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INFECÇÕES POR Candida Fungos oportunistas não provocam doença na maioria dos indivíduos imunocompetentes, entretanto podem fazê-lo naqueles com defesas deficientes. ● Doenças – Candida albicans, a espécie de Candida mais importante, causa Monilíase, vaginite, esofagite e candidíase mucocutânea crônica. Causa também infecções disseminadas, como endocardite direita (especialmente em usuários de fármacos injetáveis) e infecções da corrente sanguínea (candidemia). ● Características – Candida albicans é uma levedura oval com brotamento único. Compõe a microbiota normal de membranas mucosas do trato respiratório superior, gastrointestinal e genital feminino, mas forma pseudo-hifas e hifas quando invade os tecidos. A levedura produz tubos germinativos quando incubada em soro a 37o C. Não exibe dimorfismo térmico. As leveduras são fungos unicelulares, não filamentosos, geralmente esféricos ou ovais. Da mesma forma que os fungos filamentosos, as leveduras são amplamente distribuídas na natureza: com frequência, são encontradas na forma de um pó branco cobrindo frutas e folhas. As leveduras de brotamento, como Saccharomyces, dividem-se de forma desigual. No brotamento, a célula parental forma uma protuberância (broto) em sua superfície externa. À medida que o broto se alonga, o núcleo da célula parental divide-se, e um dos núcleos migra para o broto. O material da parede celular é, então, sintetizado entre o broto e a célula parental e, por fim, o broto acaba se separando. Uma célula de levedura pode produzir mais de 24 células-filhas por brotamento. Algumas leveduras produzem brotos que não se separam uns dos outros; esses brotos formam uma pequena cadeia de células, denominada pseudo-hifa. Candida albicans adere-se às células epiteliais humanas na forma de levedura, mas requer pseudo-hifas para invadir os tecidos profundos. As leveduras são capazes de realizar crescimento anaeróbio facultativo, o que permite que esses fungos sobrevivam em vários ambientes. Se houver acesso ao oxigênio, as leveduras respiram aerobicamente para metabolizar carboidratos, formando dióxido de carbono e água; na ausência de oxigênio, elas fermentam os carboidratos e produzem etanol e dióxido de carbono. Essa fermentação é usada na fabricação de cerveja e vinho e nos processos de panificação. Possui esporos que se dividem assexuadamente. Os esporos assexuados são produzidos pelos fungos por mitose e posterior divisão celular; não há fusão de núcleos de células. Dois tipos de esporos assexuados são produzidos pelos fungos. Um tipo é o conidiósporo, ou conídio, um esporo unicelular ou multicelular que não é envolvido por uma bolsa. Outro tipo de conídio, o blastoconídio, é formado a partir de um broto originado de uma célula parental. Esses esporos são encontrados em algumas leveduras, como Candida albicans e Cryptococcus. Um clamidoconídio é um esporo de paredes espessas, formado pelo seu arredondamento e alargamento no interior de um segmento de hifa. Um fungo que produz clamidoconídios é a levedura Candida albicans. ● Transmissão – Como membro da microbiota normal, C. albicans já se encontra presente na pele e nas membranas mucosas. Não é, portanto, transmitida. ● Patogênese – Patógeno oportunista. Fatores predisponentes incluem imunidade mediada por células diminuídas, alterações de pele e membranas mucosas, supressão da microbiota normal e presença de corpos estranhos. O crescimento exacerbado de C. albicans na cavidade oral origina placas esbranquiçadas denominadas aftas. A vulvovaginite, com prurido e secreção, é favorecida pelo pH elevado, diabetes, ou uso de antibióticos. A invasão da pele ocorre em áreas mornas e úmidas, que se tornam avermelhadas e exsudativas. A monilíase é mais comum em bebês, pacientes imunossuprimidos e indivíduos submetidos à terapia antibiótica. Lesões cutâneas ocorrem frequentemente na pele danificada pela umidade. Infecções disseminadas, como endocardite e endoftalmite, ocorrem em pacientes imunossuprimidos e usuários de fármacos injetáveis. Em indivíduos imunossuprimidos, Candida pode disseminar-se a vários órgãos ou causar candidíase mucocutânea crônica. A candidíase mucocutânea crônica ocorre em crianças com um defeito de células T na imunidade contra Candida. O uso abusivo de fármacos injetáveis, de cateteres endovenosos de longo prazo, e hiperalimentação também predispõem à candidíase disseminada, especialmente endocardite direita. A esofagite por Candida, frequentemente acompanhada por envolvimento do estômago e intestino delgado, é observada em pacientes com leucemia e linfoma. ● Diagnóstico laboratorial - O exame microscópico do tecido revela leveduras e pseudo-hifas. Quando apenas leveduras são encontradas, a colonização é sugerida. Em exsudatos ou tecidos, leveduras com brotamento e pseudo-hifas coram-se como gram-positivas e podem ser visualizadas com o uso de coloração por calcoflúor branco. Em cultura, colônias típicas de leveduras são formadas e assemelham-se a grandes colônias estafilocóccicas. Forma colônias de leveduras em ágar Sabouraud. A formação de tubos germinativos e a produção de clamidósporos distinguem Candida albicans de virtualmente todas as demais espécies de Candida. Testes sorológicos não são úteis. ● Teste cutâneo – Utilizado para determinar a competência da imunidade mediada por células, e não para o diagnóstico de doenças por cândidas. Presume-se que um indivíduo que não responde a antígenos de Candida no teste cutâneo apresenta imunidade mediada por células deficiente. Tal indivíduo é anérgico, e outros testes cutâneos não podem ser interpretados. ● Tratamento – A doença de pele e das membranas mucosas pode ser tratada com agentes antifúngicos orais ou tópicos, como nistatina ou miconazol. A doença disseminada requer anfotericina B ou fluconazol. A candidíase mucocutânea crônica é tratável com cetoconazol. Fluconazol é o tratamento de escolha para monilíase orofaríngea ou esofágica. Caspofungina ou micafungina podem também ser utilizadas na candidíase esofágica. ● Prevenção – Fatores predisponentes devem ser reduzidos ou eliminados. A monilíase oral pode ser prevenida com pastilhas de clotrimazol ou com nistatina por “gargarejo e deglutição". O Fluconazol é útil na prevenção de infecções por cândidas em pacientes de alto risco, como aqueles submetidos a transplante de medula óssea e bebês prematuros. Micafungina pode também ser utilizada. Não há vacina. A microbiota vaginal normal é rica em lactobacilos produtores de peróxido (bacilos de Döderlein), os quais formam ácido lático a partir do glicogênio, cuja produção e secreção é estimulada pelos estrogênios. Esse mecanismo propicia uma acidez adequada (pH 4,5) do ambiente vaginal, dificultando a proliferação da maioria dos patógenos. A Candida é exceção, pois proliferam em ambiente ácido. Além do equilíbrio microbiológico da microbiota vaginal, outros fatores contribuem para a defesa vaginal: integridade da mucosa, presença das imunoglobulinas A e G e dos polimorfonucleares e monócitos. Entretanto, existem situações que predispõem ao aparecimento da candidíase: Fatores de risco: mudança de temperatura aumentando a umidade no local, imunossupressão por ex.: diabetes descompensada, uso de antibiótico, aumento do nível estrogênico (uso de pílulas combinadas). As espécies do gênero Candida são encontradas no tubo gastrointestinal, em mais de 60% da população adulta sadia, e as mulheres podem albergar de 20 a 30% desta levedura na vagina. As alterações dos mecanismos de defesa do organismo propiciam condições para o desenvolvimento de candidíase. C. albicans frequentemente cresce sobre as membranas mucosas da boca, do trato intestinal e do trato urogenital. As infecções normalmente são resultado do supercrescimento de microrganismos oportunistas, quando a competição da microbiota normal é suprimida pelo uso de antibióticos ou outros fatores. C. albicans é a causa da candidíase oral, ou sapinho. É também responsável por casos ocasionais de UNG (uretrite não gonocócica) em homens e pela candidíase vulvovaginal,a causa mais comum de vaginite. Cerca de 75% de todas as mulheres já vivenciaram pelo menos um episódio. As lesões da candidíase vulvovaginal lembram as da candidíase oral, porém produzem mais irritação: coceira intensa, uma descarga espessa, coalhada e amarela, com cheiro leveduriforme ou sem odor. As condições predisponentes incluem o uso de contraceptivos orais e a gestação, que causa um aumento do glicogênio na vagina. Os hormônios são provavelmente um fator; a candidíase é muito menos comum em meninas antes da puberdade ou em mulheres após a menopausa. As infecções por levedura são um sintoma frequente em mulheres que sofrem de diabetes não controlada. Assim, o diabetes e a terapia antibiótica são fatores de predisposição à vaginite por C. albicans. O pH da vagina normal é um pH ácido entre 4 e 4,5 por conta dos lactobacilos que produzem o ácido lático. Na candidíase vaginal, a secreção é branca e aderente às paredes vaginais, com aspecto grumoso, semelhante a “leite coalhado ou papel molhado”, acompanhado de prurido intenso e hiperemia. A relação sexual não é a principal forma de transmissão, visto que esses microrganismos podem fazer parte da flora endógena em até 50% das mulheres assintomáticas. Cerca de 80% a 90% dos casos são devidos à C. albicans e de 10% a 20% a outras espécies (C. tropicalis, C. glabrata, C. krusei, C. parapsilosis). Os sinais e sintomas podem se apresentar isolados ou associados, e incluem: ● Prurido vulvovaginal (principal sintoma, e de intensidade variável); ● Disúria: dor ao urinar; ● Dispareunia: dor na relação sexual; ● Corrimento branco, grumoso e com aspecto caseoso (“leite coalhado”); ● Hiperemia; alteração na circulação sanguínea do paciente, que faz com que haja um aumento na quantidade de sangue circulando; ● Edema vulvar; ● Fissuras e maceração da vulva; ● Placas brancas ou branco-acinzentadas, recobrindo a vagina e colo uterino. A candidíase vaginal é uma infecção comum nas mulheres com infecção pelo HIV. Caracteriza-se por corrimento vaginal esbranquiçado, prurido e edema eritematoso da membrana vaginal e da região labial. As mulheres com infecção pelo HIV apresentam um maior número de episódios de candidíase vaginal, com duração mais prolongada dos sintomas e quadro clínico mais grave, que as mulheres sem infecção pelo HIV. As mulheres com candidíase de repetição ou com episódios mais graves e de difícil controle devem ser alertadas para realizarem sorologias para HIV. À medida que a imunossupressão se torna mais profunda ocorre o aparecimento de monilíase oral. A maioria das mulheres que apresenta candidíase oral já teve episódios de infecção vaginal precedente. REFERÊNCIAS: WARREN, Levinson. Microbiologia médica e imunologia – 10. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2011.