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REGRAS GERAIS SOBRE A ORDEM DOS PROCESSOS NOS TRIBUNAIS De forma geral, o procedimento no tribunal tem duas fases distintas: uma perante o relator, a quem se atribui a função de praticar todos os atos até a sessão de julgamento e a outra, perante o colegiado, que tem por finalidade o debate e o julgamento do caso. Nesse sentido, a essas regras do Código de Processo Civil acrescenta-se aquelas decorrentes dos regimentos internos dos tribunais. Assim sendo, a Constituição Federal, no seu art. 96, I, a, atribui aos tribunais o poder de elaborar seus regimentos internos, com observância das normas processuais constitucionais e legais, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos. Isso significa que os tribunais, através dos seus regimentos internos, disciplinam o funcionamento de seus órgãos, com a distribuição de competência a cada um deles. Vale destacar que o regimento interno dos tribunais é norma geral, que dispõe sobre o funcionamento e a competência de seus órgãos internos, tratando de regras relativas a registro, distribuição, prevenção, conexão e outras relacionadas ao funcionamento e à competência do tribunal. Protocolo, registro e distribuição Mormente, o protocolo é livro oficial, e todo tribunal tem um livro oficial de protocolo, podendo ser eletrônico ou não. Sua função principal é a de autenticar a data de apresentação dos autos ou petições, sendo permitida, a partir de então, a obtenção de certidões ou, se for o caso, de recibo da entrega dos autos ou da petição. Esses serviços de protocolo poderão, a critério do tribunal, ser descentralizados, mediante delegação a ofícios de justiça de primeiro grau (art. 929, par. ún., CPC). Já o registro, ele deve ser feito no mesmo dia da apresentação da petição ou da chegada dos autos ao tribunal. Além da finalidade estatística, fiscal, histórica, administrativa e processual, o registro tem por objetivo garantir a publicidade dos atos processuais. Registrados os autos, cabe à secretaria ordená-los para distribuição imediata. Nesse diapasão, a distribuição de processos no tribunal será imediata, como impõe o inciso XV do art. 93 da Constituição Federal, ratificado pelo art. 939 do caput. Como o registro deve ser feito no mesmo dia da apresentação da petição ou da chegada dos autos no tribunal, e considerando que a distribuição há de ser imediata, tais atos coincidem no momento de sua realização. Ou seja, protocolo, registro e distribuição devem ser feitos imediatamente, no mesmo momento. Conexão e prevenção Sobre isso, frisa-se que as causas que tramitam em tribunal podem ser conexas. Nesse aspecto, pode haver conexão entre ações de competência originária do tribunal, recursos e incidentes. Destaca-se que a conexão é fenômeno processual que pode acontecer em qualquer instância. Nesse ínterim, o parágrafo único do art. 930 do CPC está assim regido: “O primeiro recurso protocolado no tribunal tornará prevento o relator para eventual recurso subsequente interposto no mesmo processo ou em processo conexo”. A prevenção, nesse caso, atribui ao relator a competência funcional para julgar esses futuros recursos. A produção de prova em tribunal Inicialmente, é importante destacar que é possível a produção de provas em tribunal, tanto em causas de competência originária como em recursos. Assim, mesmo em julgamento de recurso, o tribunal tem poder instrutório. Veja-se, por exemplo, o caso da apelação, na qual não lhe cabe apenas reexaminar as provas que já foram colhidas em primeira instância, sendo possível que o tribunal determine a produção de novas provas. Isso é possível porque, em primeiro lugar, aplica-se ao tribunal o art. 370 do CPC, que confere poder instrutório ao juiz, e nada justifica restringir a incidência do artigo à atuação do juízo de primeira instância. Se a causa há de ser julgada novamente no procedimento recursal, não se pode retirar do órgão a possibilidade de produzir novas provas que fundamentem o seu convencimento. Além disso, há diversos dispositivos do CPC que autorizam a alegação de fatos novos em grau recursal - é o caso dos arts. 342, 493 e 1.014. Assim, se é possível alegar fato novo, é possível produzir prova dessa alegação fática, visto que se trata de corolário da garantia do contraditório. Por fim, no art. 435 do CPC há previsão da possibilidade de produção de prova documental a qualquer tempo, desde que atendidas as exigências ali previstas. Nesse sentido, o órgão julgador pode, em qualquer fase do processo, inclusive na instância recursal, inspecionar pessoalmente pessoas ou coisas, a fim de esclarecer-se sobre fato que interesse à decisão da causa (art. 481, CPC). Relator Em primeiro lugar, cabe ao relator estudar o caso, firmar seu entendimento para elaborar o relatório e levar o caso a julgamento, a fim de, na correspondente sessão, expor os detalhes aos seus pares, emitindo seu voto. Ao relator, compete também, determinar a realização de diligências, a correção de vícios, a instrução do feito e a apreciação do requerimento de tutela provisória. Frisa-se que as atribuições do relator variam, conforme se trate de recurso ou de causa de competência originária do tribunal. Diante disso, nas ações originárias, cabe ao relator deferir ou indeferir a petição inicial, ou ainda julgar liminarmente improcedente o pedido; deferida a petição, o relator determinará a citação do réu, podendo conceder tutela provisória, de urgência ou de evidência, liminarmente ou após manifestação do réu. Cabe ao relator, ainda, deferir ou indeferir a produção de provas, expedir carta de ordem a juízes de primeira instância para a realização de diligências ou coleta de provas. Além disso, cabe a ele ordenar o processo no tribunal (art. 932, I, CPC), bem como corrigir defeitos processuais em tribunal (art. 938, §§ 1° e 2°, CPC). Há ainda, o poder instrutório do relator, bem como os poderes decisórios, que englobam a homologação de autocomposição, as decisões de requerimento de tutela provisória e de requerimento de concessão de gratuidade da justiça etc. Proibição de decisão-surpresa em tribunal O texto do art. 10 do CPC dispõe o seguinte: “O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”. A regra, como deflui da simples leitura do enunciado normativo, aplica-se a qualquer instância. Julgamento, inclusão e publicação da pauta No que se refere à ordem de julgamento, inclusão e publicação da pauta, quando a causa é distribuída, os respectivos autos são encaminhados ao relator, que deverá estudar o caso submetido ao crivo do tribunal. Feito o estudo do caso, o relator apresentará o relatório e, lançada aos autos essa exposição, o relator fica vinculado à causa, devendo participar do julgamento, ainda que venha a ser removido para outra câmara ou turma. Lançado o relatório e tendo o relator aposto seu visto, os autos serão encaminhados à secretaria (art. 931, CPC). Em seguida, os autos serão apresentados ao presidente do órgão, que designará dia para julgamento, mandando publicar a pauta no órgão oficial, sendo igualmente afixada na entrada da sala em que se realizar a sessão de julgamento (art. 934 e art. 935, § 2°, CPC). Após publicação da pauta em julgamento, às partes será permitida vista dos autos em cartório (art. 935, § 1°, CPC). Dito isso, entre a data da publicação no órgão oficial e a da sessão de julgamento decorrerá, pelo menos, o prazo de 5 dias, sob pena de nulidade (art. 935, caput, CPC). Operando-se esse defeito, cabe à parte prejudicada opor embargos de declaração para obter sua anulação ou, então, o pré-questionamento da matéria, a fim de erigir a questão ao crivodo Superior Tribunal de Justiça mediante a interposição de recurso especial. Sustentação oral Permite-se que, no julgamento a ser proferido pelo tribunal, possam as partes sustentar oralmente as razões de seus recursos, contribuindo para a reflexão dos julgadores, ao mesmo tempo em que tentam convencê-los do acerto de suas teses, com o que se contribui para uma decisão aprimorada (art. 937, CPC). Nessa vertente, tanto o recorrente quanto o recorrido podem apresentar sustentação oral, e o fazem na pessoa de seus advogados. Assim, a sustentação oral é admitida na apelação, no recurso ordinário, no recurso especial, no recurso extraordinário, nos embargos de divergência, na ação rescisória, no mandado de segurança, na reclamação, no agravo de instrumento interposto contra decisões interlocutórias que versem sobre tutela provisória de urgência ou de evidência, bem como em outras hipóteses previstas em lei ou no regimento interno do tribunal. Contudo, não se admite sustentação oral em embargos de declaração, em agravo interno (ressalvada a hipótese do § 3° do art. 937) e em agravo de instrumento (ressalvados os casos dos incisos I e II do art. 1.015, CPC; art. 937, VIII, e art. 942, § 3°, II, CPC). Sobre o requerimento da sustentação oral, o § 2° do art. 937 do CPC dispõe que “O procurador que desejar proferir sustentação oral poderá requerer, até o início da sessão, que o processo seja julgado em primeiro lugar, sem prejuízo das preferências legais”. Dessa forma, os advogados que desejarem fazer a sustentação oral podem requerer seja-lhes conferida preferência na mesma sessão. Tal preferência respeitará a ordem dos requerimentos, ressalvadas as preferências legais e regimentais (art. 936, CPC). Cita-se que, mesmo o advogado que tenha dificuldade de se deslocar ao tribunal, por manter domicílio profissional em cidade diversa ou distante da sede do tribunal, tem direito a formular sustentação oral. Para isso, o § 4° do art. 937 permite ao advogado realizar sustentação oral por meio de videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real. Pedido de vista O pedido de vista (art. 940, CPC) possibilita a qualquer um dos integrantes, inclusive o relator, do órgão julgador, que se considere inabilitado a proferir seu voto de imediato, uma oportunidade de melhor examinar os autos, a fim de esclarecer-se acerca de determinada questão. Nesse contexto, a vista pode ser em mesa, realizada imediatamente, com breve suspensão do julgamento, ou em gabinete, quando a sessão é suspensa, por até dez dias. Se os autos não forem devolvidos tempestivamente ou se não for solicitada pelo julgador prorrogação de prazo de no máximo 10 dias, o presidente do órgão fracionário requisitará para julgamento o recurso na sessão ordinária subsequente, com publicação da pauta em que for incluído (art. 940, § 1°, CPC). Nesse caso, quando requisitar os autos, se aquele que fez o pedido de vista ainda não se sentir habilitado a votar, o presidente convocará substituto para proferir voto, na forma estabelecida no regimento interno do tribunal. Proclamação do resultado Após a colheita de votos, cabe ao presidente do órgão do tribunal proclamar o resultado (art. 941, caput, CPC). Caso haja proclamação incorreta do resultado, a retificação pode ser feita na própria sessão de julgamento, por provocação de qualquer dos julgadores e dos advogados. A proclamação incorreta do resultado, nesse sentido, é hipótese de contradição, passível de correção por embargos de declaração. Cita-se que a alteração de voto após a proclamação do resultado não é possível. O § 1° do art. 941 do CPC dispõe o seguinte: “O voto poderá ser alterado até o momento da proclamação do resultado pelo presidente, salvo aquele já proferido por juiz afastado ou substituído”. Se o voto houver sido dado por juiz afastado ou substituído, não pode o substituto alterá-lo, mesmo que o resultado ainda não tenha sido proclamado. Com a proclamação do resultado, dá-se por encerrada a atividade jurisdicional de conhecimento, somente podendo o órgão jurisdicional alterar a decisão por meio de embargos de declaração ou para corrigir erro material ou erro de cálculo (art. 494, CPC). INCIDENTE DE ASSUNÇÃO DE COMPETÊNCIA (IAC) Em primeiro lugar, o art. 926 do CPC estabelece que os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. Dito isso, em decorrência de vários dispositivos, a atividade jurisdicional deve orientar-se pela necessidade de adoção de mecanismos de uniformização de jurisprudência, visando o atendimento das exigências de isonomia e segurança jurídica. Assim, a obediência aos precedentes e a uniformização da jurisprudência buscam assegurar a segurança jurídica, garantindo previsibilidade e evitando a existência de decisões divergentes para situações semelhantes. Isto é, casos iguais devem ter, necessariamente, decisões iguais, sob pena de se instaurar um estado de incerteza. Competência e cabimento O incidente de assunção de competência pode ser instaurado em qualquer tribunal, inclusive nos superiores. Contudo, enquanto não julgada a causa ou o recurso, é possível haver a instauração do incidente de assunção de competência, que produz um precedente obrigatório a ser seguido pelo tribunal e pelos juízos a ele vinculados. Cita-se que o incidente de assunção de competência é admissível em qualquer causa que tramite no tribunal. O art. 947 do CPC estabelece ser admissível “quando o julgamento de recurso, da remessa necessária ou de processo de competência originária” envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social, sem repetição em múltiplos processos. Além disso, também é admissível nos tribunais do trabalho, tanto regionais, como no superior. Objetivos O grande objetivo do incidente de assunção de competência é assegurar a segurança jurídica e, para isso, existem três fins específicos que reforçam esse objetivo: A) Provocar o julgamento de caso relevante por órgão colegiado de maior composição; B) Finalidade de prevenir ou compor divergência interna no tribunal; C) Formação de precedente obrigatório, que vincula o próprio tribunal, seus órgãos e os juízos a ele subordinados. Microssistema de formação concentrada de precedentes obrigatórios Em relação a isso, cabe destacar que os tribunais têm o dever de uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente (art. 926, CPC). Dessa maneira, juízes e tribunais devem observar “os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos (art. 927, III, CPC). Resumidamente, há um microssistema de formação concentrada de precedentes obrigatórios, formado pelo incidente de assunção de competência e pelo julgamento de casos repetitivos. Suas respectivas normas intercomunicam-se e formam um microssistema, garantindo unidade e coerência. Nesse caso, para que se formem precedentes obrigatórios, devem ser aplicadas as normas que compõem esse microssistema. A teor do art. 927, III, CPC, os juízes e tribunais deverão observar “os acórdãos em incidente de assunção de competência ou de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos”. Nesses casos, há previsão de incidente processual para elaboração do precedente obrigatório (arts. 489, § 1°, 984, § 2° e 1038, § 3°, CPC), com natureza de processo objetivo. Nesse contexto, exige-se que o processo de formação do precedente se dê nesses termos, pois na sua interpretação e na sua aplicação a casos futuros e similares bastará que o órgão julgador verifique se é ou não caso de distinção ou superação (arts. 489, § 1°, V e VI, 927, § 1°, CPC). Para além disso, o art. 927, V, CPC, prescreveque os juízes e tribunais devem seguir a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados. Há, nesse caso, a previsão de duas ordens de vinculação. Em primeiro lugar, há uma vinculação interna dos membros e órgãos fracionários de um tribunal aos precedentes oriundos do plenário ou órgão especial daquela mesma Corte. Ademais, há vinculação externa dos demais órgãos de instância inferior (juízos e tribunais) aos precedentes do plenário ou órgão especial do tribunal a que estiverem submetidos. Diante disso, precedentes do: A) Plenário do STF, sobre matéria constitucional, vinculam todos os tribunais e juízes brasileiros; B) Plenário e órgão especial do STJ, em matéria de direito federal infraconstitucional, vinculam o próprio STJ, bem como TRFs, TJs e juízes (federais e estaduais) a ele vinculados; C) Plenário e órgão especial do TRF vinculam o próprio TRF, bem como juízes federais a ele vinculados; D) Plenário e órgão especial do TJ vinculam o próprio TJ, bem como juízes estaduais a ele vinculados. INCIDENTE DE ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE (IAI) O art. 97 da Constituição Federal prescreve que “somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público”. Trata-se de regra que estabelece um quorum qualificado para o reconhecimento da inconstitucionalidade no âmbito dos tribunais – regra da reserva de plenário ou regra do full bench. Estabelece-se uma regra de competência funcional para o reconhecimento da inconstitucionalidade de lei. Nesse diapasão, o incidente de arguição de inconstitucionalidade em tribunal é o meio processual previsto para regulamentar esse dispositivo constitucional. Tal incidente serve de controle difuso de constitucionalidade (art. 948, CPC) e aplica-se em todos os tribunais brasileiros. Esse incidente, frisa-se, pode ser suscitado em qualquer causa que tramite em tribunal. Nesse contexto, o Ministério Público, qualquer das partes e qualquer julgador têm legitimidade para suscitar o incidente. Assim sendo, é possível suscitar o incidente até o final do julgamento, mesmo em sustentação oral, antes de o Presidente do órgão colegiado proclamar o resultado. Destaca-se, contudo, que o incidente só é cabível para que se proclame a inconstitucionalidade. Se o tribunal resolver afastar a alegação de inconstitucionalidade ou declarar a constitucionalidade da norma, não se faz necessária a instauração do incidente. Desse modo, o incidente tem por função transferir, a outro órgão do mesmo tribunal, a competência funcional para a análise de determinada questão de direito incidental, havida como relevante para o julgamento da causa. Em sendo suscitado e admitido o incidente, pelo órgão fracionário, ocorre uma divisão da competência e um órgão julgador fica com a competência para julgar a questão principal e as demais questões a respeito das quais não foi suscitado qualquer incidente, e outro fica com a competência para julgar a inconstitucionalidade da norma. Após a decisão do incidente, a causa volta ao órgão julgador originário, que deve ultimar o julgamento do feito, resolvendo as demais questões incidentes e decidindo a questão principal. O órgão originário fica vinculado à solução que foi dada à arguição de inconstitucionalidade. Embora esse incidente seja um instrumento processual típico do controle difuso, a análise da constitucionalidade da lei é feita em abstrato. Trata-se, nesse caso, de incidente processual de natureza objetiva. O incidente de arguição de inconstitucionalidade é, assim, um procedimento de formação concentrada de precedente obrigatório, além de ser instrumento de concretização da regra constitucional do full bench. CONFLITO DE COMPETÊNCIA O conflito de competência é o fato em que dois ou mais juízes se colocam como competentes (conflito positivo, art. 66, I, CPC) ou incompetentes (conflito negativo, art. 66, II, CPC) para o julgamento da mesma causa ou de mais de uma causa, no caso de reunião por conexão. Dessa forma, é necessário que o conflito seja dirimido para que apenas um seja declarado competente e possa julgar a(s) causa(as). Nessa conjuntura, o enunciado n° 59 da súmula do Superior Tribunal de Justiça entende que não há conflito de competência se uma das causas já foi julgada. Para além disso, também não há conflito entre os juízos se houver diferença hierárquica, prevalecendo o posicionamento do juízo hierarquicamente superior. Contudo, é possível que surja conflito entre um tribunal e um juiz a ele não vinculado. Reconhecida a incompetência do juízo, a causa deverá ser remetida ao juízo tido como competente. Caso esse juízo não aceite a competência que lhe foi declinada, deverá suscitar conflito, salvo se a atribuir a outro juízo (art. 66, par. ún., CPC). Legitimidade e participação do Ministério Público Podem suscitar o conflito o juiz ou tribunal, por ofício, o membro do Ministério Público ou qualquer das partes, por petição (art. 953, CPC). O ofício e a petição, nesse caso, serão instruídos com os documentos necessários à prova do conflito (art. 953, par. ún., CPC). Caso o Ministério Público não tiver suscitado, deverá ser ouvido, obrigatoriamente, no conflito de competência instaurado nas causas em que a sua intervenção seja obrigatória (art. 951, par. ún., CPC). No entanto, a parte que alegou incompetência relativa não pode suscitar o conflito, pois já teve a oportunidade de manifestar-se sobre a competência e optou por arguir a exceção (art. 952, CPC). Contudo, caso venha a surgir posterior conflito de competência com objeto distinto da alegação de incompetência oferecida pela parte, terá ela legitimidade para suscitar o conflito. Frisa-se, ainda, que o conflito de competência não obsta que a parte que não o suscitou alegue a incompetência relativa (art. 952, par. ún., CPC). Competência A competência para julgar o conflito de competência será sempre de um tribunal. Assim sendo, o STF tem competência sempre que, no conflito, estiver envolvido um tribunal superior (art. 102, I, o, CF). Isso se trata de uma competência determinada em razão da pessoa, pois a presença de um tribunal superior como um dos juízos conflitantes faz com que a causa seja da competência do STF. Já os Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais devem processar e julgar os conflitos de competência entre os juízes a eles vinculados. Caso haja juízes vinculados a tribunais diversos no conflito, a competência é do STJ. Em relação a isso, o art. 105, I, “d”, da Constituição Federal deixa claro que as demais hipótese de conflito são da competência do Superior Tribunal de Justiça. Além disso, é importante mencionar que a EC n. 45/2004 estabeleceu que se o conflito de competência se der entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvada a competência do STF, será dos tribunais trabalhistas a competência para apreciá-lo e julgá- lo. Nessa toada, o STF decidiu que a competência para julgar o conflito entre juiz federal e juiz de juizado federal é do TRF, se ambos pertencerem à mesma Região (STF, Pleno, RE n. 590.409, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 26.08.2009). Procedimento Após a distribuição da petição ou do ofício, o relator, no tribunal, determinará a oitiva dos juízes em conflito ou, sendo um deles o suscitante, apenas do suscitado e, no prazo designado pelo relator, incumbirá ao juiz ou juízes prestar as informações (art. 954, CPC). Nesse ínterim, o relator poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer uma das partes, determinar, sendo o conflito positivo, seja sobrestado o processo. Nesse caso, bem como no conflito negativo, designará um dos juízes para resolver, em caráter provisório, as medidas urgentes (art. 955, CPC). Além disso, o relator poderájulgar, monocraticamente, o conflito de competência quando sua decisão de fundar em súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal e em tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência (art. 955, par. ún., CPC). Decorrido o prazo que o relator designou, será ouvido o Ministério Público, no prazo de 5 dias, ainda que as informações não tenham sido prestadas e, em seguida, o conflito irá a julgamento (art. 956, CPC). Por fim, ao decidir o conflito, o tribunal declarará qual o juízo competente, dando pronunciamento também sobre a validade dos atos do juízo incompetente e os autos do processo serão remetidos ao juiz declarado competente (art. 957, CPC). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Congresso Nacional. Código de Processo Civil, de 15 de março de 2015. Diário Oficial da União, Brasília. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 1 ago. 2022. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Congresso Nacional. Emenda Constitucional n. 45, de 30 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Brasília (DF). BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 590.409-1. Relator: Ricardo Lewandowski. Julgamento em 26 de agosto de 2009. Corte ou Tribunal. DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de Direito Processual Civil. 10ª ed. Juspodivm, Salvador-BA, v. 2, 2015. DIDIER JÚNIOR, Fredie Souza. Curso de Direito Processual Civil. 13ª ed. Juspodivm, Salvador-BA, v. 3, 2016
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