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ÉDRIA PIMENTEL 1 PNEUMONIA A pneumonia é conhecida como a maior inimiga do idoso, principalmente pela frequência com que a enfermidade acomete os idosos, e a primeira, pela frequência com que ocasionava mortes. As pneumonias também são responsáveis por grande número de internações hospitalares, que geralmente são mais prolongadas, exigindo antibióticos de maior potência. O custo do tratamento desses pacientes é elevado e poderá, com o rápido envelhecimento da população brasileira, comprometer importante parcela dos recursos orçamentários destinados à saúde. A pneumonia e a idade por si só não é um fator que vai ocasionar a morte, já que é uma doença tratável. Entretanto, a fragilidade, a multimorbidade e o prejuízo funcional são fatores preditivos de pior prognóstico. CLASSIFICAÇÃO As pneumonias dos idosos sejam classificadas conforme o local de aquisição, a presença de comorbidades e a condição imunológica do hospedeiro. CONFORME O LOCAL DE AQUISIÇÃO CONFORME A PRESENÇA DE COMORBIDADE CONFORME A CONDIÇÃO IMUNOLÓGICA DO IDOSO Nas pneumonias relacionadas com o serviço de saúde estão englobados os indivíduos com infecção adquirida na comunidade, porém que recebiam terapia enteral ou parenteral, terapia renal substitutiva, quimioterapia ou curativos para tratamento de feridas até 30 dias antes de adquirida a infecção, assim como os indivíduos que tenham sido hospitalizados nos últimos 90 dias por período de 2 ou mais dias. Os pacientes com infecções relacionadas com os serviços de saúde são mais idosos, apresentam mais comorbidades, mais infecções por pneumococos resistentes, estafilococos, gram negativos e também por bactérias multirresistentes. (Pseudomonas), maior frequência de pneumonia aspirativa e pior prognóstico do que os pacientes com pneumonias comunitárias verdadeiras. As pneumonias adquiridas no hospital são aquelas que ocorrem 48 h ou mais após a hospitalização, associada à nova imagem radiológica e 2 dos seguintes sinais: febre, leucocitose ou secreção purulenta. Entretanto, devemos lembrar que essas alterações quase nunca estão presentes em pacientes idosos, dificultando e retardando o diagnóstico de pneumonias hospitalares nesse grupo de pacientes. ÉDRIA PIMENTEL 2 EPIDEMIOLOGIA A pneumonia é considerada um importante problema de saúde pública e a maior causa de morte por doenças infecciosas no mundo Esse fato já foi comprovado em vários países, inclusive no Brasil, que a incidência de pneumonia em idosos aumenta durante os surtos de gripe (infecção pelo vírus influenza). PATOGENIA A pneumonia é ocasionada por mecanismos patogênicos diferentes: 1.Colonização da orofaringe ou nasofaringe e subsequente aspiração de microrganismos 2.Inalação de aerossóis infectados 3.Disseminação hematogênica de outros locais de infecção 4.Extensão direta do foco infectado A ocorrência de pneumonia vai depender da quantidade de microrganismos, da virulência dos mesmos e das condições de defesa do hospedeiro. Existe um grande número de fatores que predispõem o idoso a ter pneumonia As modificações fisiológicas que o envelhecimento ocasiona nos sistemas respiratório e imune deixa o geronte mais suscetível à infecção bacteriana em decorrência da redução principalmente da função dos neutrófilos . Sabe-se que a imunossenescência, caracterizada por redução da produção de anticorpos, da função dos linfócitos T, da produção de interleucinas e dos níveis séricos de IgM, favorece a infecção por patógenos específicos Apesar da diminuição da capacidade vital, da atividade mucociliar e da resposta imune, o envelhecimento não é fator de risco isolado para pneumonia. O risco está aumentado quando há exposição prolongada ao fumo e/ou coexistência de outras doenças, agravando a perda da reserva funcional pulmonar. FATORES PREDISPONENTES NO IDOSO PARA PNEUMONIA ADQUIRIDA NA COMUNIDADE (PAC). A presença de 3 ou mais fatores de risco (hospitalização recente, imunossupressão, uso prévio de antibiótico, uso de agentes supressores da acidez gástrica, uso de tubos para alimentação e incapacidade funcional) no paciente com pneumonia relacionada com a serviço de saúde aumenta a possibilidade de germe multirresistente; A colonização por Staphylococcus aureus e gram- negativos (Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli) ocorre mais frequentemente em idosos com doença pulmonar crônica, com diminuição da produção de saliva ÉDRIA PIMENTEL 3 (síndrome sicca, xerostomia por medicamentos, principalmente anticolinérgicos), debilitados e residentes em instituições ou internados em hospitais. A maioria dos adultos saudáveis aspira durante o sono, porém o fechamento adequado da glote, a atividade mucociliar, o reflexo da tosse e a adequada função imune protegem as vias respiratórias contra infecções repetidas. A frequência de aspirações pode aumentar nos idosos com dificuldades de deglutição por doença esofágica ou neurológica (AVE, doença de Alzheimer, doença de Parkinson), reflexo da tosse comprometido, presença de tubos para alimentação e alterações do nível de consciência por doença neurológica ou por efeito do álcool ou de medicamentos. Outros fatores de risco para pneumonia aspirativa são: sarcopenia, fragilidade, desnutrição, declínio do transporte mucociliar, má higiene oral e colonização da orofaringe, tabagismo e vômitos. O cuidado intensivo da cavidade oral e a reabilitação para disfagia reduzem a sua incidência. ETIOLOGIA O diagnóstico etiológico das pneumonias só é obtido em menos da metade dos casos. Nos idosos, as dificuldades são ainda maiores, pois, com frequência, eles são incapazes de produzir muco suficiente para realização de exames bacteriológicos. Nos gerontes, as pneumonias adquiridas na comunidade podem ser causadas por germes incomuns em pacientes mais jovens. Entretanto, o Streptococcus pneumoniae (pneumococo) ainda é o principal agente etiológico, seguido por Haemophilus influenzae, vírus, Legionella pneumophila, outros germes atípicos, Staphylococcus aureus, estafilococos resistentes. A prevalência de pneumonia aspirativa nos idosos é alta e aumenta com a idade, já a infecção por germes atípicos nesta população é baixa. Nas exacerbações agudas das bronquites crônicas e nas pneumonias associadas à DPOC, os agentes etiológicos mais comuns são o Streptococcus pneumoniae, o Haemophilus influenzae e a Moraxella catarrhalis. Nos hospitais, é difícil assegurar que um determinado organismo isolado na cultura de secreções respiratórias seja o agente etiológico da pneumonia, devido às altas taxas de colonização da orofaringe dos pacientes. Devem-se levar em conta os germes mais frequentes em cada hospital quando se tenta identificar a causa das pneumonias hospitalares. A maioria dos estudos demonstra que os bacilos gram- negativos são os principais responsáveis pelas pneumonias hospitalares nos idosos. Nesses ambientes, os principais agentes identificados são Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, klebsiella sp., Escherichia coli, Enterobacter sp Em pacientes imunossuprimidos e transplantados fungos e patógenos raros como Aspergillus sp., Pneumocystis jiroveci, Candida sp., Nocardia sp. e vírus como o citomegalovírus devem ser suspeitados. A definição de pneumonia relacionada com serviços de saúde foi criada para identificar pacientes com risco aumentado de infecções multirresistentes e maior mortalidade, que se beneficiariam de esquema antibiótico de mais largo espectro. A probabilidade é de que a infecção por germes multirresistentes esteja mais associada, no caso das infecções relacionadas com os serviços de saúde, à fragilidade do hospedeirodo que ao simples contato com o sistema de saúde. Novos trabalhos têm demonstrado que as bactérias anaeróbicas são responsáveis somente por 20% das infecções pulmonares por broncoaspiração e estas têm cedido lugar aos bacilos gramnegativos e ao Staphylococccus aureus. ÉDRIA PIMENTEL 4 QUADRO CLÍNICO A tríade que evidencia presença de infecção (febre, calafrio e leucocitose). Sinais e/ou sintomas localizados no sistema respiratório (tosse, aumento de secreção, dispneia, dor torácica e achados anormais no exame físico dos pulmões) Alterações radiológicas geralmente identifica um paciente com pneumonia. Entretanto, essa tríade pode não estar presente no paciente idoso uma vez que nas idades mais avançadas as doenças podem apresentar-se de maneira atípica, com poucos sintomas, ou apenas com sintomas inespecíficos, como confusão mental, distúrbio do humor, incontinência, inapetência, perda de peso, declínio da capacidade funcional, piora de alguma doença crônica prévia, síncope e quedas. É claro que quanto mais velho ou mais frágil for o paciente, maior será a chance de as doenças se manifestarem de modo diferente do que o habitual. FATORES DE RISCO PARA RESISTÊNCIA Um dos achados mais importantes é a alta prevalência de confusão mental (delirium) como forma de apresentação das pneumonias nas faixas etárias mais elevadas. Essa condição pode estar presente em 12 a 45% dos casos e em mais de 70% dos casos de pneumonias adquiridas em asilos, e a sua presença aumenta o risco de morte, tanto intrahospitalar como após a alta. O delirium, frequentemente, é o único sintoma apresentado pelo paciente, e, muitas vezes, uma tomografia computadorizada do crânio é solicitada antes da radiografia do tórax. A confusão mental ocorre tanto em indivíduos com demência como nos previamente lúcidos (Waterer et al., 2006). O declínio funcional, ou seja, a diminuição da capacidade para executar as AVD, pode estar presente em cerca de 50% dos casos e também pode ser o único sintoma. Essa situação frequentemente não é reconhecida pelo médico, mas quase sempre é relatada pelos familiares. É comum que o médico interprete essa informação como uma consequência natural do processo de envelhecimento. O exame físico, ao contrário do que ocorre nos pacientes mais jovens, raramente mostra sinais de consolidação pulmonar (redução do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal e a presença de estertores crepitantes finos), aumentando a necessidade de se realizarem radiografias do tórax em idosos com alteração da função mental, inapetência, perda funcional, taquipneia e/ou exacerbação de uma doença crônica subjacente, como insuficiência cardíaca, DPOC ou diabetes melito, doença renal crônica. O diagnóstico de pneumonia é baseado na presença de febre, leucocitose, secreção traqueal purulenta e de novos infiltrados na radiografia do tórax, bem como no aumento dos infiltrados antigos e na presença de culturas positivas. No caso dos idosos, esses critérios são um problema, pois quase sempre estão ausentes, e, no entanto, são observados o agravamento da insuficiência respiratória, a piora da função mental e a falência de múltiplos órgãos. Se nos basearmos nos critérios validados para infecção hospitalar, principalmente para pneumonias hospitalares, o diagnóstico dessas infecções em idosos ÉDRIA PIMENTEL 5 poderá ser muito tardio, aumentando o risco de complicações e morte. O diagnóstico diferencial de pneumonia no idoso deve incluir insuficiência cardíaca, tromboembolismo pulmonar, tuberculose, micoses e neoplasias. Convém ressaltar que pode ocorrer a coexistência de uma ou mais doenças com a pneumonia. A pneumonia pós-obstrutiva pode ser a primeira manifestação do câncer de pulmão, e o acompanhamento radiológico após a cura clínica da infecção é essencial para o diagnóstico. É muito importante que a equipe de saúde esteja atenta a todas essas formas de apresentação da pneumonia nos idosos, pois o não reconhecimento das apresentações atípicas retarda o diagnóstico e o início do tratamento, contribuindo para aumentar a mortalidade nessa faixa etária. ESTUDO DA FMUSP AVALIOU O IMPACTO DA HOSPITALIZAÇÃO NO EQUILÍBRIO POSTURAL E NA QUALIDADE DE VIDA DE ADULTOS E IDOSOS Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 40% dos idosos com 80 anos ou mais sofrem quedas todos os anos. Dos que moram em asilos e casas de repouso, a freqüência das mesmas chega a 50%. Além disso, a imobilização prolongada no leito, como ocorre durante a hospitalização destes idosos, pode desencadear alterações que contribuem ainda mais com estas situações. Com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa teve como objetivo observar criticamente os pacientes internados no Hospital das Clínicas, instituição pública de grande complexidade, e principalmente aqueles que permaneceram longos períodos hospitalizados, a fim de identificar alterações no equilíbrio postural dos mesmos, sua qualidade de vida e a ocorrência de quedas após a alta hospitalar. “Como fisioterapeutas, observamos que eles passam a maior parte do tempo deitados nos leitos, em repouso, e esta inatividade física decorrente da hospitalização pode deteriorar diversos sistemas corporais como o sistema respiratório, o sistema cardíaco, o sistema muscular, entre outros”, Estas alterações podem prejudicar a capacidade funcional do paciente, ou seja, sua capacidade de realizar as atividades do dia a dia, e seu equilíbrio. Além disso, o ambiente hospitalar pode, muitas vezes, gerar um isolamento social decorrente da falta de estímulos visuais, sonoros e táteis para o paciente. A pesquisa identificou que os indivíduos idosos (acima de 60 anos), os quais permaneceram maior tempo hospitalizados, tiveram um aumento na incidência de quedas com o passar dos meses. Além disso estes pacientes também apresentaram piora no equilíbrio após o período de hospitalização. IMPACTO FUNCIONAL DA INTERNAÇÃO HOSPITALAR DE PACIENTES IDOSOS Destaca ainda que o nível de escolaridade indica que 83,0% eram analfabetos ou tinham baixa escolaridade e 17,0% estavam classificados como média e alta escolaridade, tendo sido a única variável sociodemográfica a revelar associação com capacidade funcional: quanto maior a escolaridade, menor a ocorrência de relato de dificuldade em AVD. Houve associação significante entre estado cognitivo e presença de confusão aguda na entrada com capacidade funcional 37,2% apresentaram complicações, sendo a média de 2,00±0,49 por participante, com a seguinte distribuição: rebaixamento do nível de consciência (20,2%), broncopneumonia (14,9%), úlcera por pressão (12,8%), desidratação (9,6%), infecção do trato urinário (8,5%), e insuficiência respiratória (8,5%). O presente estudo mostrou haver associação entre a baixa capacidade funcional, déficit cognitivo e estado confusional agudo (delirium). Os resultados funcionais do presente estudo indicam que a maioria dos idosos voltou para a comunidade com necessidade de alguma forma de assistência para os cuidados pessoais, mobilidade e locomoção,
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