominais contraem e a glote se fecha para impedir a expiração, elevando a pressão intratorácica e intra-abdominal. (MARIEB) Esses eventos, chamados coletivamente manobra de Valsalva, ajudam a evacuar o reto; eles também estabilizam o tronco quando erguemos uma carga pesada. (MARIEB) Inervação da Laringe A laringe recebe sua inervação sensitiva e motora de um ramo laríngeo superior do nervo vago e do nervo laríngeo recorrente, ramo do vago na região superior do tórax que, em curva ascendente, dirige-se para o pescoço. (MARIEB) Como esses nervos fornecem inervação para a maioria dos músculos da laringe, o dano a esses nervos, como pode ocorrer durante uma cirurgia nessa região, promove perturbações da fala. (MARIEB) A transecção de um nervo laríngeo recorrente imobiliza uma prega vocal, produzindo um grau de rouquidão. Em tais casos, a outra prega vocal consegue compensar e a fala continua quase normal. (MARIEB) No entanto, se ambos os nervos laríngeos recorrentes forem cortados, perde-se completamente a fala (exceto o sussurro). (MARIEB) Traqueia A traqueia é uma via tubular para o ar com aproximadamente 12 cm de comprimento e 2,5 cm de diâmetro. (TORTORA) Está localizada anteriormente ao esôfago e se estende desde a laringe até a margem superior da vértebra T V, onde se divide em brônquios primários direito e esquerdo (TORTORA) As camadas da parede da traqueia, da profunda à superficial, são: (TORTORA) 1) túnica mucosa, 2) tela submucosa, 3) cartilagem hialina e 4) túnica adventícia (composta de tecido conjuntivo areolar). Túnica Mucosa: A túnica mucosa da traqueia consiste em uma camada de epitélio colunar pseudoestratificado @juliaasoare_ 3º período de Medicina ciliado e uma camada subjacente de lâmina própria que contém fibras elásticas e reticulares. (TORTORA) Ela oferece a mesma proteção contra poeira que a túnica que reveste a cavidade nasal e a laringe. (TORTORA) Tela Submucosa: A tela submucosa consiste em tecido conjuntivo areolar que contém glândulas seromucosas e seus ductos. (TORTORA) Cartilagem hialina: Os 16 a 20 anéis horizontais incompletos de cartilagem hialina se assemelham à letra C, estão empilhados uns sobre os outros e estão ligados por tecido conjuntivo denso. (TORTORA) Podem ser palpados através da pele inferiormente à laringe. (TORTORA) A parte aberta de cada anel de cartilagem em formato de C está voltada posteriormente em direção ao esôfago e é cruzada por uma membrana fibromuscular. (TORTORA) Nessa membrana estão fibras musculares lisas transversais – chamadas músculo traqueal – e tecido conjuntivo elástico, que possibilita que o diâmetro da traqueia mude sutilmente durante a inspiração e a expiração; isso é importante para manter o fluxo de ar eficiente. (TORTORA) Os sólidos anéis de cartilagem em formato de C fornecem um suporte semirrígido para manter a desobstrução de modo que a parede traqueal não colapse para dentro (especialmente durante a inspiração) obstruindo a passagem de ar. (TORTORA) Túnica adventícia: A túnica adventícia da traqueia é composta por tecido conjuntivo areolar que une a traqueia aos tecidos circunvizinhos. (TORTORA) Árvore Bronquial Na margem superior da vértebra T V, a traqueia se divide em um brônquio principal direito, que vai para o pulmão direito, e um brônquio principal esquerdo, que vai para o pulmão esquerdo. (TORTORA) O brônquio principal direito é mais vertical, mais curto e mais largo do que o esquerdo. (TORTORA) Como resultado, um objeto aspirado tem maior probabilidade de entrar e se alojar no brônquio principal direito do que no esquerdo. (TORTORA) Tal como a traqueia, os brônquios principais contêm anéis incompletos de cartilagem e são revestidos por epitélio colunar pseudoestratificado ciliado. (TORTORA) No ponto em que a traqueia se divide em brônquios principais direito e esquerdo, uma crista interna chamada de carina é formada por uma projeção posterior e um pouco inferior da última cartilagem traqueal. (TORTORA) A túnica mucosa da carina é uma das áreas mais sensíveis de toda a laringe e traqueia para desencadear um reflexo da tosse. (TORTORA) O alargamento e distorção da carina é um sinal grave, pois geralmente indica um carcinoma dos linfonodos ao redor da região onde a traqueia se divide. (TORTORA) Ao entrar nos pulmões, o brônquio principal se divide formando brônquios menores – os brônquios lobares, uma para cada lobo do pulmão. (O pulmão direito tem três lobos, o pulmão esquerdo tem dois.) (TORTORA) Os brônquios lobares continuam ramificando-se, formando brônquios ainda menores, chamados brônquios segmentares, que irrigam segmentos broncopulmonares específicos dentro dos lobos. (TORTORA) Os brônquios segmentares então se dividem em bronquíolos. Os bronquíolos também se ramificam repetidamente e o menor dos ramos ramifica-se em tubos ainda menores chamados bronquíolos terminais. (TORTORA) @juliaasoare_ 3º período de Medicina Estes bronquíolos contêm células exócrinas bronquiolares, células colunares não ciliadas intercaladas entre as células epiteliais. (TORTORA) As células exócrinas bronquiolares podem proteger contra os efeitos nocivos de toxinas inaladas e substâncias cancerígenas, produzem surfactante (discutido em breve) e funcionam como células tronco (células estaminais), que dão origem a várias células do epitélio. (TORTORA) Os bronquíolos terminais representam o fim da zona de condução do sistema respiratório. (TORTORA) Esta extensa ramificação da traqueia até os bronquíolos terminais se assemelha a uma árvore invertida e é comumente chamada árvore bronquial. (TORTORA) À medida que a ramificação se torna mais extensa na árvore bronquial, várias mudanças estruturais podem ser observadas. (TORTORA) 1. A túnica mucosa na árvore bronquial muda de epitélio colunar pseudoestratificado ciliado nos brônquios principais, brônquios lobares e brônquios segmentares para epitélio colunar simples ciliado com algumas células caliciformes nos bronquíolos maiores, para principalmente epitélio cúbico simples ciliado sem células caliciformes nos bronquíolos menores, para principalmente epitélio cúbico simples não ciliado nos bronquíolos terminais. Recorde-se que o epitélio ciliado da membrana respiratória remove as partículas inaladas de duas maneiras. O muco produzido pelas células caliciformes retém as partículas, e os cílios movem o muco e as partículas retidas para a faringe para serem removidos. Em regiões com epitélio cúbico simples não ciliado, as partículas inaladas são removidas por macrófagos. 2. As lâminas de cartilagem gradualmente substituem os anéis incompletos de cartilagem nos brônquios principais e por fim desaparecem nos bronquíolos distais. 3. À medida que a quantidade de cartilagem diminui, a quantidade de músculo liso aumenta. O músculo liso circunda o lúmen em faixas espiraladas e ajuda a manter a permeabilidade. No entanto, como não há cartilagem de suporte, espasmos musculares podem fechar as vias respiratórias. Isto é o que acontece durante uma crise de asma brônquica, uma situação potencialmente fatal. Durante o exercício, a atividade na parte simpática da divisão autônoma do sistema nervoso (SNA) aumenta e a medula da glândula suprarrenal libera os hormônios epinefrina e norepinefrina; estes dois eventos causam o relaxamento do músculo liso nos bronquíolos, que dilata as vias respiratórias. Como o ar chega aos alvéolos mais rapidamente, a ventilação pulmonar melhora. (TORTORA) A parte parassimpática do SNA e os mediadores de reações alérgicas, como ahistamina, têm efeito oposto, causando contração do músculo liso brônquico, o que resulta em constrição dos brônquios distais. (TORTORA) Broncoaspiração Epidemiologia Antes do século 20, a ACE apresentava uma taxa de mortalidade alta, entre 24% e 50%. (GOLÇALVES, 2011) O corpo estranho (CE) não era removido, sendo o único tratamento a traqueostomia paliativa. Ao paciente restava todas as complicações relacionadas à presença do objeto na via aérea. (GOLÇALVES, 2011) Com o desenvolvimento da broncoscopia, a mortalidade diminuiu dramaticamente para menos de 1%. (GOLÇALVES, 2011) No entanto, nos Estados Unidos, a ACE foi responsável por mais de 3.500 mortes por ano entre 2005 e 2007, incluindo mais de 3.700 episódios fatais em 2007. (GOLÇALVES, 2011) Nos Estados Unidos, a morte causada por asfixia após a ACE é a quinta causa mais comum de mortalidade e a principal causa de mortalidade por lesão acidental em crianças menores de 01 ano. (GOLÇALVES, 2011) @juliaasoare_ 3º período de Medicina A ACE pode ocorrer em qualquer fase da vida, mas é um evento muito mais frequente em crianças e idosos. Nesses últimos, é muitas vezes decorrente de mastigação ineficiente pelo uso de próteses dentárias inadequadas. (GOLÇALVES, 2011) Quanto ao estado físico dos corpos estranhos, os mais comumente aspirados são sólidos, como brinquedos de materiais plásticos e metálicos, assim como substâncias alimentícias, especialmente vegetais oleosos como amendoim e não oleosos como feijão e milho. Como material liquido são citados leite, material gástrico, mecônio e água doce ou salgada em casos de afogamento; como material gasoso, observa-se principalmente a inalação de fumaça. (RUBENICH, 2013) O grão de amendoim é o corpo estranho encontrado com mais frequência em diversos estudos em varias partes do mundo. (RUBENICH, 2013) Crianças: Cerca de 80% dos casos de ACE ocorrem em crianças, com um pico de incidência entre 01 e 3 anos. (GOLÇALVES, 2011) Nessa faixa etária, as crianças exploram o mundo através da via oral; possuem coordenação motora fina para colocar um pequeno objeto na boca, mas não possuem dentes molares e mastigam os alimentos de forma incompleta, com os dentes incisivos, o que predispõe à ACE. (GOLÇALVES, 2011) Outros fatores que também predispõem à ACE nessa faixa etária incluem o acesso a alimentos impróprios ou a pequenos objetos, realização de outras atividades concomitantes com a alimentação e o fato de irmãos mais velhos oferecerem alimentos ou objetos para bebês e crianças pequenas. (GOLÇALVES, 2011) A prevalência é maior em meninos do que em meninas, numa proporção de 2:1. (GOLÇALVES, 2011) As sementes, principalmente amendoim, milho e feijão, são os principais CEs aspirados por crianças em nosso meio, correspondendo a 40% das ocorrências. (GOLÇALVES, 2011) No entanto, fragmentos de brinquedos, brincos, tampas de canetas, entre outros, são relatados. (GOLÇALVES, 2011) A aspiração de bexigas e balões vazios é grave e muitas vezes fatal. (GOLÇALVES, 2011) Associam-se CEs laringotraqueais com o aumento da morbidade e mortalidade. Isso é particularmente comum em crianças menores de 1 ano. (GOLÇALVES, 2011) Um outro aspecto deve ser considerado, como a aspiração do talco usado em lactentes que desenvolve um quadro respiratório agudo e febril que pode evoluir para o óbito, assim como o afogamento que constitui uma das causas mais freqüentes de morte acidental infantil. (RUBENICH, 2013) Adultos: Os casos sobre corpo estranho em via aérea ACE em adultos é limitada, com faixa etária variando entre 18 e 88 anos e idade média de 60 anos. (GOLÇALVES, 2011) Adultos raramente aspiram CEs, ocorrendo geralmente quando são submetidos a procedimentos em orofaringe, estão inconscientes por diferentes motivos (medicação, intoxicação ou politraumatizados) ou apresentam problemas neurológicos e psiquiátricos. (GOLÇALVES, 2011) Nesses, a natureza do CE é altamente variável e muito relacionada aos hábitos (GOLÇALVES, 2011) Próteses dentárias, pregos, clips, estilhaços de acidentes e fragmentos de ossos são os CEs mais encontrados em adultos, sendo principalmente relacionados a atividades profissionais. (GOLÇALVES, 2011) Procedimentos dentários em que se utilizam pequenos instrumentos na cavidade oral aberta, em pacientes com extensão cervical e com a via aérea “desprotegida”, são especialmente mais perigosos. (GOLÇALVES, 2011) A aspiração de fragmentos de dentes e minibrocas é relatada na literatura. (GOLÇALVES, 2011) Etiologia A broncoaspiração consiste na entrada de substâncias estranhas nas vias aéreas inferiores. (GOLÇALVES, 2011) A aspiração de corpo estranho (ACE) é um acidente grave e potencialmente fatal, com gravidade dependente principalmente do grau de obstrução da via aérea. (GOLÇALVES, 2011) Caso ocorra uma obstrução total ou subtotal, especialmente de laringe ou traqueia, a asfixia pode rapidamente causar a morte. (GOLÇALVES, 2011) Menores graus de obstrução ou a passagem do objeto obstrutivo para regiões mais distais da árvore brônquica @juliaasoare_ 3º período de Medicina geralmente provocam sintomas mais brandos. (GOLÇALVES, 2011) A aspiração pulmonar pode ser aguda (acidental) ou crônica (habitual). (NEVES, 2009) Aguda: A aspiração aguda pode ocorrer desde o período neonatal até a adolescência. A granulação e a composição do material aspirado são elementos importantes em função das reações orgânicas que ocasionam. (NEVES, 2009) Crônica: Os casos de aspiração crônica podem ocorrer devido a refluxo gastroesofágico (RGE) com aspiração do conteúdo gástrico e alimentos, em função de distúrbios da deglutição com predomínio de alimentos, saliva e secreções brônquicas. (NEVES, 2009) Além disso, doenças neurológicas - coma e epilepsia - onde são aspirados saliva e conteúdo gástrico podem ocasionar casos de aspiração crônica. Outra causa é a síndrome adeno-tonsilo-sinusal, com aspiração de secreções infectadas. (NEVES, 2009) A síndrome da aspiração também pode ser classificada de acordo com o tipo de matéria, que foi aspirado: (NEVES, 2009) • Irritativa (pneumonites químicas por ácido, hidrocarbonetos, óleo vegetal e álcool). • Infecciosa (aspiração de saliva e secreções contaminadas). • Obstrutiva (causadas por afogamento e aspiração de corpo estranho). Fatores de risco Algumas situações ou condições clínicas comprometem a proteção fisiológica das vias aéreas inferiores: (RUBENICH, 2013) • Lesão mecânica na glote ou no esfíncter esofágico; • Distúrbios de deglutição; • Déficit neurológico; • Doença do refluxo gastroesofágico; • Gestantes; • Obesos; • Alimentação por sonda nasogástrica; • Disfagia mecânica; • Doença pulmonar obstrutiva crônica descompensada; • Intubação orotraqueal. Fisiopatologia As vias aéreas superiores apresentam como mecanismo de defesa, o movimento coordenado entre respiração e a deglutição. (RUBENICH, 2013) A coordenação entre o fechamento laríngeo, a deglutição e o espasmo da laringe ou tosse responde à estimulação da faringe ou laringe. (RUBENICH, 2013) Na aspiração direta, durante o ato de deglutição, o conteúdo do orofaringe atinge as vias aéreas inferiores, promovendo obstrução laríngea ou brônquica e sufocação ou atelectasia maciça. (RUBENICH, 2013) Geralmente, a criança pequena tem tendência a colocar objetos na boca e por vezes, acidentalmente, aspirar objetos, podendo ocorrer episódio de engasgo, até mesmo a obstrução aguda e fatal das vias aéreas. (RUBENICH, 2013) Após a aspiração, ocorre a tosse paroxística e apneia em grau variável, podendo levar a morte, a depender das características do material que foi aspirado, como: volume, capacidade de lesar os tecidos e tamanho das partículas. (RUBENICH, 2013) A presença de corpos estranhos no esôfago podecausar sintomas respiratórios, pelo fato de que a laringe, traquéia e esôfago constituem uma unidade embriológica e funcional. (RUBENICH, 2013) Quando o corpo estranho ultrapassa o esfíncter esofágico superior, pode ficar retido por estenose esofágica ou por características do próprio corpo estranho, tais como tamanho e forma. (RUBENICH, 2013) Manifestações Clínicas Quando se dá a aspiração acidental de um corpo estranho, a manifestação clássica é a tosse paroxística, mecanismo de defesa natural de eliminação do objeto aspirado. (BITTENCOURT, 2002) Dependendo da idade do paciente, do tipo de corpo estranho aspirado e de sua localização nas vias aéreas, pode haver obstrução parcial ou total à passagem de ar. (BITTENCOURT, 2002) Superado o quadro inicial, segue-se um período oligo ou mesmo assintomático, que pode variar de horas a dias ou mesmo semanas, até o reaparecimento dos sintomas. (BITTENCOURT, 2002) • Um corpo estranho alojado na laringe pode ocasionar a obstrução completa do trato @juliaasoare_ 3º período de Medicina respiratório e, consequentemente, a morte da criança, em 45% dos casos. (BITTENCOURT, 2002) Se a obstrução é parcial, pode ocasionar roncos, rouquidão, afonia, odinofagia, hemoptise e dispneia de intensidade variável, sendo que esses objetos podem permanecer impactados por períodos prolongados. (BITTENCOURT, 2002) • A instalação na traqueia também é potencialmente fatal, sobretudo nas crianças menores de um ano, dependendo, evidentemente, do grau de obstrução. Pode-se auscultar o choque do mesmo contra a parede da região subglótica e carina principal durante sua movimentação, ou mesmo sentir seu impacto na palpação do tórax. (BITTENCOURT, 2002) A presença de sibilos difusos é percebida na maioria dos casos. (BITTENCOURT, 2002) • Quando de sua impactação na árvore brônquica, os principais sinais e sintomas são a tosse e os sibilos, estes frequentemente unilaterais, além da diminuição dos ruídos respiratórios localizados, dispneia de intensidade variável e cianose também podem acompanhá-los. (BITTENCOURT, 2002) A diversidade de manifestações clínicas também está relacionada à natureza, orgânica ou inorgânica, do corpo estranho aspirado. (BITTENCOURT, 2002) Como os objetos orgânicos desencadeiam com mais frequência reações inflamatórias, podem elas acelerar o grau de obstrução ao fluxo de ar e, assim, encurtar a duração da fase assintomática. (BITTENCOURT, 2002) Losek, em 1990, constatou que 40% dos seus pacientes com aspiração de corpos estranhos inorgânicos apresentavam exame físico normal, enquanto nas crianças que aspiraram material orgânico, o exame físico era normal em apenas 13% dos casos. (BITTENCOURT, 2002) Importante constatação também deste autor foi a de que 57% de seus pacientes apresentou um período assintomático, e que 19% tinha o exame físico normal. (BITTENCOURT, 2002) O quadro clinico é variado com manifestações como broncopneumonia, atelectasia ,bronquiectasia, insuficiência respiratória e morte. (RUBENICH, 2013) • Broncopneumonia: inflamação que atinge o pulmão, mais especificamente, os brônquios e alvéolos pulmonares. • Atelectasia: os alvéolos pulmonares sofrem um colapso, se fechando e ficando sem ar em seu interior. • Bronquiectasia: é uma dilatação irreversível nos brônquios resultante de lesão na parede das vias aéreas. • Insuficiência respiratória: os pulmões estão incapazes de realizar as trocas gasosas. Outros sintomas na criança: dificuldade no ato da alimentação, presença de leite na boca ou narinas nos intervalos das mamadas, engasgo, vômitos, regurgitações habituais, tosse noturna, cianose e apneia. (RUBENICH, 2013) Diagnóstico A anamnese é de extrema importância de vez que em 95% dos casos, a tríade engasgo sufocação e tosse, está presente. (RUBENICH, 2013) Radiografia do tórax: geralmente está alterado em 80 % dos casos. (GOLÇALVES, 2011) A maioria dos CEs aspirados não é radiopaca, sendo que aproximadamente 20% das radiografias em pacientes com ACE confirmada são normais. (GOLÇALVES, 2011) Portanto, uma radiografia normal não exclui a presença de CE em via aérea. (GOLÇALVES, 2011) O diagnóstico de ACE é facilmente estabelecido com radiografias simples quando o objeto é radiopaco(GOLÇALVES, 2011) A radiografia de tórax póstero-anterior inspiratória e expiratória deve ser realizada sempre que possível, com especial atenção para áreas de hiperinsuflação decorrentes de aprisionamento aéreo, atelectasias lobares ou segmentares, desvia de mediastino, pneumomediastino, pneumotórax e enfisema subcutâneo. (GOLÇALVES, 2011) Em pacientes que não colaboram, a radiografia em decúbito lateral pode ajudar na visualização de aprisionamento de ar em alguns casos. (GOLÇALVES, 2011) Endoscopia respiratória ou broncoscopia: A broncoscopia deve ser realizada em todos os casos de suspeita de ACE. (GOLÇALVES, 2011) @juliaasoare_ 3º período de Medicina Conclui-se que o passo mais importante no diagnóstico é levantar a hipótese diagnóstica de ACE, sendo a broncoscopia considerada o procedimento padrão ouro no diagnóstico e tratamento da ACE. (GOLÇALVES, 2011) Quase todos os CEs aspirados podem ser extraídos pela broncoscopia. As taxas de sucesso para a extração de CEs são acima de 98%. (GOLÇALVES, 2011) Nos casos de falha, broncotomia cirúrgica ou ressecção segmentar podem ser necessárias, sendo consideradas de exceção. (GOLÇALVES, 2011) A obstrução crônica dos brônquios, com formação de bronquiectasias e com destruição do parênquima pulmonar, pode exigir ressecção segmentar ou lobar. (GOLÇALVES, 2011) O procedimento deve ser realizado por um broncoscopista e equipe com experiência em extração de CEs, em local apropriado, onde existam todos os equipamentos necessários para a sedação ou a anestesia do paciente, extração do CE e manobras de ressuscitação quando necessárias. (GOLÇALVES, 2011) Ressonância magnética: tem se mostrado de grande precisão, principalmente, na localização de vegetais fragmentados. (NEVES, 2009) Quando a ACE é parcial, a criança pode tossir e esboçar sons. Nesta situação, o melhor procedimento é a não intervenção no ambiente doméstico e encaminhamento a um serviço de saúde, para o tratamento definitivo. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA) Quando a ACE é total, a criança não consegue esboçar qualquer som, está com asfixia, falta de ar importante e até com os lábios arroxeados. Nesta situação, deve-se proceder da seguinte maneira: (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA) Maiores de um ano: manobra de Heimlich, que consiste em compressões abaixo das costelas, com sentido para cima, abraçando a criança por trás, até que o CE seja deslocado da via aérea para a boca e expelido. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA) Menores de um ano: 5 percussões com a mão na região das costas, a criança com a cabeça virada para baixo, seguida de 5 compressões na frente, até que o CE seja expelido ou a criança torne-se responsiva e reaja. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA) OBS: Se você conseguir visualizar o CE na boca, retire- o com cuidado, mas não tente ir às cegas com o dedo na boca, pois pode provocar lesões na região ou empurrar o corpo estranho para regiões mais baixas, e piorar o quadro de obstrução. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA) Medidas preventivas para broncoaspiração em criança Para prevenir o engasgo e aspiração é necessário: (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA) • Não ofereçer alimentos a crianças menores de 4 anos, sem amassar e desfiar as fibras. • Não deixar pedaços de alimentos no prato, principalmente os arredondados. • Os seguintes alimentos são de risco potencial para a aspiração: sementes, amendoim, castanha, nozes, milho, feijão, pedaços de carne e queijo, uvas inteiras, salsicha, balas duras, pipoca, chicletes.• Mantenha os seguintes itens da casa, longe do alcance de crianças menores de 4 anos: balões, @juliaasoare_ 3º período de Medicina moedas, bolinha de gude, brinquedos com peças pequenas, bolas pequenas, botões, baterias esféricas de aparelhos eletrônicos, canetas com tampa removível • Estar ciente das manobras de desobstrução que você pode fazer em casa, citadas acima. • Insistir para que as crianças comam à mesa, sentadas. Evite alimentá-las enquanto correm, andam, brincam, estão rindo e não deixá-las deitar com alimento na boca. • Corte os alimentos em pedaços bem finos e ensine a criança a mastigá-los. • Supervisione sempre a alimentação de crianças pequenas. • Fique atento às crianças mais velhas. Muitos acidentes ocorrem quando irmãos ou irmãs mais velhas oferecem objetos ou alimentos perigosos para os menores. • Evite comprar brinquedos com partes pequenas e mantenha objetos pequenos da casa fora do alcance das crianças. • Siga a recomendação da embalagem dos brinquedos, com relação à idade ideal para aquisição. • Não deixe crianças pequenas brincarem com moedas. Referências: Tortora, Gerard, J. e Bryan Derrickson. Princípios de Anatomia e Fisiologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (14ª edição). Grupo GEN, 2016. BITTENCOURT, Paulo FS; CAMARGOS, Paulo AM. Aspiração de corpos estranhos. Jornal de Pediatria, v. 78, p. 09-18, 2002. GONÇALVES, Manoel EP; CARDOSO, Silvia R.; RODRIGUES, Ascedio J. Corpo estranho em via aérea. Pulmão RJ, v. 20, n. 2, p. 54-8, 2011. RUBENICH, Rosana et al. Broncoaspiração no perioperatório e na emergência: diagnóstico e manejo. Acta méd. Porto Alegre [Internet], v. 34, n. 1, p. 18, 2013. NEVES, Olga Maria Domingues; BRASIL, Laélia Maria Barra Feio; AMORIM, Cláudio Sérgio Carvalho de. Processos aspirativos pulmonares em crianças. Rev. para. med, 2009. Aspiração de corpo estranho. Sociedade Brasileira de Pediatria. MARIEB, E. N.; HOEHN, K. Anatomia E Fisiologia. 3ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2009 @juliaasoare_ 3º período de Medicina
Compartilhar