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Tema 2 – Hérnias da parede abdominal Maria Laura Gonçalves Vieira – T XIV Hérnia é uma protusão anormal de um órgão ou tecido por um defeito em suas paredes abdominais. Ocorrem apenas em locais onde a aponeurose e a fáscia não são cobertos por músculo estriado (região inguinal, femoral, umbilical, linha alba, porção inferior da linha semilunar e locais de incisões anteriores). Local mais comum: região inguinal Hérnia redutível: conteúdo pode ser reposicionado Irredutível ou encarcerada: conteúdo não pode ser reduzido Estrangulada: suprimento sanguíneo comprometido para seus conteúdos – complicação potencialmente fatal Hernias externas: protusão por todas camadas da parede abdominal Hernias internas: defeito apenas na cavidade peritoneal Partes: • Colo ou orifício: localizado na camada musculoaponeurótica • Saco herniário: peritônio – faz protusão pelo colo Hérnias inguinais Indireta: passa do anel inguinal interno obliquamente em direção ao anel inguinal externo e, por fim, para bolsa escrotal. Direta: protusão para fora e para adiante e é medial ao anel inguinal interno e aos vasos epigástricos inferiores. INCIDÊNCIA: 5% da população • 75% de todas as hérnias, sendo 2/3 indiretas • Homens (25x mais propensos) • Lado direito • Incidência pode aumentar com idade ANATOMIA DA REGIÃO INGUINAL Pele → tecido subcutâneo → artéria ilíaca circunflexa superficial, artéria epigástrica superficial e artéria pudenda externa e suas veias satélites. Músculos: • Obliquo externo e aponeurose • Obliquo interno e aponeurose • Transverso do abdome, aponeurose a fáscia transversal Ligamentos: Pectíneo (de Cooper) Outras regiões: • Canal inguinal (2-4cm do ligamento inguinal) – estende-se do anel inguinal interno ao anel inguinal externo. Conteúdo depende do sexo o Homens: cordão espermático (artéria e veia espermática, ramo genital do nervo genitofemoral, ducto deferente, vasos cremastéricos e vasos linfáticos) o Mulheres: ligamento redondo do útero • Espaço pré-peritoneal • Canal femoral DIAGNÓSTICO Clinico: saliência na região inguinal Maioria: dor associada ou vago desconforto na região (1/3 dos pacientes não tem sintomas). Geralmente, não são muito dolorosas, a menos que tenha sido encarcerada ou estrangulada. EF: paciente em decúbito dorsal e em posição ortostática. • Inspeção estática e palpação da região inguinal (assimetria, abaulamento ou massas) • Solicitar que paciente faça esforço da tosse ou manobra de Valsava → ponta do dedo sobre o canal inguinal e repete o exame o Protuberância move-se de lateral para medial – indireta o Protuberância progredi de profunda para superficial através do assoalho inguinal – direta US → ajuda no diagnóstico CLASSIFICAÇÃO (Nyhus) Tipo I: hérnia indireta com anel inguinal profundo normal (até 2cm) Tipo II: hérnia indireta com anel inguinal interno alargado, porém com parede posterior preservada Tipo III: defeito na parede posterior A: hérnia direta B: hérnia indireta com alargamento importante do anel interno e destruição da parede posterior (hérnia mista) C: hérnia femoral Tipo IV: hérnia recidiva A: direta B: indireta C: femoral D: mista TRATAMENTO Objetivo: reduzir conteúdo, fechar abertura e fazer reforço do espaço Reparos anteriores: • Bassini: tendão conjunto ao ligamento inguinal • Mc-Vay: borda do transverso e Cooper • Shouldice – multicamadas: imbricação da parede posterior do canal inguinal com suturas continuas em 3 ou 4 planos Lichtenstein – técnica atual: reparo sem tensão com uso de telas inorgânicas. CI em caso de contaminação local. 1. Dissecção cuidadosa do canal inguinal e separação das aponoreuroses do m. obliquo externo e interno numa altura suficiente para acomodar uma tela de 6 a 8 cm de largura. 2. Retração do cordão espermático cefalicamente. Fixação da tela a aponeurose que recobre o tubérculo púbico (~2 cm). 3. Sutura continua ascendente fixando a tela ao ligamento inguinal. 4. Sutura da tela a aponeurose do m. oblíquo interno aproximadamente a 2 cm da borda aponeurótica 5. União das bordas da tela ao redor do anel inguinal profundo. Posicionamento dos elementos do cordão espermático sobre a tela (dentro do canal espermático). 6. Fechamento por planos. Tratamento laparoscópico: • Livre de tensão • Taxas de complicações < 10% • Taxa de recidiva de 0 a 3% • Indicado em hérnias bilaterais ou recidivadas • Abordagem transabdominal pré-peritoneal OU extraperitoneal total (sem violar cavidade peritoneal) Hérnias femorais Canal femoral: limites • Superior: trato iliopúbico • Inferior: ligamento de Cooper • Lateral: veia femoral • Medial: junção do trato iliopúbico com ligamento de Cooper Produz abaulamento na região inguinal Prega inguinal: linha imaginaria da crista ilíaca anterior até a sínfise púbica • Lateral: hérnia femoral • Medial: hérnia inguinal Reparo: • McVay ou com tela • Abordagem pré-peritoneal • Abordagem laparoscópica SEMPRE explorar canal femoral → alta incidência de estrangular Hérnia umbilical Comum em crianças (congênitas) Fechamento espontâneo → primeiro ano de vida. Persistir após os 4 anos → indicação cirúrgica Adultos: adquiridas (pressão intra-abdominal) – incomum estrangular Reparo: • > 3 a 4 cm: tela • Grandes defeitos → laparoscópica com colocação de tela Hérnias epigástricas Entre apêndice xifoide e umbigo na linha alba. 2 a 3 vezes mais comum em homens. Dor desproporcional ao tamanho. Encarceramento de gordura pré-peritoneal Múltiplas em até 20% dos pacientes Reparo: fechamento 1º Hérnias incisionais Mais frustrantes e difíceis de tratar. Etiologia: cicatrização inadequada por diversos fatores • Excesso de tensão no fechamento • Infecção de sítio cirúrgico • DM • Corticoide • DPOC Recorrência de 10 a 50% (menor incidência com tela) Reparo: • Primário se defeito < 4cm e tecidos vizinhos viáveis. • > 4cm → reparadas com tela Hérnias inguinais em crianças Geralmente, causadas pela persistência do conduto peritoneo vaginalis, não havendo defeito ou fraqueza no assoalho. Tratamento: cirúrgico (antes da alta caso diagnóstico no hospital OU eletivamente o mais precoce possível – alto risco de encarcerar) Via aberta → não precisa colocar tela ou reforço, apenas corrigir conduto Complicações após reparo de hérnias Infecções de ferida operatória (1 a 2%) Lesões nervosas: nervo ilioinguinal, ramo genital do nervo genitofemoral e nervo iliohipogástrico Orquite isquêmica Lesão do ducto deferente e de vísceras Hipertensão abdominal Recidivadas (técnicas com tela têm 60% menos recorrência).
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