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Nome: Franciane Lima Vieira Distúrbio vocal relacionado ao trabalho (DVRT) Nos dias atuais, sabendo da demanda do trabalho que envolve a comunicação, aproximadamente um terço das profissões tem a voz como ferramenta básica no processo laboral. São considerados profissionais da voz: professores, cantores, atores, religiosos, políticos, secretárias, advogados, promotores, juízes, profissionais da saúde, vendedores, ambulantes, agentes comunitários, cerimonialistas, radialistas, jornalistas, teleoperadores, entre outros profissionais que usam a sua voz como ferramenta de trabalho. As queixas vocais desses profissionais se dão pelo uso prolongado da voz, combinado com fatores individuais, ambientais e de organização do trabalho, aumentando sua prevalência, que acarreta no afastamento e incapacidade para as atividades laborais, elevando custos financeiros e sociais. O DVRT (Distúrbio de Voz Relacionado ao Trabalho) é definido como desvio vocal relacionada ao trabalho que diminui, compromete ou impede atuação do trabalhador que usa a comunicação como ferramenta principal e, além disso, pode haver ou não alteração orgânica da laringe. De acordo com a classificação que o texto sobre DVRT traz, há 3 tipos de adoecimento ligados ao trabalho: inserção do trabalhador ao ambiente que atua, constituição individual e uso da voz no trabalho. Nesse sentido, o trabalhador também está exposto a fatores de risco e o desenvolvimento do DVRT é multicausal, sendo associado a diversos fatores de forma isolada ou em conjunto. Esses riscos podem muito bem desencadear ou agravar o quadro de alteração vocal no profissional. Sobre os fatores de riscos que agravam ou desencadeiam a DVRT, eles são agrupados como: a) Fatores relacionados à característica e organização do trabalho; b) Fatores relacionados ao ambiente de trabalho; c) Fatores relacionados ao indivíduo. Agora, falando em termos epidemiológicos, os profissionais da voz que mais a utilizam são os professores, nos quais representam cerca de 2,2 milhões de trabalhadores da Educação Básica em 2016 (BRASIL; INEP, 2017), sendo eles com mais prevalência de adoecimento vocal (BEHLAU et al., 2012). Em segundo, vem os trabalhadores de atividade de teleatendimento que vem sendo estudado, representando cerca de 1.400.000. A Linha de Cuidado do DVRT é uma forma de organizar ações e serviços de saúde, em todos os níveis de complexidade, que permite articular os conhecimentos, tecnologias, profissionais e instituições para o acesso ao cidadão. O objetivo é melhorar a eficiência e racionalidade dos serviços. Para que Linha de Cuidados possa ser bem sucedida, precisará ser organizada em Rede de Cuidados constituída pelos profissionais de saúde que acompanha o trabalhador. A construção da Linha de Cuidado se deve aos serviços de saúde que devem ser mapeados, responsabilidades definidas e fluxos do itinerário terapêuticos devidamente organizados. A responsabilidade do cuidado é da equipe da UBS ou ESF, que faz o acompanhamento, garantindo o acesso aos outros níveis assistenciais, dando continuidade aos cuidados com o usuário. Para coordenar a Linha de Cuidado ao DVRT, entra em ação o Cerest, promovendo ações de educação em saúde, coordenação de projetos de promoção, vigilância e apoio matricial ou institucional. “O matriciamento ou apoio matricial é um modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica” (MS, 2011). Assim, o relato do agravo com o trabalho, precisará do encaminhamento da equipe de saúde para o fonoaudiólogo ou otorrinolaringologista para solicitação de exames complementares e solicitação do apoio matricial do Núcleo Apoio à Saúde da Família (NASF). Quando há confirmação do agravo com o trabalho, é preciso fazer o registro: a) no prontuário do trabalhador nos relatórios de saúde; b) no Sinan (sistema de notificação de adoecimento), se for o caso; c) na CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), caso seja um trabalhador segurado pelo INSS. Todos esses dados são importantes para a equipe de Visat do Cerest ou Vigilância em Saúde do município ou estado, para quando for acionada para realização de inspeção do ambiente e processo laboral. A partir disso, procura identificar situações de risco para o DVRT, definir e monitorar a inserção das adequações necessárias. O DVRT se manifesta pela presença de múltiplos variados sinais e sintomas, que podem estar presentes ao mesmo tempo ou não e variando com a gravidade do quadro clínico. Os sinais e sintomas, tempo de duração, forma de instalação, razões de melhora e piora e relação com o trabalho são muito importantes de serem caracterizados. O início dos sintomas se dão nos finais de jornada de trabalho e diminuição destes depois do repouso noturno ou finais de semana. Discretamente, os sintomas vão aparecendo aos poucos continuamente durante a jornada laboral ou durante o dia sem recuperação, mesmo o trabalhador fazendo repouso vocal impedindo o uso vocal de maneira eficiente. É importante salientar que o quadro de DVRT é também associado ao sofrimento psíquico, portanto na anamnese deve-se dar atenção ao aparecimento dos sintomas psicoemocionais ou psicossomáticos. A avaliação para o diagnóstico do DVRT, precisa levar em conta os aspectos: a) História clínica, laboral e evidências epidemiológicas; b) Avaliação médica com visualização laringofaríngea, realizada pelo otorrinolaringologista; c) Avaliação fonoaudiológica da voz; d) Inspeção in loco (visita ao local) do posto/atividade de trabalho para investigar a relação do adoecimento com o trabalho, se for necessário. Mesmo na presença de outras comorbidades existentes na vida do trabalhador, a doença deve ser relacionada ao trabalho, por causa do princípio de concausalidade, ou seja, podem coexistir causas antecedentes ao distúrbio vocal, sem que impeçam sua relação com o trabalho. Os distúrbios de voz entram no Grupo II e III (Przysiezny e Przysiezny, 2015) na Classificação de Schilling usada pelo Ministério da Saúde que classifica doenças relacionadas ao trabalho: a) GRUPO I: doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas doenças profissionais, stricto sensu, e pelas intoxicações agudas de origem ocupacional. Ex: silicose b) GRUPO II: doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco contributivo, mas não necessário. O nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica. Ex: hipertensão arterial e as neoplasias malignas. c) GRUPO III: doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa. Ex.: doenças alérgicas, distúrbios mentais. O tratamento, reabilitação e o retorno ao trabalho, conta com o sucesso do planejamento terapêutico e a avaliação do fonoaudiólogo junto ao otorrinolaringologista, sendo esse planejamento específico para cada caso. A fonoaudiologia tem o papel fundamental no tratamento, pois possibilita a readaptação vocal e acaba ajudando no retorno do trabalhador às suas atividades no ambiente de trabalho. Todo o trabalho em conjunto possibilita o diagnóstico precoce do DVRT e dá ao trabalhador o melhor prognóstico possível, mantendo sempre a intervenção interdisciplinar incluindo ações de vigilância sobre o ambiente e organização do trabalho. REFERÊNCIAS BEHLAU, M. et al. Epidemiology of voice disorders in teachers and nonteachers in Brazil: prevalence and adverse effects. Journal of voice: official journal of the Voice Foundation, v. 26, n. 5, p. e9-e18, Set. 2012 BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Censo escolar 2017. Notas Estatísticas. Brasília. jan. 2018. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_escolar/notas_estatisticas/2018/n otas_estatisticas_Censo_Escolar_2017.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2022. CENTRO, de Educação dos Trabalhadores da Saúde. Manual de Orientações para o Apoio Matricial. Secretaria Municipal de Saúde de Campinas.Campinas, 14 e 23 nov. 2017. Ministério da Saúde; Organização Pan-americana da Saúde. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Brasília, 2001. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_relacionadas_trabalho1.pdf>. Acesso em: 24 mar. 2022. PRZYSIEZNY, P. E.; PRZYSIEZNY, L. T. Work-related voice disorder. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, São Paulo, v. 81, n. 2, p. 202-211, 2015. http://download.inep
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