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Teoria da Constituição: conceito, sentidos, teorias, classificação e princípios de interpretação. 1. Conceito Lei suprema do estado que define a sua organização política-jurídica, a sua estrutura e como se dá o exercício do poder. A Constituição ideal para Canotilho tem quatro características: Deve ser escrita e positivada para conferir maior segurança jurídica. Deve conter um catálogo ou sistema de direitos fundamentais individuais, liberdades negativas, representam limitações ao poder do estado. Deve adotar um sistema democrático. Deve reconhecer o princípio da separação dos poderes. 2. Concepções ou Sentidos de Constituição: 2.1. Sentido sociológico - Ferdinand Lassale: Segundo Lassale, a Constituição seria a soma dos fatores reais de poder dentro de uma sociedade, como ela é na prática. Uma Constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder social, reletindo as forças sociais que constituem o poder, caso não ocorresse, ela seria ilegítima, seria uma mera folha de papel. Ex: Países ditatoriais que possuem Constituições figurativas. 2.2. Sentido político - Carl Schmitt: A Constituição é uma decisão política fundamental do titular do poder constituinte. Traz as normas de organização do estado (artigo 18 CF), limitação do estado, direitos individuais, normas de conteúdo materialmente constitucionais. Obra de referência: Teoria da Constituição. Faz uma distinção entre normas materialmente constitucionais e normas formalmente constitucionais. Ex: o artigo 242 § 2º CF, é exemplo de norma formalmente constitucional, porque não é decisão política fundamental. 2.3. Sentido jurídico - Hans Kelsen: A constituição é fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais. É considerada norma jurídica pura, abstraindo-se de qualquer consideração de cunho político, social, filosófico. Para o sentido lógico-jurídico Constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcedental da validade da Constituição jurídico-positiva, que equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau. Sentido lógico-jurídico: norma pressuposta - hipotética fundamental Sentido jurídico-positivo: norma posta - Constituição escrita que ocupa o todo do ordenamento jurídico. No direito há um verdadeiro escalonamento de normas, uma constituindo o fundamento de validade da outra, numa verticalidade hierárquica, até chegar na Constituição, que é o fundamento de validade de todo o sistema infraconstitucional. Obra de referência: Teoria Pura do direito. 3. Teorias Explicativas: Constituição Aberta: Tem por obejtivo permanecer atual dentro do seu tempo e evitar a perda da sua força normativa. A abertura da Constituição está intimamente ligada ao fenômeno da mutação constitucional, compreendido como a mudança da mentalidade social e política capaz de gerar reflexos na ordem jurídica. Na mutação constitucional ocorre um confronto entre a literalidade da Constituição rígida e as mudanças da realidade da vida, ensejando uma acomodação das regras constitucionais aos novos padrões de cultura e civilização. Constituição Dúctil ou Suave (Gustavo Zagrebelsky) aquela que não predefine ou impõe uma forma ou projeto de vida, mas sim deve criar condições para o exercício dos mais variados projetos de vida, sendo um espelho que reflita o pluralismo ideológico, moral, político e econômico existente nas sociedades. Constituição em branco é a que não veicula limitações explícitas ao poder de reforma. Constituição Semântica (Karl Loewenstein) dentro da classificação ontológica é aquela que está a serviço das classes dominantes, legitimando práticas autoritárias de poder. Constituição Simbólica (Marcelo Neves) é definida como aquela em que há predomínio ou hipertrofia da função simbólica (essencialmente político-ideológica) em detrimento da função jurídico-instrumental (de caráter normativo-jurídico). Neoconstitucionalismo ou Constituição Principiológica e Judicialista: importância crucial dos direitos fundamentais, incluindo os sociais, limitando a liberdade do legislador e impondo sua implementação; centralidade dos princípios constitucionais que se multiplicam e adquirem relevância prática e aplicabilidade imediata, desde que sejam adotados métodos de interpretação abertos, evolutivos e desvinculados da textualidade das regras, em particular a ponderação de princípios e/ou valores; importância do Poder Judiciário que se torna protagonista da Constituição de 1988, em razão da ampliação e da intensificação do controle de constitucionalidade e da incumbência de implementar o projeto constitucional mediante aplicação de métodos “abertos” de interpretação. Constituição Chapa-Branca: Tutelar interesses e privilégios dos dirigentes do setor público; assegurar posições de poder a corporações e organismos estatais ou paraestatais; o núcleo duro do texto preserva interesses corporativos do setor público e estabelece formas de distribuição e de apropriação dos recursos públicos entre vários grupos. Constituição Ubíqua: (Daniel Sarmento) A referência a normas e valores constitucionais é um elemento onipresente no direito brasileiro pós-1988. Essa “panconstitucionalização” deve-se ao caráter detalhista da Constituição, que incorporou uma infinidade de valores substanciais, princípios abstratos e normas concretas em seu programa normativo. Constituição Liberal-Patrimonialista: objetiva preponderantemente garantir os direitos individuais, preservando fortes garantias ao direito de propriedade e procurando limitar a intervenção estatal na economia. Constituição Dirigente-Transformadora: impõe ao legislador programas de ação normativamente densos e juridicamente vinculantes, limitando drasticamente sua discricionariedade jurídica e política; impõe um programa de transformação social baseado nos eixos de melhoria das condições de vida das classes populares, diminuição das desigualdades regionais e fortalecimento da economia nacional; é crucial o papel do Estado como planejador, propulsor e executor dos programas de desenvolvimento social no sentido indicado. Destinatários principais dos imperativos desenvolvimentistas são o Legislativo e o Executivo. 4. Classificação: 4.1. Quanto à origem: Outorgada é a Contituição imposta de maneira unilateral, pelo agente revolucionário que não recebeu do povo a legitimidade para em nome dele atuar. Ex: 1824 Imperial, 1937 Era Vargas, 1967 Ditadura Militar. Promulgada, também chamada de dmeocrática, votada ou popular é aquela fruto da Assembleia Nacional Constituinte, eleita diretamente pelo povo, para em nome dele atuar, nascendo da deliberação da representação legítima popular. Ex: 1891 República, 1934 Social, 1946 e a atual de 1988. Cesarista é aquela fomada por plebiscito popular sobre um projeto elaborado por um Imperador ou um Ditador. A participação popular não é democrática, pois visa apenas ratificar a vontade do detentor do poder. Pactuada surge através de um pacto, o poder constituinte originário se concentra nas mãos de mais de um titular. Foi bastante difundida nas monarquias da Idade média, quando o poder estatal aparecia cindido entre o monarca e as ordens privilegiadas. Ex: Magna Carta de 1215 que os barões inleses obrigaram João Sem Terra a jurar. * Diferença entre Constituição e Carta: Constituição é o nome que se dá à lei fundamental promulgada, democrática ou popular, que teve sua origem em uma Assembleia Nacional Constituinte. Já a Carta é o nome reservado para a Constituição outorgada, imposta de maneira unilateral mediante ato arbitrário e ilegítimo. 4. 2 Quanto à forma: Escrita (instrumental)é formada por um conjunto de regras sistematizadas e organizadas em um único documento, estabelecendo as normas fundamentais de um estado. Ex: Constituição de 88, portuguesa, espanhola. Costumeira (não-escrita ou consuetudinária) não traz regras em um único texto solene e codificado. É formada por textos esparsos, reconhecidos pela sociedade como fundamentais, e baseia-se nos usos e costumes, jurisprudência, convenções. Ex: inglesa. 4.3 Quanto à extensão: Sintéticas: são enxutas, veiculam apenas princípios fundamentais e estruturais do Estado, Não descem a minúcias, motivo pelo o qual são mais duradouras. Ex: americana. Analíticas: abordam todos os assuntos que os representantes do povo entenderem fundamentais, possui minúcias, estabelecendo regras que deveriam estar em leis infraconstitucionais. Ex: Constituição de 88. 4.4 Quanto ao conteúdo: Material: será o texto que contiver as normas fundamentais e estruturais do Estado, a organização dos seus órgãos, os direitos e garantias fundamentais. Ex: Constituição Imperial de 1824. Formal: elege como critério o processo de sua formação, e não o conteúdo de suas normas. Assim, qualquer regra nela contida terá o caráter de constitucional. Ex: Constituição de 88. 4.5 Quanto ao modo de elaboração: Dogmáticas: sempre escritas, consubstanciam os dogmas estruturais e fundamentais do Estado ou, partem de teorias preconcebidas, de planos e sistemas prévios, de ideologias bem declaradas, de dogmas políticos, de valores predominantes em determinado momento histórico. Ex: Constituição de 88. Históricas: constituem-se através de um lento e contínuo processo de formação ao longo do tempo, reunindo a história e as tradições de um povo. Aproximam-se da costumeira. Ex: inglesa. 4.6 Quanto à alterabilidade: Rígidas: são aquelas que exigem, para a sua alteração um processo legislativo mais árduo, mais solene, mais dificultoso do que o processo de alteração das normas não constitucionais. Ex: Constituição de 88. Flexíveis: não possuem um processo legislativo de alteração amis dificultoso do que o processo legislativo de lateração das normas infraconstitucionais. 4.7 Quanto a correspondência com a realidade (critério ontológico): Constituição normativa: é aquela que possui normas capazes de efetivamente dominar o processo político. Ela é capaz de dominar e submeter a realidade a ela. É uma constituição conformadora. Constituição nominal (nominativa): Embora tenha pretensão de conformar a realidade, a constituição nominal é aquela que é incapaz de conformar integralmente o processo político às suas normas. Constituição semântica: São aquelas cujas normas são instrumentos para a estabilização e perpetuação do controle do poder político pelos detentores do poder fático. É uma constituição de "fachada”. O objetivo dessas Constituições é apenas legitimar os detentores do poder. 4.8 Quanto À dogmática (critério ideológico): Ortodoxa: é aquela formada por uma só ideologia. Ex: China. Eclética: é aquela formada por diversas ideologias. Ex: Constituição de 88. 5. Princípios de Interpretação: Princípio da unidade da Constituição - a Constituição deve ser interpretada em sua globalidade, como um todo, e, assim, as aparentes antinomias deverão ser afastadas. Princípio do efeito integrador - Muitas vezes associado ao princípio da unidade, conforme ensina Canotilho,"na resolução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-se primazia aos critérios ou ponto de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política. Princípio da máxima efetividade - Também chamado de princípio da eficiência e a interpretação efetiva, deve ser entendido no sentido de a norma constitucional ter a mais ampla efetividade social. Princípio da justeza ou da conformidade (exatidão ou correção) funcional - estabelece ao intérprete constitucional a aplicação do sentido normativo que respeite os limites da divisão de funções constitucionalmente estabelecidas pelo poder constituinte originário entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, não pode chegar a um resultado que subverta ou perturbe o esquema organizatório-funcional constitucionalmente estabelecido. Princípio da força normativa - Os aplicadores da Constituição, ao solicionar conflitos, devem conferir máxima efetividade às normas constitucionais. Assim, de acordo com Canotilho, "na solução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-se prevalência aos pontos de vista que, tendo em conta os pressuspostos da Constituição (normativa) contribuem para uma eficácia ótima da lei fundamental. Princípio da interpretação conforme a Constituição - Diante de normas plurissignificativas ou polisêmicas (que possuem mais de uma interpretação), deve-se preferir a exegese que mais se aproxime da Constituição e, portanto, que não seja contrária ao texto constitucional, daí surgirem várias dimensões a serem consideradas, seja pela doutrina, seja pela jurisprudência, destacando-se que a interpretação conforme será implementada pelo Judiciário e, em última instância, de maneira final, pela Suprema Corte; estabelece ao intérprete constitucional a vedação de aplicação de normas inconstitucionais e a proibição do exercício da função de legislador positivo criando normas divergentes dos propósitos do legislador. Princípio da proporcionalidade - Ao expor a doutrina de Karl Larenz, Coelho esclarece (...) o princípio consubstancia uma pauta de natureza axiológica que emana diretamente das ideias de justiça, equidade, bom senso, prudência, moderação, justa medida, proibição de excesso, direito justo e valores afins; precede e condiciona a positivação jurídica, inclusive de âmbito constitucional; e ainda , enquanto princípio geral do dreitio, serve de regra de interpretação para todo o ordenamento jurídico. Resumo: Concordância Prática: em caso de colisão entre princípios. Conformidade Funcional: Divisão de FUNÇÕES entre os 3 poderes. Máxima efetividade: maior grau de efetividade social Fontes: https://bibliotecadigital .fgv.br/dspace/bitstream /handle/10438/10959 /Resiliencia _constitucional.pdf ?sequence=3&isAllowed=y Lenza, Pedro. Direito Constituconal Esquematizado. 21ª ed. Saraiva, 2017.
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