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INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA A Faculdade Multivix está presente de norte a sul do Estado do Espírito Santo, com unidades em Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Castelo, Nova Venécia, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Desde 1999 atua no mercado capixaba, destacando-se pela oferta de cursos de graduação, técnico, pós-graduação e extensão, com qualidade nas quatro áreas do conhecimento: Agrárias, Exatas, Humanas e Saúde, sempre primando pela qualidade de seu ensino e pela formação de profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho. Atualmente, a Multivix está entre o seleto grupo de Instituições de Ensino Superior que possuem conceito de excelência junto ao Ministério da Educação (MEC). Das 2109 institu- ições avaliadas no Brasil, apenas 15% conquis- taram notas 4 e 5, que são consideradas conceitos de excelência em ensino. Estes resultados acadêmicos colocam todas as unidades da Multivix entre as melhores do Estado do Espírito Santo e entre as 50 melhores do país. MISSÃO Formar profissionais com consciência cidadã para o mercado de trabalho, com elevado padrão de qualidade, sempre mantendo a credibil- idade, segurança e modernidade, visando à satis- fação dos clientes e colaboradores. VISÃO Ser uma Instituição de Ensino Superior reconheci- da nacionalmente como referência em qualidade educacional. R E I TO R GRUPO MULTIVIX R E I 2 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 3MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 BIBLIOTECA MULTIVIX (Dados de publicação na fonte) Nome e sobrenome do professor. Nome da Disciplina / Sobrenome, Nome do professor -. - Multivix, 2020. Catalogação: Biblioteca Central Multivix 2020 • Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. 4 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Pintura pré-histórica encontrada na Argélia 12 Figura 2: Conquista da postura bípede 13 Figura 3: Perspectiva integrada do desenvolvimento humano 14 Figura 4: Representação de luta greco-romana 16 Figura 5: Soldado espartano 19 Figura 6: Guerreiro grego 21 Figura 7: Coliseu romano 23 Figura 8: Estátua de um corredor olímpico do período clássico 24 Figura 9: Confronto entre dois cavaleiros 26 Figura 1: Corpo e ciência 30 Figura 2: Integração entre corpo e pensamento 31 Figura 3: Relação entre Ciência e Educação Física 32 Figura 4: Interseções entre a Ciência e a Filosofia no movimento 32 Figura 5: Relação entre movimento e a área médica 34 Figura 6: Militares conduziam treinamentos físicos para civis 35 Figura 7: Imagem: Modelo anatomofisiológicos 36 Figura 8: Novos olhares para Educação Física 37 Figura 9: Esporte com regras passa a ocupar o lugar dos passatempos 39 Figura 10: Urbanização crescente 40 Figura 11: Função social da esportivização 41 Figura 12: Educação Física e pedagogia 42 Figura 13: Educação Física escolar 44 Figura 14: Educação Física e múltiplos saberes 45 Figura 15: Ginástica Científica Europeia 47 Figura 16: Jogos olímpicos surgem de uma proposta de paz e de união dos povos 49 Figura 1: Esgrima 54 Figura 2: Equipe feminina de Remo nos anos 1940 55 Figura 3: Atleta de alto nível 56 Figura 4: Atletas de Natação no ano de 1936 57 Figura 5: Exército Imperial Brasileiro 58 5MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Figura 6: Dança do folclore brasileiro - Lundu 60 Figura 7: Rui Barbosa 61 Figura 8: Turma de professores civis formados na Escola de Educação Física do Exercito 63 Figura 9: Desembarque de Pedro Alvarez Cabral 64 Figura 10: Capoeira 65 Figura 11: Luiz Pereira de Couto Ferraz, o Barão do Bom Retiro 66 Figura 1: Atividades intelectuais eram consideradas mais importantes do que as físicas 74 Figura 2: Inclusão de atividades físicas nos currículos escolares oficiais 75 Figura 3: Alunos passam a ter aulas de Educação Física como conteúdo formal 76 Figura 4: Valorização de aspectos anatômicos e fisiológicos 78 Figura 5: Biologicismo e saúde 79 Figura 6: Influência médica na Educação Física 80 Figura 7: Elementos fundamentais da Educação Física na tendência higienista 81 Figura 8: Educação Física e nacionalismo 82 Figura 9: Abordagem militarista na Educação Física 83 Figura 10: Conteúdos relacionados à prática de Educação Física na abordagem militarista 84 Figura 11: Inclusão das mulheres para garantir boa gestação 84 Figura 12: Os esportes, como o futebol, desviavam a atenção dos debates políticos 85 Figura 13: Estrutura das práticas na tendência esportivista 86 Figura 14: Abordagem recreacionista 88 Figura 15: Na abordagem recreacionista, os alunos decidem o que querem fazer 89 Figura 1: Psicomotricidade 94 Figura 2: Reeducação psicomotora 96 Figura 3: Exemplo de atividade ligada à psicomotricidade 97 Figura 4: Educação Física na abordagem desenvolvimentista 99 6 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Figura 5: Formação das aulas de Educação Física na abordagem desenvolvimentista 100 Figura 6: Estrutura da abordagem construtivista 101 Figura 7: Educação Física com uso de elementos lúdicos 102 Figura 8: A abordagem crítico-superadora e a abordagem crítico- emancipatória pressupõem processos reflexivos atrelados às práticas 104 Figura 9: Prática de exercícios como promotoras de saúde e bem-estar 107 Figura 10: Estrutura da saúde renovada 107 Figura 11: Os Referenciais e Parâmetros Curriculares Nacionais (RCNs e PCNs) fornecem subsídios para as práticas educativas em todo o país 109 Figura 12: Ensino Médio também tem diretrizes nacionais 110 Figura 1: Sancionado 114 Figura 2: Lei 9.969 no Diário oficial da União 116 Figura 3: Corpo humano 118 Figura 4: Métodos ginásticos 118 Figura 5: Maria Lenk, no centro, com o presidente Getúlio Vargas 119 Figura 6: Vida profissional 124 Figura 7: Atividade recreativa 126 Figura 8: Esporte adaptado 127 Figura 9: Arbitragem 128 7MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 SUMÁRIO 1 ORIGENS DA EDUCAÇÃO FÍSICA: DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA À IDADE MÉDIA 11 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 11 1.1 O MOVIMENTO HUMANO NA PRÉ-HISTÓRIA E NOS POVOS ANCESTRAIS 11 1.2 TRADIÇÕES DE MOVIMENTO DOS POVOS ASIÁTICOS 15 1.3 GRÉCIA ANTIGA: MILITARISMO ESPARTANO E A FORMAÇÃO INTEGRAL HUMANA ATENIENSE 17 1.4 O LUDUS ROMANO: CIRCO, ESPORTES E LUTAS 21 1.5 CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA 24 1.6 EDUCAÇÃO FÍSICA NA IDADE MÉDIA: JOGOS PÚBLICOS, INFLUÊNCIAS DA CAVALARIA, OS TORNEIOS E AS JUSTAS 25 CONCLUSÃO 26 2 IDADE MODERNA: BASES SÓCIO-HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA 29 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 29 2.1 CONCEPÇÕES DE CORPO: INTERFACES DA EDUCAÇÃO FÍSICA COM A FILOSOFIA E A CIÊNCIA 29 2.2 HIGIENISMO 33 2.3 EUGENISMO 38 2.4 RENASCIMENTO E AS BASES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ATUAL 42 2.5 MÉTODOS GINÁSTICOS EUROPEUS 46 2.6 OS JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA 48 CONCLUSÃO 50 3 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL 53 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 53 3.1 O QUE É ESTUDAR HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA? 53 3.2 UMA HISTÓRIA OU VÁRIAS HISTÓRIAS? 57 3.3 OS PIONEIROS NOS ESTUDOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: RUI BARBOSA E FERNANDO DE AZEVEDO 61 3.4 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL COLÔNIA (1500-1822) 63 3.5 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL IMPÉRIO (1822 A 1889) 66 3.6 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL REPÚBLICA (1890 A 1946) 67 CONCLUSÃO 71 1UNIDADE 3UNIDADE 2UNIDADE 8 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/20174 EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA 73 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 73 4.1 EDUCAÇÃO FÍSICA COMO DISCIPLINA ESCOLAR: REFORMAS COUTO FERRAZ E RUI BARBOSA 73 4.2 ABORDAGENS BIOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA 77 4.3 MEDICALIZAÇÃO E HIGIENISMO 80 4.4 ABORDAGEM MILITARISTA 83 4.5 ABORDAGEM ESPORTIVISTA 85 4.6 ABORDAGEM RECREACIONISTA 88 CONCLUSÃO 91 5 TENDÊNCIAS RENOVADORAS PARA O ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA 93 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 93 5.1 PSICOMOTRICIDADE 93 5.2 ABORDAGEM DESENVOLVIMENTISTA 99 5.3 ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA/INTERACIONISTA 101 5.4 ABORDAGEM CRÍTICO-SUPERADORA E A ABORDAGEM CRÍTICO-EMANCIPATÓRIA 103 5.5 SAÚDE RENOVADA 106 5.6 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 108 CONCLUSÃO 111 6 EDUCAÇÃO FÍSICA: PROFISSÃO E FORMAÇÃO ACADÊMICO- PROFISSIONAL 113 INTRODUÇÃO DA UNIDADE 113 6.1 REGULAMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL 113 6.2 CARACTERIZAÇÃO ACADÊMICA E PROFISSIONAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA 117 6.3 FORMAÇÃO PROFISSIONAL: LICENCIATURA E BACHARELADO 120 6.4 O PAPEL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS 123 6.5 CAMPOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 125 6.6 ÉTICA NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL 129 CONCLUSÃO 133 REFERÊNCIAS 134 4UNIDADE 6UNIDADE 5UNIDADE ATENÇÃO PARA SABER SAIBA MAIS ONDE PESQUISAR DICAS LEITURA COMPLEMENTAR GLOSSÁRIO ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM CURIOSIDADES QUESTÕES ÁUDIOSMÍDIAS INTEGRADAS ANOTAÇÕES EXEMPLOS CITAÇÕES DOWNLOADS ICONOGRAFIA UNIDADE 1 > reconhecer a Educação Física como um campo de saber multicultural formado a partir de influências plurais; > identificar fundamentos filosóficos e epistemológicos da Educação Física; > utilizar a história da Educação Física como elemento de compreensão do presente. OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de: 10 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 11MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 1 ORIGENS DA EDUCAÇÃO FÍSICA: DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA À IDADE MÉDIA INTRODUÇÃO DA UNIDADE Quando refletimos sobre as origens da Educação Física e buscamos (re)cons- truir a sua história, somos levados a um passado fascinante, mas que é, tam- bém, bastante remoto, sobre o qual não temos certezas e que somente conse- -guimos conhecer por meio de informações fragmentadas e de correntes de interpre-tação que podem ser, até mesmo, opostas. Nos dias atuais, podemos compreender a Educação Física de várias maneiras. Conforme Darido e Rangel (2011, p. 25) afirmam, a Educação Física pode ser compreendida de três maneiras diferentes: co- mo um componente do currículo das escolas, como uma profissão caracte- rizada por uma prática pedagógica no interior das escolas ou fora delas, e como uma área em que são realizados estudos científicos. Mas, se contrastarmos as concepções atuais de Educação Física com as práti- cas corporais de tempos remotos, deduziremos, rapidamente, que nenhuma das definições apresentadas por Darido e Rangel será adequada para definir as práticas de movimento dos povos e das sociedades de outrora. Sendo assim, pensaremos, aqui, a Educação Física em termos de cultura cor- poral de movimento. Ao mesmo tempo, enfatizaremos que conhecer necessi- dades e possibilidades de movimento existentes em um passado distante nos ajudará a explicar o mundo de movimento que temos hoje. 1.1 O MOVIMENTO HUMANO NA PRÉ-HISTÓRIA E NOS POVOS ANCESTRAIS No contexto da cultura corporal de movimento, os estudiosos da área afirmam, repetidamente, que a Educação Física é tão antiga quanto o próprio ser hu- mano. De acordo com Antunes (2012), chamamos de Pré-História um período 12 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 da trajetória da humanidade que data de aproximadamente 4000 a.C. em que não havia escrita. Por isso, todas as informações que recuperamos desse tempo chegam até nós por meio de registros não escritos, como os achados arqueológicos sob a forma de resquícios de armas, de utensílios, de pinturas, de desenhos. FIGURA 1: PINTURA PRÉ-HISTÓRICA ENCONTRADA NA ARGÉLIA Fonte: Plataforma Deduca (2020). Na Pré-História, foi identificado o aparecimento do gênero Homo, ao qual per- tencemos. De todas as espécies vivas naquela época, os integrantes do gênero Homo eram os únicos seres que possuíam polegar. Essa característica anatô- mica pode ter lhes dado uma vantagem, visto que, ao contrário dos demais seres, eram capazes de arremessar e de lançar objetos (OLIVEIRA, 2017). Naquele período, o modo de vida e as necessidades de sobrevivência das mu- lheres e dos homens os obrigavam a realizar uma ampla gama de movimentos naturais. No início da vida humana na terra, toda a sobrevivência dependia do movimento. O alimento era obtido da coleta e da caça, o que determinava um modo de vida nômade. Os trajetos em busca de provisões eram realizados, en- tão, sem auxílio de animais e de veículos. 13MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Em um tempo em que não existiam nem animais domesticados nem máqui- nas para apoiar a realização das tarefas cotidianas; e em que algumas ferra- mentas e implementos rudimentares eram desenvolvidos muito lentamente, a vida pedia que os seres humanos corressem, saltassem, lançassem e realizas- sem toda a sorte de movimentos para caçar, para pescar, para coletar e para protegerem-se de predadores. Durante a Pré-História, ocorreram transformações importantes nas possibilida- des de movimento humano, as quais marcaram a nossa espécie e, também, a nossa história. Alguns autores, como Antunes (2012), argumentam que a con- quista da postura bípede foi um dos marcos mais importantes para o desen- volvimento do movimento humano. FIGURA 2: CONQUISTA DA POSTURA BÍPEDE Fonte: Plataforma Deduca (2020). Conforme expõe Fonseca (2019), para os nossos ancestrais hominídeos, o do- mínio da postura vertical bípede permitiu a liberação das mãos para outros usos que não o apoio do corpo, ao passo que o desenvolvimento da coordena- ção motora fina resultou em diversas consequências morfofuncionais e cogni- tivas. A pesquisa realizada pelo autor é extensa, e, para que você possa conhe- cê-la em linhas gerais, apresentamos o infográfico a seguir. 14 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 3: PERSPECTIVA INTEGRADA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO HOMINIZAÇÃO DO CORPO HOMINIZAÇÃO DO ESPÍRITO HOMINIZAÇÃO SOMÁTICA REDUÇÃO E CONTINUIDADE DA DENTADURA ALTERAÇÕES CRANIANAS CEFALIZAÇÃOPOSTURA BÍPEDE • PÉ DE SUSTENTAÇÃO • LIBERTAÇÃO DA MÃO • ALARGAMENTO DA BACIA • ACHATAMENTO DO TORAX • MODIFICAÇÕES ESQUELÉTICAS DOS MEMBROS • EXPANSÃO FRONTO-PARIETO- CEREBRAL • PROGNATISMO DESVANECE-SE • DOMÍNIO DA NUTRIÇÃO • CORTICALIZAÇÃO • HIPERTROFIA CEREBRAL • EXPANSÃO DAS ÁREAS ASSOCIATIVAS • REFLEXÃO DA AÇÃO • REPRESENTAÇÃO SENSORIAL DO REAL • PENSAMENTO SEQUENCIAL E LÓGICO • GENERALIZAÇÃO • HERANÇA SOCIAL • APRENDIZAGEM • FABRICAÇÃO • TRABALHO Da ação à consciência Do biológico ao social LINGUAGEM ARTICULADA LIBERTAÇÃO DA MÃO PARA O TRABALHO ORGANIZAÇÃO SOCIAL HOMINIZAÇÃO CULTURAL Fonte: Adaptada de Fonseca (2019, p. 86). 15MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Existem muitas hipóteses acerca da passagem da postura quadrúpede para a bípede, das suas causas e das suas consequências. Mas, independentemente de qual teoria seja a correta, esse foi um fato determinante para que o de- senvolvimento da motricidade humana tenha atingido o estágio em que se encontrahoje. Além disso, com as mudanças cognitivas que se deram paralelamente à evo- lução motora, a linguagem e a cultura se desenvolveram. Com elas, surgiram as formas de movimento criadas, conservadas e compartilhadas, como as dan- ças, as lutas e os jogos, e, também, as formas pré-esportivas de movimento. Conforme Oliveira (2017), as danças lúdicas ou ritualísticas eram atividades am- plamente praticadas pelos povos pré-históricos desde 60.000 a.C., no período Paleolítico superior. 1.2 TRADIÇÕES DE MOVIMENTO DOS POVOS ASIÁTICOS Com o desenvolvimento da cognição e da linguagem, a humanidade sai da pré-história e desenvolve outro estilo de vida. O desenvolvimento da agricultu- ra faz com que o nomadismo diminua, e os grupamentos humanos começam a se fixar à terra e a dar importância à defesa e à conquista de territórios consi- derados ricos e estratégicos. As culturas se desenvolvem, e, com elas, também surgiram diversas lingua- gens de movimento bem definidas que estão relacionadas a grupos que ha- bitam territórios geograficamente próximos. Isso possibilita que falemos de práticas de movimento características de povos e de lugares específicos, como o Oriente: [e]ntre os povos primitivos existem alguns poucos que conseguem atingir um estágio civilizatório. Estes pioneiros, surgidos há 6 000 anos e cujo número andou em torno de vinte, ainda mantiveram muitas características dos primitivos. Sua cultura, porém, evoluíra o suficiente para que se considerasse iniciado um novo período da História: a Antiguidade Oriental (...) Nesse novo contexto, os exercícios físicos continuam merecendo o mesmo destaque alcançado na pré-história. (...) Podemos arriscar uma classificação onde identificaríamos finalidades de ordem guerreira, terapêutica, esportiva e educacional, aparecendo sempre à religião como pano de fundo. OLIVEIRA, 2017, p. 9-10). 16 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 A História Antiga é fascinante, mas a das práticas de movimento é relativamente difícil de ser recuperada com precisão, pois é um trabalho realizado com regis- tros fragmentados e, às vezes, contraditórios. Talvez você encontre essa informa- ção com data diferente, mas há registros, de cerca de 2000 a.C., de que os chi- neses já adotavam práticas sistemáticas de movimento, como o Kung Fu, descrito como uma ginástica de orientação médi- co-terapêutica que proporcionava desen- volvimento espiritual (OLIVEIRA, 2017). Conforme estabelece Ramos (1983), se considerarmos a perspectiva histórica da Educação Física, as civilizações orientais ofereceram contribuições ricas para as ocidentais. Segundo esse autor, luta livre, boxe, esgrima com bastão, natação e remo eram atividades praticadas pelos egípcios. Algumas delas, como a luta livre, que se transformou em luta greco-romana, fo- ram, depois, modificadas pelos romanos. FIGURA 4: REPRESENTAÇÃO DE LUTA GRECO-ROMANA Fonte: PixaBay (2015). Os Chineses se destacaram entre as culturas orientais antigas: além de treinarem Kung fu e outras artes marciais, eram, também, exímios caçadores, lutadores, nadadores, praticantes de esgrima e de hipismo. 17MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Ramos (1983) também nos ensina que vários povos orientais, como os assírios e os babilônios, precisavam ter boa aptidão física, por conta dos desafios da vida diária; e que, por isso, praticavam as atividades físicas classificadas pelo autor de “utilitárias”. O mesmo acontecia com o povo hitita, que era reconhecido por sua habilidade como cavaleiro e pelas indicações de treinamento que deixa- ram registradas em um manual. Muitas das atividades físicas desenvolvidas pelas civilizações orientais estavam ligadas a aspectos importantes da vida social, como os princípios morais, as práticas rituais, as crenças espirituais e a preparação para a guerra. Na Idade Antiga, a sobrevivência continuava bastante dependente de ativida- des associadas a práticas motoras. Ramos (1983, p.18) apresenta reproduções de poesias chinesas que descrevem um jogo chamado tsuchu, bastante seme- lhante ao futebol atual: Redonda é a bola, quadrado, o campo. Igual a imagem da Terra e o do Céu. A pelota passa por nós com a Lua, Quando duas equipes se encontram Foram nomeados os capitães, que dirigem o jogo(...) Ainda assim, a vida na Antiguidade permitiu o aumento de espaços de tem- po ociosos, possibilitando que surgisse uma orientação mais esportiva para as práticas corporais, de modo que atividades utilitárias, guerreiras ou ritualísticas fossem se transformando ou cedendo espaço para práticas orientadas à cria- ção e à manutenção de ordens sociais e morais OLIVEIRA, 2017). Segundo Oliveira (2017), a Índia foi o berço da ioga, outra importante prática ginástica relacionada ao desenvolvimento espiritual. Nas práticas de movimen- to documentadas no Oriente antigo, também se destacaram as de orientação guerreira, com destaque para as criadas pelos egípcios, que eram seguidos de perto pelos sumérios, pelos caldeus, pelos babilônios e pelos assírios. 1.3 GRÉCIA ANTIGA: MILITARISMO ESPARTANO E A FORMAÇÃO INTEGRAL HUMANA ATENIENSE Os gregos são os precursores da civilização ocidental, e as atividades físicas foram importantes na sua afirmação como cultura dominante. Na antiga Gré- cia, as atividades físicas tinham papel importante nas práticas pedagógicas e, também, nos momentos de celebração. 18 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 A civilização grega pode ser considerada o berço da Educação Física como a conhecemos hoje. Podemos até dizer que as concepções de Educação des- sa cultura marcaram toda a Educação ocidental (NUNES, 2009). De cultura guerreira, os gregos tinham por hábito celebrar com jogos. Entre esses jogos, estavam os Olímpicos e outros que ocorriam durante o intervalo entre uma olimpíada e outra, como os ístmicos, os píticos, os nemeus e os fúnebres. (TU- BINO, 1987) Jogos fúnebres são algo muito distante da nossa realidade. Para que você não fique sem referência, temos o exemplo registrado pelo poeta Homero, que men-ciona os jogos fúnebres’‘ que Aquiles mandou celebrar em homenagem ao amigo Pátroclo, assassinado por Heitor. Os jogos englobavam oito provas: corrida de car-ros, pugilato, luta, corrida a pé, combate armado, arremesso de bola de ferro, arco e flecha e arremesso de lança. (DE OLIVEIRA, 2017) Os Jogos Olímpicos, que foram resgatados na era Moderna e seguem sendo disputados até os dias atuais, eram uma celebração que acontecia a cada qua- tro anos na cidade de Olímpia. Os Jogos Olímpicos foram celebrados ao longo de doze séculos (entre 884 a.C. e 394 d.C.) e entraram em declínio depois que a Grécia foi conquistada por Roma. Nessa época, eram abertos apenas aos homens. 19MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA As Olimpíadas podem ser consideradas o primeiro evento esportivo de grande impacto social, porque, durante a sua realização, estabelecia-se uma trégua nas guerras da Grécia, gerando um efeito de unificação do Império. Durante o período em que a civilização grega foi próspera, sucederam-se al- guns períodos históricos. Esse processo começou em 800 a.C. e foi marcado pela organização de cidades-estados independentes, dentre as quais se desta- caram as oponentes Esparta e Atenas. Esparta foi uma cidade bastante desenvolvida. Contudo, sua orientação políti- ca se opunha ao humanismo grego. Os espartanos eram dedicados ao Estado e submissos à vontade de seus governantes; e acreditavam que todos deviam servir ao exército, deixando as atividades culturais em segundo plano. FIGURA 5: SOLDADO ESPARTANOFonte: Plataforma Deduca (2020). 20 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 As mulheres espartanas se diferenciavam das outras gregas. Eram mais fortes e podiam participar das atividades físicas, o que era totalmente impensável em outras cidades, como Athenas. Essa orientação estava fundamentada na cren- ça de que os futuros guerreiros de Esparta só poderiam ser fortes se fossem nascidos de pai e de mãe igualmente fortes. A disciplina e o estilo de vida dos espartanos os favoreciam no sentido de vencer a maioria das provas dos jogos Olímpicos. Na prova de corrida de velocidade, dos trinta e seis campeões conhecidos, vinte e um têm origem espartana (OLIVEIRA, 2017). Você sabia que os gregos desenvolveram uma concepção educacional pró- pria? Conheça-a a seguir. A chamada de paideia era aplicada à educação dos meninos das famílias que gozavam de privilégios sociais e econômicos. De acordo com os princípios da paideia, os meninos aprendiam lutas corporais, equitação, natação, lutas, exercícios militares; e treinavam para os Jogos Olím- picos (NUNES, 2009). Na cidade de Atenas, o atletismo e a ginástica tinham lugares destacados, mas se voltavam mais à cultura do que à guerra. As atividades físicas eram valoriza- das como indispensáveis à formação integral dos cidadãos, tanto que Solón, 21MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA legislador grego, acreditava que "[a]s crianças devem, antes de tudo, aprender a nadar e a ler” (BRANDÃO, 1989). FIGURA 6: GUERREIRO GREGO Fonte: Plataforma Deduca (2020). Os Atenienses contavam com locais específicos para a prática de atividades físicas, principalmente a ginástica, chamados de ginásios, de palestras e de estádios. Eram dirigidos por profissionais que ganhavam grande respeito da comunidade, como o ginasiarca, que dirigia os estádios, e o pedótriba, um profissional que atuava de modo semelhante ao professor de Educação Física (MARINHO, 1983). 1.4 O LUDUS ROMANO: CIRCO, ESPORTES E LUTAS Os romanos não eram idealistas como os gregos. Suas práticas físicas eram marcadas pelo caráter utilitarista (OLIVEIRA, 2017). Desse modo, as práticas corporais não eram parte fundamental da formação moral ou física, mas eram 22 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 consideradas práticas complementares. Ainda assim, as práticas corporais ocupavam lugar na vida em sociedade e na educação dos jovens. Houve um tempo em que os jovens romanos se reuniam no Campo de Marte para praticar atividades esportivas com a finalidade de se prepararem para as bata-lhas em que Roma pretendia expandir seu território. As atividades praticadas no Campo de Marte eram equitação, corridas de velocidade e de resistência, natação, pugilato, luta, arco e flecha e esgrima, entre outras. Essas práticas eram fundamentadas na ideia do ludus romano, que estava muito mais orientado ao jogo e à prática do que aos resultados em competi- ções. Em termos de instalações em que os ludi ocorriam, os romanos tinham os circos, os anfiteatros e as termas Os circos surgiram, primeiramente, com a finalidade de abrigar corridas de carro, corridas a pé e lutas; e podiam reunir uma grande quantidade de pesso- as. A capacidade do circo Máximo, por exemplo, beirava as 400 000 pessoas (OLIVEIRA, 2017). As ruínas do Coliseu romano são, popularmente, conhecidas por pessoas de todo o mundo. Trata-se de uma instalação do tipo anfiteatro que foi destinada à prática de atividades físicas e que comportava até 100.000 pessoas (OLIVEIRA, 2017). 23MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA FIGURA 7: COLISEU ROMANO Fonte: PixaBay (2013). No período imperial da história romana (iniciado em 27 a.C.), o espírito do ludus se perdeu, e as atividades eram espetacularizadas. O uso político e a espetacularização do esporte, que ficou muito marcada nesse período da história romana, ocorre até os dias atuais. Para compreender como a política de “pão e circo” foi se atualizando e está presente até os dias de hoje, clique sobre os artigos e leia-os. • “A história do uso político do esporte”; • “Políticas públicas de esporte e lazer & políticas públicas educacionais: promoção da educação física dentro e fora da escola ou dois pesos e duas me-didas?” Os governos praticavam o “pão e circo” para manter a população distraída, cor- data e ocupada. Os eventos eram violentos e envolviam sacrifícios de pessoas e de animais. https://portalrevistas.ucb.br/index.php/RBCM/article/viewFile/566/590 “Políticas públicas de esporte e lazer & políticas públicas educacionais: promoção da educação físic “Políticas públicas de esporte e lazer & políticas públicas educacionais: promoção da educação físic “Políticas públicas de esporte e lazer & políticas públicas educacionais: promoção da educação físic “Políticas públicas de esporte e lazer & políticas públicas educacionais: promoção da educação físic 24 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 1.5 CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA O período entre 500 a.C. e 338 a.C. é um momento da história grega em que os filósofos ocidentais começam a se destacar. Na época clássica, observaremos o surgimento de uma pedagogia sistematizada e apoiada em fundamentos racionais. Com a ascensão da Filosofia, as atividades físicas perdem um pouco de destaque, mas a ginástica continua ocupando um papel importante. A paideia grega estava baseada em um ideal educativo chamado arete, que considerava uma relação integrada entre corpo e alma, visando ao desenvolvi- mento de virtudes morais. Com o tempo, esses princípios dão lugar, progressivamente, ao pensamento, que privilegia as qualidades intelectuais, em detrimento das físicas e das es- téticas. Após o período helênico, a Grécia perde o seu poder no Ocidente, que passa a ser dominado por Roma. A paideia grega foi um modo de pensar abrangente e complexo que fundou a formação dos cidadãos, da cultura e da sociedade grega por um longo período de tempo. É considerada um dos principais fundamentos da Educação Física; por isso, recomendamos que você acesse cada um dos artigos a seguir e aprofunde seus estudos acerca da paideia: • “O pedotriba e a educação física antiga” • “Desporto, paideia e não dualidade”; • Educare (Tê): o desporto como expressão de valores”. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rfe/article/download/8635557/3350 https://www.redalyc.org/pdf/1153/115319264012.pdf http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/10096/7766 http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/10096/7766 25MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA FIGURA 8: ESTÁTUA DE UM CORREDOR OLÍMPICO DO PERÍODO CLÁSSICO Fonte: PixaBay (2020). Os exercícios físicos que os gregos praticavam eram bem próximos dos movimentos naturais – como correr, saltar e lançar – e do que hoje conhecemos por atletismo. Ginástica significava, inclusive, a arte de exercitar o corpo nu, e a prática de atividades físicas costumava acontecer em estado de nudez. 1.6 EDUCAÇÃO FÍSICA NA IDADE MÉDIA: JOGOS PÚBLICOS, INFLUÊNCIAS DA CAVALARIA, OS TORNEIOS E AS JUSTAS No ano de 393 d. C, o imperador Teodósio I proíbe os Jogos Olímpicos, com o objetivo de inibir as celebrações consideradas pagãs. Dois anos depois, divi- de o Império Romano em um ato que marca o início da Idade Média. Nesse período de ascensão e de supremacia da Igreja Católica, as práticas corporais perdemespaço para as coisas da alma e do espirito. 26 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Mesmo assim, algumas práticas corporais seguem sendo necessárias à vi-da. Uma delas é a preparação dos cavaleiros que lutarão nas várias batalhas que aconteciam. Essa preparação envolvia a prática de xadrez, de equitação, de es- gri-ma, de caça, de tiro de lança e de arco e flecha. As habilidades dos cavalei- ros eram exibidas em combates simulados, chamados de torneios, e nas justas. FIGURA 9: CONFRONTO ENTRE DOIS CAVALEIROS Fonte: Freepik (2020). A época medieval marcou uma mudança importante em relação à prática de atividades físicas. Em lugar dos esportes individuais praticados no atletismo greco-romano, as práticas coletivas ganharam espaço, principalmente os jogos com bola. CONCLUSÃO Os estudos desta unidade tiveram o propósito de apresentar a Educação Física como um campo de saber que vem se constituindo há muito tempo na inter- face de múltiplas influências biológicas, culturais e sociais. A partir dos conteúdos apresentados e das reflexões propostas, acreditamos que você é capaz de identificar aspectos históricos que deram base à cons- 27MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA tituição da Educação Física como a conhecemos hoje; e de reconhecer a ori- gem histórica de práticas pedagógicas e de eventos importantes, como são os Jogos Olímpicos. Para que isso fosse possível, trouxemos alguns conhecimentos fragmentados de fatos que se deram em períodos remotos da história. Com as informações apresentadas, esperamos que tenha sido possível compreender que, no início da trajetória da espécie humana na terra, as demandas de sobrevivência, por si só, já eram um intenso programa de atividade. Porém, à medida que os modos de vida se modificam, a vida permite espaço para o ócio e para o sedentarismo, e novas formas de movimentar-se, também influenciadas pelo contexto sócio- -histórico, surgem. A partir dessas afirmações, você é, agora, capaz de reconhecer alguns proces- sos por meio dos quais as práticas corporais se transformaram de movimentos naturais, caracterizados pela necessidade de luta pela sobrevivência, em práti- cas corporais ligadas a questões religiosas e sociais – como os cultos ritualísticos e o culto à beleza – e, ainda, às finalidades guerreiras, educacionais e esportivas. ANOTAÇÕES UNIDADE 2 > analisar transformações sócio-históricas da Educação Física na Modernidade; > relacionar a Educação Física à industrialização e à urbanização das civilizações ocidentais; > compreender as bases filosóficas da Educação Física na Idade Moderna; > reconhecer a Educação Física como um campo de saber de influência multidisciplinar.. OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de: 28 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 29MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 2 IDADE MODERNA: BASES SÓCIO- HISTÓRICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA INTRODUÇÃO DA UNIDADE Em nossa segunda unidade da disciplina “Introdução e História da Educação Física”, estudaremos as bases sócio-históricas e filosóficas da Educação Física, compreendendo quais acontecimentos modernos interferiram nos pressupos- tos da formação do campo de saberes estudados. Conheceremos a relação entre os processos de industrialização e de urbaniza- ção e a educação do corpo, reconhecendo-a como um campo multirreferen- ciado e multidisciplinar. Desejamos a você bons estudos e que os conteúdos aqui estudados tragam importantes reflexões para sua formação. 2.1 CONCEPÇÕES DE CORPO: INTERFACES DA EDUCAÇÃO FÍSICA COM A FILOSOFIA E A CIÊNCIA A Educação Física, com o formato que conhecemos hoje, passou por muitos significados ao longo da história, surgindo pela necessidade de um homem mais forte, mais ágil, mais empreendedor. Relacionou-se aos cuidados do cor- po, passando a ter um caráter higiênico, como banhar-se, escovar os dentes, lavar as mãos. Na perspectiva militar, teve como característica o preparo físico para tornar o indivíduo mais apto, aparecendo nas escolas vinculadas a esse rigor com as ginásticas e com a calistenia. Calistenia: sistema de ginástica sueca que associa música ao ritmo dos exercícios, desenvolvidos à mão livre, usando o próprio corpo e pequenos acessórios (pesos, caneleiras etc.) para fins corretivos, fisiológicos e pedagógicos. 30 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 1: CORPO E CIÊNCIA Fonte: Plataforma Deduca (2020). É sabida a relação entre a Educação Física e a produção cultural na socieda- de, especialmente no tocante aos conhecimentos e às tradições de jogos, de ginástica e de esportes. É preciso perceber a importância de se ressignificar o olhar e o espaço da Educação Física, por muito tempo vista apenas em sua esfera prática – ou seja, com ênfase na dimensão procedimental, capacitando a saber fazer. As esferas conceituais e atitudinais dos conteúdos formam de maneira integral e, portanto, devem ser incluídas nos programas, compondo o espaço com a prática e com a esfera procedimental dos conteúdos, contextualizando-os. Assim, ao nos dedicarmos a compreender um pouco melhor as relações entre a Educação Física, a Filosofia e a Ciência, pontuando aproximações, percebe- mos que olhar para motricidade humana, de forma estrutural e articulada, faz-nos perceber que existe uma cadeia de significados para a cultura e para a educação. 31MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA FIGURA 2: INTEGRAÇÃO ENTRE CORPO E PENSAMENTO Fonte: Plataforma Deduca (2020). A partir dos anos 1980, conceitos científicos passaram a nortear, de forma mais expandida, os conteúdos da Educação Física, que passou a aprofundar estudos sobre habilidades e sobre capacidades físicas, direcionando as práticas e repre- sentando um importante salto de qualidade na área. Outro aspecto de suma importância para o entendimento disso é o fato de a relação entre teoria e prática, na Educação Física, não se limitar às questões físi- cas e técnico-cientificas. Ao contrário, temos uma importante fundamentação sobre o corpo e sobre seus desdobramentos na Filosofia, na Antropologia, na Sociologia, na Psicologia, entres outras áreas correlatas. A Ciência passou a figurar nas bases dos conceitos diretamente relacionados à Educação Física, conforme podemos observar no esquema a seguir 32 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 3: RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E EDUCAÇÃO FÍSICA Biomecânica Fisiologia Aprendizagem motora Bases científicas da Educação Física Fonte: Elaborada pela autora (2020). Assim, temos a interdisciplinaridade como ponto de partida para os estudos sobre concepções do corpo e sobre possíveis relações e interfaces. Ao pen- sarmos na prática de atividades físicas, temos o movimento em si e, com ele, múltiplas possibilidades de análise pela Ciência. Ao mesmo tempo, temos a interpretação do movimento, que ocorre a partir do sentido que lhe for atribu- ído, gerando múltiplos sentidos e fundamentando a prática conceitualmente. Vejamos o funcionamento dessa estrutura. FIGURA 4: INTERSEÇÕES ENTRE A CIÊNCIA E A FILOSOFIA NO MOVIMENTO corpo sensação pensamento movimento Fonte: Elaborado pela autora (2020). 33MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIADA EDUCAÇÃO FÍSICA Dessa forma, vemos, claramente, a intersecção entre Ciência e Filosofia nos es- tudos sobre motricidade. O corpo e o movimento se constituem como espaço de construção de sentidos e de identidade; como campo de construções e de entendimentos filosóficos e sociológicos; e como algo que pode ser visto e analisado fisiológica e anatomicamente: [a] escola, o processo pedagógico, a formação da consciência sobre o corpo, a motricidade como expressão de si mesmo ainda é o templo da sustentação de um princípio legítimo da formação ser humano. Ali, repousa as interações de mais precisão no contexto da prática na sua total relevância. Na escola, vivencia espaços e tempos singulares, realiza-se, produz-se, transformam- se realidades. Juntam-se grupos sociais na mescla categorizadas de elementos corporais e motores cujo significado exige a interação de si com si mesmo, com o outro e com o mundo. (FENSTERSEIFER et a.l, 2007, p. 25). A Educação Física nos parece ser capaz de unir os campos de saberes, encon- trando pontos de diálogo entre a ação física e o entendimento dessa ação, criando sentidos e significados, uma vez que, justamente na reflexão filosófica, aproximamos teoria e prática. 2.2 HIGIENISMO Para entendermos as noções higienistas atreladas à Educação Física, reme- teremos às influências militares e médicas. Perceberemos relações estreitas entre os conceitos deste tópico e do próximo, uma vez que as noções de higie- nismo e de eugenia aparecem atreladas e vinculadas, tanto na teoria quanto na estruturação e na proposição das práticas. No estudo sobre o corpo e sobre o movimento, temos o ideário higienista co- locado em ação por duas vias: a médica e a militar. Vamos às definições. 34 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 5: RELAÇÃO ENTRE MOVIMENTO E A ÁREA MÉDICA Fonte: Plataforma Deduca (2020). 1. Higienismo considera a doença um fenômeno social e parte da ideia de controle dos corpos para manutenção da vida e da saúde. 2. Influência militar indica a ginástica como forma de sistematização dos conhecimentos práticos. Acreditava que, por meio da ginástica e do treinamento, o corpo poderia ser condicionado e controlado. 3. Influência médica pesquisas que preconizam a Educação Física como forma de melhoramento da saúde e de promoção do controle do corpo, de suas funções e de emoções. Pensava-se, ainda, que o modelo colaboraria com o controle de instintos destrutivos e sexuais, inclusive no tocante a vícios. 35MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Na Educação, podemos observar a ginástica na grade curricular de escolas ci- vis, dada por militares, com a finalidade de cumprir os ideais apontados, com- pondo o campo da cultura física no Brasil. FIGURA 6: MILITARES CONDUZIAM TREINAMENTOS FÍSICOS PARA CIVIS Fonte: Plataforma Deduca (2020). Um marco nesse processo é Arthur Higgins, que passa a praticar atividades físicas por recomendação médica, como tratamento complementar para o reestabelecimento de um quadro de tuberculose aos 23 anos. Tal fato ocorreu no final do século XIX e se envolve com a área, passando a ser treinador de ginástica e escrevendo uma importante obra de concepção higienista na área da Educação Física, denominada de Compêndio de Ginástica Escolar. 36 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 As interferências da área militar na educação do corpo permanecem ativas por longos anos, até, aproximadamente, a terceira década do século XX, com a formação profissional dos instrutores de ginástica. Após essa data, os métodos militares adotados, de origem predominantemente alemã, são substituídos por métodos franceses. Tais métodos franceses, também focados na ginástica, por sua vez, consoli- dam-se a partir de estudos médicos e biomédicos, mantendo caracteres higie- nistas, que intencionam explicitar os benefícios das práticas físicas por meio de modelos anatomofisiológicos. FIGURA 7: IMAGEM: MODELO ANATOMOFISIOLÓGICOS Fonte: Plataforma Deduca (2020). O higienismo, juntamente ao pensamento eugênico, consolida-se a partir de um desejo da burguesia de melhoramento e de supremacia da raça branca. “Afirmava ser necessário [...] restringir a proliferação de infra-homens, de semi-alienados e de dementes, pela higiene do corpo e do espírito [...] (além de) fazer com que as pessoas fortes, equilibradas, inteligentes e bonitas, tenham um maior número de filhos, para que o número médio destas pessoas [...] se eleve progressivamente”. (SOARES apud MAGALHÃES, 2005, p. 93). 37MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Na área da Educação, podemos observar alguns defensores das práticas físicas pautadas nos treinamentos militares. Segundo Magalhães (2005), Fernando de Azevedo foi um dos que enviou professores para serem formados nos cur- sos do Exército. Até o início da década de 1940, ainda temos médicos e militares responsáveis pelo plano formativo dos profissionais que atuam na Educação Física, sendo seus professores apenas executores de um plano prescrito, sem fundamenta- ção pedagógica. Mudanças são observadas no curso da década de 1970, quando as disciplinas pedagógicas passam a compor a grade curricular das licenciaturas em Educa- ção Física, marcando novos olhares e formatos e promovendo o protagonismo do professor dessa disciplina. FIGURA 8: NOVOS OLHARES PARA EDUCAÇÃO FÍSICA Fonte: Plataforma Deduca (2020). O fim do governo militar marca, definitivamente, uma nova perspectiva, rom- pendo o paradigma higienista e inaugurando uma visão mais crítica e criativa na área da Educação Física, em que o movimento é entendido de forma múl- tipla, capaz de contribuir com a formação para a cidadania. 38 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Para compreender melhor as relações entre os ideais eugenistas e higienistas, sugerimos que acesse este link e leia o artigo “Higienismo e eugenia: discursos que não envelhecem”. 2.3 EUGENISMO Você sabe o que é eugenismo? Acreditamos que sim, mas iniciaremos este tópico com a definição do termo. O eugenismo é o movimento que defende a eugenia, que acredita ser possí- vel “melhorar” a população por meio do controle social e da seleção genética das pessoas. Parte da noção de seleção natural darwinista, entendendo que os mais fortes devem prevalecer e que os mais fracos devem ser eliminados. O higienismo, tema do tópico anterior, é um dos principais mecanismos uti- lizados pelos eugenistas, que passam a ganhar espaço de forma acentuada, com o crescimento da industrialização e da urbanização. Ao olharmos para o corpo e para o movimento, vemos a necessidade de ordenação e de controle, que podemos observar com a passagem do passatempo à esportivização, que conheceremos agora. O esporte ou desporto foi, durante muito tempo, o termo utilizado para fazer referência a uma grande variedade de passatempos e de divertimentos, sem maiores critérios. Com o tempo, o desporto passou a ser utilizado para tipos de recreação, sendo que o desempenho físico e as regras para manter a disputa ocupavam boa parte do tempo livre, especialmente na Inglaterra e em todos os lugares para onde foram importados seus modelos de produção industrial. A industrialização influenciava o modo de vida das pessoas, e não seria dife- rente com as atividades de lazer, que, como vimos no tópico anterior, passam a assumir funções especificas no início do século XIX. https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/lil-418250 39MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA FIGURA 9: ESPORTE COM REGRAS PASSA A OCUPAR O LUGAR DOS PASSATEMPOS Fonte: Plataforma Deduca (2020). Na Antiguidade Clássica, a expressão que se utilizava para significar o que se entende, hoje, como lazer era o otium (ócio). A Grécia considerava o trabalho pejorativo; em contrapartida, a contemplação era bastante valorizada. A partir da dominação romana, os valores mudaram. As guerras são um exemplo disso: o tempo de não trabalho (otium) não concorria com o tempo de trabalho (nec-otium, que originou nossa palavra “negócio”). Muito pelo contrário, o Império Romano entendia essas duas esferas como interrelacionadas. 40 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 10: URBANIZAÇÃO CRESCENTE Fonte: Plataforma Deduca (2020). Para conseguirmos realizar uma análise da história do desporto e da transição dos passatempos para os esportes, é necessário compreender como aconte- ceu o desenvolvimento da sociedade em aspectos globais, considerando di- mensões sociais, políticas, econômicas e culturais. O transcurso do século XVIII na Inglaterra é marcado pela busca de soluções não violentas para os conflitos, por meio de regras aceitas por todos, mediadas pelo Estado, de modo que grupos rivais deixassem de guerrear e encontras- sem outras maneiras de expressão, de representação e de reivindicação. Assim, percebemos que o processo de civilização e de desenvolvimento da es- trutura político-social inglesa do final do século XVIII tem estreita relação com o movimento eugenista, que atua, também, por meio da desportivização dos passatempos. Na medida em que os confrontos passam a ter características dos desportos, afastam-se dos confrontos violentos; e as disputas passam a ser mais comple- xas, estando mais na esfera do jogo do que da violência. Se, antes, observáva- mos atividades livres e de cunho recreativo, passamos a práticas com carac- 41MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA terísticas do desporto moderno, com regras escritas, com medidas punitivas, com fiscalizadores das normas e com aplicadores das punições intrajogo. As principais características do esporte moderno são • igualdade de chances entre os jogadores; • acontecimento em espaços próprios, como campos, estádios, velódromos, pistas, ginásios, entre outros; • tempo regrado; • calendário próprio; • código de regras e práticas potencialmente universais; • diminuição do nível de violência aceitável. FIGURA 11: FUNÇÃO SOCIAL DA ESPORTIVIZAÇÃO Fonte: Plataforma Deduca (2020). Com tais características, vemos que o esporte começa a ter um corpo próprio, com características que tendem a superar especificidades locais, noções de ética e a busca pelo prazer no jogo. 42 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Para conhecer um pouco da história da esportivização dos passatempos no Brasil, leia o livro O esporte na cidade, de Ricardo de Figueiredo Lucena, publicado, em 2001, pela Editora Autores Associados.. 2.4 RENASCIMENTO E AS BASES PEDAGÓGICAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ATUAL Como vimos nos tópicos anteriores, o fim do governo militar foi muito impor- tante para que a Educação Física tivesse o formato que conhecemos hoje. Com a expansão das pesquisas na área, observamos mais autonomia e protagonis- mo dos profissionais, que, inclusive, passam a articular seus saberes com outras áreas, especialmente da Educação. FIGURA 12: EDUCAÇÃO FÍSICA E PEDAGOGIA Fonte: Plataforma Deduca (2020). 43MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Nessa aproximação, as práticas pedagógicas em Educação Física começam a flertar com ideais contra-hegemônicos, com importantes críticas ao tecnicis- mo, ao modelo biomédico, à hegemonia do esporte e à docilização dos corpos. (MAGALHÃES, 2005). Assim, a Educação Física passa, aos poucos, a ser vista como prática social, po- dendo estar manifesta em formatos e em categorias, de acordo com as seguin- tes concepções. 1. Educação Física convencional ainda com forte influência dos ideais eugenistas, faz parte da pedagogia tradicional, que valoriza o intelecto em detrimento do corpo. Essa dicotomia faz com que o trabalho com o corpo ocorra de maneira fragmentada, educando o físico com especial relevância de aspectos anátomos-fisiológicos ou motores. 2. Educação Física modernizadora concebe a educação por meio do corpo físico, e não do treinamento do corpo físico. Além do biológico, preocupa-se com o psicológico, enfocando a educação no âmbito individual. Essa abordagem ainda é adotada por boa parte dos profissionais da área, já que apresenta uma visão mais abrangente em relação ao processo educativo e à realidade. 3. Educação Física revolucionária concepção mais ampla, percebe o indivíduo em todas as suas dimensões, além das suas relações com o outro e com o mundo. O corpo é entendido de maneira integrada, sendo o homem, e não parte dele. Para os adeptos desse enfoque, os educadores são os verdadeiros agentes transformadores e renovadores da sociedade. 44 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 13: EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Fonte: Plataforma Deduca (2020). Podemos observar esse olhar mais abrangente e renovado expresso na Lei do Desporto Brasileiro, publicada em 1993: [...] capítulo III: Da conceituação e das finalidades do Desporto Art. 3º O desporto como atividade predominantemente física e intelectual pode ser reconhecido em qualquer das seguintes manifestações: I – desporto educacional, através dos sistemas de ensino e formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral e a formação para a cidadania e o lazer; II - desporto de participação, e modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e da educação e na preservação do meio ambiente; III - desporto de rendimento, praticado segundo as normas internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com outras nações. (BRASIL, 1993, p. 6) O esporte de rendimento não é responsabilidade da instituição escolar, que deve, sim, representar espaço de ensino e de expressão das múltiplas possi- bilidades da cultura corporal, possibilitando a formação integral do sujeito. Portanto, a Educação Física é considerada a prática que melhor dá conta de 45MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ensinar aos indivíduos elementos da cultura corporal do movimento – ou seja, norteá-los quanto àquilo que os compõe, que os antecede e que os atravessa: aquilo que os faz humanos. FIGURA 14: EDUCAÇÃO FÍSICA E MÚLTIPLOS SABERES Fonte: Plataforma Deduca (2020). Essa cultura corporal do movimento é composta por um conjunto diversifi- cado de saberes que norteia o sujeito quanto à realidade em que está inseri- do para, posteriormente, ampliá-la, capacitando-o a desempenhar um papel transformador na sociedade. É importante ressaltar a importância de se superar a Educação Física com prá- ticas que se restrinjam à prática de esportes tradicionais, os quais se limitam ao saber fazer já citado, não fornecendo ao sujeito repertório da cultura corporal do movimento. 46 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIXEAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Clique aqui e aprofunde seus conhecimentos sobre o conteúdo com o material disponibilizado pelo Governo Federal, com o qual podemos conhecer mais sobre as bases e sobre os pressupostos do esporte e da Educação Física no Brasil. 2.5 MÉTODOS GINÁSTICOS EUROPEUS O Movimento Ginástico Europeu surge como resposta do Estado ao fascínio da população pelos artistas e pelas apresentações de rua. Considerados sub- versivos e perigosos, os artistas circenses, acrobatas, estrangeiros, entre outros marginalizados, encantavam e movimentavam a cena com apresentações consideradas imorais e perigosas pelos governantes europeus, em meados do século XIX. “Nos meios urbanos, são diferentes manifestações lúdicas de caráter popular realizadas com base nas atividades circenses que se impõem [...]. Suas apresentações aproveitavam dias de festas, feiras, mantendo uma tradição de representar e de apresentar-se nos lugares onde houvesse concentração de pessoas do povo. Artistas, estrangeiros, errantes. Situados no limite da marginalidade fascinavam as pessoas fincadas em vidas metrificadas e fixas. Eram ao mesmo tempo elementos de barbárie e de civilização nos lugares por onde passavam”. (SOARES, 2002, p. 24, 25). Assim, o poder público cria, com intenção moralizadora, o movimento siste- matizado de ginástica, também influenciado pela crescente industrialização e com ideal higienista. Veja como se dava seu funcionamento. http://www.esporte.gov.br/arquivos/sndel/esporteLazer/cedes/livrocedesufjf.pdf 47MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA FIGURA 15: GINÁSTICA CIENTÍFICA EUROPEIA moral método ordem disciplinaGinástica científica Fonte: Elaborada pela autora (2020). A ginástica científica era pautada em métodos criados por médicos e por mi- litares; e valorizava hábitos saudáveis e a prática de atividades físicas regulares, escondendo um projeto patriótico que visava a regular comportamentos e a docilizar corpos. Conheceremos, agora, as três principais escolas: a alemã, a sueca e a francesa. 1. Escola Alemã: pautada em preceitos nacionalistas, a ginástica é vista como preparação para guerra. Utiliza métodos essencialmente biológicos e militares; e indica prática diária, promovida pelo Estado, para todos os cidadãos. É organizada para alcançar objetivos físicos e morais. 2. Escola Sueca: a ginástica sueca nasce com o grande propósito de eliminar os vícios da sociedade, regenerando a população. De caráter não militar, tem prerrogativas sociais e pedagógicas, assegurando força, beleza e saúde aos praticantes. É conhecida como calistenia. 48 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 3. Escola Francesa: baseada na proposta alemã, uniu, aos ideais militares, morais e patrióticos, preocupações com o desenvolvimento social. Intencionava a formação do homem em sua totalidade, desenvolvendo habilidades como força, destreza, agilidade e resistência. Ao conhecermos as características das escolas de ginástica europeias, pode- mos perceber que, guardadas suas peculiaridades, os métodos se relacionam e exercem influência uns sobre os outros, tendo, como pressuposto, o conteú- do anatomofisiológico. Junto a esse “núcleo” biológico, temos, ainda, os conte- údos moralizantes e a valorização da disciplina, da obediência, a formação de hábitos, entre outras características similares. Além dessas escolas, temos outras, porém menos voltadas ao desenvolvimento da ginástica e que não obtiveram tanto destaque. Para conhecer com mais profundidade, acesse este link e leia o artigo “Século XIX e o Movimento Ginástico Europeu: o processo de sistematização da ginástica”, de autoria de Aline Menezes Dodô e de Lorena Nabanete dos Reis. 2.6 OS JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA Após a interrupção dos Jogos Olímpicos em 392, temos, em 6 de abril de 1896, a inauguração dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. A primeira edição se deu em Atenas, na Grécia, promovida pelo francês Barão de Coubertin, que ficou conhecido como pai da Olimpíada Moderna. Com a intenção de utilizar o es- porte como estratégia de propagação da paz e da união dos povos, o Barão dizia que “o importante é competir”, frase que ficou bastante conhecida por todo o mundo. https://www.efdeportes.com/efd190/seculo-xix-e-o-movimento-ginastico-europeu.htm 49MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA FIGURA 16: JOGOS OLÍMPICOS SURGEM DE UMA PROPOSTA DE PAZ E DE UNIÃO DOS POVOS Fonte: Plataforma Deduca (2020). Em junho do mesmo ano, foi fundado o Comitê Olímpico Internacional, com- posto, na época, por representantes de quinze países, em atividade até os dias de hoje. A forma de abertura dos Jogos Olímpicos também é um elemento que se mantém, até hoje, de acordo com a estrutura proposta pelo Rei George 1º da Grécia, que disse "Declaro abertos os primeiros Jogos Olímpicos em Atenas", frase que se tornou marca registrada para todas as cerimônias de abertura se- guintes. As provas dessa edição foram atletismo, ciclismo, luta, esgrima, ginástica, hal- terofilismo, natação e tênis. Disputaram 285 atletas do gênero masculino, de 13 países diferentes. Inspirados nos Jogos Olímpicos criados na Grécia em 2500 a.C., guardou o nome da cidade de origem, Olímpia, na Grécia antiga, quando os jogos acon- teciam em homenagem a Zeus. 50 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Ainda que o Barão tenha criado os jogos como forma de união dos povos, assis- timos, hoje, à espetacularização acentuada das Olimpíadas, que representam, atualmente, grandes gastos e um evento tão midiático quanto esportivo. Para saber mais sobre os Jogos Olímpicos da Era Moderna, acesse este link e leia o artigo “Jogos Olímpicos da Era Moderna: uma proposta de periodização”, de Katia Rubio.. CONCLUSÃO Nesta unidade de aprendizagem, seguimos com nossos estudos da disciplina “Introdução e História da Educação Física”, momento dedicado ao estudo da Idade Moderna, que representam as bases sócio-históricas da Educação Física como a conhecemos hoje. Aprendemos sobre as interfaces entre a Ciência e a Filosofia na concepção da Educação Física, de modo que entendemos que um movimento pode (e deve) ser visto para além de seus caracteres biológicos, uma vez que traz em si sentido e significado. Conhecemos os movimentos eugenistas e higienistas, que influenciaram, de maneira acentuada, o campo do movimento e da educação do corpo durante o processo de crescimento da industrialização, especialmente por meio da gi- nástica prescrita por médicos e por militares. Por fim, conhecemos as escolas europeias de ginástica, suas origens e suas ca- racterísticas, entendendo o quanto seus pressupostos influenciam os trabalhos do mundo todo, inclusive os brasileiros. Esperamos ter contribuído para seu percurso formativo. Até a próxima! https://www.scielo.br/pdf/rbefe/v24n1/v24n1a06.pdf 51MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ANOTAÇÕES UNIDADE 3 > Conhecer os processos sócio- históricos da Educação Física no Brasil. > Compreender as raízes europeias da Educação Física brasileira. > Reconhecer a Educação Física como prática de intervenção social; e a história da Educação Física como um campo de múltiplas possibilidades. OBJETIVO Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de: 52 MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 53MULTIVIX EADCredenciadapela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA 3 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL INTRODUÇÃO DA UNIDADE A Educação Física é uma prática social e, portanto, constrói-se no contexto histórico-cultural em que está inserida. Não existe por si só, mas toma forma na disputa e nas tensões entre as exigências e a condições da vida cotidiana, os momentos políticos, as questões de saúde pública e outros aspectos da vida em sociedade que se relacionem ao movimento humano. Nesta unidade, estudaremos alguns aspectos associados à construção da Edu- cação Física escolar brasileira, com a finalidade de que você aprenda os as- pectos constitutivos da sua futura área de atuação profissional e compreenda como essas origens, que remontam há vários séculos, influenciam no momen- to atual da disciplina. Vamos juntos? 3.1 O QUE É ESTUDAR HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA? Podemos iniciar este tópico e seu conteúdo com outras perguntas. É mesmo necessário estudar a história da Educação Física durante a formação inicial? Qual é a aplicabilidade desses conteúdos na atuação profissional? (MELO, 1997). A resposta para esses questionamentos passa pela compreensão da função da formação inicial para a atuação profissional, que se dá durante a graduação. Entende-se que a função da formação inicial é prover conhecimentos técnicos aplicáveis, mas, também, proporcionar uma sólida formação teórica. O conhecimento teórico é fundamental para que o futuro profissional possa interpretar o presente e desenvolver autonomia para construir e para reconstruir sua ação profissional, conforme novas demandas e novas conjunturas sociais surjam e se modifiquem. 54 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 O conhecimento da História é um dos que proporciona compreensão da re- alidade social. Devemos ter em conta que a realidade social se altera com o passar do tempo. Então, o que aprendemos hoje como passível de aplicação imediata pode ficar rapidamente obsoleto, como já ficaram práticas de movi- mento que adotávamos no passado. FIGURA 1: ESGRIMA Fonte: Correio da Manhã (1936). A perspectiva histórica nos dá possibilidades de olhar para trás e de seguir para o futuro. Conhecer a história da Educação Física nos dá a vantagem de não partir do zero para atuar na área. Isso quer dizer que, por meio da teoria, já conhecemos as relações em sociedade e no esporte que se deram ao longo dos tempos. Uma imagem pode promover tanto um aprendizado quanto um conjunto de palavras bem articulado. Algumas situações são mais bem compreendidas pela imagem do que por uma descrição. Acesse este link e navegue pela galeria de fotos “Esportes”, do Arquivo Nacional, para desenvolver seus conhecimentos sobre a história da Educação Física no Brasil. 55MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Esse conhecimento nos tornará mais capazes de realizar análises e escolhas profissionais acertadas. O passado nos ajuda a avaliar o que funcionou bem e o que poderia ter sido feito de modo diferente; e a manter o que consideramos positivo, buscando melhorar os pontos que precisam ser aperfeiçoados. FIGURA 2: EQUIPE FEMININA DE REMO NOS ANOS 1940 Fonte: Correio da Manhã (1940). Se soubermos que trabalhar a Educação Física escolar com foco na perfor- mance esportiva se distancia dos objetivos educacionais da atualidade, não seguiremos com essa abordagem, certo? A performance esportiva depende de características biológicas que poucos possuem e é focada em desempenho, em ranqueamento. É uma necessidade do contexto do esporte de rendimen- to, e sua adoção, como tendência pedagógica, teve a consequência de excluir muitos alunos, provocando frustração e desinteresse por desenvolver um estilo de vida ativo. 56 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 FIGURA 3: ATLETA DE ALTO NÍVEL Fonte: Plataforma Deduca (2020). O conhecimento histórico nos permite uma prática profissional fundamenta- da em ética e em escolhas conscientes. Algumas opções que foram feitas no passado tiveram usos políticos e consequências práticas na vida das pessoas, as quais podemos conhecer previamente à nossa experiência, de maneira a optar se queremos segui-las ou não; e se nos ajudam a cumprir nossos objetivos. Além disso, o conhecimento histórico, mesmo que não tivesse aplicabilidade, é um direito nosso. Temos direito a conhecer, e isso vale para o que é aplicável e para o que não é aplicável. Conhecimento é patrimônio, e o conhecimento das tradições relacionadas à cultura corporal de movimento é um valor que deveríamos querer acessar. 57MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA FIGURA 4: ATLETAS DE NATAÇÃO NO ANO DE 1936 Fonte: Correio da Manhã (1936). 3.2 UMA HISTÓRIA OU VÁRIAS HISTÓRIAS? Conforme Melo (1997) afirma, o desenvolvimento dos estudos históricos da Educação Física no Brasil pode ser divididos em três fases. Primeira fase: é uma fase inicial, em que foram realizados os primeiros estudos, ainda bem rudimentares. Segunda fase: observam-se uma aproximação aos estudos históricos realizados em outras áreas e o levantamento de informações qualitativas e quantitativas. 58 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Terceira fase: apresenta-se marcada por uma mudança nas características dos estudos realizados na segunda fase, com abordagem crítica desses estudos. Todas essas fases tiveram em comum a intenção de compreender como se constituiu a Educação Física e de oferecer argumentos para as necessidades de mudança que se observavam nesse campo de saber. De acordo com Castelani Filho (1998), a produção teórica acerca da história da Educação Física no Brasil está marcada por uma espécie de senso comum e se orienta para o reporte à época imperial e aos primeiros anos da República, vinculando a Educação Física às instituições militares. FIGURA 5: EXÉRCITO IMPERIAL BRASILEIRO Fonte: Orléans (1885). O autor Lino Castelani Filho atribui esse fato ao prestígio da obra deixada por Inezil Penna Marinho, que deu foco à relação entre Educação Física e institui- ções militares. Como as publicações de Inezil foram, por muito tempo, uma 59MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA das principais fontes de consulta para quem trata do tema, sua percepção ga- nhou status de verdade dos fatos, mas, em suas elaborações teóricas, Castelani Filho e outros autores tomam outros caminhos para analisar a história da Edu- cação Física. Os trabalhos de Castelani Filho marcaram, de fato, a literatura sobre história da Educa- ção Física no Brasil, tanto que, anos depois, Paiva (2004) defende que nossa produção acadêmica em história da Educação Física cresceu, a partir de 1989, em quantidade e em qualidade; e cita, como principais refe- rências, os textos de Castellani Filho (1988) e de Ghiraldelli Júnior (1988). Paiva (2004) ressalta a importância de se evitar produzir sensos comuns na história da Educação Física brasileira, mas, enten- dendo que é preciso objetivar esse conhe- cimento histórico, propõe a seguinte sín- tese provisória. Polissemia: Educação Física e História da Educação Física são expressões e campos do saber com múltiplos significados. não há consenso que permita uniformizá-los ou defini-los permanentemente. Institucionalização: os anos 1930 e o Estado Novo são marcos da institucionalização da Educação Física em território brasileiro. Higienismo: a tendênciahigienista, ainda que de modo tardio em relação à da Europa, ganha força em terras brasileiras nos anos 1930 e marca a Para ampliar seus conhecimentos sobre a produção acadêmico- científica sobre a história da Educação Física no Brasil, você pode começar sua pesquisa neste link, com uma lista de textos publicada no site Efdeportes.com (GENOVEZ E MELO, 1998). 60 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 história da Educação Física como campo de práticas e de saberes fortemente influenciado por instituições médicas, militares e pedagógicas; devido à medicalização das práticas de movimento, o higienismo dá à Educação Física uma perspectiva científica. Esportivismo: entre o final do século XIX e o início do XX, o esportivismo se soma ao higienismo e, também, mostra-se como um forte integrante da construção da história da Educação Física no Brasil. Formação profissional e renovação: entre os anos 1970 e 1980, a Educação Física se renova. Vários profissionais têm acesso à formação em nível de pós-graduação, inclusive fora do país, e a área se diversifica com o surgimento de várias tendências renovadoras. FIGURA 6: DANÇA DO FOLCLORE BRASILEIRO - LUNDU Fonte: Rugendas (1835). 61MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA Diante das breves reflexões e dos exemplos que expusemos, podemos enten- der que fazer a história da Educação Física não significa nem listar a sucessão de fatos no tempo nem inventariar métodos e técnicas conforme foram crono- logicamente criados, adotados e abandonados. Fazer uma história da Educação Física é um ato atravessado por relações de poder que envolvem questões sociais, culturais, científicas e políticas (SOARES, 2017). O conhecimento histórico não é nem único nem permanente; e não deve ser tomado como a verdade dos fatos. Trata-se mais de uma versão plau- sível dos fatos que é produzida com o requerido rigor. 3.3 OS PIONEIROS NOS ESTUDOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: RUI BARBOSA E FERNANDO DE AZEVEDO Nos anos 1930, órgãos governamentais do Estado Novo e políticos como Fer- nando de Azevedo resgataram o ideário de algumas personalidades que pro- duziram orientações marcantes para a Educação Física no Brasil na época do Império, como Rui Barbosa. FIGURA 7: RUI BARBOSA Fonte: Fitz Gerald (1919). 62 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 Esse movimento será explicado com mais detalhes no tópico que trata do iní- cio do período republicano. Aqui, iremos nos concentrar em compreender o que esses dois políticos defendiam para a Educação Física que deixou seus nomes marcados na história; e como suas ideias reverberaram na sociedade da época. No fim dos anos 1880, Rui Barbosa apresentou à Câmara dos Deputados dois pareceres que tratavam da Educação no Brasil nos quais contemplava, tam- bém, a Educação Física. O primeiro parecer foi apresentado no ano de 1882 e se chamava “Reforma do Ensino Secundário e Superior” (BARBOSA, 1942, v. IX, t. I). O segundo foi redigido no ano seguinte, com o título de “Reforma do Ensino Primário e Várias Instituições Complementares da Instrução Pública” (BARBOSA, 1947, v. X, t. I ao IV). Nos documentos, ele propôs a inclusão da Educação Física como disciplina do Ensino Primário, em conjunto com Ciências e com Desenho, com a intenção de promover um avanço nos programas pedagógicos, que passariam do foco literário para o científico. Rui Barbosa se baseou nas mudanças sociais que aconteciam na Europa, continente em que a Educação Física se tornava obrigatória nas escolas. Mas suas ideias não tiveram aderência ampla, pois havia empecilhos histórico-culturais que barravam a sua implementação, como veremos no tópico que trata do período imperial. Mesmo assim, alguns movimentos de modificação, no campo da Educação Fí- sica, continuaram acontecendo na sociedade. As aulas de Educação Física que existiam naquela época eram ministradas por militares, e sequer havia escolas de formação de professores civis. Bem mais tarde, as ideias de Rui Barbosa são retomadas. Com a Reforma do Ensino do Distrito Federal realizada por Fernando de Azevedo em 1928, foi pro- 63MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA posta a criação de uma escola de formação de professores civis de Educação Física (MARINHO, 1941), e se iniciou um movimento que alguns veem como o início da desmilitarização da Educação Física no Brasil. Alguns autores contestam que a iniciativa de Fernando Azevedo tenha tido êxito como estratégia de desmilitarização. A escola que propôs não foi criada, embora civis tenham sido aceitos como estudantes de escolas militares de for- mação de instrutores de Educação Física. FIGURA 8: TURMA DE PROFESSORES CIVIS FORMADOS NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO EXERCITO Fonte: Revista de Educação Física (1933) apud (Corrêa, 2013, p. 195). Mas a questão da influência militar sobre a Educação Física escolar brasileira permanece controversa. Há estudos que veem as propostas de Fernando de Azevedo como uma extensão do projeto de militarização da Educação Física que se implementou dos anos 1930 até os anos 1940. 3.4 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL COLÔNIA (1500-1822) A Educação Física, no período colonial, fica marcada pela divisão entre o mun- do de movimento dos colonizadores e o das tribos indígenas que habitavam o Brasil. Os indígenas tinham estilo de vida ativo e modos de vida integrados 64 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA MULTIVIX EAD Credenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 à natureza, e suas necessidades de sobrevivência envolviam o esforço físico, a corrida, o nado, a caça e a pesca. Além disso, contavam com uma rica e diversificada cultura, que era composta por danças e por jogos próprios. Essa cultura foi bastante destruída pelos colo- nizadores, que se obstinaram em impor os valores cristãos e não aceitaram a influência indígena em seus hábitos de movimento. FIGURA 9: DESEMBARQUE DE PEDRO ALVAREZ CABRAL Fonte: Silva (1922). Na famosa carta que Pero Vaz de Caminha escreveu quando descobriu o Bra- sil, ele descreve um pouco da cultura de movimento dos indígenas que aqui encontrou. “[D]epois de acabada a missa, assentados nós à pregação, levantaram-se muitos deles, tangeram corno ou buzina, e começaram a saltar e dançar um pedaço. E alguns deles se metiam em almadias -- duas ou três que aí tinham -- as quais não são feitas como as que eu já vi; somente são três traves, atadas entre si. E ali se metiam quatro ou cinco, ou esses que queriam não se afastando quase nada da terra, senão enquanto podiam tomar pé. (...) Além do rio, andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante dos outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem. Passou-se então além do rio Diogo Dias, almoxarife que foi de Sacavém, que é homem 65MULTIVIX EADCredenciada pela portaria MEC nº 767, de 22/06/2017, Publicada no D.O.U em 23/06/2017 INTRODUÇÃO E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA gracioso e de prazer; e levou consigo um gaiteiro nosso com sua gaita. E meteu-se com eles a dançar, tomando-os pelas mãos; e eles folgavam e riam, e andavam com ele muito bem ao som da gaita. Depois de dançarem, fez-lhes ali, andando no chão, muitas voltas ligeiras, e salto real, de que eles se espantavam e riam e folgavam muito. E conquanto com aquilo muito os segurou e afagou, tomavam logo uma esquiveza como de animais monteses, e foram-se para cima”. (CAMINHA, 2019). O Brasil colônia foi uma sociedade escravagista, e a cultura africana deixou marcas fortes na cultura de movimento brasileira. Dos africanos, incorporamos vários movimentos
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