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TRANSTORNOS SOMATOFORMES 1. Caracterizar os transtornos de sintomas somáticos e sintomas relacionados, transtorno conversivo, transtorno de ansiedade de doença, transtorno factício, transtorno dismórfico corporal quanto à: tipos, epidemiologia, etiologia, diagnóstico, características clínicas e tratamento. TRANSTORNO DE SINTOMAS SOMÁTICOS Também conhecido como hipocondria. Preocupação geral e não delirante com temores de ter, ou a ideia de que tem, uma doença grave com base na falsa interpretação de sintomas corporais. Essa preocupação causa sofrimento significativo e prejuízo na vida do indivíduo e não é justificada por outro transtorno psiquiátrico ou clínico. EPIDEMIOLOGIA Prevalência reportada se seis meses é de 4 a 6% na população geral, mas pode ser até de 15%. Homens e mulheres são igualmente afetados. Aparece com mais frequência em pessoas entre 20 e 30 anos. ETIOLOGIA As pessoas com esse transtorno aumentam e amplificam suas sensações somáticas e têm baixos limiares e baixa tolerância ao desconforto físico. Relacionado com lobo Frontal, Límbico e somatosensorial. Modelo de aprendizagem social: sintomas vistos como pedido de admissão ao papel de doente, visto que o papel de doente oferece um escape que lhe possibilita evitar obrigações desagradáveis, adiar projetos indesejados e ser dispensado dos deveres e das obrigações habituais. Escola de pensamento psicodinâmico: sustenta que desejos agressivos e hostis em relação a outras pessoas são transferidos (por meio de repressão e deslocamento) para queixas físicas. A raiva dos pacientes com esse transtorno origina-se de decepções, rejeições e perdas no passado, mas eles a expressam no presente reivindicando a ajuda e a preocupação de outras pessoas e depois rejeitando-as como ineficientes. Esse transtorno também é visto como uma defesa contra a culpa, um sentimento de maldade inata, uma expressão da baixa autoestima e um sinal de egocentrismo excessivo. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Os indivíduos acreditam que têm uma doença grave ainda não detectada, e não é possível serem persuadidos do contrário. A convicção persiste apesar dos resultados laboratoriais negativos, do curso benigno da doença alegada ao longo do tempo e das devidas garantias por parte do médico. Costuma coexistir com um transtorno depressivo ou de ansiedade. Estados que duram menos de seis meses são diagnosticados no DSM-5 como “Outros transtornos de sintomas somáticos especificados ou relacionados”. DIAGNÓSTICO Preocupação com a falsa crença de que tem uma doença grave, com base em sua falsa interpretação de sinais ou sensações físicas. A crença deve durar pelo menos seis meses. A crença não deve ter a intensidade de um delírio e não deve estar restrita a um sofrimento em relação a aparência. Os sintomas do transtorno de sintomas somáticos devem ser suficientemente intensos para causar sofrimento emocional ou prejuízo na capacidade de funcionamento em diversas áreas da vida. Os clínicos podem especifica a presença de insight deficiente. Critérios diagnósticos do DSM-5: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Condições médicas não psiquiátricas como aids, endocrinopatias, miastenia grave, esclerose múltipla, doenças degenerativas do sistema nervoso, lúpus sistêmico eritematoso e distúrbios neoplásicos ocultos. Transtorno de ansiedade de doença: medo de ter uma doença em vez da preocupação com muitos sintomas, costumam se queixar de menos sintomas, sua principal preocupação é com a possibilidade de adoecer. Transtorno conversivo: é agudo, em geral transitório, envolve um sintoma em vez de uma doença em particular. Transtorno dismórfico corporal: os pacientes desejam parecer normais, mas acreditam que os outros notem que não são, enquanto aqueles com transtorno de sintomas somáticos procuram atenção para suas doenças presumidas. Transtorno de pânico: podem queixar de estarem afetado por uma doença, mas o questionamento atento durante a história médica costuma descobrir os sintomas clássicos de ataques de pânico. Transtorno factício com sintomas físicos e de simulação: os pacientes com transtorno de sintomas somáticos realmente sentem, e não simulam, os sintomas que relatam. TRATAMENTO Pacientes com o transtorno costumam resistir ao tratamento psiquiátrico, no entanto, alguns aceitam em um contexto médico e focar na redução do estresse e na educação para enfrentamento de doença crônica. Psicoterapia em grupo, individual orientada para o insight, comportamental, cognitiva e hipnose podem ser úteis. Exames físicos frequentes ajudam a tranquilizar os pacientes por suas queixas serem levadas a sério e por seu médico não o abandonar. Procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos só devem ser realizados diante de evidências. Evitar tratar achados ambíguos ou incidentais ao exame físico. Farmacoterapia alivia um transtorno de sintomas somáticos somente quando o paciente apresenta uma condição subjacente responsiva a drogas, como um transtorno de ansiedade ou um depressivo. TRANSTORNO DE SINTOMAS NEUROLÓGICOS FUNCIONAIS (TRANSTORNO CONVERSIVO) Doença de sintomas ou déficits que afetam funções motoras ou sensoriais voluntarias, sugerindo outra condição clínica, mas que aparenta ser causada por fatores psicológicos, pois é precedida por conflitos ou outros estressores. Os sintomas ou déficits não são produzidos de modo intencional e não são causados pelo uso de substância, não estão limitados a sintomas dolorosos ou sexuais. O ganho é primariamente psicológico, e não social, financeiro ou legal. Os sintomas mais comuns estão apontados na tabela ao lado. EPIDEMIOLOGIA Taxas variam de 11 em 100 mil a 300 em 100 mil em amostras da população geral. Estudos apontam que 5 a 15% das consultas psiquiátricas em um hospital geral e 25 a 30% das internações em um hospital para veteranos de guerra envolvem pacientes com diagnóstico de transtorno conversivo. Entre algumas populações especificas é o transtorno de sintomas somáticos mais comum, A proporção de homens e mulheres em pacientes adultos é de pelo menos 2 para 1 até 10 para 1. Entre crianças tem predominância maior em meninas. Em homens existe uma associação entre o transtorno conversivo e o transtorno da personalidade antissocial. Homens com o transtorno com frequência estiveram envolvidos em acidentes ocupacionais ou militares. Início geralmente no fim da infância até início da idade adulta – entre 10 e 35 anos. Mais comum entre as populações rurais, pessoas com baixo grau de instrução, com baixo QI, em grupos com nível socioeconômico baixo e em militares que foram expostos a situações de combate. Risco aumentado de ocorrência em pares de gêmeos monozigóticos, mas não nos dizigóticos. Um episódio é preditor de episódios futuros. ETIOLOGIA Fatores psicanalíticos: o transtorno é causado pela repressão de um conflito intrapsíquico inconsciente e pela conversão da ansiedade em um sintoma físico. Conflitos acontecem entre um impulso instintivo e a proibição de sua expressão. Os sintomas podem evitar o confronto consciente com seus impulsos inaceitáveis. Os sintomas podem funcionar como um meio não verbal de controlar ou manipular os outos. Teoria da aprendizagem: comportamento aprendido condicionado classicamente; os sintomas de doença, aprendidos na infância são suscitados como um meio de enfrentamento de uma situação que de outra forma seria impossível. Fatores biológicos: estudos encontraram hipometabolismo do hemisfério dominante e hipermetabolismo do hemisfério não dominante e envolveram uma comunicação prejudicada entre os hemisférios na causa desse transtorno. Os sintomas podem ser causados por uma excitação cortical excessiva que desencadeia circuitos de retorno negativo entre o córtex cerebral e a formação reticular do tronco encefálico.Níveis elevados de débito corticofugal inibem a consciência do paciente da sensação corporal, o que pode explicar os déficits sensoriais observados em alguns indivíduos afetados. Testes neuropsicológicos, algumas vezes, revelam prejuízos sutis na comunicação verbal, na memória, na vigilância e na atenção, bem como incongruência afetiva nesses pacientes. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Paralisia, cegueira e mutismo são os sintomas mais comuns. Sintomas sensoriais: anestesia e parestesia, especialmente das extremidades; surdez, cegueira e visão de túnel; todos esses sintomas costumam ser incompatível com doença neurológica central ou periférica; os sintomas podem ser unilaterais ou bilaterais, mas a avaliação neurológica revela caminhos sensoriais intactos. Sintomas motores: incluem movimentos anormais; o distúrbio de marcha visto é astasia-abasia, que é uma marcha extremamente atáxica e cambaleante acompanhada por movimentos truncais grosseiros, irregulares,movimentos espasmódicos truncais e balanço dos braços; tremores rítmicos grosseiros; movimentos coreiformes; tiques; espasmos; fraqueza; paralisia e paresia envolvendo um, dois ou os quatro membros, embora a distribuição dos músculos afetados não se conforme aos caminhos neurais; reflexos permanecem normais; os pacientes não têm fasciculações ou atrofia muscular (exceto depois de paralisia conversiva de longa data); os achados eletromiográficos são normais. Sintomas convulsivos: pseudoconvulsão morder a língua, incontinência urinaria e lesões após uma queda geralmente não estão presentes; o reflexo pupilar e de mordedura é mantido após uma pseudoconvulsão; os pacientes não têm aumento pós-convulsão nas concentrações de prolactina. Sintomas psicológicos: Ganho primário: manter os conflitos internos fora de sua consciência; os sintomas têm valor simbólico; representam um conflito psicológico inconsciente. Ganho secundário: vantagens e benefícios de estarem doente como ser dispensado de obrigações e situações vitais difíceis, recebendo apoio e assistência que de outra forma não estariam disponíveis e controlando o comportamento de outras pessoas. La belle indifférence: atitude inapropriadamente arrogante de um paciente em relação a sintomas graves, isto é, parece estar despreocupado com o que parece ser um prejuízo importante; não é patognomônica, mas frequentemente está associada à condição. Identificação: podem moldar seus sintomas de forma inconsciente conforme os de alguém importante; durante a reação de luto patológico, as pessoas enlutadas costumam ter sintomas do morto. DIAGNÓSTICO DSM-5 limita o diagnostico àqueles sintomas que afetam uma função motora ou sensorial voluntária (sintomas neurológios). Os médicos não conseguem explicar os sintomas neurológicos com base em uma condição neurológica conhecida. Existir uma associação entre a causa dos sintomas neurológicos e fatores psicológicos, embora os sintomas não possam resultar de simulação ou transtorno factício. O DSM-5 permite a especificação do tipo de sintoma ou déficit visto no transtorno conversivo – por exemplo, com fraqueza ou paralisia, com movimentos anormais ou com ataques ou convulsões. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL É essencial uma avaliação clínica e neurológica minuciosas em todos os casos. Se puderem ser resolvidos por meio de sugestão, hipnose ou amobarbital parenteral ou lorazepam, os sintomas provavelmente são o resultado de transtorno conversivo. Distúrbios neurológicos, tumores cerebrais e doença dos gânglios da base devem ser considerados no diagnóstico diferencial. Transtorno de sintomas somáticos (hipocondria): também ocorrem sintomas sensório-motores, mas inclui sintomas em muitos outros sintomas orgânicos, as pessoas não têm perda real ou distorção da função; as queixas somáticas são crônicas e não estão limitadas aos sintomas neurológicos, e as atitudes e crenças hipocondríacas características estão presentes. Simulação e transtorno factício: os sintomas estão sob o controle voluntário consciente; a história é mais inconsistente e contraditória do que a de um paciente com transtorno conversivo. TRATAMENTO A resolução do sintoma do transtorno conversivo é, em geral, espontânea, embora provavelmente seja facilitada por terapia de apoio orientada para o insight ou terapia comportamental. Hipnose, ansiolíticos e exercícios de relaxamento corporal são eficazes em alguns casos. Amobarbital ou lorazepam parenteral podem ser úteis na obtenção de informações adicionais da história, sobretudo quando o indivíduo recentemente vivenciou um evento traumático. As abordagens psicodinâmicas incluem psicanálise e psicoterapia orientada para o insight, formas breves e diretas de psicoterapia de curta duração também já foram usadas para tratar o transtorno. TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE DOENÇA Se aplica àquelas pessoas que são preocupadas com ter ou contrair uma doença. Nesse transtorno existe pouco ou nenhum sintoma somático e as pessoas estão principalmente preocupadas com a ideia de estarem doentes. O diagnóstico também pode ser usado para pessoas que, de fato, têm uma doença clínica, mas cuja ansiedade é desproporcional ao diagnóstico, e que imaginam o pior resultado possível. EPIDEMIOLOGIA Prevalência desconhecida. Levantamentos mostram que até 15% das pessoas na população em geral se preocupam com ficar doentes e incapacitadas, como consequência. É esperado maior frequência em idosos do que em pessoas mais jovens. ETIOLOGIA Etiologia desconhecida. Modelo da aprendizagem social pode ser aplicado – sintomas vistos como pedido de admissão ao papel de doente, visto que o papel de doente oferece um escape que lhe possibilita evitar obrigações desagradáveis, adiar projetos indesejados e ser dispensado dos deveres e das obrigações habituais. Visão da escola de pensamento psicodinâmica: Desejos agressivos e hostis em relação a outras pessoas são transferidos para queixas físicas menores ou para o medo de doença física. A raiva se origina de decepções, rejeições e perdas do passado. O medo de doença é visto como uma defesa contra a culpa, um sentimento de maldade inata, uma expressão da baixa autoestima e um sinal de egoísmo excessivo. A doença temida pode ser encarada como punição por transgressões passadas reais ou imaginárias. A natureza das relações do paciente com outras pessoas significativas em sua vida também pode ser relevante. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Os pacientes acreditam que têm uma doença grave que ainda não foi diagnosticada e não podem ser persuadidos d contrário. Mantêm uma crença de uma doença em particular ou, com o tempo, podem transferir sua crença para outra doença. A convicção persiste apesar dos resultados laboratoriais negativos, do curso benigno da doença alegada e da devida tranquilização por parte do médico. A preocupação com a doença interfere em sua interação com a família, amigos e colegas de trabalho. Frequentemente são viciados em realizar pesquisas na internet sobre sua doença temida, inferindo o pior das informações. DIAGNÓSTICO Principal critério são as preocupações com a falsa crença de que têm ou irão desenvolver uma doença grave e a existência de poucos sinais ou sintomas físicos, ou de nenhum. A crença deve durar pelo menos seis meses, e não existem achados patológicos nos exames médicos ou neurológicos. A crença não pode ter a intensidade de um delírio, e não pode ser um sofrimento com a aparência. A ansiedade acerca da doença deve ser incapacitante e causar sofrimento emocional ou prejuízo na capacidade de funcionamento. Os critérios diagnósticos do DSM-5 estão na tabela ao lado: DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Deve ser diferenciado de outras condições clinicas. Transtornos de sintomas somáticos: a preocupação está associada a muitos sintomas,enquanto no transtorno de ansiedade de doença a ênfase é dada ao medo de ter uma doença e costumam se queixar de menos sintomas. Transtorno conversivo: é agudo, geralmente transitório, envolve um sintoma em vez de uma doença em particular. Transtorno de pânico: as pacientes podem se queixar de que estão afetados por uma doença, mas um questionamento cuidadoso durante a coleta da história médica revela os sintomas clássicos de um ataque de pânico. Transtorno obsessivo-compulsivo: possui crenças e traços comportamentais compulsivos, mesmo que com frequência exista uma qualidade obsessiva no medo dos pacientes com transtorno de ansiedade de doença. TRATAMENTO Os pacientes em geral resistem ao tratamento psiquiátrico, embora alguns o aceitem se ele ocorrer em um contexto médico e focar na redução do estresse e na educação para enfrentamento de doença crônica. Psicoterapia de grupo, individual orientada para o insight, comportamental, cognitiva e hipnose, podem ser úteis. O papel dos exames médicos físicos agendados com regularidade é controverso. Alguns pacientes podem se beneficiar por serem tranquilizados de que suas queixas estão sendo levadas a sério e de que não têm a doença que temem. Outros, no entanto, são resistentes a consultar um médico ou, se o fazem, relutam em aceitar o fato de que não há coisa alguma com que se preocupar. Procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos somente devem ser realizados quando evidências objetivas assim exigirem. Evitar tratar achados ambíguos ou incidentais ao exame físico. Farmacoterapia pode ser útil no alívio da ansiedade gerada pelo medo que o paciente tem de doença; mas é apenas paliativa e não proporciona alívio duradouro. O alivio duradouro é alcançado através de programa psicoterápico eficaz que seja aceitável para o paciente, ao qual ele esteja disposto e do qual seja capaz de participar. TRANSTORNO FACTÍCIO Os pacientes com esse transtorno simulam, induzem ou agravam a doença para receber atenção médica, independentemente de estarem ou não doentes. Podem infligir lesões dolorosas, deformantes ou até mesmo com perigo de morte a si mesmos, a seus filhos ou a outros dependentes. A motivação é apenas receber cuidados médicos e participar do sistema de saúde. O transtorno pode provocar morbidade significativa ou até mesmo mortalidade. Mesmo que as queixas apresentadas sejam falsificadas, as necessidades clínicas e psiquiátricas desses indivíduos devem ser levadas a sério. Síndrome de Münchausen: síndrome na qual os pacientes enfeitam sua história pessoal, fabricam sintomas cronicamente para obter internação hospitalar e peregrinam de hospital em hospital. EPIDEMIOLOGIA Não existem dados abrangentes. Estudos limitados indicam que aproximadamente 0,8 a 1% dos pacientes que consultam a psiquiatria tem o transtorno. Em torno de dois terços dos pacientes com síndrome de Münchausen são homens. Eles tendem a ser brancos, de meia-idade, desempregados, não casados e sem vínculos sociais ou familiares significativos. Pacientes diagnosticados com transtorno factício com sinais e sintomas físicos, preponderam as mulheres, que superam os homens em uma proporção de 3 para 1. Elas, em geral, têm entre 20 e 40 anos, com uma história de emprego ou educação em ocupações de enfermagem ou de assistência à saúde. O transtorno factício por procuração (denominado transtorno factício imposto a outro no DSM-5 é mais comumente perpetrado por mulheres contra bebês ou crianças pequenas. ETIOLOGIA Fatores psicossociais: Relatos de caso empíricos indicam que muitos dos pacientes com o transtorno sofreram abuso ou privação na infância, resultando em hospitalizações frequentes durante os primeiros anos do desenvolvimento. Em tais circunstâncias, uma internação hospitalar pode ter sido considerada uma fuga de uma situação traumática em casa, e o paciente pode ter encontrado uma série de cuidadores amáveis e atenciosos. Além do mais, as famílias de origem dos pacientes incluíam uma mãe rejeitadora ou um pai ausente. Os mecanismos de defesa significativos são repressão, identificação com o agressor, regressão e simbolização. Fatores biológicos: disfunção cerebral – hipótese de que uma deficiência no processamento da informação contribua para a pseudologia fantástica e o comportamento aberrante dos pacientes com transtorno de Münchausen; entretanto, não foi estabelecido nenhum padrão genético, e estudos eletrencefalográficos (EEG) não observaram anormalidades específicas em pacientes com transtornos factícios. DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Transtorno factício é a imitação de sinais e sintomas físicos ou psicológicos. Os indícios que despertam suspeita do transtorno são apresentados na Tabela: Entrevistas com fontes externas confiáveis frequentemente revelam a falsa natureza da doença do paciente. A verificação de todos os fatos apresentados por ele sobre hospitalizações prévias e assistência médica é essencial. O transtorno factício foi dividido em dois grupos, dependendo dos tipos de sinais ou sintomas simulados: Transtorno factício com sinais e sintomas predominantemente psicológicos: os sintomas simulados costumam incluir depressão, alucinações, sintomas dissociativos e conversivos e comportamento bizarro. Os pacientes parecem deprimidos e podem explicar sua depressão apresentando uma história falsa de morte recente de um amigo ou parente significativo. Outros pacientes podem descrever perda de memória recente ou remota ou alucinações auditivas e visuais. Com o fim de produzir sintomas, alguns podem usar substâncias psicoativas, como estimulantes, para produzir inquietação e insônia, ou alucinógenos, para produzir distorções da realidade. A história ou os sintomas não são as únicas distorções da verdade. Os pacientes frequentemente fazem relatos falsos e conflitantes sobre outras áreas de suas vidas. Muitos pacientes assumem a identidade de uma pessoa de prestígio. Os homens, por exemplo, relatam terem sido heróis de guerra e atribuem suas cicatrizes cirúrgicas a ferimentos sofridos durante uma batalha ou em outras façanhas dramáticas e perigosas. Transtorno factício crônico com sinais e sintomas predominantemente físicos: A característica essencial dos indivíduos com esse transtorno é sua capacidade de apresentar sintomas físicos de forma tão competente que podem ser internados e permanecer em um hospital. Eles são familiarizados com os diagnósticos da maioria dos transtornos que habitualmente requerem hospitalização ou medicação e podem fornecer histórias excelentes capazes de enganar até mesmo clínicos experientes. São inúmeras as apresentações clínicas, que incluem hematomas, hemoptise, dor abdominal, febre, hipoglicemia, síndromes semelhantes a lúpus, náusea, vômitos, vertigem e convulsões. A urina é contaminada com sangue ou fezes; são tomados anticoagulantes para estimular distúrbios hemorrágicos; é usada insulina para produzir hipoglicemia; e assim por diante. Depois de hospitalizados, continuam a ser exigentes e difíceis. Uma vez que cada teste retorna com um resultado negativo, eles podem acusar os médicos de incompetência, ameaçando ação judicial, e se tornam, de modo geral, ofensivos. Alguns deixam o hospital de repente, pouco antes de acharem que serão confrontados com seu comportamento simulador. Então, procuram outro hospital na mesma ou em outra cidade e recomeçam o ciclo. Os fatores predisponentes específicos são problemas verdadeiros durante a infância que exigiram um extenso tratamento médico, ressentimento com a profissão médica, emprego como profissional paramédico e uma relação importante com um médico no passado. Transtorno factício com sinais e sintomas psicológicos combinados: pacientes que alternam entre sinais e sintomas físicos e psicológicos como a simulação de demência, luto, estuproe convulsões. Transtorno factício por procuração: uma pessoa produz intencionalmente sinais ou sintomas físicos em outra pessoa que está sob seus cuidados. Um objetivo aparente do comportamento é que o cuidador assuma de maneira indireta o papel de doente; outro objetivo é se aliviar do papel de cuidador fazendo o filho ser hospitalizado. O embuste pode envolver uma história médica falsa, a contaminação de amostras laboratoriais, alteração de registros ou indução de lesões e doença na criança. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Qualquer condição em que sinais e sintomas físicos sejam proeminentes deve ser considerada no diagnóstico diferencial, e a possibilidade de doença física autêntica ou concomitante sempre deve ser explorada. Transtornos conversivos: Um transtorno factício é diferenciado de transtorno conversivo pela produção voluntária dos sintomas factícios, pelo curso extremo de múltiplas hospitalizações e pela aparente disposição das pessoas com transtorno factício de se submeterem a um número extraordinário de procedimentos mutiladores. As que apresentam transtorno conversivo em geral não são familiarizadas com a terminologia médica e as rotinas hospitalares, e seus sintomas têm uma relação temporal direta com conflitos emocionais específicos ou fazem uma referência simbólica a eles. Hipocondria ou transtorno de ansiedade de doença: diferem do transtorno factício pelo fato de o paciente hipocondríaco não iniciar de forma voluntária a produção de sintomas e a hipocondria, via de regra, ter um início em idade mais avançada. Transtorno da personalidade antissocial: as pessoas antissociais não se voluntariam para procedimentos invasivos ou recorrem a um estilo de vida marcado por hospitalizações repetidas ou de longa duração, mesmo que existam a mentira patológica, falta de relacionamentos próximos com outras pessoas, comportamento hostil e manipulador e abuso de substância e história criminal associadas Transtorno da personalidade histriônica: busca de atenção e de um talento ocasional para o drama, nem todos os pacientes com transtorno factício têm um talento dramático; muitos são retraídos e sem graça. Simulação: simuladores têm um objetivo ambiental óbvio e reconhecível na produção dos sinais e sintomas. Eles podem procurar hospitalização para obter uma indenização financeira, fugir da polícia, evitar o trabalho ou meramente obter cama e comida grátis para a noite, mas sempre têm um fim aparente para seu comportamento. Síndrome de Ganser: condição controversa associada com mais frequência a presidiários, é caracterizada pelo uso de respostas aproximadas. Pessoas com a síndrome respondem a perguntas simples com respostas surpreendentemente incorretas. Por exemplo, quando perguntada sobre a cor de um carro azul, a pessoa responde “vermelho” ou “2 mais 2 igual a 5”. I ndivíduos com transtorno factício com sinais e sintomas em que predominam os aspectos psicológicos podem intencionalmente dar respostas aproximadas. TRATAMENTO Nenhuma terapia específica tem sido efetiva no tratamento de transtornos factícios. Paradoxo clínico: pacientes com os transtornos simulem doença grave e procurem e se submetam a um tratamento desnecessário, ao mesmo tempo que negam a si mesmos e aos outros sua verdadeira doença e, assim, evitam um tratamento possível para ela. O tratamento, assim, é mais focado no manejo em vez de na cura: Seus três objetivos principais são (1) reduzir o risco de morbidade e mortalidade, (2) abordar as necessidades emocionais subjacentes ou o diagnóstico psiquiátrico subjacente ao comportamento de doença factícia e (3) estar atento às questões éticas e legais. Embora o uso de confrontação seja controverso, em algum momento do tratamento os pacientes devem ser levados a enfrentar a realidade. A maioria deles apenas abandona o tratamento quando seus métodos de obtenção de atenção são identificados e expostos. Em casos de transtorno factício por procuração, já foi obtida intervenção legal em várias situações. Não existe consenso sobre a melhor abordagem psicoterápica. Farmacoterapia dos transtornos factícios é de uso limitado. Transtornos mentais importantes, como esquizofrenia, irão responder a medicação antipsicótica; no entanto, em todos os casos, a medicação deve ser administrada com cautela, devido a seu potencial para abuso. Os ISRSs podem ser úteis na redução do comportamento impulsivo quando este é um componente maior na atuação do comportamento factício. TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL É caracterizado pela preocupação com um defeito imaginado na aparência que causa sofrimento clinicamente significativo e prejuízo em importantes áreas de funcionamento. Se uma pequena anomalia física estiver se fato presente, a preocupação da pessoa com ela é excessiva e incômoda. No DSM-5, o transtorno dismórfico corporal está incluso nos transtornos do espectro obsessivo-compulsivo devido às suas semelhanças com o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). EPIDEMIOLOGIA Condição pouco estudada, em parte porque os pacientes tendem mais a procurar dermatologistas, internistas ou cirurgiões plásticos do que psiquiatras para tratar essa condição. O DSM-5 relata uma prevalência de 2,4% nos Estados Unidos. Idade mais comum de início é entre os 15 e 30 anos e que as mulheres costumam ser mais afetadas do que os homens. Os indivíduos afetados também tendem a ser solteiros. Comumente coexiste com outros transtornos mentais: episódio depressivo maior, transtorno de ansiedade, transtorno psicótico. ETIOLOGIA Causa desconhecida. A fisiopatologia do transtorno pode envolver a serotonina e estar relacionada a outros transtornos mentais. Conceitos estereotipados de beleza enfatizados em certas famílias e na cultura podem afetar significativamente os indivíduos com transtorno dismórfico corporal. Em modelos psicodinâmicos, esse transtorno é visto como o reflexo do deslocamento de um conflito sexual ou emocional a uma parte do corpo relacionada. Tal associação ocorre por meio dos mecanismos de defesa de repressão, dissociação, distorção, simbolização e projeção. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Às vezes, a preocupação é vaga e difícil de compreender, como uma preocupação extrema com um “queixo amassado”. Sintomas associados comuns incluem ideias delirantes ou delírios de referência (em geral sobre as pessoas percebendo o tal defeito corporal), olhar-se no espelho constantemente ou evitar superfícies reflexivas e tentativas de esconder a deformidade presumida (com maquiagem ou roupas). Quase todos os pacientes afetados evitam exposição social e ocupacional. DIAGNÓSTICO Os critérios diagnósticos do DSM-5 estipulam preocupação com um defeito percebido na aparência ou ênfase excessiva em um pequeno defeito. Estabelece que, em algum momento do curso do transtorno, o indivíduo realizará comportamentos compulsivos ou atos mentais. A preocupação causa sofrimento emocional significativo aos pacientes ou grande prejuízo em seu funcionamento em áreas importantes. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Personalidade evitativa ou com fobia social: podem se preocupar com constrangimentos devido a defeitos imaginários ou reais na aparência, mas essa preocupação não costuma ser proeminente, persistente, estressante ou comprometedora. Apesar de indivíduos com transtorno dismórfico corporal terem preocupações obsessivas sobre sua aparência e comportamentos compulsivos associados, um diagnóstico separado ou adicional de TOC só é feito quando as obsessões ou as compulsões não se restringem a preocupações com a aparência e são egodistônicas. Um diagnóstico adicional de transtorno delirante, tipo somático, pode ser feito em pessoas com transtorno dismórfico corporal apenas se suas preocupações com o defeito imaginado na aparência tiverem intensidade delirante. Diferentemente de preocupaçõesnormais com a aparência, a obsessão com relação a ela e com defeitos imaginados, no transtorno dismórfico corporal, e o comportamento alterado devido a essas obsessões consomem tempo excessivo e estão associados com sofrimento ou prejuízo significativos. TRATAMENTO Tratamento com procedimentos cirúrgicos, dermatológicos, dentais e outros procedimentos médicos para tratar os supostos defeitos quase invariavelmente não dá resultado. Apesar de relatos de que drogas tricíclicas, inibidores de monoaminoxidase (IMAOs) e pimozida são úteis em alguns casos individuais, outros dados indicam que drogas específicas serotonérgicas – por exemplo, clomipramina e fluoxetina, reduzem os sintomas em pelo menos 50% dos casos. Não se sabe por quanto tempo o tratamento deve ser continuado após os sintomas do transtorno dismórfico corporal terem entrado em remissão. O aumento de inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs) com clomipramina, buspirona, lítio, metilfenidato ou antipsicóticos pode melhorar a frequência de resposta. 2. Identificar a importância da associação do medicamento com a psicoterapia no tratamento de transtornos psiquiátricos. No passado os pacientes retidos em manicômios, tratados de forma desumana, como loucos impassíveis de socialização, medicados de forma sedativa, com seus direitos banidos em consequência de suas condições psíquicas, não tinham acompanhamento psicoterápico. Estudos trouxe à tona a importância do tratamento combinado, integrando as correntes “biológica” e “psicológica, em situações relacionados ao transtorno mental e suas comorbidades. A integração da psiquiatria e da Psicologia tem favorecido a melhora dos pacientes, pois a medicação psicoativa age na estabilização da patologia e alívio dos sintomas, apesar de seus efeitos colaterais, que na maioria das vezes, é gradual e passageiro. No processo psicoterápico, o Psicólogo terá acesso aos incômodos emocionais do paciente em relação a sua própria condição; aceitação; uso adequado da medicação; enfrentamento, etc. Enfim, seu papel será de contribuir no tratamento das causas do transtorno, e o psicofármaco irá atuar na amenização dos sintomas, e ambos podem refletir em bem-estar ao paciente.
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