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PMSUS - Epidemiologia dos Transtornos Mentais

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Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
 PMSUS – Epidemiologia dos Transtornos Mentais 
Objetivos 
1 – Entender a reforma psiquiátrica 
2 – Contextualizar a saúde psiquiátrica antes da reforma psiquiátrica 
(História da loucura). 
3 – Abordar a epidemiologia das principais doenças psiquiátricas 
4 – Discutir as políticas públicas voltadas à saúde mental no SUS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 História da Loucura 
Ministério da Saúde: substituiu loucura por pessoa em sofrimento mental e 
psíquico. 
No fim da Idade Média e na Renascença, a loucura é uma expressividade 
do sujeito envolta em mistério, muitas vezes associada a forças místicas de 
uma radiância sobrenatural, na qual o louco se apresenta como o 
revelador das contradições e hipocrisias sociais e na qual, mesmo expulso 
das cidades em naves que deslizavam pelos rios da Renânia e nos canais 
flamengos, ainda reside nessa expressividade, singularidades e 
descontinuidades que impediriam a plena objetivação de seus discursos e 
a definição precisa de seus sujeitos, de acordo com parâmetros de uma 
medicina ainda bem rudimentar, do ponto de vista científico e que a ele 
ainda não se remetia, nos moldes da Modernidade. 
Um longo percurso foi necessário para que a disciplina psiquiátrica 
detivesse o saber sobre a loucura. A bem dizer, a psiquiatria nasce no 
início do século XIX, justamente no momento em que passa a deter o 
conhecimento da loucura, emitindo enunciados sobre a doença mental, 
exercendo domínio e incidindo sobre novas práticas sociais. 
Para o autor, a loucura atravessa, na tradição ocidental, um processo de 
desqualificação de sua potencialidade de dizer a verdade. Tal 
depreciação da loucura está articulada a um processo amplo na história 
do Ocidente, marcado pela oposição radical dos registros da razão e da 
desrazão. Neste sentido, a desqualificação da loucura - a qual ocupava 
posição estratégica neste embate (BIRMAN, 2000) - é marca incontestável 
do triunfo da razão sobre a desrazão que se operou no Ocidente. Uma vez 
expulsa a loucura do registro da razão, o único reconhecido como 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
detentor da verdade na modernidade, aquela perde, instantaneamente, 
a possibilidade de ser escutada. 
- Nos primórdios do século XVII a loucura passa por uma restrição/exclusão 
da cena social, sendo confinada junto a outras figuras da marginalidade 
nos hospitais gerais. Este processo de tentativa de expulsão da loucura 
não só do registro razão-verdade como também de toda cena social 
possível, culmina na criação, pela nascente psiquiatria do século XIX, dos 
ASILOS PARA OS ALIENADOS. 
Assim, a "virtude inalienável é ao mesmo tempo verdade e resolução da 
loucura. É por isso que, se ela impera, deverá imperar ainda mais. O asilo 
reduzirá as diferenças, reprimirá os vícios, extinguirá as irregularidades" 
(FOUCAULT, 1978, p. 537). Além disso, o asilo produz efeitos na sociedade, 
isto é, permite afirmar que existe "uma classe da sociedade que vive na 
desordem, na negligência e quase na ilegalidade". 
Portanto, para Foucault, o asilo é ao mesmo tempo um "instrumento de 
uniformização moral e de denúncia social" 
"Antes do século XVIII, a loucura não era sistematicamente internada, e 
era essencialmente considerada como uma forma de erro ou de ilusão. 
Ainda no começo da idade clássica, a loucura era vista como 
pertencendo às quimeras do mundo (utopia); podia viver no meio delas e 
só seria separada no caso de tomar formas extremas ou perigosas. 
Nestas condições compreende-se a impossibilidade do espaço artificial 
do hospital em ser um lugar privilegiado, onde a loucura podia e devia 
explodir sua verdade. 
Os lugares reconhecidos como terapêuticos eram primeiramente a 
natureza, pois que era a forma visível da verdade; tinha nela mesma o 
poder de dissipar o erro, de fazer sumir as quimeras. As prescrições dadas 
pelo médico eram de preferência a viagem, o repouso, o passeio, o retiro, 
o corte com o mundo vão e artificial da cidade. Esquirol (psiquiatra 
frânces) ainda considerou isto quando, ao fazer os planos de um hospital 
psiquiátrico, recomendava que cada cela fosse aberta para a vista de um 
jardim." (FOUCAULT, 2001, p.120-121) 
+INFORMAÇÃO! Segundo o autor, na Renascença a loucura era "livre", 
existia a prática de embarcar os loucos e deixá-los navegar sem rumo 
pelos rios; pelo lado prático, embarcar o louco é uma forma eficaz de 
evitar que fique perambulando nas cidades e, pelo lado simbólico, a água 
significa a purificação e a navegação errante significa a entrega do louco 
ao seu próprio destino (FOUCAULT, 1978, p. 16). A "nau dos loucos" 
repercutiu na iconografia e na escrita da Renascença e, até o final do 
século XV, a loucura torna-se o tema central em uma substituição/inversão 
com a morte. 
- Com o internamento do doente mental no século XIX, a loucura passou a 
ser distinguida como "desordem na maneira de agir, de querer, de sentir 
paixões, de tomar decisões, de ser livre" (2001, p.121). O que estava em 
questão era menos o julgamento perturbado do que uma conduta 
irregular; menos o erro da razão. 
Neste cenário, o asilo se aproximou do hospital do século XVIII, ou seja, 
nele a loucura deveria se desenvolver em toda a sua plenitude. Mas não 
bastava desmascarar a doença mental, era preciso que o asilo fosse o 
local de confrontação de duas vontades. De um lado, o doente, cuja 
vontade e conduta se (des)caracterizavam pela perturbação e pela 
irregularidade; por outro, o médico, cuja retidão da índole deveria 
prevalecer ao término do embate. Tratava-se de sobrepujar os arroubos 
loucos e colocar "no devido lugar" o caráter do paciente. Imposição de 
uma vontade sobre a outra num embate travado no solo da ordem moral. 
"Assim se estabelece a função muito curiosa do hospital psiquiátrico do 
século XIX: lugar de diagnóstico e de classificação, retângulo botânico 
onde as espécies de doenças são divididas em compartimentos cuja 
disposição lembra uma vasta horta. 
Mas também espaço fechado para um confronto, lugar de uma disputa, 
campo institucional onde se trata de vitória e submissão. O grande médico 
do asilo - seja ele Leuret, Charcot ou Kraepelin - é ao mesmo tempo 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
aquele que pode dizer a verdade da doença pelo saber que dela tem, e 
aquele que pode produzir a doença em sua verdade e submetê-la, na 
realidade, pelo poder que sua vontade exerce sobre o próprio doente." 
(FOUCAULT, 2001, p.122) 
Segundo Foucault, diversos prédios são construídos ou reformados para 
"recolher, alojar, alimentar aqueles que se apresentam de espontânea 
vontade, ou aqueles que para lá são encaminhados pela autoridade real 
ou judiciária" (FOUCAULT, 1978, p. 56); ou seja, uma pluralidade de 
indivíduos como mendigos, desordeiros, doentes, loucos, miseráveis, 
prostitutas, etc. 
Estes locais possuíam uma administração própria dotada também de 
poderes policiais, judiciários, de correção e de castigo. Foi a solução 
encontrada para a crise econômica que assolou a Europa no século XVII, 
ou seja, tinha por função controlar o desemprego e, nos momentos de 
prosperidade econômica, podia deslocar sua função: "A alternativa é 
clara: mão de obra barata nos tempos de pleno emprego e de altos 
salários; e em período de desemprego, reabsorção dos ociosos e proteção 
social contra a agitação e as revoltas" 
Apesar de possuírem médicos como funcionários, as instituições de 
internamento não eram instituições propriamente médicas, eram 
instâncias da "ordem monárquica e burguesa", preocupados em 
pôr ordem no mundo da miséria, que misturava o desejo de ajudar 
e a necessidade de reprimir, o dever de caridade e a vontade de 
punir. Nesse sentido, a nova sensibilidade da época clássica a 
respeito da miséria, oriunda da Reforma, reforça esses 
procedimentos. 
Pois, segundo Foucault, a pobreza deixa deser entendida como 
uma provação, um caminho para a salvação e se torna ao mesmo 
tempo "efeito da desordem e um obstáculo à ordem. Portanto, não 
se trata mais de exaltar a miséria no gesto que a alivia mas, 
simplesmente, de suprimi-la" (FOUCAULT, 1978, p. 66) e, 
consequentemente, a caridade já não é a "correta" forma de lidar 
com a miséria e sim a internação que "encerra" a desordem. 
A loucura segue o mesmo caminho, pois na Idade Média era 
entendida como uma forma de miséria, com a dessacralização do 
pobre e seu internamento, o louco também ganha uma "morada" 
que não perturba a ordem do espaço social, "seu lugar é entre os 
pobres, os miseráveis, os vagabundos" (FOUCAULT, 1978, p. 72). 
 
BRASIL ---------------------------------------------------------------- 
Primeiros asilos para alienados do Brasil foram construídos em meados do 
século XIX no Rio de Janeiro e em São Paulo. 
Era quase impossível andar pelas ruas do Rio de Janeiro no início da 
década de 1830 sem se deparar com alienados vagando por becos e 
vielas. Em geral, eram recolhidos às enfermarias da Santa Casa de 
Misericórdia ou à cadeia pública, de onde não saíam senão mortos. 
Encarcerados em cubículos fétidos e estreitos, muitos passavam os dias 
acorrentados. Já os submetidos à tutela de instituições religiosas, não raro, 
sofriam sanções físicas punitivas. 
O estado de abandono em que se encontravam os doentes mentais 
chamou a atenção de alguns membros da Academia Imperial de 
Medicina e da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que se 
engajaram em campanhas pela criação de um estabelecimento para o 
tratamento dos alienados. O argumento era de que a Santa Casa não 
estava organizada para promover a cura desses indivíduos. O apelo foi 
atendido pelo Império com a construção do Hospício de Alienados Pedro 
II (Palácio dos loucos), primeiro asilo brasileiro para essa categoria de 
doentes. O tratamento de pacientes com problemas mentais por médicos 
especializados, no entanto, só começaria nos primeiros anos do século XX. 
“A alienação era para os psiquiatras da época a manifestação das 
afeições morais, sendo as paixões da alma consideradas a causa da 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
loucura. Desse modo, os excessos relativos ao amor e à ordem social 
deveriam ser regulados pela razão”, explica o historiador Ewerton Moura 
da Silva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-
USP). “Diante desses excessos, buscava-se restaurar o domínio racional dos 
indivíduos por meios morais e físicos, que variavam desde métodos 
persuasivos às tradicionais camisas de força e duchas de água fria.” 
CRONOLOGIA 
• Pré-história: as pessoas com transtornos mentais eram tratadas de 
acordo com os ritos tribais. Se esses fracassavam, deixava-se que os 
indivíduos morressem de inanição ou fossem atacados por feras. 
Loucura associada ao trabalho, capacidade de realizar tarefas. 
• Grécia Antiga: Doentes mentais eram pessoas agraciadas por 
deuses ou punidas por eles. 
• Idade Média (idade das trevas): Atribuíam os TM a demônios, o 
indivíduo era considerado possuído. 
 
- Padres realizavam exorcismo para expulsar maus espíritos. 
Quando não funcionava, realizavam o encarceramento em 
calabouços, com açoites e inanição. 
 
- Os loucos inofensivos viviam soltos, faziam parte das paisagens da 
cidade. Os lunáticos mais perigosos eram lançados em prisões, 
acorrentados e submetidos a inanição; eram isolados da 
sociedade e não conseguiam a cura com exorcismo, elas eram 
tratadas até a morte. 
 
- Criação dos Asilos ou leprosários: Louco devia ser isolado assim 
como os leprosos (Pessoas que eram consideradas pecadores, ou 
possuídas por demônios como castigo de divino – contaminação 
espirital/ espírito sujo e impuro). 
 É uma instituição de isolamento e não de tratamento, uma vez 
que não eram considerados doentes. 
- A grande internação: O capitalismo começa a surgir e ter maior 
destaque, fazendo com que não só os loucos fossem internados, mas 
também a população considerada “inútil”: medigos, paralíticos, 
homossexuais e prostitutas. 
• Século XVII e XVIII: Iluminismo 
- Phinel (pai da psiquiatria) marco histórico: Dar status de doença a 
loucura,” isolar para tratar”; Ele visita os asilos e liberta os loucos, pois 
acredita que loucura é uma doença e precisa de tratamento em hospitais 
e não reclusão em asilos. Trouxe também a medicalização dos loucos 
como forma de tratamento. 
loucos = alienados 
- O asilo era por excelência o lugar do tratamento moral; era antes de 
tudo, a ordem da moralidade reduzida à esquemas de leis, obrigações e 
constrições e que levariam a cura do alienado. 
- Phinel separa os loucos dos ”normais”, libertando-os dos asilos, criando os 
Manicômios. 
- História dos Manicômios (por mais 100 anos): Medicações e formas de 
tratamento, como lobotomia (cirurgia no cérebro – tira uma parte dos 
lobos), eletroconvulsioterapia, camisa de forma, solitária, contenções, 
agressões físicas, afogamentos. (métodos de tortura duraram mais de mil 
séculos). 
- Nesses manicômios, muitos não tinha capacitação para trabalhar nesses 
locais, eram pessoas comuns que eram levar para conter esses pacientes. 
Poderia e havia agressão dos profissionais com os pacientes. 
• Século XIX e início do XX 
Emil Kraepelin: iniciou a classificação dos transtornos mentais; 
Eugene Bleuler: Nomeou a ”Esquizofrenia” 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
Sigmund Freud transforma a assistência psiquiátrica com a Psicanálise. 
Surge a visão do homem como um todo e a história de vida deste homem 
como o fator preponderante nos transtornos mentais. 
1950 – Psicofarmacologia Farmacos Psicotrópicos: Antipsicóticos – 
CLORPROMAZINA – Antimaníaco – Lítio 
• Década de 80 
O ponto mais importante da história da Saúde Mental no Brasil: 
Movimento antimanicomial: luta pelo fim dos maus tratos nos manicômios, 
inspiração no movimento italiano de Basaglia. Exemplo de representante 
no Brasil: Nise da Silveira (Psiquiatria que trabalhou no Manicômio do 
Engenho de dentro), cria uma ala de Terapia Comportamental com a 
Arte. 
Criação do primeiro CAPS: centro de São Paulo 1992 – II C.N.S. Mental, 
com participação de usuários e familiares. 1993 – 1999: redução de leitos, 
ampliação do movimento dos usuários. Ela era contra 
eletroconvulsioterapia e lobotomia. 
Com os CAPS: não é preciso isolar o paciente, pode-se tratar esse 
paciente em casa. 
Marco histórico brasileiro: Manicômio de Barbacena. Supostas escórias 
sociais (maioria dos internos era de alcoólatras, homossexuais, mães 
solteiras) que suas famílias ou a polícia enviavam em trens a esta cidade 
de Minas Gerais. Cerca de 60.000 internos morreram de fome, frio ou 
diarreia durante nove décadas até o fechamento nos anos noventa. 
Viviam mal, nus, forçados a trabalhar como suposta terapia em pátios na 
intempérie ou em celas 
 
 
 
 
Reforma psiquiátrica 
Reforma Psiquiátrica no Mundo 
Diante da realidade encontrada nos manicômios começaram a surgir 
críticas ao modelo asilar e ao saber psiquiátrico tradicional. Essas, 
inicialmente, não se dirigiam a existência da instituição, mas sim ao: 
• modo como ela funcionava; 
• a forma de tratamento; 
• a conduta dos profissionais e 
• o caráter de privação de liberdade. 
As críticas aos manicômios resultaram em várias tentativas de reforma, 
entre elas: 
• as Comunidades Terapêuticas Psiquiátricas (Inglaterra), 
• a Psicoterapia Institucional e Psiquiatria de Setor (França) e 
• a Psiquiatria Comunitária (Estados Unidos). 
Comunidades Terapêuticas Psiquiátricas 
Na metade da década de 1940 foi desenvolvida por Maxwell Jones a 
ideia de comunidade terapêutica psiquiátrica na Unidade de Neurose 
Industrial, no Hospital Belmont (depois chamada, de Unidade de 
Recuperação Social). Posteriormente em 1959, como unidade 
independente, veio a ser o Hospital Henderson. 
Nesse espaço, quecontinha cerca de 100 leitos, buscava-se que a 
instituição se configurasse como uma comunidade. Havia reuniões 
frequentes com os profissionais e internos para discutir questões sobre o 
tratamento e utilizava-se de técnicas educativas para propósitos 
construtivos. 
A proposta de Maxwell Jones, realmente revolucionária, era a de 
democratizar essa estrutura diminuindo drasticamente a separação entre 
os diferentes níveis, estimulando a comunicação entre todos os membros, 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
incluindo todos (inclusive o ambiente) no processo terapêutico, fazendo 
com que os internos participassem da condução do dia-a-dia da 
Comunidade. As Assembleias Gerais com a participação dos internos, 
todos com o direito de perguntar e de expor suas ideias, garantiam a 
manutenção dos objetivos propostos. Maxwell Jones havia ressaltado a 
participação ativa dos internos na própria terapia, a comunicação social 
democrática e igualitária, o envolvimento de sentimentos, permitindo a 
redução de tensões sociais. 
Apesar da tentativa de mudança da instituição que asilava, essas 
comunidades não questionavam o modelo asilar, ao contrário, criavam 
uma “bolha” ao redor daqueles que estavam internados não os 
preparando para uma reinserção na sociedade. 
Psicoterapia Institucional e Psiquiatria de Setor 
Já Psicoterapia Institucional foi um movimento liderado por François 
Tosquelles iniciado no hospital psiquiátrico de Saint-Alban. 
Para ir à feira os camponeses precisavam passar dentro do hospital e com 
isto, os pacientes usavam esse momento para tentar vender o que 
produziam. Tosquelles aproveitou e incentivou esse espaço aberto que já 
existia, estabelecendo um bar na instituição, que funcionava como 
um ambiente de psicoterapia. 
A Psicoterapia Institucional configurou-se, então, como uma tentativa 
de superação da segregação, porém, seu líder considerava que 
a instituição era necessária. Ele propunha assim, uma socialização do 
asilo, mas não necessariamente do asilado. 
Posterior ao movimento da Psicoterapia Institucional e após a Segunda 
Guerra Mundial, baseadas nas ideias do psiquiatra francês Lucien Bonnafé, 
surge a Psiquiatria de Setor, que propunha: 
• transformações nas condições asilares; 
• resgatar o caráter terapêutico da psiquiatria e 
• contestar a instituição asilar como espaço terapêutico. 
A ideia deste movimento era levar a psiquiatria para as comunidades, os 
setores, criando serviços extra-hospitalares, tornando a assistência não 
mais exclusiva dos hospitais e possibilitando a reinserção do paciente 
depois da internação. Contudo, apesar dessa mobilização dos setores, a 
Psiquiatria de Setor manteve o hospital no mesmo lugar. 
Psiquiatria Comunitária 
Além das experiências europeias, nos Estados Unidos, deu-se 
a Psicoterapia Comunitária (Psicoterapia Preventiva), tendo como seu 
principal teórico Gerald Caplan. 
Esta se constituiu como uma estratégia de programas de saúde na 
década de 1960 que mudava o foco do tratamento das doenças mentais, 
para a prevenção destas. Sendo que, para sua efetivação a ideia era 
buscar esforços para criação de modelos alternativos às instituições 
hospitalares e incentivo a esses novos serviços, como também a redução 
dos gastos com internações. 
No entanto, o que foi percebido é que mesmo direcionando o foco para 
a prevenção e não a cura, não ocorreu uma ruptura com o modelo 
manicomial. Assim, não houve diminuição de internações nos hospitais 
americanos, ao contrário, observou-se um aumento da internação de 
psicóticos. 
As experiências das Comunidades Terapêuticas, da Psicoterapia 
Institucional, Psiquiatria de Setor e Comunitária ofereceram contribuições a 
história da Reforma Psiquiátrica, mas, foi na Itália que surgiram críticas a 
respeito da existência da instituição asilar e um movimento de mudança. 
Antipsiquiatria e desinstitucionalização 
Na década de 1960, a crítica ao paradigma asilar teve, em Gorizia (Itália) 
a sua primeira grande ruptura em relação à constituição da psiquiatria 
como saber sobre a loucura. Essa ruptura teve como sustentação teórica 
a Antipsiquiatria inglesa, que tinha como pressuposto básico o 
questionamento crítico da ciência psiquiátrica como única detentora do 
saber sobre a doença mental, mais propriamente sobre a esquizofrenia 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
A compreensão sobre a loucura não poderia se dar por intermédio 
das análises reducionistas da psiquiatria, ao mesmo tempo que suas 
práticas, essencialmente manicomiais, eram vistas como violentas. 
Franco Basaglia, psiquiatra, nomeado diretor do Hospital de Goriza, 
transformou-o primeiramente em uma comunidade terapêutica, tendo 
como referência o modelo de Jones e, junto com outros psiquiatras, 
propôs a desarticulação do manicômio. 
Basaglia acabou com medidas institucionais de repressão, buscou 
devolver a cidadania aos doentes mentais e criou condições para trocas 
entre os profissionais e os pacientes. 
Contudo, foi no Hospital de Trieste (1971) que se iniciou de fato o processo 
de desinstitucionalização, ocorrendo a abertura deste a comunidade e 
a reinvenção do espaço como local de convivência social e de 
experiências culturais e educativas. 
A vivência em Trieste demonstrou como era possível a desmontagem do 
manicômio e como esta é uma forma muito mais ética e humana para 
tentativa de compreensão da loucura. 
Dessa forma, em 1978 na Itália é constituída a lei 180 que estabeleceu 
a abolição do estatuto de periculosidade do doente mental e 
a proibição da construção de novos hospitais psiquiátricos e novas 
internações. 
 
 
 
 
 
 
Reforma Psiquiátrica no Brasil. 
Em 1808, ocorreu a chegada da família real portuguesa e seus súditos na 
cidade do Rio de Janeiro. Com esse desembarque e instalação dos 
portugueses na cidade brasileira, mudanças começaram a ocorrer no 
cenário, na economia e na cultura da região para se adequar a corte. 
Visando a modernização e a consolidação da nação como um país 
independente, os ditos “loucos” passaram a ser vistos como a escória da 
sociedade, representando uma ameaça à ordem pública. Sendo assim, 
não era bem visto para o país aqueles que eram pobres ou apresentavam 
comportamentos agressivos e vagavam pelas ruas. 
Portanto, como não havia tratamento para os doentes mentais no país, os 
ricos eram mantidos escondidos nas casas e os pobres que perambulavam 
pelas ruas passaram a ser trancafiados nos porões das Santas Casas de 
Misericórdia, onde viviam em condições degradantes. 
Em 1830, a recém-criada Sociedade de Medicina e Cirurgia lança uma 
nova palavra de ordem: “aos loucos, o hospício”, protestando contra as 
condições dos pacientes nas Santas Casas. E em 1841, Dom Pedro II assina, 
o decreto de criação do primeiro hospício brasileiro, que recebeu seu 
nome e foi inaugurado em 1852. 
Os pacientes que se encontravam até então, nas Santas Casas de 
Misericórdia são transferidos para a primeira instituição psiquiátrica 
brasileira que tinha como base a ideia do tratamento moral. 
O Hospício Dom Pedro II, manteve-se vinculado a Santa Casa até 1890 
(depois da desvinculação renomeado Hospital Nacional dos Alienados). E 
logo nos primeiros anos após a Proclamação da República ocorreu a 
implantação das primeiras Colônias de Alienados, destinadas 
especificamente a pacientes homens indigentes. 
As colônias de São Bento e Conde de Mesquita se constituíram como uma 
estratégia para amenizar a superlotação do Hospital, e em uma tentativa 
de buscar, nas práticas agrícolas, uma aceleração no processo de 
recuperação dos doentes. 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
Depois de irregularidades administrativas e orçamentárias nas colônias e 
no hospital, Juliano Moreira, psiquiatra brasileiro, foi nomeado em 
1903, diretor do serviço sanitário do Hospício Nacional de Alienados e da 
então Assistência Médico-Legal de Alienado. 
Ao assumir seu novo cargo,o psiquiatra iniciou algumas mudanças à 
instituição como: 
• a ampliação dos pavilhões 
• aquisição de novos equipamentos 
• instalou o laboratório de análises clínicas 
• implantou a técnica de punções lombares para elucidação 
diagnóstica 
• retirou as grades e aboliu a camisa-de-força. 
Juliano Moreira, assim, atraiu vários jovens profissionais e fez do hospital 
uma verdadeira escola de psiquiatria. Porém, as colônias e o hospital 
continuavam com sua prática excludente. 
Em 1923, a Fundação da Liga Brasileira de Higiene Mental tornou ainda 
mais forte o movimento de higiene mental. “As palavras de ordem da Liga 
eram “controlar, tratar e curar” e os fenômenos psíquicos eram vistos como 
produtos da raça ou do meio, decorrentes de obscuros fatores biológicos 
ou orgânicos” (FONTE, 2013). 
Somente em 1970, no contexto de reforma sanitária, que se teve início aqui 
no Brasil discussões sobre a necessidade de humanizar o tratamento das 
pessoas com transtornos mentais. Nesse momento, diversos setores da 
sociedade estavam mobilizados em torno da redemocratização do país 
(período da ditadura militar). 
 
 
 
 
Devido às péssimas condições de trabalho, inadequação do quadro de 
recursos humanos, baixos salários e persistência do modelo manicomial, 
ocorre, em 1978, uma crise na Divisão Nacional de Saúde 
Mental (DINSAM), órgão do Ministério da Saúde então responsável pelas 
políticas de saúde mental e assim, surgiu o Movimento dos Trabalhadores 
em Saúde Mental reivindicando mudanças: 
• denunciava as condições de tratamento dos hospitais 
• criticava o modelo manicomial e 
• inspirava-se nas ideias de Basaglia. 
Em 1987, aconteceu o I e II Congresso do Movimento de Trabalhadores em 
Saúde Mental, sendo que, este último foi marcado pelo início da 
Articulação Nacional da Luta Antimanicomial e adoção do lema: “Por 
uma sociedade sem manicômios”. 
Nesse mesmo período, houve a criação do primeiro Centro de Atenção 
Psicossocial no país, na cidade de São Paulo, o CAPS Prof. Luiz da Rocha 
Cerqueira. 
Diante do cenário de tentativa de mudanças na saúde mental, em 1989, o 
Deputado Paulo Delgado apresentou no Congresso Nacional o Projeto de 
Lei 3.657/89 (dispunha sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua 
substituição por outros recursos assistenciais e regulamentava a internação 
psiquiátrica compulsória – proposta principal: substituição do modelo 
manicomial), o qual tramitou por 12 anos até ser aprovado, sendo que 
durante a tramitação sofreu alterações, que culminaram na pouca 
clareza sobre como se daria a criação das estratégias extra-hospitalares. 
A Lei da Reforma Psiquiátrica, Lei 10.216 foi promulgada em 06 de abril de 
2001 – dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de 
transtornos mentais redireciona o modelo assistencial à saúde mental. (Essa 
diferença das propostas do PL e das do texto lei demonstra a decisiva 
influencia do empresariado psiquiátrico, contrário à reforma psiquiátrica. 
Um marco histórico para o setor de saúde mental, possibilitador de 
mudanças ao nível do Ministério da Saúde, foi a Conferência Regional 
para a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica, realizada em Caracas, 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
em 1990. Neste encontro, no qual o Brasil foi representado e signatário, foi 
promulgado o documento final intitulado ”Declaração de Caracas”. 
Na Declaração de Caracas, os países da América Latina 
comprometeram-se a: 
• promover a reestruturação da assistência psiquiátrica; 
• rever criticamente o papel hegemônico e centralizador do hospital 
psiquiátrico; 
• salvaguardar os direitos civis, a dignidade pessoal, os direitos 
humanos dos usuários e 
• propiciar a sua permanência no meio comunitário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Epidemiologia das Doenças Psiquiátricas 
A conscientização de que os transtornos mentais representam um sério 
problema de saúde pública é relativamente recente, ocorrendo a partir de 
publicação realizada pela Organização Mundial da Saúde e por 
pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, 
em 1994 (Lopez e Murray, 1998). 
Utilizando como medida uma combinação do número de anos vividos 
com incapacidade, e consequente deterioração da qualidade de vida, e 
do número de anos perdidos por morte prematura causada pela doença 
(medidos pela unidade Disability Adjusted Life Years – DALYs), verificou-se 
que doenças como transtornos depressivos e transtornos cardiovasculares 
estão rapidamente substituindo a desnutrição, complicações perinatais e 
doenças infectocontagiosas em países subdesenvolvidos, onde vivem 
quatro quintos da população do mundo 
Embora os transtornos mentais causem pouco mais de 1% da mortalidade, 
são responsáveis por mais de 12% da incapacitação decorrente de 
doenças. Esse porcentual aumenta para 23% em países desenvolvidos. 
Das dez principais causas de incapacitação, cinco delas são transtornos 
psiquiátricos, sendo a depressão responsável por 13% das incapacitações, 
alcoolismo por 7,1%, esquizofrenia por 4%, transtorno bipolar por 3,3% e 
transtorno obsessivo-compulsivo por 2,8%. 
Na idade adulta emergem grandes diferenças entre homens e mulheres 
em relação aos transtornos mentais. A mulher apresenta vulnerabilidade 
marcante a sintomas ansiosos e depressivos, especialmente associados ao 
período reprodutivo. A depressão é, comprovadamente, a doença que 
mais causa incapacitação em mulheres, tanto em países desenvolvidos 
como naqueles em desenvolvimento. No mundo, a morte por suicídio é a 
segunda causa de morte para mulheres na faixa de 15 a 44 anos de 
idade, sendo precedida somente por tuberculose. 
Os estudos de base populacional realizados em países ocidentais têm 
mostrado que cerca de 35% da população geral adulta não 
institucionalizada apresenta algum transtorno mental ao longo da vida. 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG 
 
Essa taxa chega a atingir cerca de 50% quando se considera também o 
diagnóstico de dependência de nicotina. 
Nesse estudo, as mulheres apresentaram maior freqüência de transtornos 
afetivos (com exceção de episódios psicóticos de exaltação maníaca e 
distimia), transtornos ansiosos (exceto transtorno obsessivo-compulsivo, 
ansiedade generalizada e fobia social), transtornos dissociativos (transes e 
perdas de consciência) e transtornos alimentares. 
Os homens apresentaram maiores taxas de uso nocivo ou dependência 
de drogas, incluindo tabaco e álcool. Excluindo a dependência de 
tabaco, o risco de sofrer um transtorno mental durante a vida foi 1,5 vez 
maior para as mulheres que para os homens. 
Diferenças entre os gêneros foram encontradas em estudos 
prospectivos para se determinar incidência de transtornos mentais. No 
estudo NEMESIS, uso de substâncias, particularmente abuso de álcool, 
foi o transtorno com maior incidência em homens (incidência de 4,09), 
seguido por depressão (1,72), fobia simples (1,34) e dependência ao 
álcool (0,82). Para mulheres, o transtorno com maior incidência foi 
depressão (3,9), seguida por fobia simples (3,17). 
A razão entre as incidências para mulheres e homens (controlada para 
idade), fornecendo uma medida do risco das mulheres em relação aos 
homens, foi de 1,54 para qualquer transtorno mental. Essa razão foi 
maior para transtornos ansiosos (2,58), particularmente para transtorno 
de pânico (4,17), seguido pelos transtornos do humor (2,39). A razão se 
inverte para transtornos relacionados ao uso de substâncias, sendo 
maior o risco para homens (3,7). 
Mortes por suicídio são mais freqüentes em homens do que em mulheres, 
com a razão de 3,6 homens para 1 mulher no mundo e 3,5:1 no Brasil, em 
1995. A única exceção ocorre na China, com semelhantes taxas nas áreas 
urbanas e maior freqüência entre as mulheres nas áreas rurais. Embora as 
estatísticas de tentativas de suicídio sejam pouco fidedignas, estas 
parecem ocorrer com maior freqüênciaem mulheres que em homens, e 
entre 10 a 20 vezes mais freqüentemente do que as mortes por suicídio 
(World Mental Health, 1999). 
 
 
Gabrielle Nogueira – Med UniFG

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