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Apostila de Filosofia - 8 ano

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FILOSOFIA 
 
 
 
Ensino Fundamental 
8º Ano 
 
 
 
Textos 
 
 
 
 
8º Ano 
 
 
 
 
 
 
 
 
Sites: 
http://educacao.uol.com.br/ 
http://www.infoescola.com 
http://www.mundojovem.com.br/artigos/ 
 
SUMÁRIO 
http://educacao.uol.com.br/
http://www.infoescola.com/
 
1. Mas afinal, para que serve a filosofia? 
2. 
Filosofia: para que serve?: O conhecimento sem finalidade 
utilitária 
 
3. Pensamento filosófico: Uma maneira de pensar o mundo 
4. 
Conhecer o mundo: Mitologia, religião, ciência, filosofia, senso 
comum 
 
5. Ética: A área da filosofia que estuda o comportamento humano 
6. Preconceito: A ética e os estereótipos irracionais 
7. Senso Crítico 
8. O que esperar de adolescentes e jovens? 
9. 
Filosofia e felicidade: O que é ser feliz segundo os grandes filósofos 
do passado e do presente 
 
10. A busca da felicidade 
11. Aborto: A ética e a interrupção da gravidez 
12. Afeto é algo que se aprende 
13. Solidão e amizade: companheiras de vida 
14. O sentido da palavra Amor 
15. Consumo e novas tecnologias. Para quem? 
15. Consumo: a lógica que rege a sociedade 
16. Existencialismo: O homem está condenado a ser livre 
17. Pragmatismo: Uma filosofia para a vida 
18. Ceticismo: Deve se duvidar de tudo 
19. Sugestão de filmes para reflexão 
 
 
 
 
 
A Filosofia no Ensino Fundamental tem por objetivo estimular os alunos a: 
- Participar em grupos. 
- Dialogar. 
- Entender a responsabilidade de pertencer a um grupo. 
- Aumentar a autoestima. 
- Aprender a ser tolerante com as ideias dos outros. 
- Desenvolver a paciência e a compreensão com aqueles menos favorecidos. 
- Alargar a visão do mundo e a capacidade de questionar e de investigar o mundo. 
- Refletir sobre valores morais e éticos. 
- Despertar para a apreciação da arte e da beleza da vida. 
Os educadores devem vivenciar com os alunos as atitudes de companheirismo e 
colaboração, hábito de leitura, diminuição de preconceitos, amor a si mesmo e aos 
outros, capacidade de diálogo e comunicação etc. 
Lembremos que a filosofia educa o intelecto e a emoção. Não pode reduzir-se a 
fórmulas feitas. As aulas de filosofia não são somente para lembrar que Platão 
nasceu em Atenas em 427 a.C. e morreu em 347, nem que foi discípulo de Sócrates. 
Além destes dados que ajudam a entender como surge e se desenvolve a filosofia 
ocidental, os alunos precisam ser estimulados a observar, a questionar, a repensar o 
mundo. Filosofia é observar uma flor, observar uma pedra, observar uma estrela no 
céu e perguntar-se: Quem sou eu? De onde surgiu este universo? Filosofar é, então, 
uma atitude espontânea. 
 
Isabel F. Furini é educadora e escritora. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Textos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Mas afinal, para que serve a filosofia? 
Para nada. 
Eis a resposta mais plausível. 
A Filosofia “não serve” para nada por que não é serva, é absoluta. 
Assim como o olho é fundamento da visão, a Filosofia é o fundamento de todo interrogar. Mais 
que isso: é a essência de todo fundamento. 
O erro inicia-se em querer avaliar a Filosofia de fora, num campo estranho à própria Filosofia. É 
como querer julgar o supremo tribunal que é a fonte de todo julgar. 
Em nossa cultura contemporânea, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito 
de existir se tiver finalidade prática, utilidade imediata. Aristóteles, há 2.400 anos, ao contrário 
desse pensamento reducionista, primava o conhecimento pelo conhecimento. Ele 
hierarquizava os saberes, colocando no topo as ciências teoréticas, que cuidavam do estudo 
das causas primeiras, da essência de tudo o que há. Depois as ciências comportamentais 
(política e ética). Por fim, as ciências produtivas, mecânicas (as úteis nos dias de hoje). O 
fundamental para ele era cultivar a essência do homem. E isso só seria possível pela Filosofia. 
Para o idealista alemão Schelling (1775 -1854), falar da utilidade da filosofia é contrário a 
dignidade dessa ciência. Aquele que se prende a esse tipo de questão certamente não está à 
altura de possuir a idéia de Filosofia. A Filosofia se desobriga por si mesma de toda relação com 
a utilidade. Ela só existe em função de si mesma. Existir em função de outra coisa seria de 
imediato destruir sua própria essência. A Filosofia é sempre o fim, nunca pode ser reduzia à 
categoria de um simples meio. 
Agora, se criticar o caminho trilhado pelas idéias dominantes e poderes estabelecidos for útil. 
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil. 
Se buscar compreender a significação do mundo for útil. 
Se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil. 
Se dar a cada um de nós os meios para sermos conscientes de nossas ações numa prática que 
deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então a Filosofia é o mais útil de todos os 
saberes de que os seres humanos são capazes. 
Matheus Arcaro 
Blog: oqueinspira? - http://oqueinspira.blogspot.com 
 
 
 
 
http://oqueinspira.blogspot.com/
Filosofia: para que serve?: O 
conhecimento sem finalidade utilitária 
Carlos Zanchetta 
 
Enquanto esperavam o próximo discurso na ágora, a praça das feiras e das discussões, os 
gregos do século 6 a.C. devem ter se perguntado: "Essa filosofia que apareceu por aí. Serve 
para quê?" 
 
É próprio da filosofia perguntar, questionar, buscar explicações. Por que haveria ela de escapar 
à indagação sobre sua própria existência? Ela, que tanto preza a interrogação, não poderia 
mesmo se furtar a seu próprio porquê. 
 
Vinte e cinco séculos se passaram e a velha pergunta não cala: para que serve a filosofia? Na 
opinião da maior parte das pessoas, no mundo utilitarista em que vivemos, tudo tem de ter 
uma razão de ser e uma finalidade. Então, a resposta ainda é necessária. E ela seria: a filosofia 
não serve para nada! 
 
 
Sem finalidade 
Mas você já pensou que muitas outras coisas não têm finalidade específica e nem por isso são 
desimportantes? A arte, por exemplo, serve para quê? Qual a finalidade da natureza, do mundo 
físico? Não é por não serem utilitárias que a arte, a natureza e também a filosofia deixam de ter 
sua razão de ser. 
 
Se você já estuda filosofia na escola, deve estar se perguntando: "Por que estou lendo sobre 
filosofia, se ela não serve para nada? Para que vai me servir isso?" Você acaba de se questionar. 
Talvez tenha arranjado uma resposta, mesmo que provisória, e outra pergunta surgiu. É assim 
que se começa a filosofar. Perguntando sobre o mundo, sobre si e o outro. 
 
O que sou? 
O que sou? Essa é uma das primeiras perguntas que surgem para quem quer filosofar. Quer 
continuar? Pois saiba que vai se iniciar uma história de perguntas sem fim. Veja como Marilena 
Chauí, filósofa brasileira, descreve o pensamento filosófico: 
 
"Eu imagino que a filosofia busca uma atitude precisa: perguntar. E perguntar, não para 
encontrar imediatamente respostas. Perguntar para que respostas sejam dadas e voltar a fazer 
perguntas sobre as respostas que foram dadas. É nunca abrir mão da atitude crítica, sabendo 
que é uma atitude desgraçada, na medida em que não teremos nunca a vantagem de quem, 
em um navio, possui um mapa, uma bússola, todos os aparelhos eletrônicos, de tal modo que o 
piloto possa até mesmo dormir e o navio vá sozinho para o seu destino. A ideia de assumir até 
o fim um pensamento crítico é aceitar que navegamos sem mapa, sem bússola, no máximo 
talvez com uma estrela, e que essa estrela seja: continuar perguntando." (in, Lorieri e Rios, 
2004, págs.29-30) 
 
http://educacao.uol.com.br/historia/ult1690u6.jhtm
"Só sei que nada sei" 
Isso lhe parece desesperador? Pense bem. Se quer continuar no caminho da filosofia, vai 
precisar se distanciar um pouco das certezas. A filosofia não lhe trará segurança a respeito de 
muita coisa. Sócrates, por exemplo, dizia: "Só sei que nada sei". 
 
Ele punha por terra tudo o que julgava mais certo, para então construir o seu conhecimento. Sevocê for aceitar o desafio de filosofar, vai perceber que a filosofia é assim meio fugidia, atiça 
nossas incertezas. Ela é sedutora como as sereias que quase encantaram Ulisses na "Odisseia". 
Mas, ao contrário do que acontece nessa história, a filosofia não põe em risco a aventura de 
navegar, sem mapas nem bússolas. 
 
 
Hora de filosofar 
 
1) Sabia que, a partir de 2008, apesar de sua "insignificância", a filosofia e a sociologia 
voltarão oficialmente a fazer parte do currículo de todas as escolas públicas brasileiras? 
 
2) "A natureza virou recurso - demos-lhe essa finalidade - e nunca antes ela esteve tão 
próxima do fim". 
 
Os termos fim e finalidade têm o mesmo significado? Explique. 
 
3) A questão ambiental é um dos assuntos mais urgentes, também para a filosofia. 
Imagine que você está no ano de 2057 e vê que o meio ambiente foi irreversivelmente 
devastado. Você irá viajar no tempo de volta para 2007 portando: 
 
a) um relatório com a descrição do que viu; e 
b) uma lista com dez iniciativas para que você e sua geração possam se antecipar ao 
problema da devastação ambiental. 
 
 
Carlos Zanchetta, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é bacharel e licenciado 
em filosofia, com especialização em história da cultura; autor de livro didático e editor de 
cursos para capacitação de professores. pagina3@pagina3ped.com 
 
 
 
 
http://educacao.uol.com.br/ 
 
 
 
 
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/socrates-o-metodo-socratico-e-o-parto-das-ideias.htm
mailto:pagina3@pagina3ped.com
http://educacao.uol.com.br/
Pensamento filosófico: Uma maneira de 
pensar o mundo 
Antonio Carlos Olivieri 
 
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema acabado, fechado em si 
mesmo. A filosofia é uma maneira de pensar e é também uma postura diante do mundo. 
 
Antes de mais nada, ela é uma forma de observar a realidade que procura pensar os 
acontecimentos além da sua aparência imediata. Ela pode se voltar para qualquer objeto: pode 
pensar sobre a ciência, seus valores e seus métodos; pode pensar sobre a religião, a arte; o 
próprio homem, em sua vida cotidiana. 
 
Uma história em quadrinhos ou uma canção popular podem ser objeto da reflexão filosófica. 
Há alguns anos, foi publicado no Brasil, um livro chamado "Os Simpsons e a Filosofia", que 
tratava das questões filosóficas implícitas no famoso desenho animado da TV. 
 
Como o próprio Bart Simpson, a filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, 
coloca em dúvida, faz perguntas importunas, abre a porta das possibilidades, faz entrever 
outros mundos e outros modos de compreender a vida. 
 
Uma disciplina indisciplinada 
Por isso, a filosofia incomoda, pois ela questiona o modo de ser das pessoas, das sociedades, do 
mundo. Discute as práticas política, científica, técnica, ética, econômica, cultural e artística. Não 
há área onde ela não se meta, não indague, não perturbe. E, nesse sentido, a filosofia pode ser 
perigosa ou subversiva, pois pode virar a ordem estabelecida de cabeça para baixo. 
 
Quando surgiu entre os gregos, no século 6 a.C., a filosofia englobava tanto a indagação 
filosófica propriamente dita, quanto aquilo que hoje é chamado de conhecimento científico. O 
filósofo refletia e teorizava sobre todos os assuntos, procurando responder não só ao porquê 
das coisas, mas, também, ao como, ou seja, ao modo pelo qual elas acontecem ou "funcionam". 
 
Euclides, Tales e Pitágoras, por exemplo, foram filósofos que também se dedicaram ao estudo 
da geometria. Aristóteles, por sua vez, investigou problemas físicos e astronômicos, na medida 
em que esses problemas também interessavam à cultura e à sociedade de sua época. 
 
O saber científico 
Só a partir do século 17, com o aperfeiçoamento do método científico - baseado na observação, 
na experimentação e matematização dos resultados -, a ciência tal qual a entendemos hoje 
começou a se constituir, como uma forma específica de abordagem do real que se destacava ou 
desprendia da filosofia propriamente dita. 
 
Afastando-se da filosofia por se tornarem mais específicas, apareceram pouco a pouco as 
ciências particulares, que investigam determinados aspectos da realidade: à física interessam 
os movimentos dos corpos; à biologia, a natureza dos seres vivos; à química, as transformações 
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/pre-socraticos-origens-da-filosofia-e-os-primeiros-filosofos-gregos.htm
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/aristoteles-o-mundo-da-experiencia-as-quatro-causas-etica-e-politica.htm
http://educacao.uol.com.br/ciencias/ult1686u50.jhtm
das substâncias; à astronomia, os corpos celestes; à psicologia, os mecanismos do 
funcionamento da mente humana; à sociologia, a organização social, etc. 
 
O conhecimento fragmenta-se entre as várias ciências, pois cada uma se ocupa somente de 
uma parte do real. Estudam os fenômenos que pertencem à sua área específica e pretendem 
mostrar como estes ocorrem e como se relacionam com outros fenômenos. A posse do 
conhecimento sobre os fenômenos naturais e humanos gera a possibilidade de prevê-los e 
controlá-los. 
 
Integração e totalidade 
Por outro lado, a filosofia trata dessa mesma realidade, só que - em vez de separá-la em 
conhecimentos particulares e estanques - considera-a no interior da totalidade de fenômenos, 
ou seja, procura enxergar a realidade a partir de uma visão de conjunto. Qualquer que seja o 
problema, a reflexão filosófica considera cada um de seus aspectos, relacionando-o ao contexto 
dentro do qual ele se insere e restabelecendo a integridade do universo humano. 
 
Sob o ponto de vista filosófico, por exemplo, é impossível considerar os problemas econômicos 
do Brasil somente a partir de princípios de economia. É necessário relacioná-la com os 
interesses das diversas classes sociais, os interesses políticos, os interesses nacionais, etc. 
 
Um país economicamente instável é um país política e socialmente instável. Já para a ciência 
econômica, estrito senso, isso não vem ao caso. Seu foco é verificar como a inflação ou a 
recessão funciona para poder controlá-la, independentemente dos reflexos que esse controle 
tenha para a sociedade. (Evidentemente, estamos falando das coisas teoricamente, e portanto 
podemos isolá-las. Na prática, nem sempre é assim que isso ocorre. O alemão Karl Marx fez da 
economia um elemento essencial de sua doutrina filosófica). 
 
Perguntas e mais perguntas 
Por isso, sem desmerecer o conhecimento especializado das várias ciências, a reflexão filosófica 
é sempre - mais do que necessária - obrigatória. Cabe ao filósofo refletir sobre o que é ciência, 
o que é método científico, qual a sua validade e seus limites. 
 
A ciência é realmente um conhecimento objetivo? O que é a objetividade e até que ponto um 
sujeito histórico - o cientista - pode ser objetivo, isto é, isento de interesses pessoais? Cabe ao 
filósofo, também, refletir sobre a condição humana atual: o que é o homem? O que é 
liberdade? O que é trabalho? Quais as relações entre homem e trabalho? É possível existir uma 
outra ordem social? 
 
A própria escola é alvo de reflexão filosófica. A educação pressupõe uma visão do homem como 
um ser incompleto, que pode ser aprimorado, educado, ao contrário dos animais, que não 
precisam ser educados, pois orientam-se pelos instintos. Só os educamos, ou domesticamos, 
para acomodá-los às nossas necessidades humanas. 
 
O caso dos homens é diferente, sem dúvida, mas, para que o ser humano é educado? Para o 
exercício da liberdade e da responsabilidade ou só para se inserir na ordem estabelecida? Em 
outras palavras, a educação ocorre para cada homem saber pensar por si próprio ou para 
aceitar as regras que outros pensaram para ele? 
 
A filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos fenômenos. Não basta saber como 
funcionam, mas o que significam na ordem geral do mundo humano. A filosofia emite juízos de 
valor ao julgar cada fato, cada ação em relação aotodo. A filosofia vai além daquilo que é, para 
propor como poderia ser. E, portanto, indispensável para a vida de todos nós, que desejamos 
ser seres humanos completos, cidadãos livres e responsáveis por nossas escolhas. 
 
Características do pensamento filosófico 
O trabalho do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, descobrindo seus 
significados mais profundos. Porém, como se faz isso? 
 
Em primeiro lugar, é preciso estabelecer o que é reflexão. Refletir é pensar, considerar 
cuidadosamente o que já foi pensado. Como um espelho que reflete a nossa imagem, a 
reflexão do filósofo também deixa ver, revela, mostra, traduz os valores envolvidos nas coisas, 
nos acontecimentos e nas ações humanas. 
 
Para chegar a isso, segundo o filósofo e educador Demerval Saviani, a reflexão filosófica deve 
possuir as seguintes características: 
 
 Radicalidade - ou seja, chegar até a raiz dos acontecimentos, isto é, aos seus 
fundamentos; à sua origem, não só cronológica, mas no sentido de chegar aos valores 
originais que possibilitaram o fato. A reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão em 
profundidade. 
 Rigor - isto é, seguir um método adequado ao objeto em estudo, com todo o rigor, 
colocando em questão as respostas mais superficiais, comuns à sabedoria popular e a 
algumas generalizações científicas apressadas. 
 Contextualidade - como já se disse antes, a filosofia não considera os problemas 
isoladamente, mas dentro de um conjunto de fatos, fatores e valores que estão 
relacionados entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas tanto 
verticalmente, dentro do desenvolvimento histórico, quanto horizontalmente, 
relacionando-os a outros aspectos da situação da época. 
 
Assim, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões diversas, dependendo das 
premissas de partida e da situação histórica dos próprios pensadores, o processo do filosofar 
será sempre marcado por essas características, resultando em uma reflexão rigorosa, radical e 
de conjunto. 
 
 
Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação é escritor, jornalista e diretor da 
Página 3 Pedagogia & Comunicação. 
 
 
 
http://educacao.uol.com.br/ 
 
 
 
http://educacao.uol.com.br/
Conhecer o mundo: Mitologia, religião, 
ciência, filosofia, senso comum 
Antonio Carlos Olivieri 
 
Há muitos modos de se conhecer o mundo, que dependem da situação do sujeito diante do 
objeto do conhecimento. Ao olhar as estrelas no céu noturno, um índio caiapó as enxerga a 
partir de um ponto de vista bastante diferente do de um astrônomo. 
O caiapó vê nas estrelas as fogueiras que alguns de seus deuses acendem no céu para tornar a 
noite mais clara. O cientista vê astros que têm luz própria e que formam uma galáxia. O índio 
compreende e conhece as estrelas a partir de um ponto de vista mitológico ou religioso. O 
astrônomo as compreende e conhece a partir de um ponto de vista científico. 
A mitologia, a religião e a ciência são formas de conhecer o mundo. São modos do 
conhecimento, assim como o senso comum, a filosofia e a arte. Todos eles são formas de 
conhecimento, pois cada um, a seu modo, desvenda os segredos do mundo, explicando-o ou 
atribuindo-lhe um sentido. Vamos examinar mais de perto cada uma dessas formas de 
conhecimento. 
 
O mito e a religião 
O mito proporciona um conhecimento que explica o mundo a partir da ação de entidades - ou 
seja, forças, energias, criaturas, personagens - que estão além do mundo natural, que o 
transcendem, que são sobrenaturais. 
 
Veja, por exemplo, o mito através do qual os antigos gregos explicavam a origem do mundo: 
No princípio era o Caos, o Vazio primordial, vasto abismo insondável, como um imenso mar, 
denso e profundo, onde nada podia existir. Dessa oca imensidão sem onde nem quando, de um 
modo inexplicável e incompreensível, emergiram a Noite negra e a Morte impenetrável. Da 
muda união desses dois entes tenebrosos, no leito infinito do vácuo, nasceu uma entidade de 
natureza oposta à deles, o Amor, que surgiu cintilando dentro de um ovo incandescente. 
Ao ser posto no regaço do Caos, sua casca resfriou e se partiu em duas metades que se 
transformaram no Céu e na Terra, casal que jazia no espaço, espiando-se em deslumbramento 
mútuo, empapuçados de amor. Então, o Céu cobriu e fecundou a Terra, fazendo-a gerar muitos 
filhos que passaram a habitar o vasto corpo da própria mãe, aconchegante e hospitaleiro. 
Assim como o mito, a religião, ou melhor, as religiões também apresentam uma explicação 
sobrenatural para o mundo. Para aderir a uma religião, é obrigatório crer ou ter fé nessa 
explicação. Além disso, é uma parte fundamental da crença religiosa a fé em que essa 
explicação sobrenatural proporciona ao homem uma garantia de salvação, bem como 
prescreve maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os 
sacramentos e as orações. 
Antes de seguir em frente, convém esclarecer que não vem ao caso discutir aqui a validade do 
conhecimento religioso. Em matéria de provas objetivas, se a religião não tem como provar a 
existência de Deus, a ciência também não tem como provar a Sua inexistência. E, a propósito 
disso, vale a pena apresentar uma outra narrativa filosófica: 
Certa vez, um cosmonauta e um neurologista russos discutiam sobre religião. O neurologista era 
cristão, e o cosmonauta não. “Já estive várias vezes no espaço”, gabou-se o cosmonauta, “e 
nunca vi nem Deus, nem anjos”. “E eu já operei muitos cérebros inteligentes”, respondeu o 
neurologista, “e também nunca vi um pensamento”. 
 
O mundo de Sofia, Jostein Gaardner, Cia. das Letras, 1995 
 
A ciência 
A ciência procura descobrir como a natureza "funciona", considerando, principalmente, as 
relações de causa e efeito. Nesse sentido, pretende buscar o conhecimento objetivo, isto é, que 
se baseia nas características do objeto, com interferência mínima do sujeito. Veja, por exemplo, 
a seguinte descrição científica: 
 
O coração é um músculo oco, em forma de cone achatado com a base virada para cima e a 
ponta voltada para baixo, do tamanho aproximado de um punho fechado. O músculo cardíaco é 
chamado de miocárdio. Sua superfície interna é recoberta por uma membrana delgada, o 
endocárdio. Sua superfície externa tem um invólucro fibro-seroso, o pericárdio. 
 
Grande Enciclopédia Larousse Cultural, 1998 
 
Quando se fala em "mínima interferência do sujeito", quer se dizer que a descrição de coração 
proposta acima é válida independentemente do estudioso de anatomia que a formulou. 
A definição tradicional de ciência pressupõe que ela seja um modo de conhecimento com 
absoluta garantia de validade. A ciência moderna já não tem a pretensão ao absoluto, mas ao 
máximo grau de certeza. 
 
Quanto à garantia de validade, ela pode consistir: 
 
 
o; 
avanços da própria ciência. 
 
Finalmente, é importante esclarecer que a aplicação da ciência resulta na tecnologia, ou no 
conhecimento tecnológico. 
 
O senso comum 
O senso comum ou conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo, baseada 
na opinião, que não inclui nenhuma garantia da própria validade. Para alguns filósofos, o senso 
comum designa as crenças tradicionais do gênero humano, aquilo em que a maioria dos 
homens acredita ou devem acreditar. 
A mais completa tradução do senso comum talvez sejam os ditados populares. A título de 
exemplo, eis alguns: 
 
 
 
"Quem ri por último ri melhor." 
 
 
 
A filosofia 
Para Platão, a filosofia é o uso do saber em proveito do homem. Isso implica a posse ou 
aquisição de um conhecimento que seja, ao mesmo tempo, o mais válido e o mais amplo 
possível; e também o uso desse conhecimento em benefício do homem. Essa definição, porém, 
exige a uma definição de benefício, que por sua vez exige uma definição de Bem. Para saber o 
que é o Bem, entretanto, também é necessário descobrir o que é a Verdade. 
Alguns filósofos, definem a filosofia como a busca do Bem, da Verdade, do Belo e de como os 
homens podemconhecer essas três entidades. Portanto, a filosofia toma para si a árdua tarefa 
de debater problemas ou especular sobre problemas que ainda não estão abertos aos métodos 
científicos: o bem e o mal, o belo e o feio, a ordem e a liberdade, a vida e a morte. 
Vamos a um exemplo de texto filosófico, em que um filósofo norte-americano, John Dewey, 
procura refletir justamente sobre o que é senso comum: 
 
Visto que os problemas e as indagações em torno do senso comum dizem respeito às interações 
entre os seres vivos e o ambiente, com o fim de realizar objetos de uso e de fruição, os símbolos 
empregados são determinados pela cultura corrente de um grupo social. Eles formam um 
sistema, mas trata-se de um sistema de caráter mais prático que intelectual. Esse sistema é 
constituído por tradições, profissões, técnicas, interesses e instituições estabelecidas no grupo. 
As significações que o compõem são efeito da linguagem cotidiana comum, com a qual os 
membros do grupo se intercomunicam. 
 
Lógica, VI, 6, J. Dewey 
 
Tradicionalmente, a filosofia se divide em cinco áreas: 
 Lógica, que estuda o método ideal de pensar e investigar; 
 Metafísica, que estuda a natureza do Ser (ontologia), da mente (psicologia filosófica) e 
das relações entre a mente e o ser no processo do conhecimento (epistemologia); 
 Ética, que estuda o Bem, o comportamento ideal para o ser humano; 
 Política, que estuda a organização social do homem; 
 Estética, que estuda a beleza e que pode ser chamada de filosofia da Arte. 
 
Convém concluir lembrando que a ciência e o pensamento científico se originaram com a 
filosofia na Grécia da Antiguidade. Com o passar do tempo, certas áreas da especulação 
filosófica, como a matemática, a física e a biologia ganharam tal especificidade que se 
separaram da filosofia. 
 
A arte 
O conhecimento proporcionado pela arte não nos dá o conhecimento objetivo de uma coisa 
qualquer, mas o de um modo particular de compreendê-la, um modo que traduz a 
sensibilidade do artista. Trata-se, portanto, de um conhecimento produzido pelo sujeito e pela 
subjetividade. 
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/platao-1-a-republica-e-o-metodo-dialetico.htm
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/logica---introducao-uma-porta-ao-mundo-da-filosofia-e-da-ciencia.htm
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/etica-a-area-da-filosofia-que-estuda-o-comportamento-humano.htm
http://educacao.uol.com.br/filosofia/politica-a-arte-ou-ciencia-de-governar.jhtm
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/estetica-arte-traduz-o-espirito-de-renovacao-continua.htm
 
Veja por exemplo o seguinte soneto, escrito pelo poeta bahiano do século 17, Gregório de 
Matos, no qual ele dá a sua "visão" do braço de uma imagem do Menino Jesus que havia sido 
quebrada por holandeses protestantes, quando da invasão da cidade de Salvador: 
 
O todo sem a parte não é todo; 
A parte sem o todo não é parte; 
Mas se a parte o faz todo, sendo parte, 
Não se diga que é parte, sendo o todo. 
Em todo sacramento está Deus todo, 
E todo assiste inteiro em qualquer parte, 
E feito em partes todo em toda a parte 
Em qualquer parte sempre fica todo. 
O braço de Jesus não seja parte, 
Pois que feito Jesus em partes todo, 
Assiste cada parte em sua parte. 
Não se sabendo parte deste todo, 
Um braço que lhe acharam, sendo parte, 
Nos diz as partes todas deste todo. 
 
 
Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação é escritor, jornalista e diretor da 
Página 3 Filosofia & Comunicação. 
 
 
 
 
http://educacao.uol.com.br/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u572.jhtm
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Ética: A área da filosofia que estuda o 
comportamento humano 
A palavra ética se origina do termo grego ethos, que significa "modo de ser", "caráter", 
"costume", "comportamento". De fato, a ética é o estudo desses aspectos do ser humano: por 
um lado, procurando descobrir o que está por trás do nosso modo de ser e de agir; por outro, 
procurando estabelecer as maneiras mais convenientes de sermos e agirmos. Assim, pode-se 
dizer que a ética trata do que é "bom" e do que é "mau" para nós. 
 
Bom e mau, ou melhor, Bem e Mal, entretanto, são valores que não apresentam, para o ser 
humano, um caráter absoluto. Ao longo dos tempos, nas mais diversas civilizações, várias 
interpretações serão dadas a essas duas noções. A ética acompanha esse desenvolvimento 
histórico, para que isso sirva de base para uma reflexão sobre como ser ético no tempo 
presente. 
Considera também como esses valores se aplicam no relacionamento interpessoal, pois a noção 
de um modo correto de se comportar e posicionar na vida pressupõe que isso seja feito para 
que cada um conviva em harmonia com os outros. A ética, portanto, trata de convivência entre 
seres humanos na sociedade. Num sentido mais restrito, ela se restringe às relações pessoais 
de cada um. Num sentido mais amplo - já que ninguém vive numa pequena comunidade isolada 
-, ela se relaciona com a política - da cidade, do país e do mundo. Nesse sentido, ela é 
possivelmente a área mais prática da filosofia. 
Mas, antes de mais nada, qual o significado da palavra ética, em termos filosóficos? 
O filósofo contemporâneo espanhol Fernando Savater apresenta uma resposta para essa 
questão em termos muito simples, num livro intitulado Ética para meu filho, da Editora Martins 
Fontes. Como diz o título, ele escreveu com o intuito de explicar a questão para o seu filho 
adolescente. A seguir, você pode ler um breve trecho da resposta de Savater para a questão "o 
que é ética?". Esse é um excelente ponto de partida para você pensar no assunto: 
 
“Há ciências que estudamos por simples interesse de saber coisas novas; outras, para 
adquirir uma habilidade que nos permita fazer ou utilizar alguma coisa; a maioria, 
para conseguir um trabalho e ganhar a vida com ele. Se não sentirmos curiosidade 
nem necessidade de realizar esses estudos, poderemos prescindir deles 
tranquilamente. Há uma infinidade de conhecimentos muito interessantes mas sem os 
quais podemos nos arranjar muito bem para viver. Eu, por exemplo, lamento muito 
não ter nem ideia de astrofísica ou de marcenaria, que dão tanta satisfação a outras 
pessoas, embora essa ignorância nunca me tenha impedido de ir sobrevivendo até 
hoje. E você, se não me engano, conhece as regras do futebol mas é bem fraco em 
beisebol. Não tem maior importância, você desfruta os campeonatos mundiais, 
dispensa olimpicamente a liga americana e todo o mundo sai satisfeito. 
O que eu quero dizer é que certas coisas a pessoa pode aprender ou não, conforme 
sua vontade. Como ninguém é capaz de saber tudo, o remédio é escolher e aceitar 
com humildade o muito que ignoramos. É possível viver sem saber astrofísica, 
marcenaria, futebol e até mesmo sem saber ler e escrever: vive-se pior, decerto, mas 
vive- se. No entanto, há outras coisas que é preciso saber porque, por assim dizer, são 
fundamentais para nossa vida. E preciso saber, por exemplo, que saltar de uma 
varanda do sexto andar não é bom para a saúde; ou que uma dieta de pregos 
(perdoem-me os faquires!) e ácido prússico não nos permitirá chegar à velhice. 
Também não é aconselhável ignorar que, se dermos um safanão no vizinho cada vez 
que cruzarmos com ele, mais cedo ou mais tarde haverá consequências muito 
desagradáveis. Pequenezas desse tipo são importantes. Podemos viver de muitos 
modos, mas há modos que não nos deixam viver. 
Em resumo, entre todos os saberes possíveis existe pelo menos um imprescindível: o 
de que certas coisas nos convêm e outras não. Certos alimentos não nos convêm, 
assim como certos comportamentos e certas atitudes. Quero dizer, é claro, que não 
nos convêm se desejamos continuar vivendo. Se alguém quiser arrebentar-se o quanto 
antes, beber lixívia poderá ser muito adequado, ou também cercar-se do maior 
número possível de inimigos. Mas,de momento, vamos supor que preferimos viver, 
deixando de lado, por enquanto, os respeitáveis gostos do suicida. Assim, há coisas 
que nos convêm, e o que nos convém costumamos dizer que é “bom”, pois nos cai 
bem; outras, em compensação, não nos convêm, caem-nos muito mal, e o que não nos 
convém dizemos que é “mau”. Saber o que nos convém, ou seja, distinguir entre o 
bom e o mau, é um conhecimento que todos nós tentamos adquirir – todos, sem 
exceção – pela compensação que nos traz. 
Como afirmei antes, há coisas boas e más para a saúde: é necessário saber o que 
devemos comer, ou que o fogo às vezes aquece e outras vezes queima, ou ainda que a 
água pode matar a sede e também nos afogar. No entanto, às vezes as coisas não são 
tão simples: certas drogas, por exemplo, aumentam nossa energia ou produzem 
sensações agradáveis, mas seu abuso contínuo pode ser nocivo. Em alguns aspectos 
são boas, mas em outros são más: elas nos convêm e ao mesmo tempo não nos 
convêm. No terreno das relações humanas, essas ambiguidades ocorrem com maior 
frequência ainda. A mentira é, em geral, algo mau, porque destrói a confiança na 
palavra – e todos nós precisamos falar para viver em sociedade – e provoca inimizade 
entre as pessoas; mas às vezes pode parecer útil ou benéfico mentir para obter 
alguma vantagem, ou até para fazer um favor a alguém. Por exemplo, é melhor dizer 
ao doente de câncer incurável a verdade sobre seu estado, ou deve-se enganá-lo para 
que ele viva suas últimas horas sem angústia? A mentira não nos convém, é má, mas 
às vezes parece acabar sendo boa. Procurar briga com os outros, como já dissemos, 
em geral é inconveniente, mas devemos consentir que violentem uma garota diante 
de nós sem interferir, sob pretexto de não nos metermos em confusão? Por outro 
lado, quem sempre diz a verdade – doa a quem doer – costuma colher a antipatia de 
todo o mundo; e quem interfere ao estilo Indiana Jones para salvar a garota agredida 
tem maior probabilidade de arrebentar a cabeça do que quem segue para casa 
assobiando. O que é mau às vezes parece ser mais ou menos bom e o que é bom tem, 
em certas ocasiões, aparência de mau. Haja confusão! 
[...] 
Resumindo: ao contrário de outros seres, animados ou inanimados, nós homens 
podemos inventar e escolher, em parte, nossa forma de vida. Podemos optar pelo que 
nos parece bom, ou seja, conveniente para nós, em oposição ao que nos parece mau e 
inconveniente. Como podemos inventar e escolher, podemos nos enganar, o que não 
acontece com os castores, as abelhas e as formigas. De modo que parece prudente 
atentarmos bem para o que fazemos, procurando adquirir um certo saber-viver que 
nos permita acertar. Esse saber-viver, ou arte de viver, se você preferir, é o que se 
chama de ética.” 
 
("Ética para meu filho", Fernando Savater, Editora Martins Fontes) 
 
Antes de seguir adiante, porém, vale recordar o que foi dito no início deste texto: a Ética não 
serve de base somente às relações humanas mais próximas. Ela também trata das relações 
sociais dos homens, na medida em que alguns filósofos consideram a etica como a base do 
direito ou da justiça, isto é, das leis que regulam a convivência entre todos os membros de uma 
sociedade. 
 
O filósofo alemão Leibniz (1646-1716) considera que o direito e as leis decorrem de três 
preceitos morais básicos: 
 
 
 
 
 
Ou seja, a ética orienta também o ordenamento jurídico e/ou legal das nações. Por 
conseguinte, orienta também a política. Quando a política não é pautada pela ética ocorrem os 
escândalos e os crimes que os brasileiros presenciam a cada ano nos Poderes Executivo e 
Legislativo do nosso país. 
 
 
http://educacao.uol.com.br/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Preconceito: A ética e os estereótipos 
irracionais 
Antonio Carlos Olivieri 
 
Ética é a área da filosofia que estuda o comportamento humano. Portanto, um problema ético 
de grande relevância e interesse é o preconceito, uma vez que se trata de um comportamento 
que cria vários problemas práticos para o ser humano. Para o filósofo, ou melhor, no âmbito 
filosófico, para se tratar do tema, a primeira questão a ser levantada é: o que é ou em que 
consiste o preconceito? 
A resposta que se dará a essa questão aqui tem como base as ideias do filósofo e jurista italiano 
Norberto Bobbio, cujas posições éticas e políticas costumam ser acolhidas pelos mais diferentes 
grupos, sejam de direita ou esquerda, por exemplo. Ao analisar o preconceito, Bobbio deixa 
claro que ele se constitui de uma opinião errônea (ou um conjunto de opiniões) que é aceita 
passivamente, sem passar pelo crivo do raciocínio, da razão. 
 
O estereótipo 
Em geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial, um estereótipo, 
do tipo "todos os alemães são prepotentes", "todos os americanos são arrogantes", "todos os 
ingleses são frios", "todos os baianos são preguiçosos", "todos os paulistas são metidos", etc. 
Fica assim evidente que, pela superficialidade ou pela estereotipia, o preconceito é um erro. 
Entretanto, trata-se de um erro que faz parte do domínio da crença, não do conhecimento, ou 
seja ele tem uma base irracional e por isso escapa a qualquer questionamento fundamentado 
num argumento ou raciocínio. Daí a dificuldade de combatê-lo. Ou, nas palavras do filósofo 
italiano, "precisamente por não ser corrigível pelo raciocínio ou por ser menos facilmente 
corrigível, o preconceito é um erro mais tenaz e socialmente perigoso". 
Ao apresentar a base irracional do preconceito, Bobbio levanta a hipótese de que a crença na 
veracidade de uma opinião falsa só se torna possível por que essa opinião tem uma razão 
prática: ela corresponde aos desejos, às paixões, ela serve aos interesses de quem a expressa. 
 
Preconceitos coletivos 
Bobbio distingue os preconceitos individuais, como as superstições, por exemplo, dos coletivos. 
Fixa sua atenção nos nestes últimos, porque os primeiros são inócuos, não produzem 
resultados graves. Ao contrário do que ocorre quando um grupo social apresenta um juízo de 
valor negativo sobre outro grupo social. Dizer que os homens são diferentes entre si é um juízo 
de fato, mas, a partir disso, não existem elementos que fundamente juízos de valor que 
considerem um grupo de homens superior a outro. É precisamente essa diferenciação 
valorativa que costuma servir de base à discriminação, à exploração, à escravização ou à 
eliminação de um grupo social por outro. 
 
Racismo no Brasil 
O tipo de preconceito mais frequente em nosso país é o racial. O racismo no Brasil fica mais 
evidente quando o brasileiro identifica o negro com seu papel social. A constatação, obtida por 
meio de pesquisa, é da psicóloga e professora da Faculdade de Educação da Universidade 
Estadual de Campinas, Ângela Fátima Soligo. 
 
http://educacao.uol.com.br/disciplinas/filosofia/etica-a-area-da-filosofia-que-estuda-o-comportamento-humano.htm
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u614.jhtm
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1702u62.jhtm
Em sua pesquisa, a professora pediu aos entrevistados que atribuíssem dez adjetivos aos 
homens e mulheres negros. Nessa primeira fase, houve equilíbrio. Os pesquisados utilizaram 
adjetivos positivos para definir os negros, como competentes, alegres, fortes. Em seguida, eles 
foram estimulados a qualificar esses adjetivos, atribuindo-lhes características. 
O resultado final revelou que a maioria dos entrevistados, aí incluídos também os negros, 
limita-se a reproduzir os chavões sociais. O negro é alegre porque gosta de samba e Carnaval, 
forte porque se dá bem nos esportes e competente para trabalhos braçais. "O adjetivo é 
positivo, mas o papel social ligado ao negro mostra um preconceito arraigado na nossa 
cultura", concluiu a estudiosa. 
Mesmo nas exceções, a regra se confirmou. "Houve um entrevistado que disse que o negro 
pode ser um advogado competente, mas apenas para livrar outros negros da cadeia, isolando-
os à condição de bandidos e marginais".A pesquisa reforçou a tese de que o brasileiro pratica 
um "racismo camuflado": em tese, diz que não tem preconceito, mas prefere limitar as 
possibilidades e potencialidades da raça negra. Por exemplo, na pesquisa, não houve 
identificação do negro com o intelectual ou o político. 
Os dados da pesquisa foram semelhantes em todos os estados pesquisados, inclusive na Bahia - 
cuja capital, Salvador, tem população predominantemente negra e esta culturalmente ligada a 
tradições africanas. Ela apontou que o modelo, a conduta e a história dos brancos são mais 
valorizados em nossa sociedade. Com isso, os próprios negros acabam incorporando uma 
imagem negativa sobre sua raça. 
O problema do racismo brasileiro é antigo. Tem início por volta do final do primeiro século de 
colonização, quando os portugueses constataram a impossibilidade de escravizar os índios. O 
negro, então, foi trazido à força para o país, para servir de escravo nas plantações de cana de 
açúcar. Independentemente da miscigenação, o negro e os mestiços sempre foram 
discriminados socialmente no Brasil. 
A própria legislação brasileira, durante quase 500 anos, estimulou a discriminação e o 
preconceito. Nem após a abolição da escravatura e a proclamação da República, o negro deixou 
de ser discriminado. Só em 1988, com a promulgação da Constituição que está em vigor (art. 5º 
- inciso XLII), a prática do racismo passou a ser considerada um crime inafiançável e 
imprescritível. 
 
Nazismo: um regime político racista 
O Nazismo ou Nacional-Socialismo foi uma doutrina que exacerbava as tendências nacionalistas 
e racistas e que constituiu a ideologia política da Alemanha, durante a ditadura de Adolf Hitler 
(1939-1945). O pensamento nazista apregoava a superioridade cultural e racial dos alemães, 
que estariam vocacionados a impor-se sobre os outros povos da Europa. Elegeu como seus 
inimigos ideológicos o liberalismo e o comunismo, que estariam corrompendo as nações 
europeias e pelos quais seriam os responsáveis o povo judeu. 
 
Considerados como uma raça inferior, além de inimigos do regime, os judeus foram 
inicialmente discriminados e, depois, violentamente perseguidos. Não só na Alemanha mas em 
todos os países que foram dominados pelo nazismo, a partir de 1939, os judeus tinham seus 
bens confiscados pelo Estado e eram confinados em guetos. Com o início da guerra, passaram a 
ser utilizados como escravos. O ápice do projeto nazista para os judeus, entretanto, era a 
chamada "solução final", ou seja, o extermínio de todos os judeus europeus. Estima-se que seis 
milhões de judeus tenham sido massacrados pelo nazismo. 
Vale, porém, lembrar que o furor do preconceito nazista não se restringiu aos judeus. Outros 
povos também foram perseguidos, como os ciganos, ou considerados inferiores, como os 
http://vestibular.uol.com.br/ultnot/resumos/ult2770u40.jhtm
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1689u48.jhtm
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1702u62.jhtm
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/constituicao-1988.jhtm
http://educacao.uol.com.br/historia/ult1704u42.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u103.jhtm
http://educacao.uol.com.br/historia/ult1704u41.jhtm
http://educacao.uol.com.br/sociologia/comunismo---origens-ideologia-comunista-remonta-a-antiguidade.jhtm
eslavos. O nazismo também perseguiu e confinou os homossexuais e chegou a instituir um 
programa de eliminação dos deficientes mentais da Alemanha. 
A esse propósito, pode-se apresentar os diversos tipos de preconceitos sociais mais frequentes, 
deixando de lado o racismo, já suficientemente comentado: 
a) Preconceito quanto à classe social: 
Em geral, é a tendência a considerar o "pobre" como um ser humano inferior, em função de sua 
pobreza, para prevalecer-se dele. A diferença social não pode ser transposta para o plano 
intelectual ou moral. Neste último, em especial, todos os homens desfrutam e devem desfrutar 
de uma mesma dignidade. 
b) Preconceito quanto à orientação sexual: 
Atualmente, é cada vez mais reconhecido, inclusive no aspecto legal, o direito de o indivíduo se 
relacionar sexual e afetivamente com outro(s) indivíduo(s) do mesmo sexo. A escolha sexual 
não interfere no caráter e não é obstáculo ao desenvolvimento de qualquer atividade. A 
homossexualidade (homo = igual), porém, ainda é muito discriminada no Brasil, o que é um 
resquício da sociedade patriarcal e machista que o país foi até cerca de 40 anos atrás. 
c) Preconceito quanto à nacionalidade: 
Entre nós, brasileiros, é frequente tachar os portugueses de burros. Isso também é um vestígio 
do passado colonial: uma forma de nos vingarmos do povo que naquela época mandava em 
nosso país. Em São Paulo, no começo do século 20, devido à imigração, havia preconceito 
contra os italianos, chamados pejorativamente de "carcamanos". Na Argentina, há décadas 
atrás, os brasileiros eram chamados de "macaquitos", por supostamente imitarem as modas 
vindas dos Estados Unidos. 
d) Preconceito contra deficientes: 
Há uma grande diferença entre deficiência e incapacidade. No entanto, não é incomum que os 
deficientes sejam discriminados, particularmente em termos profissionais. Recentemente, o 
governo brasileiro tem desenvolvido políticas que visam a integrar o deficiente à sociedade e 
coibir a discriminação. 
Finalmente, você pode estar se perguntando: tudo bem, já está muito claro o que é 
preconceito, como ele se origina e quais são seus tipos mais frequentes, mas a questão 
principal é como acabar com ele? Pois bem, veja a resposta dada pelo próprio Norberto Bobbio: 
 
“Quem quer que conheça um pouco de história, sabe que sempre existiram 
preconceitos nefastos e que mesmo quando alguns deles chegam a ser superados, 
outros tantos surgem quase que imediatamente. 
Apenas posso dizer que os preconceitos nascem na cabeça dos homens. Por isso, é 
preciso combatê-los na cabeça dos homens, isto é, com o desenvolvimento das 
consciências e, portanto, com a educação, mediante a luta incessante contra toda 
forma de sectarismo. Existem homens que se matam por uma partida de futebol. 
Onde nasce esta paixão senão na cabeça deles? Não é uma panaceia, mas creio que 
a democracia pode servir também para isto: a democracia, vale dizer, uma 
sociedade em que as opiniões são livres e portanto são forçadas a se chocar e, ao se 
chocarem, acabam por se depurar. Para se libertarem dos preconceitos, os homens 
precisam antes de tudo viver numa sociedade livre. 
 
 
Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação é escritor, jornalista e diretor da 
Página 3 Pedagogia & Comunicação. 
http://educacao.uol.com.br/ 
http://educacao.uol.com.br/historia-brasil/ult1702u44.jhtm
http://educacao.uol.com.br/
 
Senso Crítico 
 
Por Gabriela E. Possolli Vesce 
 
 
Estamos acostumados a ouvir a palavra senso em nosso cotidiano: bom senso, senso crítico, 
senso de humor, entre outras expressões. Mas já paramos para refletir sobre o que significa ter 
ou não ter senso? Qual a diferença entre senso comum e crítico? 
O senso comum está mais vinculado à população em geral do que o senso crítico, pois no senso 
comum existem muitas questões sobre a vida que são simplesmente irrefletidas e que levam à 
alienação. Ele acaba por permear as classes menos abastadas, uma vez que ligada-se com a 
educação recebida e com a manipulação pelos meios de comunicação. 
Já o senso crítico, divergindo do senso comum, tem por base aquilo que é concreto: a pesquisa, 
a reflexão, a análise e a crítica. Culturalmente o senso crítico é muito mais aproveitável e bom 
para o indivíduo do que o senso comum. Isso deve-se ao fato de que ao utilizar o senso crítico o 
indivíduo passa a pensar e refletir e com isso aprimora suas capacidades intelectuais. Muitas 
vezes deixa-se de solucionar problemas de maneira coerente por não parar para refletir e 
estudar a melhor maneira de resolvê-lo. Porém não se pode ignorar ou ter pré-conceitos 
quanto ao senso comum, como se ele fosse totalmente errado e promotor de grandesmentiras 
na sociedade. 
A capacidade do homem em desenvolver seu senso crítico é o fundamento da História. A 
palavra crítica, de origem grega, significa enquete, pergunta. É preciso perguntar sempre. 
Perguntar a si mesmo se o que temos ao nosso dispor é realmente bom para nós, se é possível 
melhorar, se é verdade. Nunca devemos aceitar as coisas sem questionar, pois questionar é 
pensar. 
 
 
http://www.infoescola.com/filosofia/senso-critico/ 
 
 
 
 
 
http://www.infoescola.com/autor/gabriela-e-possolli-vesce/66/
http://www.infoescola.com/filosofia/senso-critico/
O que esperar de adolescentes e jovens? 
Artigo sobre valores e saberes dos jovens de hoje. 
Cada idade tem sua sabedoria. Aprendemos a valorizar os idosos, por exemplo, porque nos 
fazem viva a memória de nosso passado, com os valores vividos e que nos servem de referência. 
A juventude também tem a sua sabedoria. Um exemplo é a facilidade que os jovens têm para 
lidar com os novos meios eletrônicos, com as novas tecnologias. 
O próprio Papa Paulo VI já dizia, em 1971, que devemos ouvir a sabedoria dos jovens: “é 
conveniente até que certos jovens sejam mestres e educadores dos seus companheiros. A sua 
idade permite-lhes assimilar novos tipos de cultura e comunicá-la aos da sua geração”. Neste 
sentido, a sabedoria dos jovens corresponde a uma utopia que nos faz olhar para o futuro, a 
uma projeção do que desejamos. É preciso olhar com cuidado para a juventude. Nela, a 
realidade social e os dramas da condição humana estão presentes de forma mais intensa. É a 
ponta do iceberg. Como diz a socióloga Marília Spósito, “o modo como uma sociedade olha a 
juventude é uma metáfora do modo como ela olha para si mesma”. 
Que geração é essa?É fato que mudou muito o jeito de ser adolescente de algumas décadas 
para cá. Na verdade, mudou porque o mundo mudou e mudamos todos nós. São mudanças que 
trazem perdas e conquistas. Se, por um lado, ganhamos em liberdade e pragmatismo, por 
outro, perdemos em idealismo e encantamento. Uma das características desta geração (anos 
2000), fruto da revolução tecnológica, é o desejo de fazer tudo-ao-mesmo-tempo-agora: 
estudar, ouvir música, vasculhar a internet. Também conhecida como geração Z - de zapear -, 
esta geração é formada por nativos digitais, que já nasceram num mundo marcado pela 
internet. Não imaginam a vida sem computador, chats, redes de relacionamento, ipods ou 
telefones celulares. 
Sempre conectados, em geral são mais informados e com interesse por diversos assuntos. São 
capazes de conectar-se com uma vasta rede, mas sem profundidade. A velocidade é tão grande 
que refletem pouco sobre as informações, não avaliam nem interpretam e sentem muita 
dificuldade em definir prioridades. É uma geração ansiosa, porque está exposta a um excesso 
de informação, pelo qual a concentração e a reflexão se tornaram capacidades raras. 
Aprendendo com eles e for necessário recuperar um programa no computador, basta chamar o 
adolescente mais próximo. São eles também os consultores da família na hora de adquirir um 
novo aparelho eletrônico. Nós, adultos, devemos aprender com os adolescentes e jovens a 
abrir janelas sem ter vergonha de aprender com eles. Os jovens estão mais abertos ao futuro. 
Aprender com os jovens que ser multimídia e ficar conectado a inúmeros aparelhos permite 
trocar conhecimentos com mais pessoas simultaneamente e receber informações amplas sobre 
o mundo. Não podemos querer voltar atrás e achar que os jovens vão abrir mão desses 
prazeres e facilidades. 
Mas aprender também com a pergunta: o que vale mais, a preservação de nossas forças, que 
nos garante uma vida mais longa, ou a liberdade da máxima intensidade e variedade de 
experiências? Melhor viver a mil, em menos tempo, ou viver com moderação, em mais tempo? 
Melhor ficar acordado até tarde pelo prazer da companhia ou voltar cedo para casa, já que, no 
outro dia, os compromissos nos esperam? O prazer ou a vida? Para os jovens, para quem a 
morte parece muito distante, parece não haver dúvida de que é preciso viver intensamente o 
momento presente, pois “o tempo não para”. Este é um questionamento que nos desafia a, 
novamente, perguntar: será que temos outras razões, que não seja apenas a decisão de durar 
um pouco mais, a fazer que nos privemos dos prazeres da vida? Qual é o critério do bem ou do 
mal quando a paixão de viver é tão grande que ameaça nossa própria vida? 
O mais importante é que as gerações se encontrem. A juventude é muito veloz e capaz, mas 
não lida bem com perdas e frustrações. A família é o lugar onde os filhos são preparados para 
crescer e tornarem-se independentes. O adolescente necessita conquistar seu espaço no 
mundo adulto, fazendo suas próprias escolhas. Porém são poucos os jovens em condições de 
vislumbrar alternativas para o seu projeto de vida, poder escolher e realizá-lo. Em gestos e 
manifestações, mesmo naquelas mais arriscadas, os jovens estão dizendo: “é a vida que 
amamos e buscamos”. 
A nossa esperança no futuro depende da resposta que daremos à seguinte questão: o que fazer 
juntos para que possamos viver mais e melhor? Ou seja, é preciso uma ética da cooperação e 
da solidariedade, superando o individualismo e a competição, muito presentes em nossas 
ações. 
 
 
Rui Antônio de Souza teólogo, mestre em Comunicação Social, da equipe do jornal Mundo 
Jovem, Porto Alegre, RS. ruisouza@mundojovem.pucrs.br 
 
Texto publicado no jornal Mundo Jovem, edição nº 411, outubro de 2010, página 10. 
 
Questões para Debate: 
 1 - Por que é importante, para uma geração, aprender com outra geração? 
2 - Que contribuição os adolescentes e os jovens dão para a sociedade atual? 
3 - Quais são os limites e os desafios para a geração atual de adolescentes e jovens? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
mailto:ruisouza@mundojovem.pucrs.br
Bullying: quando a escola não é um 
paraíso 
Artigo - Bullying, o que é, suas causas, incidência na escola, atitudes a tomar e formas de 
prevenção. 
Brigas, ofensas, disseminação de comentários maldosos, agressões físicas e psicológicas, 
repressão. A escola pode ser palco de todos esses comportamentos, transformando a vida 
escolar de muitos alunos em um verdadeiro inferno. 
Gislaine, aluna do terceiro ano, de oito anos, estava faltando frequentemente à escola. Quando 
comparecia, chorava muito e não participava das aulas, alegando dores de cabeça e medo. 
Certo dia, alguns alunos procuraram a professora da turma dizendo que a garota estava 
sofrendo ameaças. Teria que dar suas roupas, sapatos e dinheiro para outra aluna, caso 
contrário apanharia e seria cortada com estilete. 
Carlos, do sexto ano, foi vítima de alguns colegas por muito tempo, porque não gostava de 
futebol. Era ridicularizado constantemente, sendo chamado de gay nas aulas de educação 
física. Isso o ofendia sobremaneira, levando-o a abrigar pensamentos suicidas, mas antes queria 
encontrar uma arma e matar muitos dentro da escola. 
Os casos descritos acima são reais e revelam a agressão sofrida por crianças dentro da escola, 
colhidos e narrados por Cleo Fante como parte de uma pesquisa sobre a violência nas escolas, 
publicados em seu livro Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para 
a paz. Esses e muitos outros casos de agressões e violências entre os alunos desde as séries 
iniciais até o Ensino Médio, demonstram uma realidade assustadora que muitos desconhecem, 
ou não percebem, trazendo à tona a discussão sobre o fenômeno bullying, o grande vilão de 
toda essa história. Mas o que é? Quais as causas? Como prevenir? 
 
Significado do termo 
A palavra bullying é derivada do verbo inglês bully que significa usar a superioridade física para 
intimidar alguém. Também adota aspecto de adjetivo, referindo-se a valentão, tirano. Como 
verbo ou como adjetivo, a terminologia bullying tem sido adotada em vários países como 
designação para explicar todo tipo de comportamento agressivo, cruel, intencional e repetitivo 
inerente às relações interpessoais. Asvítimas são os indivíduos considerados mais fracos e 
frágeis dessa relação, transformados em objeto de diversão e prazer por meio de 
brincadeiras maldosas e intimidadoras. 
 
Desconhecimento e indiferença 
Estudos indicam que as simples brincadeirinhas de mau gosto de antigamente, hoje 
denominadas bullying, podem revelar-se em uma ação muito séria. Causam desde simples 
problemas de aprendizagem até sérios transtornos de comportamento, responsáveis por 
índices de suicídios e homicídios entre estudantes. 
 
Mesmo sendo um fenômeno antigo, mantém ainda hoje um caráter oculto, pelo fato de as 
vítimas não terem coragem suficiente para uma possível denúncia. Isso contribui com o 
desconhecimento e a indiferença sobre o assunto por parte dos profissionais ligados à 
educação. Pode ser manifestado em qualquer lugar onde existam relações interpessoais. 
 
Consequências marcantes 
As consequências afetam a todos, mas a vítima, principalmente a típica (ver quadro), é a mais 
prejudicada, pois poderá sofrer os efeitos do seu sofrimento silencioso por boa parte de sua 
vida. Desenvolve ou reforça atitude de insegurança e dificuldade relacional, tornando-se uma 
pessoa apática, retraída, indefesa aos ataques externos. 
 
Muitas vezes, mesmo na vida adulta, é centro de gozações entre colegas de trabalho ou 
familiares. Apresenta um autoconceito de menos valia e considera-se inútil, descartável. Pode 
desencadear um quadro de neuroses, como a fobia social e, em casos mais graves, psicoses 
que, a depender da intensidade dos maus-tratos sofridos, tendem à depressão, ao suicídio e ao 
homicídio seguido ou não de suicídio. 
 
Em relação ao agressor, reproduz em suas futuras relações o modelo que sempre lhe trouxe 
resultados: o do mando-obediência pela força e agressão. É fechado à afetividade e tende à 
delinquência e à criminalidade. 
 
Isso, de certa maneira, afeta toda a sociedade. Seja como agressor, como vítima, ou até 
espectador, tais ações marcam, deixam cicatrizes imperceptíveis em curto prazo. Dependendo 
do nível e intensidade da experiência, causam frustrações e comportamentos desajustados, 
gerando, até mesmo, atitudes sociopatas. 
 
O papel da educação 
A educação do jovem no século 21 tem se tornado algo muito difícil, devido à ausência de 
modelos e de referenciais educacionais. Os pais de ontem mostram-se perdidos na educação 
das crianças de hoje. Estão cada vez mais ocupados com o trabalho e pouco tempo dispõem 
para dedicarem-se à educação dos filhos. Esta, por sua vez, é delegada a outros, ou em caso de 
famílias de menor poder aquisitivo, os filhos são entregues à própria sorte. 
 
Os pais não conseguem educar seus filhos emocionalmente e, tampouco, sentem-se habilitados 
a resolver conflitos por meio do diálogo e da negociação de regras. Optam muitas vezes pela 
arbitrariedade do não ou pela permissividade do sim, não oferecendo nenhum referencial de 
convivência pautado no diálogo, na compreensão, na tolerância, no limite e no afeto. 
 
A escola também tem se mostrado inabilitada a trabalhar com a afetividade. Os alunos 
mostram-se agressivos, reproduzindo muitas vezes a educação doméstica, seja por meio dos 
maus-tratos, do conformismo, da exclusão ou da falta de limites revelados em suas relações 
interpessoais. 
 
Os professores não conseguem detectar os problemas e, muitas vezes, também demonstram 
desgaste emocional com o resultado das várias situações próprias do seu dia sobrecarregado de 
trabalhos e dos conflitos em seu ambiente profissional. Muitas vezes, devido a isso, alguns 
professores contribuem com o agravamento do quadro, rotulando com apelidos pejorativos ou 
reagindo de forma agressiva ao comportamento indisciplinado de alguns alunos. 
 
O que a família pode fazer? 
Não há receita eficaz de como educar filhos, pois cada família é um mundo particular, com 
características peculiares. Mas, apesar dessa constatação, não se pode cruzar os braços e deixar 
que as coisas aconteçam, sem que os educadores (primeiros responsáveis pela educação e 
orientação dos filhos e alunos) façam algo a respeito. 
 
A educação pela e para a afetividade já é um bom começo. O exercício do afeto entre os 
membros de uma família é prática primeira de toda educação estruturada, que tem no diálogo 
o sustentáculo da relação interpessoal. Além disso, a verdade e a confiabilidade são os demais 
elementos necessários nessa relação entre pais e filhos. Os pais precisam evitar atitudes de 
autoproteção em demasia, ou de descaso referente aos filhos. A atenção em dose certa é 
elementar no processo evolutivo e formativo do ser humano. 
 
O que a escola pode fazer? 
Em relação à escola, em primeiro lugar, deve conscientizar-se de que esse conflito relacional já 
é considerado um problema de saúde pública. Por isso, é preciso desenvolver um olhar mais 
observador tanto dos professores quanto dos demais profissionais ligados ao espaço escolar. 
Sendo assim, deve atentar-se para sinais de violência, procurando neutralizar os agressores, 
bem como assessorar as vítimas e transformar os espectadores em principais aliados. 
 
Além disso, tomar algumas iniciativas preventivas do tipo: aumentar a supervisão na hora do 
recreio e intervalo; evitar em sala de aula menosprezo, apelidos, ou rejeição de alunos por 
qualquer que seja o motivo. Também pode-se promover debates sobre as várias formas de 
violência, respeito mútuo e a afetividade, tendo como foco as relações humanas. 
 
Mas tais assuntos precisam fazer parte da rotina da escola como ações atitudinais e não apenas 
conceituais. De nada valerá falar sobre a não violência, se os próprios profissionais em 
educação usam de atos agressivos, verbais ou não, contra seus alunos. Ou seja, procurar evitar 
a velha política do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”. 
 
Ações exemplares 
Há diversos exemplos claros de ação eficiente contra o bullying no espaço escolar. Uma delas é 
o programa Educar para a paz, criado e desenvolvido por Cleo Fante e equipe, que trabalha 
com estratégias de intervenção e prevenção contra a violência na escola. Além disso, também 
existem sites sobre o assunto como que visam a alertar e informar profissionais e pais no 
combate ao bullying. Destaca-se o trabalho da Associação Brasileira Multiprofissional de 
Proteção à Criança e ao Adolescente, com os sites: www.abrapia.org.br e www.bullying.com.br 
Geane de Jesus Silva psicopedagoga, professora de Psicologia da Educação e coordenadora 
pedagógica, Jitaúna, BA. enaeg@hotmail.com 
Artigo publicado no jornal Mundo Jovem, edição nº 364, março de 2006, páginas 2 e 3. 
 
Características de bullying 
 Segundo Cleo Fante, no livro Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas 
e educar para a paz, os atos de bullying entre alunos apresentam determinadas 
características comuns: 
• Comportamentos deliberados e danosos, produzidos de forma repetitiva num período 
prolongado de tempo contra uma mesma vítima; 
• Apresentam uma relação de desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; 
• Não há motivos evidentes; 
• Acontece de forma direta, por meio de agressões físicas (bater, chutar, tomar 
pertences) e verbais (apelidar de maneira pejorativa e discriminatória, insultar, 
http://www.abrapia.org.br/
http://www.bullying.com.br/
mailto:enaeg@hotmail.com
constranger); 
• De forma indireta, caracteriza-se pela disseminação de rumores desagradáveis e 
desqualificantes, visando à discriminação e exclusão da vítima de seu grupo social. 
 
Os protagonistas do bullying 
 A vítima pode ser classificada, segundo pesquisadores, em três tipos: 
• Vítima típica: é pouco sociável, sofre repetidamente as consequências dos 
comportamentos agressivos de outros, possui aspecto físico frágil, coordenação motora 
deficiente, extrema sensibilidade, timidez, passividade, submissão, insegurança, baixa 
autoestima, alguma dificuldade de aprendizado, ansiedade e aspectos depressivos. 
Sente dificuldade de impor-se ao grupo, tanto física quanto verbalmente. 
• Vítimaprovocadora: refere-se àquela que atrai e provoca reações agressivas contra as 
quais não consegue lidar. Tenta brigar ou responder quando é atacada ou insultada, 
mas não obtém bons resultados. Pode ser hiperativa, inquieta, dispersiva e ofensora. É, 
de modo geral, tola, imatura, de costumes irritantes e quase sempre é responsável por 
causar tensões no ambiente em que se encontra. 
• Vítima agressora: reproduz os maus-tratos sofridos. Como forma de compensação 
procura uma outra vítima mais frágil e comete contra esta todas as agressões sofridas 
na escola, ou em casa, transformando o bullying em um ciclo vicioso. 
O agressor pode ser de ambos os sexos. Tem caráter violento e perverso, com poder de 
liderança, obtido por meio da força e da agressividade. Age sozinho ou em grupo. 
Geralmente é oriundo de família desestruturada, em que há parcial ou total ausência de 
afetividade. Apresenta aversão às normas; não aceita ser contrariado, geralmente está 
envolvido em atos de pequenos delitos, como roubo e/ou vandalismo. Seu desempenho 
escolar é deficitário, mas isso não configura uma dificuldade de aprendizagem, já que 
muitos apresentam nas séries iniciais rendimento normal ou acima da média. 
Espectadores são alunos que adotam a lei do silêncio. Testemunham a tudo, mas não 
tomam partido, nem saem em defesa do agredido por medo de serem a próxima vítima. 
Também nesse grupo estão alguns alunos que não participam dos ataques, mas 
manifestam apoio ao agressor. 
 
Como identificar os envolvidos? 
 De acordo com as indicações de Dan Olweus, psicólogo norueguês da Universidade de 
Bergen e importante pesquisador sobre o assunto, para que uma criança ou adolescente 
seja identificado como vítima ou agressor, pais e professores precisam ter atenção se o 
mesmo apresenta alguns comportamentos: 
VÍTIMA 
Na escola 
• Durante o recreio está frequentemente isolado e separado do grupo, ou procura ficar 
próximo do professor ou de algum adulto; 
• Na sala de aula tem dificuldade em falar diante dos demais, mostrando-se inseguro ou 
ansioso; 
• Nos jogos em equipe é o último a ser escolhido; 
• Apresenta-se comumente com aspecto contrariado, triste, deprimido ou aflito; 
• Desleixo gradual nas tarefas escolares; 
• Apresenta ocasionalmente contusões, feridas, cortes, arranhões ou a roupa rasgada, 
de forma não natural; 
• Falta às aulas com certa frequência; 
• Perde constantemente os seus pertences. 
Em casa 
• Apresenta, com frequência, dores de cabeça, pouco apetite, dor de estômago, 
tonturas, sobretudo de manhã; 
• Muda o humor de maneira inesperada, apresentando explosões de irritação; 
• Regressa da escola com as roupas rasgada ou sujas e com o material escolar 
danificado; 
• Desleixo gradual nas tarefas escolares; 
• Apresenta aspecto contrariado, triste, deprimido, aflito ou infeliz; 
• Apresenta contusões, feridas, cortes, arranhões ou estragos na roupa; 
• Apresenta desculpas para faltar às aulas; 
• Raramente possui amigos, ou, se possui, são poucos os que compartilham seu tempo 
livre; 
• Pede dinheiro extra à família ou furta; 
• Apresenta gastos altos na cantina da escola. 
AGRESSOR 
Na escola 
• Faz brincadeira ou gozações, além de rir de modo desdenhoso e hostil; 
• Coloca apelidos ou chama pelo nome e sobrenome dos colegas, de forma malsoante; 
• Insulta, menospreza, ridiculariza, difama; 
• Faz ameaças, dá ordens, domina e subjuga; 
• Incomoda, intimida, empurra, picha, bate, dá socos, pontapés, beliscões, puxa os 
cabelos, envolve-se em discussões e desentendimentos; 
• Pega materiais escolares, dinheiro, lanches e outros pertences dos outros colegas, sem 
consentimento. 
Em casa 
• Regressa da escola com as roupas amarrotadas e com ar de superioridade; 
• Apresenta atitude hostil, desafiante e agressiva com pais e irmãos, chegando a ponto 
de atemorizá-los sem levar em conta a idade ou a diferença de força física; 
• É habilidoso para sair-se bem em situações difíceis; 
• Exterioriza ou tenta exteriorizar sua autoridade sobre alguém; 
• Porta objetos ou dinheiro sem justificar sua origem. 
 
Bibliografia indicada 
 CONSTANTINI, Alessandro. Bullying, como combatê-lo? : prevenir e enfrentar a violência 
entre jovens. SP: Itália Nova editora, 2004. 
CURY, A. J. Pais brilhantes, professores fascinantes. RJ: Sextante, 2003. 
FANTE, Cleo. Fenômeno Bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a 
paz. 2. ed. rev. Campinas, SP: Verus editora, 2005. 
TIBA, Içami. Quem ama, educa! SP: Gente, 2002. 
 
 
 
http://www.mundojovem.com.br/artigos/bullying-quando-a-escola-nao-e-um-paraiso 
Filosofia e felicidade: O que é ser feliz 
segundo os grandes filósofos do passado 
e do presente 
Antonio Carlos Olivieri 
 
O que é felicidade? Provavelmente, cada pessoa que resolver responder a esta pergunta 
apresentará uma resposta própria, pois a felicidade, num certo sentido, é algo individual, 
pessoal e intransferível. Por outro lado, há uma ideia de felicidade que pertence ao senso 
comum e é compartilhada pela esmagadora maioria das pessoas: felicidade é ter saúde, amor, 
dinheiro suficiente, etc. Além disso, a ideia de felicidade não é uma coisa recente. Com certeza, 
ela acompanha o ser humano há muito tempo e faz parte de sua história. 
Sendo assim, é possível traçar a evolução histórica dessa ideia, se nos debruçarmos sobre a 
disciplina que sempre se dedicou a investigar nossas ideias, de modo a defini-las e esclarecê-
las: a filosofia. Na verdade, a ideia de felicidade tem grande importância para a origem da 
filosofia. Ela faz parte das primeiras reflexões filosóficas sobre ética, que foram elaboradas na 
Grécia antiga. Vamos, então, acompanhar a evolução histórica dessa ideia fazendo uma viagem 
pela história da filosofia. 
A referência filosófica mais antiga de que se dispõe sobre o tema é um fragmento de um texto 
de Tales de Mileto, que viveu entre as últimas décadas do século 7 a.C. e a primeira metade do 
século 6 a.C. Segundo ele, é feliz “quem tem corpo são e forte, boa sorte e alma bem formada”. 
Vale atentar para a expressão “boa sorte”, pois disso dependia a felicidade na visão dos gregos 
mais antigos. 
 
Bom demônio 
Em grego, felicidade se diz “eudaimonia”, palavra que é composta do prefixo “eu”, que significa 
“bom”, e de “daimon”, “demônio”, que, para os gregos, é uma espécie de semi-deus ou de 
gênio, que acompanhava os seres humanos. Ser feliz era dispor de um “bom demônio”, o que 
estava relacionado à sorte de cada um. Quem tivesse um “mau demônio” era fatalmente 
infeliz. 
Não há dúvida de que, entre os séculos 10 a.C. e 5. a.C, o pensamento grego tende a considerar 
os maus demônios mais frequentes do que os bons e apresentar uma visão pessimista da 
existência humana. Não é por acaso que os gregos inventaram a tragédia. Uma expressão 
radical desse pessimismo nos é fornecido por um velho provérbio grego, segundo o qual “a 
melhor de todas as coisas é não nascer”. 
Foi a filosofia que rompeu com essa visão pessimista e procurou estabelecer orientações para 
que o homem procurasse a felicidade. Demócrito de Abdera (aprox. 460 a.C./370 a.C.) julgava 
que a felicidade era “a medida do prazer e a proporção da vida”. Para atingi-la, o homem 
precisava deixar de lado as ilusões e os desejos e alcançar a serenidade. A filosofia era o 
instrumento que possibilitava esse processo. 
 
 
 
http://educacao.uol.com.br/biografias/tales-de-mileto.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/democrito.jhtm
Virtude e justiça 
Sócrates (469 a.C./399 a.C.) deu novo rumo à compreensão da ideia de felicidade, postulando 
que ela não se relacionava apenas à satisfação dos desejos e necessidades do corpo, pois, para 
ele, o homem não era só o corpo, mas, principalmente, a alma. Assim, a felicidade era o bem da 
alma que só podia ser atingido por meio de uma conduta virtuosa e justa. 
Para Sócrates, sofrer uma injustiça era melhor do que praticá-la e, por isso, certo de estar 
sendo justo, não se intimidou nem diante da condenação à morte por um tribunal ateniense.Cercado pelos discípulos, bebeu a taça de veneno que lhe foi imposta e parecia feliz a todos os 
que o assistiram em seus últimos momentos. 
Entre os discípulos de Sócrates, Antístenes (445 a.C./365 a.C.) acrescentou um toque pessoal à 
ideia de felicidade de seu mestre, considerando que o homem feliz é o homem autossuficiente. 
A ideia de autossuficiência (que, em grego, se diz “autarquia”,) continuará diretamente 
vinculada à de felicidade nos setecentos anos seguintes. 
 
Uma função da alma 
Mas o maior discípulo de Sócrates, que efetivamente levou a especulação filosófica adiante de 
onde a deixara seu mestre, foi Platão (348 a.C./347 a.C.), o qual considerava que todas as coisas 
têm sua função. Assim, como a função do olho é ver e a do ouvido, ouvir, a função da alma é 
ser virtuosa e justa, de modo que, exercendo a virtude e a justiça, ela obtem a felicidade. 
É importante deixar claro que noções como virtude e justiça integram uma vertente do 
pensamento filosófico chamada Ética, que se dedica à investigação dos costumes, visando a 
identificar os bons e os maus. Para Platão, a ética não estava limitada aos negócios privados, 
devendo ser posta em prática também nos negócios públicos. Desse modo, o filósofo entendia 
que a função do Estado era tornar os homens bons e felizes. 
A ligação entre ética e política estará ainda mais definida na obra do mais importante discípulo 
de Platão, Aristóteles (384 a.C./322 a.C.), o qual dedicou todo um livro à questão da felicidade: 
a “Ética a Nicômaco” (que é o nome de seu filho, para quem o livro foi escrito). Amigo de 
Platão, mas, em suas próprias palavras, “mais amigo da verdade”, Aristóteles criticou o 
idealismo do mestre, reconhecendo a necessidade de elementos básicos, como a boa saúde, a 
liberdade (em vez da escravidão) e uma boa situação socioeconômica para alguém ser feliz. 
 
Felicidade intelectual 
Por outro lado, a partir de uma série de raciocínios que têm como base o fato de o homem ser 
um animal racional, Aristóteles conclui que a maior virtude de nossa “alma racional” é o 
exercício do pensamento, pelo quê, segundo ele, a felicidade chega a se identificar com a 
atividade pensante do filósofo, a qual, inclusive, aproxima o ser humano da divindade. 
Sem perder de vista a aplicação prática de suas ideias, Aristóteles considera a política como 
uma extensão da ética e, nesse sentido, para ele também é uma função do Estado criar 
condições para o cidadão ser feliz. O Estado que o filósofo tinha em mente, porém, era a “polis” 
grega, que, naquele momento, estava deixando de existir, com o surgimento do império de 
Alexandre o Grande. 
Depois de Alexandre, no mundo grego ou helênico, desenvolveram-se três escolas filosóficas 
que vão se estender até o fim do Império romano, as chamadas filosofias helenísticas. Todas 
elas, por caminhos diferentes, chegam a conclusão de que, para ser feliz, o homem deve ser 
não só autossuficiente, mas desenvolver uma atitude de indiferença, de impassibilidade, em 
relação a tudo ao seu redor. A felicidade, para eles, era a “apatia”, palavra que, naquela época, 
não tinha o sentido patológico que tem hoje. 
 
http://educacao.uol.com.br/biografias/socrates.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/antistenes.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/platao.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/aristoteles.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/alexandre-o-grande.jhtm
Prazer e salvação da alma 
Entre os filósofos do mundo helênico, pode-se citar Epicuro (341 a.C./271 a.C.), para deixar 
claro que essa ideia de “apatia” não significa abdicar ao prazer. O prazer era essencial à 
felicidade para Epicuro, cuja filosofia também é conhecida pelo nome de hedonismo (em grego 
“hedone” quer dizer “prazer”). Mas ele deixa claro, numa carta a um discípulo, que não se 
refere ao prazer “dos dissolutos e dos crápulas” e sim ao da impassibilidade que liberta de 
desejos e necessidades. 
Com o fim do mundo helênico e o advento da Idade Média, a felicidade desapareceu do 
horizonte da filosofia. Estando relacionada à vida do homem neste mundo, ela não interessou 
aos filósofos cristãos como Agostinho de Hipona (354 d.C./430 d.C.), Anselmo de Canterbury 
(1033/1109) ou Tomás de Aquino (1225/1274), todos santos da Igreja católica. Para a filosofia 
cristã, mais do que a felicidade, o que conta é a salvação da alma. 
Os filósofos voltaram a se debruçar sobre o tema na Idade Moderna. John Locke (1632/1704) e 
Leibniz (1646/1716), na virada dos séculos 17 e 18, identificaram a felicidade com o prazer, um 
“prazer duradouro”. Alguns décadas depois, o filósofo iluminista Immanuel Kant (1724/1804), 
na obra “Crítica da razão prática” definiu a felicidade como “a condição do ser racional no 
mundo, para quem, ao longo da vida, tudo acontece de acordo com o seu desejo e vontade”. 
 
Direito do homem 
No entanto, para Kant, como a felicidade se coloca no âmbito do prazer e do desejo, ela nada 
tem a ver com a Ética e, portanto, não é um tema que interesse à investigação filosófica. Sua 
argumentação foi tão convincente que, a partir dele, a felicidade desapareceu da obra das 
escolas filosóficas que o sucederam. 
Mesmo assim, não se pode deixar de mencionar que, no mundo de língua inglesa, na mesma 
época de Kant, a ideia de felicidade ganhou lugar de destaque no pensamento político e buscá-
la passou a ser considerada um “direito do homem”, como está consignado na Constituição dos 
Estados Unidos da América, que data de 1787 e foi redigida sob a influência do Iluminismo. 
 
Egocentrismo e infelicidade 
É também no âmbito da filosofia anglo-saxônica, no século 20, que se encontra uma nova 
reflexão sobre nosso assunto. O inglês Bertrand Russell (1872/1970) dedicou a ele a obra “A 
conquista da felicidade”, usando o método da investigação lógica para concluir que é 
necessário alimentar uma multiplicidade de interesses e de relações com as coisas e com os 
outros homens para ser feliz. Para ele, em síntese, a felicidade é a eliminação do egocentrismo. 
Mais recentemente, em 1989, o filósofo espanhol Julián Marías também dedicou ao tema um 
livro notável, “A felicidade humana”, em que estuda a história dessa ideia, da Antiguidade aos 
nossos dias, ressaltando que a ausência da reflexão filosófica sobre a felicidade no mundo 
contemporâneo talvez seja um sintoma de como esse mesmo mundo anda muito infeliz. 
 
Bibliografia 
Abbagnano, Nicola - "Dicionário de Filosofia", Martis Fontes, São Paulo, 2000. 
Berti, Enrico - "No princípio era a maravilha", Loyola, São Paulo, 2010. 
Marías, Julián - "A felicidade humana", Duas Cidades, São Paulo, 1989. 
Antonio Carlos Olivieri Antonio Carlos Olivieri é jornalista e escritor. 
 
 
http://educacao.uol.com.br/ 
http://educacao.uol.com.br/biografias/epicuro.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/agostinho.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/santo-anselmo.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/tomas-de-aquino.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/john-locke.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/immanuel-kant.jhtm
http://educacao.uol.com.br/biografias/bertrand-russell.jhtm
http://educacao.uol.com.br/
 
A busca da felicidade 
Artigo sobre felicidade como característica humana 
 
Só se pode buscar aquilo que se conhece! 
Na sociedade contemporânea tem sido comum deparar-se com pessoas criando e recriando 
situações que lhes favoreçam bem-estar social e pessoal. Valendo-se de situações inusitadas, 
adotam atitudes e comportamentos dos quais possam extrair um mínimo de paz. Mesmo assim, 
acabam por confundir seus anseios ao fixar os momentos de felicidade nos prazeres do corpo ou 
do poder. É que muitas vezes o termo felicidade tem sido confundido com satisfação de prazer. 
Com efeito, há pessoas que estão à mira das indagações sobre o que seja realmente felicidade, 
se ela existe de fato; se há pessoas felizes sempre, todos os dias, enfim, os questionamentos 
divagam. 
 
Na verdade, não existe uma prescrição sobre os passos para a felicidade, visto estar ela

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