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AVALIAR PARA APRENDER. APRENDER PARA AVALIAR. A avaliação sempre esteve presente na vida do homem. Avaliamos e somos avaliados constantemente pelas ações que executamos, pelas escolhas que fazemos, pelas decisões que tomamos, enfim, pelo que somos e representamos. Conforme Freitas (2009, p.7) “A avaliação mexe com a vida das pessoas, abre portas, fecha portas, submete ou desenvolve, enfim é uma categoria permeada de contradições”, o que torna seu campo conceitual amplo e polêmico. A origem da avaliação remonta à antiguidade. Conta-se que, há mais de 2 mil anos, a China já fazia exame de seleção para serviços públicos e a velha Grécia praticava a docimasia, que consistia numa verificação das aptidões morais daqueles que se candidatavam à função pública, o que demonstra de alguma forma o sentido de interesse público no caráter da avaliação (SOBRINHO, 2003). Nos tempos atuais, o campo da avaliação e sua aplicação tem se alargado e intensificado no campo das políticas públicas e, mais especificamente na educação, onde é aplicada em múltiplas e diversas áreas, tais como: sistemas, instituições, cursos, currículos, programas, instituições, aprendizagem, etc. Nessa unidade abordaremos a função da avaliação nos diferentes âmbitos da área educacional e a importância da articulação entre esses níveis para melhor organização e estruturação do processo ensino-aprendizagem. 4.1. A avaliação na área educacional Atualmente, na área educacional, os sistemas de avaliação têm sido amplamente utilizados em todos os níveis e modalidades e se efetivam em três níveis respectivos, porém articulados entre si: avaliação em larga escala, como aquelas realizadas em âmbito nacional, estadual e municipal; avaliação institucional realizada por cada escola e pelo seu coletivo; avaliação da aprendizagem efetivada em sala de aula sob a responsabilidade do professor (FREITAS, 2009). A avaliação em larga escala, também conhecida como de redes de ensino ou externa, constitui instrumento de acompanhamento global de redes de ensino. No Brasil, o sistema de avaliação em larga escala consolidou-se na década de 90 quando foi criado o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica - SAEB – 1990, subdivido em dois 81 9 8 LGDG 9 DOLDU SDUD SU G U SU G U SDUD D DOLDU 0ÁG OR LG LFD UDO processos diferenciado de avaliação: o (ANEB), atual SAEB, com foco nas gestões dos sistemas educacionais com o objetivo de oferecer subsídios para a reformulação e monitoramento das políticas públicas e para programas de intervenção; e o (ANRESC) Avaliação Nacional do Rendimento Escolar, mais conhecido como Prova Brasil, com foco no desempenho da unidade escolar. O objetivo do SAEB é de informar aos dirigentes estaduais e municipais a situação de cada escola como, também, promover a discussão dos resultados obtidos pela comunidade escolar. Em síntese, é eixo norteador para a organização administrativa e pedagógica da escola com vistas a garantir melhores padrões de desempenho. Diversos Estados brasileiros têm elaborado sistemas específicos para avaliação do desempenho de suas instituições educacionais, tendo o SAEB como referência. O outro nível de avaliação, denominado de avaliação institucional é voltado para dentro da escola, envolve os diversos segmentos que a compõem. Essa avaliação pode ser considerada como um processo de apropriação da escola pelos seus atores, permitindo que seu coletivo localize e analise seus problemas, suas contradições, reflita sobre eles e estruture situações de melhoria ou superação (FREITAS, 2009). Está diretamente relacionada ao projeto político-pedagógico da escola e deve sempre tê- lo como base para esse tipo e avaliação. Por fim, a avaliação do ensino aprendizagem “é a que engloba todas as atividades desenvolvidas pelos professores e seus alunos, com o intuito de fornecer informações a serem usadas como feedback para reorganizar o trabalho pedagógico” (VILLAS BOAS, 2008, p. 39). Essa avaliação deve estar diretamente relacionada com a avaliação institucional e a de larga escala. Freitas (2009) afirma que esse nível de avaliação refere- se às categorias do processo pedagógico; à organização do trabalho pedagógico; à função formativa da escola. Quanto às categorias do processo pedagógico e sua organização o autor afirma ser um equívoco situar a avaliação como uma atividade formal que ocorre ao final do processo de ensino aprendizagem. Divide, então, o processo pedagógico e dois núcleos interligados: objetivos/avaliação e conteúdo/método. Nessa direção, considera a avaliação como parte integrante do processo de ensino-aprendizagem e os objetivos de ensino como base de sua construção. Entendemos que a escola atua no âmbito da instrução, ou seja, trabalha com os conhecimentos elaborados ao longo da história da humanidade e também produz esses conhecimentos. Porém, atua também no âmbito formativo, no âmbito da formação humana. Trabalha, portanto, com valores e atitudes inerentes ao homem. Esse tipo de avaliação é denominado de avaliação formativa e, conforme Freitas (2009), sustenta-se num tripé, conforme demonstra o desenho abaixo: Observamos que os sistemas de avaliação se concretizam na tessitura dada pela integração dos níveis que o compõem, os quais só justificam se estiverem voltados para a melhoria da aprendizagem do professor e do aluno. Essa lógica é reforçada por Villas Boas (2008, p.19) ao colocar que: Avaliar é necessário. Ter indicadores de avaliação que apontem a situação de cada aluno, de cada escola e de cada município é fundamental. Mas o principal objetivo disso é ter como foco a aprendizagem não somente de alunos, mas também de professores. Nessa perspectiva, o caráter formativo da avaliação é que lhe dá sentido, que oportuniza aos professores e aos alunos terem acesso às informações que venha a possibilitar o redimensionamento do trabalho pedagógico e o repensar da aprendizagem de ambos. Fernandes (2009), a esse respeito, afirma que é a avaliação formativa que permite às escolas prever instrumentos de análise de seus resultados e dos resultados dos alunos e, mediante essa reflexão, fazer intervenções críticas em suas práticas, visando melhorar a aprendizagem. Importante ressaltar, no entanto, que os resultados das avaliações, não podem transformar os sistemas de ensino em campo de ranking, classificando ou desclassificando as escolas, o que aumenta a competição entre elas. Os resultados da avaliação, quando utilizados dessa forma, passam a estar a serviço da noção de “quase- mercado1 ” ( SOUZA, OLIVEIRA, 2003). Estão reduzidos apenas a procedimentos de medida e de fiscalização e buscam, unicamente, apontar os possíveis “culpados” dos resultados obtidos, o que é demonstrado na figura abaixo: Avaliação da instrução ministrada Avaliação disciplinar Avaliação atitudinal 1 Tal conceito busca elucidar e diferenciar práticas de mercado de livre concorrência das práticas mercantilistas adotadas no setor educacional. Embora nessa dinâmica o mercado assuma um papel de destaque na oferta dos serviços, na mesma medida o Estado se impõe como força determinante de controle e regulação dessa relação. 8 LGDG 9 DOLDU SDUD SU G U SU G U SDUD D DOLDU 0ÁG OR LG LFD UDO 4.2. O Sistema de Avaliação do Estado do Ceará - SPAECE No Estado do Ceará, o Governo, por meio da Secretaria da Educação (SEDUC) utiliza-se de um sistema de avaliação que tem por objetivo fornecer subsídios para formulação, reformulação e monitoramento das políticas educacionais, além de possibilitar aos professores, dirigentes escolares e gestores um quadro da situação da Educação Básica da rede pública de ensino. Esse sistema, na vertente Avaliação de Desempenho Acadêmico, caracteriza-se como avaliação externa em larga escala que avalia as competências e habilidades dos alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, em Língua Portuguesa e Matemática. As informações coletadas a cada avaliação identificam o nível de proficiência e a evoluçãodo desempenho dos alunos. Essa avaliação é realizada de forma censitária e universal, abrangendo as escolas estaduais e municipais, utilizando testes, com itens elaborados pelos professores da rede pública, tendo como orientação os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ministério da Educação (MEC) e os Referenciais Curriculares Básicos (RCB) da SEDUC. São aplicados, também, questionários contextuais, investigando dados socioeconômicos e hábitos de estudo dos alunos, perfil e prática dos professores e diretores. Na elaboração dos instrumentos de avaliação, é considerada a Matriz Referência, composta por um conjunto de descritores que explicitam dois pontos básicos do que se pretende avaliar: o conteúdo programático a ser avaliado em cada período de escolarização e o nível de operação mental necessário para a realização de determinadas tarefas. Tais descritores são selecionados para compor a matriz, considerando-se aquilo que pode ser avaliado por meio de um teste de múltipla escolha, cujos itens implicam a seleção de uma resposta em um conjunto dado de respostas possíveis. Mas, como utilizar os dados dessas avaliações na sala de aula? Se usarmos os dados do SPAECE, temos exemplos de oficinas desenvolvidas por escolas da rede estadual do Ceará que são desenvolvidas para divulgar, analisar e propor ações sobre os resultados desta avaliação. No site <http://vicenteribeiro.csmilartes.com.br/spaece.htm>, temos o Relatório sobre a Oficina do SAPECE realizada na EFFM Vicente Ribeiro do Amaral (Mosenhor Tabosa – Ceará). O referido relatório descreve a oficina da seguinte forma: O SPAECE (resultados da escola e a ação em prol da melhoria). Conhecer os indicadores do SPAECE escolar, analisar os resultados obtidos traçando metas e ações para sua melhoria. Despertar o compromisso de todos para a melhoria da educação escolar, favorecendo assim melhores resultados e mais qualidade do processo ensino- aprendizagem e, consequentemente, propiciando indicadores mais satisfatórios. Nesta perspectiva, a oficina teve como público alvo todo o corpo docente da escola, servidores da escola, representantes de pais, alunos, gestores de outras escolas que na ocasião visitavam a escola, além da Superintendência escolar da 13ª CREDE/Crateús. Para este público, foi apresentado o SPAECE como sistema de avaliação e, a seguir, os dados do SPAECE 2008 relativo ao Estado Ceará, ao CREDE e de forma mais específica, os indicadores da escola tais como: índice de participação, nível de desempenho etc. A partir dos dados, revelou-se que a Média de Desempenho da escola é de 224,6, sendo a mais baixa taxa de participação de alunos da 1ª série do Ensino Médio da região da 13ª CREDE (52,7%), uma taxa intermediária relativa aos alunos da 2ª série do Ensino Médio (66,5%) e a mais alta taxa de participação de toda a região na 3ª Série do Ensino Médio (117,1%). Segundo o relatório, “o ‘sobe e desce’ nos dados de participação proporcionou debate sobre como sensibilizar todos os alunos para aumentar este índice e como este fator pode interferir no resultado geral do SPAECE escolar. Os dados a seguir foram apresentados e discutidos coletivamente, com o objetivo de produzir um entendimento crítico a cerca do desempenho dos alunos”: O relatório também informa que, após a análise dos indicadores, foram discutidas formas de intervenção para a melhoria da qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Importante ressaltar que o mesmo documento destaca a articulação entre os resultados da avaliação em larga escala com a avaliação da aprendizagem no interior da escola “(foi) proposto que as avaliações de aprendizagem sigam normas e padrões que se aproximem do contexto das avaliações externas, favorecendo assim com que nossos alunos passem a vivenciar a metodologia deste processo desde cedo”. Como intervenção: SÉRIE/NÍVEL LÍNGUA PORTUGUESA MATEMÁTICA 1º ANO/EM 216 225,7 2º ANO/EM 221 232,6 3º ANO/EM 220,4 231,8 8 LGDG 9 DOLDU SDUD SU G U SU G U SDUD D DOLDU 0ÁG OR LG LFD UDO participação e do desempenho no SPAECE, tendo como base os indicadores do ano anterior; modelo das provas do SPAECE; entendimento e fácil assimilação e ter a constância da realização de simulados com questões de múltiplas escolha na prática pedagógica da escola. A oficina relatada, portanto, é um exemplo de como se trabalhar com dados de avaliações externas, trazendo-os para o cotidiano da escola e da sala de aula. A partir das intervenções sugeridas, o professor poderá direcionar o seu trabalho pedagógico. Além disso, Esse quadro é considerado como um instrumento importante para subsidiar a construção ou a reformulação do Plano de Intervenção Pedagógica, Projeto Político Pedagógico e Plano de Metas da Escola, tendo-se em vista a melhoria da qualidade da educação e promoção da equidade. Como podemos observar a avaliação não é apenas uma questão técnica. É uma questão essencialmente pedagógica. Só tem sentido quando se constitui em num processo que ajuda a melhorar, corrigir, a aprendizagem do aluno. É, portanto um processo indissociável da aprendizagem, de conseguir que os alunos do Ensino Médio, aprendam melhor, com compreensão, utilizando e desenvolvendo suas competências e habilidades. Por meio da análise dos resultados dos sistemas de avaliação a escola e os professores devem organizar e reorganizar o trabalho pedagógico. Os resultados obtidos nesses sistemas não devem servir para classificação das escolas ou dos alunos, mas para orientar e garantir a aprendizagem de todos os alunos e professores (VILLAS BOAS, 2008). “Avaliação é aprendizagem: enquanto se aprende se avalia e enquanto se avalia se aprende (p.11). Considerações Finais Os sistemas de avaliação não podem valer por si mesmos. Eles têm que ser agregado de significados, oportunizando, dessa maneira, o avaliar para aprender, pois “avaliação é aprendizagem: enquanto se avalia se aprende” (VILLAS BOAS, 2009, p.11). Para Fernandes (2009) a avaliação formativa permite às escolas prever instrumentos de análise de seus resultados e dos resultados dos alunos e, mediante essa reflexão, fazer
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