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Farmacodinâmica estuda a relação entre os fármacos e seus alvos, a resposta fisiológica decorrente desta interação e os respectivos mecanismos desta ação. É importante distinguir os termos “alvo” e “receptor” de fármacos, pois muitas vezes os alvos não são, necessariamente, estruturas de membrana denominadas receptores. Os alvos dos fármacos são basicamente de quatro tipos: ❖ Enzimas ❖ Moléculas transportadoras ❖ Canais iônicos ❖ Receptores Os fármacos não criam novos efeitos no organismo, em vez disso, modulam funções fisiológicas alteradas pelos processos patológicos. Para ter interação entre o fármaco e seu alvo: íntima relação entre a molécula alvo e a molécula do fármaco, precisa de afinidade, a especificidade, ou seja, o fármaco deve interagir exclusivamente com o seu alvo, para minimizar efeitos não desejados. Esta afinidade/especificidade deve ser recíproca, tanto da molécula alvo pelo fármaco, quanto do fármaco por seus alvos. 1. Fármacos que interagem com enzimas As enzimas compõem um amplo grupo de moléculas alvo de fármacos. Muitas enzimas estão envolvidas nos processos patológicos e podem ter suas ações inibidas após interação com fármacos. Ou então, os fármacos podem atuar como falsos substratos, em que a molécula do fármaco sofre transformação química, formando um substrato anormal, subvertendo a via metabólica normal. Exemplos de interação fármaco-enzimas, visando a modulação de processos patológicos temos: · Inibição da enzima conversora de angiotensina (ECA), responsável pela conversão de angiotensina I em angiotensina II, um potente vasoconstritor. Os inibidores da ECA (IECA) impedem que ocorra esta conversão e, consequentemente, resultam na redução dos níveis pressóricos devido à inibição da vasoconstrição. · Inibição da cicloxigenase (COX), enzima chave no processo de metabolização do ácido araquidônico e produção de prostaglandinas, mediadores químicos da inflamação. Os anti- Farmacodinâmica Mecanismos De Ação De Drogas Quanto Aos Aspectos Gerais E Moleculares " " inflamatórios inibem irreversivelmente a COX, culminando na redução do processo inflamatório decorrente da diminuição da produção de prostaglandinas. · O sulfametoxazol é análogo estrutural do ácido aminobenzóico (PABA) e inibe de forma competitiva uma enzima bacteriana, a diidropteroato sintetase, que é responsável pela incorporação do PABA ao ácido diidrofólico. Por conseguinte, bloqueia a síntese do ácido diidrofólico e diminui a quantidade de ácido tetraidrofólico metabolicamente ativo, co-fator na síntese de purinas, timidina e DNA. 2. Fármacos que interagem com proteínas carreadoras Atuam bloqueando o transporte de substâncias endógenas, fármacos administrados concomitantemente no mesmo medicamento, as proteínas carreadoras estão envolvidas na excreção renal de alguns fármacos (secreção tubular ativa) e o bloqueio deste transporte reduz a eliminação do fármaco, aumentando seu tempo de meia vida. Por exemplo: · Imipenem + Cilastatina: o imipenem é um antimicrobiano de amplo espectro utilizado em infecções graves. A associação de cilastatina na mesma formulação farmacêutica aumenta o tempo de ação do imipenem, pois a cilastatina inibe a proteína responsável pela secreção tubular do imipenem. Desta forma, a inibição da excreção de imipenem, realizada pela cilastatina, promove o aumento do tempo de meia vida. · A probenecida, quando associada às penicilinas, como por exemplo à ampicilina, aumenta o tempo de ação deste antimicrobiano em decorrência da inibição de sua secreção tubular. 3. Fármacos que interagem com canais iônicos Interagem com canais iônicos ->modulam o influxo de determinados íons. O aumento ou a redução da quantidade intracelular do íon envolvido --> eventos bioquímicos intracelulares, e no efeito farmacológico. Diferente destes, há canais iônicos regulados por ligantes, ou ionotrópicos, cuja ação é dependente da interação com seu ligante, os quais veremos adiante. · As sulfoniluréias (substâncias anti-hiperglicemiantes – secretagogos de insulina) bloqueiam os canais de potássio (K+) das células b das ilhotas de Langerhans no pâncreas. Promove o efluxo de íons potássio (K+), causando à despolarização da membrana celular, que permite a entrada de íons Ca+ e leva à liberação de insulina. 4. Fármacos que interagem com receptores Os receptores são estruturas especializadas produzidas pelo organismo, com o intuito de reconhecer e responder a moléculas endógenas, as quais possuem grande afinidade. A interação entre a substância endógena (agonista) e seu receptor estabelece uma comunicação química que coordena as funções de diferentes células do organismo. Tal fenômeno é conhecido como transdução do sinal. Muitas substâncias exógenas, como os fármacos, tem afinidade a estes receptores e são capazes de interagir com eles. Desta interação ocorrem respostas que resultam na alteração ou modulação de funções fisiológicas. Tais alterações e modulações são observadas sob a forma de efeitos terapêuticos. Os receptores dividem-se basicamente em quatro tipos: ❖ Canais iônicos regulados por ligantes – Receptores ionotrópicos ❖ Receptores acoplados à proteína G – Receptores Metabotrópicos ❖ Receptores ligados à quinase ❖ Receptores nucleares Os receptores, são capazes de amplificar os sinais bioquímicos gerados da interação com seus ligantes. Muitas vezes ocorre a formação de metabólitos conhecidos como segundos mensageiros. Os segundos mensageiros podem se difundir pela célula e conduzir informações para uma ampla variedade de alvos, que respondem ao estímulo de um único receptor. Por exemplo, uma molécula de hormônio esteróide se liga ao seu receptor e inicia uma série de eventos bioquímicos que resultam na transcrição de muitas cópias de RNAm específicos, que por sua vez produzem várias cópias de uma única proteína. 4.1. Canais iônicos regulados por ligantes – receptores ionotrópicos Os receptores ionotrópicos são constituídos por macromoléculas contendo várias subunidades que, pelo modo como se distribuem na membrana celular, formam um canal central (ionóforo). Em pelo menos uma dessas subunidades encontra-se o local de reconhecimento de ligantes endógenos. Muitos fármacos atuam sob estes receptores mimetizando as substâncias endógenas, ora melhorando, ora bloqueando o fluxo de íons através do canal. Os receptores nicotínicos da acetilcolina, bem como os receptores dos ácido γ-aminobutírico (GABA), são exemplos destes receptores. No caso dos receptores nicotínicos, há interação da acetilcolina e de uma das subunidades do receptor (especificamente a α) que resulta em uma alteração da configuração estrutural do receptor, ocasionando a abertura do canal, e, consequentemente, a entrada de íons Na+ para o interior da célula, gerando a transmissão do impulso nervoso. O tempo para a resposta celular após a ligação da acetilcolina pode ser medido em milissegundo, ou seja, extremamente rápido. 4.2. Receptores acoplados à proteína g – metabotrópicos Os receptores vinculados às proteínas G, quando ativados, desencadeiam um processo de transdução e amplificação, cujo resultado final resulta de uma ativação em cascata de sistemas enzimáticos. Constituem a maior família de receptores de membrana. Primeiramente o ligante extracelular é detectado especificamente pelo receptor presente na superfície celular (afinidade e especificidade). Por sua vez, o receptor desencadeia a ativação da proteína G localizada intracelularmente, logo abaixo da membrana. A seguir, a proteína G ativada modifica a atividade de um elemento efetor, geralmente uma enzima ou um canal iônico. Este elemento modifica então a concentração do segundo mensageiro intracelular que desencadeia uma série de eventos bioquímicos, resultando na respostafisiológica. Os principais segundos mensageiros são o monofosfato de adenosina cíclico (AMPc), íons cálcio (Ca+), os fosfoinositídios e o monofosfato de guanosina cíclico (GMPc). 4.2.1. Monofosfato de adenosina cíclico (camp) O AMPc atua como segundo mensageiro intracelular, mediando vários processos no organismo. Exerce a maioria dos seus efeitos pela estimulação de proteínas cinases AMPc-dependentes. Essas cinases, quando ativadas, ganham a capacidade de fosforilar enzimas intracelulares, e podem originar diferentes efeitos. Entre outras coisas, o AMPc está envolvido na mobilização de energia armazenada; (degradação de carboidratos no fígado e triglicerídeos nas células adiposas) conservação de água pelos rins; aumento na freqüência e força de contração do coração, todas por meio da ativação de enzimas pelas cinases AMPc-dependentes. As ações do AMPc, quando o estímulo é cessado, são interrompidas por uma cascata enzimática e o AMPc é degradado. 4.2.2. Cálcio e fosfoinositídios Alguns neurotransmissores, hormônios e fatores de crescimento podem originar essa via de segundos mensageiros. Pode ser desencadeada por receptores ligados à proteína G ou ligados à tirosina-cinase, que leva à estimulação de uma enzima de membrana, a fosfolipase C (PLC). Essa enzima atua em um componente da membrana plasmática, o fosfatidilinositol-4,5-bifosfato (PIP2), clivando-o em diacilglicerol (DAG) e inositol-1,4,5-trifosfato (IP3), que são segundos mensageiros. O diacilglicerol atua somente na membrana, onde ativa uma proteína cinase sensível a fosfolipídeos e ao cálcio, proteína cinase C. Essa proteína, uma vez ativada pode atuar em outras enzimas e desencadear vários processos. Já o IP3 atua no citoplasma (devido a sua maior hidrossolubilidade) e desencadeia a liberação de Ca2+ de suas vesículas de armazenamento. O Ca2+ em alta concentração pode se ligar à calmodulina, e este complexo pode ativar novas proteínas. 4.2.3. Monofosfato de guanosina cíclico (cGMP) Apresenta um mecanismo muito semelhante ao cAMP, mas desempenha seu papel somente em alguns tipos específicos de células. Atua estimulando proteínas cinases cGMP-dependentes. É o mecanismo que medeia as respostas ao óxido nítrico (NO), e alguns agentes vasodilatadores utilizam-se dessa via para exercerem seus efeitos. Os mecanismos de sinalização nem sempre ocorrem isoladamente. Pode haver interação entre esses mecanismos, de maneira antagônica ou sinérgica. Por exemplo, fármacos vasopressores, que contraem o músculo liso do endotélio, atuam pela liberação de Ca2+, mediada pelo IP3, e fármacos que levam ao relaxamento da musculatura lisa atuam através do aumento do cAMP (ação antagônica). Na liberação da glicose pelo fígado, há uma atuação conjunta de cAMP e fosfoinositídios (ação sinérgica). 4.3. Receptores ligados à quinase Os receptores ligados a proteínas de transdução são receptores de membrana que incorporam um domínio intercelular de proteína quinase ( em geral, tirosina quinase) em sua estrutura. Podem fazer um acoplamento direto ou indireto. 4.4. Receptores nucleares Os receptores nucleares são receptores que regulam a transcrição de genes. Alguns deles na verdade se localizam no citosol e migram para o compartimento nuclear na presença da ligante, mas a maioria se localiza no núcleo.
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